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PADRÕES LOCAIS DE DIVERSIDADE
DE COLEOPTERA (INSECTA) EM
VEGETAÇÃO DE CAATINGA
Introdução
Os insetos da ordem Coleoptera, conhecidos popularmente
como besouros, representam um dos grupos animais mais
diversos, apresentando aproximadamente 300.000 espécies
descritas (Richards & Davies 1994, Lawrence et al. 1999).
Ao longo de sua evolução, têm ocupado a maior parte dos
ambientes da Terra, à exceção dos mares abertos, apresentando os
mais variados hábitos alimentares (Lawrence et al. 1999). Marinoni
et al. (2001), que tomam como base grande parte dos dados
disponíveis em relação à alimentação dos coleópteros e os reúnem
em uma compilação, citam como grupos tróficos os herbívoros, os
algívoros, os carnívoros, os fungívoros e os detritívoros, se
referindo às famílias e, quando possível, subfamílias. Cada grupo
trófico é mantido ou não em um ambiente dependendo dos
diferentes estágios de conservação apresentados.
Tamanha riqueza se traduz em nada menos que 40% das
espécies de insetos e 30% de todas as espécies animais (Lawrence
& Britton 1991). Acredita-se que este sucesso se deva aos
caracteres morfológicos particulares ao grupo como a presença dos
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L. Iannuzzi et al.
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8. Diversidade de Coleoptera de Caatinga
Material e métodos
Área de estudo
Foram amostradas áreas de caatinga próximas à Usina
Hidrelétrica de Xingó, localizada na bacia do rio São Francisco,
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8. Diversidade de Coleoptera de Caatinga
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Ravina – formação erosiva que ocorre nas laterais dos
canyons, resultante do escoamento de água em direção aos
vales e terrenos baixios.
• Serras – terrenos acidentados, com fortes desníveis.
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Serra escarpa: rampa ou aclive das bordas.
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Serra contraforte: porção perpendicular ou oblíqua da
cadeia montanhosa.
• Tabuleiros arenosos: estruturas topográficas planas,
semelhantes aos planaltos, interrompidas abruptamente; com
solo predominantemente arenoso.
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Tabuleiro arenoso plano: porção com domínio de mata não
ciliar.
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Tabuleiro arenoso ciliar: porção com domínio de mata
ciliar.
• Tabuleiros argilosos: estruturas topográficas planas,
semelhantes aos planaltos, interrompidas abruptamente; com
solo predominantemente argiloso.
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Tabuleiro argiloso ciliar: porção com domínio de mata
ciliar.
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Tabuleiro argiloso plano: porção com domínio de mata não
ciliar.
Coleta e identificação
Foram utilizadas para captura de insetos, armadilhas do tipo
“Malaise” (Townes 1972), com as modificações, do frasco coletor,
propostas por Yamamoto (1984), posteriormente adaptadas para as
condições climáticas do ecossistema estudado. Essa armadilha é
constituída por uma tenda de náilon suspensa por estacas de
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8. Diversidade de Coleoptera de Caatinga
Caracterização da diversidade
As análises foram realizadas tomando-se a abundância dos
coleópteros em nível de família (Hutcheson 1990, Marinoni &
Dutra 1997). Embora não seja convencional a utilização em nível
de família, Pielou (1975) e Magurran (1988) o consideram válido.
Os índices utilizados nessas análises foram selecionados por serem
os mais comumente empregados em estudos ecológicos
semelhantes ao realizado, além de serem facilmente aplicáveis.
Para isso, foram utilizados os softwares de Krebs (1989) para o
cálculo dos índices de Shannon-Wiener, Simpson e Morisita e o
software Bioestat 2.0 ® para o teste G.
Para comparar a diversidade das famílias de Coleoptera nas
unidades de paisagem foram usados os índices de Shannon-Wiener
(H’) e Simpson (1 - D), para cada unidade. O primeiro índice é
mais sensível a mudanças nas espécies raras da amostra e o
segundo é mais sensível a espécies mais abundantes (Peet 1974).
Sendo assim, devido à predominância de táxons raros no presente
estudo, a discussão se deu a partir dos resultados obtidos pelo
índice de Shannon-Wiener.
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Resultados
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8. Diversidade de Coleoptera de Caatinga
Abundância
Foram abundantes entre as unidades de paisagem as famílias
Elateridae (1.657 indivíduos – 19,96% do total de Coleoptera),
Chrysomelidade (1.615 – 19,45%), Mordellidae (1.316 – 15,85%),
Tenebrionidae (629 – 7,57%), Curculionidae (582 – 7,01%),
Monommidae (419 – 5,04%) e Nitidulidae (390 – 4,7%) (Figura 1).
Canyon encosta sem solo se destacou pela maior abundância (1.241
indivíduos – 14,95%), seguida por tabuleiro argiloso plano (1.106 –
13,32%), serra contraforte (979 – 11,79%), tabuleiro arenoso ciliar
(972 – 11,70%), tabuleiro arenoso plano (916 – 11,03%), canyon
encosta com solo (835 – 10%), ravina (780 – 9,39%), serra escarpa
(775 – 9,33%). Tabuleiro argiloso ciliar apresentou a menor
abundância (697 – 8,39%) (Figura 1).
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Discussão
Até a realização deste trabalho, a coleopterofauna da
Caatinga foi representada quase que exclusivamente por indivíduos
coletados de modo ocasional e em pequena escala. Dessa maneira,
a representatividade de besouros na Caatinga era insuficiente para a
realização de pesquisas pregressas.
A captura de 8.301 espécimes, com apenas um tipo de
armadilha, foi relativamente grande para uma região descrita como
pobre de modo geral, como nos trabalhos de Fonseca et al. (2000)
com mamíferos, Vanzolini et al. (1980) com répteis e Rizzini
(1997) com vegetais. O número reduzido de besouros obtido,
quando comparado a regiões de floresta úmida, pode ser justificado
pela influência da estrutura da vegetação local sobre a diversidade
de Coleoptera. Assim, a diferença da arquitetura da vegetação de
caatinga (i.e., tamanho médio das árvores, tamanho e forma das
folhas, forma de crescimento e desenvolvimento sazonal) em
relação à de florestas, não propiciaria o estabelecimento de grande
diversidade de fitófagos associados (Lawton 1983).
O número de famílias de Coleoptera encontradas (24,3% do
total de famílias, segundo Lawrence et al. 1999) provavelmente se
deu devido à utilização de apenas um tipo de armadilha, “Malaise”,
o que restringiu a captura daquelas que não apresentavam o vôo
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Tabela 1. Abundância das famílias de Coleoptera em nove unidades de paisagem reconhecidas para a caatinga da região de Xingó,
estados de Alagoas e Sergipe, Brasil. As coletas foram feitas entre os meses de março de 2000 e março de 2001. Legenda das unidades
de paisagem: CCS – Canyon encosta com solo; CSS – Canyon encosta sem solo; RAV – Ravina; SCF – Serra contraforte; SEC – Serra
escarpa; TAreC - Tabuleiro arenoso ciliar; TAreP – Tabuleiro arenoso plano; TArgC – Tabuleiro argiloso ciliar; TArgP – Tabuleiro
argiloso plano.
Unidades de paisagem
Famílias CCS CSS RAV SCF SEC TAreC TAreP TArgC TArgP Total
Aderidae 5 4 2 1 1 8 1 2 0 24
Alleculidae 25 8 13 50 20 9 46 1 9 181
Anobiidae 10 10 8 12 9 6 11 16 6 88
Anthribidae 3 0 0 0 0 0 0 0 0 3
Bostrichidae 15 7 20 13 7 3 14 13 19 111
Buprestidae 29 1 4 24 19 8 4 8 11 108
Cantharidae 4 2 1 0 2 0 0 0 1 10
Carabidae 18 25 4 23 17 10 8 6 6 117
Cerambycidae 21 24 9 35 37 22 28 11 21 208
Chelonariidae 0 0 0 1 0 0 0 0 0 1
Chrysomelidae 120 337 41 126 148 122 70 153 498 1615
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Unidades de paisagem
Famílias CCS CSS RAV SCF SEC TAreC TAreP TArgC TArgP Total
Cleridae 11 7 2 24 15 7 15 4 8 93
Coccinelidae 20 20 14 10 11 11 4 10 6 106
Corylophidae 0 0 1 0 0 4 4 0 7 16
Cucujidae 1 1 0 4 1 2 2 2 0 13
Curculionidae 66 64 63 60 51 43 85 39 111 582
Dermestidae 2 4 3 6 0 17 11 17 20 80
Dytiscidae 0 0 1 0 0 0 0 0 0 1
Elateridae 78 156 302 211 190 287 172 195 66 1657
Erotylidae 4 0 0 4 2 0 2 0 0 12
Histeridae 0 0 0 1 0 1 1 0 0 3
Latridiidae 14 22 3 11 7 23 13 14 12 119
Lycidae 0 0 0 0 0 0 1 0 0 1
Lymexylidae 0 0 0 0 1 0 0 0 1 2
Meloidae 0 0 0 0 4 0 1 1 0 6
Melyridae 4 10 4 11 6 5 4 6 5 55
Monommidae 75 18 7 117 38 27 37 27 73 419
Mordellidae 140 353 139 145 105 91 167 64 112 1316
Mycetophagidae 0 0 0 1 5 0 1 0 1 8
Unidades de paisagem
Famílias CCS CSS RAV SCF SEC TAreC TAreP TArgC TArgP Total
Nitidulidae 53 17 46 14 16 107 34 75 28 390
Oedemeridae 1 2 0 0 1 2 0 0 0 6
Phalacridae 0 1 0 1 0 1 0 0 1 4
Phengodidae 35 8 3 8 18 1 5 4 14 96
Ptiniidae 1 0 0 1 0 0 0 1 0 3
Rhipiphoridae 0 0 0 0 2 0 0 0 2 4
Scarabaeidae 9 0 6 8 3 4 39 10 9 88
Scirtidae 0 1 0 0 0 5 0 0 0 6
Scolytidae 4 7 1 8 4 3 7 4 1 39
Staphylinidae 7 1 3 3 2 0 4 3 2 25
Tenebrionidae 60 131 79 43 32 135 104 9 36 629
Throscidae 0 0 0 1 0 8 18 1 15 43
Trogossitidae 0 0 1 2 1 0 3 1 5 13
Total de indivíduos 835 1241 780 979 775 972 916 697 1106 8301
Total de famílias 29 27 27 32 31 29 32 28 30 42
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Unidades de paisagem
Famílias CCS CSS RAV SCF SEC TAreC TAreP TArgC TArgP Total
L. Iannuzzi et al.
Chrysomelidae
1693 Curculionidae
1615
(20,40%)
(19,46%) Elateridae
582 Monommidae
629
(7,01%) Mordelidae
(7,58%)
Nitidulidae
1657 Tenebrionidae
1316 (19,96%) demais famílias
390 (15,85%)
(4,70%)
419
(5,05%)
380
500 Canyon encosta sem solo 500 Ravina
500 Canyon encosta com solo
450 450 450
400 353 400
400 337
350 350 302
350
300 300
300 243
250 250
250
200 156 165 200 139
200 140 131
120 150 150 103
150 63 79
66 78 75 60 100 64 100 41 46
100 53
18 17 50 7
50 50
0 0
0 Famílias de Coleoptera
Famílias de Coleoptera Famílias de Coleoptera
500 Serra contraforte 500 Serra escarpa 500 Tabuleiro arenoso ciliar
450 450 450
400 400 400
350 350 350 287
300 263 300 300
250 211 250 190 195 250
200 145 200 148 200 160
126 122 135
117
150 150 105 150 91 107
100 60 43 100 51 100 43
38 32 27
50 14 50 16 50
0 0 0
Famílias de Coleoptera Famílias de Coleoptera Famílias de Coleoptera
500 498
500 Tabuleiro arenoso plano Tabuleiro argiloso ciliar 500 Tabuleiro argiloso plano
450 450 450
400 400 400
350 350 350
300 247 300 300
250 250 195 250
172 167 182
200 200 153 135 200
150 104 150 150 111 112
70 85 64 75 73
100 100 100 66
37 34 39 27 28 36
50 50 9 50
0 0 0
Famílias de Coleoptera Famílias de Coleoptera Famílias de Coleoptera
Tabela 2. Valores de diversidade dos índices de Shannon-Wiener (H’) e Simpson (1-D) das famílias de Coleoptera coletadas em nove
unidades de paisagem reconhecidas para a caatinga da região de Xingó, estados de Alagoas e Sergipe, Brasil. Maiores e menores
valores em destaque. As coletas foram feitas entre os meses de março de 2000 e março de 2001. Ver legenda das unidades de paisagem
na tabela 1.
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Tabela 3. Valores de similaridade (índice de Morisita) entre as nove unidades de paisagem reconhecidas para a caatinga da região de
Xingó, estados de Alagoas e Sergipe, Brasil. As coletas foram feitas entre os meses de março de 2000 e março de 2001. Ver legenda
das unidades de paisagem na tabela 1.
TArgC -- 0,71
TArgP --
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8. Diversidade de Coleoptera de Caatinga
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Referências Bibliográficas
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8. Diversidade de Coleoptera de Caatinga
HOSKING, G.P. 1979. Trap comparison in the capture of flying Coleoptera. New
Zeland Entomologist 7: 87-92.
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8. Diversidade de Coleoptera de Caatinga
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L. Iannuzzi et al.
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