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Carta Aberta
A MÚSICA E A ESPIRITUALIDADE

Não poucos servos do Senhor acham-se hoje preocupados e pesarosos, diante da perda
da solenidade que antes revestia os nossos encontros com Deus, em nossos templos, conseqüência da
progressiva banalização dos cultos e programações de nossa Igreja. O que estaria por detrás desta
realidade?
Múltiplos são os instrumentos e métodos utilizados pelo maligno, visando lançar por
terra as principais características e os referenciais do adventismo, tão cuidadosamente consolidados ao
longo de mais de um século e meio de existência, e que nos elevaram a um patamar de seriedade,
credibilidade e dignidade no meio cristão.
Nesta oportunidade quero reportar-me a tão somente um dos recursos utilizados pelo
inimigo, mediante os quais busca ele descaracterizar nossa identidade como “A Igreja Remanescente”:
a música balançada e requebrada !
Não bastassem os “rocks” e assemelhados, aos quais há tanto tempo temos resistido, e
eis que, de uns anos para cá, o antes repudiado samba vem-nos agora sendo empurrado garganta
abaixo, de modo cada vez menos disfarçado.
- Deveríamos, agora, esquecer o que antes nos foi ensinado, que semelhante ritmo tem
tudo a ver com a sensualidade, com a carnalidade e com a malícia, além de o mesmo ter raízes no culto
afro-espírita, na essência e na forma?
Não é preciso ser músico para constatar a verdadeira obsessão que move muitos de
nossos compositores e cantores, que parecem nada mais conseguir compor ou cantar, que não esteja
entremeado de um explícito ou velado balanço (até as músicas relativamente lentas o são!). Há quem
afirme que a culpa de tudo estaria nos chamados “arranjos”.
É interessante que mesmo pessoas versadas se confessam incapazes de identificar o
ritmo de muitas destas músicas, que em alguns casos seriam uma miscelânea de “pop”, “salsa”, “soul”,
“bossa-nova”, etc, e parecendo remeter ao samba, ainda que num estágio “light”, por seu balanço e
porque, se dançadas, o seriam no compasso do mesmo.
Irmãos dedicados, que investem seu valioso tempo e energia na formação de nossos
pequeninos “aventureiros”, desbravadores e juvenis, confessam-se estarrecidos e estupefatos com as
músicas requebradas que permeiam os CDs que nos últimos tempos lhes têm chegado às mãos,
fornecidos pelas ASSOCIAÇÕES, para serem aprendidas e cantadas pelas nossas crianças. O mesmo
vem em parte acontecendo com outros CDs oficiais, como o CD Minº. Jovem (2004) e aqueles que a
instituição produz especialmente para animar conferências e congressos, onde vemos o estilo dançante
e/ou balançado. E, no tocante aos CDs do “Nosso Amiguinho”? Os que já os ouviram devem saber a
que estou me referindo!
- Estaríamos, como Igreja, sendo vítimas de um complô, de um verdadeiro processo de
sabotagem, a partir de um grupo que desautorizadamente se teria apossado, dentro da instituição, das
rédeas e diretrizes relativas à música, erotizando-a e mundanizando-a, mediante a introdução de ritmos
e gêneros profanos, estranhos à nossa formação e à nossa sensibilidade? E assim destituindo-nos de um
de nossos mais caros e nobres referenciais, de um dos principais formadores de nossa identidade como
povo do advento? E assim nos empurrando para uma vala comum, compartilhada já por tantos?
- Reflitamos: não estaríamos diante do surgimento de um “vento” carismático, não
partindo de alguma ala leiga, e não por pressão de fora, mas algo planejado e formando-se em nossas
próprias entranhas organizacionais???.......
- A quem cabe a responsabilidade pelo caos a que chegamos, em termos de música?
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Tempos atrás nossa grande preocupação consistia em o mundo entrar na Igreja com
suas práticas e costumes. Hoje o grande tormento está em a Igreja ir ao mundo com a alegação de
levar-lhe Cristo, e de lá voltar trazendo todos os seus comprometimentos, suas inclinações e sua
rebeldia.
Em se tratando daqueles cantores independentes (e entre estes até alguns ex-integrantes
do quarteto da Voz da Profecia), envolvidos com a introdução do “balanço” na Igreja, simplesmente
podemos não comprar seus CDs. Entretanto, que deveria ser recomendado às nossas igrejas, no tocante
àqueles CDs oficiais a que acima nos referimos? E que cuidados devemos recomendar aos irmãos em
relação à compra de CDs dos atuais “Arautos”, que também aderiram aos “balanços” e “requebrados”
ultimamente? E, além de tudo, como compreender que toda esta produção (CDs oficiais) esteja sendo
custeada pela própria Igreja, isto é, por todos nós dizimistas?
"A conformidade aos costumes mundanos converte a Igreja ao mundo; jamais
converte o mundo a Cristo" (O Grande Conflito, E.G.W., pg. 509)
- Não deveríamos de há muito ter-nos articulado contra semelhante processo de
desfiguração, embora nossa condição de leigos? Ou será que podemos eximir-nos, pretextando que
temíamos exceder-nos em nossas atribuições?
- Mas, perguntarão os que lêem o presente clamor, qual seria o campo de observação do
autor? Responderei que minhas conclusões se baseiam nas programações musicais da RÁDIO NOVO
TEMPO e nas músicas cantadas nos nossos templos, quer trazidas por solistas distritais (geralmente
amadores) que aí se apresentam, quer por ocasião de nossos cultos JA, onde costumamos ser
convidados a acompanhar as músicas contidas em nossos CDs oficiais.
A propósito da RÁDIO NOVO TEMPO, cumpre-nos reconhecer sua programação como
muito bem elaborada, com palestras e debates de elevadíssimo nível espiritual, tudo muito elogiado
também por ouvintes evangélicos, alguns admitindo sintonizar a emissora ininterruptamente, dia e
noite. Sabem o porquê? Exatamente por causa da grande diferença em relação às emissoras de outras
denominações: seriedade, sobriedade, reverência a Deus e espiritualidade (em especial no tocante às
músicas). E um grande esforço de qualidade me parece perceptível no tocante à seleção das músicas
ali executadas (baseio-me pela FM de Nova Friburgo-RJ). Como, porém, a programação é de 24 horas,
talvez aí resida a explicação para o fato de certas músicas, fora do contexto, serem também levadas ao
ar, e isto, creio, independentemente da vontade da direção. A bem da verdade - e considerando nosso
justificado zelo pela preservação da pureza de nosso povo - como poderíamos exigir perfeição de
nossos irmãos encarregados da triagem das músicas, se isto implicaria requerer deles um estágio no
mundo do “rock”, do “samba”, do “forró”, “pagode”, “funk” e de outros tantos, para aprovarem ou
vetarem com um máximo de precisão? Outro fator, que talvez determine um certo afrouxamento na
seleção das músicas, pode decorrer do conceito ou renome que cercam determinado cantor ou
conjunto. Daí vários sambas, alguns bastante sacudidos, estarem sendo repetidamente executados
ultimamente, como por exemplo: a) A BÍBLIA e b) BAIXINHOS E GRANDÕES. Afora isso, entendo
que muitas músicas - nascidas não da inspiração, mas da obsessão, obsessão por lançar "a toque de
caixa" mais um CD no mercado - sejam executadas por insistência de seus autores, principalmente
quando apadrinhados. É por ocasião destas músicas que muitos de nós certamente desligamos o rádio.
Tenho ouvido que cantores adventistas começaram a pender para a música “sacudida”,
quando se viram atraídos a vender seus produtos no mercado pentecostal, onde gêneros como “forró”,
“pagode”,”samba”, “baião”, “salsa”, “rock” e o chamado "gospel interdenominacional" são muitíssimo
apreciados.
Àqueles irmãos que optaram por semelhante caminho, poderíamos recordar os dizeres
de Apoc. 18:4 "... Retirai-vos dela, povo meu, para não serdes cúmplices em seus pecados e para
não participardes de seus flagelos".
- Mas diante da realidade dos fatos, e das dificuldades para modificar o seu curso, não
deveríamos alertar nosso povo para que não adquira, inadvertidamente, os CDs de cantores que
fizeram sua opção pela "ginga" e pelo "gospel" ?
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- E os responsáveis pela música, em nossos templos, não deveriam também ser
alertados? Lamentavelmente foi-se o tempo em que o solista ensaiava previamente com o pianista, o
que ensejava tempo e ocasião para avaliar e aprovar, ou não, a música que se pretendia cantar. Hoje o
cantor entrega o CD ao encarregado do som, apenas informando o número da música ou a seqüência a
ser seguida. E como o encarregado do som raramente é um membro experimentado, muitas vezes nosso
povo é constrangido a ouvir músicas e ritmos impróprios e inconvenientes, que ao invés de elevá-lo
espiritualmente, o leva para o secular. Ao mesmo tempo, transforma nossos templos em casas de
"shows".
- Não deveriam as músicas passar antes pelo crivo de um responsável, verdadeiramente
conhecedor de música? Além disso, quão comum é hoje constatarmos nossas belas músicas
tradicionais, sobretudo as de nosso hinário, sofrerem verdadeiros “desarranjos” e serem pervertidas em
ritmos seculares e profanos, por muitos cantores e cantoras.
“Os professos seguidores de Cristo não são mais um povo separado e peculiar. A
linha demarcatória é imperceptível. O povo está se subordinando ao mundo, às suas práticas,
costumes... Diariamente a Igreja se está convertendo ao mundo” (Parábolas de Jesus, E.G.W, pgs.
315 e 316).
Habilmente, os introdutores do balanço o intercalam, nos seus CDs, em meio a ritmos
tradicionais, pouco a pouco, para evitar a rejeição que de outra forma aconteceria.
- Ter-nos-á o Senhor por desculpados, à medida que nos mantemos em atitude
contemplativa, enquanto o maligno degrada a forma, o conteúdo e a solenidade de nosso rito? Qual
postura estará o Senhor Deus esperando de nós, além de orarmos acerca de tais fatos?
- Não deveríamos seguir ao Senhor Jesus, tendo a mesma indignação que Ele, ao ver o
Templo desonrado pelos vendilhões?
“Vou agora cantar um sambinha prá Jesus”, pode ser algo normal em outras igrejas, mas
na minha, não! POR FAVOR, NÃO! Por favor, meus amados irmãos, não digamos amém a isto! Antes,
indignemo-nos e coloquemo-nos em defensiva diante de tão indesejável perspectiva.
" ....ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus" ( I Cor. 10:31) .
Há alguns anos, ao estar junto à porta de um templo pentecostal na cidade de São
Gonçalo-RJ, aguardando que chamassem uma pessoa que eu pedira viesse falar comigo, eis que da rua
irrompeu um grupo de moças e rapazes, perguntando se ali estava acontecendo o pagode pelo qual eles
procuravam. Foram informados que ficava na mesma rua, só que um pouco mais adiante...(a letra das
músicas, que poderia ter evitado o equívoco da rapaziada, ficara abafada pelo barulho dos
instrumentos).
"O mundo ficará convencido não pelo que o púlpito ensina, mas pelo que a Igreja
vive" (Serviço Cristão, E.G.W., pg. 67).
- Como evitar que ritmos balançados, e por isso contagiantes, venham a cair no gosto de
nossos jovens? E como impedir que a Igreja toda acabe balançando, à medida que aqueles
compositores e intérpretes, por entenderem nosso silêncio como um sinal de aprovação, se sintam
encorajados a tornarem-se cada vez mais ousados, passando do atual estágio “light” para um estágio
mais “pesado” e mais contundente de samba e outros “balanços”? E à medida que ingenuamente se
permite que músicas em tais gêneros e ritmos continuem a ser cantadas nas programações das nossas
igrejas, seja por causa do despreparo do responsável pelo som, seja porque nem o cantor conheça o
gênero da música que pretende cantar? E à medida que nossos CDs oficiais também estejam
igualmente a propagar semelhantes ritmos?
Aqueles que dão importância a nossos cultos JA, e que a eles comparecem, muitas vezes
vêem-se em desconforto e embaraço, quando o amável jovem, à frente da programação,
desavisadamente os convida a acompanhá-lo nos cânticos - justamente daquelas músicas a que já nos
referimos (CDs oficiais), que, além do mais soam enfadonhas e desprovidas de espiritualidade.
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Tenho certeza plena de que milhares e milhares de adventistas responsáveis, esclarecidos
e tementes a Deus, estão a compartilhar da mesma apreensão e indignação aqui extravasadas, mas que
possivelmente não tenham tido oportunidade ou meios apropriados para se expressar.
"Conservei em Israel sete mil, todos os joelhos que não se dobraram a Baal, e toda
boca que o não beijou" ( I Reis, 19:18 ).

Daí a minha confiança em que a presente iniciativa venha a ser corretamente


entendida, mesmo porque meu único, sincero e veemente desejo é tão somente sensibilizar a direção
de nossa amada Igreja, para o grande risco representado pelas distorções aqui apontadas, anelando que
ela recorra a competentes mestres em música, consagrados e comprometidos com a causa de Cristo,
para que revejam tudo o que de indesejável se produziu nos últimos tempos, em termos de música.
Paralelamente, seria uma boa medida o imediato recolhimento de todos aqueles mencionados CDs
oficiais ultimamente produzidos, espalhados em todas as nossas igrejas, para que o prejuízo espiritual
já causado seja amenizado e não cresça ainda mais, e para que um efetivo retorno às antigas veredas
venha a renovar nossas esperanças e o nosso entusiasmo em testemunhar de Cristo.
“Temos uma grandiosa herança da qual devemos nos orgulhar. Não tenhamos
medo de voltar aos fundamentos" ("Rumo ao Futuro" , Jere D. Patzer, pg. 13).
Pela vontade do Senhor Todo Poderoso, seja o clamor desta mensagem ouvido e não
desprezado. E apraza ao Eterno, que me motivou a escrevê-la, que a mesma chegue às mãos das
pessoas certas, detentoras de autoridade, consagradas, e com sensibilidade para a gravidade do assunto
ora exposto e a urgência que o mesmo está a requerer. E mesmo não sendo meu objetivo expor a quem
quer que seja, permita a Divina Providência que este clamor chegue também ao conhecimento de cada
irmão e irmã adventista, sobretudo para consolo e conforto daqueles que de há muito se acham
igualmente chocados, perplexos e até desnorteados, pelas razões já comentadas, sendo justo e oportuno
que um questionamento de tão grande importância, para o presente e o futuro de nossa Igreja e da
causa de Deus, venha a ser tratado e resolvido com toda a transparência possível.
“A música foi feita para servir a um propósito sagrado, para elevar os pensamentos
para aquilo que é puro e nobre e para despertar na alma a devoção e a gratidão a Deus”
("Patriarcas e Profetas", E.G.W., pg. 637).

Digne-Se o Santo Espírito de Deus a interpretar e traduzir aquelas palavras e anseios


que minhas limitações não me permitiram expressar com a devida clareza.

Louvado seja o Senhor Deus! Amém!

Moacir Assenheimer
Rua Barão do Triunfo, 253 CEP 95900-000
Bairro Americano - LAJEADO, RS
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