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NTM - 358
1. INTRODUÇÃO
As disciplinas que tratam da teoria eletromagnética têm presença obrigatória em qualquer currículo de
Engenharia Elétrica. É inegável que qualquer assunto pertinente à engenharia elétrica tenha suas origens na teoria
eletromagnética. Entretanto, por diversas razões, a grande maioria dos estudantes apresentam uma enorme dificuldade
ao lidar com este assunto. Como razões para esse fato pode-se citar o formalismo matemático extremamente sofisticado
utilizado para apresentar a maioria dos assuntos do eletromagnetismo, e a necessidade de abstrações que permitam ao
acadêmico visualizar os fenômenos em estudo. Por estas razões, ferramentas educacionais que auxiliem os estudantes a
compreender melhor os fenômenos do eletromagnetismo sempre são bem vindas.
O físico escocês James Clerk Maxwell (1831-1879), a partir de estudos desenvolvidos por cientistas
antecessores (Faraday, Gauss, Ampère, etc.) formulou um conjunto de equações que a partir de então se convencionou
chamar de equações de Maxwell. Essas equações, que podem ser apresentadas tanto na forma integral como na forma
diferencial, mais algumas relações constitutivas, formam o cerne da teoria eletromagnética ensinada nos cursos de
graduação em Engenharia Elétrica. Maxwell descreveu a sua teoria no Treatise of Electricity and Magnetism, publicado
em 1873. Entretanto, o trabalho escrito por Maxwell ainda era de difícil leitura; coube ao telegrafista e físico inglês
Oliver Heaviside (1899-1925), conforme relata Halliday et al. [1], esclarecer a teoria de Maxwell, dando-lhe o formato
como hoje é conhecida.
As equações de Maxwell servem de ponto de partida para a obtenção das equações de campo e equações de
ondas eletromagnéticas. Em trabalho onde apresentou um simulador de ondas eletromagnéticas baseado em uma
formulação bidimensional do TLM, Bulho et al. [2] reiteram que essas equações são de difícil solução analítica, sendo
que em alguns casos ela é até mesmo impossível. A utilização de métodos numéricos na solução dessas equações já era
algo tradicional, porém seu uso estava inicialmente restrito à comunidade de pesquisadores desse assunto. A introdução
desse assunto nos currículos de graduação é algo que vem ocorrendo aos poucos. O desenvolvimento de um simulador
para a visualização de ondas eletromagnéticas baseado no Método das Diferenças Finitas no Domínio do Tempo (Finite
Difference Time Domain ou FDTD) além de prover os alunos com uma ferramenta que facilita o uso e compreensão,
também serve para introduzi-los no estudo de métodos numéricos, em trabalhos de iniciação científica.
O método FDTD oferece algumas vantagens para a sua utilização que podem ser condensadas em sua
habilidade de trabalhar com uma faixa larga de freqüências, estímulos, objetos, ambientes, posições de resposta e
diversos tipos de computadores, conforme enumerou Kunz e Luebbers [3].
Combinando a facilidade de implementação do método FDTD com os recursos gráficos do ambiente de
computação científica MATLABâ, este trabalho apresenta um simulador de ondas eletromagnéticas para tornar possível
a visualização da propagação das mesmas, bem como alguns fenômenos conseqüentes de transmissão e reflexão
segundo os meios em que viajam, contribuindo ao estudo do eletromagnetismo.
A lei de Ampère, conforme Ref. [1], relaciona a circuitação do vetor intensidade campo magnético H num
caminho fechado L, num meio qualquer, com as ações do campo elétrico manifestadas por uma corrente elétrica de
deslocamento (variação temporal do vetor densidade de fluxo elétrico D) e uma outra de condução (fluxo do vetor
densidade superficial de corrente J) através de uma superfície de área S delimitada pelo caminho L.
A lei de Faraday, também conforme Ref. [1], mostra que a força eletromotriz (fem) representada pela
circuitação do vetor intensidade de campo elétrico E no caminho L, num meio qualquer, corresponde à reação da
variação do fluxo magnético por uma superfície de área S delimitada pelo contorno definido pelo caminho L, acrescido
das perdas magnéticas, quando for o caso.
O teorema de Stokes permite que as circuitações dos vetores H e E sobre os caminhos fechados L, sejam
convertidas no fluxo do rotacional destes vetores através das superfícies delimitadas por esses caminhos, permitindo
assim a obtenção das já citadas equações de Maxwell em rotacional.
2.2 Normalização dos vetores D (densidade de fluxo elétrico) e E (intensidade de campo elétrico)
Para uma propagação unidirecional, no eixo z, as equações de Maxwell podem ser escritas em uma forma
escalar e normalizada, conforme Ref. [5]:
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∂E x c æ ∂H y ö
= 0 çç − ÷ (1)
∂t ε r è ∂z ÷ø
∂H y ∂E x
= −c 0 (2)
∂t ∂z
As derivadas temporais e espaciais são transformadas em diferenças algébricas utilizando-se uma notação
conveniente que exprima os campos simultaneamente no tempo e no espaço. Isso é ilustrado na Fig. 1, que exibe os
campos elétrico e magnético conjuntamente intercalados no espaço e no tempo, onde a interação entre eles faz com que
o valor de um determinado campo (elétrico ou magnético) seja obtido com o auxílio dos valores vizinhos do outro
campo (magnético ou elétrico) e vice-versa, conforme Taflove [4], Ref. [3] e Ref. [5].
n
Por exemplo, E x ( k ) ilustra a componente Ex no instante t = n.∆t na célula z = k.∆z e as equações de
Maxwell utilizando-se diferenças finitas e discretas, passam a ser:
E nx +1 / 2 (k ) − E nx −1 / 2 (k ) − c 0 H y (k + 1 2 ) − H y (k − 1 2 )
n n
= . (3)
∆t εr ∆z
H ny +1 (k + 1 2 ) − H ny −1 (k + 1 2 ) E nx +1 / 2 (k + 1) − E nx +1 / 2 (k − 1)
= −c 0 . . (4)
∆t ∆z
Portanto, com as equações de Maxwell na forma diferencial, torna-se fácil transcrevê-las para a forma
algébrica, e finalmente transformá-las em expressões recursivas utilizadas em códigos numéricos de programas
computacionais:
E nx +1 / 2 (k ) = E nx −1 / 2 (k ) −
1
2ε r
[
H ny (k + 1 2 ) − H ny (k − 1 2 ) ] (5)
H ny+1 (k + 1 2 ) = H ny −1 (k + 1 2 ) −
2
[
1 n +1 / 2
Ex (k + 1) − E nx +1 / 2 (k − 1) . ] (6)
3. SIMULAÇÃO NUMÉRICA
Como já visto na seção 2.3, o campo elétrico e o magnético devem estar intercalados no tempo e no espaço,
para que o método das Diferenças Finitas seja aplicado. Sob o ponto de vista computacional, basta que um dos campos
esteja adiantado no espaço de uma célula em relação ao outro e seja calculado usando os valores vizinhos do outro
campo, porém dentro do mesmo passo de tempo. O tempo é implícito no método, porém o espaço, explícito, é
arredondado e serve de índice para armazenar em vetores os valores dos campos calculados. As Eqs. (5) e (6) podem ser
reescritas computacionalmente:
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ex(k) = ex(k) + cb(k) * ( hy(k-1) - hy(k) ) (7)
Cabe ressaltar que cb(k), da Eq. (7), definido igual a 0,5 para o vácuo, é modificada para 0,5/epsilon nas
células em que o dielétrico foi especificado.
Com relação ao espaço, os vetores ex e hy são calculados separadamente para k variando de 2 a KE e de 1 a
KE-1 respectivamente, conforme fluxograma apresentado na Fig. 2.
A proposta deste simulador é de uma ferramenta, capaz de tornar possível a visualização do comportamento
dos campos elétrico e magnético, no ensino da teoria eletromagnética nos cursos de engenharia. O simulador é
composto de um programa principal e de duas rotinas de simulação numérica. As funções do programa principal são:
controlar a interface gráfica, chamar as rotinas de simulação numérica e interagir com o usuário através de comandos de
entrada de dados e de saída visual. As rotinas de simulação numérica implementam o algoritmo básico, descrito na
seção 3.1, e proporcionam a visualização animada da propagação unidirecional dos campos elétrico e magnético no
plano e no espaço.
Este simulador foi implementado utilizando a linguagem de programação MATLABâ, por tratar-se de um
sistema aberto, robusto, interativo, mundialmente utilizado e provido de recursos gráficos quase ilimitados, salientando
que poucas modificações adaptam os códigos a outras linguagens computacionais, sem grandes prejuízos.
Esta versão, de caráter preliminar, encontra-se em constante modificação com o objetivo de se tornar cada vez
mais amigável e eficiente.
A interface gráfica com o usuário apresenta duas possibilidades de animação da propagação eletromagnética:
no plano, clicando sobre o botão “MODO 2D” conforme Fig. 3, e no espaço, clicando sobre “MODO 3D” conforme
Fig. 4. No MODO 2D observam-se os fenômenos de reflexão e refração da onda eletromagnética acompanhados das
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variações nas intensidades de maneira bastante clara, enquanto que no MODO 3D torna-se possível verificar melhor a
propagação da energia eletromagnética nos dois sentidos, onde o usuário pode testemunhar o conceito conhecido do
Vetor de Poynting.
Nesta versão é possível, por meio de botões deslizantes destacados pela Fig. 5, alterar a célula onde será
aplicado o pulso bem como a célula que define a fronteira entre os meios (vácuo/dielétrico).
As Figs. 6, 7 e 8 apresentam uma seqüência de alguns quadros obtidos com o simulador, à esquerda no MODO
2D e à direita no MODO 3D, decorridos respectivamente 220, 320 e 440 passos de tempo, complementando o ilustrado
nas Figs. 3 e 4 onde estão apresentados aqueles obtidos após 100 passos de tempo. A mostra destas figuras ilustra, de
um modo estático, 4 situações da exposição animada que o simulador pode exibir.
Todas as telas que exemplificam o funcionamento do simulador, foram obtidas utilizando-se 200 células para o
espaço do problema (representado por KE no algoritmo básico), estando a fronteira entre o vácuo e o dielétrico
estabelecida em KE/2. Um pulso gaussiano foi aplicado na célula 5 (parâmetro KP) que se propagou em ambas as
direções, dando curso à simulação propriamente dita.
Decorridos 220 passos de tempo, a propagação do pulso à esquerda já foi absorvida pela respectiva fronteira e
a propagação à direita começa a cruzar a interface entre o vácuo e o dielétrico, conforme a Fig. 6, mais facilmente pelo
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MODO 2D. Por outro lado, o MODO 3D exibe os campos em ortogonalidade, ilustrando o produto vetorial dos
campos, descrito na teoria eletromagnética como o Vetor de Poynting.
A Fig. 7 a seguir, mostra a situação dos campos decorridos 320 passos de tempo, onde a propagação já atingiu
o dielétrico, o campo elétrico foi atenuado neste meio e ocorreram reflexões dos campos elétrico e magnético no vácuo,
com oposição e concordância de fases respectivamente, respeitando novamente o sentido do Vetor de Poynting, em
destaque pela exibição tridimensional no MODO 3D.
Finalmente, da Fig. 8, cabe destacar a evidência na diminuição da velocidade de propagação do pulso refratado
em relação ao pulso refletido, uma vez que a reflexão já atingiu a fronteira, enquanto que a onda transmitida ainda está
se propagando no meio dielétrico.
4. CONCLUSÕES
O presente trabalho descreve um simulador de ondas eletromagnéticas através da conjunção entre um método
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numérico de eficiência comprovada e um ambiente computacional científico que dia após dia vem se firmando como
uma ferramenta poderosa de auxílio ao estudo das ciências exatas nos meios acadêmicos. Cabe ressaltar que a
simulação apresentada no corpo deste trabalho representa apenas uma pequena amostra das inúmeras possibilidades de
simulações que podem ser realizadas através da mudança do tipo de fonte utilizada e seus parâmetros, do meio de
propagação e do próprio espaço do problema estendendo-o para duas e três dimensões.
5. REFERÊNCIAS
[1] D. Halliday, R. Resnick, J. Walker, Fundamentos de Física, LTC, Rio de Janeiro, RJ: 1996, p. 314.
[2] M. A. G. V. Bulho, R. P. Fantasia, N. P. Alcantara Jr, “Um Simulador de Ondas Eletromagnéticas para o
Ambiente Windows, Baseado Numa Formulação Bidimensional do TLM”, in Anais do III Congresso
Brasileiro de Eletromagnetismo, pp. 64-67.
[3] K. S. Kunz, R. J. Luebbers, The Finite Difference Time Domain Method for Electromagnetics, CRC Press,
Boca Ratón, FL:1993, p. 3.
[4] A. Taflove, Computational Electrodynamics: The Finite-Difference Time Domain, Artech House, Boston,
MA:1993, p. 35-80.
[5] D. M. Sullivan, Electromagnetic Simulation Using the FDTD Method, IEEE Press, New York, NY:2000, p. 2.
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