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PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2022.0000066738

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1088250-85.2020.8.26.0100 e código 187AB891.
ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº


1088250-85.2020.8.26.0100, da Comarca de São Paulo, em que é apelante LAIS
RODRIGUES AUN MACHADO, é apelada CLARO S/A.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 32ª Câmara de Direito


Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram
provimento ao recurso. V. U., de conformidade com o voto da Relatora, que integra
este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores LUIS FERNANDO


NISHI (Presidente sem voto), CAIO MARCELO MENDES DE OLIVEIRA E RUY
COPPOLA.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MARY GRUN, liberado nos autos em 04/02/2022 às 17:15 .
São Paulo, 4 de fevereiro de 2022.

MARY GRÜN
Relatora
Assinatura Eletrônica
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PODER JUDICIÁRIO
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VOTO Nº: 25784


APEL. Nº: 1088250-85.2020.8.26.0100

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COMARCA: SÃO PAULO
APTE..: LAIS RODRIGUES AUN MACHADO
APDA.: CLARO S/A

PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. CLONAGEM DE


APLICATIVO DE MENSAGENS “WHATSAPP”.
COMPANHIA TELEFÔNICA. Autora que requer a
indenização material e moral em face da companhia
telefônica. Clonagem de aplicativo de mensagens que
ensejou a transferência de valores da autora a golpista.
Sentença de improcedência. Recurso da autora. Ausência de
nexo de causalidade entre a prestação do serviço de
telefonia e a ocorrência do dano. Culpa exclusiva de
terceiros fraudadores e da vítima, que voluntariamente

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transferiu valores a terceiros desconhecidos. Eventual
defeito na prestação do serviço prestado pelo aplicativo de
mensagens que não pode ser imputado à companhia
telefônica. Precedentes. Sentença mantida. Recurso não
provido.

Vistos.

Trata-se de “AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR


DANOS MATERIAIS E MORAIS” (sic) ajuizada por LAIS
RODRIGUES AUN MACHADO em face de CLARO S/A.

A r. sentença de fls. 163/170 (disponibilizada


no DJe de 03/03/2021 fls. 171), complementada pela r. decisão
de fls. 175 que negou provimento aos embargos de declaração
opostos pela autora (disponibilizada no DJe de 12/03/2020 fls.
176), julgou a ação nos seguintes termos:

“D iante do expost o, com fundamento no art igo 487,


inciso I, do Código de Process o Civi l, JULGO
IMPROCEDENTE o pedido.
O( A)( s) sucumb ent e(s ) arcará( ão) com as cust as e

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despesas process uai s ( art . 82, §2º , CPC) , além de


honor ári os advocatícios , desde j á f ixados em 10% ( dez

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por cent o) sob re o valor da caus a, nos te rmos do arti go
85, §2º e §6º, do Código de Pr oce sso Ci vil , dada a pouca
com ple xidade da de manda e do t empo decorri do, se m
r eal ização de audiê nci a i ncl usi ve.”

Inconformada, apela a autora (fls. 177/187).

Alega que “a Apelante foi enganada, ludibriada e


não estava ciente de que estava transferindo dinheiro para golpistas.
Portanto, é um erro crasso afirmar que a Apelante se desfez de uma
considerável quantia de dinheiro 'porque quis'”, e que “a

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possibilidade de a Apelante ser enganada pelos golpistas somente
surgiu em decorrência da falha no serviço prestado pela Apelada”.

Sustenta que “a Apelada deveria fornecer uma


segurança razoável, para que a Apelante ao menos pudesse confiar que
está recebendo mensagens das pessoas reais e não terceiros golpistas”.

Entende que “os motivos pelos quais essa invasão


ocorreu ou detalhes técnicos são questões de domínio da Apelante, que
possui todo o conhecimento técnico para provar que o serviço que
presta é seguro”.

Defende que “a Apelada deveria comprovar que


não houve falha na prestação dos serviços ou que o defeito deve ser
atribuído a terceiro, mas não se desincumbiu de tal ônus”.

Requer o provimento do recurso, para julgar


procedente a demanda.

Tempestivo, o recurso foi regularmente


processado, com as custas de preparo recolhidas às fls. 188/189.

Contrarrazões pela ré às fls. 192/201.

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É o relatório.

Trata-se de ação indenizatória, na qual a autora


requer a reparação material e moral em razão de suposta falha na
prestação de serviços pela ré.

Narra a autora que, em 26/08/2020, recebeu


mensagens de sua amiga no aplicativo “Whatsapp”, solicitando
quantia de dinheiro no valor total de R$11.187,00.

Diz que, posteriormente, soube que o telefone

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de sua amiga havia sido clonado, e que foi vítima de golpe
praticado por estelionatário.

Aduz que houve falha na segurança dos


serviços prestados por parte da ré, requerendo danos materiais
emergentes em R$11.187,00, além de danos morais no valor de
R$8.000,00.

A r. sentença julgou a ação improcedente,


fundamentando pela culpa exclusiva do consumidor, se
insurgindo a autora.

Contudo, a irresignação não prospera.

Como se verifica dos autos do processo, não há


indícios de que a clonagem do aplicativo de mensagens decorra
de fragilização do sistema de segurança da companhia telefônica.

Constitui fato notório que é possível o acesso


ao mencionado aplicativo, independentemente da utilização do
aparelho ou linha móvel do titular.

Por meio de acesso a partir de dispositivos,

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mesmo que não ocorra a clonagem de linha telefônica, terceiros


fraudadores acessam o aplicativo e se passam pelo titular da

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conta, visando à obtenção de recursos financeiros.

Logo, não se vislumbra a participação da ré nos


acontecimentos narrados, seja por ação ou por omissão,
tampouco a ocorrência de defeito nos serviços por ela oferecidos.

De fato, tanto sob o enfoque da teoria da


causalidade adequada, quanto da causalidade direta, não há
nexo de causalidade entre conduta alguma da ré e os danos
experimentados pela autora.

Ainda neste sentido, não se verificou o

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vazamento de dados protegidos por sigilo ou falha na segurança
dos sistemas disponibilizados pela companhia telefônica a seus
clientes, o que poderia, em tese, ensejar a sua culpa concorrente.

O que se verifica, portanto, é a culpa exclusiva


da consumidora por equiparação (CDC, art. 17), que transferiu
elevados valores à contas bancárias de titularidades diversas sem
as devidas cautelas, bem como de terceiros que perpetraram a
fraude, estando presente excludente da responsabilidade da
companhia (CDC, art. 14, §3º, inciso II).

Não se olvide que eventual defeito na prestação


do serviço prestado pelo aplicativo de mensagens não poderia
ser imputado à companhia telefônica.

Nesse sentido, os seguintes precedentes deste E.


Tribunal de Justiça:

Apelação Cí vel . Ação indenizatór ia. Se nte nça de


im procedência. Inconfor mis mo. Autor ví tim a do golpe
do What sApp. Transf erê nci a s oli cit ada por pess oa se
pas sando por ir mão do autor para conta de ter cei ro.

Apelação Cível nº 1088250-85.2020.8.26.0100 - 25784 JV 5


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Re sponsabil idade da empres a de t ele fonia não


caracter izada. Cl onagem da conta do aplicati vo

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'Whats app' e não da l inha t ele fônica. Falha q ue não
pode ser im put ada à ré. Se nte nça manti da, com a
major ação da verb a honorár ia de sucumb ência. Ar tigo
85, § 11, do Código de Pr oce sso Ci vil . Recurso não
provido.
(TJSP; Ape lação Cível 1026103-47.2020.8.26.0577;
Rel ator ( a): Hé lio Nogue ira; Ó rgão J ulgador: 23ª
Câmar a de D ire ito Pr ivado; Foro de São José dos
Campos - 3ª Vara Cível; Data do Jul gam ent o:
30/06/2021; Dat a de Regi str o: 01/07/2021)

AÇÃO IND ENI ZATÓRI A. IMPROCEDÊNCI A.


FRAUDE PERPETRADA MED IAN TE A CLON AGEM

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D E APLI CATIVO DE CELULAR DO COAUTO R
FÁBI O ( WHATSAPP) . AUSÊNCI A D OS ELEMEN TOS
CARACTERIZADORES DA RESPON SABILI DAD E
CIVI L D A RÉ, PRESTADORA D OS SERVIÇOS DE
TELEFO NIA, PELO S FATO S D ISCUTI DOS NO S
AUTO S. APELAÇÃO DESPRO VID A.
(TJSP; Ape lação Cível 1011345-11.2020.8.26.0562;
Rel ator ( a): Carlos Goldman; Ó rgão J ulgador: 38ª
Câmar a de D ire ito Pr ivado; Foro de Santos - 2ª Var a
Cíve l; Dat a do J ulgame nto: 12/04/2021; D ata de
Re gis tro: 12/04/2021)

Apelação Pres tação de ser viços Te lef oni a m óve l


Ação i nde nizatória Sent ença de r eje ição dos pedidos.
Hipóte se em que te rce iro, deli nquent e, ace ssou a conta
"what sapp" de ami go do aut or e, fazendo-s e pass ar por
el e, pediu e obte ve ajuda financeir a do demandante .
Complet a ausê nci a de prova, por ém, de que a fr aude
t enha s e dado me diante cl onagem do chip da ope radora
de te lef oni a r é. Gol pe em que stão pode ndo se r r eal izado
por outros m eios. Bem pr ocl amada a i mpr oce dência da
de manda, à fal ta de ver oss imi lhança nas alegações do
aut or. Ne gar am provim ent o à apelação.
(TJSP; Ape lação Cível 1003503-08.2020.8.26.0003;
Rel ator ( a): Ri car do Pes soa de Me llo Be lli ; Ó rgão

Apelação Cível nº 1088250-85.2020.8.26.0100 - 25784 JV 6


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J ulgador: 19ª Câmar a de D ire ito Pr ivado; Foro Regional


III - Jab aquara - 3ª Var a Cíve l; Dat a do J ulgame nto:

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19/11/2020; D ata de Re gis tro: 19/11/2020)

AÇÃO REPARATÓRIA POR DANOS MATERIAI S E


MO RAI S - Pr est ação de s erviços de t ele fonia móvel -
H ipótes e e m q ue ter cei ro, de linque nte , aces sou a conta
"Whats App" da coautor a e , f aze ndo-se passar por ela,
pedi u e ob teve ajuda f inance ira do co-de mandante -
Complet a ausê nci a de prova, por ém, de que a fr aude
t enha s e dado me diante cl onagem do "chip" da
oper adora de tel efonia ré - Rel ato de Bolet im de
Ocorrê nci a q ue confir ma invasão da cont a do apli cat ivo
foi perpetr ada por t erceir o f raudador, me diante
di git ação de códi go de ace sso pe la coautora - Empr esa
re que rida q ue não é res ponsável por at o de "hacker s"

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violando o perf il de apl icativos que não l he cab e
gere nci ar - Q ueb ra do nexo caus al, pois não é pos sível
imputa o res ult ado à condut a da r é - Re cur so provido
para julgar i mpr oce dente a ação. I nve rti da a
s ucumbê nci a, incumb irão aos req uer ent es o pagamento
das custas, des pes as proces suais e honorár ios
advocatí cios do patr ono da de mandada, arb itr ando-s e
e m 15% do val or da causa.
(TJSP; Ape lação Cível 1012249-31.2020.8.26.0562;
Rel ator ( a): Me nde s Pere ira; Ó rgão J ulgador: 15ª
Câmar a de D ire ito Pr ivado; Foro de Santos - 1ª Var a
Cíve l; Dat a do J ulgame nto: 26/01/2021; D ata de
Re gis tro: 26/01/2021)

Ante o exposto, pelo meu voto, nega-se


provimento ao recurso.

O presente apelo foi interposto sob a égide do


atual CPC, que determina o arbitramento de honorários
advocatícios em recurso (art. 85, § 1°, CPC). Assim, majoro os
honorários advocatícios devidos pela autora-apelante aos
patronos da ré-apelada de 10% para 15% sobre o valor atualizado

Apelação Cível nº 1088250-85.2020.8.26.0100 - 25784 JV 7


Relatora
MARY GRÜN
da causa, nos termos do art. 85, § 11, do CPC.

Apelação Cível nº 1088250-85.2020.8.26.0100 - 25784 JV


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