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Característica da Linguagem Jurídica

1.1 ESTILO
São os estudos precursores de Bally que, de fato, deslocaram o estudo da “estilística”
da língua literária ou da genialidade individual de um escritor para a língua oral, corrente, de
uma dada comunidade. Durante muitos anos, o autor tentou adotar o termo estilística
linguística para o estudo da variedade de formas que poderiam ser adotadas em função de
determinada ação e de determinado indivíduo. No entanto, sem nenhum sucesso, adotou em
suas obras, mais frequentemente, o termo “enunciação”.
Essa estilística linguística, mascarada de enunciação, estaria também associada, numa versão
atual dos estudos linguísticos, àquilo que seriam considerados os aspectos interacionais da
linguagem verbal:
Si vous désirez que quelqu’un vienne vers vous, vous ne le dites pas
toujours de la même façon; votre expression se modifiera, selon les
rapports existant entre vous et la personne interpellée, et surtout selon le
degré de résistance ou d’acquiescement que vous prévoyez de sa part.
(Bally 19654 : 21)

Ou ainda, essa mesma estilística lingüística estaria relacionada ao que atualmente seria
considerada a dimensão acional da linguagem: “La stylistique étudie donc les faits d’expression
du langage organisé au point de vue de leur contenu affectif, c’est-à-dire l’expression des faits
de la sensibilité par le langage et l’action des faits de langage sur la sensibilité.” – Bally (19513 :
16).
Dessa forma, Bally teve um papel precursor nos estudos linguísticos, ao definir uma
estilística linguística e ao mesmo tempo associá-la a aspectos pragmáticos e interacionais.
A questão do estilo foi integrada, realmente, à problemática dos gêneros em Estética
da Criação Verbal. Nessa obra, Bakhtin ressalta a sua interação com os demais elementos que
compõem o gênero discursivo. Este, transitando por todas as atividades humanas, deve ser
observado a partir do estilo, das unidades comunicacionais e do tema. Segundo este autor:
A utilização da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos);
concretos e únicos, que emanam dos integrantes duma ou doutra esfera
da atividade humana. O enunciado reflete as condições específicas e as
finalidades de cada uma dessas esferas, não só por seu conteúdo
(temático) e por seu estilo verbal, ou seja, pela selecção operada nos
recursos da língua – recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais –, mas
também, e sobretudo, por sua construção composicional. Estes três
elementos (conteúdo temático, estilo e construção composicional)
fundem-se indissoluvelmente no todo do enunciado, e todos eles são
marcados pela especificidade de uma esfera de comunicação. (Bakhtin
19972 : 279)
Dessa forma, estariam delineados alguns princípios básicos para o entendimento da
noção de estilo: a seleção dos recursos da língua deve estar em interação com os demais
componentes do género e ainda essa mesma seleção sofre influências da esfera de
comunicação em que o enunciado é produzido.
Além de definir com mais clareza a questão do estilo, integrando-a a aspectos que
perpassam uma simples seleção lexical, fraseológica ou sintática, Bakhin, nessa obra, faz uma
reflexão acerca da noção de estilo e o subdivide em dois tipos: o individual e o linguístico ou
funcional. Cada esfera tem seus gêneros específicos, aos quais estão relacionados estilos
peculiares.
Em relação ao estilo funcional, Bakhtin o define como “o estilo de um gênero peculiar
a uma dada esfera da atividade e da comunicação humana” – Bakhtin (19972 : 283).
É importante mencionar que, para Bakhtin, a estilística tradicional tende a definir o
estilo baseando-se unicamente no conteúdo do discurso e na relação que o locutor mantém
com o mesmo, subestimando, assim, a relação que o locutor tem com o seu interlocutor e com
seus enunciados (existentes e presumíveis). Com isso, Bakhtin reitera a importância do estudo
do estilo linguístico, interligando-o à noção de género, afirmando que um estudo desvinculado
dos dois acarreta uma série de problemas. Segundo o teórico, as mudanças históricas que
ocorrem nos estilos da língua são indissociáveis das mudanças que se efetuam nos gêneros do
discurso.
No caso da petição inicial, notam-se, evidentemente, enunciados mais elaborados, mas
que seguem certos formatos já prescritos e estipulados pela tradição do próprio género.
Por outro lado, é Adam, em sua obra de 1997, inteiramente consagrada ao estilo – Le
style dans la langue: une reconception de la stylistique – que resgata a questão para os
estudos linguístico-textuais, mostrando que o estudo da estilística deve ser ampliado a
qualquer texto. O objetivo de Adam, nessa obra dedicada à dimensão estilística dos textos, não
será de opor textos com ou sem estilo, mas de considerar que essa dimensão representa uma
escolha e uma variação de recursos linguísticos e estará sempre presente nos enunciados –
conforme Adam (1997:11).
Dessa maneira, no lugar de opor o estudo da gramática ao do estilo, centrando-se na
distinção de Saussure entre língua e fala, entre o que é finito e o que é dinâmico, Adam
defende uma visão conciliatória entre as duas tendências de forma a poder dar conta da
complexidade do universo textual. Em obra posterior, o autor procura reforçar o estudo do
estilo numa perspectiva de gênero – cf. Adam (1999). Seguindo pressupostos teóricos
defendidos por Bakhtin Adam defende que o género discursivo apresenta um núcleo
normativo, relativamente estável e impõe coerções para o enunciador, no processo de
produção; contudo, apresenta-se mais flexível do que as formas da língua. Ao fazer um
paralelo entre a questão do estilo e a de gênero, Adam coloca-os em níveis diferentes. O estilo
e a gramática estão no nível microlinguístico; já o gênero juntamente com o texto estão no
nível macro linguístico. E para o autor, o estilo estaria para a gramática, assim como a texto
para o gênero, sendo que o estilo e o texto estariam na zona de variação; enquanto os dois
outros (a gramática e o gênero) integrariam o núcleo mais normativo. Nesse último núcleo
também haveria o(s) estilo(s) no plural, que talvez se referisse à forma como a língua é
mobilizada em cada gênero.
Pelo que apresentamos, o conceito de estilo para Adam pouco se aproxima à
desenvolvida por Bakhtin. Primeiramente, Adam valoriza muito o aspecto microlinguístico do
estilo, não levando em conta que ele está em interação com as práticas discursivas em que
esse microlinguístico se insere. Em segundo lugar, o autor não considera que o tema
bakhtiniano (que para ele diz respeito ao nível semântico), as unidades composicionais (que
constituem a estrutura composicional) e o estilo estão em constante interação dentro da
perspectiva de gênero. Ademais, o teórico não salienta que as escolhas estilísticas também
devem ser feitas de acordo com o grau de conhecimento que um destinatário tem de uma
situação, seus pontos de vista, suas crenças. Tudo isso condicionará uma compreensão
responsiva desse enunciado por parte desse destinatário.
Em publicação posterior, Adam ratifica que o estilo é um dos vários componentes do
gênero por ele apontados.. E, ainda, insiste no fato de que esse componente estaria
relacionado ao fraseológico, sendo que ambos comporiam o que o autor denomina textura
microlinguística – cf. Adam (2001: 40).
A partir deste levantamento teórico, resta-nos definir o conceito de estilo nesta
contribuição. Consideramos aqui que ele corresponde às escolhas linguísticas/plurissemióticas
perpetradas pelo agente produtor quando da produção de textos, sendo que esta seleção será
coibida por fatores contextuais diversos.

1.2 CONSERVADORISMO
“O conservador pensa na política como um meio de preservar a ordem, a justiça e a liberdade.
O ideólogo, pelo contrário, pensa na política como um instrumento revolucionário para
transformar a sociedade e até mesmo transformar a natureza humana. Na sua marcha em
direção à Utopia, o ideólogo é impiedoso.” Russell Kirk (1918 – 1994), teórico político
americano
O conservadorismo é um pensamento político que defende a manutenção das
instituições sociais tradicionais – como a família, a comunidade local e a religião -, além dos
usos, costumes, tradições e convenções. O conservadorismo enfatiza a continuidade e a
estabilidade das instituições, opondo-se a qualquer tipo de movimentos revolucionários e de
políticas progressistas. Mas é importante entender que o conservadorismo não é um conjunto
de ideias políticas definidas, pois os valores conservadores variam enormemente de acordo
com os lugares e com o tempo. Por exemplo, conservadores chineses, indianos, russos,
africanos, latino-americanos e europeus podem defender conjuntos de ideias e valores
bastante diferentes, mas que estão sempre de acordo as tradições de suas respectivas
sociedades.

CONSERVADORISMO X POSTURA CONSERVADORA: CONFUSÃO


SEMÂNTICA
É importante não confundir o pensamento político conservador com a atitude em
relação às mudanças políticas chamada de conservadora (junto com outras como reacionários,
progressistas e radicais). O conservador neste último sentido busca manter a situação política
do jeito que está, independentemente do conjunto de ideias a que se aplica. É um termo
normalmente aplicável a qualquer pensamento político que esteja no poder. Um socialista ou
um liberal que esteja governando pode ser conservador nesse sentido, pois deseja manter-se
no poder e almeja a continuação de suas políticas. Um revolucionário torna-se um conservador
depois do sucesso de sua revolução.
O conservadorismo que será abordado aqui é aquele que existe no Brasil e tem
diversas semelhanças com o conservadorismo ocidental existente na América Latina, na
América do Norte e na Europa, pois todos eles têm como base a doutrina cristã e a adoção, em
maior ou menor grau, das ideias políticas liberais. Mas é importante entender que mesmo o
conservadorismo ocidental possui muitas variantes e é difícil identificar um posicionamento
político específico. Partidos políticos conservadores podem até ter opiniões divergentes entre
si sobre algumas questões.

VALORES CONSERVADORES
De todo modo, é possível determinar algumas características fundamentais do
pensamento conservador ocidental. O conservadorismo tem como seus principais valores a
liberdade e a ordem, especialmente a liberdade política e econômica e a ordem social e moral.
O conservador acredita que há uma ordem moral duradoura e transcendente, que no caso do
conservadorismo ocidental é baseada na doutrina cristã e tem na religião a sua base. O
conservadorismo valoriza a diversidade típica do individualismo e rejeita a igualdade como um
objetivo da política. O conservador, assim como o libertário, entende que a igualdade político-
jurídica é suficiente para garantir a igualdade necessária entre as pessoas. Qualquer
desigualdade material ou de resultado é consequência inevitável das diferenças naturais entre
os indivíduos, de seus esforços e de suas decisões.
Na esfera política, o conservador procura preservar as instituições políticas e sociais
que se desenvolveram ao longo do tempo e são fruto dos usos, costumes e tradições. O
conservadorismo entende que as mudanças e o progresso são necessários para manter uma
sociedade saudável, mas essas mudanças devem ser cautelosas e graduais. Assim, a política
do conservador é a política da prudência, sempre preferindo manter e melhorar as instituições
estáveis e testadas do que tentar rupturas para implantar modelos de sociedade e instituições
advindas da razão humana. Essa postura coloca o pensamento conservador em conflito com
ideologias essencialmente reformistas, que almejam criar uma sociedade “perfeita” pelo uso
da política. Para o conservador, a política é a “arte do possível” e não um meio para se chegar
a uma sociedade utópica.
Nas esferas social e moral, o conservador defende a manutenção dos usos, costumes e
convenções, além de uma estrutura social e hierárquica tradicional. Na cultura, o
conservadorismo valoriza as manifestações locais e uma identidade nacional. Nessas esferas,
os conservadores são coletivistas, pois entendem que toda a comunidade deve adotar certos
padrões de comportamento e certos valores para garantir uma coesão social e a identificação
dos indivíduos com a comunidade.

CONSERVADORISMO NA ECONOMIA
O conservadorismo defende o individualismo na esfera econômica. A defesa da
propriedade privada também é vista como uma questão intimamente ligada à liberdade, pois
não é possível ser livre se os meios de sobrevivência de um indivíduo estão nas mãos de
outros, dos quais acaba se tornando dependente.
Entretanto, a defesa de uma economia de livre mercado não é assunto de consenso
entre os conservadores de vários países do mundo, inclusive os brasileiros. Mesmo os
conservadores que defendem a globalização e a abertura dos mercados ao capital
internacional tentam manter essa integração somente no âmbito econômico e financeiro,
protegendo a cultura e a identidade nacionais de influências externas. Mas, como o
conservadorismo costuma ter fortes traços de nacionalismo, as ideias econômicas acabam
sendo influenciadas e, assim, boa parte dos conservadores nacionais prefere políticas
econômicas desenvolvimentistas, nacionalistas e protecionistas. Esse fato não impede que
políticos conservadores sejam até hoje chamados de neoliberais na América Latina, o que não
é uma designação correta na maioria dos casos, visto que muitos conservadores advogam
políticas intervencionistas no âmbito econômico.

CRÍTICAS AO CONSERVADORISMO
A crítica mais comum ao conservadorismo é a sua ideia de que toda a sociedade deve
acatar o código moral e a estrutura social tradicionais, o que é uma visão conflituosa com as
ideias progressistas. Para os seus críticos, é uma contradição o conservadorismo defender
indivíduos autônomos na esfera econômica enquanto defende a aceitação de padrões na
esfera social e moral.
Outra crítica comum ao conservadorismo é sua rejeição ao multiculturalismo e ao
cosmopolismo cultural, comuns nos grandes centros urbanos. Para o conservador, uma cultura
local ou nacional compartilhada por todos os membros da sociedade é uma condição
necessária para criar coesão social e espírito de comunidade.

Para entender: multiculturalismo normalmente se refere a casos em que culturas


distintas convivem no mesmo espaço, o que é diferente das culturas formadas pelo sincretismo
de diversas fontes, como a cultura brasileira, e que costuma ser designado como um
interculturalismo. Como o Brasil sempre teve um sincretismo cultural e religioso muito forte, o
multiculturalismo – culturas muito diferentes convivendo no mesmo espaço – não é muito
comum por aqui. No Brasil, são mais comuns as culturas formadas pela mistura de diversas
influências e que acabam originando a cultura local e os usos e costumes da sociedade, que
são, portanto, parte do que os conservadores defendem como a cultura da sociedade
brasileira.
Na esfera política, o principal embate entre os conservadores e seus adversários
ocorre em torno do valor da igualdade. Os conservadores, assim como os liberais, elogiam a
diversidade e entendem que não é papel do Estado promover políticas igualitárias para além
da igualdade político-jurídica. Mas os seus opositores argumentam que não basta promover
uma igualdade político-jurídica de cunho formal se esta não se concretiza pela igualdade
material e de resultados.
Na mesma linha de pensamento, os conservadores entendem que a assistência estatal
deve limitar-se somente aos que realmente precisam dela e não deve se estender a toda a vida
das pessoas, como é proposto pelo Estado do Bem-Estar Social, o que atrai as críticas daqueles
que entendem que o Estado deve prover uma rede de segurança aos cidadãos durante todas
as fases da vida e que cubra um grande leque de situações.

1.3 AUTORITARISMO
O autoritarismo aparece quando uma autoridade abusa de seu poder. O conceito
também se refere ao sistema ou regime governamental que se excede no exercício de sua
autoridade.
Por exemplo: “As pessoas estão cansadas do autoritarismo do governo”, “Se o
presidente da empresa continuar a agir com autoritarismo, os trabalhadores começarão a
revoltar-se”, “O autoritarismo pode ser revertido com o apego à Constituição e o respeito
pelos valores democráticos”.
É importante mencionar que o autoritarismo é uma maneira de exercer autoridade
que transcende o sistema de governo. Uma ditadura sempre será autoritária porque, com sua
mera permanência no poder, viola as leis e a vontade popular. Um governo democrático, no
entanto, também pode exercer o autoritarismo.
Um presidente democrático que governa por meio de decretos, usa a mídia estatal
para criticar opositores, não dialoga com jornalistas e reprime protestos sociais com o uso de
forças de segurança é um agente que exerce poder com autoritarismo.
Além da política, o autoritarismo pode aparecer nas relações sociais realizadas por
indivíduos que não estão na mesma posição em termos de poder. Um homem é autoritário
com sua esposa e filhos quando toma todas as decisões familiares sozinho, sem ouvir ninguém.
O dono de uma empresa, por sua vez, exerce autoritarismo se não permite que seus
empregados se expressem sobre as condições de trabalho ou sobre questões inerentes ao
funcionamento da empresa.
Derivando do absolutismo, o autoritarismo caracteriza-se pelo exercício do poder por
uma só pessoa, que toma medidas sobre os súbditos a seu bel-prazer e em exclusividade,
caracterizando-se pelo arbítrio na prática desse mesmo poder. Não seguindo modelos
superiores jurídicos ou éticos, o autocrata reveste-se de particularidades despóticas,
possuindo uma série de mecanismos executivos como, por exemplo, tribunais e forças
armadas, que aplicam as suas diretivas. Contrário à democracia, este conceito pode também
estar presente no seio de um partido político, ainda que a grande maioria dos seus membros
possa não se aperceber desta finalidade, desenhada por poucos ou mesmo só um indivíduo.
Nos tempos modernos, verifica-se uma grande incidência de um género de grupos que
pretendem impor uma vivência e ideais próprios a qualquer custo, como os fundamentalistas.
Interliga-se com o conceito de autoritarismo a noção de autoridade, que consta de um série de
elementos (segundo Max Weber, Theory of Social and Economic Organization, 1922) que
outorgam um poder tão absoluto a um indivíduo (ou conjunto de indivíduos) conseguindo
obediência: o carisma, que sendo uma qualidade transcendente e de cariz teológico faz com
que a submissão seja automática e não forçada, tendo sido característica de regimes
autocráticos greco-romanos (em que os dirigentes se afirmavam dotados de origem e
inspiração divinas) e europeus (notabilizando-se o de Luís XIV); a razão apoiada em normas ou
leis; e o poder atingido em muitas sociedades pela tradição, que se torna incontestável. Em
Portugal viveu-se no século XX, durante o Estado Novo, uma autocracia, em que a moralidade
pública, a incorruptibilidade da pátria e a manutenção do império eram objetivos superiores e
justificativos de todas as medidas, repressivas ou não. Sublinhando outra característica
autoritarista, a situação desastrosa em que o País tinha ficado em termos sociais, políticos e
económicos após a I República, tornou-se uma necessidade (além de legítimo) este tipo de
governo restritivo mesmo sem consentimento popular, colocando um fim ao descalabro.
António de Oliveira Salazar, com a tríade Deus, Pátria e Família, encarnou os objetivos
idealistas do seu regime. O autoritarismo demarca-se em certa medida dos regimes totalitários
(fascismo, marxismo, maoísmo, nazismo), por aplicar, em certa medida (e nem sempre) uma
conceção vivencial e de mundividência a âmbitos superiores, deixando uma certa margem
para que se manifeste alguma criatividade (alguma iniciativa em particular) e uma controlada
emancipação social.
1.4 PRECISÃO TERMINOLOGICA

Uma definição fixa o sentido do texto, dentro do contexto ao qual se refere.

Isso permite que, em qualquer argumentação orientada para uma decisão, se


ultrapassem as preliminares discussões sobre semântica para alcançar mais
claramente outras questões, mormente quando são estas outras que realmente
importam. Eliminam-se, dentre outros, problemas derivados da polissemia, da função
e da imprecisão no uso de termos técnicos. As definições partilham os significados dos
termos, aumentando a inteligibilidade das premissas em exame e a possibilidade de
decisão

1.6 CLAREZA, RITUALIZAÇÃO, DENOTAÇÃO E CONOTAÇÃO

Clareza
O direito é uma realidade que interfere na vida de todas as pessoas. A sociedade
contemporânea impregnou-se de crescente juridicização de todos os temas. Mais do que isso,
a judicialização é o fenômeno brasileiro que passou a despertar a atenção de outras esferas
das ciências sociais anteriormente alheias ao espaço jurídico.
Todas as questões, sejam incluídas na concepção macro, sejam consideradas micro –
ou questiúnculas – chegam à apreciação de juízes e tribunais.
A matéria prima do direito é a palavra. Enquanto outras atividades podem depender
de equipamentos que a ciência e a tecnologia tornam cada dia mais aperfeiçoados, o jurídico
está subordinado ao conteúdo do verbo. É imprescindível saber dominá-lo, manejá-lo, extrair
dele todas as irradiações que a compreensão propiciar.
Todo o universo jurídico é composto de palavras. O ordenamento é um sistema cujo
ápice é uma Constituição escrita. Serve ela de fundamento de validade para toda a estrutura
normativa infraconstitucional. A proliferação de normas traduz a intenção de disciplinar todos
os temas, de maneira a não deixar espaço de vácuo normativo. O Brasil é uma República
prolífica em regras. Muitas as instâncias produtoras de regulação da conduta humana, além do
Parlamento. Por sinal que a função encarregada de produzir direito novo é aquela mais tolhida
de efetivamente exercê-la, tantas as estratégias de exclusão do fruto do processo legislativo do
ordenamento vigente.[1]
Compreende-se que a urgência no enfrentamento de graves questões não se
compatibilize com a complexa produção de textos normativos. O processo de elaboração de
leis é sofisticado, lento, submetido a vicissitudes, que têm início no sistema bicameral. Mas
isso não legitima a absorção de uma competência que é do Parlamento, a caixa de ressonância
de aspirações populares, instância adequada para detectar as necessidades de regulação e
traduzi-las em textos normativos destinados a vigorar por um largo lapso temporal.
Outra explicação corrente para a depauperação do Parlamento é que o sistema
eleitoral converteu-se numa disputa entre setores bem compartimentados, cada qual mais
interessado em favorecer interesses tópicos do que procurar o bem comum. Isso faz com que
a lei seja cada vez menos a tradução do interesse coletivo, mas a satisfação de anseios bem
localizados e muita vez distanciados daquele. Essa espécie de novo feudalismo vai desaguar
em textos imprecisos, cuja fluidez reflete o consenso possível obtido no entrechoque de forças
conflitantes. O juiz é que terá de fazer um exercício hercúleo para detectar o que significa uma
lei. A ambiguidade de sua linguagem nem sempre conseguiu dizer tudo o que pretendia. Nem
prima em clareza imprescindível a eliminar o mar de sargaços das dúvidas surgidas, assim que
promulgado um novo texto legal.
Adicione-se a isso, a multiplicidade de fontes normativas numa República em que o
Governo estende seus tentáculos para absorver todos os assuntos. Assenhoreando-se de todos
os espaços, não consegue satisfazer as aspirações despertadas numa sociedade que dele tudo
espera. Com o intuito de tentar responder às promessas, exterioriza-se em agências, órgãos,
conselhos, colegiados e outros núcleos de poder, direto ou indireto, ávidos todos de
normatizar sua atuação. A consequência é que o ordenamento não contém apenas a
Constituição da República, mais as Constituições Estaduais e as Leis Orgânicas Municipais, que
desempenham idêntico papel na terceira entidade federativa instituída pelo constituinte de
1988. Há leis complementares, leis ordinárias, federais, estaduais e municipais. Mais decretos,
resoluções, portarias, ordens de serviço, instruções normativas, regimentos internos e toda
uma exuberante coleção de atos disciplinares que inviabilizam o conhecimento integral da lei
por qualquer estudioso ou especialista em direito.

Ritualização
Durante os julgamentos, júris e mediações é costumeiramente aceita a utilização de
vestimentas ritualísticas por parte dos envolvidos, promotores, juízes e advogados, assim
como os auxiliares judiciários que simbolizem e representem o Estado nesta função. O juiz usa
a toga, enquanto advogados e membros do Ministério Público utilizam a beca.
Segundo a tradição, o uso dessas vestimentas remete aos sarcedotes da Roma antiga.
A indumentária é conhecida como veste talar, pois deriva do latim talus, que significa
calcanhar, referindo-se ao comprimento da roupa, que cobre a autoridade até os calcanhares.
As cores da toga e da beca são carregadas de um simbolismo construído. Por exemplo, o preto
exprime a renúncia que o indivíduo faz em prol do cargo ou instituição que representa,
enquanto o vermelho denota o rigor na aplicação da lei.
No Regimento Interno do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, consta que os
desembargadores e procuradores devem entrar nas sessões e delas sair com as vestes talares
(arts. 2º, 54, §2º e 64, §1º). Além de uniformizar as vestimentas, a padronização da linguagem
jurídica formal, das ordens e procedimentos de todos os atores acaba por criar um ritual, ou,
nas palavras de Hobsbawn & Ranger (p. 9-11), inventando uma tradição. Estes autores
entendem por tradição inventada "um conjunto de práticas, normalmente reguladas por
regras tácita ou abertamente aceitas; tais práticas, de natureza ritual ou simbólica, visam
inculcar certos valores e normas de comportamento através da repetição, o que implica,
automaticamente: uma continuidade em relação ao passado".
Mas, como toda tradição, existem mais do que razões ritualísticas para a padronização
estética do julgamento. Em 1917, no relatório ao procurador geral da justiça do Estado, Dr.
Clotário de Macedo Portugal, o ocupante do cargo de primeiro promotor público de Curitiba,
Alencar Piedade, reclama das condições em que os presos vão a julgamento. Piedade explica
que devido ao fato de o Tribunal do Júri não possuir uma cadeia própria para manutenção dos
réus durante os julgamentos, os suspeitos eram trasladados, no dia do julgamento, da prisão
celular, no Portão, até o local do Júri – na sede do TJPR, que na época ficava junto à atual
Câmara Municipal de Curitiba. No relatório, o promotor critica a necessidade de se fazer esse
percurso, pois além de eventual exposição dos suspeitos a situação vexatória¹, havia risco de
fuga dos detentos, como foi o caso de Francisco Oliveira Junior, que fugiu após a condenação
do Tribunal do Júri. Como alternativa, o promotor público sugere que se utilize uma
ambulância para o traslado do centro de detenção até o local do julgamento.
Outra crítica muito contundente do promotor público no mesmo relatório, e que se
conjuga com essa problemática, refere-se à ausência de um ambiente que separasse a
ocupação de uma mesma sala entre os réus e a população. Mantê-los no mesmo ambiente
causava pequenas confusões e distúrbios, como o ajuntamento de réus para reclamar de sua
penúria antes do julgamento. Além disso, Alencar Piedade alegava que era necessário haver
uma sala separada para advogados e promotores poderem organizar seus documentos ou
descansarem. Portanto, o promotor sugeriu a criação de um espaço de detenção anexo ao
tribunal do Júri e requisitou que fosse regulada a utilização obrigatória de vestes específicas
para os cargos, a fim de melhor distinguir os agentes estatais da população e dos presos.
É só com a reforma do regimento do Tribunal de 1925 que se institucionaliza, no
Paraná, o uso das vestes talares, obrigando desembargadores, juizes, promotores publicos,
serventuários, advogados, oficiais da justiça e outros empregados relacionados ao judiciário a
portar os vestuários ou insígnias de cargo nas sessões de Júri, audiência, casamento e outros
atos públicos que requerem a solenidade dos atores estatais.
Portanto, ao mesmo tempo em que as vestes talares servem para construir uma
tradição, uma continuidade artificial entre o passado greco-romano do Direito com os
operadores contemporâneos, elas são utilizadas como símbolo de distinção funcional entre os
transeuntes do fórum, que visualmente conseguem diferenciar o status dos sujeitos,
independente de conhecerem quem o indivíduo é. Essa separação visual clara entre os atores
do processo jurídico também serve para enfatizar a preponderância ritualística e elevar as
qualidades dos sujeitos, que ao mesmo tempo que vestem suas insígnias, assumem
figurativamente o papel que estas lhes permitem para atuar, não mais só como indivíduos,
mas como profissionais do sistema de Justiça.

Sentido Conotativo e Sentido Denotativo


Sentido conotativo é a linguagem em que a palavra é utilizada em sentido figurado,
subjetivo ou expressivo. Ele depende do contexto em que é empregado, sendo muito utilizado
na literatura. Isso porque, no meio literário, muitas palavras têm forte carga de sensações e
sentimentos.
Sentido denotativo é a linguagem em que a palavra é utilizada em seu sentido próprio,
literal, original, real, objetivo.
1. Aquele homem é um cachorro. (linguagem conotativa, sentido figurado)
2. O cachorro da vizinha fugiu essa manhã. (linguagem denotativa, sentido próprio)
Nesses exemplos, podemos notar que a palavra cachorro é utilizada em dois sentidos
diferentes: conotativo e denotativo.
Na primeira frase o termo refere-se ao caráter do homem “cachorro”, numa linguagem
conotativa que indica que o homem é mulherengo ou infiel.
Na segunda frase o termo está empregado de forma denotativa, ou seja, no sentido real e
original da palavra cachorro: animal doméstico.
O sentido denotativo é muito vezes caracterizado como o sentido do dicionário, ou
seja, a primeira acepção da palavra. Contudo, depois da acepção denotativa há uma
abreviação, normalmente entre parênteses (fig), que indica o sentido figurado da palavra, ou
seja, o sentido conotativo.
Segundo o dicionário online de português (dicio.com.br), a palavra cachorro significa:
“Significado de Cachorro
s.m. Cão novo.
Cria da loba, da leoa e de outros animais parecidos com o cão.
Bras. Qualquer cão.
Construção. Peça saliente de madeira ou pedra para sustentação de cimalha ou sacada;
modilhão.
Escora de navio em estaleiro.
Fig. Pop. Homem desaforado, de mau caráter ou mau gênio; indivíduo desprezível, canalha.”

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