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Resenha do livro: BRIGHT, John. História de Israel.

São Paulo:
Paulinas, 1981.

Leandro César Bernardes Pereira

INTRODUÇÃO

O livro foi um dos primeiros trabalhos voltados diretamente a história de Israel, seja tendo
presente a história secular, seja tendo presente também a mensagem teológica dos livros
canônicos. John Bright escreveu um livro clássico quanto a tentativa de reproduzir a história de
Israel servindo-se de fontes oriundas da arqueologia.

1. CONTEÚDO GERAL

PRIMEIRA PARTE: Antecedentes e primórdios. A idade dos patriarcas

Capítulo 1: O mundo das origens de Israel

Por volta de 2000-1550 a.C encontramos as pré-origens de Israel. Foi num determinado
período dentre esses séculos que Abraão saiu de Haran e partiu com sua família para a terra que
Deus iria lhe mostrar. O povo de Israel, formou-se como tal por volta do século XIII a.C. É após
desta data que encontramos provas arqueológicas e escritos que confirmam sua presença na
Palestina.

A. O antigo Oriente nos anos 2000-1750 a.C aproximadamente

Para entendermos como era a região na qual viveu Abraão é preciso remontar um pouco ao
Antigo Oriente nos anos 2000-1750 a.C aproximadamente. O segundo milênio começou com a
Terceira Dinastia de Ur (aproximadamente 2060-1950), dominando a maior parte da planície
mesopotâmica. Aos poucos o reino foi se enfraquecendo dando origem a outros estados. Por fim,
os elamitas tomaram Ur, a qual nunca mais voltou a ser uma potência. O povo do noroeste da
mesopotâmia, os amoritas aos poucos começou a dominar, por volta do décimo oitavo século,
todos os estados da Mesopotâmia. Eles adotaram a cultura Suméria, sua religião e a escrita
acádia. Deste tempo foram descobertos dois códigos de leis, um em sumério promulgado por
Lipit-Ishtar e o outro em acádio, do reino de Eshnunna. Ambos precedem o código de Hamurabi e
como este, esses códigos revelam notáveis semelhanças com o código da Aliança na Bíblia (Ex
21-23). Os estados que surgiram de Ur no segundo milênio (Assíria, Mari, Babilônia) eram
praticamente de população semítica do noroeste (amorita), a mesma que deu origem aos
antepassados de Israel.

O Egito por volta de 2000-1750 viveu uma fase de estabilidade social, talvez o período mais
próspero de sua história sob os faraós do Médio Império. No Antigo Império a vida futura parecia
ser um privilégio somente do faraó, no Médio Império, os nobres e qualquer um que tivesse a
recompensa dos funerários devidos podia esperar justificar-se diante de Osíris na vida futura. Foi
durante a Décima segunda dinastia que os faraós empreenderam canais para captar as
enchentes do Nilo e assim estender as áreas de cultivo agrícola. Seu comércio se extendia para a
Núbia, Fenícia, Creta e até Babilônia. Além disso a medicina, a matemática e a literatura
chegaram ao seu auge neste período. Os faraós através de excursões militares dominavam a
Palestina, a Fenícia e o sul da Síria.

Na última parte do terceiro milênio a Palestina sofreu uma grande devastação cultural,
quando os invasores nômades irromperam dentro de suas fronteiras. Todas as cidades foram
abandonadas e destruídas uma a uma. A Palestina por volta de 2000-1750 a.C, começa a se
recuperar desta crise dos primeiros séculos do segundo milênio. Primeiramente adotando a vida
nômade, depois aglomerando-se em aldeias, começaram a construir mais uma vez cidades
fortificadas como Jerusalém e Ashkelon, mas também numerosas cidades na Fenícia, no sul da
Síria e no norte da Palestina. Provavelmente a população desse tempo era de origem amorita.

B. O antigo Oriente nos anos 1750-1550 a.C aproximadamente

Enquanto o Médio Império estava desmoronando no Egito, vinha começando a formar-se


uma luta pelo poder na Mesopotâmia, que viria a culminar com o triunfo de Babilônia, sob o
grande Hamurabi. Destacam-se nesse tempo além da própria Babilônia, Larsa, Assíria e Mari. As
quatro cidades-estados depois da queda de Ur buscavam o crescimento cada vez maior de seu
poder, causando tensões constantes entre elas.

Um exemplo do desenvolvimento dessa região neste tempo é Mari, a qual era uma grande
cidade. Seu palácio tinha cerca de 200 por 120 metros, com cerca de 300 dependências, incluindo
salas-de-estar, cozinhas, despensas, salas-de-aula, sanitários e esgotos. Os muitos documentos
demonstram que sua economia era organizada com um comércio que chegava do litoral, a Chipre
e Creta no além mar e até com Anatólia.

A vitória na luta pelo poder coube a Babilônia através de Hammurabi, o qual derrotou
durante seu reinado as outras três grandes potências. Sob Hammurabi houve um grande
crescimento cultural, os edifícios eram ainda mais imponentes que os de Mari. O ressurgimento de
Babilônia elevou o deus Marduk ao primeiro do panteão.

Deste tempo temos uma grande riqueza de textos: listas de palavras, dicionários, textos
gramaticais; tratados de Matemática; textos de Astronomia, compilações e classificações de toda
sorte de conhecimento, além de pseudociências como astrologia, mágica, hepatoscopia etc... A
mais importante de todas as obras são o códigos de leis publicado no final do reinado de
Hammurabi, no qual deu uma nova formulação da tradição legal do terceiro milênio. É um
documento muito importante para compreender a organização social da época e pelos numerosos
paralelos que oferece com as leis do Pentateuco.

As glórias de Hammurabi se desvaneceram rapidamente. Por toda a Mesopotâmia , a Síria e


a Palestina há provas que haviam povos em movimento. O Egito por exemplo passou a ser
submetido por uma dominação estrangeira (os hicsos), outros povos como os hurrianos invadiram
as regiões do Crescente Fértil.

A Palestina foi também submetida aos hicsos. Nesse período a simplicidade patriarcal da
vida seminômade amorita tinha desaparecido. As cidades eram numerosas, bem construídas e
solidamente fortificadas. O sistema cidade-estado, característico da Palestina até a conquista
israelita, parece que foi aperfeiçoado, sendo a terra dividida em vários pequenos reinos ou
províncias, cada uma com seu próprio governante, que era sujeito a um controle superior de fora.
A sociedade era de estrutura feudal. As riquezas eram distribuídas muito desigualmente. Ao lado
das elegantes residências dos patrícios, encontramos os tugúrios dos servos semi-livres.

Os hicsos foram expulsos do Egito por volta de 1540, dando origem a Décima Oitava
dinastia. A Babilônia não teve a mesma sorte. Incursões cassitas a derrubam aproximadamente
em 1530.

É neste cenário que se devem ser colocadas todas as narrativas de Gn 12-50.

Capítulo 2: Os Patriarcas

As narrações de Gn 12-50 são impossíveis de serem relatadas com precisão aproximada


dentro dos acontecimentos da história contemporânea seja pela arqueologia, seja pela Bíblia. As
narrativas patriarcais não são documentos históricos contemporâneos aos acontecimentos que
narram. Com o triunfo da crítica bíblica na última metade do século dezenove, o valor dos
documentos referentes as narrativas patriarcais como fontes de informação a respeito da pré-
história de Israel é considerado como mínimo, ou inteiramente nulo.

Com o avanço da arqueologia este quadro mudou um pouco. Temos textos, literalmente
dezenas de milhares, contemporâneos ao período das origens de Israel.

A. Narrativas patriarcais: O problema e o método seguido

Os documentos bíblicos independente de sua data de composição contém material antigo, o


que despertou uma grande apreciação da tradição oral na transmissão do material. Podemos
assim supor que, entre os documentos do Pentateuco, como os lemos, e os acontecimentos que
eles narram, existe uma torrente de tradição, intacta e viva, quem sabe, complexa. Em
consequência de tudo isso, torna-se impossível dizer, em termos de séculos, quando Abraão,
Isaac e Jacó realmente viveram. Não sabemos nada das vidas de Abraão, Isaac e Jacó a não ser
o que a Bíblia nos diz. E os detalhes ficam muito além do controle dos dados arqueológicos. As
narrativas patriarcais, portanto, devem ser avaliadas pelo que elas são. Elas fazem parte de uma
grande história teológica que compreende todo o Hexateuco e que procura não somente relatar os
fatos das origens de Israel, como eles eram lembrados na tradição sagrada, mas também ilustrar,
através delas, os atos redentores de Deus em benefício do seu povo. O acontecimento e a
interpretação teológica não devem ser confundidos. Porém, pode ser dito o bastante para nos
certificar de que as tradições patriarcais estão firmemente ancoradas na história.

O único método seguro e certo está num exame equilibrado das tradições contra o cenário
do mundo da época, e, a esta luz, emitir juízos positivos permitidos pela evidência.

B. O ambiente histórico das narrativas patriarcais

Os nomes de Abraão, Isaac e Jacó e dos patriarcas se enquadram perfeitamente na


nomeclatura amorita dos começos do segundo milênio. Da mesma forma os costumes patriarcais
se encontram no contexto do segundo milênio. Os mesmos costumes não aparecem em período
posterior. Desta forma, o que se pode afirmar é que os acontecimentos do Gn 12-50 devem ser
colocados entre o vigésimo e o décimo sexto século. Quanto ao perído exato da entrada dos
patriarcas no Egito é impossível datá-lo devido aos próprios dados fornecidos pela Bíblia.

C. Os antepassados hebreus e a história

A migração dos patriarcas da Mesopotâmia representa uma ocorrência histórica. Quanto a


afirmação Ur dos Caldeus como sendo a terra de Abraão é um dado não muito preciso, seja
porque somente no décimo primeiro século a Babilônia é tida como terra dos Caldeus, seja porque
as Setenta não menciona Ur, mas somente a "terra dos caldeus". Os arameus são os ancestrais
de Israel. No décimo segundo século encontramos um povo chamado arameu que era combatido
pelos reis Assírios. Quanto a língua, primeiramente alguma semita, depois o aramaico; o hebraico
surge como um dialeto da língua canaanita.

Os patriarcas eram chefes de clãs, portanto figuras históricas. Eles faziam parte do
movimento de clãs seminômades que se dirigiram para a Palestina nos começos do segundo
milênio. A divindade do chefe do clã se tornava a divindade do inteiro clã.

SEGUNDA PARTE: Êxodo e Conquista

Capítulo 3: A formação do povo de Israel

Israel esteve no Egito no XV séc. a.C, período em que império egipciano estava em seu
auge. Aos poucos com a movimentação de diversos povos na região e as constantes guerras, o
Egito foi se enfraquecendo aos poucos. Nomes egípcios foram muito comuns nos primeiros
tempos de Israel: Moíses, Ofini, Finéias, Merari o que demonstra algum contato com o Egito. Na
vigésima e décima nona dinastia os apiru aparecem como escravos no Egito. No tempo de
Amenófis II os apiru foram levados para o Egito como escravos (aproximadamente 1438-1412).

Quando Ramsés II morreu, seu sucessor foi seu filho Marniptah que não conseguiu manter
seu breve reinado em paz (aproximadamente 1224-1211). Provavelmente no seu quinto ano de
reinado, ele como seus predecessores fizeram incursões na Palestina. Entre os inimigos
derrotados está relacionado o povo de Israel.

Canaã era o nome oficial de uma província ou distrito que abrangia o oeste da Palestina
(mas não a Transjordânia), a maior parte da Fenícia e o sul da Síria. Os canaanitas no séc. XIII
a.C possuiam um forte comércio, também neste período, décimo terceiro século, desenvolveram
muito a cultura escrita servindo-se do acádio e do egípcio para formar a própria língua. Com
enfraquecimento do Egito no século XIII as cidades-estados de Canaã também se empobreceram.
Em Canaã havia o culto ao deus El, como a maior divindade, porém a mais cultuada era Baal
(deus da tempestade).

Toda evidência bíblica ou arqueológica exige que o Êxodo seja colocado no século XIII,
provavelmente no reinado de Ramsés II. Na Península do Sinai no monte Horeb (não se sabe
com exatidão sua localização), foi onde Israel recebeu a Lei que fez dele um povo. As origens de
Israel portanto se encontra no deserto. Foi também nesta região que nasceu a religião de Israel, o
culto a Iaweh, cujo fundador foi Moisés.

Quanto a entrada de Israel em Canaã, sabe-se que Betel, Dabir e Laquis foram destruídas
na última metade do século XIII. Escavações mostram que Hazor, a maior cidade da Palestina foi
também destruída na última parte do século XIII.

O povo que entrou em Canaã era de formação mista, nem todos eram descendentes direto
dos patriarcas (cf. Ex 12,38). Israel surgiu de um processo extremamente complexo. A sua
estrutura como povo era composta de diversas origens que não podemos duvidar, que só recebeu
a sua forma definitiva depois de se estabelecer na Palestina. Logo depois que a conquista se
concluiu, os representantes de todos os componentes de Israel, os que vieram do deserto e os
que já estavam na terra, encontraram-se em Siquém e se comprometeram a ser o povo de
Iahweh. A estrutura tribal de Israel em Siquém assume a sua forma normativa. Desta maneira da-
se início a história de Israel como povo.

Capítulo 4: A constituição e a religião de Israel primitivo

Não há nenhuma razão para se presumir que a religião de Israel tenha mudado
fundamentalmente com seu estabelecimento na Palestina ou que tenha recebido seu caráter
essencial depois deste acontecimento. Todas as suas linhas principais se remontam ao deserto e
a Moisés.

A noção que Israel tinha de Deus era única no mundo antigo, constituindo um fenômeno que
desafia qualquer explicação racional. É inteiramente certo que Israel trouxe a adoração de Iahweh
consigo desde o deserto, porque, não se pode encontrar nenhum vestígio desta adoração antes
de sua chegada, nem na Palestina nem em parte alguma. A religião de Israel não se
fundamentava em proposições teológicas abstratas, mas na memória de uma experiência
histórica interpretada e correspondida.

A ordem tribal do período mais primitivo de Israel era uma ordem de aliança. É impossível
compreender a organização tribal primitiva israelita de outro modo que não uma liga de aliança,
torna difícil crer que a forma de aliança era adaptada de tratados internacionais do primeiro
milênio. Podemos crer que esta forma determinava a autocompreensão de Israel e de sua vida em
coporação desde o começo de sua história como povo. A aliança significava a aceitação da
soberania de Iahweh por Israel, e foi justamente aqui que começou a noção do domínio de Deus
sobre seu povo, o Reino de Deus, tão central no pensamento de ambos os Testamentos. A aliança
é uma aceitação de vassalagem em termos de soberania. Esta acrescenta a noção de povo
escolhido uma nota moral que nunca seria-lhe lícito esquecer.

Desde o começo, a religião de Israel proibiu a adoração de qualquer outro deus que não
Iahweh. Em consonância com a natureza do primeiro mandamento da aliança: o vassalo deve ter
somente um soberano. Em flagrante com as religiões pagãs, nas quais a imagem de Deus
representava a sua presença visível, isto era expressamente proibido no segundo mandamento. É
surpreendente que as escavações até agora levadas a efeito nunca tenham descoberto uma única
imagem de Iahweh. Isto prova a antiguidade e a tenacidade da tradição anicônica.

Diferente das religiões pagãs, o poder de Iahweh não era associado primariamente aos
acontecimentos previsíveis da natureza, mas a acontecimentos históricos imprevisíveis. Assim,
fundamentada em acontecimentos históricos, a religião de Israel foi a única no mundo antigo que
teve um senso profundo da finalidade divina da história. Apesar de não se excluir a adoração em
outros lugares, o templo da Arca era o templo oficial da liga tribal e o coração de sua vida como
corporação. A liga tribal durou cerca de dois séculos, neste período Israel não tomou nenhuma
medida para criar um Estado. Iahweh governava e salvava o seu povo através dos juízes.

TERCEIRA PARTE: A monarquia de Israel. Período da autodeterminação nacional.

Capítulo 5: Da confederação tribal ao estado dinástico

A crise que levou a Liga Tribal de Israel ao fim ocorreu na última parte do século XI. Neste
tempo os filisteus empreenderam campanhas de expansão de seu território. Diante de seu
exército bem treinado e armado, e das constantes conquistas por todo território cananeu, Israel
correu o risco de desaparecer.

Saul, o primeiro rei, não fez ao que sabemos, qualquer mudança na estrutura interna de
Israel. Após sua morte, sobe ao trono Davi, o qual submeteu os filisteus completamente e uniu
todas as tribos, formando assim o Estado de Israel e depois um verdadeiro Império: Tornou-se rei
de Amon, Moab, Edom e Damasco. Com a expansão e organização do estado o sistema tribal dá
lugar a coroa. Salomão (aproximadamente 961-922) manteve a unidade administrativa
conquistada por Davi e amplicou seus recursos econômicos: Comércio através do Mar
Vermelho,comércio das caravanas com a Arábia, indústria do cobre, comércio de cavalos e bigas.
Além do Templo, Salomão construiu cidades fortificadas, fortes para proteger as caravanas nas
estradas etc... Porém, para manter seus empreendimentos sobrecarregou o povo com impostos.

Como as promessas a Davi e o ideal de realeza foram reafirmados no culto através dos
anos, quando eles eram apenas e nada menos que realidades, firmou-se a esperança de um filho
de Davi ideal, que deveria vir, sob cujo reinado, justo e triunfante, as promessas deveriam tornar-
se realidade. O culto foi a fonte da qual brotou a expectativa de Israel em torno de um messias.

A monarquia nunca se livrou da tensão. Nem Davi, nem Salomão, com todo o seu
brilhantismo, conseguiram resolver seus problemas fundamentais., principalmente o de diminuir a
diferença entre a independência tribal e as exigências da autoridade central, bem como entre a
tradição anfictiônica e as exigências da nova ordem.

Capítulo 6: Os reinos independentes de Israel e Judá

Assim que Salomão morreu (922), a estrutura por Davi levantada desabou precipitadamente,
sendo substituída por dois Estados rivais de importância secundária. Estes Estados viveram lado
a lado, às vezes em guerra entre si, outras vezes em amigável aliança, até que o Estado do norte
foi destruído pelos assírios, precisamente duzentos anos mais tarde (722).

Com a morte de Salomão, o reino se dividiu. Pouco tempo depois Israel e Judá tornaram-se
estados de segunda categoria: Judá com suas antigas possessões tribais, mais as áreas
fronteiriças na planície dos filisteus (Gat), o Negeb até Asiongaber, e talvez parte de Edom; Israel,
com as antigas possessões tribais, mais as primitivas cidades canaanitas da planície costeira
setentrional e Esdrelon, e talvez por algum tempo, certos territórios arameus a leste do mar de
Galiléia.

Nada é mais característico do Estado do norte do que sua extrema instabilidade interna.
Enquanto Judá permaneceu com a linha de Davi durante toda a sua história, o trono de Israel
mudou de mãos por três vezes nos primeiros 50 anos (922-876), através da violência.

Enquanto o Estado de Davi desmoronava a Assíria surgia como nova potência imperial. Sua
recuperação começava sob Assur-dan II (935-913) e seus sucessores.

Israel conseguiu estabalidade graças a Omri. Em seu curto reinado (876-869), foi capaz de
estabelecer uma dinastia que se manteve no poder até a terceira geração e de iniciar uma política
que restaurou Israel em sua força e prosperidade. As evidências arqueológicas sugerem que, sob
a casa de Omri, Israel gozou de uma considerável prosperidade material. O maior testemunho
disso é a nova capital, Samaria. A arqueologia demonstrou que a cidade, começada por Omri e
completada por Acab, tinha fortificações sem paralelo na Palestina antiga, em virtude da
excelência de sua estrutura e acabamento. Incrustrações de marfim encontradas em um dos
edifícios (as obras de marfim mais antigas da Samaria datam deste período) podem ilustrar a
"casa de marfim", construída por Acab.
Os profetas, os javistas e outros se opunham a dinastia de Omri. Em 842 uma revolução
eclodiu com Jeú, um general do exército. Foi uma explosão da contida cólera popular e de tudo o
que era conservador em Israel, contra a casa de Omri e sua política.

Em Judá (873-837), embora sendo mais estável as tendências paganizantes penetravam


cada vez mais. Com Joás (837-800) embora não sofresse as lutas internas que enfraqueceram
Israel e fosse menos seriamente afetado pela agressão dos arameus, também encontrava-se
fraca.

O reinado de Jeú (842-815) deu início a uma dinastia que durou cerca de um século. Ao
mesmo tempo inaugurou um período de calamitosa debilidade, durante o qual o Estado do norte
quase perdeu sua existência independente.

O século oitavo trouxe uma reviravolta dramática, projetando Israel e Judá às alturas do
poder e da prosperidade desconhecidas desde o tempo de Davi e Salomão. Um dos fatores que
contribuiu foi o enfraquecimento da Assíria por parte do reino de Urartu. Por volta da metade do
século oitavo a Assíria parecia ameaçada de desintegração. As conquistas de ambos os reinos
fizeram com que na metado do século oitavo, as dimensões de Israel e Judá juntos fossem quase
tão grandes quanto as do império de Salomão. Estando em paz um com o outro a possiblidade de
comércio se ampliou, revitalizando assim o comércio no Mar Vermelho, houve um ressurgimento
da indústria do cobre de Arabá e provavelmente foi feito um novo tratado comercial com Tiro. Os
esplêndidos edifícios e as caras incrustações de marfim de origem fenícia ou damascena,
provenientes da Samaria, mostram que Amós não exagerava ao falar do luxo da classe A de
Israel. Em ambos os países, a população alcança o máximo crescimento no século oitavo, com
muitas cidades passando além de suas muralhas.

Contudo, a desigualdade social, a injustiça e decadência moral e sobretudo religiosa fez com
que os profetas clássicos, principalmente Amós e Oséias se levantassem anunciando a
destruição.

QUARTA PARTE: A monarquia. Crise e decadência


Capítulo 7: O período da conquista Assíria.

Durante os quinhentos anos de sua existência como povo não existia nenhum império capaz
de perturbá-lo profunda e permanentemente. Este quadro mudou depois da metade do século
oitavo. A Assíria tornou-se um grande império e subjugou os pequenos povos. Até então Israel e
Judá nunca tinham perdido sua autonomia.
No período de 737-721 o reino de Israel viveu profundas crises interiores, uma sucessão de
reis que tomaram posse pela violência desestruturou o país completamente. Além disso a crise
moral chegou ao ápice. Neste ínterim a Assíria em sua política expansionista para abri comércio
pelo mediterrâneo foi conquistando cada vez mais o oeste. Faké (737-732) encabeçou um
coalizão contra a Assíria, porém esta acarretou a destruição do país. Em 733 Teglatfalasar atacou
Israel. Todas as terras israelitas da Galiléia e da Transjordânia foram assoladas, parte da
população foi deportada (2Rs 15,29) e numerosas cidades (por exemplo Megiddo e Hazor) foram
destruídas. O último rei Oséias (732-724) se tornou vassalo assírio. Em 724 Salmanasar atacou e
ocupo o território. Samaria caiu no final do verão de 722-721, com certeza. Sargão, sucessor de
Salmanasar, conta que 27.290 cidadãos foram deportados para a Alta Mesopotâmia e a Média.

Capítulo 8: O reino de Judá

Com a morte de Ezequias sobe ao trono seu filho Manassés (687-642). Como vassalo do
império da Assíria, ele tinha de prestar homenagem aos deuses de seu soberano, e realmente o
fez, erguendo altares para as divindades astrais assírias no próprio templo. Os santuários locais
de Iahweh, que Ezequias procurou fechar, foram restaurados. Os cultos pagãos e as práticas,
tanto nativas quanto estrangeiras tiveram livre curso, com todo o aparato da religião da fertilidade,
enquanto que os rituais da prostituição sagrada eram tolerados até mesmo dentro do templo (cf. II
Rs 21,7; 23,4-7; Sf 1,4ss). A adivinhação e a magia, todas as espécies de moda estrangeira,
inclusive sacrifícios humanos reapareceram. A distinção entre Iahweh e os outros deuses pagãos
ficara obscurecida. Em pouco tempo Iahweh se tornaria o deus principal de um grande panteão e
a religião de Israel teria se prostituído totalmente.

Durante o reinado de Josias (640-609), houve uma grande reforma religiosa, a qual aboliu os
costumes religiosos pagãos e estabeleceu a independência de Israel da Assíria. Josias apoiando
a coalisão contra Assíria-Egito morre em combate. A partir de então Judá é dominado pelo Egito
(609-605). Os babilônios venceram a filistéia em 604; pouco depois (603) o rei Joaquim se torna
seu vassalo, mas se rebela. A consequência foi a tomada de Jerusalém (16 de março de 597) e a
deportação de todos os cidadãos eminentes para a Babilônia por Nabucodonosor.

Sedecias sobe ao trono (597-587), mas em uma rebelião contra Babilônia é capturado e
levado para o exílio. Em julho de 587 Jerusalém é tomada e incendiada, suas muralhas são
destruídas e outro grupo foi deportado para Babilônia.

A teologia nacional que centralizava-se na escolha de Sião por Iahweh como sua sede e nas
promessas imutáveis feitas a dinastia davídica. Com a queda de Jerusalém, a teologia nacional
entra em crise, sendo incapaz de explicar os acontecimentos. Os profetas desse período (Isaías,
Miquéias, Jeremias, Ezequiel etc...) embora notados por poucos durante sua vida, talvez tenham
feito mais do que todos os outros para salvar Israel da extinção. Demolindo impiedosamente a
falsa esperança geral, anunciando a calamidade que caía sobre a nação como o julgamento justo
de Iahweh soberano, eles deram uma explicação à tragédia antecipadamente, em termos de
religião, evitando assim que ela destruísse sua religião.

QUINTA PARTE: A tragédia e depois da tragédia. Os períodos exílico e pós-exílico


Capítulo 9: Exílio e restauração

Uma deportação total que deixou a terra vazia e despovoada é errônea, mas a catástrofe foi
aterradora, pois causou a ruptura da vida judaica na Palestina. Os babilônios não substituíram os
judeus deportados por elementos trazidos de fora, como os assírios fizeram na Samaria. A
população de Judá, que provavelmente excedia a 250 mil no século oitavo, chegando
possivelmente à metade desse número depois da deportação de 597, ficou sendo de pouco mais
de 20 mil, mesmo depois que os primeiros exilados voltaram.

Os judeus que viviam na Babilônia representavam a nata política, eclesiástica e intelectual


de sua terra, por isso é que foram escolhidos para a deportação. Jr 52,28-30 dá os totais precisos
para as três deportações (597, 587 e 582), a soma de todas elas é de apenas 4600. Embora não
devamos diminuir as dificuldades e a humilhação que os exilados sofreram, o tratamento que
receberam não parece ter sido demasiado severo. Transportados para o norte da Mesopotâmia,
não longe da própria Babilônia, não ficaram dispersos da população local, mas certamente em
colônias especiais (Ez 3,15; Esd 2,59;8,17) numa espécie de confinamento. Certamente, eles não
eram livres; mas também não eram prisioneiros. Permitiam-lhes construir casas, dedicar-se à
agricultura (Jr 29,5ss) e naturalmente, ganhar seu sustento da maneira que pudessem. Podiam
fazer reuniões e continuar a manter uma espécie de vida comunitária (cf. Ez 8,1;14,1;33,30ss).

Além desses judeus levados à força para a Babilônia, muitos outros foram para o Egito (cf. Jr
42,ss). Uma colônia militar judaica existia no século quinto em Elefantina, na primeira catarata do
Nilo. Além disso, sabemos que muitos deles fugiram para Moab, Edom e Amon (Jr 40,11).

Neste período a Lei começa a se tornar uma característica do povo judeu. Tanto no exílio
como no pós-exílio, o Sábado aparece como o teste crucial de obediência à aliança (Jr 17,19-27;
Is 56,1-8; 58,13ss) um sinal perpétuo instituído na criação (Gn 2,2ss); a circuncisão tornou-se um
sinal da aliança (Gn 17,9-14); a limpeza ritual (cf. Ez 4,12-15;22,26).

Os livros históricos (Josué a 2Rs) foram reeditados e adaptados a situação dos exilados. Da
mesma forma as palavras dos profetas justificadas pelos acontecimentos, foram igualmente
preservadas oralmente e por escrito, e em muitos casos anotadas e atualizadas; a narrativa
sacerdotal do Pentateuco também foi composta durante o exílio.

O império babilônio foi aos poucos se enfraquecendo com a morte de Nabucodonosor. Em


539 os medos tomam Babilônia e Ciro começa a reinar. No seu primeiro ano (538), Ciro
proclamou um decreto ordenando a restauração da comunidade judaica e do culto na Palestina.
Muitos judeus que tinham enriquecido, preferiram permanecer na Babilônia.

No começo a comunidade judaica era muito pequena, por volta de 522 sua população total
dificilmente passaria de 20 mil pessoas, setenta e cinco anos depois Jerusalém ainda estava em
ruínas (Ne 7,4). Os recém chegados enfrentaram anos de dificuldades, provações e insegurança.
Ageu, Zacarias e Isaías (cc. 56 a 66) indicam que a moral da comunidade estava perigosamente
baixa em seus inícios. A comunidade era muito pobre, muito sacrificada e desanimada. Tal espírito
fez com que a obra do Templo fosse concluída somente em 515, contando com a motivação
sobretudo dos profetas.

Capítulo 10: A comunidade judaica no quinto século

Quase nada sabemos da sorte dos judeus durante os anos 515-450, exceto o que
encontramos na obra de Esdras-Neemias e no profeta Abdias. Embora a população de Judá
continuasse a crescer, não houve certamente um afluxo geral de judeus para a pátria, como tinha
sido previsto pelo Segundo Isaías, por Zacarias e outros. A maior parte preferiu permanecer onde
estava.

Segundo as listas de Esdras e Neemias (cf. Esd 2; Nee 7), a população em seu período
chegou a quase 50 mil pessoas, mas Jerusalém ainda possuía pouquíssimos habitantes.
Entretanto é mais do que evidente que a moral da comunidade não era boa. A frustação levara à
desilusão e esta, por sua vez, à lassidão religiosa e moral, o profeta Malaquias e Neemias o
demonstra claramente (Ml 1,6-14; 2,13-16.17; 3,5.7-10. 13-15; Ne 5,1-5; 13,15-22).

O terceiro quartel do século quinto viu uma reorganização total da comunidade judaica, que
elevou o seu status, salvou-a da desintegração e a colocou no caminho certo, que ela deveria
seguir o resto do período bíblico. Esta reforma foi realizada principalmente graças ao trabalho de
Esdras e Neemias.

A data do começo da obra de Neemias é certa, sendo confirmada independentemente dos


textos de Elefantina: vai ((Ne 2,1) do vigésimo ano de Artaxerxes I (445) até (Ne 13,6) um pouco
depois do trigésimo segundo ano daquele rei (Ne 13,6). A data da chegada de Esdras em
Jerusalém é incerta. Neemias assumiu a administração da cidade. Segundo Josefo a primeira
obra foi a reconstrução das muralhas que durou cerca de 2 anos e meio. A província possuia
nesse tempo cerca de 50 mil habitantes. Graças a ele a comunidade passou a ter uma situação
política reconhecida, segurança e uma administração honesta. Provavelmente no final de sua
gestão (428) surge em cena o escriba Esdras.

Esdras era um governador, cuja missão específica era regularizar a prática religiosa judaica.
Esdras era um comissário do governo persa. As leis transmitidas por ele eram em nome do
império. Todos aqueles que aderiam à comunidade de culto de Jerusalém (todos os que se
consideravam judeus) teriam que ordenar suas vidas de acordo com a lei trazida por Esdras. Os
persas eram muito tolerantes com os cultos nativos, tais cultos eram regularizados por uma
autoridade responsável.

Com a introdução da Lei se evidencia a transição de Israel de uma nação para uma
comunidade sujeita a uma lei. E como tal, a partir de então poderia existir mesmo sem um Estado
e encontrando-se espalhada pelo mundo.

SEXTA PARTE: Período de formação do judaísmo


Capítulo 11: O fim do período do Antigo Testamento

Por surpreendente que possa parecer, nenhum período da história de Israel, desde Moisés é
tão mal documentado. Por volta do fim do século quinto, a narrativa histórica da Bíblia cessa por
completo; só no século segundo (175 em diante) reaparecem fontes históricas judaicas com os
livros I e II Macabeus. Fontes extrabíblicas também são praticamente nulas.

Uma das poucas coisas que se pode deduzir deste período é que uma vez que o aramaico
não era somente a língua dos vizínhos próximos dos judeus, mas também a língua franca e a
língua oficial da parte ocidental do império persa, era quase necessário que os judeus a
aprendessem, primeiro como uma segunda língua, e acabassem preferindo-a à sua própria. Isso
em um processo muito lento, que não se realizou por completo nos tempo bíblicos.

Alexandre Magno vence os persas e pouco depois com sua morte os Ptolomeus passam a
governar a Palestina (301), onde permanecem cerca de meio século. Nesse tempo a comunidade
judaíca do Egito era muito grande. Segundo o papiro de Nash os judeus do Egito adotaram o
grego como sua língua nativa, embora o hebraico continuasse a ser compreendido pelo menos
por alguns deles. Havia mais judeus fora da Palestina do que dentro. Já que a maior parte desses
judeus, juntamente com seus prosélitos não entendia mais as suas Escrituras, a partir do século
terceiro, foi feita a tradução para o grego, primeiro da Torá e depois dos outros livros, conhecida
como versão dos Setenta.

Em 198 Antíoco III, rei do império Selêucida, vence os Ptolomeus no Egito e toma posse da
Palestina. Com os Selêucidas a expansão e promoção da cultura grega chega ao seu auge no
Oriente. Era inevitável que os judeus da Diáspora absorvessem a nova cultura e a nova língua.
Nem os judeus da Palestina ficaram imunes. As colônias gregas fundadas por Alexandre
pontilhavam a terra, exemplos disso são Sebaste (Samaria), Filadélfia (Ammân), Ptolemaes
(Acre), Filotéria (ao sul do mar da Galiléia) e Citópolis (Beth-Shean). Todas eram focos do
helenismo. Com Antíoco IV Epífanes (175-163), os judeus são submetidos a uma dura política que
em pouco tempo os levou a uma rebelião.

O núcleo da resistência à política real era formado por um grupo conhecido como o Hasidim
(os piedosos, os leais), é provavel que tanto os fariseus quanto os essênios sejam seus
descendentes. Os estudiosos são quase todos unânimes que o livro de Daniel (165/166) foi
escrito nesse período por um dos Hasidim. Enquanto o livro de Daniel era escrito, os judeus,
perseguidos ao máximo, pegavam em armas contra seus atormentadores. Toda a revolta judaica
recebeu o apelido de "Guerra dos Macabeus".
Os macabeus em 164 purificam o Templo das idolatrias helênicas, surge assim a festa de
Hanukkah (consagração). Reconquistam portanto com a revolução a independência religiosa.

Capítulo 12: O judaísmo no fim do período do Antigo Testamento

Israel perdeu sua identidade com o exílio. Para sobreviver como povo no período do pós-
exílio, a comunidade da restauração precisou buscar sua identidade como povo para sobreviver e
encontrou tudo o que precisava na sua lei. A comunidade foi portanto, reorganizada a partir da lei.

O reconhecimento do Pentateuco como Torá não se deu em um único ato oficial, mas
provavelmente este reconhecimento se deu durante o período persa, pois os samaritanos o
reconheceram como tal, mas não aceitaram os demais livros do Antigo Testamento. Os livros
históricos foram considerados parte da Sagrada Escritura também no período persa. O canôn
profético, certamente foi fixado antes do segundo século, o que explica porque Daniel não foi
colocado entre os profetas na Bíblia hebraica, mas entre os Escritos.

Antes do século segundo, todos os outros livros do Antigo Testamento (exceto Daniel e,
possivelmente Ester), também já existiam. Os Salmos já tinham sido compilados de há muito,
provavelmente antes do fim do período persa (não há salmos macabeus no saltério), como o foi o
Livro dos Provérbios. Embora os limites da terceira divisão do cânon judaico estivessem ainda
indefinidos, e embora como mostra uma comparação da Bíblia hebraica com os Setenta, não
existisse ainda nenhuma forma fixa de cânon, é claro que o corpo definiddo das Sagradas
Escrituras surgiu por volta do fim do período do Antigo Testamento.

Embora fosse praticado com alegria e entusiasmo e representasse uma expressão


espontânea da vida nacional, o culto era um cumprimento das exigências da lei. Além disso, à
medida que a lei ganhava importância, o sacerdote, embora honrado no seu ministério, perdia
algo da sua posição proeminente. A antiga função levítica de dar a lei cedeu lugar à função agora
a função mais importante de ensinar a própria lei. Mas, como podia ser desempenhada por
qualquer pessoa versada na lei, esta função não era mais uma monopólio sacerdotal, sua
importância, apesar de grande, foi eclipsada pela importância do doutor da lei.

Na medida que a Lei foi sendo fixada crescia no número de sinagogas para a sua
explicação. Nos último séculos pré-cristãos havia sinagogas em quase todas as cidades. Ao
mesmo tempo foi surgindo uma nova classe a dos escribas e mestres de sabedoria para a correta
interpretação e exposição da Lei.

Característico da piedade pós-exílica era o ideal de mansidão e humildade. O homem


piedoso é aquele que, com submissão e confiança perfeita, aceita a provação que Deus lhe
impõe; a piedade, as obras e o dever religioso se baseavam na lei. A absolutização da lei resultou
em uma profunda seriedade moral e um profundo senso de responsabilidade individual, que
ilustram muito bem a firmeza e o heroísmo com que os judeus fiéis enfrentaram Antíoco. O
judaísmo ficou peculiarmente sujeito ao perigo do legalismo. O homem tinha que se empenhar
para cumprir plenamente a lei. Também, era um sentimento geral que Deus premiaria com seus
favores os que eram fiéis neste ponto. Acreditava-se até que as boas ações aumentavam o crédito
do homem diante de Deus (cf. Ne 13,14.22.31; Tb 4,9; Eclo 3,3ss.14;29,11-13).

Dominava a mentalidade de que os judeus deviam evitar tanto quanto possível qualquer
contato com os gentios e de modo algum se tornarem semelhantes a eles; sobretudo os pais não
deviam permitir que seus filhos ou filhas se casassem com nenhum deles (Tb 4,12ss), porque tal
procedimento era o mesmo que fornicação (Jub 30,7-10). Ao mesmo tempo nunca se perdeu em
Israel o sendo de sua missão universal: se acolhia os prosélitos e não faltavam aqueles que sentia
a obrigação de conquistar gentios para a fé.

A religião de Israel sempre teve uma orientação escatológica. Em Israel de antes do exílio, a
esperança era posta na nação existente, e considerada como a continuação e a consumação da
história nacional. Cria-se que Iahweh iria estabelecer Israel, dar-lhe a vitória sobre seus inimigos e
uma felicidade sem par sob o seu governo divino. Estas eram as esperanças populares postas
tanto no Dia de Iahweh quanto na teologia oficial do Estado davídico. Todavia, o exílio pôs um fim
a tudo isto. A esperança da existência continuada da nação ou da vinda de um filho de Davi ideal,
talvez o próximo, que restaurasse o seu destino, não era mais possível. A queda da nação
arrancou pela raiz a esperança de Israel no culto nacional e na teologia dinástica. Durante todo o
período posterior ao exílio, a característica dominante da esperança de Israel é o Dia de Iahweh.

O Dia de Iahweh era concebido como um estabelecimento de uma nova ordem. Embora
renovando todas as glórias do passado, reais ou imaginárias, não era contudo uma mera
recriação do passado, mas uma nova idade que surgia depois do juízo, como uma consumação
dos desígnios de Deus na história.

No final do período do Antigo Testamento a escatologia judaica passou a ser apocalíptica.


Nesse tempo surge nos escritos a figura do "Filho do homem" (cf. Dn 7,9-14). Nas últimas partes
de I Enoch (cc 37 a 71), o "filho do homem" aparece claramente como um libertador celeste pré-
existente.

A esperança apocalíptica simplesmente não chegou a se realizar; um drama tão estranho


nunca seria representado no palco da história do mundo. O judaísmo não encontrou o seu futuro
como uma comunidade escatológica. O único caminho realmente tomado, foi o único que sobrou:
o apontado pelos fariseus, o único que leva ao judaísmo normativo, a Mishnah e o Talmud.

A história de Israel continuaria na história do povo judaico, um povo escolhido pelo Deus de
Israel para viver so sua lei até a última geração da humanidade. Para onde vai a história de
Israel? A resposta tem dois caminhos, ou se conclui no Talmud ou no Evangelho, uma vez que o
cristianismo tem sua origem no judaísmo.

2. Destaques do texto

O autor fez uma pesquisa exaustiva quanto as fontes arqueológicas para tentar reproduzir
ao máximo as diferentes etapas da história de Israel, levando em consideração a história dos
povos e impérios de cada período.

Trata-se de um livro escrito há vinte e nove anos, a pesquisa arqueológica e textual evolui a
passos rápidos em nossos dias, mas mesmo assim as fontes utilizadas não deixam de ser
importantes.

O autor se serviu em vários momentos das sagradas escrituras para poder tentar reconstruir
as linhas gerais que permearam um determinado contexto social. Ele foi prudente ao ter presente
que os livros sagrados não são livros históricos no sentido de um tentativa de reprodução da
história e sim livros teológicos, os quais se servem de tradições e fatos históricos, mas prioriza
acima de tudo a mensagem teológica nos acontecimentos.

3. Apreciação de alguns pontos

Neste sentido, destaco o inserimento da participação dos profetas durante a monarquia.


John Bright enfatizou o choque entre a teologia nacional e a teologia dos profetas a qual se
opunha aos paradigmas sacerdotais, dos reis e do próprio povo. O fato de que os acontecimentos
históricos se realizaram segundo a palavra dos profetas, isto revela que a história de Israel e do
inteiro universo é conduzida por Deus e o revela.

4. Conclusão

É muito difícil abordar criticamente no aspecto negativo a obra de John Bright em um nível
apenas de bacharelado teológico. A obra é densa e abrangente, escrita sobre uma sólida base
científica. Não é por um acaso, que por décadas foi uma das principais fontes de pesquisa para os
biblistas e apreciadores das Sagradas Escrituras de diversos países.

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