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Livro de referência:
Papel do psicólogo:
• Buscar o desvelamento do sentido do ser do cliente. Em que sentido ele está indo?
Para onde segue o fluxo do ser.
• Conduzir o cliente a uma fala autentica e não um falatório. Meu ser habita uma
linguagem. (discurso falatório dizer muito sem dizer nada)
1. Por meio da Escuta: Por meio da fala, busca-se o modo de expressão e explicitação.
2. Por meio da Hermenêutica: Contextualização, penetrar a morada do cliente.
Conhecer o fenômeno a partir do ponto de referencia de quem fala sem trazer
linguagens ou reflexões invasivas.
3. Por meio do Cuidado: Característica que constitui o Dasein (pode ser um mau-
cuidado). Fazer com que o cliente assuma o próprio cuidado. Cuidado: aceitar a
experiência do outro, não querer impor a experiência sobre o outro. Quando se
percebe cuidado, o cliente assume a responsabilidade de se cuidar. O terapeuta é o
Cuidado (substantivo/ ser)
Dasein: ser humano com liberdade, abertura e capaz de cuidar de si próprio.
Falas do cliente
Ah! Se eu tivesse ... _A queixa fica em torno daquilo do qual outrora se abriu. A culpa
existencial pode ser exemplificada pela fala de uma mulher de 44 anos que se
queixava de depressão da seguinte forma:
Para Heidegger, trata-se do débito que, sob a forma de lamentação, clama pelo devir
como ser mais próprio. O psicoterapeuta traz à tona a expressão do cliente,
mobilizando-o a assumir o caráter de liberdade de escolha e, também, clarifica para
este que, à medida que se lamenta, permanece na mesma escolha. Um exemplo
da fala do psicoterapeuta: “Parece que, no passado, você optou pelo casamento e,
hoje, você se lamenta pela escolha do passado.”
Eu não vou me encontrar com ele, não sei o que pode acontecer. Tenho medo do que
vou ouvir: Prefiro esperar que as coisas se resolvam por si mesmas. Enquanto isto,
fico sozinha, mesmo temendo a solidão.
Sente como se sua liberdade não lhe pertencesse, embora sabendo de sua pertença.
Relato de uma mulher de 30 anos:
É um mal-estar, sinto que não estou bem, mas não tenho do que reclamar, meu
casamento, meus filhos, tudo está bem. Mas eu me sinto estranha como se as coisas
não estivessem bem na minha vida. O psicoterapeuta existencial atua mantendo a
angústia frente àquilo que sustenta a questão, não facilitando a fuga para o impessoal.
“Mesmo que tudo em torno de você esteja bem, em você mesma as coisas vão mal. “
“Elas não cuidam bem dos seus filhos e eu sofro por isto, afinal, são meus netos. O
que você me aconselha a fazer? Eu li na revista que a experiência da avó deve se
fazer valer. Eu não sei, mas você, que é psicóloga, deve saber.”
Nesta situação, uma das possibilidades- terapêuticas é clarificar a forma como abre
mão de sua liberdade, deixando que o outro escolha: A revista te diz que o que vale é
a experiência da avó. Agora, você quer que eu te diga o que você deve fazer. E
assim, você vai vivendo, perguntando aos outros o que deve fazer.
Por exemplo: quando o cliente traz uma queixa de alguém (do chefe, de seu pai,
enfim, de alguém que tenha alguma ascendência sobre ele, e o aborde de forma
autocentrada), o psicoterapeuta, a partir deste relato, pode mostrar-lhe, pouco a
pouco, indiretamente, que o outro existe em uma relação. A atmosfera, o astral é
frequentemente de raiva do outro, de vaidade e orgulho. As relações estabelecidas
vêm carregadas de conflito.
“Eu até sei que não devo ceder às vontades do meu namorado, nem da mãe dele.
Mas também não quero parecer inconveniente, então prefiro mostrar-me como uma
moça muito fina como eles querem que eu seja, também não é tanto sacrifício.”
A existência presenteia o existente, no seu surgimento no mundo, pela falta de sentido
e pela solidão. Na tentativa de escapar à solidão, o outro pode se tornar uma
necessidade, imprescindível para que sua vida tenha continuidade. Quando o outro se
torna uma necessidade, o sujeito em questão abre mão de seus referenciais. Embora
conhecendo os seus valores, enfim seu projeto, seu sentido maior é escapar à solidão.
“Eu digo ruim com ele, pior sem ele. Ele tem muitos ciúmes, chega a me empurrar;
mas é bom para mim, faz isto porque gosta de mim.”
Muitas vezes minimizar a dor consiste em uma estratégia que permite o alívio. No
entanto, não falar deste sentimento, implica em não deixar que este se desfaça. O
psicoterapeuta existencial pode manter a angústia frente à estranheza do cliente de
sua própria condição. Mesmo que o cliente insista em não falar de si próprio, o
terapeuta insiste, sutilmente, nos indícios, a fim de que o cliente tenha a oportunidade
de se confrontar com a sua situação.
“Ninguém na minha casa me entende, ninguém liga para mim. Eu faço tudo por eles,
mas quando eu preciso, me abandonam, ninguém deixou de viajar porque eu estava
sofrendo, não consegui o emprego e eles até gostam, estavam felizes porque iam
viajar.”
i) Não aceitação dos próprios limites - muitos clientes mostram-se insatisfeitos com
suas condições, sejam financeiras ou sociais. Queixam-se, até mesmo, da sua
constituição física ou motivacional. Lutam desesperadamente a fim de tornarem-se
aquilo que em sua ação não se realiza. Em O desespero humano, afirma Kierkegaard:
[ ... ) é certo que um eu tem sempre ângulos, mas daí apenas se conclui que é preciso
dar-lhes resistência, e não limá-los e de modo algum significa que, por receio de
outrem, ou eu deva renunciar a ser ele próprio ou não ousar sê-lo cm toda a sua
originalidade, na qual somos plenamente nós para nós próprios. (KIERKEGAARD, s/d,
p. 39)
A não-aceitação do seu ser com suas possibilidades e limitações pode implicar uma
tentativa de limar seus ângulos, ou então criar ângulos não-possíveis, uma vez que
somos nós próprios e nenhum outro.
“Não quero envelhecer, 30 anos não dá, não queria sair dos 29 anos.”
O psicoterapeuta existencial, nestes casos, muitas vezes em primeiro lugar, amplia, dá
voz à vivência desesperada, em que o existente se debate contra si mesmo, luta
contra a maré. Depois, mostra-lhe como sua luta toma-se vazia; por fim, procede de
forma que o cliente se esmere no polimento de seus ângulos e deixe de tentar limá-
los, na medida em que se aceite em sua originalidade. Enfim facilita o acesso ao seu
modo de ser que se faz em ato, na vida.
“Eu prefiro não terminar o namoro, pois não aguentaria ficar sozinha, mesmo ele
sendo dependente químico e até correndo o risco de um dia acabar sendo presa com
ele. Ainda é melhor do que morre,: Sem ele, eu morro.”
“Fico pensando que tenho que agradar meus clientes de todas as formas. Fazer tudo
que eles exijam que eu faça. Ser bastante boazinha. Refazer os projetos todas as
vezes que assim quiserem. Cobrar pouco. Penso que se deixar de fazer assim, vou
ficar sem trabalho.”
Segue-se um exemplo: Imaginei que, na minha vida, tudo daria certo: meu marido,
meus filhos, minha vida profissional. No entanto, não fui bem-sucedida
profissionalmente. Assim como eu gostaria. Dediquei-me demais aos meus filhos e,
hoje, não sou a professora que gostaria de ser; sabe? Uma acadêmica, com
doutorado, livros publicados.
A psicoterapia vai acontecer de forma que o cliente, em tal situação, possa reconhecer
a vulnerabilidade, a abertura, a morte e a imperfeição em que a existência sempre se
encontra.
“Isso é coisa de mulher fresca. Deve ser igual ao que o povo fala que tem enjoo na
gravidez. Isso é mulher doente que fica enjoada. Menopausa é uma coisa tão boa que
acaba a menstruação.”
Ora diz uma coisa, logo fala tudo ao contrário. Não sabe dizer no que realmente
acredita. O psicoterapeuta acompanha atentamente, ao mesmo tempo em que tenta
trazer uma situação por ela experienciada, para assim perguntar-lhe, por exemplo: E,
na sua gravidez, como foi?
Uma mulher de 40 anos que se queixa da pessoa com quem se relaciona e que,
ultimamente, tem até pensando na separação:
“Ah! Se eu ganhasse na loteria, eu não vou te dizer que não teria problemas, mas
esse problema não existiria, porque obviamente eu gosto do cara, senão eu não
estaria nessa batalha toda para ele mudar.”
O psicoterapeuta pode atuar, pouco a pouco, apontando suas escolhas, com muito
cuidado, para que o cliente não oponha resistência. Como, por exemplo, poderia dizer-
lhe: Então, parece que ganhar na loteria não seria suficiente pra a sua decisão?
Fala o cliente:
“No meu campo de atuação, tenho que me mostrar confiante. Se pareço muito
carente, elas não negociam comigo. Tenho que estar sempre bem-vestido, para
parecer bem-sucedido. Tenho que ser admirado. “
O psicoterapeuta pode atuar pontuando, junto ao cliente, o seu modo de ser na
aparência, da seguinte forma: Você tem que representar muito bem para que as
pessoas te deem valor não pelo que você faz, mas pelo que você aparenta fazer.
Falas do psicoterapeuta
Algumas das falas possíveis para um psicoterapeuta serão aqui descritas, sem se
pretender esgotar todo um infinito de possibilidades. A investigação destas falas
pretende elucidar a forma com que o psicoterapeuta se conduz, como exerce a
hermenêutica, pouco a pouco buscando o sentido daquele que se mostra, mesmo que
de forma velada.
O cliente relata: “Parecia que ela nem tava ali. Foi uma coisa rápida, eu não sei o que
me deu, que a gente tava conversando. E ela já tinha me escrito uma carta, dizendo
do desejo dela. E eu tinha até respondido pra ela, olha não rola, eu amo muito a
Rosana, e eu não me sinto bem, até imaginando isso. Aí, de repente ali na festa, ali eu
nem sei o que me deu ... Acabado de chegar, fazendo planos de ficar lá, junto com
ela, amando tanto ela ... O que será que aconteceu? Eu não entendi, parece que
brinco com as situações, brinco com os outros. “
Fala do cliente: “Mais ou menos isso. Um exemplo, não é o meu caso. Vamos supor
que eu quero ser cantor, aí eu sonho com isso, e aí eu chego lá e não consigo, vou
ficar muito decepcionado .”
Cliente: “Não, eu não penso nada, para quê? O que vai acontecer é o que tiver de
ser.”
Psicoterapeuta: Você acha que tudo já está decidido, que nós não podemos fazer
nada?
O psicoterapeuta pode clarificar tais situações, mostrando-as aos clientes quando elas
aparecem, porém, nestes momentos faz-se necessária paciência. Com impaciência,
pode-se afastar o outro de uma possibilidade mais própria.
Fala do cliente: “O chefe me demitiu, vai ser péssimo. Como vou pagar minhas
contas?” (Ao mesmo tempo que relata, mostra-se de forma risonha).
Cliente: “Por exemplo, às vezes ele almoça uma hora, às vezes às duas.”
Diz o cliente: “Bem, não quero irritar-me. Vou tentar falar sobre isto de forma mais
tranquila.”
Psicoterapeuta: “Estou vendo o quanto você está tranquilo falando do seu fracasso.“
Cliente: (Silêncio, reflete.) “Não, não, na verdade estou nervoso falando disto. Mas por
alguma razão, não queria mostrar assim.”
Promotora de responsabilidade - A responsabilidade é uma questão crucial a ser
trabalhada na psicoterapia de base existencial, considerando-se que o cliente é o
único que pode decidir sobre si próprio, e nunca as situações ou pessoas envolvidas
em sua vida decidirão por ele - mesmo quando atribui a terceiros ou ao impessoal a
decisão, ainda assim está sendo responsável. Esta fala convida o cliente a se colocar
sobre a vida.
Afirma a cliente: “Se não fosse ela, a minha vida seria um mar de rosas.”
Diz o psicoterapcuta : “E o que você faz para que sua vida seja um mar de rosas?”
Focalizadora do "aqui e agora" - O cliente vive com o terapeuta uma situação, que
também é vivida com os demais. O terapeuta traz a situação no presente, a partir do
que está acontecendo ali. Tal situação pode facilitar o cliente a assumir sua
responsabilidade pela sua escolha.
Diz o cliente: “Claro, as coisas são como são e eu ... Não deveríamos perder tempo
com as coisas que não têm remédio.”
Responde o psicoterapeuta: “Você realmente não quer ver até que ponto é escravo do
desejo de preservar essa imagem de homem confiante. Na verdade, está tentando
impingi-la a mim agora mesmo.”
Cliente: “Gostaria que meu sócio saísse para que ela tivesse mais tranquilidade.”
Psicoterapeuta: Parece que em muitas situações de sua vida, você quer que os outros
decidam por você. O psicoterapeuta não tenta distraí-lo para que a angústia contiime
se pronunciando; deste modo, acaba se colocando, nas seguintes falas: -
Psicoterapeuta: Acredito sim, parece que isto costuma acontecer sempre que você
teme como o vão avaliar a partir do que está mostrando.
Diz o cliente: “Na verdade, não estou aqui para passar uma imagem falsa de mim
mesmo. Embora seja assim em todos os meus relacionamentos: Por isto não dá certo.
Mostre-me que ... como não sou.
Psicoterapeuta: “O que você teme que possa te acontecer se você se mostrar como
é?”
Diz o cliente: “Ninguém permitiu que eu fosse, percebi que todos ficaram contra mim”.
Fala a cliente: “Eu não sei o que fazer se telefono para ele, mesmo sabendo que estou
dando esperança ou se não telefono e dou uma de ingrata. Todos dizem para eu não
telefonar. Minha mãe diz que não foi assim que ela me ensinou.”