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Pandemia Cristofascista
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A Fé sob escombros: esboço teológico camponês protestante pós-tragédia em Vieira View project
All content following this page was uploaded by Fábio Py Murta de Almeida on 14 September 2020.
ORGANIZADORES:
fellipedosanjos e joãoluizmoura
ESCRITO POR
FábioPy*
4 QUARTO ATO
Na Sexta-Feira Santa, dia 9, que simbolicamente é o
dia da morte de Cristo, o presidente postou, em seu perfil
nas redes sociais, uma arte com o texto bíblico e a imagem
de Jesus crucificado. Uma imagem forte para os cristãos,
casando-se com o fragmento Pedro 2,24: “Ele mesmo levou
em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro, a fim de que
morremos para os pecados e vivêssemos para a justiça, por suas
feridas vocês foram curados”. Mostra que conhece outros
versículos bíblicos sobre o mistério da ressurreição. Separa
um versículo bíblico importante, no qual resume a salvação
a partir de Cristo. Utiliza um versículo bíblico dado ao
apóstolo Paulo, base de muitas igrejas.
5 QUINTO ATO
No sábado, dia 11, à noite, postou um vídeo indicando
sobre a facada que sofreu. Na sua fala, informa que o
atentado foi “o momento mais difícil da minha vida (pausa), eu
só pedia que Deus não deixasse órfã a minha filha de sete anos”.
Toma sobre si a ideia do servo sofredor, que luta para viver
e para defender a nação. Os versos da música evangélica
de pano de fundo do vídeo dizem: “história da minha vida,
eu lutei, eu sofri, teve vezes que acertei, outras errei, a vida é
uma jornada de amor e sofrimento, e o Senhor me acompanhou
a todo tempo. Ele estava lá quando o mundo desabou em mim.
Muitos diziam que era o fim, eu lutei com minha fé. Pelo vale da
sombra da morte, o Senhor me fez mais forte e essa é a história
de vida. Eu lutei, eu sofri”.
A canção embala a trajetória de Bolsonaro mostrada
desde o momento da facada, a recuperação no hospital, suas
orações e sua eleição. Chegando ao fim, mostra-o como
exemplo de cristão na igreja, orando e ajoelhado. Nessa sua
trajetória, como servo sofredor e messias político, recebe
a vitória, o milagre da faixa presidencial. No vídeo, diz que
isso só é possível porque “Deus preservou a vida dele”;
logo, seria o enviado de Deus para o Brasil, firmado sobre o
texto: “Eu me deitei e dormi. Acordei porque o Senhor me
sustentou” (Salmo 3,5). Portanto, nesse quinto ato, além de
apresentar-se como “bom cristão”, aquele que vai à igreja
e defende a família cristã tradicional, começa a se desenhar
como liderança enviada por Deus para salvar a nação, no
contexto do novo coronavírus. Alguém que Jesus está ao
lado, cuidando e fazendo milagres e maravilhas, tal como
mostra a figura dele sendo operado com Jesus ao seu lado.
6 SEXTO ATO
O sexto ato foi outra postagem de Bolsonaro na
rede social durante o domingo de Páscoa de manhã. Usa
outro fragmento bíblico para demonstrar publicamente
a fé a partir de texto clássico do Evangelho de João:
“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu filho
unigênito, para que todo que aquele que nele crê não pereça,
mas tenha vida eterna” (João 3,16). Na sequência, afirma que
“Ele ressuscitou”, mostrando que tem intimidade com as
Escrituras Sagradas. Isso é importante de ser descrito.
Essa operação é muito bem desenhada pelo bolsonarismo,
quando, além de indicar que conhece um leque de textos
bíblicos, conhece também sobre a teologia da salvação
cristã. Logo, acrescenta outro elemento no desenho de
servo fiel a Deus, tentando satisfazer a parcela de cristãos
que duvidam de sua adesão ao cristianismo.
7 SÉTIMO ATO
A segunda ação do domingo de Páscoa ocorreu
no encontro promovido na internet com as lideranças
religiosas. No fim do vídeo, Bolsonaro diz diretamente
sobre a facada que sofreu no fim de 2018, comparando o
atentado à trajetória da ressurreição de Cristo. Em suas
palavras: “Confesso que hoje para mim foi um dia especial,
já que hoje se fala de ressurreição. Eu não morri, mas estive
ali no limite da morte”. De forma mais efetiva, ele destaca
suas relações com Cristo dizendo que foi um milagre ter
sobrevivido e ressurgido para ganhar as eleições. Por isso,
reconhece-se na função de “salvar” o país do caminho que
estava sendo traçado.
No meio do discurso, reconhece que não tinha um
perfil de chegada à presidência, dando a entender que foi
parte do milagre que Deus operou na sua vida.
DAS, Veena. Life and words: violence and the descent into
the ordinary. Berkeley: University of California Press,
2006.
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