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ORÇAMENTO PÚBLICO

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CONCEITO

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Para se compreender um instituto jurídico, deve-se começar pela sua con-
ceituação, que nada mais é do que a determinação de seu objeto, limites e finalidades
e demais elementos considerados essenciais.

A conceituação mais respeitada e citada pelos autores é aquela data por


Aliomar Baleeiro, que de forma simples, afirma o seguinte:

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(Orçamento é) “o ato pelo qual o Poder Legislativo prevê e autoriza ao
Poder Executivo, por certo período e em pormenor, as despesas desti-
nadas ao funcionamento dos serviços públicos e outros fins adotados
pela política econômica ou geral do país, assim como a arrecadação
das receitas já criadas em lei”

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A conceituação acima deixa clara a finalidade do orçamento de fixar as
despesas e estimar as receitas, além da necessidade de atuação harmônica entre os
poderes para sua confecção.

Acrescente-se ainda, como bem dito por Marcus Abraham, que o orçamen-
to público na atualidade não é apenas um documento técnico que contem receitas e
despesas para o ano vindouro, sendo um instrumento de planejamento e controle fi-
nanceiro fundamental para o Estado Democrático de Direito, além de revelar as políti-
cas públicas adotadas pelo Estado ao procurar atender às necessidades e aos interes-
ses da sociedade.

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ORIGEM HISTÓRICA

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A origem histórica do Orçamento está no art. 12 da Carta Magna inglesa de
1215, onde se prevê o princípio do “no taxation without representation”. A exigência de

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autorização parlamento para a fixação de impostos surgiu da necessidade do Parla-
mento Inglês de evitar abusos por parte da Monarquia.

Mas tarde, a Câmara dos Comuns exigiu do Poder Real Inglês o direito de
conhecer a aplicação dos recursos autorizados, realizando, assim, a fiscalização dos
gastos públicos. Posteriormente tanto a Petition of Rights de 1628, quanto a Declara-
ção de Direitos de 1689, reafirmaram o princípio surgido com a Magna Carta.

Os acontecimentos ingleses influenciaram outros países mundo a fora,


tendo sido prevista, por exemplo, na França Revolucionária a aceitação periódica pelo
parlamento para que o executivo autorize e arrecade impostos (Previsão da Constitui-
ção de 1791)

Nos Estados Unidos, a falta de representação daquele país junto ao Parla-


mento Inglês, o que, em tese, violaria o princípio do “no taxation whithout representati-
on”, foi um dos motes para a luta pela independência daquele país.

Já no Brasil, a Constituição Imperial de 1824 previa à Camara dos Deputa-


dos a iniciativa para leis de criação de impostos, além de controle a posteriori das recei-
tas e despesas do Ministério da Fazenda, além da aprovação do Orçamento. Apesar da
previsão constitucional, a primeira Lei Orçamentária surgiu apenas em 1827.

ESPÉCIES DE ORÇAMENTO (CLASSIFICAÇÃO)

A doutrina brasileira costuma classificar os orçamentos segundo as seguin-


tes espécies: a) pela forma de elaboração: orçamento legislativo, executivo ou misto; b)
pelos objetivos ou pretensões: orçamento clássico, de desempenho ou orçamento pro-
grama; c) pela vinculação do conteúdo: orçamento impositivo ou autorizativo; d) pela
forma de materialização: PPA, LDO e LOA; e) pelo conteúdo: Orçamento Fiscal, de In-
vestimento e Social.

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a) Quanto a forma de elaboração:

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Segundo essa classificação o orçamento legislativo é aquele que cuja
elaboração, votação e aprovação cabe apenas ao legislativo. Ao Execu-
tivo incumbe apenas a tarefa de execução orçamentária. Esse instru-
mento é típico de países parlamentaristas.

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O Orçamento executivo é aquele cuja elaboração, votação e aprovação
cabe apenas ao Executivo. Esse sistema é comumente encontrado em
países não democrátivos

Já no modelo de Orçamento misto ao Poder Executivo cabe a elabo-


ração e execução do Orçamento e ao Legislativo a sua aprovação. Esse
modelo é utilizado no Brasil.

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b) Quanto aos Objetivos ou Pretensões

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O Orçamento Clássico tem como característica o fato de ser uma peça
meramente contábil, limitando-se, portanto, à previsão de receitas e fix-
ação de despesas, sendo desprovido de metas a serem atingidas e
planejamento governamental.

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Orçamento de Desempenho ou por Realizações: nesse tipo de orça-
mento o gestor começa a se preocupar com o resultado do gasto, ou
seja com sua qualidade e resultados obtidos e não apenas se o gasto
ocorreu ou não.

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Orçamento Programa: Esse tipo de orçamento foi introduzido no Brasil
pela Lei n. 4320/64 e nesse tipo de orçamento além das informações
financeiras, há informações sobre os programas de governo pela identi-
ficação do projeto, planos objetivos e metas. Confira a redação do art.
2º da Lei 4320/64:

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“A Lei do Orçamento conterá a discriminação da receita e depesa de
forma a evidenciar a política econômica financeira e o programa de tra-
balho do Governo, obedecidos os princípios da unidade, universalidade
e anualidade”

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No mesmo sentido está a constituição ao prever um orçamento de in-
vestimentos.

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QUANTO À VINCULAÇÃO DO CONTEÚDO

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Orçamento Impositivo: Nesse tipo de orçamento as despesas fixadas
são de observância obrigatória pelo Executivo, criando para os cidadãos
direito subjetivo de serem realizadas.

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Orçamento Autorizativo: Nesse tipo de orçamento o que há é autoriza-
ção para que o Executivo realize o gasto, ficando a cargo do gestor
público a avaliação do interesse e da conveniência de sua realização.
Esse é o tipo de orçamento adotado no Brasil.

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QUANTO A FORMA DE MATERIALIZAÇÃO

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PPA – O Plano Plurianual vigora por 04 anos e estabelece, de forma re-
gionalizada, as diretrizes, objetivos e metas da Adm. Pública para as
despesas de capital e dela decorrentes bem como aos programas de
duração continuada.

O art. 167, §1º da CF/88 é claro ao afirmar que nenhum investimento


que ultrapasse 1 exercício financeiro (despesa de caráter continuado)
poderá ser iniciado sem previa inclusão no PPA, ou lei que autorize a
inclusão, sob pena de crime de responsabilidade

O PPA vigora do segundo ano de mandato até o final do primeiro ano do


mandato subsequente. O projeto de lei do PPA deve ser enviado ao
congresso até quatro meses antes do final do primeiro exercício finan-
ceiro e devolvido para sanção até o encerramento da sessão legislativa.
(art. 35,§2º, I do ADCT)

O PPA orienta a elaboração das demais leis orçamentárias.

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LDO – A Lei de Diretrizes Orçamentárias – Compreende as metas e pri-
oridades da Administração, incluindo as despesas de capital para o ex-
ercício subsequente, além de orientar a elaboração da LOA, dispõe so-
bre modificação da lei tributária e aplicação das agências financeiras
oficiais de fomento;

Ela tem como característica ser uma lei intermediária entre a PPA e a
LOA, dispondo sobre o planejamento fiscal a curto prazo, bem como
orientando a elaboração da LOA.

A LRF ampliou o papel da LDO ao prever também que nela deve con-
star: a) equilibrio entre receitas e despesas; b) criterios e formas de limi-
tação de empenho; c) normas relativas ao controle de custo e à avali-
ação dos resultados dos programas financiados com recurso dos orça-
mentos; d) demais condições e exigências para transferência de recur-
sos a entidades públicas e privadas.

Além do acima mencionado, deve ser acompanhada do anexo de metas


fiscais para o ano vindouro e, ainda, avaliação do cumprimento das
metas do ano passado.

O PL da LDO será encaminhado até 8 meses e meio (meados de abril)


antes do encerramento do exercício financeiro e devolvido para sanção
até o encerramento do primeiro período da sessão legislativa (mês de
julho)

LOA – Contempla o Orçamento Fiscal, de Investimentos e Seguri-


dade Social.

O projeto de lei da LOA deve ser enviado ao congresso até quatro


meses antes do final do primeiro exercício financeiro e devolvido para
sanção até o encerramento da sessão legislativa.

Ele compreende 3 peças orçamentarias:

Orçamento fiscal: dispõe sobre as receitas e despesas para aquele


exercício financeiro (Adm direta e indireta)

Orçamento de investimento: envolve as receitas de despesas rela-


cionadas às empresas que a União detenha a maioria do capital social
com direito a voto

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Orçamento da seguridade social: envolve as receitas e despesas com
saúde, previdência e assistência social.

Esses orçamentos tem como finalidade, ainda, reduzir as desigualdades


inter-regionais, segundo critério populacional.

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QUANTO AO CONTEÚDO do ORÇAMENTO

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Orçamento Fiscal – Contem todas as despesas e receitas dos três
poderes, seus fundos, órgãos e entidades da administração direta e in-
direta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público.

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Orçamento de Investimento – Refere-se às empresas que o Estado ten-
ha direta ou indiretamente a maioria do capital social com direito a voto;

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Orçamento da Seguridade Social – Abrange todas as entidades e
Órgãos da Seguridade Social, bem como fundos e fundações instituídos
e mantidos pelo Poder Público.

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ASPECTOS POLÍTICO, ECONÔMICO E JURÍDICO DO ORÇAMENTO.

ASPECTO POLITICO

O aspecto político advém do fato de que o orçamento é uma peça confec-


cionada via relação harmônica e interdependente entre os Poderes. O Executivo faz a
previsão de gastos, estima as receitas, o legislativo as aprova para que os gastos se-
jam realizados e as receitas arrecadas pelo executivo, tudo sob fiscalização do próprio
legislativo.

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ASPECTO ECONOMICO

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O aspecto econômico do Orçamento é um dos mais importante, sobretudo
em se considerando a constante desinformação da mídia quanto a importância do défi-
cit (despesas excedem as receitas) ou superávit (receitas excedem as despesas) or-
çamentário.

Para compreendermos melhor esse aspecto, trataremos primeiramente da


visão do orçamento no período clássico, para somente então o tratarmos na atualidade.

Os clássicos viam o orçamento sob o dogma do equilíbrio orçamentário, ou


seja, despesa igual a receita, sem gerar déficit ou superávit. O déficit era tido como um
perigo porque o Estado, para saná-lo teria que pegar empréstimos no mercado ou au-
mentar a emissão de moeda, o que poderia leva-lo à bancarrota, caso não conseguisse
aumentar as receitas para fazer frente aos novos custos ou a um processo inflacioná-
rio, caso resolve-se pagar os empréstimos realizados com o aumento da emissão de
dinheiro.

Também condenavam o superávit porque isso significaria que o governo


estaria retirando dos particulares mais do que deveria, o que, em última análise seria
um processo que atravanca o desenvolvimento econômico. Sob outro ponto de vista,
havia o temor que os recursos que sobraram pudessem ser utilizados de forma dema-
gógica pelos parlamentares.

Já na modernidade o equilíbrio orçamentário não tem tanta importância


uma vez que o aumento de gastos ou de receitas está intimamente ligada à situação
econômica da nação, não tendo tanta importância a ocorrência de desequilíbrio em um
determinado período de tempo. Para ser mais claro, em períodos de depressão
econômica, como o que vivemos após 2008, é comum os Estados Nacionais apresen-
tarem déficits orçamentários, isso porque nesses períodos aumenta-se os investimen-
tos estatais num claro intuito de estimular a economia estatal e frear a queda da circu-
lação econômica da riquezas. Já em períodos de aquecimento econômico, não é ne-
cessária a intervenção direta do Estado, mas apenas a indireta por meio de fiscaliza-
ção, o que pode redundar num superávit orçamentário.

Assim, na modernidade trabalha-se não com a idéia de equilíbrio orçamen-


tário, mas sim com a idéia de equilíbrio econômico em geral, ou seja, o orçamento
considera não apenas o equilíbrio entre receita e despesa, mas sim a conjuntura
econômica enfrentada e as metas a serem alcançadas pelos governos.

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ASPECTO JURIDICO

Quanto ao aspecto jurídico, há certa divergência internacional sobre o que


seria o aspecto material e o formal do Orçamento, destacando-se 3 correntes sobre o
tema:

Para uma primeira corrente, encabeçada pelo jurista alemão Hoennel, o


orçamento é sempre uma lei uma vez que é emanado de um órgão que é eminente-
mente legiferante, que é o Parlamento.

Já para uma segunda corrente, que classifica as leis de acordo com o con-
teúdo, o orçamento, apesar da forma legal, é um mero ato administrativo, pois não é
dotado de generalidade e abstração.

Para uma terceira corrente, parte do orçamento deve ser considerado


como um ato administrativo, por exemplo, a autorização para as despesas e a parte
que cuida das receitas originárias, porém uma outra parte do orçamento deve ser
classificada como lei, como, por exemplo, a parte a parte que autoriza a cobrança e
arrecadação de tributos.

Para uma quarta corrente o orçamento não é lei, mas sim um ato-condi-
ção, uma vez que é condicionante para a realização de despesas e obtenção de recei-
tas. Aliomar Baleeiro defendia a tese de que na Constituição de 1967 o orçamento bra-
sileiro era um ato-condição devido a presença do princípio da anualidade tributária.

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E no Brasil? Qual o Entendimento adotado.

No Brasil, as disposições constitucionais, dentre eles o art. 165, §5º, que


prevê o princípio da exclusividade (veremos os princípios constitucionais mais a frente),
leva a doutrina a uma posição majoritária no sentido de que o orçamento é lei em sen-
tido formal com conteúdo de ato administrativo por ser desprovida de generalidade e
abstração. A doutrina mais moderna vem se caminhando no sentido de reconhecer o
orçamento também como uma lei em sentido material, o que se reflete na viragem da
jurisprudência do STF sobre a possibilidade de controle de constitucionalidade sobre a
LOA.

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PRINCÍPIOS E DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS

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Tendo em vista a importância do tema “Orçamento” para o Estado Brasi-
leiro e visando a probidade no trato com as burras estatais, o legislador constitucional
previu uma serie de normas e princípios constitucionais a serem obedecidos tanto pelo
legislador quanto pelo administrador público, sendo esses princípios: a) unidade; b)
universalidade; c) anualidade; d) proibição de estorno; e) não vinculação da receita pú-
blica; f) exclusividade da matéria orçamentária; g) transparência orçamentária.

a) Princípio da Unidade

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Originalmente o princípio da unidade orçamentária significa que todos os el-
ementos do orçamento deveriam estar em apenas um documento legal.

Atualmente esse princípio está previsto no art. 165, §5º da CF/88, porém
numa visão mais moderna. O que a CF/88 prevê é que o orçamento conterá:
1 – O Orçamento Fiscal; 2- O Orçamento de Investimentos e 3- O Orçamento
da Seguridade Social

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Apesar de após 1988 inexistir um documento único orçamentário (agora são
3 documentos) não se pode afirmar que o princípio da unidade inexiste no
direito pátrio, uma vez que deve necessariamente existir uma harmonia entre
os orçamentos, sendo ideologicamente uma peça única.

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Os Créditos Orçamentários Adicionais (extra-orçamentários)

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O aluno pode estar pensando nesse momento, e os chamados créditos
Orçamentários adicionais, não seriam uma exceção ao princípio da unidade?

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Sim, são exceção ao princípio da unidade. Os créditos adicionais, ou extra-
orçamentários são autorizações dadas pelo Poder Legislativo para a realiza-
ção de despesas não previstas ou que, apesar de previstas possuíam

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dotações orçamentárias insuficientes. Esses créditos estão previstos no art.
167, V, §§ 2º e 3º, além dos arts. 40 e 46 da Lei 4320/64 e art. 72 do DL
200/67.

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O art. 41 da Lei 4320/67, divide os créditos adicionais em três tipos, sendo
eles:

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a) Créditos Suplementares: São os destinados ao reforço do caixa orça-
mentário. Ocorre, portanto, frente a despesas regularmente previstas no
orçamento mas que não tiveram dotação orçamentária suficiente. Esse
crédito não pode exceder à quantia fixada como limite pelo lei orçamen-
tária, quando esta o estabelece.

b) Créditos Especiais: são os destinados a despesas para as quais não


haja dotação orçamentária específica, visando satisfazer necessidades
novas, surgidas no decorrer do exercício financeiro.

A diferença entre os créditos especiais e suplementares esta no fato de


que nesses a despesa foi prevista no orçamento, não tendo apenas
dotação orçamentaria suficiente para fazer frente. Já nos créditos especi-
ais, não foi possível prever a despesa.

c) Créditos extraordinários: são os destinados para despesas urgentes e


imprevisíveis, em caso de guerra, comoção ou calamidade publica. Aqui
não seria possível prever as despesas.

Diferentemente do que ocorre com as leis orçamentarias ordinárias, que estão


sujeitas ao principio da reserva de lei, o que afasta a possibilidade de sua edição por
MP, os créditos Extraordinarios pode ser abertos via MP (art. 167 c/c art. 62 da CF/88)
sendo, portanto, uma exceção ``a exigência de lei formal para o tratamento de matéria
orçamentaria.

Já os créditos Suplementares e Especiais, dependem de previa autorização le-


gislativa, o que pode ocorrer por lei especial ou por autorização inserta dentro da pró-
pria LOA, conforme art. 165, §8º, art. 167, V e lei 4320, art. 7º, I.

PRINCIPIO DA UNIVERSALIDADE

Segundo esse principio, deve conter no orçamento, em valores brutos, todas as


receitas e despesas do Ente Estatal, incluído as despesas com fundos e entes da ad-

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ministração direta e indireta. Esse principio encontra respaldo constitucional no art. 165,
§5º da CF/88 e art. 6º da Lei 4320/64 (Todas as receitas e despesas constarão da Lei
do Orçamento pelos seus totais, vedadas quaisquer deduções).

PRINCIPIO DA ANUALIDADE OU DA PERIODICIDADE

Segundo esse principio, o orçamento deve ser elaborado para vigorar num pe-
ríodo determinado, na maioria das vezes de 1 ano. No Brasil, por expressa disposição
constitucional, a LOA vigora pelo período de 1 ano (art 165, I da CF/88). O art. 34 da
Lei 4320/64, iguala o ano de vigência da lei orçamentaria ao calendário civil.

Em alguns países, como por exemplo os EUA, o ano de vigência do orçamento


e diverso do ano civil.

Vale lembrar que o principio da anualidade no direito financeiro e diverso da


anualidade tributaria. Aqui a anualidade diz respeito a vigência da lei orçamentaria. No
direito tributário a anualidade dizia respeito a autorização anual a ser dada para que
determinado tributo pudesse ser cobrado e recolhido no ano vindouro. Esse principio
no direto tributário não mais existe, uma vez que foi substituído pelo principio da anteri-
oridade fiscal.

Para parte da doutrina os créditos especiais e extraordinários de vigência pluri-


anual seriam exceção ao princípio da anualidade, em vista da expressa ressalva do
art. 167, §2º da CF/88 (se abertos nos últimos 4 meses do exercício financeiro, caso
em que, reabertos nos limites de seus saldos, serão incorporados ao orçamento do
exercício subsequente).

PRINCIPIO DA PROIBIÇÃO DO ESTORNO DE VERBAS

Esse principio esta previsto no art. 167, VI da CF/88 ao prever a proibição da


“transposição, o remanejamento ou a transferência de recursos de uma categoria de
programação para outra ou de um órgão para outro, sem previa autorização
legislativa”.

O estorno de verbas era permitido na CF/34 e consistia na transferência de so-


bras de determinada verba de uma dotação orçamentaria para outra. Atualmente, em
vista da autorização de utilização de credito suplementar, tornou-se vedada a utilização
do estorno.

PRINCIPIO DA NÃO AFETACAO ou VINCULAÇÃO DA RECEITA TRIBUTÁ-


RIA

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O art. 167, IV, veda expressamente a vinculação de receita de imposto a órgão,
fundo ou despesas, ressalvadas a repartição constitucional de receitas (art. 158 e 159),
a destinação de recursos para a saúde, ensino, atividades da administração tributaria e
oferecimento de garantia em operação de credito por antecipação de receita.

Conforme se nota, a vedação atinge apenas os impostos.

PRINCIPIO DA EXCLUSIVIDADE

Esse principio esta previsto no art 165, §8º da CF/88, e, basicamente, afirma
que somente pode constar no orçamento matéria pertinente a fixação de despesa e
previsão de receita

Esse princípio visa afastar a chamada prática do “orçamento rabilongo” ou a


“calda orçamentaria” que consistia na inclusão de matérias orçamentárias em leis que
versavam outros assuntos, formando uma verdadeira colcha de retalhos orçamentária e
dificultando a fiscalização.

Porem o próprio art. 165, §8º apresenta exceções, sendo elas as seguintes: a)
autorização para a abertura de credito suplementar; b) operação de credito, ainda que
por antecipação de receita, nos termos da lei.

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PRINCIPIO DA RESERVA DE LEI (principio da legalidade)

Segundo o princípio da legalidade não pode haver despesa pública sem autori-
zação legislativa (art. 167, I a III da CF). Esse princípio decorre do entendimento de que
as receitas públicas são indisponíveis e pertencentes à coletividade e não ao adminis-
trador, de forma que são os representantes do povo que devem autorizar a despesa
pelo processo legislativo estabelecido pela Constituição.

Conforme já mencionado anteriormente, a legislação orçamentaria esta inclusa


no principio da reserva de lei, sendo a exceção os créditos extraordinários, que podem
ser liberados via MP.

PRINCÍPIO DO EQUILÍBRIO

Por esse princípio, o Estado não pode gastar mais do que arrecada (equivalên-
cia entre receitas e despesas). Esse princípio estava localizado no art. 66 da CF/67,

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tendo sido abolido pela EC 01/69, não tendo sido expressamente estabelecido pela
CF/88.

Essa ausência de previsão na CF/88 fez com que a doutrina se dividi-se entre
aqueles que entendem pela sua adoção na CF/88, mesmo que implícita, e aqueles que
deferem a ocorrência de banimento.

Apesar dessa celeuma, o fato é que a LRF previu expressamente o equilíbrio


entre receitas e despesas (art. 4º, I, ‘’a’’).

É de grande relevância nessa passagem, a afirmação de “Valdecir Pascoal que


afirma que embora o equilíbrio contábil do orçamento seja considerado um relevante
princípio pelos doutrinadores, é preciso dizer que a Constituição de 1988, ao estabele-
cer em seu art. 166, §8º.: “os recursos que, em decorrência de veto, emenda ou rejei-
ção do projeto de lei orçamentária anual, ficarem sem despesas correspondentes pode-
rão ser utilizados, conforme o caso, mediante créditos especiais ou suplementares,
com prévia e especifica autorização legislativa”, prevê, excepcionalmente, que, após a
tramitação legislativa, o orçamento possa ser promulgado em desequilíbrio (R>D), em
razão de emendas,vetos ou rejeição da Lei Orçamentária Anual. Portanto, há expressa
permissão constitucional par que a lei orçamentária contenha um volume de receitas
superior ao da despesa.”

PRINCÍPIO DO ORÇAMENTO BRUTO

Para esse princípio, não são permitidas quaisquer compensações no âmbito or-
çamentário, devendo as despesas e receitas estarem em seu valor bruto.

Esse princípio tem previsão no art. 6º da Lei 4320/64 que afirma que “todas as
receitas e despesas constarão da Lei do Orçamento pelos seus totais, vedadas quais-
quer deduções”.

Exemplo: Como a competência tributaria do ITR é da União e 50% é do Município,


no orçamento federal deve constar como receita 100% do ITR, e no campo despesa
50% destinado aos Municípios, não podendo fazer constar, simplesmente 50% do ITR.

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PRINCÍPIO DA PRECEDÊNCIA

Determina que a Lei Orçamentária tem que ser aprovada antes do início do res-
pectivo exercício financeiro.

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Apesar dessa determinação, não é incomum que a LOA seja aprovada apenas
ao longo do exercício financeiro, vigorando durante algum tempo as parcelas de duo-
décimos.

A exceção a esse princícipio é a possibilidade de abertura de créditos adicionais


(suplementares, especiais ou extraordinários) durante o exercício financeiro.

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PRINCÍPIO DA ESPECIFICAÇÃO, ESPECIALIZAÇÃO OU DISCRIMINAÇÃO.

Por esse princípio , a lei orçamentária não consignará dotações globais desti-
nadas a atender indiferentemente a despesas de pessoal, material, serviços de tercei-
ros, transferências ou quaisquer outras (Art. 5º, da Lei 4320/64)

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PRINCíPIO DA PUBLICIDADE OU TRANSPARÊNCIA

Em termos gerais esse princípio está previsto no art. 37 da CF/88. Especifica-


mente no âmbito do Direito Orçamentário, esse princípio encontra-se no art. 165, §3º
que dispõe que: “o Poder Executivo publicará, até 30 dias após o encerramento de
cada bimestre, relatório resumido da execução orçamentária”. O mesmo ocorre com o
art. 48 da LRF que que são elementos da transparência orçamentária a prestação de
contas e o respectivo parecer prévio ou o art. 49, da mesma LRF que afirma que as
contas apresentadas pelo Chefe do Executivo ficarão disponíveis durante todo o exer-
cício para consulta e apreciação pelo cidadão e instituições da sociedade.

PRINCÍPIO DA QUANTIFICAÇÃO OU LIMITAÇÃO DOS CRÉDITOS ORÇAMENTÁ-


RIOS

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O art. 167, VII, proibe a concessão ou utilização de créditos ilimitados, não ha-
vendo qualquer exceção constitucional a essa regra.

Mesmo no caso de créditos extraordinários, o crédito possuirá finalidade e valor


determinado, apesar da possibilidade de sua abertura para despesas imprevisíveis e
urgentes.

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