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UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ

Agnes Beatrice Dos Santos Rodrigues

A AUTONOMIA EMOCIONAL DAS MULHERES NA


EDUCAÇÃO FINANCEIRA

Taubaté SP

2020
1

Agnes Beatrice Dos Santos Rodrigues

A AUTONOMIA EMOCIONAL DAS MULHERES NA


EDUCAÇÃO FINANCEIRA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Departamento de Psicologia da Universidade de Taubaté
como requisito para a obtenção do Certificado de
Graduação em Psicologia.

Orientadora: Profª. Dra. Andreza Maria Neves Manfredini.

Taubaté SP

2020
Grupo Especial de Tratamento da Informação - GETI
Sistema Integrado de Bibliotecas - SIBi
Universidade de Taubaté - UNITAU

R696a Rodrigues, Agnes Beatrice dos Santos


A autonomia emocional da mulher na educação financeira /
Agnes Beatrice dos Santos Rodrigues. -- 2020.
125 f. : il.

Monografia (graduação) - Universidade de Taubaté,


Departamento de Psicologia, 2020.
Orientação: Profa. Dra. Andreza Maria Neves Manfredini,
Departamento de Psicologia.

1. Educação financeira. 2. Autonomia emocional. 3. Mulheres. I.


Universidade de Taubaté. Departamento de Psicologia. Curso de
Psicologia. II. Título.

CDD – 155.633

Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária Ana Beatriz Ramos – CRB-8/6318

0
2

AGNES BEATRICE DOS SANTOS RODRIGUES

A AUTONOMIA EMOCIONAL DAS MULHERES NA EDUCAÇÃO FINANCEIRA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Departamento de Psicologia da Universidade de Taubaté
como requisito para a obtenção do Certificado de
Graduação em Psicologia.

Orientadora: Profª. Dra. Andreza Maria Neves Manfredini.

Data: ___________________
Resultado: ______________

BANCA EXAMINADORA

Prof. _________________________________ _________________________

Assinatura ____________________________

Prof. _________________________________ _________________________

Assinatura ____________________________
3

Dedico este trabalho a todas as mulheres que antes de mim lutaram e deram suas
vidas para que hoje eu possa trabalhar, estudar, dirigir, ter o meu dinheiro, ir e vir,
dentre tantos outros direitos. Hoje desfruto dessa liberdade conquistada lutando
ainda mais pela liberdade que ainda não conquistamos e esta pesquisa é uma
dessas lutas pela nossa liberdade.
4

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, agradeço a centelha divina que habita em mim, que me


deu força e clareza durante toda a minha jornada de estudos, me orientando e
guiando a alcançar meus objetivos.
Agradeço as minhas amigas e colegas de curso por todo apoio, palavras
gentis e por sempre estarem disponíveis para dúvidas e choros.
Agradeço ao meu noivo por todo o amor e por estar sempre ao meu lado nos
momentos de tensão e me apoiando em todos os desafios, principalmente quando
eu achava que não iria conseguir.
Agradeço à minha família por me ensinar os princípios que regem a minha
vida e por acreditarem que sou capaz de alcançar qualquer coisa.
Agradeço à minha orientadora, por me mostrar os passos que percorri do
caminho exaustivo para concluir este trabalho.
Agraço principalmente à todas as participantes desta pesquisa, sem elas este
trabalho não seria possível, e agradeço por compreenderem que este trabalho viria a
contribuir com a liberdade das mulheres.
Por fim, e não menos importante, agradeço a vida por me proporcionar essa
experiência única de aprendizado e evolução pessoal e coletiva.
5

Sempre lutei com os braços amarrados para


trás, mas o que pode acontecer quando eu
estiver livre?

Carol Danvers Capitã Marvel


6

RESUMO

Atualmente, vivendo em uma sociedade capitalista, com a alta valorização do capital


e da independência financeira, é de grande importância que a mulher também tenha
sua independência financeira. Porém, não apenas isto, mas também autonomia
emocional, tendo em vista que a autonomia emocional das mulheres também diz
respeito a uma autonomia para tomar decisões em relação ao uso do dinheiro,
evidenciando, assim, a importância da educação financeira. A presente pesquisa
teve como objetivo identificar e compreender como a tomada de decisão das
mulheres ao usar o dinheiro afeta sua autonomia emocional. Os objetivos
específicos foram identificar e compreender quais as tomadas de decisão das
mulheres estão relacionadas com uma educação financeira que promova mais
autonomia emocional; identificar e compreender quais as tomadas de decisão das
mulheres dificultam uma educação financeira e afetam negativamente a sua
autonomia; identificar e compreender quais as diferenças entre as tomadas de
decisão na educação financeira das mulheres que têm filhos e das que não têm
filhos. O tipo de delineamento foi pesquisa quantitativa e qualitativa. Os instrumentos
utilizados foram questionário e entrevista semiestruturada. As participantes foram 90
mulheres para o questionário e oito mulheres para as entrevistas, sendo que quem
participou de um delineamento não participou do outro. Os critérios de inclusão das
participantes foram: ser mulher, ter de 20 a 40 anos, pertencer à classe média e
residir no estado de São Paulo. Para a coleta de dados, foram utilizadas a
divulgação do questionário pelo Google Forms na pesquisa quantitativa e a técnica
amostral bola de neve na pesquisa qualitativa. A análise dos dados foi por
categorização de quantificação e de conteúdo. Os principais resultados foram que a
autonomia emocional das mulheres é favorecida quando tomam decisões como
fazer um planejamento financeiro, fazer investimentos, poupar dinheiro
mensalmente, ter uma reserva financeira, ter uma renda própria, investir em
educação financeira e dialogar com família sobre dinheiro; e quando tomam
decisões como não se organizar financeiramente, não ter uma preparação para
aposentadoria, pagar dívidas e/ou empréstimos, gastar mais do que ganha, não ter
reserva financeira e não fazer um planejamento financeiro, as mulheres têm sua
autonomia emocional negativamente afetada. Também se identificou que a principal
decisão diferente entre as mulheres que são mães e as que não são mães foi a
priorização dos gastos com o(s) filho(s) e não consigo mesma, afetando sua
autonomia emocional e financeira. Considera-se, então, que mulheres que possuem
maior conhecimento e prática de educação financeira tendem a tomar melhores
decisões em relação ao uso do seu dinheiro, contribuindo, assim, para o
desenvolvimento da sua autonomia.

Palavras-chave: Educação financeira. Autonomia emocional. Mulheres.


7

ABSTRACT

Nowadays, living in a capitalist society with high capital and financial independence
appreciation, it is very important women s financial independence. Although, not only
financial independence, but also emotional autonomy, since the emotional autonomy
of women refers to an autonomy to make decisions related to money, showing the
value of financial education. The present research goal is to identify and comprehend
how women s decision making with money affects their emotional autonomy. Further
goals are: identify and comprehend which decision making of women are related with
a financial education that promotes more emotional autonomy; identify and
comprehend which decision making of women hampers the financial education and
affects negatively the autonomy; identify and comprehend what are the differences
between the decision making of women with children and women with no children.
This research was quantitative and qualitative. The tools used were the quiz and the
semi structured interview. The research participants were 106 women to the quiz and
8 women to the interview. The criteria to the inclusion of these participants were: to
be woman; to be 20 to 40 years old; to belong to the middle class; to live in São
Paulo State. To the quantitative data collect was made the quiz divulgation through
the Google Forms. To the qualitative data collect was used the snowball sample
technique. The data analysis was made by categorization of the quantification and
the content. The mainly results were that the women s emotional autonomy is favored
when they make decisions like: doing a financial planning, making investments,
saving money monthly, having a money reservation, having an own income, making
financial education investments and having a family dialogue about money; and when
women make decisions like: being financially disorganized, not having a retiring
preparation, paying for debts and/or loans, spending more money than making, not
having a money reservation and not making a financial planning, their emotional
autonomy is negatively affected. It was also identified that the mainly difference
between women that are mothers and women that are not was the prioritization to
spend money with the child instead with themselves, affecting their emotional and
financial autonomy. Therefore, it is considered that women that have more financial
education knowledge and practice tend to make better decisions related to money,
collaborating to their autonomy development.

Key words: Financial Education. Emotional Autonomy. Women.


8

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

QUADRO 1: Cidade de residência ....................................................................... 47


QUADRO 2: Estado civil....................................................................................... 48
QUADRO 3: Tipo de moradia ............................................................................... 49
QUADRO 4: Com quem reside ............................................................................ 50
QUADRO 5: Se a participante possui filhos na relação atual ............................... 51
QUADRO 6: Se a participante possui filhos de outra relação .............................. 52
QUADRO 7: Idade................................................................................................ 53
QUADRO 8: Idade dos filhos................................................................................ 54
QUADRO 9: Nível de escolaridade ...................................................................... 55
QUADRO 10: Profissão ........................................................................................ 56
QUADRO 11: Renda familiar................................................................................ 57
QUADRO 12: Quem mantém a renda familiar ..................................................... 58
QUADRO 13: Quem mantém a renda familiar 2 .................................................. 59
QUADRO 14: Em sua opinião, o que é uma educação financeira? ..................... 60
QUADRO 15: Respostas específicas ................................................................... 62
QUADRO 16: Quais as formas que você usa o seu dinheiro que leva a uma
educação financeira? ........................................................................................... 63
QUADRO 17: O que faz você se sentir segura e confiante para tomar decisões?
............................................................................................................................. 64
QUADRO 18: Em sua opinião, quais são as decisões financeiras que te
proporcionam uma autonomia? ............................................................................ 67
QUADRO 19: Respostas específicas ................................................................... 69
QUADRO 20: Qual a forma que você usa o dinheiro que dificulta uma educação
financeira? ............................................................................................................ 69
QUADRO 21: Respostas específicas ................................................................... 71
QUADRO 22: Quais as decisões financeiras que dificultam uma autonomia? .... 73
QUADRO 23: Respostas específicas ................................................................... 75
QUADRO 24: Você acredita que as decisões que você toma quanto ao uso do seu
dinheiro favorecem a sua autonomia? ................................................................. 76
QUADRO 25: Perfil socioeconômico das participantes da pesquisa qualitativa
parte 1 .................................................................................................................. 77
9

QUADRO 26: Perfil socioeconômico das participantes da pesquisa qualitativa


parte 2 .................................................................................................................. 78
QUADRO 27: Análise comparativa quantitativa x qualitativa ............................... 99

FIGURA 1: Cidade onde reside ............................................................................ 48


FIGURA 2: Estado civil ......................................................................................... 49
FIGURA 3: Tipo de moradia ................................................................................. 50
FIGURA 4: Com quem reside............................................................................... 51
FIGURA 5: Se a participante possui filhos na relação atual ................................. 52
FIGURA 6: Se a participante possui filhos de outra relação ................................ 53
FIGURA 7: Idade .................................................................................................. 54
FIGURA 8: Idade dos filhos .................................................................................. 55
FIGURA 9: Nível de escolaridade ........................................................................ 56
FIGURA 10: Profissão .......................................................................................... 57
FIGURA 11: Renda familiar .................................................................................. 58
FIGURA 12: Quem mantém a renda familiar........................................................ 59
FIGURA 13: Em sua opinião, o que é uma educação financeira? ....................... 61
FIGURA 14: Quais as formas que você usa o seu dinheiro que leva a uma educação
financeira? ............................................................................................................ 63
FIGURA 15: O que faz você se sentir segura e confiante para tomar decisões?. 65
FIGURA 16: Em sua opinião, quais são as decisões financeiras que te proporcionam
uma autonomia?................................................................................................... 67
FIGURA 17; Qual a forma que você usa o dinheiro que dificulta uma educação
financeira? ............................................................................................................ 70
FIGURA 18: Quais as decisões financeiras que dificultam uma autonomia? ....... 73
FIGURA 19: Você acredita que as decisões que você toma quanto ao uso do seu
dinheiro favorecem a sua autonomia? ................................................................. 76
10

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 13
1.1 PROBLEMA ................................................................................................... 15
1.2 OBJETIVOS ................................................................................................... 15
1.2.1 Objetivo geral ............................................................................................ 15
1.2.2 Objetivos específicos................................................................................ 16
1.3 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO ......................................................................... 16
1.4 RELEVÂNCIA DO ESTUDO .......................................................................... 16
1.5 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO .................................................................. 17
2 REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................ 18
2.1 A MULHER AO LONGO DA HISTÓRIA ......................................................... 18
2.1.1 A mulher na antiguidade........................................................................... 18
2.1.2 A mulher no século XX e a inserção no mercado de trabalho .............. 19
2.1.3 O direito da mulher à educação ............................................................... 21
2.2 UM OLHAR PARA A MULHER NO CICLO VITAL INDIVIDUAL E FAMILIAR 22
2.2.1 Ciclo vital individual no período da adolescência .................................. 23
2.2.2 Ciclo vital da família e da mulher ............................................................. 24
2.2.3 Fase de aquisição ..................................................................................... 25
2.2.4 Fase adolescente ...................................................................................... 26
2.3 O LUGAR DA MULHER NA ATUALIDADE .................................................... 27
2.3.1 A mulher no mercado de trabalho ........................................................... 27
2.3.2 A mulher no casamento de dupla carreira .............................................. 29
2.4 AUTONOMIA.................................................................................................. 32
2.4.1 Autonomia Emocional............................................................................... 33
2.5 PSICOLOGIA, DINHEIRO E EDUCAÇÃO FINANCEIRA............................... 34
2.5.1 Uma breve história do dinheiro ................................................................ 34
2.5.2 Psicologia Econômica .............................................................................. 35
2.5.3 Teoria do prospecto .................................................................................. 37
2.5.4 Educação financeira.................................................................................. 39
3 MÉTODO........................................................................................................... 42
3.1 TIPO DE DELINEAMENTO ............................................................................ 42
3.2 PARTICIPANTES ........................................................................................... 42
11

3.3 LOCAL DA PESQUISA .................................................................................. 43


3.4 INSTRUMENTOS ........................................................................................... 44
3.5 COLETA DE DADOS ..................................................................................... 44
3.6 ANÁLISE DE DADOS .................................................................................... 45
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................ 47
4.1 CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA QUANTITATIVA ................................... 47
4.2 RESULTADO DA PESQUISA QUANTITATIVA ............................................. 60
4.3 RESULTADO DA PESQUISA QUALITATIVA ................................................ 77
4.3.1 Categoria 1: Decisões que favorecem a educação financeira e a
autonomia da mulher ......................................................................................... 79
4.3.1.1 Fazer um planejamento financeiro ........................................................... 79
4.3.1.2 Ter salário e/ou reserva garantida como segurança ................................ 80
4.3.1.3 Autonomia emocional como forma de não depender de terceiros ........... 82
4.3.1.4 Investimento em educação financeira ...................................................... 83
4.3.1.5 Ter um diálogo com família/cônjuge sobre dinheiro ................................. 85
4.3.2 Categoria 2: Decisões que dificultam a educação financeira e a autonomia
da mulher ............................................................................................................ 87
4.3.2.1 Ausência da educação financeira na família de origem ........................... 87
4.3.2.2 Dificuldade em seguir o planejamento / Gastar mais do que ganha ........ 88
4.3.2.3 Pedir ajuda financeira de alguém / Dependência do parceiro .................. 90
4.3.2.4 Agir por impulso ou por influência de outros ............................................ 91
4.3.2.5 Cartão de crédito como algo que desorganiza ......................................... 93
4.3.3 Categoria 3: Diferenças entre tomada de decisões de mulheres que são
mães para as que não são ................................................................................. 94
4.3.3.1 Prioriza os gastos com o filho e não consigo mesma ............................... 94
4.3.3.2 Pode diminuir/afetar a autoestima da mãe ............................................... 96
4.3.3.3 Responsabilidade financeira da criança recai sobre a mãe ..................... 97
4.4 ANÁLISE COMPARATIVA DE RESULTADOS .............................................. 99
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 101
REFERÊNCIAS.................................................................................................... 104
APÊNDICE 1 - QUESTIONÁRIO DE PERFIL SOCIO-ECONÔMICO ................. 112
APÊNDICE 2 - QUESTIONÁRIO NO GOOGLE FORMS PARA PESQUISA
QUANTITATIVA................................................................................................... 114
APÊNDICE 3 - ROTEIRO DE ENTREVISTA ....................................................... 117
12

ANEXO 1 - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA A


PESQUISA QUANTITATIVA ............................................................................... 118
ANEXO 2 - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA A
PESQUISA QUALITATIVA .................................................................................. 119
ANEXO 3 PARECER CONSUBSTANCIADO DO CENTRO DE ÉTICA E
PESQUISA ........................................................................................................... 120
ANEXO 4 PARECER CONSUBSTANCIADO DO CENTRO DE ÉTICA E
PESQUISA ADENDO ....................................................................................... 124
13

1 INTRODUÇÃO

O Brasil, apesar de ser um país com uma vasta economia, com diversos
produtos e serviços produzidos e comercializados, apresenta um alto índice de
endividamento da população. Segundo a Pesquisa de Endividamento e
Inadimplência do Consumidor realizada pela Confederação Nacional do Comércio de
Bens, Serviços e Turismo (CNC) em 2019, 62,4% das famílias brasileiras possuem
dívidas, sendo que 23,4% dessas famílias estão inadimplentes, ou seja, com dívidas
em atraso (ABDALA, 2019).
A educação financeira, embora ainda seja um tema relativamente novo no
Brasil, vem sendo estudada e aplicada em diversas áreas. Essa modalidade de
educação está direcionada para as questões financeiras e econômicas do país, já
que o Brasil apresenta um crescente número de endividados, conforme os dados
apresentados por Abdala (2019).
Pensando nessa e em outras situações, o Comitê Nacional de Educação
Financeira (CONEF) criou, em 2010, a Estratégia Nacional de Educação Financeira
(ENEF), que busca promover a educação financeira e previdenciária da população
brasileira, contribuindo para o fortalecimento da cidadania e a eficiência do sistema
financeiro nacional, além de proporcionar à população tomadas de decisão mais
conscientes ao consumir bens e serviços, conforme é apresentado pela Assessoria
De Comunicação Social do Ministério da Educação (2019).
Dessa forma, o governo brasileiro já se movimenta para contribuir com as
decisões econômicas da população, o que nos mostra a importância de
compreender como tais decisões impactam no desenvolvimento da vida financeira
individual de cada cidadão.
Conforme afirma Savoia, Saito e Santana (2007, p. 1
precisam dominar um conjunto amplo de propriedades formais que proporcione uma
compreensão lógica e sem falhas das forças que influenciam o ambiente e suas
re . Em outras palavras, há a necessidade de os cidadãos saberem lidar com
as suas posses para que estas possam contribuir com a sua compreensão do
ambiente e das relações com os outros, evitando dificuldades financeiras. Para que
exista esse domínio de sua propriedade, faz-se necessária a educação financeira do
14

indivíduo para que ele possa tomar decisões mais seguras quanto ao gerenciamento
de suas posses e finanças (SAVOIA; SAITO; SANTANA, 2007).
Para a psicologia econômica, segundo Kirchler e Hölzl (2003 apud Ferreira,
2007), as decisões econômicas são o objeto de estudo dessa ciência e se referem
ao uso de recursos escassos, em que o indivíduo percebe que não poderá satisfazer
a todas as necessidades, restringindo-se a tomar decisões sobre o manejo de
recursos finitos baseando-se na premissa de racionalizar e maximizar a utilidade
desses recursos. Desse modo, a educação financeira estaria ligada intimamente à
formação do indivíduo, tornando-o mais preparado para tomar decisões conscientes
perante o dinheiro, o que, consequentemente, colabora para o seu bem-estar
individual, conforme afirma Kassardjian (2013).
Considerando que a desigualdade de gênero está presente na sociedade
desde os seus primórdios, como na Grécia Antiga, em que as mulheres não eram
consideradas cidadãs, e em várias sociedades em que a mulher não tinha direito à
herança (HEFFEL, SILVA e LONDERO, 2016), é inegável que essa desigualdade
esteja presente também nas questões voltadas ao dinheiro, como Santos (2008, p.
356) demonstra ao dizer sigualdade de gênero no trabalho e na renda
manifesta-se em praticamente . De acordo com o que
afirma Abbott (2000 apud SANTOS, 2008), gênero foi construído socialmente para
definir, explicar e justificar a desigualdade. Santos (2008, p. 356) prossegue dizendo

(...) as disparidades de renda entre o homem e a mulher, ou a distância


(gap) de renda de gênero, tem despertado um grande esforço de
investigação e interpretação tanto na literatura econômica quanto na
sociológica.

Como se pode notar, a desigualdade de gênero acaba por afetar diretamente


a situação econômica das mulheres ainda atualmente. Parte dessa desigualdade de
renda entre homens e mulheres pode ser explicada pela teoria neoclássica, que se
baseia na ideia de que cada pessoa recebe uma recompensa pelo valor que agrega
à função de produção (SANTOS, 2008). De acordo com essa abordagem, homens e
mulheres possuem diferentes características produtivas, o que justificaria, em parte,
essa diferença de renda. Outro fator que reforça essa teoria é o fato de que o
15

rendimento médio feminino em relação ao masculino no estado de São Paulo,


independente da escolaridade, foi de 81,72% em 2018, isto é, a mulher ganhava
81,72% do que o homem ganhava para exercer a mesma função de acordo com o
relatório do Portal ODS (2018).
Considerando essas questões, é possível notar o quão é importante
investigar as tomadas de decisão das mulheres com relação ao uso do dinheiro, pois
a gestão adequada das suas posses, além de necessária, possibilita que escolhas
mais conscientes sejam feitas e tanto a autonomia financeira quanto a emocional
sejam desenvolvidas.

1.1 PROBLEMA

Levando em conta que atualmente a macro e microeconomia afetam os


cidadãos em uma sociedade capitalista, há uma crescente necessidade de inserção
da educação financeira à população brasileira. Essa educação financeira afeta,
conforme demonstra a literatura, questões referentes às tomadas de decisão e,
consequentemente, impacta a autonomia dos cidadãos. Considerando também que
muitas mulheres estão sujeitas a essas questões e à falta de informação e incentivo,
qual o impacto da educação financeira para o desenvolvimento da autonomia da
mulher?

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo geral

Identificar e compreender como a tomada de decisão das mulheres ao usar o


dinheiro afeta sua autonomia emocional.
16

1.2.2 Objetivos Específicos

Identificar e compreender:
Quais as tomadas de decisão das mulheres estão relacionadas com
uma educação financeira que promova mais autonomia emocional;
Quais as tomadas de decisão das mulheres dificultam uma educação
financeira e afetam negativamente a autonomia delas;
Quais as diferenças entre as tomadas de decisão na educação
financeira das mulheres que têm filhos e das que não têm filhos.

1.3 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO

Esse estudo tem a finalidade de compreender como a tomada de decisão das


mulheres no uso do dinheiro influencia a autonomia emocional delas. Para isso, foi
realizada uma pesquisa quantitativa para levantamento de dados de uma população
de 106 mulheres e uma pesquisa qualitativa por meio de entrevistas com oito
mulheres. Para o levantamento de dados e as entrevistas, foi necessária a
participação de mulheres de 20 a 40 anos que residam no estado de São Paulo e
estejam inseridas na classe média. Os instrumentos utilizados foram questionário
online através da ferramenta do Google Forms com perguntas abertas e fechadas
para o levantamento de dados e entrevista semiestruturada. Cada entrevista
aconteceu em apenas um encontro na casa da participante. A coleta de dados, tanto
quantitativa quanto qualitativa, foi realizada no período de junho a julho de 2020.

1.4 RELEVÂNCIA DO ESTUDO

Esta pesquisa visa contribuir com a psicologia econômica, buscando


compreender de modo mais profundo e amplo as atitudes e os comportamentos
17

econômicos das mulheres frente a seu processo de autonomia emocional. Assim, a


pesquisa também colabora para educação financeira das mulheres e, por
consequente, para sociedade.

1.5 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

Este trabalho está organizado em sete grandes seções, sendo a primeira


seção de introdução do trabalho, onde se apresenta o problema norteador da
pesquisa, seus objetivos, sua delimitação, relevância e organização.
A segunda seção refere-se à revisão da literatura que embasou teoricamente
a pesquisa. Esta seção se divide em um histórico da mulher na sociedade,
apresentando sua posição social e avanços; uma visão sobre o Ciclo Vital Individual
e Familiar da mulher, abordando suas fases no desenvolvimento individual e familiar;
um panorama do lugar da mulher na atualidade, abordando questões sobre trabalho,
casamento e dinheiro; uma exposição sobre a autonomia emocional, segundo a
teoria sistêmica; e, por fim, uma apresentação sobre psicologia, dinheiro e educação
financeira, abrangendo a Psicologia Econômica e educação financeira.
Na terceira seção encontra-se o método que foi utilizado para a efetuação da
pesquisa. Para isso, são expostos o tipo de delineamento da pesquisa, as
participantes, o local de realização, os instrumentos, o procedimento para coleta de
dados e o procedimento para análise de dados. Especialmente na subseção
intitulada Instrumentos, são apresentados os instrumentos que foram utilizados na
pesquisa: questionário online para a pesquisa quantitativa e entrevista
semiestruturada para a pesquisa qualitativa.
A quarta seção apresenta os resultados alcançados pela pesquisa e em
seguida é apresentada uma comparação dos resultados quantitativos e qualitativos.
Na quinta sessão, são apresentadas as considerações finais sobre do
trabalho.
A seção seguinte é a apresentação das referências utilizadas nesta pesquisa,
seguida da sétima e última seção, que apresenta todos os anexos utilizados neste
trabalho.
18

2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 A MULHER AO LONGO DA HISTÓRIA

2.1.1 A mulher na antiguidade

Desde os primórdios da civilização, a dominação masculina foi instituída, ao


menos nas sociedades ocidentais. Na mesopotâmia, os direitos entre homens e
mulheres tinham explicitamente pesos diferentes, como no caso de adultério: se a
mulher o cometesse, deveria ser jogada no rio, enquanto o homem deveria pagar
meia mina de prata de acordo com Mocellin (2014). Ainda observando as
civilizações antigas, tomando desta vez a Grécia por exemplo, Alves e Pitanguy
(1991) explicam que a mulher era igual ao escravo e ao estrangeiro, considerados
inferiores na sociedade. A afirmação de Platão (apud ALVES; PITANGUY, 1991, p.
11) também explica bem esta realidade quando ele diz que se a natureza não
tivesse criado as mulheres e os escravos, teria dado ao tear a propriedade de fiar
. Já na Roma antiga, a mulher tinha um lugar social de inferioridade
também, legitimada pelo código legal em que todo o poder sobre ela era atribuído ao
homem, conforme dito por Alves e Pitanguy (1991).
Ao longo da história ocidental, o cristianismo ganhou força, especialmente
durante a idade média, e a influência da igreja sobre a sociedade era bastante
intensa, determinando a superioridade masculina com base na Bíblia, conforme
afirma Silva et al. (2005).

contraponto a ideia do homem superior a qual cabia o exercício da


autoridade. Todas as mulheres carregavam o peso do pecado original e,
desta forma, deveriam ser vigiadas de perto e por toda a vida (SILVA et al.,
2005, p. 71).
19

Garcia (2015) salienta que, o fator religioso, tanto judaico-cristão quando na


Grécia Clássica, enfatizava, em suas tradições, que a mulher seria a causa das
desgraças humanas, demonstrado pelo mesmo papel de Pandora e Eva, em que
sua curiosidade levou às desgraças e à expulsão do homem do paraíso. Com o
advento da chamada Caça às Bruxas, a Santa Inquisição, também durante a Idade
Média, efetivou milhares de execuções de mulheres (SILVA; LONDERO, 2015) e
com isso, seguindo as ordens da Igreja, os homens infligiam, de forma sádica,
torturas horrendas a milhões de mulheres, tidas como bruxas, destinadas à morte na
fogueira (ASTELARRA, 2009).
Dentro dos estudos filosóficos, também é possível verificar que as mulheres
sempre estiveram inferiorizadas em relação aos homens. Tomás de Aquino
(PERROT, 2007, p. 23), também teólogo da Idade Média, enfatizava a diferença
entre os sexos argumentando com fragmentos dos textos bíblicos "a mulher aprenda
em silêncio, com toda a sujeição. Não permito que a mulher ensine nem use de
autoridade sobre o marido, mas que permaneça em silêncio", em Paulo (BÍBLIA,
Timóteo, 2,11-12).
Fica evidente o quanto a mulher sofreu discriminação e silêncio em sua
atuação social, o que se manifestou de diferentes formas: nas atividades
profissionais, na educação, na família, nas responsabilidades sociais e na
sexualidade, como afirma Pelegri e Martins (2010).

2.1.2 A mulher no século XX e a inserção no mercado de trabalho

Marcado pelas guerras mundiais e a industrialização, o período do final do


século XIX e início do século XX é caracterizado por grandes mudanças no contexto
social e cultural, mudanças que impactam diretamente os moldes da sociedade
atual. Até então, no mundo ocidental, os espaços e funções de homens e mulheres
eram bem demarcados. Segundo Meirelles (2008), cabia aos homens o domínio
público, que incluía a escolha de um trabalho e profissão, e às mulheres cabia seguir
a maternidade e dedicação aos cuidados dos filhos, do marido e da casa.
20

Durante a I e II Guerras Mundiais (1914-1918 e 1939-1945, respectivamente),


a mulher foi impulsionada a ingressar no mercado de trabalho, já que os homens
foram para as frentes de batalha e as mulheres passaram a assumir os negócios da
família e os cargos masculinos no mercado de trabalho (PELEGRINI; MARTINS,
2010). Mesmo assumindo papéis e cargos até então masculinos, a mulher passa por
profundas desigualdades sociais e sexuais, segundo Scavone (2001), pois não
houve superação da posição de inferioridade da mulher, tanto social quanto
profissional e econômica. Até então, por ser considerada como
(PEREIRA; FAVARO, 2017), a ideologia da época difundia que os rendimentos do
trabalho da mulher eram inferiores aos do homem, sendo essa uma maneira de
por qual motivo a mulher recebia menos que o homem, mesmo realizando
tarefas muito semelhantes, como explicado por Bruschini e Rosemberg (1982). A
partir dessas mudanças, Scavone (2001) afirma que se instaurou a dupla
responsabilidade da mulher, ou seja, o trabalho fora do lar e a maternidade.
Após a Segunda Guerra Mundial, as mulheres a voltar
para casa, o que fez surgir um sentimento de insatisfação quanto aos papéis sociais
exercidos até então, provocando um questionamento sobre seus valores e modo de
vida (MEIRELLES, 2008).
A partir da década de 1960, Friedan (1971 apud PINTO, 2010) denunciava
em seu livro polêmico , o mal-estar entre milhares de donas de
casa que viviam uma profunda crise de identidade e vazio existencial. Foi neste
período também que a pílula anticoncepcional foi lançada nos Estados Unidos e na
Alemanha, possibilitando o controle da maternidade (PINTO, 2010). Nessa mesma
década, diversos movimentos feministas se iniciaram e esse movimento libertário
buscava espaço para a mulher no trabalho, na vida pública, na educação e também
na luta por uma nova forma de relacionamento entre homens e mulheres, para que a
mulher tenha liberdade e autonomia para decidir sobre sua vida e seu corpo, como
exposto por Pinto (2010).
A partir do final do século passado, mais precisamente entre as décadas de
1920 e 1970, com o aumento dos processos de industrialização e de urbanização da
sociedade brasileira, a inserção da mulher no mercado de trabalho também se
acelera, como explica Pelegrini e Martins (2010). Para as mulheres da época,
Meirelles (2008) explica que o trabalho extradomiciliar adquiriu novos significados,
passando a representar uma oportunidade de se desenvolverem pessoal e
21

profissionalmente, favorecendo projetos de vida e realização pessoal. A


possibilidade de desenvolver uma carreira no mercado de trabalho se tornou um
meio para independência e ascensão social das mulheres, desenvolvendo assim um
novo ideal d exposto por Meirelles (2008). Diante disso, o
trabalho proporcionou à mulher um novo status de valor para sua vida pessoal e
identidade social, conforme dito por Lipovetsky (2000), em que a mulher dispõe do
governo de si por meio de uma posição profissional, reconhecendo o direito a uma
, diante de uma sociedade que celebra a
liberdade e o maior bem-estar individual.

2.1.3 O direito da mulher à educação

A possibilidade do ensino formal também foi uma conquista para as mulheres


ao longo da história. No Brasil, as mulheres passaram a ter direito à instrução
escolar tardiamente, apenas no período colonial, segundo Pereira e Favaro (2017).
Porém, as autoras ainda destacam que a educação feminina na época se restringia
a aprender os trabalhos domésticos e materiais para se tornar uma boa mãe e
esposa.
Em 1875, de acordo com Aranha (2006), foi criada a sessão feminina na
Escola Normal da Província, com a possibilidade de moças se profissionalizarem na
carreira do magistério, caracterizando-se como uma das possíveis profissões
destinadas à mulher aceitas socialmente. Apesar de a entrada das mulheres na
universidade ter acontecido primeiramente nos Estados Unidos em 1837
(BEZERRA, 2010), foi apenas em 1881 que o decreto imperial permitiu que
mulheres pudessem se matricular no curso superior (BELTRÃO; ALVES, 2009).
Entretanto, Pereira e Favaro (2017) salientam que, mesmo com o direito de
ingressar no ensino superior, ainda havia uma barreira a ser superada, pois os
estudos universitários eram essencialmente masculinos e os cursos normais não
habilitavam as mulheres para as faculdades.
A partir da Constituição da República em 1891, houve a criação de escolas de
monitoramento e controle do ensino primário além do ensino profissional de nível
médio, compreendidas como escolas normais para moças e escolas técnicas para
22

rapazes, para que atendessem às exigências da crescente industrialização no país


(PEREIRA; FAVARO, 2017). Beltrão e Alves (2009) ainda ressaltam que houve
expansão quantitativa do sistema educacional no Brasil, mas não houve muita
mudança na questão qualitativa.
Outro fato histórico que intensificou a inserção da mulher ao ensino formal foi
a condição de participação política da mulher no Brasil segundo Pereira e Favaro
(2017). Em 1932, as mulheres obtiveram o direito ao voto e à alfabetização, sendo a
alfabetização da população em geral de grande interesse para os políticos da época,
já que apenas pessoas alfabetizadas podiam votar (BELTRÃO; ALVES, 2009). Mas
foi apenas em 1961 que a lei garantiu a equivalência de todos os cursos de grau
médio, o que acabou abrindo possibilidade para que as mulheres que faziam
magistério pudessem disputar os vestibulares, conforme afirmam Beltrão e Alves
(2009).
Em 1985, com a expansão do ensino no Brasil, Beltrão e Alves (2009)
explicam que houve um crescimento das universidades privadas e essa expansão
de vagas favoreceu especialmente o sexo feminino. Desde então, Pereira e Favaro
(2017) afirmam que as mulheres são a maioria em todos os níveis de ensino do país,
mas que ainda existem desafios, como o de adentrar em cursos que continuam
predominantemente masculinos e conseguir permanecer na faculdade.

2.2 UM OLHAR PARA A MULHER NO CICLO VITAL INDIVIDUAL E FAMILIAR

Ciclo vital, como compreendido por Gazzol et al. (2018), é o período da


fecundação até a velhice, presente em todos os seres vivos, seguindo
um desenvolvimento contínuo que termina com a morte do indivíduo. Papalia e
Feldman (2013) ressaltam que a divisão dos períodos do ciclo vital é uma
construção social, com conceitos que podem ser aceitos para alguns, mas não para
outros, dependendo de sua realidade cultural. Fato que também é compreendido por
Oliveira (2007) e Nascimento (2006) é o de que a adolescência não é uma fase
natural do desenvolvimento humano, mas sim uma criação cultural.
23

Diante disso, Godoy (2017) propõe uma analogia simples para a


compreensão do ciclo vital individual, proposto por Erickson (1976), e o ciclo vital
familiar, proposto por Cerveny (2010). Assim como a Terra possui dois movimentos
cíclicos, a rotação e a translação, o ser humano possui dois ciclos vitais, o individual
e o familiar. Segundo a autora, a rotação da Terra - seu movimento em torno de seu
próprio eixo -, que produz a manhã, a tarde, a noite e a madrugada, equivale ao ciclo
vital individual com as fases infância, adolescência, idade adulta e velhice. Já a
translação - movimento da Terra em torno do Sol -, que produz as quatro estações,
primavera, verão, outono e inverno, equivale ao ciclo vital familiar com as fases
Aquisição, Adolescente, Madura e Última. Ou seja, assim como um ano é composto
pela junção desses dois movimentos que a Terra realiza, a vida humana é composta
a partir da junção do ciclo vital individual e familiar (GODOY, 2017).
Sendo assim, será apresentado a seguir os principais aspectos do ciclo vital
individual e familiar equivalente ao público-alvo desta pesquisa.

2.2.1 Ciclo vital individual no período da adolescência

Vieira e Rava (2010) observam a adolescência moderna como uma invenção


da sociedade e do marketing, tendo assim uma tendência ao prolongamento desta
fase; portanto, determinar o final da adolescência está cada vez mais complexo. A
Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização das Nações Unidas (ONU)
consideram a faixa etária de 10 a 24 anos como sendo o período da adolescência
que, por sua vez, possui três subdivisões: dos 10 aos 14 anos é considerada pré-
adolescência; dos 15 aos 19 anos é considerada adolescência; e dos 20 aos 24
anos como sendo a juventude (WHO, 1986).
Considerando que este estudo está direcionado para mulheres de 20 a 40
anos, iremos considerar a terceira subdivisão. Nesta faixa etária, o jovem já atingiu a
maturidade sexual, mas ainda está no processo de maturidade cognitiva e
psicológica (PAPALIA; FELDMAN, 2013). Levando em conta definições culturais e
sociológicas, Papalia e Feldman (2013) afirmam que as pessoas podem ser
consideradas adultas quando são responsáveis por si mesmas, estabelecem um
24

relacionamento afetivo significativo ou iniciam uma família, ou seja, é um período em


que o indivíduo vivencia o fim da fase de adolescência e o início de uma vida adulta,
caracterizando a juventude. Os autores prosseguem dizendo que a maturidade
psicológica vai depender de diversos acontecimentos significativos, como
desenvolver a própria identidade, tornar-se independente dos pais, desenvolver seus
próprios valores e relacionamentos (PAPALIA; FELDMAN, 2013). Outro fator que
evidencia que não existe uma idade cronológica que marca a passagem para a vida
adulta é o que afirma Shanahan el al. (2005) ao dizer que, para tal, há indicadores
internos como o sentimento de autonomia, autocontrole e responsabilidade pessoal.
Outro fator importante que ocorre durante a adolescência e a juventude é o
amadurecimento do cérebro. As estruturas cerebrais envolvidas nas emoções, no
julgamento, na organização do comportamento e no autocontrole passam por
mudanças consideráveis durante a puberdade (PAPALIA; FELDMAN, 2013). Os
lobos frontais, responsáveis por planejamento, raciocínio, julgamento, modulação
emocional e controle dos impulsos se desenvolvem a partir da metade da
adolescência, o que explica a tendência dos adolescentes a explosões emocionais e
a comportamentos de risco de acordo com Steinberg (2007).
Nas sociedades industrializadas, o fim da adolescência ou fase intermediária
torna-se um período característico que, por meio de vários acontecimentos, marca o
início da vida adulta, conforme é destacado por Papalia e Feldman (2013). E
complemen é um período de tempo durante o qual os jovens não são mais
adolescentes, mas ainda não se firmaram nos papéis adultos
FELDMAN, 2013, p. 453). Esta fase, também característica do ciclo vital familiar,
será esplanada no próximo tópico.

2.2.2 Ciclo vital da família e da mulher

Nesta sessão, serão apresentadas e aprofundadas as fases do ciclo vital


familiar de acordo com as fases que as mulheres da amostra desta pesquisa se
encontram, que são a fase de aquisição e a fase adolescente.
25

2.2.3 Fase de aquisição

De acordo com Berthoud (2010),


refere ao período que se inicia a união de um casal, com diferentes mudanças na
dinâmica da vida familiar, como a chegada dos filhos, assim constituindo o processo
de construir uma família, adquirindo bens materiais, estabelecendo um estilo de vida
e padrões de interação. Considerando família como uma instituição social, Narvaz e
Koller (2006) definem que uma família se constitui por relações expressas
diferentemente de acordo com o tempo, o lugar e os papéis que cada um
desempenha, ou seja, manifestam-se várias formas de relações familiares.
Ronchi e Avellar (2011) observam que a formação de um novo sistema
familiar se dá não somente pelo marco do casamento, mas como a união de dois
sistemas familiares inteiros com valores, costumes e tradições trazidas das famílias
de origem dos parceiros, para, então, constituir um novo sistema familiar. Por conta
disso, Berthoud (2010) enfatiza a importância do estágio inicial da fase de união,
tanto para o homem como para a mulher, pois

é um momento importante no sentido de conhecer seus próprios


sentimentos em relação ao outro, investir na relação quando o desejo existe
e analisar as diferenças dos estilos pessoais e de vida, como uma forma de
avaliar a viabilidade da relação (BERTHOUD, 2010, p. 37).

Nesta fase, o casal que está iniciando uma nova família passa pelo processo
de se preparar para essa nova fase, efetivamente pensando, discutindo e planejando
como será o estilo de vida, valores, metas e questões financeiras, como dito por
Berthoud (2010). Assim como todo o ciclo vital, planejamento e valores são
dinâmicos, podendo mudar ao longo da vida de acordo com as motivações e
necessidades, com aquilo que se vive e com o desenvolvimento humano, conforme
explicado por Schwartz e Bilsky (1987). Ainda sobre o planejamento financeiro do
casal, Berthoud (2010) assinala que a mulher é quem geralmente fica responsável
por gerenciar o dinheiro da família, independente se ela trabalha ou não, ou seja, a
mulher passa a ter um novo papel de fazer o controle de gastos da família sem que
ela seja necessariamente provedora. Porém, Tobias (2012) destaca que, em relação
26

à aquisição de bens e gastos permitidos, o casal passa a compartilhar dessas


negociações.
Diante disso, a decisão de ter ou não filhos é um processo que envolve
desejos e decisões do casal, independentemente se uma gravidez foi planejada ou
não, pois ter ou não filhos impacta em questões como assumir ou não uma relação
ou dedicar-se à carreira profissional em vez de um filho, segundo Berthoud (2010).
Com o aparecimento da pílula anticoncepcional na década de 1960, a mulher
passou a ter a liberdade de escolher quando engravidar ou não engravidar, ou seja,
a pílula proporcionou também à mulher a responsabilidade por suas próprias
escolhas, como exposto por Coelho (2008). Com isso, a maternidade foi
ressignificada para a mulher e para a sociedade, trazendo agora a pressão de ela
sentir prazer na maternidade, conforme dito por Aratangy e Posternak (2005).
Coelho (2008) e Meirelles (2001) também trazem a questão de que, na sociedade
atual, a mulher vivencia uma contradição ao chegar à vida adulta, pois, ao procurar
trilhar seu próprio caminho, busca o equilíbrio entre manter uma carreira profissional
brilhante e, em contrapartida, construir uma família com casamento e filhos.
Mesmo com todas as mudanças no contexto social, ainda recai sobre a
mulher o peso maior da responsabilidade com a educação dos filhos, geralmente
assumida como sendo apenas da mulher (COELHO, 2008). Esse fato é decorrente
de um histórico social em que a maternidade era vista como sistema de valores
relacionados com o que é a mulher e, também com o que é o filho (KITZINGER,
1978). Correia (1998) aponta que, por milênios, ou redor do mundo, a sociedade
valorizou a fertilidade, que era vista como uma dádiva de Deus, depreciando a
infertilidade como castigo.

2.2.4 Fase adolescente

Ao falarmos de adolescência, não estamos falando apenas das mudanças e


transformações que acontecem com o adolescente em si, mas também da chamada
Berthoud (2010). Este conceito de família
adolescente refere-se à fase em que, não somente o adolescente passa por
mudanças, mas também os pais que geralmente estão transitando para a meia
27

idade, e os avós, que normalmente estão entrando na velhice (BERTHOUD, 2010).


Os pais precisam, como argumenta Berthoud (2010), reavaliar as regras e padrões
estabelecidos na fase de aquisição, pois estes já não atendem as demandas da
dinâmica familiar adolescente, buscando, muitas vezes, recursos através da família
de origem, os avós. Estes pais acabam sendo confrontados intensamente pelos
valores e padrões de comportamentos sociais da contemporaneidade que são
trazidos pelos filhos, tendo que adaptar-se, revendo o modelo de educação recebido
por seus próprios pais para construir estratégias de convivência dentro da família,
depositando confiança, buscando orientação, dando limites e dialogando, conforme
expõe Berthoud (2010).
Outra questão importante vivenciada nesta fase, ressaltado por Berthoud
(2010), é que os pais podem perceber os frutos dos ensinamentos que foram
passados para os filhos ao longo de todo o processo de educação, provocando um
sentimento de surpresa e alegria nesses pais. A autora também relata que o papel
da mulher nesta fase de adolescência dos filhos é visto como um fator de equilíbrio
familiar, pois a figura feminina é considerada capaz de amenizar os estresses e,
muitas vezes, fazer a ponte de ligação entre os diferentes membros da família
(BERTHOUD, 2010).
Berthoud (2010) salienta que o fenômeno da família adolescente é
consequência da pós-modernidade ocidental, com uma forte influência do
capitalismo na ideia de jovem, hedonista e consumista , onde há um profundo
desejo no imaginário da classe média br

2.3 O LUGAR DA MULHER NA ATUALIDADE

2.3.1 A mulher no mercado de trabalho

Vieira e Rava (2010) afirmam que a estabilidade profissional e financeira se


mostra como um importante passo para a vida adulta. Porém, atualmente, observa-
se que é maior o período em que os filhos são economicamente dependentes dos
pais, e isso pode estar relacionado com o crescente desemprego e com o maior
28

tempo despendido para a educação (CAMARANO et al., 2003). Por conta das
demandas da realidade econômica e de mais anos serem necessários para se ter
sucesso profissional, tem se prolongado cada vez mais a saída dos jovens adultos
da casa parental.
Desse modo, Guimarães (2006) ressalta que a inserção no mercado de
trabalho é uma possibilidade para que a passagem da adolescência à vida adulta se
concretize. Outro aspecto importante nesta transição é que, para a maioria dos
jovens, ter uma identidade profissional é parte importante da formação da sua
identidade pessoal, pois o jovem, que possui um trabalho valorizado pela sociedade
e tem sucesso nele, provavelmente terá sua autoestima aumentada e isso fará com
que ele possa ingressar na vida adulta de maneira mais segura e estável (OSIPOW,
1986). Papalia e Feldman (2013) também ressaltam que antes da metade do século
XX era comum que um jovem mal saía do ensino médio e já procurava um emprego
estável, casava e iniciava uma família, já para as mulheres jovens da época, o que
definia o caminho para a vida adulta era o casamento, realizado assim que um
pretendente adequado aparecesse. A partir da década de 1950, assim que a
industrialização e revolução tecnológica ganharam força, a educação universitária ou
a formação especializada passou a ser cada vez mais essencial para que os jovens
ingressassem no mercado de trabalho, de acordo com Papalia e Feldman (2013),
fazendo com que, tanto homens quanto mulheres, casassem mais tarde, já que
buscavam uma educação ou oportunidades vocacionais superiores (FUSSELL;
FURSTENBERG, 2005).
Assim sendo, Nascimento (2006) aponta que a idade com que os adultos
jovens finalizam seus estudos tem se elevado consideravelmente em função da
obtenção de maiores conhecimentos e de especialização para enfrentar a atual
competitividade do mercado de trabalho.
Nas últimas décadas, a mulher vem conquistando cada vez mais espaço no
mercado de trabalho, que antes era predominantemente de homens, em vista dos
diversos movimentos históricos já citados anteriormente. Segundo o Portal ODS
(2018), a participação da mulher no mercado de trabalho formal era de 44,58% em
2018 para o estado de São Paulo, evidenciando uma grande participação da mulher
no trabalho fora de casa.
Apesar da conquista crescente do espaço no mercado de trabalho, ainda hoje
a mulher enfrenta a desigualdade em diversos aspectos no âmbito do trabalho. Uma
29

delas é a diferença significativa de rendimentos entre homens e mulheres, que,


conforme apontam os dados do IBGE (BARROS, 2020), foi de 28,7% a mais para os
homens em relação às mulheres no ano de 2019, considerando os ganhos de todos
os trabalhos no Brasil. Além da drástica diferença nos ganhos e rendimentos, a
mulher também vivencia a chamada segregação ocupacional, que se refere ao fato
de as mulheres, de modo geral, ocuparem postos de trabalho menos qualificados e
com menores remunerações do que os homens (CAMBOTA; PONTES, 2007). Essa
questão torna-se ainda mais agravante diante do fato de que, segundo Peret (2019),
as mulheres têm maior qualificação que os homens e ainda assim os dados apontam
para menores rendimentos para as mulheres.
Outro fato que aponta para a desigualdade de gênero no trabalho é a
dificuldade de ascensão profissional das mulheres, fenômeno, este, também
chamado de teto de vidro (glass ceiling). Assim chamado para descrever uma sutil,
mas forte, barreira que bloquearia a promoção de mulheres aos níveis superiores da
hierarquia nas organizações (STEIL, 1997). Um fato evidenciado pelos dados do
Portal ODS (2018), que apontam que em relação a cargos de liderança, como
dirigentes de empresas e organizações, apenas 33,26% eram mulheres e 66,74%
eram homens em 2018.
O contexto de trabalho fora de casa para as mulheres ainda traz, além das
dificuldades apresentadas acima, um sentimento paradoxal em relação aos ideais
intrínsecos da sociedade. Um desses grandes ideais é conseguir conciliar o trabalho
fora de casa com o compromisso de ser mãe e esposa, sendo um desafio ainda
mais complexo quando os dois cônjuges mantêm uma carreira extradomiciliar,
caracterizando o fenômeno intitulado de casamentos de dupla carreira que veremos
a seguir.

2.3.2 A mulher no casamento de dupla carreira

Diniz (2000) define o conceito de casamento de dupla carreira como sendo


casais em que ambos os cônjuges exercem profissões denominadas de carreiras ,
ou seja, que possuem etapas demarcadas, desenvolvimento e progressão, bem
como alto grau de instrução e treinamento. A autora também enfatiza que seguir
30

uma carreira requer alto comprometimento, investimento e interesse pessoal,


podendo fazer com que as demandas do trabalho sejam levadas, ou até mesmo
invadam, outras áreas da vida.
Considerando que a sociedade ocidental vive sob a égide do individualismo,
conforme expõe Martins (2006), há um peso social sobre o estímulo da autonomia
dos cônjuges, enfatizando que cada um deve sustentar o seu próprio crescimento e
desenvolvimento, confrontando o valor tradicional dado ao casamento. Dessa forma,
os casais contemporâneos acabam por vivenciar o desafio de unificar a criação de
laços significativos com a construção de autonomia individual, expondo ambos a um
embate constante entre individualidade e conjugalidade (FÉRES-CARNEIRO, 2003).
Sendo assim, os casamentos de dupla carreira se mostram como um
movimento revolucionário à vida econômica, social e familiar de homens e mulheres
(HOFFMAN; HOFFMAN, 1985), modificando as tarefas socialmente prescritas para
cada gênero e alterando a hierarquia dos casamentos tradicionais, já que, com o
aumento do poder aquisitivo da mulher, esta passa a ter mais influência sobre as
decisões financeiras da família (DINIZ, 2000; MEIRELLES, 2001). Assim, Levinson e
Levinson (1996) cunham o termo casamentos neo-tradicionais , afirmando que essa
dinâmica de casamentos de dupla carreira favoreceu o crescimento da mulher em
diversas áreas da vida, contribuindo para

uma união intermediária entre o tradicional e a igualitária, que favorece às


mulheres combinarem dois sonhos: o de sucesso profissional através de
uma carreira com o de mãe e esposa (LEVINSON; LEVINSON, 1996, p.
313).

Contudo, Meirelles (2001) aponta que ainda há evidências que indicam que
as mulheres enfrentam dificuldades para romper padrões tradicionais, considerando
que as mulheres ainda tomam para si a responsabilidade pelo espaço doméstico, o
que resulta em um acúmulo de trabalho para as elas. Um aspecto de peso para essa
questão de sobrecarga de responsabilidades da mulher se dá, conforme alerta
Lipovetsky (2000), pelo fato de as mulheres terem que fazer isso em detrimento de
seu papel familiar ao se comprometerem totalmente à carreira. Fazendo com que
essas mulheres tenham um sentimento de culpa e conflitos em relação às funções
31

de mãe, sentimento que não é compartilhado pelo homem, já que para ele não se
requer nenhum sacrifício de ser pai para exercer sua carreira.
Tendo em vista essas questões, Meirelles (2008) ressalta o paradoxo
vivenciado pelas mulheres da atualidade: ter o sucesso profissional em detrimento
da vida doméstica e materna ou, o seu oposto, com dedicação integral à vida de
mãe e esposa, renunciando a uma carreira profissional. A autora aponta que a
escolha de muitas mulheres de tentarem manter os dois ideais de vida (profissional e
materno) só aumenta as queixas de depressão, tristeza, ansiedade, angústia,
solidão e inseguranças. Por isso, há de se buscar construir uma realidade com
referências de sucesso, mas que não dependa de tantas exigências socioculturais,
reivindicando leis mais justas, salários melhores e que favoreçam mais tempo e
qualidade de vida a si mesmas e às suas famílias (MEIRELLES, 2008).
Este pode vir a ser um caminho para encontrar a tranquilidade que as famílias
vêm buscando, pois no universo da autonomia, como dito por Lipovetsky (2005),
diferente dos anos 60 e 70, não se garante a paz nas famílias. Porém, há de se
compreender a realidade que as mulheres construíram para si mesmas e identificar
recursos que possam solidificar e legitimar esta autonomia conquista (MEIRELLES,
2008).
Contudo, ainda há de se levar em conta a questão da efemeridade acentuada
na atualidade que, além de valorizar o individualismo, como já citado, está em
oposição à ideia de algo duradouro como um matrimônio. Segundo o conceito de
amor líquido apresentado por Bauman (2005), o casamento, como qualquer
relacionamento afetivo, pode ser volátil, como algo transitório. Com o crescimento do
capitalismo, o consumismo desenfreado não se fixou apenas em bens materiais,
mas nas relações humanas também. Bauman (2008) chama a atenção para a
mudança de mentalidade que, há algumas décadas, era de longo prazo, já que a
conquista patrimonial demandava muita persistência e cobrança, para uma
mentalidade de não deixe para amanhã o que se pode fazer hoje . Nos
relacionamentos da modernidade líquida descrita por Bauman (2005), há uma
grande ambivalência, tendo em vista as pessoas têm o desejo de ter vínculos fortes
e intensos, mas que também possam ser extinguidos a qualquer momento sem
deixar vestígios.
Diante destas questões, constata-se que a mulher vem conquistando cada
vez mais lugar no mercado de trabalho e desenvolvendo sua própria carreira de
32

forma independente. Entretanto, ainda existem desafios e aspectos culturais a serem


aperfeiçoados para que a mulher consiga desenvolver sua independência e
autonomia de forma saudável, equilibrada e justa. A seguir, será discorrido sobre
como se dá o desenvolvimento da autonomia emocional segundo a teoria sistêmica.

2.4 AUTONOMIA

Segundo o dicionário, autonomia signific aptidão ou competência para gerir


sua própria vida, valendo-se de seus próprios meios, vontades e/ou princí
(DICIO, 2020). Semanticamente, a palav do grego, formada pelo
adjetivo autos qu r si mesm e pela
palavra nomos que mpartilhamento
ntido, autonomia significa propriamente a
competência humana e -se SCHRANM,
2005).
No senso comum, autonomia e independência geralmente são vistos como
sinônimos, porém não podem ser considerados assim, tendo em vista que
independência se refere à capacidade das pessoas de agirem por conta própria
(REICHERT; WAGNER, 2007). Nesse sentido, as autoras prosseguem dizendo que
uma alta independência faz-se necessária para se tornar autônomo, entretanto, a
autonomia está mais voltada para a ideia de ter comportamentos independentes,
além de estar relacionada a questões como pensamentos, sentimentos e tomadas
de decisão que envolvem, não apenas o próprio indivíduo, mas também as relações
que este estabelece com a família, com seus pares ou pessoas fora do ambiente
familiar.
Como a autonomia está relacionada tanto a meios materiais (bens físicos)
quanto a vontades, princípios e valores (questões abstratas e subjetivas),
buscaremos explanar sobre como a autonomia emocional tem grande influência para
a educação financeira nos próximos subtópicos.
33

2.4.1 Autonomia Emocional

A fim de explicitar como se desenvolve a autonomia emocional, iremos


discorrer neste tópico sobre a teoria de Bowen, iniciando com o que diz respeito ao
conceito de massa indiferenciada (BOWEN, 1989). Este conceito tem muita
semelhança com a ideia de fusão e aglutinação proposta por Minuchin (1982), pois
refere-se de pertencimento do indivíduo que requer uma máxima
renúncia de MINUCHIN, 1982, p. 60). Ou seja, a indiferenciação do eu
impossibilita que a pessoa desenvolva sua autonomia por estar intensamente
mergulhada no sentimento de pertencimento da família. Martins, Rabinovish e Silva
(2008) ressaltam que, ao nascer, a criança é indiferenciada em relação à sua família
e deverá diferenciar-se ao longo de seu desenvolvimento, afirmando sua
singularidade e individuação por meio do seu direito de pensar e se expressar de
forma independente dos valores e regras defendidas pela sua família, para então
alcançar a autonomia e independência.
O conceito de diferenciação do self, que também compõe a teoria de Bowen
(1978), é considerado um processo evolutivo e dinâmico que acontece ao longo do
desenvolvimento da vida, definindo a capacidade do indivíduo de adquirir equilíbrio
entre o funcionamento emocional, intelectual, intimidade e autonomia nas relações.
Essa diferenciação geralmente ocorre de forma mais clara na fase de jovem adulto,
um momento da vida do indivíduo em que acontece a separação emocional e/ou
física da família de origem, de acordo com Carter e McGoldrick (1995). Quando a
família possui um funcionamento saudável, a tendência é de que os pais incentivem
a aquisição de independência do jovem adulto, o que irá favorecer a sua
diferenciação, já que a transição para a fase de jovem adulto demanda dos pais a
substituição do controle pelo apoio, enquanto os filhos buscam por maior autonomia
e menor hierarquia na relação (FIORINI; MÜLLER; BOLZE, 2018).
Quando o indivíduo é menos diferenciado da família, como dito por Fiorini,
Müller e Bolze (2018), ele tende a ter características como ser mais dependente
emocionalmente, de ser pouco tolerante e pouco flexível para lidar com situações
estressantes. Kerr e Bowen (1988) denominaram essa resposta impulsiva como
reação, quando a pessoa não tem a capacidade de separar o sentimento do
pensamento, isto é, incapaz de distinguir a emoção da razão. Em contrapartida, o
34

indivíduo que consegue se diferenciar de forma adequada tende a apresentar maior


capacidade de equilíbrio emocional, permitindo que ele esteja em contato íntimo com
as pessoas, porém preservando a sua autonomia (SKOWRON; FRIEDLANDER,
1998). Essa questão pode ser muito bem exemplificada com a união conjugal, que
apresenta uma das relações de maior intimidade, sendo fortemente influenciada pelo
nível de diferenciação dos parceiros, segundo Keer e Bowen (1988), já que o
casamento demanda uma negociação implícita ou explícita de diversas questões,
tanto em termos individuais quanto de padrões de funcionamento oriundos de cada
uma das famílias de origem (Carter e McGoldrick, 1995). Por isso, Martins,
Rabinovish e Silva (2008) afirmam que ao escolher o parceiro no matrimônio, o
indivíduo tende a escolher alguém que possui um nível de diferenciação do eu
semelhante ao seu próprio.
Como foi exposto acima, há de se considerar que a autonomia emocional está
relacionada a como o indivíduo constrói a sua própria percepção sobre suas
opiniões e vontades, variando de acordo com as suas experiencias e relações
interpessoais, principalmente no que diz respeito às interações familiares. Desse
modo, para maior compreensão de como essa autonomia emocional afeta as
questões financeiras do cotidiano das mulheres, serão apresentados a seguir os
estudos teóricos acerca da psicologia econômica e da educação financeira.

2.5 PSICOLOGIA, DINHEIRO E EDUCAÇÃO FINANCEIRA

2.5.1 Uma breve história do dinheiro

Desde a criação das primeiras moedas na Líbia (Macedônia), o dinheiro está


presente na história da humanidade e ganhou cada vez mais destaque como o
principal meio de troca de bens e serviços, segundo Weatherford (2005). Com o
aperfeiçoamento tecnológico de cada época, o dinheiro também passou por
transformações, chegando atualmente a ser, além de moedas e cédulas, dinheiro
eletrônico, como cartões de crédito, débito e pagamentos pela internet, o que nos
revela também as transformações de seus usos (WEATHERFORD, 2005).
35

Antes da existência do dinheiro como objeto de troca comum, vários objetos


eram usados para troca, como metais, conchas, sementes, chás, penas, ossos de
animais etc. (WEA 20). Mas, como esses materiais
não podiam ser armazenados por muito tempo, houve a necessidade de se
encontrar materiais que não tivessem o perigo de se deteriorar e perder valor, assim
surgiram as moedas de metal, segundo Tobias (2012).
Moreira (2000) afirma que a essência do dinheiro sempre se constituiu pelo
simples fato de todos acreditarem nele, mesmo sendo mercadorias usadas para
troca, porque esse movimento passava a lhe conferir um novo e diferente valor, ou
seja, um valor abstrato. Baseando-se na Teoria Unitária da Moeda de Schmitt
(1975/1978), Moreira (2000) aponta que o dinheiro é um numerário, isto é, uma
abstração numérica que faz equivaler objetos pela mesma unidade de medida.
Galbraith (1987/1989) ainda aponta que a economia clássica distingue o dinheiro
como valor pessoal, social e sagrado, argumentando que o dinheiro é algo
quantitativo, permitindo uma única e mesma moeda para todas as sociedades,
variando apenas o nome e as cotações do câmbio internacional.
Levando em conta o avanço da era virtual do dinheiro através da internet,
Wheatherford (2005) demonstra que além de ampliar o seu uso, o dinheiro se tornou
o meio de convergência da cultura mundial moderna, pois passa a definir as
relações pessoais, familiares, institucionais e religiosas. Desse modo, podemos
encontrar algumas outras definições acerca do dinheiro, como a proposta de Dodd
(1997), ao afirmar que o dinheiro é mais do que o que é dito pela teoria clássica,
carregando associações culturais e simbólicas geradas por seu uso como
e riqueza e funcionamento do poder, sua conceituação com referência
à liberdade, felicidade e moralidade, e sua (...) segurança.

2.5.2 Psicologia Econômica

Ferreira (2008) define a psicologia econômica como sendo o estudo do


comportamento econômico de indivíduos, grupos e populações, com foco
direcionado para o aspecto de tomada de decisão. De maneira mais específica, a
autora (2008) apresenta que a psicologia econômica recai sobre a influência mútua e
36

recíproca de aspectos econômicos que envolvem o indivíduo, como pensamentos,


sentimentos e comportamentos sobre economia. Além do aspecto de tomada de
decisão, Ferreira (2008) expõe que, assim como a economia, o fator chamado de
recursos escassos também é estudado pela psicologia econômica.
Raynard e Ferreira (2017) consideram a psicologia econômica como uma
ciência mental da economia e do comportamento e está com cada vez mais
importância na sociedade, conforme as pessoas assumem suas responsabilidades
pelas próprias decisões econômicas. Os autores também salientam que a psicologia
econômica possibilita compreender a realidade diante de diversos fatores
psicológicos que podem estar atrelados à economia, envolvendo aspectos que
desempenham crises financeiras, como também tendências emocionais, referindo-
se ao medo do risco financeiro e a tendências de se comparar aos outros.
Como serviços e bens eram trocados diretamente por outros serviços e bens,
Furnham (2014) afirma que, com a invenção do dinheiro, surgiu uma nova dimensão
social de relações. Ou seja, para aqueles que possuem o dinheiro, há a
possibilidade de se concentrar em seus próprios desejos, necessidades e objetivos,
sem a necessidade de envolver interações sociais próximas ou analisar opiniões dos
outros sobre o que poderia ser mais atraente ou útil no momento da troca.
Com o avanço da internet, o dinheiro também se tornou virtual, possibilitando
realizar pagamentos, transferências, investimentos, compras, doações de qualquer
lugar do mundo, apenas acessando sua conta corrente online, conforme aponta
Meirelles (2012). Desse modo, o dinheiro deixou de ser tangível e passou a ser
também o registro de um comportamento financeiro, acentuando sua característica
de ser abstrato e, agora, ainda mais forte, onipresente e influenciando diversos
contextos da vida humana (MEIRELLES, 2012).
Com isso, Weatherford (2005) enfatiza que o dinheiro acaba por proporcionar
que as pessoas estruturem suas vidas de maneira complexa, e complementa
dizendo que te ampliável de estruturar o
valor e as relações sociais e pessoais, políticas e religiosas, bem como comerciais e
(WEATHERFORD, 2005, p. 46). Por apresentar vários significados e
múltiplas representações, o dinheiro se apresenta como um fato complexo para a
humanidade, muitas vezes trazendo ambivalência, conforme afirma Moscovici (1990)
ao dizer que o dinheiro exerce uma fascinação, tanto no individual quanto no
coletivo, que pode fazer dele demoníaco ou divino em nossa civilização, sendo que
37

ao mesmo tempo é reverenciado e temido, algo escondido que não se deve ver ou
falar.

2.5.3 Teoria do prospecto

Para compreendermos como se dá o processo cognitivo de tomadas de


decisão, utilizaremos da teoria proposta por Kahneman (2012), sustentada por dois
elementos básicos, que funcionam o tempo todo na mente humana no momento do
julgamento e da escolha, chamados de Sistema 1 (S1) e Sistema 2 (S2).
O autor expõe que esses dois sistemas não estão situados em um local
específico do cérebro, mas fazem parte do funcionamento dinâmico da mente,
levando em conta princípios da psicologia cognitiva e social. Kahneman (2012)
explica que o S1 se refere às operações automáticas, funcionando de maneira
impulsiva, intuitiva e sem esforço, colaborando para que a pessoa tome decisões
com poucas evidências e tire conclusões precipitadas, além de fazer com que a
pessoa tenha pouca clareza do que acontece consigo mesma e em torno de si,
criando crenças sobre essas experiências. O S2 se refere às operações controladas
e possui a capacidade de resistir às sugestões do S1, sendo a parte da autocrítica.
Além de possuir essa função mais crítica, o S2 também tem a tarefa de programar a
memória para obedecer a uma instrução que passa por cima de reações habituais
(KAHNEMAN, 2012), ou seja, ações planejadas e pensadas antes de serem
executadas. O autor também ressalta que o S1 opera de forma mais primitiva
mentalmente, e o S2, por tender a retardar as sugestões do S1, é considerado como
o que está no comando.
Quando os ancestrais do homem viviam para sobreviver, era necessário
responder a estímulos mais urgentes, que demandavam rápida identificação de
ameaças e recursos, desenvolvendo assim o S1. Com a modernidade do homem, a
expectativa de sobrevivência de médio e longo prazo aumentou, e com isso passou
a ter demandas mais complexas, fazendo com o que o S2 fosse mais necessário,
como exposto por Ferreira (2015). Porém, a autora prossegue dizendo que, como o
S1 não acompanhou essa evolução relativamente recente, a mente do homem tende
a fazer avaliações de curto prazo, buscando sempre por coerência e conforto
38

cognitivo, isto é, condições que tragam alívio para a sensação de tensão no


momento e gratificação imediata de seus impulsos sempre que possível. Ao chegar
à sensação de conforto, a mente pode satisfazer-se com ilusões e aparência,
buscando caminhos para reduzir o mal-estar por dúvidas, contradições,
inconsistências, frustrações e ausência de padrões e sentido. Uma consequência
disso é que podem ocorrer os chamados erros sistemáticos, que são como atalhos
mentais gerados pelo S1 para poupar esforço ao pensar, conforme foi proposto por
Tversky e Kahneman (1974 apud FERREIRA, 2015).
Com isso, Ferreira (2015) compreende que o indivíduo, ao se deixar guiar
pelo S1, está sujeito a diversos equívocos referentes à visão de mundo, memória e
avaliação das situações, tornando-o vulnerável, pois pode ter variados erros de
avaliações e, consequentemente, de escolhas, comumente encontrados como erros
sistemáticos. A autora também aponta que o S1 pode ser um desafio para a
educação financeira, já que as ações frente às tomadas de decisão são automáticas
quando orientadas pelo S1, voltadas a uma impulsividade na execução das
atividades, sem considerar as consequências. O S2, por ser o mais crítico, é o mais
adequado para avaliar perspectivas, fazer escolhas e exercer maior controle sobre
os impulsos e as associações geradas continuamente pelo S1. Porém, se o
indivíduo estiver concentrado na solução de um problema, dificilmente vai conseguir
administrar outra situação impulsiva vinda do S1 ao mesmo tempo, e isso requer
uma atividade de esforço para o S2 (FERREIRA, 2015).
As atividades exercidas pelo S2 apresentam maior sofisticação, como a
capacidade de raciocínio, representações conceituais, linguagem e capacidade de
funcionar de forma flexível, de acordo com as diferentes circunstâncias exigidas,
além de reflexão, manutenção de foco, atenção, memória e julgamento criterioso dos
dados, como explicado por Ferreira (2015). Desse modo, é o S2 responsável por
planejar ações, expressar intenções e procurar as soluções mais adequadas para a
situação em questão.
39

2.5.4 Educação financeira

Para entendermos do que de fato se trata a educação financeira, precisamos


entender primeiro o que é a educação propriamente dita. De acordo com o Dicio
(2020), educação é a ação ou efeito de educar, de aperfeiçoar as capacidades
intelectuais e morais de alguém . Desse modo, ao se tratar de educação financeira,
estamos falando do ato de instruir e orientar alguém sobre questões relacionadas ao
dinheiro.
A princípio, a educação financeira pode parecer uma orientação sistematizada
sobre como utilizar o dinheiro no cotidiano, porém, D Aquino (2001) expõe que a
educação financeira vai muito além. Para a autora, os pais devem ensinar aos filhos
a ter a tolerância necessária para conquistar a satisfação de seus desejos,
ajudando-os a perceber que o ato de poupar pode levá-los à realização de objetivos.
Além dessa questão de tolerância e senso de poupança, deve-se ensinar também o
planejamento dos gastos de acordo com a quantia do orçamento que é
disponibilizado à pessoa, além de uma definição clara de necessidades e desejos
(D AQUINO, 2001). Ferreira (2015) também complementa dizendo que a educação
financeira abrange a administração do dinheiro quanto a diversas atitudes, tais como
poupar, investir, planejar, fazer orçamento e se preparar para a velhice.
Com isso, Zagury (2003) complementa que é por meio da diferenciação de
desejos e necessidades que é possível criar limites dentro da educação. A autora
prossegue dizendo que a necessidade está relacionada com algo que precisa ser
atendido para que o indivíduo não venha a ter comprometimentos em deu
desenvolvimento físico, intelectual ou emocional. Em contrapartida, o desejo
corresponde a algo que o indivíduo tem vontade de possuir ou realizar, mas que não
está ligado ao seu desenvolvimento, e, sim, ao seu prazer (ZAGURY, 2003).
Entretanto, ainda há outra questão a ser levada em conta quando se trata de
educação financeira: o componente emocional. Segundo Ferreira (2007), ao tentar
satisfazer rapidamente desejos imediatos, o indivíduo pode ser levado por uma
percepção distorcida dos custos reais de algo a ser consumido. Este conceito,
descrito pela autora como desconto hiperbólico, trata-se de escolhas intertemporais
que a pessoa faz, que podem alterar sua percepção para facilitar a escolha de algo
40

que proporcione satisfação de forma imediata, sem se dar conta dos custos a mais
que possa vir a ter no futuro.
Desse modo, Ferreira (2014) salienta que há lacunas na educação financeira
quanto à sua forma mais adequada, já que suas intensões e ações precisam ser
mais elaboradas para que esta educação seja efetiva. A autora ainda chama a
atenção para o fato de que dificilmente uma educação financeira aconteceria em um
mundo à parte, isto é, sem considerar o componente psicológico para uma mudança
de atitude e de comportamento do indivíduo. Segundo Belsky e Gilovich (2002), ao
ter trapalhadas financeiras que resultaram em elevados gastos, as pessoas tendem
a evitar o que levou a esses tropeços financeiros e a ignorar formas de prevenção
para atitudes futuras relacionadas ao uso do dinheiro.
Ferreira (2014) também traz a ideia de que há influências que podem interferir
nas decisões econômicas, conhecidas como humor, detalhes irreverentes no
ambiente, emoções e dados distorcidos. Neste último ponto, a autora explica que se
origina de uma dificuldade em processar informações por limitações cognitivas e
emocionais, pelo fato de operações mentais não darem conta de ser tão minuciosas
quanto seria necessário ao examinar tudo meticulosamente.
Belsky e Gilovich (2002) também consideram que, com o uso de cartão de
crédito, a pessoa acaba por desvalorizar o dinheiro, levando-a a gastos mais
intensos do que normalmente seriam. Assim, as pessoas entram em um movimento
de ficar mais pobres por tenderem a gastar mais e por tenderem a gastar com
bobagens, ou seja, de maneira mais pobre. Ainda sobre o uso do cartão de crédito,
Furnham (2014) acredita que a maioria das pessoas não consegue imaginar a vida
sem um cartão de crédito/débito ou sem dinheiro, entendendo que as pessoas já se
acostumaram com a presença do dinheiro como forma de permitir que obtenham os
bens e serviços de que necessitam para viver.
Tendo em vista essas questões, a educação financeira pode promover
decisões mais conscientes para às pessoas, possibilitando melhor aproveitamento
de seus recursos financeiros. Sendo assim, Tobias e Cerveny (2012) afirmam que a
educação financeira também contribui para implicações éticas e morais que o
dinheiro pode envolver em um determinado contexto social. Sobre a questão ética,
as autoras explicam que a ética deve estar presente em uma educação que
proporcione consciência no uso do dinheiro sem subornos, sem desmoralizar
terceiros, como uma forma de exercer cidadania, respeitando a si e aos outros.
41

Tobias e Cerveny (2012) também ressaltam que saber manusear o dinheiro de


forma mais consciente proporciona que o indivíduo seja mais tolerante, adiando os
seus desejos quando necessário, para que essas escolhas possibilitem a sua
subsistência, e não sua falência, proporcionando, assim, mais autonomia em suas
escolhas.
42

3 MÉTODO

3.1 TIPO DE DELINEAMENTO

Para a pesquisa quantitativa, caracterizada por exprimir as relações


funcionais entre variáveis na busca por compreender fenômenos (PORTELA, 2004),
foi utilizado como método a pesquisa de levantamento que, segundo Gil (2017), é
caracterizada por interrogar diretamente as pessoas sobre o comportamento que o
pesquisador deseja conhecer, solicitando essas informações a um grupo significativo
de pessoas que represente a população em questão.
Para a pesquisa qualitativa, que consiste em estudar um fenômeno a partir da
perspectiva das pessoas envolvidas em determinado contexto (GODOY, 1995), foi
utilizado o estudo de caso, que segundo Gil (2017), é um estudo profundo de um ou
poucos casos, para ampliar e detalhar o fenômeno em questão.

3.2 PARTICIPANTES

O público-alvo dessa coleta foi definido como sendo mulheres de 20 a 40


anos. Essa faixa etária foi selecionada, pois, de acordo com o que afirma Papalia e
Feldman (2013), o período da vida adulta se dá aproximadamente dos 20 aos 40
anos de idade.
A quantidade da amostra referente à pesquisa quantitativa foi de 106
participantes sendo que, destas 106, apenas 90 estavam dentro dos critérios de
inclusão. As respostas que não atendiam a esses critérios foram desconsideradas
na análise. Para a amostra qualitativa, foram oito participantes. Os critérios de
inclusão das participantes, tanto da pesquisa quantitativa quanto da qualitativa,
foram: mulheres de 20 a 40 anos, pertencentes à classe média e residentes no
estado de São Paulo. Caracteriza-se como pertencentes à classe média as pessoas
com renda domiciliar equivalente a classe C que está compreendida entre
43

R$2.004,00 e R$8.640,00 com uma renda média de R$ 4.912,00 a preços de janeiro


de 2014 ajustados pelo custo de vida local, de acordo com Neri (2019). Também
vale ressaltar que as participantes que responderam o questionário no Google
Forms não participaram da pesquisa qualitativa através da entrevista
semiestruturada.
Para caracterizar a amostra, tanto da pesquisa quantitativa quanto da
qualitativa, as participantes preencheram um perfil socioeconômico, em que consta:
idade, cidade em que reside, estado civil, número de filhos, renda familiar, nível de
instrução etc. (vide apêndice 1).
O tipo de amostra foi a estratificada e por bola de neve. O tipo de amostra
estratificada é caracterizado, segundo Gil (2017), por subgrupos da população em
que se pretende estudar, definindo estratos em propriedades como sexo, idade ou
classe social. O tipo bola de neve se caracteriza por conter participantes que são
recrutados a partir da relação pessoal das pessoas dispostas a indicar contatos, o
que pode emprestar confiabilidade ao entrevistador, de acordo com Becker (1993).
Os estratos utilizados para selecionar as participantes da pesquisa qualitativa
foram os mesmos critérios de inclusão: mulheres de 20 a 40 anos de idade,
pertencentes à classe média segundo Neri (2019) e residentes no estado de São
Paulo.

3.3 LOCAL DA PESQUISA

A pesquisa quantitativa foi divulgada pela internet por meio de redes sociais
como Facebook, Linkedin, Instagram e WhatsApp e teve participantes apenas do
estado de São Paulo. A pesquisa qualitativa foi realizada na residência da
participante, a fim de que ela pudesse se sentir confortável para responder a
entrevista. Todos os cuidados foram tomados para que não houvesse intromissões
de outras pessoas durante a entrevista e foi esclarecido para a participante a
necessidade da entrevista ser em um local da casa em que ficasse garantida a não
passagem de pessoas durante sua execução.
44

3.4 INSTRUMENTOS

Para a pesquisa quantitativa, foi utilizado um questionário online. Este


instrumento foi utilizado questionário constitui o meio mais rápido e barato de
obtenção de informações, além de não exigir treinamento de pessoal e garantir o
anonimat 95). Este questionário foi publicado em redes sociais por
meio da ferramenta do Google Forms em formato de questionário fechado (vide
Apêndice 2) e ficou disponível para participação no período de 13/06/2020 até
30/07/2020.
Para a pesquisa qualitativa, foi utilizado como instrumento a entrevista
semiestruturada, que segundo Tavares (2003), é assim denominada porque o
entrevistador tem clareza de seus objetivos e de que tipo de informação deve ser
obtida (perguntas sugeridas ou padronizadas). Pode ser denominada também de
entrevista guiada, com formulação e sequência definidas no curso da entrevis
(GIL, 2017, p. 109). Foi utilizado um gravador de voz para a entrevista e, após
transcrever na íntegra a entrevista, o áudio foi apagado.

3.5 COLETA DE DADOS

Esta pesquisa passou por análise e aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa


e o parecer consubstanciado se encontra no anexo 3. Número do CEP/CAAE
(Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa): 29529720.2.0000.5501.
Para a pesquisa quantitativa, o recrutamento das mulheres para responder ao
questionário no Google Forms foi por meio de uma divulgação nas redes sociais
Facebook, Linkedin, Instagram e WhatsApp. Inicialmente contendo um texto
introdutório que explicou do que se tratava a pesquisa e, se a participante decidisse
responder o questionário, primeiramente leu o TCLE (vide anexo 1) e somente
mediante o aceite com um click teve acesso ao questionário e, em seguida,
respondeu o perfil socioeconômico.
45

Para a pesquisa qualitativa, foram contatadas mulheres da rede da


pesquisadora que estavam dentro dos critérios de inclusão e foram informadas sobre
a pesquisa, bem como de sua contribuição ao participar. Mediante a aceitação da
participante, foi confirmado um dia e horário previamente agendado para a aplicação
do instrumento. Neste dia, inicialmente foi esclarecido que a presente pesquisa
respeita todas as exigências éticas cabíveis recomendadas pelo Conselho Federal
de Psicologia e Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Taubaté, através
do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, que foi assinado antes da
entrevista (vide Anexo 2). Foi entregue uma cópia do TCLE à participante com a
assinatura da pesquisadora. Em um segundo momento, foi realizada a entrevista
semiestruturada com um gravador de voz, tendo como base um roteiro previamente
estabelecido a partir nos objetivos desta pesquisa (vide apêndice 3). Após a
entrevista, foi preenchido o perfil socioeconômico da participante a fim de
caracterizar a amostra.

3.6 ANÁLISE DE DADOS

Para a análise de dados da presente pesquisa, foram utilizadas as análises


quantitativa e qualitativa. Segundo Gil (2017), em uma análise quantitativa, os dados
são analisados por meio de procedimentos estatísticos, que foi o caso do
questionário. Já a análise qualitativa se utiliza de procedimentos adequados à
construção teórica desenvolvida na pesquisa, na qual se encaixam as entrevistas.
Esta pesquisa se apropriou de categorias de quantificação na análise
quantitativa de cálculos de porcentagens, médias e correlações estatísticas (GIL,
2017, p. 103), foram utilizadas aqui apenas a somatória das respostas e
porcentagens para melhor visualização e a comparação das respostas. E para a
análise quantitativa, apropriou-se de categorias de conteúdo, que se destinam a
classificar e categorizar qualquer tipo de conteúdo, reduzindo suas características a
elementos-chave, de modo que sejam comparáveis a uma série de outros elementos
(CARLOMAGNO; ROCHA, 2016, p. 175). Tendo como base os objetivos específicos
desta pesquisa, foram definidas três categorias de conteúdo: decisões que
favorecem a educação financeira e a autonomia da mulher; decisões que dificultam
46

a educação financeira e a autonomia da mulher; e diferenças entre tomadas de


decisão de mulheres que são mães e as das que não são.
47

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nesta sessão, serão apresentados os resultados da pesquisa quantitativa e


qualitativa. Primeiro, será apresentada a amostra e sua caracterização e, em
seguida, as pesquisas quantitativa e qualitativa com suas respectivas análises, tendo
como base para sua discussão os teóricos da psicologia econômica e da abordagem
sistêmica.

4.1 CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA QUANTITATIVA

A seguir, será apresentada a caracterização da amostra quantitativa.

QUADRO 1 Cidade de residência


CIDADE QTDE
Taubaté 44
São Paulo 14
São José dos Campos 5
Caçapava 5
Pindamonhangaba 3
Tremembé 3
Guarulhos 1
Jacareí 2
Lorena 2
Santo Antonio do Pinhal 2
Campinas 1
Campo Limpo 1
Embu das Artes 1
Itapevi 1
Mairiporã 1
Osasco 1
Ribeirão Preto 1
São Bernardo do Campo 1
São Luiz do Paraitinga 1

Fonte: dados obtidos por meio do questionário online elaborado pela autora.
48

FIGURA 1 Cidade de residência

Fonte: dados obtidos por meio do questionário online elaborado pela autora.

Conforme exposto na quadro e no gráfico acima, 49% da população, ou seja,


aproximadamente metade da amostra, reside na cidade de Taubaté - SP; 16%
reside na cidade de São Paulo SP; e o restante da amostra, 35%, reside em
cidades variadas do estado de São Paulo, sendo a maioria localizada na região do
Vale do Paraíba. Desse modo, a população avaliada é composta, principalmente,
por mulheres das cidades de Taubaté e São Paulo, com participação variada das
cidades da região do Vale do Paraíba.

QUADRO 2 Estado Civil


ESTADO CIVIL QTDE
Solteira 54
Casada 20
União estável 8
Noiva 4
Solteira com filho(s) 2
Divorciada 2
Viúva 0

Fonte: dados obtidos por meio do questionário online elaborado pela autora.
49

FIGURA 2 Estado Civil

Fonte: dados obtidos por meio do questionário online elaborado pela autora.

60% das participantes informaram ser solteiras, isto é, representando a maior


parte da amostra. Pouco mais de um quinto (22%) são casadas e as demais (18%)
se encontram em união estável, noivas, solteiras com filho(s) e divorciadas.
Nenhuma participante informou ser viúva. Com esses dados, pode-se constatar que
a maioria das participantes se encontram na fase de aquisição conforme Berthoud
(2010).

QUADRO 3 Tipo de moradia


TIPO DE MORADIA QTDE
Moradia própria 21
Moradia alugada 30
Moradia cedida 6
Mora com parentes 33

Fonte: dados obtidos por meio do questionário online elaborado pela autora.
50

FIRUGA 3 Tipo de moradia

Fonte: dados obtidos por meio do questionário online elaborado pela autora.

Com relação ao tipo de moradia que a população relatou, 37% mora com
parentes, 33% mora em imóvel alugado, 23% possui moradia própria e apenas 7%
reside em moradia cedida. Podemos constatar, a partir destes dados, que menos de
um quarto da amostra (23%) reside em imóvel próprio, compondo o seu patrimônio,
e o restante (77%) reside em moradia de terceiros.

QUADRO 4 Com quem reside


COM QUEM RESIDE QTDE
Pais e irmãos 30
Cônjuge 18
Pais ou responsáveis 16
Cônjuge e filho(s) 10
Mora sozinha 5
Parentes (avós, tios, primos etc.) 4
Amigas 3
Filho(s) 2
Colegas 1
Namorado 1

Fonte: dados obtidos por meio do questionário online elaborado pela autora.
51

FIGURA 4 Com quem reside

Fonte: dados obtidos por meio do questionário online elaborado pela autora.

Com relação às pessoas com quem a participante reside, encontra-se 33%


com pais e irmãos, na maioria; 20% mora com cônjuge; 18% com pais ou
responsáveis; 11% com cônjuge e filho(s) e os 18% restantes se distribuem entre
morar sozinha, com parentes, amigas, filhos e colegas. Estes dados também
apontam para o fato de que, possivelmente, a maioria das participantes esteja na
fase de aquisição do seu ciclo de vida familiar (BERTHOUD, 2010). O fato de ainda
morarem com os pais e irmãos também pode indicar que são filhas cangurus.

QUADRO 5 Se a participante possui filhos na relação atual


TEM FILHOS NA RELAÇÃO ATUAL QTDE
Não 79
1 filho(a) 7
2 filhos(as) 4
3 filhos(as) 0
Mais de 4 filhos(as) 0

Fonte: dados obtidos por meio do questionário online elaborado pela autora.
52

FIGURA 5 Se a participante possui filhos na relação atual

Fonte: dados obtidos por meio do questionário online elaborado pela autora.

88% das participantes, a maioria, informou não ter filhos(as), 8% informou ter
um filho(a) e apenas 4% informou ter dois filhos(as). Isto é, quase toda a amostra se
caracteriza por mulheres que não são mães.

QUADRO 6 Se a participante possui filhos de outra relação


TEM FILHOS DE OUTRA RELAÇÃO QTDE
Não 85
1 filho(a) 3
2 filhos(as) 2
3 filhos(as) 0
Mais de 4 filhos(as) 0

Fonte: dados obtidos por meio do questionário online elaborado pela autora.
53

FIGURA 6 Se a participante possui filhos de outra relação

Fonte: dados obtidos por meio do questionário online elaborado pela autora.

Reforçando o que foi apontado no gráfico 5, quase todas as participantes


apresentaram não ter filhos nem mesmo de outra relação. Apenas 5% informou ter
filhos de outra relação, sendo 3% apenas um filho(a) e 2% dois filhos(as).
Considerando os dados dos dois gráficos, somente 12% da amostra total possui
filhos.

QUADRO 7 Idade
IDADE QTDE
De 20 a 25 anos 52
De 25 a 30 anos 21
De 30 a 35 anos 9
De 35 a 40 anos 8

Fonte: dados obtidos por meio do questionário online elaborado pela autora.
54

FIGURA 7 Idade

Fonte: dados obtidos por meio do questionário online elaborado pela autora.

No que diz respeito à idade das participantes, 58% informou ter entre 20 e 25
anos; 23% informou ter entre 25 e 30 anos; 10% entre 30 e 35 anos; 9% entre 35 e
40 anos. Estes dados mostram que a maior parte da população que respondeu ao
questionário se caracteriza por mulheres na fase de juventude e início da vida
adulta, como é estabelecido pela WHO (1986). Um fator que pode ter colaborado
para o número elevado de participantes nesta faixa etária é que, geralmente, o
público mais jovem possui mais acesso e facilidade para lidar com os meios de
comunicações digitais.

QUADRO 8 Idade dos filhos

IDADE DOS FILHOS QTDE


De 0 a 3 anos 18
De 3 a 6 anos 1
De 6 a 11 anos 1
De 11 a 18 anos 3
De 18 a 25 anos 1
Acima de 25 anos 0

Fonte: dados obtidos por meio do questionário online elaborado pela autora.
55

FIGURA 8 Idade dos filhos

Fonte: dados obtidos por meio do questionário online elaborado pela autora.

Em relação à idade dos filhos das participantes, 75% tem entre 0 e 3 anos, ou
seja, a maioria. Dos outros 25% restantes, 13% tem filhos com idade entre 11 e 18
anos; 4% de 6 a 11 anos; e igualmente 4% para idades entre 3 e 6 anos e entre 18 e
25 anos. Este gráfico também confirma que a maior parte das participantes que são
mães estão na fase de aquisição proposta por Berthoud (2010), pois possuem ainda
bebês ou filhos ainda na primeira infância.

QUADRO 9 Nível de escolaridade


ESCOLARIDADE QTDE
Ensino Superior Incompleto 46
Ensino Superior Completo 26
Pós Graduação 10
Ensino Médio Completo 3
Formação técnica 3
Ensino Médio Incompleto 1
Doutorado 1
Ensino Fundamental Incompleto 0
Ensino Fundamental Completo 0
Mestrado 0
Pós Doutorado 0

Fonte: dados obtidos por meio do questionário online elaborado pela autora.
56

FIGURA 9 Nível de escolaridade

Fonte: dados obtidos por meio do questionário online elaborado pela autora.

Conforme aponta o gráfico 9, 51% das participantes possui ensino superior


incompleto, isto é, a maioria; 29% possui superior completo; 11% possui pós-
graduação, 4% possui ensino médio completo, 3% possui formação técnica, 1%
ensino médio incompleto e 1% doutorado. Considerando que todas as participantes
que estão entre ensino superior incompleto e pós-graduação correspondem a 92%
da amostra, podemos constatar que a maioria da amostra é composta por mulheres
que possuem ensino superior ou mais.

QUADRO 10 Profissão
PROFISSÃO QTDE
Assalariado 45
Não trabalha 28
Autônomo 11
Profissional liberal 6
Aposentada 0

Fonte: dados obtidos por meio do questionário online elaborado pela autora.
57

FIGURA 10 Profissão

Fonte: dados obtidos por meio do questionário online elaborado pela autora.

Metade da amostra (50%) se enquadrou no grupo de pessoas assalariadas;


31% informou que não trabalha; 12% informou ser autônoma e 7% informou ser
profissional liberal. Nenhuma participante informou ser aposentada. No total, 88% da
amostra possui algum tipo de atividade profissional, sendo a maioria assalariada, ou
seja, trabalha para terceiros, e o restante da amostra se declarou autônoma e
profissional liberal, confirmando que essa parcela possui alguma formação na área
em que atua.

QUADRO 11 Renda familiar


RENDA FAMILIAR QTDE
De 1 a 3 salários 39
De 4 a 5 salários 26
De 6 a 10 salários 25
De 11 a 20 salários 0
De 21 a 30 salários 0
Até 1 salário 0
Mais de 31 salários 0

Fonte: dados obtidos por meio do questionário online elaborado pela autora.
58

FIGURA 11 Renda familiar

Fonte: dados obtidos por meio do questionário online elaborado pela autora.

Com relação à renda familiar informada pelas participantes, 43% possui de 1


a 3 salários, 29% possui de 4 a 5 salários e 28% possui de 6 a 10 salários.
Nenhuma participante informou ter até 1 salário ou mais de 11 salários. Sendo
assim, todas as participantes se enquadram dentro da classe média conforme
exposto por Neri (2019).

QUADRO 12 Quem mantém a renda familiar


QUEM MANTÉM A RENDA QTDE
Pelo homem e complementado pela mulher 21
Por ambos igualmente 18
Somente pela mulher 17
Somente pelo homem 14
Pela mulher e complementado pelo homem 9
Complementado pelos filhos 1
Outros 10

Fonte: dados obtidos por meio do questionário online elaborado pela autora.
59

FIGURA 12 Quem mantém a renda familiar

Fonte: dados obtidos por meio do questionário online elaborado pela autora.

Com relação a quem mantém a renda familiar informada pelas participantes,


em 25% dos casos é mantida pelo homem e complementada pela mulher; 22%
mantida por ambos igualmente; 17% mantida somente pela mulher; 15% mantida
somente pelo homem; 10% mantida pela mulher e complementada pelo homem e
1% representando situações específicas informadas pelas participantes que serão
apresentadas abaixo.

QUADRO 13 Quem mantém a renda familiar 2


OUTROS QTDE
Mãe e filhos 4
Todos os membros da casa 3
Casal de mulheres 1
Pais e filha 1
Pais e irmãos 1

Fonte: dados obtidos por meio do questionário online elaborado pela autora.
60

Quatro participantes informaram que tem a renda familiar mantida pela mãe e
filhos. Diante desta situação, pode-se interpretar que há mulheres inseridas em
contextos familiares em que não há o provento de um homem para atender as
necessidades da família e os filhos participam desta questão de ajudar com as
questões financeiras da família. 3 participantes informaram que todos os membros
da casa auxiliam na renda familiar, sem especificar se são os pais, os filhos ou
outros. Uma participante informou que a renda é mantida por um casal de mulheres,
ou seja, uma família em que duas mulheres compõem a renda familiar. Uma
participante informou que a renda é mantida por pais e filha e uma outra participante
informou que é mantida por pais e irmãos, evidenciando mais uma vez que os filhos,
em alguns casos, também colaboram com a renda familiar.

4.2 RESULTADO DA PESQUISA QUANTITATIVA

A seguir, serão apresentados os resultados do questionário online (vide


Apêndice 2).

QUADRO 14 Em sua opinião, o que é uma educação financeira?


Em sua opinião, o que é uma educação financeira? QTDE %
Investir dinheiro e bens 0 0,0
Poupar/economizar dinheiro 1 1,1
Outros 4 4,4
Saber administrar os bens 10 11,1
Tomar decisões conscientes de consumo 23 25,6
Ter um planejamento financeiro 52 57,8

Fonte: dados obtidos por meio do questionário online elaborado pela autora.
61

FIGURA 13 Em sua opinião, o que é uma educação financeira?

Fonte: dados obtidos por meio do questionário online elaborado pela autora.

57,8% das participantes afirmou que educação financeira é ter uma


planejamento financeiro; 25,6% afirmou que é tomar decisões conscientes de
consumo; 11,1% afirmou que é saber administrar bens; 1,1% afirmou que é
poupar/economizar dinheiro; 4,4% informou outras respostas que serão discutidas
abaixo; nenhuma informou que é investir dinheiro e bens.
De acordo com os resultados obtidos para esta pergunta, a maioria das
mulheres, pouco mais da metade, concordou que a educação financeira está
diretamente ligada a um planejamento financeiro, corroborando com o que aponta
D Aquino (2001) ao afirmar a importância do planejamento de gastos dentro da
educação financeira. Cerca de um quarto da amostra concorda que tomar decisões
conscientes de consumo é o que define a educação financeira, que também não
está muito distante do que é exposto por D Aquino (2001) e Zagury (2003) ao
dizerem que é preciso desenvolver a tolerância de satisfação e senso da
diferenciação de desejos e necessidades quanto ao uso do dinheiro. Esta percepção
de tolerância também se enquadra na questão de saber administrar os bens,
compondo pouco mais de um décimo das respostas.
Apesar de a maioria das respostas estar ligada ao ato de planejar, tomar
decisões e administrar, apenas 1,1% da amostra informou que educação financeira
é poupar/economizar dinheiro. Esta questão contrapõe então as questões anteriores,
62

já que o ato de não poupar/economizar mostra uma certa dificuldade do indivíduo


em fazer escolhas pensando a longo prazo, priorizando desejos e necessidades
imediatas (FERREIRA, 2007).

QUADRO 15 Respostas específicas


OUTROS QTDE
É tudo isso, é saber planejar seu dinheiro para pagar as contas e se
possível conseguir poupar dinheiro ou investir em algum bem, e claro
1
para fazer tudo isso é necessário ter decisões conscientes de
consumo.
Um conjunto de todas as alternativas citadas além de controle
1
emocional.
Todas as alternativas 2

Fonte: dados obtidos por meio do questionário online elaborado pela autora.

A quadro 15 se refere aos 4,4% das participantes que apresentaram


diferentes respostas. A primeira resposta abrange todas as questões que compõe a
educação financeira, conforme os autores apresentados na revisão de literatura,
explicitando a importância de cada ponto como planejar, poupar, investir e ter
decisões conscientes de consumo. A segunda resposta também apresenta uma
compreensão de todos esses aspectos, somando-se ao controle emocional, que,
conforme dito por Ferreira (2007), é um componente decisivo na educação
financeira. Por fim, duas participantes informaram que educação financeira se trata
de todas as alternativas anteriores, apresentando também uma percepção mais
abrangente do que de fato é a educação financeira.
63

QUADRO 16 Quais as formas que você usa o seu dinheiro que leva a uma
educação financeira?
Quais as formas que você usa o seu dinheiro que leva a QTDE %
uma educação financeira?
No momento não estou guardando 2 1,3
Doa dinheiro 7 4,5
Empresto dinheiro a amigos e familiares 9 5,7
Tenho previdência privada 11 7,0
Guardo mais do que gasto 16 10,2
Faço investimentos em instituições financeiras e/ou em bancos 32 20,4
Guardo e gasto esporadicamente 39 24,8
Guardo e gasto todo mês 41 26,1

Fonte: dados obtidos por meio do questionário online elaborado pela autora.

FIGURA 14 Quais as formas que você usa o seu dinheiro que leva a uma
educação financeira?

Fonte: dados obtidos por meio do questionário online elaborado pela autora.

26,1% respondeeu que guarda e gasta todo mês; 24,8% respondeu que
guarda e gasta esporadicamente, 20,4% respondeu que faz investimentos em
instituições financeiras e/ou em bancos; 10,2% respondeu que guarda mais do que
gasta; 7,0% respondeu que tem previdência privada; 5,7% respondeu que empresta
dinheiro a amigos e familiares; 4,5% respondeu que doa dinheiro e 1,3% respondeu
que não está guardando dinheiro no momento.
64

A maior parte das participantes informou que guarda dinheiro, seja mensal ou
esporadicamente, além de fazer investimentos financeiros. Este dado mostra que a
população da amostra apresenta certo conhecimento sobre educação financeira,
fazendo escolhas mais críticas e a longo prazo, de acordo com o que diz Kahneman
(2012) sobre fazer escolhas utilizando o S2, planejando suas ações futuras por meio
deste dinheiro que é poupado. Apesar de terem uma porcentagem menor em
relação às outras alternativas, a presença das parcelas correspondentes a guardar
mais do que ganhar e ter uma previdência privada também enfatizam que as
mulheres dessa pesquisa possuem planejamento de longo prazo.
As atitudes de emprestar dinheiro, representada nesta pesquisa por 5,7%, e
de doar dinheiro, representada por 4,5 %, quando acontece com amigos e familiares
diz respeito ao que é apresentado por Tobias e Cerveny (2012) sobre as implicações
éticas e morais que o uso do dinheiro pode trazer. É importante que essas atitudes
sejam tomadas mediante escolhas conscientes dos indivíduos, tendo em vista o uso
do dinheiro sem subornos, sem desmoralizar terceiros, de forma que não venha
prejudicar a si e aos outros (TOBIAS; CERVENY, 2012).

QUADRO 17 O que faz você se sentir segura e confiante para tomar decisões?
O que faz você se sentir segura e confiante para
tomar decisões? QTDE %
Ter a ajuda de alguém 11 3,1
Ter investimentos financeiros 25 7,0
Não depender de ninguém 39 10,9
Ter prioridades e objetivos bem claros 48 13,4
Poder comprar/pagar por coisas que eu quero 53 14,8
Ter um planejamento de gastos 55 15,4
Ter uma renda própria 62 17,4
Ter uma reserva financeira 64 17,9

Fonte: dados obtidos por meio do questionário online elaborado pela autora.
65

FIGURA 15 O que faz você se sentir segura e confiante para tomar decisões?

Fonte: dados obtidos por meio do questionário online elaborado pela autora.

Com relação a se sentir segura e confiante para tomar decisões, 17,9%


afirmou que isso se dá ao ter uma reserva financeira; 17,4% afirmou que isso se dá
ao ter uma renda própria; 15,4% ao ter um planejamento de gastos; 14,8% ao poder
comprar/pagar por coisas que quer; 13,4% ao ter prioridades e objetivos bem claros;
10,9% ao não depender de ninguém; 7,0% ao ter investimentos financeiros e 3,1%
afirmou que isso se dá ao ter ajuda de alguém.
Contrapondo o que foi dito no quadro 14, aqui a maioria das participantes
informou que ter uma reserva financeira e ter uma renda própria são as principais
condições para se ter os sentimentos de segurança e confiança para tomar
decisões, diferente da primeira questão em que o planejamento financeiro ficou em
primeiro lugar. Neste quadro, o planejamento financeiro também teve bastante peso,
mas apareceu na terceira posição. Levando em consideração o conceito de Sistema
2 da teoria de Kahneman (2012), é muito provável que as respostas acima foram
pensadas a partir do S2, visto que o ato de poupar dinheiro está ligado à ideia de
planejamento a longo prazo, isto é, um pensamento crítico que visa atender não
somente as necessidades imediatas, mas também as futuras. Apesar de ter ficado
com uma pontuação um pouco abaixo, a alternativa de ter prioridades e objetivos
bem claros também demonstra que as mulheres apresentam uma maior
racionalização quanto ao uso do dinheiro, visto que essa alternativa expõe clareza
66

quanto a atender não apenas desejos que devem ser imediatos, mas a satisfação
futura também.
Quanto à opção de ter uma renda própria, podemos analisar essa questão
sob a ótica de Bowen (1978) ao falar sobre a diferenciação do self para
desenvolvimento da autonomia emocional. Ao adquirir uma renda própria, a pessoa
passa a ter mais autonomia sobre suas ações no mundo, algo que pode vir a
contribuir para a autonomia emocional da pessoa, pois este recurso financeiro lhe
proporcionará o poder de escolha de consumo. O aspecto de diferenciação do self
também se liga às alternativas de poder comprar/pagar por coisas que quer e de não
depender de ninguém, já que é a partir dessa diferenciação que o indivíduo passa a
ter a autocrítica de discernir quais serão suas escolhas, neste caso, que decisões irá
tomar com o uso do dinheiro. Dessa forma, ter o sentimento de poder adquirir algo e
não depender de ninguém para isso mostra que as mulheres desta amostra
possuem uma percepção de que é importante desenvolver a sua autonomia, ou
diferenciação do seu self, para então ter o sentimento de segurança e confiança de
suas escolhas.
Ter investimentos financeiros apareceu com uma das menores pontuações,
entretanto essa questão também enfatiza que as mulheres estão começando a
desenvolver de forma mais profunda sua autonomia, já que gerir seu próprio
patrimônio também traz uma demanda de sentimento de segurança diante de suas
atitudes.
Por fim, a alternativa com menor pontuação para esta pergunta foi ter a ajuda
de alguém. Neste ponto, pode-se constatar que ainda há um sentimento de
dependência por parte de algumas mulheres em relação ao seu sentimento de
segurança e confiança. Como também é dito por Kerr e Bowen (1988), há uma
atitude reativa quando a pessoa não possui uma autonomia emocional desenvolvida,
fazendo com que a pessoa tenha dificuldade de separar o sentimento, ou seja, seu
desejo imediato, do pensamento, que é a sua percepção racional perante as
situações de escolha. Por não conseguir fazer essa distinção, a pessoa acaba por
depositar a responsabilidade de suas escolhas sobre outro, gerando, assim, este
sentimento de dependência da ajuda do outro para se sentir segura.
67

QUADRO 18 Em sua opinião, quais são as decisões financeiras que te


proporcionam uma autonomia?
Em sua opinião, quais são as decisões financeiras que te
proporcionam uma autonomia? QTDE %
Pagar seguro de vida 0 0,0
Pagar previdência privada 1 1,1
Outros 3 3,3
Não emprestar dinheiro de amigos, familiares e de instituições
5 5,6
financeiras
Guardar dinheiro esporadicamente 6 6,7
Fazer investimentos 16 17,8
Guardar mais do que gastar 17 18,9
Guardar dinheiro todo mês 42 46,7

Fonte: dados obtidos por meio do questionário online elaborado pela autora.

FIGURA 16 Em sua opinião, quais são as decisões financeiras que te


proporcionam uma autonomia?

Fonte: dados obtidos por meio do questionário online elaborado pela autora.

46,7% respondeu que guardar dinheiro todos os meses é o que lhe


proporciona autonomia; 18,9% respondeu que é guardar mais do que gastar; 17,8%
respondeu que é fazer investimentos; 6,7% respondeu que é guardar dinheiro
esporadicamente; 5,6% respondeu que é não emprestar dinheiro de amigos,
familiares e instituições financeiras; 3,3% informou outras respostas que serão
68

analisadas abaixo; 1,1% respondeu que é pagar previdência privada. Nenhuma


participante escolheu a alternativa de pagar seguro de vida.
Reforçando o que foi exposto na análise da questão anterior, esta pergunta
mostra claramente que o ato de guardar dinheiro possui um valor considerável para
que as mulheres desenvolvam sua autonomia. Na percepção delas, ao decidir
guardar dinheiro, as mulheres estão contribuindo para a sua autonomia. Guardar
mais do que ganhar e fazer investimentos foram as alternativas com pontuação mais
próxima e estão um pouco relacionadas. Guardar mais do que gastar demostra uma
atitude racional e planejada, mais uma vez contribuindo para a autonomia, bem
como fazer investimentos, já que, para isso, primeiro precisa-se poupar para, então,
escolher qual a melhor forma de aplicar esse dinheiro poupado. Fazer investimentos
financeiros trata-se de lançar mão da capacidade do S2 (KAHNEMAN, 2012), visto
que este possui a sofisticação necessária para analisar os riscos e um melhor
julgamento dos critérios necessários para essas aplicações, encontrando soluções
mais adequadas. Ainda que a alternativa de pagar previdência privada tenha tido a
menor pontuação, cabe ressaltar aqui que esta também é uma atitude que apresenta
o pensamento a longo prazo e, consequentemente, a percepção do S2 sob o
julgamento do uso do dinheiro.
As alternativas guardar dinheiro esporadicamente e não emprestar dinheiro
de amigos, familiares e de instituições financeiras também tiveram pontuação bem
próxima. No primeiro caso, não há um costume periódico de guardar dinheiro, o que
consta, muito provavelmente, casos de mulheres que ainda não tiveram muito
contato com a educação financeira; mas também apresenta um aspecto positivo de
que há a decisão, mesmo que esporádica, de guardar parte dos seus rendimentos.
No segundo caso, há uma percepção de diferenciação do self (BOWEN, 1978) e de
crítica diante de uma decisão ligada à educação financeira. Conforme exposto por
Tobias e Cerveny (2012), para saber usar o dinheiro de forma consciente e com
cidadania, há de se pensar na não dependência de outros ao tomar suas próprias
decisões. As mulheres que escolheram esta alternativa apresentam a percepção de
que, para desenvolverem sua autonomia, precisam ser diferenciadas do outro
(diferenciação do self), assumindo a responsabilidade por suas decisões, e não
esperarem a aprovação ou interferência de terceiros nas suas escolhas.
As respostas apontadas como outros para esta pergunta serão analisadas a
seguir.
69

QUADRO 19 Respostas específicas


OUTROS QTDE
Controlar gastos 1
Fazer um planejamento de gastos 1
Ter dinheiro próprio, fazer investimentos, pagar por previdência
privada, gastar com consciência pensando em como acarretará 1
no futuro

Fonte: dados obtidos por meio do questionário online elaborado pela autora.

Uma das respostas foi controlar gastos, algo que também está relacionado ao
pensamento crítico e à educação financeira diretamente, conforme visto
anteriormente. Neste caso, a participante aponta que a atitude de controlar os gastos
proporciona a autonomia. Na segunda resposta, fazer um planejamento de gastos,
também se trata dos mesmos aspectos da primeira resposta, ressaltando mais uma
vez como o planejamento financeiro é visto como um fator importante para
desenvolvimento da autonomia. A terceira e última resposta nada mais é do que a
junção de todas as características citadas sobre educação financeira. Esta
participante provavelmente possui uma percepção mais ampliada acerca da
educação financeira e apresenta todas as características como promotoras da
autonomia.

QUADRO 20 Qual a forma que você usa o dinheiro que dificulta uma educação
financeira?
Qual a forma que você usa o dinheiro que dificulta uma
educação financeira? QTDE %
Esquecer de pagar contas 4 4,5
Não fazer orçamento familiar a cada mês 8 9,0
Outros 9 10,1
Gastar mais do que ganha 12 13,5
Pagar dívidas e/ ou empréstimos 15 16,9
Não ter uma preparação para a aposentadoria 18 20,2
Não ser organizado nas finanças 23 25,8

Fonte: dados obtidos por meio do questionário online elaborado pela autora.
70

FIGURA 17 Qual a forma que você usa o dinheiro que dificulta uma educação
financeira?

Fonte: dados obtidos por meio do questionário online elaborado pela autora.

Sobre a forma que as mulheres usam o dinheiro e que dificulta uma educação
financeira, 25,8% respondeu que é não ser organizado nas finanças; 20,2% que é
não ter uma preparação para aposentadoria; 16,9% respondeu que é pagar dívidas
e/ou empréstimos; 13,5% respondeu que é gastar mais do que ganha; 10,1%
informou respostas específicas que serão analisadas abaixo; 9,0% respondeu que é
não fazer orçamento familiar a cada mês e 4,5% respondeu que é esquecer de
pagar contas.
Neste quadro, pode-se identificar que o fator organização com o uso do
dinheiro é destaque nas dificuldades de uma educação financeira. Diante do
comportamento financeiro, a organização está associada à atitude de fazer um
planejamento, bem como guardar e investir dinheiro, ações, estas, que
proporcionam ao indivíduo maior aproveitamento de seus recursos financeiros, tendo
em vista que o dinheiro é um fator de estruturação das relações que as pessoas
desenvolvem (WEATHERFORD, 2005). Neste caso, pouco mais de um quarto das
mulheres desta pesquisa compreende que não ser organizada nas finanças impacta
na forma como usam o seu dinheiro, dificultando a educação financeira. Mesmo com
pontuações inferiores, com 9,0% e 4,5% respectivamente, os comportamentos de
não fazer orçamento familiar a cada mês e de esquecer de pagar as contas também
71

se enquadra nesta questão, visto que o planejamento financeiro pessoal é


importante, mas há de se considerar o contexto familiar em que a mulher está
inserida.
20,2% afirma que não ter uma preparação para a aposentadoria é uma das
dificuldades para a educação financeira, tendo a segunda maior pontuação. Neste
ponto, compreende-se que as mulheres desta amostra também percebem que o
planejamento para longevidade é necessário, evidenciando também que há a
necessidade de se desenvolver o pensamento por meio do S2, o sistema mais
crítico e planejador da mente (KAHNEMAN, 2012).
Os comportamentos de pagar dívidas e/ou empréstimos e gastar mais do que
ganha podem ser analisados segundo a mesma perspectiva descrita acima. Nestes
dois casos, há uma consequência negativa para a promoção da educação
financeira, já que são comportamentos contrários ao que é ensinado nesta
modalidade de educação. Estes comportamentos também estão associados a uma
certa dificuldade de tolerância à satisfação imediata, levando a pessoa a tomar
decisões guiadas pelo S1, isto é, tomar decisões sem embasamento racional,
decisões que são impulsivas para gerar conforto imediato, conforme dito por
Kahneman (2012). Esta impulsividade no comportamento em relação ao uso do
dinheiro também pode ser explicado pelo conceito de desconto hiperbólico proposto
por Ferreira (2007), pois, ao tentar satisfazer esses desejos imediatos e impulsivos,
a pessoa pode ter uma percepção distorcida das verdadeiras consequências, como
a atitude de pegar um empréstimo, por exemplo, o que pode gerar uma dívida.
Abaixo, serão analisadas as respostas apontadas na opção como outros .

QUADRO 21 Respostas específicas


OUTROS QTDE
Consumo 1
É mais uma sensação de culpar em gastar, mesmo que eu não
1
tenha pagado caro
Empresta dinheiro para família e eles não pagar no mês que
1
falaram
Felizmente, lido bem com o tema 1
Não me aprofundar no conhecimento em investimentos 1
Não prático nenhuma das alternativas acima 3
Receber menos do que preciso para as contas mensais 1

Fonte: dados obtidos por meio do questionário online elaborado pela autora.
72

Com a resposta consumo , levanta-se a hipótese de que a participante


entende este comportamento como prejudicial para a sua educação financeira, não
especificando de que forma este consumo se mostra prejudicial, mas há de se
considerar que quando o consumo se torna desenfreado, este comportamento traz
consequências negativas nas finanças da pessoa, conforme foi apontado na questão
de contratar um empréstimo.
A segunda resposta indica que existe um sentimento de culpa ao comprar
algo, mesmo não sendo considerado algo de alto valor, como apontado pela
participante. Neste caso, identifica-se também a atuação do S1 em consumir, já que
o sentimento de culpa geralmente é assimilado pelo indivíduo após a execução da
ação, percebendo seu próprio comportamento como inadequado.
Na terceira resposta, a participante traz o comportamento de emprestar
dinheiro para familiares como algo que dificulta sua educação financeira. Ao não
receber o dinheiro no período estipulado, a pessoa que emprestou o dinheiro se
percebe sem acesso ao recurso financeiro que esperava ter, prejudicando de fato
sua própria organização financeira. Aqui também se evidencia uma relação de
dependência por parte da participante e seus familiares, pois, ao emprestar o
dinheiro aos familiares, ela os torna dependentes dela, provocando a dependência
emocional dos envolvidos e dificultando a autonomia de todos segundo a teoria de
Bowen (1978).
Uma das participantes relatou que não possui comportamentos que dificultam
a educação financeira, afirmando que lida bem com o tema . Esta resposta indica
que, quando a educação financeira é aplicada, as dificuldades com o uso do dinheiro
tendem a diminuir para as mulheres.
Com a resposta não me aprofundar no conhecimento em investimentos ,
entende-se que a participante percebe o seu não conhecimento sobre investimentos
como algo que dificulta sua educação financeira. Desse modo, a participante
reconhece que o conhecimento sobre as finanças (no caso, investimentos) faz parte
da educação financeira e que é algo que proporciona benefícios quanto ao uso do
dinheiro.
Três participantes informaram que não praticam nenhum dos comportamentos
citados nas alternativas de respostas anteriores. Estas respostas não deixam
nenhuma evidência se as participantes possuem algum comportamento que venha a
dificultar a sua educação financeira.
73

Por fim, a última resposta específica diz respeito à dificuldade relatada pela
participante de manejar suas despesas com o orçamento que lhe é disposto. Sendo
assim, é evidenciado que há uma certa falta de organização por parte da participante
em relação ao seu orçamento, organização, esta, que viria da educação financeira
para colaborar no planejamento dos gastos de acordo com o seu orçamento.

QUADRO 22 Quais as decisões financeiras que dificultam uma autonomia?


Quais as decisões financeiras que dificultam uma
QTDE %
autonomia?
Outros 5 2,4
Pagar dívidas e/ ou empréstimos 20 9,6
Não ter uma preparação para a aposentadoria 25 12,0
Esquecer de pagar contas 27 12,9
Não fazer orçamento familiar a cada mês 30 14,4
Gastar mais do que ganha 47 22,5
Não ser organizado nas finanças 55 26,3

Fonte: dados obtidos por meio do questionário online elaborado pela autora.

FIGURA 18 Quais as decisões financeiras que dificultam uma autonomia?

Fonte: dados obtidos por meio do questionário online elaborado pela autora.

Para esta pergunta, 26,3% das participantes afirma que não ser organizada
nas finanças dificulta a sua autonomia; 22,5% afirma que é gastar mais do que
ganha; 14,4% afirma que é não fazer orçamento familiar a cada mês; 12,9% afirma
que é esquecer de pagar as contas; 12,0% afirma que é não ter uma preparação
74

para a aposentadoria; 9,6% afirma que é pagar dívidas e/ou empréstimos e 2,4%
informou outras respostas.
Diante do que foi exposto na análise do quadro 5, pode-se evidenciar uma
diferença clara na percepção das participantes quanto às dificuldades que
influenciam sua educação financeira e sua autonomia. Com relação ao aspecto de
organização nas finanças, este se mostrou como o aspecto de maior valor nas duas
questões, concordando que não ser organizada nas finanças é um fator de grande
dificuldade para desenvolver sua autonomia. Com isso, pode-se fazer uma
correlação do desenvolvimento da autonomia emocional, segunda a teoria de Bowen
(1978), com o conceito de S2 de Kahneman (2012), pois as mulheres desta
pesquisa compreendem que elas precisam possuir uma própria organização
financeira para serem pessoas autônomas e que esta organização financeira se dá
por meio de um posicionamento crítico de como usar o seu dinheiro. Ou seja, é por
meio do uso do S2 que elas terão embasamento crítico e racional para orientar suas
decisões em relação ao uso do seu próprio dinheiro, promovendo, assim, o
desenvolvimento de sua autonomia, tanto financeira quanto emocional.
Nas demais respostas, houve uma diferença quanto ao valor de cada
resposta para o desempenhar da autonomia. Nesta questão, gastar mais do que
ganha é o segundo fator que mais dificulta a autonomia das mulheres, o que mostra
que a saída de recursos financeiros desproporcional à entrada destes mesmos
recursos afeta diretamente a autonomia das mulheres. Para as respostas de não
fazer orçamento familiar a cada mês, esquecer de pagar as contas, não ter uma
preparação para a aposentadoria e pagar dívidas e/ou empréstimos pode-se
considerar a mesma análise apresentada na questão anterior, pois apenas mudou o
valor de cada resposta.
As respostas apresentadas como outros serão analisadas a partir do quadro
abaixo.
75

QUADRO 23 Respostas específicas


OUTROS QTDE
Estar fazendo outra faculdade. A mensalidade me impede de 1
guardar e investir mais
O tamanho do gasto com contas essenciais 1
Pouco conhecimento na área de investimentos 1
Precisar focar em somente um objetivo no momento 1
Receber uma renda muito baixa 1

Fonte: dados obtidos por meio do questionário online elaborado pela autora.

Quanto à primeira resposta específica, pode-se dizer que a participante sente


dificuldade com o seu custo destinado à faculdade, algo que a impede de guardar e
investir dinheiro, sendo este um fator que dificulta a sua independência financeira,
por outro lado pagar um curso de ensino superior é um investimento.
Na segunda resposta, a participante alega que o alto custo de suas contas
essenciais são a sua dificuldade para exercer autonomia e este fato pode ser
relacionado com a questão da organização financeira que foi discutido no quadro 22,
tendo em vista que os custos podem ser remanejados para ter um melhor
aproveitamento dos recursos financeiros.
A terceira resposta diz respeito a informações mais específicas que envolvem
a educação financeira, pois investimentos são uma forma estratégica de gerir o
patrimônio financeiro, podendo valorizá-lo e/ou multiplicá-lo. Assim, a participante
entende que saber fazer investimentos financeiros poderá melhorar a sua
autonomia.
Na quarta resposta, a participante informa que focar em apenas um objetivo é
algo que dificulta sua autonomia, mostrando uma percepção de que ter mais de um
objetivo é o que lhe proporciona autonomia.
Na quinta e última resposta, evidencia-se que o baixo rendimento da mulher é
um fator que impede o desenvolvimento da autonomia, assim como dito na segunda
resposta, em que os custos são muito altos, esta é uma situação que pode ser
considerada como consequência da diferença exacerbada de salários entre homens
e mulheres no Brasil, conforme aponta o IBGE (2020).
76

QUADRO 24 Você acredita que as decisões que você toma quanto ao uso do seu
dinheiro favorecem a sua autonomia?
Você acredita que as decisões que você
toma quanto ao uso do seu dinheiro QTDE %
favorecem a sua autonomia?
Sim 73 81,1
Não 17 18,9

Fonte: dados obtidos por meio do questionário online elaborado pela autora.

FIGURA 19 Você acredita que as decisões que você toma quanto ao uso do seu
dinheiro favorecem a sua autonomia?

Fonte: dados obtidos por meio do questionário online elaborado pela autora.

81,1% das mulheres desta pesquisa afirma que suas decisões financeiras
favorecem a sua autonomia e 18,9% afirma o contrário. Diante deste dado, cabe
ressaltar o que foi discutido na análise da pergunta 4, pois, ainda que com diversas
dificuldades enfrentadas pela mulher no contexto da educação financeira e do
mercado de trabalho, grande parte delas dispõe do uso do S2 para tomar decisões
mais conscientes ao usar seu dinheiro.
77

4.3 RESULTADO DA PESQUISA QUALITATIVA

A seguir, serão apresentados os resultados das entrevistas semiestruturadas,


que foram realizadas conforme o roteiro que se encontra no Apêndice 3. Primeiro é
apresentado por meio de quadros o perfil socioeconômico das participantes das
entrevistas e, em seguida, é apresentada sua análise.
A análise das entrevistas foi feita por categorização conforme os objetivos
desta pesquisa. Para facilitar a compreensão do leitor nesta sessão, a análise de
cada categoria foi organizada de acordo com as falas das participantes e a
discussão foi feita sob a luz do referencial teórico da sistêmica e da psicologia
econômica.

QUADRO 25 Perfil socioeconômico das participantes da pesquisa qualitativa


parte 1
PARTICIPANTE 1 2 3 4
Cidade Taubaté Taubaté Taubaté Taubaté
Estado origem São Paulo São Paulo São Paulo São Paulo
Vivendo o 1º
casamento há 1
Estado civil Solteira Solteira Solteira
ano e sete
meses
Mora com Moradia Moradia Mora com
Moradia
parentes própria alugada parentes
Com quem reside Mãe e pai Irmã Marido Pai e mãe
Filhos na atual
Não Não Não Não
relação
Filhos de outra
Não Não Não Não
relação
Idade 25 29 21 26
Idade dos filhos - - - -
E. superior E. superior E. superior E. superior
Escolaridade
completo completo incompleto incompleto
Profissão Assalariada Assalariada Assalariada Assalariada
De 5 até 9
Renda Familiar Até 5 salários Até 5 salários Até 5 salários
salários
Pelo homem e Pelo homem e Pelo homem e
Renda mantida Por ambos
complementada complementada complementada
por igualmente
pela mulher pela mulher pelos filhos
Fonte: dados obtidos por meio do questionário socioeconômico das participantes da
pesquisa qualitativa.
78

QUADRO 26 Perfil socioeconômico das participantes da pesquisa qualitativa


parte 2
PARTICIPANTE 5 6 7 8
São José dos
Cidade Taubaté Caçapava Taubaté
Campos
Estado origem São Paulo Piracicaba São Paulo São Paulo
Vivendo o 1º Vivendo o 1º Vivendo o 1º Vivendo o 1º
Estado civil casamento há 8 casamento há 9 casamento casamento há
anos anos há 11 anos 12 anos
Moradia Moradia
Moradia Moradia própria Moradia própria
própria alugada
Marido e Marido, dois
Com quem reside Marido e filha Marido e filho
duas filhas filhos e uma tia
Filhos na atual Sim, duas
Sim, uma filha Sim, um filho Sim, dois filhos
relação filhas
Filhos de outra
Não Não Não Não
relação
Idade 31 40 36 36
2 anos e 8
Idade dos filhos 4 5 e 9 anos 7 e 10 anos
meses
E. superior E. superior
Escolaridade Doutorado Pós Graduação
completo completo
Profissional
Profissão Não trabalha Assalariada Não trabalha
liberal
De 5 até 9 De 5 até 9 De 5 até 9
Renda Familiar Até 5 salários
salários salários salários
Pelo homem e Pelo homem e Pela mulher e
Renda mantida Somente pelo
complementada complementada complementada
por homem
pela mulher pela mulher pelo homem

Fonte: dados obtidos por meio do questionário socioeconômico das participantes da


pesquisa qualitativa.

As mulheres participantes da pesquisa qualitativa atenderam a todos os


critérios de inclusão, sendo todas mulheres, de 20 a 40 anos de idade, residentes no
estado de São Paulo e pertencentes à classe média. Todas são residentes em
cidades do Vale do Paraíba, sendo a maioria de Taubaté. Três informaram ser
solteiras e 5 estão vivendo o 1º casamento. Em relação ao tipo de moradia, quatro
informaram residir em moradia própria, duas em moradia alugada e duas moram
com parentes. Metade informou não ter filhos, duas informaram ter um(a) filho(a) e
duas informaram ter dois(as) filhos(as). Três disseram ter ensino superior completo,
duas disseram ter ensino superior incompleto, uma disse ter pós-graduação e uma
79

disse ter doutorado. A renda familiar variou, metade informando ser de até 5 salários
e metade informando ser de 5 a 9 salários. Quatro informaram que a renda é
mantida pelo homem e complementada pela mulher, uma informou ser mantida por
ambos igualmente, uma informou ser complementada pelos filhos e uma informou
ser mantida pela mulher e complementada pelo homem.

4.3.1 Categoria 1: Decisões que favorecem a educação financeira e a


autonomia da mulher

Nesta categoria, buscou-se identificar e compreender quais eram as decisões


que as participantes apresentam para sua educação financeira e autonomia
emocional. Para manter o sigilo da identidade de cada participante, as falas foram
identificadas apenas com a letra P seguida de um número que corresponde ao perfil
da participante. Foi possível identificar que a autonomia emocional das mulheres é
favorecida quando tomam decisões como fazer um planejamento financeiro, fazer
investimentos, poupar dinheiro mensalmente, ter uma reserva financeira, ter uma
renda própria, investir em educação financeira e dialogar com família sobre dinheiro.
As falas das participantes e a discussão teórica estão organizadas seguindo cada
uma dessas tomadas de decisão.

4.3.1.1 Fazer um planejamento financeiro

Educação financeira é você aprender desde pequeno, né , a como controlar


os gastos, (...) hoje em dia eu tenho um controle financeiro com uma planilha P1.
Planejar todas as nossas despesas, ver quanto a gente ganha, quanto a
gente gasta, que o ganhar tem que ser maior do que o gastar P3.
É a forma que a gente aprende a gerenciar o dinheiro P8.
Todas as participantes relataram que fazer algum tipo de controle financeiro,
seja anotando os gastos ou fazendo uma planilha, é algo que caracteriza a
80

educação financeira e favorece a sua autonomia pois passam a ter uma melhor
percepção de como manejam o seu próprio dinheiro.
De acordo com estas falas, podemos validar o que é dito por D Aquino (2001)
ao ressaltar que o planejamento e controle de gastos é parte crucial da educação
financeira para ajudar o indivíduo a alcançar suas satisfações. Apesar de muitas
mulheres não executarem um planejamento financeiro de fato, as mulheres
entrevistas apresentaram ter a consciência de que planejar e controlar os gastos é
um fator de grande importância para a educação financeira.
Levando em conta o que Ferreira (2014) coloca sobre as intenções e ações
da educação financeira serem mais elaboradas, pode-se constatar que as
entrevistadas se atentam às suas atitudes quanto ao seu dinheiro, pois precisam
analisar seu comportamento econômico para fazer um controle ou planejamento
financeiro. Ao falar de planejamento, pode-se dizer que as participantes fazem o uso
do S2 (KAHNEMAN, 2012), ou seja, fazem um uso crítico de seu dinheiro, quando
estabelecem limites para os gastos a fim de se habituarem ao uso mais consciente e
adequado do dinheiro, promovendo, assim, mais proveito de seus recursos
financeiros.

4.3.1.2 Ter salário e/ou reserva garantida como segurança

Eu tenho meu emprego, eu recebo meu salário, então eu tenho a segurança


de tomar as minhas decisões por conta disso, né ? Porque eu sei que eu posso
arcar com as minhas decisões , P1.
...Então, a gente tem uma reserva, então a gente fica seguro de gastar com o
que a gente precisar, com coisas supérfluas, né ? Porque a gente sabe que se
alguma coisa acontecer, a gente vai ter... como se manter por uns meses. P3.
A gente precisa ter uma sensação de segurança, né ? ...que vem de algum
lugar. E isso também traz sensação de segurança, fazer um bom planejamento e
conversas a respeito disso. (...) Planejar um pouco pro futuro, né ? Conseguir ter
uma reserva... (...) Eu penso bastante assim, em longo prazo assim... P6.
...Mas acho que o principal é eu conseguir gerar um fundo de emergência
razoável, né ? (...) Então, eu sei que eu tenho esse fundo de emergência, que é
81

correspondente hoje a três meses das minhas despesas. Não é três meses do meu
salário, é das minhas despesas, então isso me deixa mais segura para estar
tomando mais decisões. P8.
A garantia de ter um salário fixo ou ter uma reserva financeira poupada
apareceu nas falas das participantes como uma questão recorrente. Esse dinheiro
faz com que as mulheres se sintam seguras, quando algum imprevisto acontecer,
terão o respaldo desse recurso financeiro para suprir necessidades.
Um dos fatores que apontam para esse sentimento de segurança em relação
aos seus ganhos é o que Osipow (1986) diz sobre o jovem procurar se especializar
profissionalmente e buscar um emprego valorizado para ingressar na vida adulta
com o sentimento de segurança e estabilidade. Essa garantia financeira também
está relacionada ao que Furnham (2014) afirma, que para aqueles que possuem o
dinheiro, há a possibilidade de se concentrar em seus próprios desejos,
necessidades e objetivos, sem a necessidade de envolver interações sociais
próximas ou analisar opiniões dos outros sobre o que poderia ser mais atraente ou
útil no momento da troca. Sendo assim, possuir o salário todos os meses e a reserva
financeira proporciona a essas mulheres a segurança de tomar decisões sem ter que
demandar da ajuda de terceiros.
Outro aspecto que pode ser analisado sobre esse sentimento de segurança é
sobre a influência do S2 nas atitudes das mulheres. Segundo a teoria proposta por
Kahneman (2012), o S2 é responsável por programar as ações planejados do ser
humano. De acordo com a fala das mulheres entrevistadas, elas apresentam a
consciência de que terão o recurso financeiro futuro e tomam atitudes para se
programar quanto ao uso mais adequado e seguro desse recurso. Com o aumento
da expectativa de vida de médio e longo prazo do ser humano, o S2 passa a ser
mais solicitado para lidar com demandas mais complexas (FERREIRA, 2015),
fazendo com que as mulheres também precisem pensar em um planejamento de
médio e longo prazo, percebendo que uma reserva é necessária para utilizarem em
um futuro mais distante.
82

4.3.1.3 Autonomia emocional como forma de não depender de terceiros

(...) com o meu emprego, né ? ...por conta dele que eu tenho o meu salário,
(...) eu não vou precisar ficar precisando, dependendo de alguém, para eu ter as
minhas coisas. P1.
Porque autonomia pra mim vem sempre uma coisa assim... de fazer as
coisas que eu quero e sempre que vem na minha cabeça, entendeu? Com o meu
dinheiro. E assim eu tenho isso, eu tenho essa liberdade, entendeu? (...) As minhas
decisões financeiras... são o que eu quero fazer com o meu dinheiro mesmo, né ?
...tipo, não tem ninguém falando o que eu tenho que fazer. Eu tenho autonomia na
minha vida, eu faço o que eu quero, entendeu? Então, não tem ninguém pra ... que
eu tenha que esclarecer algum motivo do dinheiro que eu tenha, o que eu faço com
o meu dinheiro. Então isso já me deixa sendo uma pessoa autônoma, então eu faço
o que eu quero com o meu dinheiro... P2.
Primeiro, porque eu não dependo dos meus pais, né ? Eu tenho o meu
salário (...), eu posso gastar com o que eu quiser. (...) A gente [eu e meu marido] tem
muita liberdade entre nós para poder decidir o que a gente quiser, então é muito
tranquilo. P3.
É que autonomia eu vejo muito como liberdade financeira, (...) eu compro o
que eu sinto vontade (...) P4.
Eu separo a independência no sentido financeiro e a autonomia no conjunto,
financeiro mais emocional. Então, quando a gente fala sobre autonomia, a gente tá
falando sobre esse conjunto completo, né ? (...) Mas ser uma mulher que tem uma
independência financeira somado com uma independência emocional, eu acho que
isso sim chega no processo de autonomia. Isso não quer dizer que eu não tenha
vínculos, né ? Isso não quer dizer que eu queira perder pessoas ou relações, mas
eu não me vejo refém delas. P8.
Não precisar depender de recursos financeiros de terceiros, pode ser
correlacionado com o desenvolvimento da autonomia da mulher, sendo, este, um
fator positivo para a sua educação financeira.
Diante destas falas, pode-se confirmar os dados apresentados pelo Portal
ODS (2018), que apontam que grande parte da população feminina está inserida no
83

mercado de trabalho, tendo assim a sua própria renda. Como consequência disso,
há um forte estímulo para a autonomia da mulher, tendo em vista o que é
apresentado por Martins (2006), pois ao possuir um trabalho e uma renda, o
indivíduo passa a sustentar o seu próprio crescimento e desenvolvimento. Essa
situação também está de acordo com o que é dito por Diniz (2000) e Meirelles
(2001), já que, com a maior participação da mulher no mercado de trabalho, a
mulher ganhou aumento do seu poder aquisitivo e passa a ter mais influência sobre
as decisões financeiras da família e sobre sua própria vida.
Esse contexto também compõe o resultado histórico das conquistas das
mulheres que teve início na década de 1970 com os movimentos libertários que
buscavam espaço para a mulher no trabalho e na vida pública, a fim de que ela
tenha liberdade e autonomia para decidir sobre sua vida, como exposto por Pinto
(2010). A possibilidade de ter o seu próprio trabalho e, com isso, o seu próprio
salário, viabiliza à mulher mais oportunidades de se desenvolver pessoal e
profissionalmente, dando a ela o poder de escolha, seja no momento de adquirir
bens materiais ou de fazer uso do seu dinheiro de qualquer outra forma sem
depender da aprovação ou julgamento de outros. Essa possibilidade também dispõe
a ela o governo de si mesma por meio de uma posição profissional, reconhecendo o
com independência econômica, conforme Lipovetsky (2000).
Levando em conta também o que é exposto por Reichert e Wagner (2007), as
falas das mulheres apresentam a independência de agirem por conta própria em
relação ao uso do seu dinheiro. Pode-se dizer que, quando as falas das mulheres se
relacionam a ser capaz de tomar decisões financeiras a partir de suas próprias
opiniões e recursos financeiros, estas dispõem de um equilíbrio emocional e
intelectual de forma mais autônoma dentro de suas relações.

4.3.1.4 Investimento em educação financeira

As mulheres entrevistadas apresentaram claramente uma atitude de


valorização da sua própria educação financeira e expressaram como sendo algo de
grande importância para o desenvolvimento e efetivação de sua autonomia como
será analisado nas falas abaixo:
84

Investir no meu trabalho, em estudo, numa língua estrangeira, né ? ...na


faculdade ou até mesmo em curso, por exemplo de Excel avançado, é algo que vai
me deixar, né , com mais autonomia. Quanto mais eu trabalhar, quanto mais eu
estudar, mais uma boa renda eu vou ter e aí, por isso, eu vou ter mais autonomia
sobre a minha vida. P1.
No que eu invisto para ter uma educação financeira é em livros, que de
resto do conteúdo eu vejo mesmo que a internet propõe de graça. Diz P2.
Eu tô procurando estudar pra que me leve a tomar decisões em que eu
sinta que eu tenho autonomia sobre o meu dinheiro. P4.
Eu comecei, inclusive, a aprender também a poupar, eu comecei a estudar
sobre investimentos, eu comecei a ver que existia um mundo além da poupança. (...)
Eu comecei, inclusive, a aprender mais, eu comecei a buscar mais como que eu
organizava a minha finança, como que eu separava, né ? Então, assim, essa coisa
do pró-labore, como é que eu separava o que era o meu dinheiro, o que era o
dinheiro do consultório, o que que era o dinheiro das minhas despesas pessoais com
a minha família... P8.
Estas falas estão de acordo com o contexto de vida em que as participantes
estão inseridas, pois todas se encontram na fase de aquisição do ciclo vital familiar
(BERTHOUD, 2010). No início desta fase, a jovem mulher está estruturando sua
vida financeira e buscar conhecimento, tanto profissional quanto da parte financeira,
é algo que irá influenciar seu estilo de vida, que está sendo estruturado. Conforme
aponta Camarano et al. (2003), há uma necessidade de investimento de tempo em
educação para que o jovem conquiste uma estabilidade financeira, isto quer dizer
que, conforme P1 expôs em sua fala, quanto mais o jovem investir em sua
educação, mais terá acesso a melhores oportunidades de emprego e,
consequentemente, melhores remunerações. E esta percepção apareceu nas falas
de várias entrevistadas, evidenciando que, quanto maior os seus rendimentos, maior
o seu poder de decisão, pois passam a ter mais recursos financeiros disponíveis
para estruturar seu estilo de vida.
Com esse investimento em sua própria educação, as entrevistadas também
trazem a ideia de que, quanto mais conhecimento sobre educação financeira,
melhores decisões serão tomadas em relação ao dinheiro, contribuindo, assim, para
sua autonomia. Como também há de se considerar o peso social de ter uma
autonomia individual (MARTINS, 2006), as mulheres se mostram, por meio de suas
85

falas, como pessoas que procuram construir essa autonomia individual,


independentemente de estarem morando com os pais ou a família de origem ou
dentro de um casamento. Ao desenvolverem essa autonomia, independente do
contexto em que estão inseridas, as mulheres acabam por fortalecer o movimento
revolucionário da vida econômica, social e familiar de homens e mulheres
(HOFFMAN; HOFFMAN, 1985), já que não é somente o homem que possui
autonomia para decidir quais serão os movimentos financeiros que a família irá
tomar.
Aqui também cabe ressaltar a importância da autonomia em buscar
especificamente a educação financeira. Para conseguirem ter atitudes autônomas,
as mulheres precisaram desenvolver sua autonomia na forma de pensar,
independente das pessoas com que se relacionam, diferenciando o seu self
(BOWEN, 1978) para então conseguirem buscar os conhecimentos necessários
acerca do uso mais adequado e proveitoso do seu dinheiro.
Além do movimento de pensar de forma autônoma, há de se considerar o
desenvolvimento do S2 (KAHNEMAN, 2012) para medir e analisar criticamente o
uso do seu próprio dinheiro, buscando o conhecimento técnico da educação
financeira para orientar suas próprias decisões sobre o dinheiro.

4.3.1.5 Ter um diálogo com família/cônjuge sobre dinheiro

As participantes também trouxeram, em vários casos, a questão do diálogo


com a família ou o parceiro sobre o uso do dinheiro. Independentemente de as
mulheres terem uma renda própria, o casal possui demandas financeiras em
conjunto que precisam ser conversadas e esses diálogos conjugais acerca do
dinheiro foram identificados nas seguintes falas:
A gente [eu e meu marido] é super aberto e tem a nossa autonomia para
gastar, se eu quiser ir ali na esquina e gastar, eu não preciso falar para ele, apesar
de ser o dinheiro dele. Tudo na nossa vida é assim e acho que tudo promove a
minha autonomia. P3.
Eu acho que eu tenho, tenho um pouco de autonomia também em relação a
isso, né ? ...pra propor assim: ah, pro futuro, o que que a gente tem que ter, como
86

que nós vamos gastar, quanto que tem que gastar do dinheiro... que outras coisas a
gente pode fazer, né , tendo uma outra direção dentro da família que cada um pode
tomar, de profissional para tentar ganhar mais dinheiro... acho que isso é uma coisa
que a gente conversa também, eu sinto que eu tenho autonomia em relação a isso,
né , pra propor algumas alternativas, então às vezes eu falo pro meu marido: ah,
acho que a gente tem que abrir um... . P6.
Lógico que uma coisa mais cara a gente vai sentar, vai conversar, não, isso
agora não é o momento , você tem tanto para gastar no mês com a casa, então
vamos administrar o dinheiro, que é isso que tem pra gastar com gesso, com cola... .
então, assim, a gente tem um dinheirinho que é só pra... pras coisinhas da casa no
mês. A gente adaptou isso (...) P7.
Então, eu tenho uma independência financeira dentro da minha ralação, isso
pensando no sentido de casal, afetivamente falando, tá ? Eu participo, né , da
realidade financeira da minha família (...) P8.
Dentro da fase de aquisição da família, fase em que as participantes se
encontram, há o processo em que o casal efetivamente precisa pensar, discutir e
planejar como será o estilo de vida, valores, metas e questões financeiras como dito
por Berthoud (2010). Diante disso, pode-se notar, por meio das falas, que as
participantes conseguem manter um diálogo constante com seus parceiros e criar
acordos financeiros para contribuir com o bem-estar de toda a família, tanto do casal
quanto das necessidades dos filhos. A autora também assinala que geralmente é a
mulher a responsável por gerenciar o dinheiro da família, sem que necessariamente
ela tenha uma renda ou seja a provedora, mas ela possui esse papel de controle dos
gastos e necessidades de todos. Isso também pode ser identificado nas falas de P6,
P7 e P8, pois afirmam que conversam com seus parceiros sobre necessidades
futuras que precisam ser planejadas; que diante da compra de algo de valor maior,
há o diálogo e análise em conjunto; e que negociam a aquisição de bens em
conjunto e gastos que são permitidos dentro da relação, como é apontado por
Tobias (2012).
O diálogo sobre dinheiro dentro da família também indica que, mesmo que
implicitamente, as mulheres veem a importância de se desenvolver dentro do
contexto familiar à educação financeira, pois ao buscar planejar, negociar e analisar
os gastos, custos e necessidades futuras em conjunto, indicam o pensamento por
meio do S2, proposto por Kahneman (2012). Neste movimento, tanto as mulheres
87

quanto as outras pessoas das suas famílias recebem os benefícios de uma


educação financeira e de um pensamento mais crítico em relação ao uso do
dinheiro, já que o indivíduo se habitua a uma forma mais racional de aproveitar seus
recursos financeiros quando ele não tem essa constante reflexão das maneiras de
manusear o dinheiro,. Ao desenvolver o pensamento mais crítico e planejador, a fim
de satisfazer seus desejos e necessidades de forma mais saudável, as mulheres
também aperfeiçoam sua autonomia emocional, sendo menos reativas a atitudes e
opiniões de terceiros (BOWEN, 1978), podendo, assim, analisar o uso do seu
dinheiro perante suas próprias necessidades e anseios.

4.3.2 Categoria 2: Decisões que dificultam a educação financeira e a autonomia


da mulher

Nesta categoria, buscou-se identificar quais eram as decisões que as


entrevistadas relataram ter dificuldades em relação à sua educação financeira e à
sua autonomia emocional. Diante das respostas que foram trazidas sobre esta
questão, também foi possível identificar subcategorias para essas decisões,
conforme serão apresentadas abaixo.

4.3.2.1 Ausência da educação financeira na família de origem

Dentre as dificuldades relatadas pelas participantes quanto aos fatores que


dificultam tanto o uso do seu dinheiro quanto o seu sentimento de autonomia, o fato
de não terem recebido uma educação financeira dentro de sua família de origem
apareceu como uma questão implícita. Na fala de P1, pode-se identificar diretamente
esta situação, mas isto não fica tão claro nas falas das demais participantes:
A minha educação financeira não é tão boa, eu acho que justamente por
essa falta, né , hum, da introdução desde criança. (...) eu acho que eu fico muito
chateada com isso, né ? ...que a gente nunca é ensinado a isso e aí quando a gente
chega na fase adulta, a gente tem que se virar em mil e tem que, né, saber controlar
esse dinheiro de forma sozinha, assim, sem ninguém ter ensinado antes, né , a não
88

ser o ensinamento que a gente tem dos meus pais, o que já é afetado porque eles
também não tiveram esse ensinamento na escola, né ? P1.
D Aquino (2001) apresenta que uma educação financeira desde a infância é
quando se ensina a criança a ter a tolerância necessária para conquistar a
satisfação de seus desejos, ajudando-a a perceber que o ato de poupar pode levá-la
à realização de objetivos. Quando essa educação financeira não acontece e o
indivíduo chega à vida adulta, passando a ter acesso a um dinheiro que é seu e
tendo a possibilidade de usá-lo da maneira que preferir, ocorre uma forte influência
do S1 (KAHNEMAN, 2012). Por não ter desenvolvido o pensamento crítico e
planejador em relação ao dinheiro, a pessoa passa a se orientar pelo S1, que visa
atender seus desejos e necessidades imediatas, sem racionalizar sobre qual o
melhor uso desse recurso financeiro que está a sua disposição. Por não estar
habituado ao ato de planejar criticamente, outros problemas surgem para atrapalhar
o desenvolvimento da autonomia da pessoa, problemas estes que serão tratados
nos próximos tópicos.

4.3.2.2 Dificuldade em seguir o planejamento / Gastar mais do que ganha

Apesar das participantes terem o conhecimento e a consciência de que é


necessário poupar e planejar suas finanças, como foi analisado anteriormente, elas
também apresentaram dificuldade em manter o planejamento, além de, muitas
vezes, ultrapassarem seus limites de gastos.
Eu, de vez em quando, eu esqueço de colocar uma coisinha pequenininha
[na planilha], né? Por exemplo, se eu vou no shopping e compro um sorvete, eu não
coloco lá, né? Eu vou fazendo assim as coisas gritantes, as contas gritantes e vou
tentando remanejar isso depois e vou tentando pagar um pouco de cada vez. P1.
Eu acho que é, a decisão, né? É acabar gastando mais do que a gente
ganha, né? Então, quando eu acabo por fazer isso, dificulta ter essa autonomia,
porque aí extrapola os meus gastos, (...) então, acho que sempre é a decisão de
gastar mais do que eu ganho, acho que daí atrapalha na minha autonomia. P1.
89

...Você gastar com coisas que não têm importância, você... não saber para
onde ele [o dinheiro] tá indo, gastar, só gastar, gastar, gastar... e não ter esse
controle. P4.
Tem algumas coisas que eu gosto mais, que daí eu não planejo muito, que é
parte de estudo, congresso, essas coisas... então dinheiro que é do trabalho assim,
é uma coisa que eu não penso muito. Parece que é uma coisa assim que passa fora
da educação financeira, se eu precisar gastar eu gasto, se precisar... porque são
coisas que eu gosto né... eu sempre gastei muito o meu dinheiro com isso, né, em
congresso, livro, em material e esse tipo de coisa. P6.
Caía o meu salário, quando chegava no dia 20... 25, eu tava dura, né?
...Contando [os dias] pra chegar o dia 30 de novo pra entrar o salário de novo, com
aquela ilusão que todo mês ia cair e, enfim... P8.
Eu não sou aquela pessoa que tem planilha... eu tento ter e a planilha não
dura 15 dias comigo, que eu paro de alimentar. Então, assim, nesse ponto, eu sou
muito desorganizada, eu sou muito insubordinada a mim mesma. Que eu sei que eu
preciso de planilha, eu sei que eu preciso acessar as informações, eu sei que eu
preciso anotar o que eu gasto e eu não faço. P8.
Gastar mais do que se ganha, ter dificuldade de controlar os gastos e não
seguir um planejamento são fatores ligados ao que se refere o S1 (KAHNEMAN,
2012). Por ser primitivo e tentar se satisfazer de forma imediata às sensações de
desconforto, a pessoa pode ter atitudes impulsivas diante de uma decisão de
compra. Assim, a pessoa pode agir de maneira impulsiva, intuitiva e sem esforço,
colaborando para que a pessoa tome decisões com poucas evidências e tirando
conclusões precipitadas, sem de fato analisar se fazer aquele determinado gasto irá
lhe trazer um retorno que compense o que foi gasto.
Ferreira (2015) também aponta o S1 como um desafio para a educação
financeira e, consequentemente, para a autonomia, já que as ações frente às
tomadas de decisão são automáticas quando orientadas pelo S1, voltadas a uma
impulsividade na execução das atividades, sem considerar as consequências.
Consequências, essas, que foram citadas pelas participantes, como gastar com
coisas sem im , extrapolar o limite de gastos e o limite de renda, não
conseguir distribuir o dinheiro disponível para ser usado ao longo do mês etc.
Outra questão é que as participantes podem não ter muito claro para si
mesmas a diferenciação de seus desejos e necessidades, fazendo com que não
90

consigam raciocinar criticamente no momento de uma compra. Como o


estabelecimento de limites não fica claro por falta da educação financeira, o
indivíduo é facilmente levado pelos desejos do S1, tomando decisões de compra que
ultrapassam até mesmo o seu limite de ganhos. Segundo Ferreira (2007), também
há de se levar em conta o S1, que tenta satisfazer o indivíduo o quanto antes, dando
a ele uma percepção distorcida dos custos reais no momento da compra. O
chamado desconto hiperbólico altera a percepção real do que se está comprando,
levando a atenção do indivíduo apenas para seu desejo imediato.

4.3.2.3 Pedir ajuda financeira de alguém / Dependência do parceiro

Este aspecto diz respeito às situações em que a mulher tem uma


dependência financeira de outra pessoa que, geralmente, é do parceiro, mas
também pode ser dos pais ou até mesmo de uma instituição financeira. Essa
questão será explanada a partir das seguintes falas:
...Ou eu preciso pedir ajuda para alguém, né ? E aí minha autonomia
diminui, porque eu vou precisar da ajuda de alguém ou eu vou ficar com ome
suj vai diminuir minha autonomia também. P1.
Eu dependo do meu marido, porque se fosse só o meu salário não ia dar, eu
não ia ter a autonomia que eu tenho... P3.
Quando depende de outra pessoa, por exemplo do meu marido, né ?
...quando depende só de dinheiro dele, daí não é só eu né... só a minha autonomia.
P5.
Não tenho [autonomia] né, porque eu não trabalho. Mas eu tenho o meu
dinheiro... assim, o dinheiro no banco a gente tem de garantia, né ? E eu costumo
falar [para o meu marido] vou fazer isso, vou no supermercado, vou na
farmácia, tem dinheiro no ban esse momento eu não tenho,
porque eu não ganho o me fere o
dinheiro aí que eu tô (...) tem hora que faz falta você trabalhar, ter o
seu dinheiro e... falar: lá e vou comprar, pronto, acabou! Não vou pedir
pra ninguém P7.
91

No caso das falas de P3 e P5, trata-se de situações em que a mulher tem


uma dependência financeira do marido, limitando assim as suas ações em relação
ao dinheiro. Entretanto, Berthoud (2010) explica que, independentemente se a
mulher trabalha ou não, é geralmente ela a responsável por fazer o gerenciamento
do dinheiro da família, fazendo o controle de gastos e identificando necessidades.
Então, levando em consideração as falas acima, identifica-se a relação de
dependência financeira das mulheres em relação ao marido, porém apresentando
claramente um diálogo de ambas as partes sobre a gestão do dinheiro da família,
mostrando que o casal compartilha das negociações que precisam ser feitas para
atender as necessidades da família (TOBIAS, 2012).
Apesar das mulheres entrevistadas apresentarem essa dependência
financeira do parceiro, isso não significa necessariamente que elas não têm
autonomia. Segundo Reichert e Wagner (2007), a autonomia está mais voltada para
a ideia de ter comportamentos independentes, além de pensamentos, sentimentos e
tomadas de decisões que envolvem o próprio indivíduo e, também, as relações que
estabelece com a família, com seus pares ou pessoas fora do ambiente familiar.
Então, há a dependência financeira que limita os comportamentos financeiros
dessas mulheres, mas com um certo nível de negociação com seus parceiros para
dispor dos recursos financeiros advindos deles. Esta negociação conjugal está
diretamente relacionada ao nível de diferenciação do self dos parceiros, pois,
conforme é apontado por Martins, Rabinovish e Silva (2008), há uma tendência de
que as pessoas escolham parceiros que possuem um nível de diferenciação do self
próximo ao seu próprio. Ou seja, para que estas participantes consigam manter esta
relação de equilíbrio de negociações com seus parceiros, ambas as partes
provavelmente possuem certa diferenciação do self de forma a sejam pessoas
autônomas emocionalmente.

4.3.2.4 Agir por impulso ou por influência de outros

Às vezes é um pouquinho de efeito manada também... (...) Com certeza é


com comida! Eu acho que são esses gastos desnecessários mesmo, porque daí eu
não invisto, eu deixo de investir, tipo o dinheiro em si mesmo, deixo de investir na
92

educação financeira e... eu sei que é um dinheiro que vai e não volta, é realmente
para realizar um prazer momentâneo da vida. P2.
O que dificulta é o impulso de comprar, eu não tenho noção nenhuma. P4.
Muitas das vezes eu não penso. Se eu tenho dinheiro e quero comprar, eu
vou e compro. Daí dificulta um pouco, porque daí acontece alguma coisa que eu
preciso do dinheiro eu já gastei com outra coisa. P5.
Ah, na compra de roupas, cosméticos... ah, roupa é meio... você usa esse
mês, esse ano, ano que vem já saiu a moda, você já quer outra roupa, então é uma
coisa fútil, assim, né, se você pensar bem. Você se sente bonita, sente prazer
naquele momento que você tá ali, mas aí depois passa. É uma coisa... é uma
bobeira, uma bobagem de gastar, porém também não é, né ? Porque aí você
também aumenta a autoestima, né ? Você vai num cabelereiro, fazer a unha... sai
linda! P7.
Muitas vezes eu uso o dinheiro com compensações. Então, assim, se eu
tô ... se eu trabalhei muito, se eu tô muito cansada, se eu tô de saco-cheio...
muitas vezes, assim, eu não me preocupo em olhar preço da coisa, sabe? Eu vou
muito no merecimento. P8.
Ao tomarem a atitude de comprar algo por impulso, as participantes fazem
uso do S1 (KAHNEMAN, 2012), isto é, tomam uma decisão intuitiva, sem esforço,
sem muita clareza e sem pensar racionalmente nas consequências que essa compra
pode acarretar. Esse funcionamento mental de curto prazo busca atender
necessidades de forma imediata, para trazer conforto e satisfação o mais rápido
possível, fazendo com que as participantes não avaliem de forma clara e racional
essas compras. Considerando estas situações, as participantes possuem uma
dificuldade em relação à educação financeira de analisar com mais critérios suas
compras. Ferreira (2014) também ressalta que influências como humor, detalhes do
ambiente e emoções afetam a tomada de decisão com o dinheiro, o que pode ser
constatado nas falas acima, como comprar por compensações, por autoestima e
prazer momentâneo.
As atitudes impulsivas também estão ligadas com a relação de dependência
emocional das participantes, visto que, diante de situações de escolhas
estressantes, se a pessoa não tiver a capacidade de separar o sentimento do
pensamento, isso dificultará a sua percepção racional da situação. Com isso, elas
acabam por ter uma atitude reativa a fatores estressantes e comprando coisas para
93

amenizar o estresse momentâneo, caracterizando a atitude reativa proposta por Kerr


e Bowen (1988).
Desse modo, as decisões tomadas de forma impulsiva dificultam o
desenvolvimento tanto da sua diferenciação do self, como do seu S2, fatores estes
que contribuem para a autonomia emocional das participantes.

4.3.2.5 Cartão de crédito como algo que desorganiza

A gente tá muito acostumado a abrir carnê, a ter cartão de crédito, a


parcelar tudo, né ? P1.
Você só vai gastando, usando o cartão de crédito e quando você vê nossa,
para onde foi meu dinheiro? , então não tem controle nenhum, seria mais isso. (...)
Cartão de crédito. Muito difícil, nossa, todo mundo fala, né, tenta usar o dinheiro,
débito, dinheiro mesmo... eu sempre... eu compro tudo com cartão. Eu tenho mais
controle com o cartão de crédito do que débito, mas também acabo perdendo o
controle nessa daí, porque... eu vou usando, usando aí depois nossa, tem que
anotar e eu já passei um valor. P4.
Eu precisaria acompanhar melhor eu acho, né ? Já coisas do tipo cartão de
crédito essas coisas... P6.
O cartão de crédito é uma das formas abstratas do dinheiro que deixou de ser
tangível, como diz Meirelles (2012), passando a ser também o registro de um
comportamento financeiro. Considerando o conceito de desconto hiperbólico que
Ferreira (2007) apresenta, em que o indivíduo pode ter a sua percepção distorcida
dos custos reais de algo a ser consumido, ele pode usar o cartão de crédito sem se
dar conta das reais consequências que pode ter no uso dele. Assim, conforme
exposto nas falas das participantes, o uso do cartão de crédito é um fator que
dificulta fortemente a educação financeira, pois distorce a percepção futura das
mulheres em relação ao seu dinheiro.
Além disso, Belsky e Gilovich (2002) também trazem a ideia de que o uso do
cartão de crédito acaba fazendo a pessoa desvalorizar o dinheiro, fazendo gastos
maiores do que faria se estivesse com o dinheiro em espécie. Por não terem a
percepção da dimensão desses gastos, ou seja, se as mulheres não têm um
94

controle ou planejamento desses gastos com o cartão de crédito, elas terão a


tendência de gastar mais do que deveriam.
Também há de se considerar a atitude reativa de uma baixa autonomia
emocional (BOWEN, 1978) e do uso habitual do S1 (KAHNEMAN, 2012). Por
proporcionar o poder de compra sem ter o dinheiro propriamente dito, as mulheres
que relatam o uso inadequado do cartão de crédito ainda não conseguiram
desenvolver o costume de pensar racional e criticamente antes de efetuar uma
compra, fazendo com que elas sejam emocionalmente dependentes do cartão de
crédito para satisfazer seus desejos imediatos ao custo de consequências
financeiras no futuro, dificultando ainda mais a sua autonomia.

4.3.3 Categoria 3: Diferenças entre tomada de decisões de mulheres que são


mães para as que não são

4.3.3.1 Prioriza os gastos com o filho e não consigo mesma

(...) Uma boa parte do dinheiro deve ser destinada para os filhos e aí o
salário da mãe, por exemplo, diminui e acaba por não poder comprar as coisas para
ela mesma, né, não pode utilizar aquilo de uma forma para bem próprio, né ? P1.
Eu acho que é questão de prioridade, entendeu? Por exemplo, é... Do
mesmo jeito que eu posso pensar olha, esse dinheiro aqui será... tanto vai ser para
investimento, pra ... sei lá, qualquer outra coisa que eu queira . Quem tem filho já
não tem essa prioridade de fazer o que quiser com o seu dinheiro, porque, por mais
que tenha as suas responsabilidades financeiras, tem a responsabilidade financeira
da criança também, né ? P2.
Deve ser bem difícil, porque quando você tem um filho... Pelo menos todas
as mães que eu converso, a mulher nunca se prioriza, ela prioriza o filho né. Então,
tipo, é tudo o filho, é alguma coisa que o filho precisa, Então a casa fica de
lado, os gastos pessoais ficam de lado, é tudo pro filho. Digo, pequeno, , maior
não conta. P3.
95

Toda mãe acaba tirando a maior parte do dinheiro pra cuidar do filho. Ou é
educação, ou é coisa de casa, ou de comer... e, por exemplo, eu que não tenho
responsabilidade nenhuma, o meu dinheiro vai tudo pra mim. P4.
Sim, é diferente, com certeza. De diferença... Vamos lá: vamos supor,
quando eu não tinha ainda a filha, né, e queria passear, ia comprar alguma coisa,
comprava... Não tava nem aí, comprava. Dava pra comprar, a gente comprava.
Agora a gente tem que pensar, porque, ... Às vezes tem, é um remédio que
aparece que tem que comprar, né, alguma coisa... É mais isso, questão de remédio,
de ficar doente ou de ela querer alguma coisa e, ... e aí a gente tem que
maneirar um pouco no nosso pra ter mais pra ela. P5.
(...) Quem tem filhos, geralmente, acho que pensa um pouco nos gastos de
educação, tem muitos custos, ... então, antes as pessoas tinham mais filhos e
parece que... tinha menos... não que tinha menos necessidades, mas tinha menos
demanda, menos... então parece que as famílias não gastavam tanto, ? Não era
tão gasto ter um filho. P6.
Quando você não tem filho, você compra tudo pra você. Você vai em um...
na parte de roupa, de sapato, de bolsa e... Nossa, quando eu não tinha filha, era
bolsa, sapato... era os meus... Não podia ver uma bolsa diferente, que eu queria. E,
depois que você tem filho, você vai só pra parte infantil... aí , que lindo
esse, vai combinar com esse sapato, com essa tiara, com esse laço, com essa
tão, depois que você tem filho, sim, você não pensa muito em você.
P7.
Eu acho que as prioridades, às vezes, são muito diferentes, Então as
que têm filhos que vão tomar decisões financeiras, As prioridades, da maioria
pelo menos, é o bem-estar do filho. P8.
Conforme é apresentado nas falas acima, as mulheres que são mães
possuem uma atitude financeira diferenciada das mulheres que não tem filhos em
questão de prioridade de compra. Mesmo saindo para o mercado de trabalho, as
mulheres ainda enfrentam uma dificuldade de mudança dos padrões tradicionais da
sociedade e ainda tomam para si a responsabilidade pelo ambiente doméstico,
conforme dito por Meirelles (2011). Com isso, as mães também tiram de seus
recursos financeiros para atender às demandas dos filhos, muitas vezes em
detrimento de suas próprias vontades.
96

Com a possibilidade de escolher quando engravidar, a mulher passou a ser


cobrada socialmente para sentir prazer na maternidade (ARATANGY; POSTERNAK,
2005) e priorizar os gastos que visam a qualidade de vida do filho passa a ser uma
responsabilidade socialmente implícita da mãe. Assim, as mulheres entram em uma
situação de contradição emocional, são incentivadas a vivenciar uma carreira
profissional de sucesso, mas também são cobradas para dedicar-se à construção de
uma família e a criação dos filhos. Coelho (2008) e Kitzinger (1978) apontam que a
responsabilidade pela educação da criança ainda é considerada socialmente como
sendo da mulher, resultando também em gastos voltados especificamente para
educação formal dos filhos.
Ao priorizar parte do seu dinheiro para questões voltadas para os filhos, a
mulher passa a abrir mão de gastos consigo mesma, gerando um desconforto
emocional em relação a sua autoestima que será analisado abaixo.

4.3.3.2 Pode diminuir/afetar a autoestima da mãe

Acaba por não poder comprar as coisas para ela mesma né, não pode utilizar
aquilo de uma forma para bem próprio né, assim, digamos para a autoestima, né,
que tem que deixar de ir num cabeleireiro para pagar uma escola da criança. P1.
...Ela deixa de gastar muito com ela de vestuário, lazer, ginástica, coisas do
físico, né, de se cuidar, assim, pra deixar um pouco mais, né, pra atender as
necessidades das crianças... isso é muito comum, acho que acontece bastante.
P6.
Agora, sim, que as meninas estão maiores que eu tô voltando a falar: Não,
você tem bastante roupa, deixa a mamãe comprar pra mamãe ficar bonita também ,
entendeu? Então, elas já percebem: Nossa, mãe, você não comprou nada pra mim ,
ué, mas olha quanta coisa você tem, olha quanta coisa que eu compro pra você .
Mas é porque elas já meio que acostumaram ser tudo pra elas e nada pra mim,
P7.
De acordo com as falas acima, evidencia-se que as mulheres, ao priorizarem
os gastos com o(s) filho(s), têm como consequência uma diminuição da sua
autoestima. Isso se dá porque a mulher tende a usar o seu dinheiro para atender as
97

necessidades do(s) filho(s) e reduz os gastos não essenciais consigo mesma, como
com roupas, sapatos, acessórios e salão de beleza. As mulheres que são mães
tendem a analisar com mais calma os gastos e as suas consequências, priorizando
o uso do seu dinheiro para as despesas da casa e da família, que, deste modo, se
encaixa em um modelo patriarcal.

4.3.3.3 Responsabilidade financeira da criança recai sobre a mãe

...Mas isso, de realmente, das mães pensarem, é... em, por exemplo, na
criança primeiro, não é o primeiro pensamento de um homem, entendeu? Se um
homem quiser investir, ele investe e ponto. E a gente que sobreviva com o resto do
dinheiro, entendeu? E uma mãe não, uma mãe sempre vai pensar primeiro na
criança para depois no investimento. P2.
Acho que as decisões devem mudar muito, porque, tipo, se eu tivesse um
filho agora, todas as metas que eu tenho agora, eu mudaria. Seria tudo pro meu
filho, seria um berço melhor, um brinquedo melhor, brinquedos educativos, a escola
que tem que pagar, quanto melhor escola, a escola mais cara é, fraldas e comida e
babá e, nossa, é muita coisa. P3.
Antes, antes do meu filho nascer, acho que a gente [eu e meu marido]
compartilhava mais a coisa da educação... do financeiro da família, o aspecto
financeiro. (...) E aí, depois, depois que você tem filho, acho que você... primeiro
você vai pensar, acho que nos gastos da criança... eu acho que isso, que a mulher,
ela retira um pouco os gastos dela, ... e se ela tem um bom diálogo com o
parceiro, ela tira um pouco dos dois, Então, isso é uma coisa que aconteceu na
minha família, a gente tira, tirou um pouco dos dois, ... do que eu gastava para
mim, meu marido gastava para ele, a gente fazia um gasto pro filho, Mas acho
que nem todas as mulheres conseguem fazer isso, quem tem parceiro, né , às
vezes, a mulher, ela tem que... ela deixa de gastar muito com ela de vestuário, lazer,
ginástica, coisas do físico, né , de se cuidar, assim, pra deixar um pouco mais, né ,
pra atender as necessidades das crianças... isso é muito comum, acho que
acontece bastante. P6.
98

Ao conquistarem o seu espaço no mercado de trabalho com a possibilidade


de desenvolver uma carreira e desenvolver sua autonomia financeira, as mulheres
adquiriram a sua liberdade de escolha. Entretanto, a responsabilidade pelo espaço
doméstico e pelo cuidado com os filhos ainda são consideradas como sendo da
mulher (MEIRELLES, 2001). Além da sobrecarga de tarefas acumuladas, as
mulheres também vivenciam um sentimento de culpa em relação às funções de
mãe, pois ao optar por seguir uma carreira profissional, elas sentem que estão
comprometendo seu papel dentro da família, sentimento que não é vivenciado pelo
homem, pois, para ter uma carreira, dele não se demanda sacrifícios do seu papel
de pai, conforme alerta Lipovetsky (2000). Diante disso, na percepção das
participantes, tanto as que são mães quanto as que não são, afirmam que a
prioridade de gastos da mulher que tem filhos está diretamente relacionada ao filho,
priorizando sempre compras que venham a contribuir para o bem-estar do filho em
detrimento de seus próprios desejos de consumo.
Diante desta situação, há de se considerar que as mulheres que são mães
passam a avaliar os riscos com mais atenção do que as mulheres que não são
mães. Com isso, elas desenvolvem mais o uso do S2 (KAHNEMAN, 2012), já que
precisam avaliar os gastos com a criança, tanto para o momento presente como
para o futuro, priorizando atender também possíveis necessidades que o filho possa
demandar. Por fazer mais avaliações com o S2, as mães, em geral, conseguem
exercer maior controle sobre os impulsos no momento da compra, pois apresentam
uma preocupação constante com a criança, conforme foi exposto nas falas das
participantes.
Desse modo, percebe-se que mulheres que são mães possuem uma maior
capacidade de gerenciamento do dinheiro, favorecendo, de certa forma, o
desenvolvimento de sua educação financeira, mas dificultando um pouco sua
autonomia, devido à característica de priorizar atender as necessidades do filho e
diminuir a prioridade de suas próprias vontades.
99

4.4 ANÁLISE COMPARATIVA DE RESULTADOS

Tendo em vista que esta pesquisa apresenta dois tipos de delineamento, a


quantitativa e a qualitativa, será apresentada abaixo uma análise comparativa.
Para melhor visualização dos resultados, a comparação foi feita por meio de
uma tabela na qual foram separadas as principais respostas de cada delineamento
de pesquisa de acordo com o que favorece e o que dificulta a educação financeira e
a autonomia emocional das mulheres.

QUADRO 27 Análise comparativa quantitativa x qualitativa


O QUE FAVORECE O QUE DIFICULTA
Fazer planejamento
financeiro, tomar decisões Não ser organizada nas
conscientes de consumo, finanças, não ter reserva
PESQUISA
poupar/guardar dinheiro todo financeira, gastar mais do
QUANTITATIVA
mês, ter uma reserva que ganha, não fazer
financeira, ter uma renda planejamento financeiro
própria
Ausência da educação
financeira na família de
Fazer planejamento
origem, dificuldade em
financeiro, ter salário e/ou
seguir um planejamento,
reserva garantida como
gastar mais do que
segurança, autonomia de não
PESQUISA ganha, pedir ajuda
depender de terceiros,
QUALITATIVA financeira de
investimento em educação
alguém/dependência do
financeira, ter um diálogo
parceiro, agir por impulso
com família/cônjuge sobre
ou por influência de
dinheiro
outros, ter dificuldade
com o cartão de crédito

Fonte: dados elaborados pela autora segundo os resultados obtidos da pesquisa.


100

Diante da tabela acima, pode-se evidenciar que, em relação aos aspectos que
favorecem, algumas decisões aparecem nas duas pesquisas (quantitativa e
qualitativa). Uma dessas decisões reincidentes é a de fazer um planejamento
financeiro, o que mostra que as participantes apresentam a percepção de que fazer
um planejamento financeiro é uma parte importante da educação financeira e
contribui para sua autonomia. Além do planejamento financeiro, ter uma reserva
financeira e ter uma renda própria também apareceram como questões fortes para
contribuir com a autonomia da mulher.
Em relação às questões que dificultam a educação financeira e a autonomia
da mulher, o planejamento financeiro também foi percebido como um fator relevante,
pois a falta dele acarreta consequências negativas à autonomia. Além disso, a falta
de organização financeira e a ausência de educação financeira na família também
foram percebidas pelas mulheres como sendo decisões negativas para a sua
autonomia. Outro ponto que apareceu nas duas pesquisas, mas com termos
diferentes, é a atitude de gastar mais do que ganha e o uso descontrolado do cartão
de crédito. Nestes dois casos, a pessoa tem dificuldade em estabelecer limite de
gastos, levando a consequências de dependência financeira de outros.
101

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O tema proposto neste trabalho mostra-se de grande importância para a


sociedade atualmente, tendo em vista que a autonomia, tanto financeira quanto
emocional, da mulher com relação ao uso do dinheiro ainda precisa ser
desenvolvida. Após um estudo exaustivo, que se utilizou de dois tipos de
delineamento de pesquisa, quantitativo para explorar dados e qualitativo para
aprofundá-los, este trabalho alcançou resultados satisfatórios.
Tendo por objetivo identificar e compreender como a tomada de decisão das
mulheres ao usar o dinheiro afeta sua autonomia emocional, esta pesquisa procurou
responder a esta questão com o uso dos objetivos específicos e das considerações
apresentadas a seguir.
Quanto ao objetivo de identificar e compreender quais as tomadas de decisão
das mulheres estão relacionadas com uma educação financeira que promova mais
autonomia emocional, pode-se identificar na pesquisa quantitativa as decisões de
fazer um planejamento financeiro, investimentos, poupar dinheiro todo mês, ter uma
reserva financeira e ter uma renda própria. Essas atitudes tiveram maior valorização
no que diz respeito a questões que colaboram para a autonomia emocional e
financeira da mulher. Em relação aos resultados da pesquisa qualitativa, foram
apontadas as decisões de fazer investimento em educação financeira e ter um
diálogo com a família sobre dinheiro.
Esses resultados indicam que as mulheres participantes possuem certo nível
de educação financeira, considerando que todas essas atitudes estão ligadas a um
pensamento crítico sobre o uso do dinheiro, além de proporcionarem às mulheres
uma maior percepção de seus ganhos e gastos, dando a elas a possibilidade de
usarem o seu dinheiro para atender suas diversas necessidades. Desse modo, as
decisões citadas acima contribuem sim para a autonomia tanto emocional quanto
financeira das mulheres.
Sobre o objetivo de identificar e compreender quais as tomadas de decisão
das mulheres dificultam uma educação financeira e afetam negativamente a sua
autonomia, identificou-se na pesquisa quantitativa as decisões de não ser
organizada nas finanças, não ter uma preparação para aposentadoria, pagar dívidas
102

e/ou empréstimos, gastar mais do que ganha, não ter reserva financeira e não fazer
um planejamento financeiro. Na pesquisa qualitativa, essas decisões também
apareceram como questões que dificultam a autonomia da mulher, além de outras
decisões, tais como: pedir ajuda financeira de alguém, agir por impulso ou por
influência de outros e usar o cartão de crédito sem organização. Tais
comportamentos apresentam uma maneira impulsiva e não crítica do uso do
dinheiro, gerando situações em que a mulher não consegue dispor do seu dinheiro
de maneira próspera e com educação financeira, levando à necessidade de ajuda de
terceiros para se manter em suas condições.
No que diz respeito ao objetivo de identificar e compreender quais as
diferenças entre as tomadas de decisão na educação financeira das mulheres que
têm filhos e das que não têm filhos, foi constatado na pesquisa qualitativa que sim,
há diferenças nas decisões desses dois grupos de mulheres. A principal decisão
identificada como diferente para as mulheres que são mães foi a priorização dos
gastos com o(s) filho(s) e não consigo mesmas. Mulheres que têm filhos colocam as
necessidades destes como prioridade para gastos financeiros, independente se o pai
da criança provê recursos financeiros para tal. Essa decisão acaba trazendo para as
mulheres a maior responsabilidade sobre os gastos advindos de seus filhos,
provocando consequências para a sua autonomia, já que o dinheiro que seria
destinado para suas próprias necessidades e desejos acaba sendo redirecionado.
Diante do que foi constatado nesta pesquisa, entende-se que as mulheres
que possuem maior conhecimento e prática da educação financeira tendem a tomar
melhores decisões em relação ao uso do seu dinheiro, o que contribui para o
desenvolvimento da sua autonomia. Estas práticas de educação financeira das
mulheres desta pesquisa referem-se a: fazer planejamento financeiro, tomar
decisões conscientes de consumo, poupar dinheiro todo mês, ter uma reserva
financeira, ter uma renda própria, não depender de terceiros, investir em educação
financeira e ter um diálogo com família/cônjuge sobre dinheiro.
Sugere-se o aprofundamento de estratégias para aperfeiçoar a compreensão
das melhores maneiras de manusear o dinheiro. Além disso, investigar sobre o que
leva as mulheres a tomar para si toda a responsabilidade financeira dos filhos, uma
vez que os pais também têm essa responsabilidade. Uma outra sugestão para
futuras pesquisas seria investigar como essa autonomia emocional da mulher em
103

relação ao dinheiro impacta nas suas relações interpessoais, seja na família, no


casamento, com amigos, com trabalho etc.
As mulheres conquistaram muitos direitos ao longo da história, o de ter o seu
próprio dinheiro é um deles. Entretanto, conquistar sua autonomia e a liberdade da
mulher como um todo ainda é um desafio em muitos aspectos. Assim como é dito
por Beyoncé em sua canção Run The World (Girls) "fortes o suficiente para cuidar
dos filhos e depois voltar aos negócios , mulheres são capazes de trabalhar, cuidar
dos filhos e ainda ser governantes da sua própria vida com autonomia.
104

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APÊNDICE 1 - QUESTIONÁRIO DE PERFIL SOCIO-ECONÔMICO

1- Cidade onde reside?________________________________________________

2- Estado? Estado de origem da mulher:__________________________________

3- Estado civil:
( ) Solteira
( ) Solteira com filho(os)
( ) Noiva
( ) União estável. Há quanto tempo?_______________________________
( ) Vivendo o primeiro casamento. Há quanto
tempo?_______________________________________________________
( ) Vivendo o segundo casamento. Há quanto
tempo?_______________________________________________________
( ) Viúva. Há quanto tempo?_____________________________________
( ) Divorciado/ Separado. Há quanto tempo?________________________

4- Tipo de moradia?
( ) Moradia própria
( ) Moradia cedida
( ) Moradia alugada
( ) Moradia com parentes

5- Quem reside na casa atualmente?____________________________________

6- Tem filhos na relação atual?


( ) Sim ( ) Não Quantos:_______________________________

7- Tem filhos de outra relação?


( ) Sim ( ) Não Quantos:_______________________________

8- Idade da mulher?_________________________________________________

9- Idade dos filhos?_________________________________________________

10- Escolaridade da mulher?


( ) Ensino Fundamental Incompleto
( ) Ensino Fundamental Completo
( ) Ensino Médio Incompleto
( ) Ensino Médio Completo
( ) Formação técnica
( ) Ensino Superior Incompleto
( ) Ensino Superior Completo
( ) Pós Graduação
( ) Mestrado
( ) Doutorado
( ) Pós Doutorado
113

11- Profissão da mulher?


( ) Profissional liberal
( ) Assalariado
( ) Autônomo
( ) Aposentado
( ) Não trabalha

12- Renda familiar?


( ) Até 5 salários
( ) 5 a 9 salários
( ) 10 a 20 salários
( ) 21 a 30 salários
( ) Mais que 31 salários

13- Esta renda é mantida por quem?


( ) Somente pelo homem
( ) Somente pela mulher
( ) Pelo homem e complementado pela mulher
( ) Pela mulher e complementado pelo homem
( ) Por ambos igualmente
( ) complementado pelos filhos
( ) Outro:______________________________________________________
114

APÊNDICE 2 - QUESTIONÁRIO NO GOOGLE FORMS PARA PESQUISA


QUANTITATIVA

Olá! Sou Agnes Beatrice dos Santos Rodrigues, R.A. 10040530, estudante
regularmente matriculada no último ano do curso de Psicologia da Universidade de
Taubaté (UNITAU), sob a orientação da Profa. Dra. Andreza Maria Neves
Manfredini, estou realizando uma pesquisa para o meu trabalho de graduação cujo
título A autonomia emocional das mulheres na educação finan Diante disso,
gostaria de convidar mulheres que estejam na faixa etária dos 20 aos 40 anos de
idade, que residam no estado de São Paulo, a participar da pesquisa, respondendo
o questionário. A pesquisa tem o objetivo de identificar e compreender como a
tomada de decisão das mulheres ao usar o dinheiro afeta a autonomia emocional
das mulheres. Para o indivíduo participante, essa pesquisa pode trazer como
contribuição, uma maior clareza sobre o uso que faz atualmente com o dinheiro e
com o que fez no passado. Para você participar da pesquisa, basta ler e aceitar o
que consta no termo de consentimento livre e esclarecido e, logo após o aceite, terá
acesso às perguntas e assim poderá responder ao questionário. Número do
CEP/CAAE (Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa): 29529720.2.0000.5501.

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido


(Colocar aqui o TCLE para a pesquisa quantitativa anexo 1)

QUESTIONÁRIO
1. Em sua opinião, o que é uma educação financeira?
a. ( ) Saber administrar os bens
b. ( ) Poupar/economizar dinheiro
c. ( ) Investir dinheiro e bens
d. ( ) Ter um planejamento financeiro
e. ( ) Tomar decisões conscientes de consumo
f. ( ) Outro:___________________________________________

2. Quais as formas que você usa o seu dinheiro que leva a uma educação
financeira? Assinale quantas alternativas você realiza atualmente.
a. ( ) Guardo e gasto esporadicamente
115

b. ( ) Guardo e gasto todo mês


c. ( ) Guardo mais do que gasto
d. ( ) Empresto dinheiro a amigos e familiares
e. ( ) Tenho previdência privada
f. ( ) Doa dinheiro
g. ( ) Faço investimentos em instituições financeiras e/ou em bancos
h. ( ) Outro: ___________________________________________

3. O que faz você se sentir segura e confiante para tomar decisões? Assinale
quantas alternativas você realiza atualmente.
a. ( ) Ter uma renda própria
b. ( ) Ter a ajuda de alguém
c. ( ) Não depender de ninguém
d. ( ) Ter uma reserva financeira
e. ( ) Poder comprar/pagar por coisas que eu quero
f. ( ) Ter um planejamento de gastos
g. ( ) Ter investimentos financeiros
h. ( ) Ter prioridades e objetivos bem claros

4. Em sua opinião, quais são as decisões financeiras que te proporcionam


uma autonomia?
a. ( ) Guardar dinheiro todo mês
b. ( ) Guardar dinheiro esporadicamente
c. ( ) Guardar mais do que gastar
d. ( ) Pagar previdência privada
e. ( ) Pagar seguro de vida
f. ( ) Não emprestar dinheiro de amigos, familiares e de instituições
financeiras
g. ( ) Fazer investimentos
h. ( ) Outro: ___________________________________________

5. Qual a forma que você usa o dinheiro que dificulta uma educação
financeira?
116

a. ( ) Gastar mais do que ganha


b. ( ) Pagar dívidas e/ ou empréstimos
c. ( ) Não ter uma preparação para a aposentadoria
d. ( ) Não ser organizado nas finanças
e. ( ) Não fazer orçamento familiar a cada mês
f. ( ) Esquecer de pagar contas
g. ( ) Outro: ___________________________________________

6. Quais as decisões financeiras que dificultam uma autonomia?


a. ( ) Gastar mais do que ganha
b. ( ) Pagar dívidas e/ ou empréstimos
c. ( ) Não ter uma preparação para a aposentadoria
d. ( ) Não ser organizado nas finanças
e. ( ) Não fazer orçamento familiar a cada mês
f. ( ) Esquecer de pagar contas
g. ( ) Outro: ___________________________________________

7. Você acredita que as decisões que você toma quanto ao uso do seu
dinheiro favorecem a sua autonomia?
a. ( ) Sim
b. ( ) Não
117

APÊNDICE 3 - ROTEIRO DE ENTREVISTA

Na sua opinião, o que é uma educação financeira?


Quais as formas que você usa o seu dinheiro que leva a uma educação
financeira?
O que faz você se sentir segura e confiante para tomar decisões?
Na sua opinião, quais são as decisões financeiras que te proporcionam uma
autonomia?
Qual a forma que você usa o dinheiro que dificulta uma educação financeira?
Quais as decisões financeiras que dificultam uma autonomia?
Você acredita que as decisões que você toma quanto ao uso do seu dinheiro
favorecem a sua autonomia?
Na sua opinião, as decisões que as mulheres tomam em relação ao dinheiro
são diferentes para aquelas que têm filhos e as que não têm?
Qual assunto que conversamos foi mais importante para você?
118

ANEXO 1 - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA A


PESQUISA QUANTITATIVA
O Sr.(a) está sendo convidado(a) a participar como voluntário(a) da pesquisa A autonomia emocional
das mulheres na educação financeira responsabilidade da pesquisadora Andreza Maria Neves
Manfredini. Nesta pesquisa pretendemos identificar e compreender como a tomada de decisão das mulheres
ao usar o dinheiro afeta a autonomia emocional das mulheres; Identificar e compreender quais as
tomadas de decisão das mulheres que estão relacionadas com uma educação financeira que promova mais
autonomia emocional; Identificar e compreender quais as tomadas de decisão das mulheres que dificultam
uma educação financeira e afetam negativamente a autonomia; Identificar e compreender quais as
diferenças entre as tomadas de decisões na educação financeira das mulheres que tem filhos para as que
não têm filhos. Por meio da pesquisa quantitativa, será utilizada como método a pesquisa de levantamento e terá
como instrumento um questionário online. Os participantes deverão ser mulheres dos 20 a 40 anos, pertencentes
à classe média e residente no estado de São Paulo.
Há benefícios e riscos decorrentes de sua participação na pesquisa. Os benefícios consistem em
contribuir para compreensão da tomada de decisões de mulheres em relação ao dinheiro e como isso
contribui para sua autonomia emocional. Para o indivíduo participante, essa pesquisa pode trazer como
contribuição, uma maior clareza sobre o uso que faz atualmente com o dinheiro e com o que fez no
passado. Esta pesquisa também contribui com a psicologia econômica a fim de compreender de modo
mais profundo e amplo as atitudes das mulheres para desenvolver uma educação financeira eficaz. Além
disso, visa contribuir com toda a sociedade para entender as atitudes e comportamentos econômicos das
mulheres frente a seu processo de autonomia emocional. Os riscos são mínimos, o possível risco que a
pesquisa poderá causar será caso o participante se sinta desconfortável emocionalmente, inseguro ou
tenha o desejo de não fornecer alguma informação solicitada pela pesquisa. Com vistas a prevenir
possíveis riscos, fica garantido o direito de deixar de responder qualquer pergunta que julgue por bem
assim proceder ou solicitar que os dados fornecidos durante a coleta não sejam utilizados. Se necessário, o
contato de e-mail e de WhatsApp da pesquisadora está disponível abaixo para que possa fornecer um
acolhimento on-line caso necessite.
Para participar deste estudo o Sr.(a) não terá nenhum custo, nem receberá qualquer vantagem financeira.
O Sr.(a) receberá o esclarecimento sobre o estudo em qualquer aspecto que desejar e estará livre para recusar-se
a participar e a recusa em participar não acarretará qualquer penalidade ou modificação na forma em que é
atendido pelo pesquisador, que tratará a sua identidade com padrões profissionais de sigilo.
Os resultados da pesquisa estarão à sua disposição quando finalizada. Seu nome ou o material que
indique sua participação não será liberado sem a sua permissão. O(A) Sr.(a) não será identificado em nenhuma
fase da pesquisa e nem em publicação que possa resultar. Os dados e instrumentos utilizados na pesquisa ficarão
arquivados com o pesquisador responsável por um período de 5 (cinco) anos. Este termo de consentimento
encontra-se impresso em duas vias, sendo que uma cópia será arquivada pelo pesquisador responsável, e a outra
será fornecida ao senhor(a). Para qualquer outra informação (a) Sr.(a) poderá entrar em contato com o
pesquisador por telefone (12) 99141-3334 inclusive ligações à cobrar ou e-mail andreza.m@uol.com.br.
Currículo Lattes dos pesquisadores: currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/5142985003572634 e
http://lattes.cnpq.br/4738758689648481 .
Em caso de dúvidas com respeito aos aspectos éticos deste estudo, o(a) Sr.(a) poderá consultar o Comitê
de Ética em Pesquisa CEP/UNITAU na Rua Visconde do Rio Branco, 210 centro Taubaté, telefone (12)
3635-1233, e-mail: cep@unitau.br
O pesquisador responsável declara que a pesquisa segue a Resolução CNS 466/12.

Rubricas: pesquisador responsável_______________________ participante________________________


Andreza Maria Neves Manfredini

Consentimento pós-informação
Eu, _____________________________________________, portador do documento de identidade
____________________ fui informado (a) dos obje A autonomia emocional das mulheres na
educação financeira de maneira clara e detalhada e esclareci minhas dúvidas. Sei que a qualquer momento
poderei solicitar novas informações sobre a pesquisa e me retirar da mesma sem prejuízo ou penalidade.
Declaro que concordo em participar. Recebi uma cópia deste termo de consentimento livre e esclarecido e me foi
dada a oportunidade de ler e esclarecer as minhas dúvidas.
_______________, _________ de __________________________ de 20_____.
_____________________________________ Assinatura do(a) participante
119

ANEXO 2 - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA A


PESQUISA QUALITATIVA
O Sr.(a) está sendo convidado(a) a participar como voluntário(a) da pesquisa A autonomia emocional
das mulheres na educação financeira idade da pesquisadora Andreza Maria Neves
Manfredini. Nesta pesquisa pretendemos identificar e compreender como a tomada de decisão das mulheres
ao usar o dinheiro afeta a autonomia emocional das mulheres; Identificar e compreender quais as
tomadas de decisão das mulheres que estão relacionadas com uma educação financeira que promova mais
autonomia emocional; Identificar e compreender quais as tomadas de decisão das mulheres que dificultam
uma educação financeira e afetam negativamente a autonomia; Identificar e compreender quais as
diferenças entre as tomadas de decisões na educação financeira das mulheres que tem filhos para as que
não têm filhos. Por meio da pesquisa qualitativa, será utilizada como método a entrevista semiestruturada. Os
participantes deverão ser mulheres dos 20 a 40 anos, pertencentes à classe média e residente no estado de São
Paulo.
Há benefícios e riscos decorrentes de sua participação na pesquisa. Os benefícios consistem em
contribuir para compreensão da tomada de decisões de mulheres em relação ao dinheiro e como isso
contribui para sua autonomia emocional. Para o indivíduo participante, essa pesquisa pode trazer como
contribuição, uma maior clareza sobre o uso que faz atualmente com o dinheiro e com o que fez no
passado. Esta pesquisa também contribui com a psicologia econômica a fim de compreender de modo
mais profundo e amplo as atitudes das mulheres para desenvolver uma educação financeira eficaz. Além
disso, visa contribuir com toda a sociedade para entender as atitudes e comportamentos econômicos das
mulheres frente a seu processo de autonomia emocional. Os riscos são mínimos, o possível risco que a
pesquisa poderá causar será caso o participante se sinta desconfortável emocionalmente, inseguro ou
tenha o desejo de não fornecer alguma informação solicitada pela pesquisa. Com vistas a prevenir
possíveis riscos, fica garantido o direito de deixar de responder qualquer pergunta que julgue por bem
assim proceder ou solicitar que os dados fornecidos durante a coleta não sejam utilizados. Em relação a
pesquisa qualitativa, se necessário, será feita uma escuta e orientação para que a participante busque o
CEPA Centro de Psicologia Aplicada para que as demandas que surgirão sejam trabalhadas de forma
saudável e adequada.
Para participar deste estudo o Sr.(a) não terá nenhum custo, nem receberá qualquer vantagem financeira.
O Sr.(a) receberá o esclarecimento sobre o estudo em qualquer aspecto que desejar e estará livre para recusar-se
a participar e a recusa em participar não acarretará qualquer penalidade ou modificação na forma em que é
atendido pelo pesquisador, que tratará a sua identidade com padrões profissionais de sigilo.
Os resultados da pesquisa estarão à sua disposição quando finalizada. Seu nome ou o material que
indique sua participação não será liberado sem a sua permissão. O(A) Sr.(a) não será identificado em nenhuma
fase da pesquisa e nem em publicação que possa resultar. Os dados e instrumentos utilizados na pesquisa ficarão
arquivados com o pesquisador responsável por um período de 5 (cinco) anos. Este termo de consentimento
encontra-se impresso em duas vias, sendo que uma cópia será arquivada pelo pesquisador responsável, e a outra
será fornecida ao senhor(a). Para qualquer outra informação o(a) Sr.(a) poderá entrar em contato com o
pesquisador por telefone (12) 99141-3334 inclusive ligações à cobrar ou e-mail andreza.m@uol.com.br.
Currículo Lattes dos pesquisadores: currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/5142985003572634 e
http://lattes.cnpq.br/4738758689648481 .
Em caso de dúvidas com respeito aos aspectos éticos deste estudo, o(a) Sr.(a) poderá consultar o Comitê
de Ética em Pesquisa CEP/UNITAU na Rua Visconde do Rio Branco, 210 centro Taubaté, telefone (12)
3635-1233, e-mail: cep@unitau.br
O pesquisador responsável declara que a pesquisa segue a Resolução CNS 466/12.

Rubricas: pesquisador responsável_______________ participante________________


Andreza Maria Neves Manfredini

Consentimento pós-informação
Eu, _____________________________________________, portador do documento de identidade
____________________ fui informado (a) dos objetivos da pesquisa A autonomia emocional das mulheres na
educação financeira eira clara e detalhada e esclareci minhas dúvidas. Sei que a qualquer momento
poderei solicitar novas informações sobre a pesquisa e me retirar da mesma sem prejuízo ou penalidade.
Declaro que concordo em participar. Recebi uma cópia deste termo de consentimento livre e esclarecido e me foi
dada a oportunidade de ler e esclarecer as minhas dúvidas.
_______________, _________ de __________________________ de 20______.
_____________________________________ Assinatura do(a) participante
120

ANEXO 3 PARECER CONSUBSTANCIADO DO CENTRO DE ÉTICA E


PESQUISA
121
122
123
124

ANEXO 4 PARECER CONSUBSTANCIADO DO CENTRO DE ÉTICA E


PESQUISA ADENDO
125

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