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Rio de Janeiro
2022
Ao analisar o material das entrevistas feitas para a primeira parte da avaliação da
disciplina Política Social III Previdência, encontramos alguns pontos de similaridade entre as
duas entrevistadas. Embora as duas tenham faixas etárias e grau de escolaridade distintos é
perceptível alguns pontos em comum. Ambas entendem o benefício da previdência como um
instrumento para uso daqueles que contribuíram durante os anos previstos em lei. As duas
compreendem o benefício da previdência social, como uma política social com enfoque para
assegurar condições materiais para a velhice. E ressaltam o medo da perda de direitos a partir
da contra reforma da previdência social. Tentarei fazer uma análise de comparação entre as
falas mais importantes de ambas, usando como instrumento algumas discussões presentes no
material da disciplina Política Social III- Previdência.
Segundo Edvânia (et all) (2017) A partir de 1988 com a nova constituição federal,
promulgada após um longo período de ditadura militar, algumas conquistas importantes
ocorrem dentro da Política Social. A criação do INSS (Instituto Nacional de Seguro Social) a
regulamentação de regimes específicos para categorias como assalariados de empresas
privadas (RGPS) diferenciados de servidores públicos (RPPS) e militares. A limitação do
piso da previdência em um salário mínimo, inclusão dos trabalhadores do campo no regime
especial, inclusão de idosos e portadores de necessidades especiais no benefício de prestação
continuada (BPC), regulamentado pela LOAS e gerido pela Previdência Social são exemplos
destas conquistas. Contudo no início dos anos 80 e 90 uma ofensiva contra os direitos sociais
da classe trabalhadora ganha força e se espraia. A busca do capital financeiro pelas altas
taxas de acumulação objetivadas no ataque às políticas sociais e consequentemente na retirada
de direitos, e precarização das relações de trabalho.
É bom lembrar que, no Brasil, grande parte dos trabalhadores não tem como
comprovar tempo de contribuição porque estão imersos em trabalhos
precários, subcontratados, com baixos salários e expostos a condições de
vida insalubres e a condições de trabalhos que causam acidentes, doenças e
invalidez (Lacaz, 2016). Assim, exigir tempo maior de contribuição é impor
um sacrifício demasiado a quem já tem uma condição de vida e trabalho
sacrificada. ( Edvânia et al., 2017 p. 474)
Buscar instrumentos para compreender tais dúvidas das entrevistadas nos traz
elementos para perceber os ataques às políticas sociais. Como Costa, (2020) debate a classe
pobre, trabalhadora e de maioria negra na cidade do Rio de Janeiro foi pioneira na luta e na
organização dos primeiros fundos de pensão. Formado por trabalhadores marítimos e
portuários, sob o discurso de um progresso agroexportador, usando mão de obra em sua
maioria escravizada, esses nichos de trabalho ganham volume no Brasil. Como forma de
resposta organizados de maneira coletiva, os trabalhadores criam sociedades de auxílio
mútuo como forma de sobreviverem à barbárie, como expõe a autora.
[...] A esusu manifestou-se em outras regiões das Américas, mas suas raízes se
vinculam à região da atual Nigéria. Em grupos, formavam um fundo em comum
com contribuições periódicas em quantia fixada previamente. Em revezamento, cada
um podia usufruir de determinada quantia, e o uso era pessoal (BASCOM, 1952). A
contribuição era coletiva e o usufruto partilhado. Nas Américas, a esusu assumiu um
caráter afro-diaspórico e seu sentido se transformou. A compra da liberdade, de
passagens de retorno para o Continente Africano, por exemplo, eram alguns dos
novos sentidos dados ao agrupamento de pecúlio com os mesmos fins. Eram práticas
de solidariedade econômica e social autogovernadas. (COSTA, 2020 p. 74)
A mesma população trabalhadora negra e pobre que deu origem à semente das
políticas sociais no Brasil, segundo a autora, é hoje quem mais sofre os efeitos das contra
reformas. Isso é notável nas falas das duas entrevistadas, na preocupação com a possível
perda dos direitos previdenciários. O agravamento da crise do capital traz a necessidade de
maior acumulação de capital a partir da exploração da mão de obra trabalhadora e
consequentemente geração de mais valia. Segundo Saionara (2020), neste processo
consequentemente o capitalista valoriza seu capital em detrimento dos trabalhadores que
ficam em desigualdade material frente a venda de sua força de trabalho .
A reforma trabalhista iniciada em 2017 pelo governo Temer surge, segundo Saionara
(2020), como forma de modernização das leis trabalhistas que teria na redução do
desemprego, por meio da flexibilização das formas de contratação e alteração dos vínculos, o
resultado da crise enfrentada a partir da política de austeridade. A reforma trabalhista (Lei
13.467 de 2017) por ter sido criada sem a participação popular, beneficiando a classe
capitalista e distanciando o trabalhador de seus direitos recebe o nome de contra reforma
trabalhista. Ela representa uma escolha política frente a pressão econômica internacional do
capital ao qual o Brasil em seu caráter dependente teve de responder em prontidão.
Todas essas mudanças ocorridas nas políticas sociais ao longo dos anos no Brasil nos
mostram a força e a fragilidade da mesma. Uma política que nunca conseguiu ser
implementada de maneira ampliada. E que desde sua origem, nos áureos tempos de
constituinte, vem sendo dia após dia ameaçada. Seja por reformas fruto do avanço do
capitalismo financeiro, seja pela fragmentação de sua implementação no que tange ao acesso
à população trabalhadora. Como podemos perceber nas falas e nas dúvidas das entrevistadas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS