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MINISTÉRIO DO ENSINO SUPERIROR

UNIVERSIDADE ÓSCAR RIBAS


FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS

TRABALHO DE DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO

A IMPORTÂNCIA DE ANGOLA NA ÁFRICA AUSTRAL

DOCENTE
___________________________________
Lic. Edivaldo de Assunção Chelionho Liz

LUANDA, 2022.

MINISTÉRIO DO ENSINO SUPERIROR


UNIVERSIDADE ÓSCAR RIBAS
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS

TRABALHO DE DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO

A IMPORTÂNCIA DE ANGOLA NA ÁFRICA AUSTRAL

DISCENTES
1. Alkenia de Almeida Martins Nº 20201291
2. Ariclene Maria do Amaral José Nº20201096
3. Afrodith Milena Carvalho Soares Borges Nº 20200120
4. Belsa João Alberto Bumba Nº 20200658
5. Clementina Bentinho Kanjamba Nº20201376

Trabalho de busca realizado por estudantes do 2º ano


do curso de Direito da Universidade Óscar Ribas, no
âmbito da cadeira de Direito Internacional Público.

Orientado por: Edivaldo de Assunção


Chelionho
Liz

LUANDA, 2022.

Resumo
Pretende-se com este trabalho compreender a importância de Angola na África austral, o
seu papel e o contributo na resolução dos vários problemas que afligem esta mesma região,
quer político, militar, económico e social. Sendo que Angola possui uma vasta experiência na
resolução de vários conflitos bem como na gestão de vários recursos minerais.
Com a criação da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), Angola
tem usado a sua diplomacia como um dos instrumentos da sua Política externa de forma a
garantir uma boa relação com os estados membros.

Palavras-chaves: Angola, África Austral, SADC.

Abstract

The aim of this work is to understand the importance of Angola in southern Africa,
its role and contribution to solving the various problems that afflict this same region,
whether political, military, economic and social. Since Angola has a vast experience in
resolving various conflicts as well as managing various resources minerals.

With the creation of the Southern African Development Community (SADC),


Angola has used its diplomacy as one of the instruments of its Foreign Policy in a to ensure
a good relationship with member states.

Keywords: Angola, África Austral, SADC.

Acrónimos

ECOWAS - Economic Community of West African States


RDC - República Democrática do Congo
SADC - Southern African Development Community (Comunidade para o
Desenvolvimento da África Austral
MPLA - Movimento Popular de Libertação de Angola
UA – União Africana
CIRGL – Conferência Internacional da Região dos Grandes Lagos
FRELIMO – Frente de Libertação de Moçambique
SWAPO – Organização do Povo Sudoeste de África
ONU – Organização das Nações Unidas
MISSANG – Missão de Angola na Guiné-Bissau
ÍNDICE
Introdução..........................................................................................................................6

CapítuloI…………………………………………………………………………7

1. Caracterização geográfica da África Austral............................................................7


1.1. Objectivos da Comunidade de Desenevolvimento da África Austral………….…9
1.1.1.Agenda Comum da Comunidade de Desenvolvimento da África
Austral………………………………………………………………………..…..10
1.1.2.Políticas Adoptadas pela Comunidade de Desenvolvimento da África
Austral………………………………………………………………………..…..10

Capítulo II………………………………………………………………...……..12

2. Organização da Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade de


Desenvolvimento da África Austral…………………………………………….…....12

2.1. Sistema de Troika entre os membros da Região Austral………………………...12


2.2. Princípios da Política Externa da República de Angola…………………………13
2.2.1. A Política Externa e Diplomacia de Angola na África Austral…………13

Capítulo III……………………………………………………………………..17

3. Relações bilaterais de Angola…………………………………………………....…..17

Capítulo IV……………………………………………………………………..18
4. O papel de Angola na resolução de Conflitos na Região da África Austral…………18
4.1. Angola na Resolução de Conflitos em África………………………………...…19
4.2. Região dos Grandes Lagos……………………………………………………….20
4.2.1. O papel Desempenhado por Angola na Resolução dos Conflitos na Região
dos Grandes Lagos………………………………………………………21
4.2.2. Presidência de Angola na CIRGL…………………………………….…23
5. Conclusão………………………………………………………………………….….25
6. Referência Bibliográfica………………………………………………………….…..26
Introdução

A república de Angola possui um território de 1.246 700 km2, é um país da costa


ocidental de África, cujo território é limitado a norte e a nordeste pela República
Democrática do Congo, a leste pela Zâmbia, a sul pela Namíbia e a oeste pelo Oceano
Atlântico, com uma população de mais de 28 milhões de habitantes. O país apresenta uma
das principais forças militares da região e considera-se como uma importante liderança da
região Austral, a partir das suas ações articuladas de política externa e política de defesa.
A África Austral é a parte sul de África, banhada pelo oceano índico na sua costa
oriental e pelo Atlântico na costa ocidental na qual Angola faz parte. Angola tem figurado
como um dos principais polos de poder da região da África Austral, tem sua importância
crescente nas últimas décadas, tornando-se palco de relevantes relações nesta mesma
região
A visão da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral é a de um futuro
dentro de uma comunidade regional que garanta o bem-estar económico, a melhoria dos
padrões de vida e qualidade de vida, a liberdade e justiça social, a paz e a segurança para
os povos da África Austral promovendo o crescimento sustentável bem como o
desenvolvimento socioeconómico através de sistemas produtivos eficientes. Esta visão
partilhada está ancorada nos valores e princípios comuns e nas afinidades históricas e
culturais existentes entre os povos da África Austral.

Angola tem sido um importante membro na região austral quer na resolução de


conflitos dos estados membros bem como nas questões geoestratégicas e geoeconómicas
da África austral, quer no domínio político-militar.

O nosso trabalho está dividido em quatro capítulos, onde no seu primeiro capítulo
abordamos sobre a caracterização da África austral, seus objetivos e suas políticas
adoptadas, no segundo capítulo foi referenciado sobre a organização da cimeira dos chefes
de Estado e de Governo da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral tal como o
sistema de troika entre os membros da região austral e os princípios da política externa da
República de Angola na África Austral. No terceiro capítulo falamos sobre as relações
bilaterais de Angola e já no quarto capítulo foi retratado o papel de Angola na resolução
dos conflitos na Região da África Austral tal como na região dos grandes lagos.
Capítulo I

1. Caracterização geográfica da África Austral

Do ponto de vista geográfico a África Austral corresponde à região do continente


africano e os seus limites geográficos são: a norte Republica Democrática do Congo
(RDC) e Angola, a leste Moçambique e Lesotho e a sul a África do Sul. Estes limites não
são consensuais, havendo descrições geográficas desde o da RDC e Tanzânia a norte da
região, até aos seus limites oceânicos na parte ocidental Maurícias, Comores e Seicheles.
Neste sentido, a divisão geográfica da região austral do continente tem sido objeto de
varias classificações, umas restritas e outras amplas, atendendo sobretudo aos limites
geográficos e políticos. [1]

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Abaixo é possível observar-se o quadro com as classificações das regiões da Africa
Austral.

Tabela 1. África Austral e suas classicações

Nações Unidas Outras Âmbito da SADC


organizações e
outros atores
África do Sul, Angola, África do Angola, África do
Botswana, Sul, Botswana, Sul, Botswana,
Lesotho, Namíbia, Lesotho, Malawi, Lesotho,
África Austral Swazilândia Moçambique, Madagáscar,
Namíbia, Maurícias,
Swazilândia, Malawi,
Zâmbia e Moçambique,
Zimbabwe. Namíbia RDC,
Seicheles,
Swazilândia,
Tanzânia, Zâmbia
e Zimbabwe.

No âmbito da divisão da ONU, tal como a tabela nº1, a África Austral compreende
apenas os cinco países apontados. Sendo uma visão restrita da geografia da África Austral,
ela é contrariada por uma perspetiva mais ampla e que faz coincidir a região austral do
continente com a da SADC, incluindo a RDC, Tanzânia e as ilhas de Madagáscar e
Maurícias. Porém, esta delimitação parece exagerada ao incluir não só aqueles dois países,
mas também as Ilhas Seicheles que se encontram no extremo oriental da parte sul do
continente. Assim sendo, a posição intermédia é a que melhor atende à divisão geográfica
da região austral, uma vez que inclui um conjunto de países a sul da bacia do Rio Congo,
passando pelos dois oceanos e abarcando as ilhas do Madagáscar, Maurícias e Seicheles.
[1]
A Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), é uma
organização sub-regional de integração e cooperação económica dos países desta região.
Teve a sua criação a 17 de agosto de 1992, na Cimeira de Windhoek, na Namíbia, tendo
como membros atuais: Angola, África do Sul, Botswana, República Democrática do
Congo, Lesoto, Madagáscar, Malawi, Maurícias, Moçambique, Namíbia, Suazilândia,
Tanzânia, Zâmbia, Zimbabué e Seicheles. A sua sede encontra-se em Gaborone, no
Botswana, e as suas línguas oficiais são o inglês, francês e o português.

No âmbito político e de segurança começa a desenvolver-se na região depois de


alcançada a Independência pela maioria dos países, sobretudo a das colónias portuguesas
em 1975. Foi o golpe de estado de 25 de Abril de 1974 em Portugal, em consequência
direta da vitória militar, política e diplomática das forças de libertação em Angola,
Moçambique e Guiné-Bissau que criou um novo cenário da região austral. Mesmo antes

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desse período, a Zâmbia e a Tanzânia, recentemente independentes, manifestaram através
dos seus respetivos presidentes a preocupação face à situação política no Zimbabwe. No
entanto, essa onda de solidariedade ganhou outro ímpeto depois da independência de
Angola e Moçambique, abrindo mais possibilidades de ajuda coordenada aos países ainda
sob o jugo colonial. [1]
Este quadro Este quadro foi fundamental para a consciência política e de defesa na
região, contribuindo para a independência do Zimbabwe e da Namíbia. No primeiro caso,
foi possível à ZANU-PF conduzir a luta armada que culminou com a independência do
Zimbabwe em 1980, com o apoio logístico e de preparação militar da Frente de Libertação
de Moçambique (FRELIMO), partido no poder em Moçambique. No segundo caso, a
Organização do Povo do Sudoeste Africano (SWAPO) dirigiu a luta de libertação contra o
regime do apartheid que vigorava na África do Sul com o apoio do Movimento Popular de
Libertação de Angola (MPLA), partido no poder em Angola. O fim do regime do
apartheid foi também resultado da luta desencadeada pelo Congresso Nacional Africano
(ANC), com intervenção do MPLA, quer no domínio logístico e militar, quer na arena
diplomática, através dos fóruns internacionais e de uma corrente de solidariedade com o
povo sul-africano. [1]
Neste âmbito, a política de defesa e segurança na África Austral orientou-se para a
coordenação da luta contra essa ameaça, ou seja para a abolição do regime do apartheid e
consequente independência da Namíbia e para a redução da sua influência nos países
limítrofes, como a Swazilândia e Lesotho. Direcionando-se ainda para o reforço da
capacidade dos Estados recentemente independentes, para assim diminuir a influência dos
principais mentores da Guerra-Fria, sobretudo dos EUA e da Europa Ocidental. [1]

Figura1. Estados membros da SADC. [2]

A Figura1 ilustra o mapa de cada um dos membros da Comunidade de

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Desenvolvimento da África Austral, onde é possível verificar os estados membros da
região que fazem fronteira com a República de Angola.

1.1. Objetivos da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral

Os principais objetivos da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral


(SADC) são alcançar, por via da integração regional, o desenvolvimento económico, paz e
segurança, aliviar a pobreza, melhorar o padrão e qualidade de vida dos povos da África
Austral e apoiar os que são socialmente desfavorecidos. Estes objetivos devem ser
alcançados através do aprofundamento da Integração Regional baseado nos princípios
democráticos e no desenvolvimento equitativo e sustentável. [3]
Tal como o tratado da SADC de 1992 no seu artigo 5.º estipula o seguinte :

• Alcançar o desenvolvimento e crescimento económico através da integração


regional,
• Desenvolver valores, sistemas e instituições políticos comuns,
• Promover e defender a paz e segurança,
• Promover o desenvolvimento autossustentado na base da autossuficiência
colectiva e a Independência entre os estados membros,
• Conseguir complementaridade entre as estratégias e programas nacionais e
regionais,
• Promover e optimizar o emprego produtivo e a utilização de recursos da região,
• Conseguir a utilização sustentável dos recursos naturais e a proteção efectiva do
meio ambiente,
• Reforçar e consolidar as afinidades e laços históricos, socias e culturais desde há
muito existentes entre os povos da região. [3]

1.1.1. Agenda Comum da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral

• Estando ligada diretamente aos objectivos da SADC mencionadas nos pontos


acima esta agenda resume as estratégias e políticas principais da instituição,
consequentemente a estrutura institucional da Comunidade de Desenvolvimento
da África Austral e esta em conformidade com as prioridades que incorpora. Esta
agenda comum baseia-se numa serie de princípios e políticas, entre as quais:
• A promoção do crescimento económico sustentável e equitativo e do
desenvolvimento socioeconómico que garanta a redução da pobreza, sendo o
objetivo último a sua erradicação,
• A promoção de valores e sistemas políticos comuns e outros valores partilhados,
transmitidos através de instituições democráticas, legitimas e eficazes,
• A promoção, consolidação e manutenção da democracia, da paz e segurança.

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• A agenda Comum da SADC está definida no artigo 5.º do Tratado (com a redação
que lhe foi dada em 2009), assim como na revisão das operações das instituições
da SADC, e comporta políticas estratégias da organização. [3]

1.1.2.Políticas Adoptadas pela Comunidade de Desenvolvimento da África Austral

• Promover o crescimento económico sustentável e equitativo e o desenvolvimento


socioeconómico que garanta a redução da pobreza, sendo objetivo último a sua
erradicação, fortalecer o padrão e a qualidade de vida dos povos da África Austral
e apoiar e apoiar os que são socialmente desfavorecidos através da integração
regional,
• Promover valores e sistemas políticos comuns e outros valores partilhados,
transmitidos através de instituições democráticas, legitimas e eficazes,
• Consolidar, defender e manter a democracia a paz, a segurança e estabilidade,
• Promover o desenvolvimento autossustentado na base da autossuficiência
colectiva e a Independência entre os Estados membros,
• Conseguir a complementariedade entre as estratégias e programas nacionais e
regionais;
• Promover e optimizar o emprego produtivo e a utilização de produtos da região,
• Conseguir a utilização sustentável dos recursos naturais e a proteção efectiva do
meio ambiente,
• Reforçar e consolidar as afinidades e laços históricos, socias e culturais desde há
muito existentes entre os povos da região,
• Combater o VIH e SIDA e outras doenças mortas ou transmissíveis,
• Garantir que a erradicação da pobreza seja abordada em todas as actividades e
programas da SADC,
• Integrar a perspectiva de género no processo de edificação comunitária. [3]

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Capítulo II

2. Organização da Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade


de Desenvolvimento da África Austral

A cimeira da SADC é responsável pela direção geral das políticas e pelo controlo das
funções da comunidade, tornando-se, por fim a instituição de políticas da SADC. É
composta por todos os chefes de estado e de governo da SADC e é gerido por um sistema
de Troika que inclui o Presidente da Cimeira da SADC, o próximo presidente (o Vice-
Presidente na altura) e o presidente imediatamente anterior. [3]

2.1. Sistema de Troika entre os Membros da Região Austral

O sistema de Troika, confere autoridade a este grupo para tomar decisões rápidas em nome
da SADC que são normalmente tomadas em reuniões de políticas agendadas em intervalos
regulares, bem como para proporcionar orientação de políticas às instituições da SADC
entre as cimeiras regulares. Este sistema tem sido eficaz desde que foi estabelecido pela
cimeira, durante a sua sessão anual, realizada em Agosto de 1999, em Maputo,
Moçambique. Outros estados membros podem ser cooptados pela Troika, sempre que
necessário. [3]

O sistema de Troika funciona ao nível da cimeira, do órgão sobre política, defesa e


segurança, do Conselho de Ministros e do comité permanente de altos funcionários. A
aplicação de duas Troikas ao nível do Comité permanente de altos funcionários, que
compreende os secretários permanentes responsáveis por instancias governamentais,
ministérios ou departamentos e a nível do órgão de cooperação em política, defesa e
segurança. A cimeira reúne-se normalmente uma vez por ano, por volta de
Agosto/Setembro, no estado membro em que o novo Presidente e Vice-Presidente sejam
eleitos. [3]

A cooperação das áreas de política, defesa e segurança é gerido com base na


Troika e é responsável pela promoção da paz e segurança na região. Compete-lhe orientar
os Estados membros e proporcionar-lhes uma direção em questões que ameacem a paz, a
segurança e a estabilidade na região. É coordenado ao nível da cimeira e integra o
Presidente, o próximo Presidente e o Presidente cessante e apresenta relatórios ao
Presidente da Cimeira da SADC. [3]
2.2. Princípios da Política externa da República de Angola

A República de Angola respeita e aplica os princípios da sua Constituição no que se


refere às relações internacionais, da Carta da Organização das Nações Unidas e da Carta
da União Africana e estabelece relações de amizade e cooperação com todos os Estados e
Povos, na base dos seguintes princípios:
• Respeito pela soberania e independência nacional,
• Igualdade entre estados,
• Direito dos povos à autodeterminação e à independência,

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• Solução pacífica,
• Respeito dos direitos humanos,
• Não ingerência nos assuntos internos dos outros Estados,
• Reciprocidade de vantagens,
• Repúdio e combate ao terrorismo, narcotráfico, racismo, corrupção e tráfico de
seres e órgãos humanos,
• Cooperação com todos os povos para a paz, justiça e progresso da humanidade
Angola defende a abolição de todas as formas de colonialismo, agressão, opressão,
domínio e exploração nas relações entre os povos. [4]
A República de A República de Angola empenha-se no reforço da identidade africana
e no fortalecimento da ação dos Estados africanos em favor da potenciação do património
cultural dos povos africanos. O Estado angolano não permite a instalação de bases
militares estrangeiras no seu território, sem prejuízo da participação, no quadro das
organizações regionais ou internacionais, em forças de manutenção da paz e em sistemas
de cooperação militar e de segurança colectiva. [4]

2.2.1. A Política Externa e Diplomacia de Angola na África Austral

A política externa é a actividade desenvolvida pelo estado em relação a outros


Estados e entidades com relevância internacional, com vista a realizar objectivos que lhes
são próprios, sendo que quanto mais força política, económica e militar tiver um estado,
mais eficaz, poderá ser a sua política externa. [5]
Esta actividade, é considerada o campo de atuação dentro de uma estratégia do estado, e a
ação diplomática é a execução da política externa. [5]
A diplomacia é um instrumento da política externa para o estabelecimento e
desenvolvimento dos contactos pacíficos entre os governos de diferentes estados, pelo
emprego de intermediários mutuamente reconhecidos pelas respetivas partes. [5]
Nenhum estado é autossuficiente, e nenhum sobrevive sozinho na esfera internacional
actual, são todos interdependentes, inclusive as superpotências. Estes sujeitos de Direito
Internacional, buscam incessantemente concretizar os seus objectivos políticos e
económicos na esfera internacional, unindo-se aos demais estados do sistema
internacional, ao fim de suprir as suas necessidades, tudo em volta de um interesse
estratégico mútuo. Num mundo globalizado como o nosso, dificilmente os Estados que
constituem o Sistema Internacional optam por uma posição de isolacionismo. [5]
A sociedade internacional era uma constelação de estados aproximados,
interligados entre si, por relações de interesse ou de força, orientando-se apenas por vagas
indicações de um Direito Internacional rudimentar, e desprovido de mecanismos
sancionatórios. Sendo que as únicas formas de organizações existentes eram rudimentares
e assentavam nas relações de domínio, ou de equilíbrio de forças, em alianças temporárias
contra inimigos comuns, e em sistemas de representação mútua, através da acreditação de
diplomatas. [5]
As alianças eram temporárias, diferente do que tem acontecido nos tempos actuais,
em que as alianças têm um cunho mais duradouro. Toda aliança temporária é auxiliada a

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um sentimento de medo, é apenas uma esperança vã de derrotar o inimigo. Os Estados
organizam-se em alianças para salvaguardar os seus interesses, de modo a protegerem-se
dos seus eventuais inimigos na Sociedade Internacional. Nunca se sabe o que esperar de
um Estado com objectivos contrários ao de outrem . [5]
É visível uma proeminência de organizações internacionais e regionais, assim
como os acordos bilaterais. Com o desenvolvimento das comunicações, deu-se um
deslocamento facilitado de indivíduos, nomeadamente através do turismo, desenvolveu- se
de igual modo o comércio e as relações económicas, surgiram novos actores no Sistema
Internacional, muitas das vezes, uns mais poderosos e influentes do que muitos estados,
juridicamente constituídos. [5]
Deste modo há na esfera internacional, uma composição muito maior de um
conjunto de sujeitos para além do tradicionalmente conhecido, o Estado. Passam a existir
como actores internacionais, o sistema de alianças, organizações internacionais, serviços
públicos intergovernamentais, organismos ideológicos ou profissionais, organizações não-
governamentais, grandes empresas multinacionais, bancos e consórcios de bancos de
alcance internacional. [5]
Cada estado tem as suas Relações Internacionais no sistema político internacional,
e estes procuram definir as estratégias da sua política externa, das quais podem resultar em
aproximação ou distanciamento, com os demais Estados do Sistema Internacional. [5]
A sociedade internacional, para além dos elementos jurídicos e éticos, e das
instituições internacionais ou supranacionais que criou. Continua a ser ainda, basicamente,
uma relação de forças entre potências, as grandes, médias ou pequenas. Cada uma destas
potências procura ocupar os espaços livres ou vácuos que vão surgindo, ou que a cúria de
outros países deixa abertos. A sociedade internacional procurou adotou diferentes formas
de organização regional e os modelos de convivência. Em certas partes do globo avançou-
se mais do que outras, quer na organização da sociedade regional, quer na definição de
princípios e regras de cooperação pacífica. Tal como a África Austral, cuja arquitetura
política hoje tanto se debate, em que já se tem adoptado formas de organização nos
campos político, económico e de segurança. A África Austral tem atuado por vias da
SADC, que tende a assegurar regras de convivência pacífica, da cooperação, de
esbatimento de conflitos, que dão uma dimensão totalmente nova à ação diplomática. [5]
Para um estado as janelas para se olhar ao mundo ao seu redor é a diplomacia e as
suas Relações Internacionais. Através da política externa, pode se olhar mundo de um
ponto mais elevado, pautando o pensamento realista, as relações dos países desenvolvidos
com os países em vias de desenvolvimento. Assim como todos os estados independentes, e
como todos os Estados independentes e com alguma “notoriedade” na esfera
internacional, Angola também possui um impulsionador de política externa, o Ministério
das Relações Exteriores em coordenação com os diversos ministérios. Esta é a instituição
estadual que zela pelos interesses políticos e económicos do país fora da sua zona de
atuação, do seu território nacional, com os demais Estados do Sistema Internacional, com
o qual mantém boas relações, no intuito de alcançar um determinado objectivo benéfico ao
seu território nacional. [5]
Deste modo a Política Externa de Angola consiste no posicionamento adoptado
pelo estado para alcançar os seus objectivos devidamente tracejados de acordo com a sua
estratégia racionalmente escolhida. Esta não é se não a continuação da política interna do

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Estado angolano. Ou seja, visa consolidar a ordem social existente no próprio Estado
através da afixação das suas disposições na ordem jurídica internacional, e defender no
Sistema Internacional os interesses do Estado. [5]
Um exemplo, a cerca das relações de Política Externa, é a situação em que o país
atualmente atravessa. Vive uma crise económica, e tem indagado mecanismos, fora do seu
território nacional, para suprimir esta mesma crise, fazendo acordos com Estados que
possam de algum modo coadjuvar nessa situação. Acordos esses, sobretudo com a China,
que tem sido um grande parceiro económico. Pode-se dizer que a diplomacia é o elo de
ligação entre Angola e os demais países com quem este pretende expandir a sua política
externa, ou seja manter relações políticas e não só com estados terceiros. [5]
É a partir da mudança do sistema político e económico monopartidário para o
sistema multipartidário, tendo início com as eleições em Setembro de 1992 que
apresentamos a política externa de Angola aos dias atuais. De uma política externa
nacionalista e socialista, seja em termos de desenvolvimento económico, quanto social, a
política externa de Angola evoluiu de um país colonial para uma política externa com
ideais socialistas iniciada com a proclamação da independência do país e ao retorno ao
sistema de livre mercado em 1992.
Neste contexto Angola elaborou a sua Política Externa, preparando-se assim para
estabelecer relações políticas com outro estados do Sistema Internacional. Traçou os seus
objectivos nacionais, que como já referi anteriormente culminam muitas das vezes com as
estratégias globais. Sendo Angola membro da SADC, e esta tem objectivos próprios aos
objectivos nacionais de cada estado membro. Um dos objectivos da SADC prevê a livre
circulação de bens e a abertura dos mercados. Não constitui um objectivo benéfico para
Angola assim como para determinados Estados que têm uma economia ainda em
ascensão. [5]
Do ponto de vista político, o estado angolano empreendeu uma luta pela afirmação da sua
independência, igualdade de direitos com relação aos outros Estados, segurança, paz e
coexistência pacífica, cooperação mutuamente vantajosa na base da igualdade e respeito
mútuo e defesa dos Direitos Humanos. [5]

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Capítulo III

3. Relações bilaterais de Angola

É importante Angola traçar uma boa política interna regional, de modo a suprir
eventuais constrangimentos que possam acontecer ao seu redor, tornando-se consistente e
pouco vulnerável aos acontecimentos externos à sua fronteira. Um Estado com bases
sólidas e devidamente estruturado a nível político e securitário, dificilmente é apanhado de
surpresa por eventuais constrangimentos externos. O terrorismo é uma das questões em
que Angola tem dado uma especial atenção. O combate do mesmo tem vindo a ser
analisado com bastante profundidade, uma vez que assola diversos países da região, e
tendo em consideração, sempre, de que o uso da violência não é aceitável na resolução dos
problemas. [5]
O alargamento e reforço dos mecanismos mecanismos internacionais na luta contra
o terrorismo, com o apoio dos serviços de inteligência, visando instaurar um clima de paz,
concórdia e boa vizinhança, estende-se a todos os países membros da África Austral. A
relação regional de Angola tem que ser vista de dois modos, de um lado em relação as
relações bilaterais e do outro lado em detrimento das relações aos agrupamentos regionais.
[5]
Angola, assim como os restantes países que compõe a SADC, têm dado especial
atenção ao tema da segurança. Na África Central, uma análise atenta relativa aos novos
organismos que passaram a integrar a CEEAC (Comunidade Económica dos Estados da
África Central), integrativos mostra claramente a importância prática decorrente da
criação de sectores de segurança na instituição. As questões de foro da segurança passarão
a ter um maior destaque em relação aos países limítrofes de Angola. Segundo o ex.
Ministro das Relações Exteriores, George Chicoti, o estado angolano teria maior atenção
por parte da diplomacia sendo que a política externa de angola, auxilia relações de boa
vizinhança, fundamentadas em princípios de respeito pela soberania, igualdade e
integridade territorial dos estados, dentro de uma cooperação reciprocamente vantajosa, e
continuará a defender estes princípios para uma boa conduta da política externa, e
salvaguarda da sua imagem no exterior. [5]
Capítulo IV

4. O papel de Angola na Resolução dos Conflitos na Região da África Austral

A margem do IV congresso Internacional da África Lusófona, que decorreu na


Universidade Lusófona, em Lisboa, a 12 de Maio de 2010, o general português José
Loureiro dos Santos defendeu que Angola é uma "potência muito importante" para a
estabilização da África Austral. Embora seja um Estado que vivenciou um longo período
de Guerra Civil e gerou desastrosas consequências, e sendo assim recente os passos dados
para uma restruturação política interna e externa, económica e social, aos poucos vai
reunindo todos os factores para se fixar como uma potência regional. Paulatinamente vai
ganhando espaço, de modo a que vai implementando e solidificando a sua Política
Externa. [5]

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É um estado bastante rico em recursos naturais, e é entre os Estados da África
central e África Austral o que melhor estabilidade apresenta, com a exceção da África do
Sul, que possui a maior economia da África Austral e apresenta um desenvolvimento a
nível político e económico bastante considerável. Angola tem um papel fundamental na
manutenção de paz em determinadas zonas do continente africano, sobretudo na região da
África Central. [5]
Angola perfila-se na África Austral como uma potência que tem alguma
estabilidade. Tem melhores hipóteses do que África do Sul, que tem dificuldades que não
existem nas ex-colónias portuguesas, nomeadamente o da propriedade dos solos. Angola é
um país rico, que se vê que está com ambição e que tem todos os elementos para a prazo,
se transformar numa democracia normal naquela região. [5]
Angola privilegia-se da geoestratégia e da geopolítica da região dos Grandes
Lagos, não esquecendo que é um dos poucos países que pertence à região da África
Austral e dos Grandes Lagos. Angola, pelas suas características, apresenta as melhores
condições para assegurar as divergências e o bom andamento político dos Estados na
região dos Grandes Lagos. [5]
A presença de Angola no conflito da RDC teve uma conotação positiva. Reuniu
mecanismos estratégicos para conter a expansão do conflito fora das suas fronteiras, que
era uma das maiores preocupações dos Estados vizinhos. Inicialmente a RDC, não fazia
parte da SADC, esta passou a integrar a organização sub-regional por iniciativa do Estado
angolano como uma estratégia política, para se proteger de um eventual descuido dos
conflitos, e consequentemente o transbordo para lá das suas fronteiras. [5]
Foi nesta sequência que a RDC passou a membro da Comunidade de
Desenvolvimento da África Austral, durante os conflitos ocorridos nesta região, que
Angola sugere a entrada da RDC para a comunidade dos países da África Austral. A
partilha da fronteira entre Angola e a RDC é uma das razões que explicam o empenho
do Estado angolano na resolução do conflito no Grandes Lagos. [5]
Esta foi uma estratégia que Angola encontrou para salvaguardar o seu território
nacional e dos demais Estados-membros. A RDC, fazendo parte da SADC, passaria a ser
mais fácil conter o alastramento do conflito, e quem controlasse a RDC controlaria a parte
da Região dos Grandes Lagos. Que por sua vez é uma região de grande interesse
estratégico. Angola não tem medido esforços para levar a paz e a estabilidade à região dos
Grandes Lagos, sobretudo na pacificação dos conflitos da RDC, embora seja uma
conjuntura bastante complexa, os resultados têm sido positivos e apesar da sua
complexidade. Paz e estabilidade têm sido prioridade na diplomacia angolana nesta região.
[5]
Angola aos poucos foi ganhando notoriedade no sistema internacional, passa a
integrar organizações sub-regionais e internacionais de modo activo. Angola e África do
Sul são as maiores economias e potências militares na SADC, por esta razão, os dois
países têm nos seus ombros a responsabilidade da integração económica, preservação da
paz, segurança e estabilidade na Comunidade. [5]
Angola não mais cairia no dissabor de se envolver num outro conflito semelhante
ao que vivenciou no passado, porque ainda hoje se podem notar os vestígios deixados. Por
isso, adota uma Diplomacia pacífica com os membros da África Austral, ainda que
determinados Estados estejam a vivenciar conflitos duradouros, Angola de tudo tem feito

16
para que estes não se espalhem pelas fronteiras angolanas e tem tido um papel mediador
na resolução destes conflitos. [5]

4.1. Angola na Resolução dos Conflitos em África

Angola faz parte de duas sub-regiões em África, não se limitando somente a região
da África Austral, mas também à região centro-africana, fazendo parte de igual modo, das
organizações regionais destas sub-regiões. [5]
Enquanto estado da África centro-austral, com capacidade de decisão na gestão
dos conflitos, terrorismo e diversificações políticas, que assumem na região, sucede como
um dos vértices geradores de estabilidade no triângulo centro-africano, onde a Comissão
do Golfo da Guiné (CGG), a Comunidade Económica dos Estados da África Central
(CEEAC) e a Comissão Internacional da Região dos Grandes Lagos (CIRGL), emergem
como os pontos de ligação desse triângulo. [5]
São inúmeros os acontecimentos políticos que marcam a região de África. Grande
parte dos conflitos políticos têm a mesma base. Lideres no poder há muitos anos, eleições
pouco transparentes, insatisfação dos partidos da oposição, que acabam por desestabilizar
o país, ou seja, acaba gerando um descontentamento que culmina na grande maioria em
sucessivos golpes militares. Não foi muito diferente na Guiné- Bissau, aonde Angola teve
um papel de mediador do conflito numa fase inicial. [5]
A 12 de Abril de 2012, deu-se um Golpe de Estado na Guiné-Bissau. Dezenas de
militares tomaram a sede do partido PAIGC (Partido Africano para a Independência da
Guiné e Cabo Verde) e da Radio Nacional. Esteve na génese deste conflito, o
descontentamento da oposição nas eleições de 18 de Março de 2012. Houve denúncias por
parte oposição, de “fraude generalizada” na primeira volta das eleições presidenciais,
antecipadas devido ao passamento físico do anterior presidente, Malam Bacai Sanhá, em
Janeiro de 2012. Diante da instabilidade do país, deu-se a necessidade de haver uma
intervenção política e militar por parte das organizações regionais, de modo a repor a
legalidade. Nesta altura, a SADC e a ECOWAS, mostraram-se dispostas a regularizar a
situação. [5]
Por parte da SADC, interveio Angola, através da Missang, mas havia uma disputa
da ECOWAS de também se fazer presente na resolução deste conflito, representada pela
Nigéria. No fundo estes dois lutavam pela supremacia da região. As tropas da Missang
acabaram não tendo o desfecho que pretendia e permaneu a ECOWAS no território. [5]
Angola tem dado o seu apoio no que concerne a resolução de conflitos na região da África
Austral dado o longo período do conflito armado que o país viveu.
A SADC confirma a sua fidelidade aos objectivos e princípios da Carta das Nações
Unidas, bem como prevê a observância dos princípios da igualdade, interesse e respeito
mútuo pela independência, soberania, integridade territorial, não ingerência nos assuntos
internos de cada Estado e reciprocidade de vantagens. [5]

4.2. Região dos grandes lagos

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A região dos Grandes Lagos é uma área geopolítica composta pela República
Democrática do Congo, Ruanda, Uganda e Tanzânia. É uma região marcada pelos maiores
lagos do continente africano, por uma proximidade cultural e linguística. Porém, esta
região é fortemente assolada por conflitos étnicos e políticos regulares. Os conflitos nesta
região são tão frequentes que põem em causa a paz internacional e estabilidade regional.
Deste modo, em 2000, o Conselho de Segurança das Nações Unidas, graças às resoluções
1291 e 1304, criou a Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos. [6]
Para Angola a geometria transfronteiriça a norte é complexa e potencialmente
perigosa para a segurança de Angola por este motivo, Angola tem desempenhado todos os
seus esforços no sentido de proteger os seus interesses dos perigos que pode enfrentar por
causa da sua partilha, ao norte, de uma vasta fronteira com a RDC, atual epicentro dos
conflitos na região dos Grandes Lagos. A posição geoestratégica de Angola, obriga o país
a estar dentro de um processo integrado. A questão da segurança na Região dos Grandes
Lagos é fundamental uma vez que a estabilidade desta região permitirá explorar
devidamente as potencialidades dos países membros em benefício do seu povo. Angola é
um país que se pacificou mas cuja estabilidade depende muito da vizinhança próxima e
imediata e da vizinhança afastada. [6]
Além de zelar pela segurança, Angola está também interessada em aumentar a sua
influência na Região dos Grandes Lagos e consequentemente na RDC. Durante a guerra
de 1996-1997, na RDC, que opôs Mobutu Sese Seko à Laurent Kabila, Angola, o Ruanda
e o Uganda foram dos países que apoiaram Laurent Kabila. Quando estes dois últimos
países se viraram contra Kabila em 1998, Angola continuou a apoiá-lo, o que criou uma
certa rivalidade entre Angola e o Ruanda. Com a sua presidência na CIRGL, Angola
aproveitou para corroborar a sua influência nas tomadas de decisões políticas da região.
Acredita-se que para ambos os países, os próximos acontecimentos políticos na RDC terão
um papel fulcral para a Região dos Grandes Lagos e por isso não querem ficar de fora das
mudanças vindouras e dos eventuais benefícios que estas possam trazer. [6]

4.2.1. O Papel Desempenhado por Angola na Resolução dos Conflitos na Região


dos Grandes Lagos

O Genocídio do Ruanda de 1994 que fez mais de 800.000 vítimas e a instabilidade


tremenda na RDC causada pelo regime de Mobutu, fizeram com que a sociedade
internacional se apercebesse da verdadeira dimensão dos conflitos na Região dos Grandes
Lagos. Após a queda de Mobutu, os países que outrora apoiavam Laurent Kabila como
por exemplo o Ruanda e o Uganda, viraram-se contra o seu antigo aliado. A aliança entre
eles foi quebrada por diversos motivos mas sobretudo por Kabila não ter cumprido com a
sua palavra. O Ruanda e o Uganda começaram então a atacar o regime de Kabila e como
represália, a RDC começou a apoiar a FDLR que inicialmente era uma milícia ruandesa
mas a RDC perdeu o controlo e a FDLR se tornou numa das principais forças negativas
que as FARDC pretendem neutralizar com a ajuda da CIRGL. A Organização das Nações
Unidas decidiu então intervir de forma diplomática para tentar reconciliar os protagonistas
e optaram por organizar uma conferência internacional. Inicialmente, a RDC discordou
com a organização de uma conferência e acusou Kigali e Kampala de serem os líderes dos
movimentos insurretos nas províncias de Kivu. Por sua vez, o Ruanda e o Uganda não
viam utilidade na conferência internacional uma vez que para eles, o que estava a
acontecer na RDC era um problema de dimensão interna. Diante de tanta discórdia, Kofi

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Annan, então Secretário-geral das Nações Unidas preferiu falar de uma conferência que
debateria os diferentes problemas podendo encontrar um consenso entre os Estados-
membros. [6]
As primeiras iniciativas começaram com a realização de relatórios sobre a situação
na Região dos Grandes Lagos a partir de 1997. A seguir, com a resolução 1291 de 24 de
Fevereiro de 2000 e a resolução 1304 de 16 de Junho de 2000, o Conselho de Segurança
das Nações Unidas chegou a conclusão que a situação política e de segurança na RDC
constituía uma verdadeira ameaça para a paz e segurança de toda a região da África
central. A União Africana e a ONU decidiram trabalhar em colaboração para preparar esta
conferência. De 2001 a 2003 foram organizadas missões de exploração na região lideradas
por Ibrahima Fall, nomeado representante especial de Kofi Annan na Região e reuniões
para preparar a primeira cimeira. No processo preparatório, houve uma certa dificuldade
em fixar os participantes da conferência. Em Novembro de 2004, em Kigali, os ministros
tinham estipulado que a conferência teria quatro tipos de participantes: o grupo do champ
ou core group, o grupo dos cooptés, o grupo dos Amigos da região e as diferentes
organizações internacionais. Países como Angola, a
RCA e República do Congo, a quem lhes tinha sido proposto pertencerem ao de
observadores (cooptés) manifestaram o seu interesse em fazer parte do core group pois
teriam mais peso. De facto, os países do champ e os países observadores teriam o direito
ao debate, porém, apenas o primeiro grupo poderia tomar decisões. Os três países que
tinham sido atingidos diretamente pelos efeitos da crise no leste da RDC e pelos efeitos do
genocídio do Ruanda tornaram-se então membros plenipotenciários da CIRGL. A
primeira cimeira dos chefes de Estado decorreu no Golden Tulipes’ Hotel de Dar-es-
Salaam, na Tanzânia, aos 19 e 20 de Novembro de 2004 onde foi assinada a Declaração
de Dar-es-Salaam que permitiu o enquadramento diplomático, político e técnico da
conferência. No seu preâmbulo, os onze Estados membros (Angola, Burundi, Quénia,
República Centro-Africana, República Democrática do Congo, Ruanda, Sudão, Tanzânia,
Uganda, Zâmbia) comprometeram-se a lutar contra o genocídio na Região dos Grandes
Lagos, a neutralizar, desarmar, encarcerar e julgar os autores de crimes contra a
humanidade diante dos tribunais internacionais. [6]
Dois anos depois, a 15 de Dezembro de 2006 foi organizada a segunda cimeira da
CIRGL em Nairobi (Quénia), que se concluiu como previsto pela Declaração de Dar-
essalaam, com a adoção do Pacto de Nairobi pelos onze estados-membros da CIRGL. Este
pacto tem por objectivo auferir um enquadramento jurídico às relações entre os Estados
membros. O Pacto de Nairobi é constituído por dez protocolos que compreendem quatro
domínios que são a paz e segurança, a democracia e boa governança, o desenvolvimento
económico e integração regional e por fim, as questões sociais e humanitárias (Ministério
das Relações Exteriores, 2017). Os objectivos deste pacto servem também como
objectivos para a própria CIRGL. A fim de alcançar estes objectivos, foi criado um fundo
especial para a reconstrução e o desenvolvimento, o pacto também foi reiterar a
necessidade de respeitar os princípios fundamentais consagrados pela Carta das Nações
Unidas e pelo Ato Constitutivo da União Africana, a integridade territorial, a soberania
nacional, a não-ingerência, a não-agressão e a proibição para todos os Estados-membros
de permitir a utilização do seu território como base para a agressão ou para a subversão
contra um outro Estado-membro. Outrossim, o pacto de Nairobi preconiza a busca
conjunta de soluções pacíficas para os diferendos, a confiança mútua e reafirma os
princípios diretores da Declaração de Dar-es-Salaam. A Declaração de Dar-es-Salaam e o
Pacto de Nairobi foram complementadas pelo AcordoQuadro assinado em Adis-Abeba em

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Fevereiro de 2013 pelos Estados-membros da CIRGL e contou com o apoio da
Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), da Comunidade Económica
dos Estados da África Central (CEEAC), da UA e da ONU. Todos estes acordos
permitiram estabelecer os objectivos da CIRGL que hoje preconiza uma resolução pacífica
dos conflitos, transformar e região dos Grandes Lagos em um espaço de paz e segurança
sustentável. [6]
4.2.2. Presidência de Angola na CIRGL

Angola tornou-se presidente da CIRGL em janeiro de 2014, por um período


bianual, na V Cimeira dos Chefes de Estado e de Governo da CIRGL cujo tema foi
“Promovamos paz, segurança, estabilidade e desenvolvimento da Região dos Grandes
Lagos”. Este primeiro mandato coincidiu com a sua eleição como membro não
permanente do Conselho das Nações Unidas, com resultado histórico, marca dos seus
esforços exercidos pela promoção da Paz e Segurança no continente africano e pela sua
experiência na área, o que, segundo o político e académico angolano, António Luvualu de
Carvalho, capacitou Angola para realização de tarefas de paz e liderança mundiais. [6]
No seu primeiro mandato na presidência da CIRGL, Angola aceitou acarretar
muitos desafios, entre os quais a neutralização das forças negativas no leste da RDC. Ao
longo deste mandato, Angola acompanhou o processo de desarmamento,
desmobilização, repatriação, reintegração e reassentamento do ex-M23. [6]
Durante os dois mandatos de Angola na CIRGL, Angola soube levar o nome da CIRGL
além-fronteiras, maximizou os seus esforços para neutralizar os insurretos da região e
sobretudo, iniciou um processo de consolidação da sua própria democracia. Parte dos
conflitos da RDC está mais ou menos relacionada com os problemas internos do seu
vizinho Ruanda, porém, não constatamos grande esforço deste país que também pertence à
CIRGL para ajudar a RDC a pôr fim aos seus conflitos intraestatais. Questionámo-nos
então, porque o Ruanda não desempenhava um papel mais importante na resolução dos
conflitos do Leste da RDC. O que o Ruanda quer é estar presente nas organizações
regionais como a CIRGL mas não aceita abdicar de uma parte do seu poder. O leste da
RDC é rico em recursos minerais que são explorados ilegalmente para alimentar o
mercado estrangeiro, isso faz com que o Ruanda tenha interesse em deixar perdurar a
instabilidade. Por tanto se pode concluir que o Ruanda quis fazer ouvir a sua voz mas na
hora de agir, não se compromete para não ser afetado. Consequentemente, resolver os
conflitos no Leste da RDC não faz de todo, parte dos seus interesses políticos nem
económicos. [6]
Angola aparenta então ter grandes vantagens para ajudar a apaziguar os conflitos na RDC,
como por exemplo a sua maior estabilidade interna, a sua perícia nas questões de paz e
segurança e o seu peso político a nível regional, ao que acresce as relações de maior
proximidade que vem mantendo com a França e os EUA. Angola foi o único país africano
convidado para a reunião estratégica sobre os Grandes Lagos cujo tema foi a posição que a
comunidade internacional deveria tomar para trabalhar com o Governo póseleitoral da
RDC quando nem mesmo a RDC, principal interessada, tinha sido convidada. [6]

O Governo Angolano, sob liderança do Presidente da República, tem jogado um


papel preponderante na preservação da paz e da democracia a nível de África,
especialmente na Região dos Grandes lagos através do diálogo permanente, da confiança

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mútua e da cooperação institucional, visando a consolidação da democracia, crescimento
económico, prosperidade e o bem-comum. [7]
Angola a nível político, com a promoção da reconciliação nacional através da
unidade e da coesão nacional e da consolidação da democracia e das instituições do
Estado Democrático e de Direito, tendo realizado a capacitação de técnicos da
componente civil da SADC, no processo de Planeamento Estratégico a nível operacional e
prepará-los com ferramentas para elaboração de planos em missões de intervenção, em
situações de risco na região da SADC. [7]

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5. CONCLUSÃO

O presente trabalho investigativo, serviu para elucidar à importância de Angola na


região da África Austral, onde foi possível verificar que para questões estratégicas quer
política, económica e de segurança da região austral foi formada a Comunidade de
Desenvolvimento da África Austral. Angola desde o início da sua formação tem sido um
importante membro para resolução de vários conflitos na região da austral bem como no
garante do cumprimento dos pressupostos estabelecidos pela SADC. Tem ainda
contribuído na capacitação no que concerne a técnicas de intervenção em situações de
risco na região.
A intervenção angolana tem sido de caracter ainda mais abrangente estendendo-se
assim a Região dos Grandes Lagos, onde com à sua vasta experiência muito tem
contribuído para a estabilidade daquela região tal como na participação de resolução dos
conflitos no Leste da RDC.

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6. Referência Bibliográfica

[1] Guilherme, Francisco oliveira, “Processo de Integração de Angola na SADC”,


Dissertação Mestrado 2017

[2] Category archieves, Ivaires imagens


[3] Manual de Identidade Institucional, SADC 2017
[4] Política Externa de Angola, MIREX Angola
[5] Sita Almeida, Sivia, “A Geopolítica de Angola na África Austral”, Dissertação
Mestrado 2017

[6] Miranda, Maria Alice, “Angola e a Relação dos Conflitos na Região dos Grandes
Lagos”, Dissertação Mestrado 2018

[7] Diário da República de Angola, I serie nº 103, 26 de junho de 2017

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