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CAPÍTULO 02

CARACTERÍSTICAS DA FLORESTA PLANTADA DE


EUCALIPTO

Este capítulo foi retirado do Anuário 2010 da ABRAF – Asociação Brasileira de produtores
de Florestas plantadas e trata dos aspectos sociais, ambientais e econômicos do cultivo de
Eucalipto. A fig. 2.1 apresenta a logo da ABRAF.

Por dentro do Eucalipto


Aspectos sociais, ambientais e econômicos do seu cultivo

1 - Por que plantar florestas?


2 - Por que plantar eucaliptos?
3 - Ilustre imigrante
4 - Geração de riquezas
5 - Cultivo do eucalipto
6 - Fauna e Flora
7 - Recursos Hídricos
8 - Sistema radicular do eucalipto
9 - Conservação do solo e da água
10 - Convivência com outras plantas
11 - Usos do eucalipto
12 - Referências bibliográficas

2.1. Por que plantar florestas ?

A sociedade necessita cada vez mais de produtos de base florestal para a sua
sobrevivência e conforto. As florestas nativas, antes abundantes em todo o mundo, estão
cada vez mais escassas e ameaçadas de desaparecerem. O pouco que resta é
indispensável para a manutenção da biodiversidade e de diversos serviços ambientais.
Neste contexto, as plantações florestais apresentam um papel de destaque nos cenários
nacional e internacional. Sabe-se hoje que somente por meio de florestas plantadas serão
obtidas as matérias-primas (madeira, celulose) para dar conta das necessidades sociais
sem aumentar a pressão sobre o pequeno remanescente das florestas naturais.

O Brasil apresenta alguns fatores favoráveis à silvicultura, como as condições de solo e


clima tropicais, o desenvolvimento de tecnologia de ponta, além da disponibilidade de áreas
para plantio e mão-de-obra.

Apesar da relevância desse setor para a economia brasileira, alguns aspectos,


principalmente os relacionados às interações com o meio ambiente, ainda não foram
amplamente divulgados ou não são de conhecimento da grande maioria da população.

2.2. Por que plantar eucaliptos ?

Até pouco tempo, a necessidade de madeira era suprida quase que exclusivamente por
meio das florestas nativas, cuja destruição tem provocado, muitas vezes, danos irreversíveis
a alguns ecossistemas. A situação é alarmante.

É nesse contexto que entra o eucalipto, uma árvore da maior importância para o mundo,
em virtude de seu rápido crescimento, produtividade, grande capacidade de adaptação e por
ter inúmeras aplicações em diferentes setores. Esta planta está presente nos cinco
continentes e em todos os Estados brasileiros, segundo informações da Sociedade
Brasileira de Silvicultura.

O plantio de eucalipto é, portanto, a melhor solução para diminuir a pressão sobre as


florestas nativas, viabilizando a produção de madeira para atender às necessidades da
sociedade em bases sustentáveis.

• Um hectare de floresta plantada de eucalipto produz a mesma quantidade de madeira que


30 hectares de florestas tropicais nativas.

(1 ha = 10000m2).

• No Brasil, dos 300 milhões de metros cúbicos de madeira consumidos por ano, somente
100 milhões provêm de plantios florestais.

2.3. Um ilustre imigrante


Originário da Austrália e de outras ilhas da Oceania, onde ocorrem mais de 600 espécies
do gênero, o eucalipto começou a ser trazido para o Brasil na segunda metade do século
XIX, com o objetivo de ajudar na produção de dormentes para as linhas férreas que se
instalavam no país.

A partir dessa época, o eucalipto passou a fazer parte da paisagem brasileira, ao lado de
outros estrangeiros conhecidos, como o café e o trigo (do Oriente Médio), o arroz e a soja
(da Ásia), o feijão, o coco, a cana-de-açúcar e gramíneas forrageiras (da África), o milho (do
México) e a banana (do Caribe).

Comparação das áreas de plantio de eucalipto com


as de outras culturas no Brasil:

Produtos Agrícolas Área (ha)


Pastagens 177.500.000

Soja 16.326.000

Milho 12.096.000

Cana-de-açúcar 5.034.000

Feijão 4.186.000

Arroz 3.186.000

Plantio de eucalipto 2.499.000

Café 2.362.000

Adaptado de Silva J. C., 2003

2.4. Geração de riquezas

São inúmeras as formas de contabilizar as riquezas geradas nas comunidades próximas


ao cultivo do eucalipto. Entre elas, empregos diretos e indiretos, recolhimento de impostos,
investimentos em infra-estrutura, consumo de bens de produção local, fomento a diversos
tipos de novos negócios (inclusive de plantios em áreas improdutivas) e iniciativas na área
social como construção de novas escolas e postos de saúde, além de doações, que levam
cidadania a áreas antes esquecidas.

A indústria de base florestal é estratégica para o Brasil devido ao seu perfil fortemente
exportador. Isso contribui para a realização do superávit da balança comercial, propiciando
as condições econômicas necessárias à promoção do desenvolvimento social.
O setor já responde pela segunda posição na balança comercial do agronegócio brasileiro.
No período de setembro de 2002 a setembro de 2003, celulose e papel e produtos sólidos
de madeira acumularam exportações de US$ 5,1 bilhões. A liderança desse ranking é
ocupada pelo complexo agroindustrial da soja, que faturou US$ 7,7 bilhões no mesmo
período.

Estima-se que o setor florestal no Brasil seja responsável pela existência de 500 mil
empregos diretos e outros 2 milhões indiretos. Em termos tributários, o setor também dá
uma demonstração de força, pois a estimativa é de uma arrecadação anual de US$ 4,6
bilhões em impostos.

A cada US$ 1 milhão de investimentos, são gerados:

• 85 empregos no setor automotivo


• 111 empregos no setor de construção civil
• 149 empregos no setor de comércio
• 160 empregos no setor florestal

Fonte: Silva, J. C., 2003

Além disso, as empresas de produtos florestais investem pesadamente em projetos de ação


social, uma importante contribuição para a melhoria da qualidade de vida das comunidades
no seu entorno.

2.5. Cultivo do Eucalipto


A implantação de monoculturas é, sem dúvida, um dos pontos que merecem a atenção da
sociedade. Café, soja, cana-de-açúcar, pastagens, eucalipto ou qualquer outra cultura que
seja feita sem critérios ambientais é extremamente prejudicial ao meio ambiente e ao
homem. No entanto, todos os pro dutos resultantes desses cultivos são fundamentais à
sociedade.

No caso do eucalipto, vários são os meios adotados para integrar as plantações ao


ambiente natural. Procura-se manter ou aumentar a biodiversidade dentro das áreas
plantadas, através do planejamento técnico (seleção de solos aptos para o plantio,
preservação de mananciais e matas ciliares), do estabelecimento de corredores de
vegetação natural para a movimentação da fauna, do plantio de enriquecimento nas áreas
de preservação e da adoção de práticas que garantam a sustentabilidade do sistema.

2.6. Fauna e Flora

Nas propriedades destinadas ao cultivo do eucalipto são mantidas as matas nativas para
compor áreas de reserva legal (no mínimo, 20% da propriedade). As nascentes e as matas
ciliares também são protegidas. Estas áreas protegem e fornecem alimentos para a fauna
silvestre, entre outras funções. Além disso, a fauna silvestre utiliza, além das matas, as
áreas de plantio de eucalipto para a construção de ninhos, locomoção e alimentação.

As áreas preservadas também são importantes para o equilíbrio ecológico dos sistemas
produtivos, pois mantêm espécies importantes para o controle biológico de pragas e
doenças nas plantações. Essas áreas são protegidas contra caça e pesca ilegal, corte de
árvores e incêndios florestais.

Por ser uma cultura de porte florestal, o eucalipto e o sub-bosque presente nos plantios
formam corredores para as áreas de preservação e criam um hábitat para a fauna,
oferecendo condições de abrigo, de alimentação e mesmo de reprodução para várias
espécies.

2.7. Recursos hídricos

O consumo de água por plantações de eucalipto situa-se dentro da faixa de variação do


consumo apresentado por outras espécies florestais. Isso ocorre em razão de um
mecanismo bem desenvolvido de controle da transpiração pelas folhas.
As evidências científicas disponíveis indicam que o regime da água no solo e da água
subterrânea sob plantações de eucalipto não difere marcadamente daquele observado em
plantações de outras espécies florestais. Em relação ao déficit anual da água no solo e à
dinâmica da água subterrânea, ou seja, da flutuação e da recarga do lençol freático, o
eucalipto comporta-se como qualquer outra espécie florestal.

Quantidade de água necessária durante um ano ou ciclo da cultura:

Cultura Consumo de água (mm)

Cana-de-açúcar 1000 – 2000

Café 800 – 1200

Citrus 600 – 1200

Eucalipto 800 – 1200


Milho 400 – 800

Feijão 300 – 600

Obs.: 1 mm (milímetro) corresponde a 1 litro por metro quadrado


Fontes: Calder, et. al., 1992 e Lima, W. de P., 1993

Outro aspecto interessante com relação ao eucalipto é a eficiência do uso da água para a
produção de biomassa. O eucalipto é altamente eficiente, pois, comparado a outras culturas,
ele produz mais biomassa por unidade de água consumida.

• Comparação entre o consumo de água e a produção de biomassa do eucalipto e outras


culturas:

Cultura/Cobertura Eficiência no uso da água


Batata 1 kg de batata / 2.000 l

Milho 1 kg de milho / 1.000 l

Cana-de-açúcar 1 kg de açúcar / 500 l

Cerrado 1 kg de madeira / 2.500 l

Eucalipto 1 kg de madeira / 350 l

Obs.: 1 mm (milímetro) corresponde a 1 litro por metro quadrado


Fontes: Calder, et. al., 1992 e Lima, W. de P., 1993

Comparativo do consumo de água de florestas e plantio de eucalipto:


Adaptado de: Mora, A. L. & Garcia, C. H., 2000

2.8. Sistema radicular do eucalipto

A foto abaixo evidencia uma característica do sistema radicular (raízes) dos eucaliptos
utilizados em plantios comerciais, que é a concentração, nos primeiros 60 cm do solo, das
raízes responsáveis pela absorção de água e nutrientes. A raiz pivotante, que é a
responsável pela sustentação da árvore, normalmente não ultrapassa a faixa dos 3 metros
de profundidade.

Dessa forma, a crença popular de que a raiz de eucalipto cresce para baixo o mesmo
tanto que a copa cresce para cima não condiz com a realidade, e jamais atingem os lençóis
freáticos, situados os em profundidades bem maiores.

A folhagem ou copa do eucalipto retém menos água de chuva do que as árvores das
florestas tropicais, que possuem copas mais amplas. Por isso, nos plantios de eucalipto
mais água de chuva vai direto para o solo enquanto que na floresta tropical nativa a água
retida nas copas das árvores evapora-se diretamente para a atmosfera.
2.9. Conservação do solo e da água

O solo é um dos recursos mais preciosos que uma empresa florestal possui, sendo
essencial a sua proteção. Para tanto, medidas são adotadas para que as suas
características físicas, químicas e biológicas sejam mantidas ou até mesmo melhoradas.

As plantações de eucalipto são conduzidas em ciclos de 7 anos. Após a colheita das


árvores, pode-se formar uma nova floresta com a brotação dos tocos. A renovação do ciclo,
com o plantio de novas mudas, pode ocorrer, portanto, aos 7, 14 ou 21 anos do início do
cultivo.

No plantio dessas novas mudas, o fogo não é utilizado para a limpeza da área, e toda a
matéria orgânica depositada pelas árvores do eucalipto no ciclo anterior (galhos e folhas)
permanece no local, formando a serrapilheira. O revolvimento do solo é mínimo. A área é
sulcada e nos sulcos são abertas as covas que receberão as mudas. Em locais com
topografia acidentada, abrem-se apenas as covas para o plantio.
Com esse tipo de manejo, o solo permanece protegido contra a erosão causada pela
chuva, sol e vento. Além disso, a matéria orgânica favorece a infiltração da água das
chuvas, abastecendo o lençol de água subterrâneo (lençol freático), responsável pela
formação das nascentes.

As práticas acima descritas constituem o que é denominado cultivo mínimo, que, além de
conservar o solo, permite a ciclagem dos nutrientes. Afinal, os galhos, folhas, tocos e raízes
depositados e mantidos na área se decompõem, disponibilizando, assim, nutrientes para as
plantas.

A necessidade de absorção dos principais nutrientes (nitrogênio, fósforo e potássio) é


diferenciada conforme a cultura, como mostra a figura seguinte.
2.10. Convivência com outras plantas

Normalmente, observa-se plantios de eucaliptos sem a presença de outras plantas. Muitas


pessoas associam este fato a uma possível produção, pelo eucalipto, de alguma substância
inibidora da germinação de outras espécies vegetais.

Na realidade, nos plantios de eucalipto, como em qualquer outra cultura, é necessário


controlar a vegetação competidora, para permitir o crescimento da espécie cultivada.
Ressalta-se, também, que a copa do eucalipto proporciona um alto sombreamento nos
primeiros anos de cultivo, o que impede a entrada de luz suficiente para o aparecimento de
algumas plantas.

Apesar disso, por ser uma cultura de porte florestal, o eucalipto e o sub-bosque presente
nos plantios formam corredores para as áreas de preservação e criam um hábitat para a
fauna, oferecendo condições de abrigo, de alimentação e mesmo de reprodução para várias
espécies.

Em várias regiões do Brasil, existe o uso da vegetação do sub-bosque -especialmente


gramíneas para a criação de gado-, ocorrendo, também, o aparecimento de espécies
florestais nativas nos povoamentos mais velhos.
2.11. Usos do eucalipto

• Celulose

Papéis diversos (impressão, cadernos, revistas)


Absorvente íntimo
Papel Higiênico
Guardanapo
Fralda Descartável
Viscose, tencel (roupas)
Papel celofane
Filamento (pneu)
Acetato (filmes)
Ésteres (tintas)
Cápsulas para medicamentos
Espessantes para alimentos
Componentes eletrônicos

• Carvão Vegetal para siderurgia

• Painéis de aglomerados de madeira, MDF, HDF, chapa de fibra, compensados

• Madeira serrada

Móveis
Construção Civil
Brinquedos

• Lenha e Biomassa como fontes de energia

• Óleos essenciais

Fármacos
Produtos de higiene
Produtos de limpeza
Alimentos

• Produtos apícolas

Mel
Própolis
Geléia Real

• Postes e mourões
Outras Utilidades:

O eucalipto também remove gás carbônico (CO2) da atmosfera, contribuindo para


minimizar o efeito estufa e melhorando o micro clima local. Por fim, o eucalipto protege os
solos contra processos erosivos, conferindo-lhes características de permeabilidade,
aumentando a taxa de infiltração das águas pluviais e regularizando o regime hidrológico
nas áreas plantadas.

2.12. Referências Bibliográficas

LIMA, W. de P. “Impacto ambiental do eucalipto”. Ed. da Universidade de São Paulo. 1993.


MORA, A. L. et alli. “A cultura do eucalipto no Brasil”. São Paulo, SP. 2000.
NOVAIS, R. F. “Aspectos nutricionais e ambientais do eucalipto”. Revista Silvicultura, nº 68.
1996.
SILVA, J. C. “Reflexos Sociais e Econômicos da Agregação de Valor a Produtos de Base
Florestal”, Anais do 8º Congresso Florestal Brasileiro. São Paulo, SP. 2003.

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