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6.

Tipo Sanguíneo

Eu a segui o dia inteiro através dos olhos das outras pessoas, mal me dando conta
das coisas ao meu redor.
Não dos olhos de Mike Newton, porque eu não agüentaria nem mais uma das suas
ofensivas fantasias, e nem dos de Jéssica Stanley, porque o ressentimento dela com Bella
me faziam furioso de um modo que não era seguro para a garota mesquinha. Ângela Weber
era uma boa escolha quando seus olhos estavam disponíveis; ela era doce – a sua cabeça
um lugar fácil de estar. E então, às vezes, era o professor que provia a melhor visão.
Eu me surpreendi, vendo-a tropeçar durante o dia – tropeçar nos buracos da calçada,
em livros perdidos, e, mais freqüentemente, nos seus próprios pés – que as pessoas que eu
espionava os pensamentos achavam que Bella era desajeitada.
Eu considerei isso. Era verdade que ela freqüentemente tinha problemas em ficar na
posição vertical. Eu lembrei dela tropeçando na mesa no primeiro dia, escorregando pelo
gelo antes do acidente, caindo sobre a parte inferior da moldura da porta ontem...que
estranho, eles estavam certos. Ela era desajeitada.
Eu não sabia porque isso era tão engraçado para mim, mas eu ri alto enquanto eu
caminhava de História Americana para Inglês e diversas pessoas me lançaram olhares
cautelosos. Como eu não havia notado isso antes? Talvez porque houvesse algo muito
gracioso nela em quietude, o modo como ela segurava a sua cabeça, o arco do seu
pescoço...
Não havia nada de gracioso nela agora. O Sr. Varner olhou quando ela prendeu a
ponta da sua bota no carpete e literalmente caiu na cadeira.
Eu ri de novo.
O tempo se movia com incrível lentidão enquanto eu esperava a minha chance de
ver ela com meus próprios olhos. Finalmente, o sinal tocou. Eu andei rapidamente até a
cafeteria para guardar o meu lugar. Eu fui um dos primeiros lá. Escolhi uma mesa que
estava normalmente vazia, e tinha certeza de que permaneceria daquele jeito comigo
sentado ali.
Quando a minha família entrou e me viu sentado sozinho em um novo lugar, eles
não se surpreenderam. Alice devia tê-los avisado.
Rosalie andou altiva por mim, sem olhar nem de relance.
Idiota.
Rosalie e eu nunca tivemos um relacionamento fácil – eu a tinha ofendido na
primeira vez que ela me ouviu falar, e foi montanha abaixo a partir daí – mas parecia que
ela estava ainda mais temperamental do que o normal nos últimos dias. Eu suspirei. Rosalie
fazia tudo ser sobre si.
Jasper me deu um meio sorriso quando passou por mim.
Boa sorte, ele pensou duvidosamente.
Emmett revirou os olhos e balançou a cabeça.
Perdeu a cabeça, pobre rapaz.
Alice estava radiante, os seus dentes brilhando demais.
Eu posso falar com a Bella agora??
“Fique fora disso,” eu falei, sussurrando.
O seu rosto caiu, e então ficou brilhante de novo.
Tudo bem. Seja teimoso. É só uma questão de tempo.
Eu suspirei de novo.
Não se esqueça do laboratório de biologia hoje, ela me relembrou.
Eu acenei com a cabeça. Não, eu não havia me esquecido disso.
Enquanto eu esperava Bella chegar, eu a segui nos olhos do calouro que estava
caminhando atrás de Jéssica no seu caminho para a cafeteria. Jéssica estava tagarelando
sobre o baile que estava se aproximando, mas Bella não dizia nada em resposta. Não que
Jéssica estivesse dando muita chance para isso.
O momento em que Bella passou pela porta, seus olhos foram em direção à mesa
onde meus irmãos sentavam. Ela encarou por um momento, e então a sua testa enrugou e
seus olhos fitaram o chão. Ela não havia percebido que eu estava aqui.
Ela parecia tão...triste. Eu senti uma poderosa vontade de levantar e ir para o seu
lado, para confortá-la de algum modo, só que eu não sabia o que ela acharia reconfortante.
Eu não tinha idéia do que a fizera ficar daquele jeito. Jéssica continuava a tagarelar sobre o
baile. Bella estava triste por que iria perder? Isso não parecia provável...
Mas isso poderia ser remediado, se ela quisesse.
Ela comprou uma bebida e nada mais. Isso estava certo? Ela não precisava de mais
nutrição do que aquilo? Eu nunca prestei muita atenção à dieta dos humanos antes.
Humanos eram tão exasperadamente frágeis! Havia um milhão de coisas diferentes
para se preocupar...
“Edward Cullen está olhando para você de novo,” eu ouvi Jéssica dizer. “Eu me
pergunto por que ele está sentando sozinho hoje?”
Eu estava grato à Jéssica – apesar de ela estar ainda mais ressentida agora – porque
a cabeça de Bella se virou repentinamente e seus olhos procuraram até encontrarem os
meus.
Não havia nenhum traço de tristeza no rosto dela agora. Eu me deixei ter esperanças
de que ela tinha ficado triste porque pensou que eu havia deixado a escola mais cedo, e essa
esperança me fez sorrir.
Eu fiz um movimento com meu dedo para ela se juntar a mim. Ela parecia tão
assustada por isso que eu queria caçoar dela de novo.
Então eu pisquei, e a boca dela caiu aberta.
“Ele quer dizer você?”, Jéssica perguntou rudemente.
“Talvez ele precise de ajuda com o tema de Biologia,” ela disse numa voz baixa,
incerta. “Hum, é melhor eu ver o que ele quer.”
Isso era outro sim.
Ela tropeçou duas vezes no caminho para a minha mesa, apesar de que não havia
nada no seu caminho, além do linóleo perfeitamente plano. Sério, como eu tinha perdido
isso antes? Eu tinha ficado prestando mais atenção aos seus pensamentos silenciosos, eu
imagino...o que mais eu tinha perdido?
Mantenha honesto, mantenha leve, eu entoei para mim.
Ela parou atrás da cadeira na minha frente, hesitante. Eu inalei profundamente, pelo
meu nariz dessa vez, ao invés da minha boca.
Sinta a queimação, eu pensei secamente.
“Por que você não senta comigo hoje?” eu perguntei a ela.
Ela puxou a cadeira e sentou, me encarando o tempo todo. Ela parecia nervosa, mas
a sua aceitação física ainda era um outro sim.
Eu esperei que ela falasse.
Levou um momento, mas finalmente ela disse, “Isso é diferente.”
“Bom...” eu hesitei. “Eu decidi que já que eu vou pro inferno, eu deveria fazer
completamente.”
O que me tinha feito dizer isso? Eu suponho que tenha sido honesto, pelo menos. E
talvez ela tivesse ouvido o aviso não sutil implícito nas minhas palavras. Talvez ela
percebesse que deveria levantar e ir embora o mais rápido possível...
Ela não se levantou. Ela ficou me olhando, esperando, como se eu tivesse deixado a
frase não terminada.
“Você sabe que eu não tenho a mínima idéia do que você quer dizer,” ela falou
quando eu não continuei.
Isso era um alívio. Eu sorri.
“Eu sei.”
Era difícil ignorar os pensamentos que gritavam comigo atrás das minhas costas – e
eu queria mudar o assunto de qualquer modo.
“Eu acho que seus amigos estão brabos comigo por roubar você.”
Isso não parecia preocupá-la. “Eles vão sobreviver.”
“Mas, talvez eu não te devolva.” Eu não sabia se eu estava tentando ser honesto
agora ou apenas tentando brincar com ela de novo. Ficar perto dela deixava difícil fazer
algum sentidos dos meus próprios pensamentos.
Bella engoliu alto.
Eu ri da expressão dela. “Você parece preocupada.” Não deveria ser engraçado...ela
deveria ficar preocupada.
“Não.” Ela era uma péssima mentirosa; não ajudou que a voz dela quebrou.
“Surpresa, na realidade...o que trouxe tudo isso?”
“Eu te disse,” eu lembrei a ela. “Eu cansei de tentar ficar longe de você. Então, eu
estou desistindo.” Eu segurei meu sorriso no lugar com um pouco de esforço. Isso não
estava funcionando de modo algum – tentando ser honesto e casual ao mesmo tempo.
“Desistindo?” ela repetiu, confusa.
“Sim – desistindo de tentar ser bom.” E, aparentemente, desistindo de tentar ser
casual. “Eu vou apenas fazer o que eu quero agora, e deixar as peças caírem onde elas
quiserem.” Isso era honesto o suficiente. Deixa-a ver o meu egoísmo. Deixe isso como
aviso, também.
“Você me perdeu de novo.”
Eu era egoísta o suficiente para ficar feliz que esse era o caso. “Eu sempre falo
demais quando eu estou conversando com você – esse é um dos problemas.”
Um problema muito insignificante, comparado com o resto.
“Não se preocupe,” ela me assegurou. “Eu não entendo nada disso.”
Bom. Então ela ia ficar. “Eu estou contando com isso.”
“Então, em bom português, nós somos amigos agora?”
Eu ponderei isso por um segundo. “Amigos...” eu repeti. Eu não gostava do som
daquilo. Não era suficiente.
“Ou não,” ela resmungou, parecendo embaraçada.
Ela achava que eu não gostava dela tanto assim?
Eu sorri. “Bom, nós podemos tentar, eu suponho. Mas eu estou lhe avisando que eu
não sou um bom amigo para você.”
Eu esperei pela resposta dela, dividido em dois – desejando que ela finalmente me
ouvisse e entendesse, pensando que eu talvez morresse se ela assim o fizesse. Quão
melodramático. Eu estava me transformando em tão humano.
A batida do coração dela acelerou. “Você diz muito isso.”
“Sim, porque você não está me escutando,” eu disse, muito intenso de novo. “Eu
ainda estou esperando que você acredite nisso. Se você for esperta, vai me evitar.”
Ah, mas eu iria permitir que ela fizesse isso, se ela tentasse?
Os olhos dela estreitaram. “Eu acho que você deixou a sua opinião bem clara no
assunto do meu intelecto, também.”
Eu não tinha muita certeza do que ela quis dizer, mas eu sorri em desculpas,
adivinhando que devia tê-la ofendido acidentalmente.
“Então,” ela disse devagar. “Enquanto eu estou sendo...não esperta, nós vamos
tentar ser amigos?”
“Isso parece certo.”
Ela olhou para baixo, encarando atentamente a garrafa de limonada na sua mão.
A velha curiosidade me atormentava.
“O que você está pensando?” eu perguntei – era um alívio dizer as palavras em voz
alta finalmente.
Ela encontrou meus olhos, e a respiração dela acelerou enquanto as suas bochechas
coravam de um leve rosa. Eu inalei, saboreando isso no ar.
“Eu estou tentando descobrir o que você é.”
Eu mantive o sorriso no meu rosto, trancando os meus traços daquele modo,
enquanto o pânico contorcia pelo corpo.
É claro que ela estaria pensando isso. Ela não era estúpida. Eu não podia esperar que
ela esquecesse de algo tão óbvio.
“Você está tendo alguma sorte com isso?” eu perguntei, o mais levemente que eu
consegui.
“Não muita,” ela admitiu.
Eu ri com repentino alívio. “Quais são as suas teorias?”
Elas não poderiam ser piores que a verdade, não importava o que ela tivesse
inventado.
As bochechas dela se tornaram vermelho vivo e ela não disse nada. Eu podia sentir
o calor do rubor dela no ar.
Eu tentei usar meu tom persuasivo com ela. Funcionava bem em humanos normais.
“Você não vai me dizer?” eu sorri encorajando-a.
Ela balançou a cabeça. “Muito embaraçoso.”
Ugh. Não saber era pior do que qualquer outra coisa. Por que as especulações dela
iriam embaraçá-la? Eu não agüentava não saber.
“Isso é muito frustrante, sabe.”
Minha reclamação faiscou algo nela. Os olhos dela brilharam e as suas palavras
saíram mais rápido do que o normal.
“Não, eu não consigo imaginar porque isso seria frustrante de algum modo – só
porque alguém se recusa a dizer o que eles estão pensando, mesmo que o tempo todo eles
fiquem fazendo pequenas observações crípticas especificamente projetadas para fazer você
ficar acordado de noite imaginando o que eles possivelmente possam querer dizer...agora,
por que isso seria frustrante?”
Eu franzi as sobrancelhas para ela, magoado ao perceber que ela estava certa. Eu
não estava sendo justo.
Ela prosseguiu. “Ou melhor, digamos que a pessoa também fez muitas coisas
amplamente bizarras – desde salvar a sua vida em circunstâncias impossíveis num dia até
tratar você como uma paria no seguinte, e ele nunca ter explicado nenhum dos dois, mesmo
depois de ter prometido. Isso também, seria muito não-frustrante.”
Era o discurso mais longo que eu já a havia visto fazer, e isso me deu mais uma
qualidade para a minha lista.
“Você tem um pouco de temperamento, não tem?”
“Eu não gosto de padrões dúbios.”
Ela estava completamente justificada na sua irritação, é claro.
Eu olhei para Bella, imaginando como eu poderia fazer algo certo perto dela, até que
a gritaria silenciosa da cabeça de Mike Newton me distraiu.
Ele estava tão irado que me fez rir.
“O quê?” ela exigiu.
“O seu namorado parecer achar que eu estou sendo desagradável com você – ele
está debatendo se vem ou não separar a nossa briga.” Eu adoraria vê-lo tentar. Eu ri de
novo.
“Eu não sei de quem você está falando,” ela disse em uma voz gelada. “Mas eu
tenho certeza de que você está errado de qualquer modo.”
Eu gostei muito o modo como ela o repudiou com o seu ataque desdenhoso.
“Eu não estou. Eu te disse, a maior parte das pessoas é fácil de ler.”
“Exceto por mim, é claro.”
“Sim. Exceto por você.” Ela tinha que ser a exceção para tudo? Não teria sido mais
justo – considerando todo o resto com o qual eu tinha que lidar agora – se eu pudesse pelo
menos ter ouvido algo da cabeça dela? Era pedir muito? “Eu me pergunto por que será?”
Eu olhei nos olhos dela, tentando de novo...
Ela desviou o olhar. Ela abriu a sua limonada e tomou um gole rápido, os seus olhos
na mesa.
“Você não está com fome?” eu perguntei.
“Não.” Ela olhou a mesa vazia na nossa frente. “Você?”
“Não, eu não estou com fome,” eu disse. Isso eu definitivamente não estava.
Ela olhou para a mesa, com os lábios enrugados. Eu esperei.
“Você poderia me fazer um favor?” ela perguntou, de repente encontrando meu
olhar de novo.
O que ela queria de mim? Ela iria me pedir pela verdade que eu não tinha permissão
de contar – a verdade que eu não queria que ela nunca, nunca soubesse?
“Depende do que você quer.”
“Não é muito,” ela prometeu.
Eu esperei, curioso de novo.
“Eu estava apenas pensando...” ela disse devagar, encarando a garrafa de limonada,
traçando o gargalo com o seu dedo mínimo. “Se você poderia me avisar de antemão a
próxima vez que decidir me ignorar para o meu próprio bem? Só para que eu fique
preparada.”
Ela queria um aviso? Então ser ignorada deveria ser uma coisa ruim...eu sorri.
“Isso parece justo,” eu concordei.
“Obrigada,” ela disse, olhando para cima. O seu rosto estava tão aliviado que eu
queria rir do meu próprio alívio.
“Então, eu posso ter um também?” eu perguntei esperançoso.
“Um,” ela permitiu.
“Me diga uma teoria.”
Ela corou. “Não esse.”
“Você não qualificou, você apenas me prometeu uma resposta,” eu concordei.
“E você também já quebrou promessas,” ela respondeu.
Ela me pegou nessa.
“Apenas uma teoria – eu não vou rir.”
“Sim, você vai.” Ela parecia muito certa disso, apesar de que eu não conseguia
imaginar algo que poderia ser engraçado sobre isso.
Eu dei a persuasão outra tentativa. Eu encarei profundamente os olhos dela – uma
coisa fácil de fazer, com olhos tão profundos – e murmurei, “Por favor?”
Ela piscou, e o rosto dela ficou sem expressão.
Bom, isso não era exatamente a reação pela qual eu estava esperando.
“Er, o quê?” ela perguntou. Ela parecia estar tonta. O que tinha de errado com ela?
Mas eu não ia desistir ainda.
“Por favor me diga apenas uma pequena teoria,” eu implorei na minha mais macia,
não-assustadora voz, mantendo os olhos dela nos meus.
Para a minha surpresa e satisfação, finalmente funcionou.
“Um, bom, mordido por uma aranha radioativa?”
Histórias em quadrinhos? Não é de admirar que ela achasse que ia rir.
“Isso não é muito criativo,” eu a repreendi, tentando esconder meu novo alívio.
“Sinto muito, é só isso que eu tenho,” ela disse, ofendida.
Isso me aliviou ainda mais. Eu conseguia brincar com ela de novo.
“Você não está nem perto.”
“Sem aranhas?”
“Não.”
“E sem radioatividade?”
“Nenhuma.”
“Droga,” ela suspirou.
“Criptonita também não me incomoda,” eu disse rapidamente – antes que ela
pudesse perguntar sobre mordidas – e então eu tive que rir, porque ela pensava que eu era
um super-herói.
“Você não deveria rir, lembra?”
Eu pressionei meus lábios juntos.
“Eu vou descobrir eventualmente,” ela prometeu.
E quando o fizesse, ela iria correr.
“Eu gostaria que você não tentasse,” eu disse, sem traço de brincadeira.
“Por que...?”
Eu devia a ela a honestidade. Ainda assim, eu tentei sorrir, para fazer as minhas
palavras soarem menos ameaçadoras. “E se eu não for o super-herói? E se eu for o vilão?”
Os olhos dela se arregalaram por uma fração de segundo e seus lábios abriram
levemente. “Oh,” ela disse. E então, depois de outro segundo, “Eu entendo.”
Ela finalmente tinha me ouvido.
“Entendeu?” eu perguntei, trabalhando para dissimular a minha agonia.
“Você é perigoso?” ela adivinhou. A respiração dela aumentando, e seu coração
acelerado.
Eu não podia responder a ela. Seria esse meu último momento com ela? Ela iria
correr agora? Eu era permitido a dizê-la que eu a amava antes que ela fosse embora? Ou
isso iria assustá-la mais ainda?
“Mas não mau,” ela murmurou, balançando a cabeça, nenhum medo nos seus olhos
nítidos. “Não, eu não acredito que você seja mau.”
“Você está errada,” eu expirei.
É claro que eu era mau. Eu não estava me regozijando agora, que ela pensava
melhor do mim do que eu merecia? Se eu fosse uma pessoa boa, eu teria ficado longe dela.
Eu estiquei a minha mão através da mesa, alcançando a tampa da garrafa de
limonada dela como uma desculpa. Ela não se esquivou da repentina proximidade da minha
mão. Ela realmente não estava com medo de mim. Ainda.
Eu girei a tampa como um pião, observando-o ao invés dela. Meus pensamentos
estavam confusos.
Corra, Bella, corra. Eu não podia me fazer dizer as palavras em voz alta.
Ela ficou em pé de repente. “Nós vamos nos atrasar,” ela disse, assim que comecei a
me preocupar que ela de algum modo tivesse ouvido meu aviso silencioso.
“Eu não vou para a aula.”
“Por que não?”
Porque eu não quero te matar. “É saudável matar aula de vez em quando.”
Para ser preciso, era mais saudável para os humanos se os vampiros matassem aula
nos dias em que sangue humano seria derramado. Sr. Banner estava fazendo tipos
sanguíneos hoje. Alice já tinha matado a sua aula da manhã.
“Bom, eu vou,” ela disse. Isso não me surpreendeu. Ela era responsável – ela
sempre fazia a coisa certa.
Ela era o meu oposto.
“Eu te vejo depois então,” eu falei, tentando soar casual de novo, olhando para a
tampa giratória. E, por sinal, eu te adoro...de modos assustadores, perigosos.
Ela hesitou, e eu tive esperanças por um momento de que ela iria ficar comigo
afinal. Mas o sinal tocou e ela se foi apressada.
Eu esperei até que ela tivesse ido, e então coloquei a tampa no meu bolso – um
souvenir dessa conversa muito conseqüente – e caminhei pela chuva até o meu carro.
Coloquei o meu CD favorito para acalmar – o mesmo que eu ouvi naquele primeiro
dia – mas eu não estava ouvindo as notas de Debussy por muito tempo. Outras notas
estavam correndo pela minha cabeça, o fragmento de uma melodia que me agradava e me
intrigava. Eu desliguei o som e ouvi a música na minha cabeça, brincando com o fragmento
até que eu estava envolvido em uma harmonia mais cheia. Instintivamente, meus dedos se
moveram pelo ar sobre teclas imaginárias do piano.
A nova composição estava realmente fluindo quando a minha atenção foi pega por
uma onda de agonia mental.
Eu olhei na direção da aflição.
Será que ela vai desmaiar? O que eu faço? Mike pensou em pânico.
Noventa metros à frente, Mike Newton abaixando o corpo mole de Bella na calçada.
Ela caiu sem responder contra o concreto molhado, os seus olhos fechados, a sua pele uma
cor de giz como um cadáver.
Eu quase arranquei a porta do carro fora.
“Bella?” eu gritei.
Não houve mudança no rosto sem vida dela quando eu gritei seu nome.
Meu corpo inteiro ficou frio como gelo.
Eu estava consciente da agravada surpresa de Mike quando eu peneirei furiosamente
através dos seus pensamentos. Ele estava apenas pensando na sua raiva de mim, então eu
não sabia o que estava errado com Bella. Se ele havia feito algo para machucá-la, eu iria
aniquilá-lo.
“O que houve – ela está machucada?” eu exigi, tentando focar nos pensamentos
dele. Era enlouquecedor ter que caminhar num ritmo humano. Eu não deveria ter chamado
atenção para a minha aproximação.
E então eu pude ouvir o coração dela batendo e a sua respiração regular. Quando eu
olhei, ela apertou seus olhos fechados com mais força. Isso aliviou um pouco do meu
pânico.
Eu vi um vislumbre de memórias na cabeça de Mike, um borrifo de imagens da sala
de Biologia. A cabeça de Bella na nossa mesa, a sua pele clara ficando verde. Gotas de
vermelho contra os cartões brancos...
Tipo sangüíneo.
Eu parei onde estava, segurando minha respiração. O cheiro dela era uma coisa, o
seu sangue correndo era outra bem diferente.
“Eu acho que ela desmaiou,” Mike disse, ansioso e ressentido ao mesmo tempo. “Eu
não sei o que aconteceu, ela nem alfinetou o dedo.”
O alívio me invadiu e eu respirei de novo, provando o ar. Ah, eu podia sentir a
pequena corrente da punctura do machucado de Mike Newton. Antigamente, isso talvez
tivesse me apetecido.
Eu me ajoelhei diante dela enquanto Mike pairava próximo à mim, furioso pela
minha intervenção.
“Bella. Você consegue me ouvir?”
“Não,” ela gemeu. “Vá embora.”
O alívio era tão refinado que eu ri. Ela estava bem.
“Eu estava levando ela para a enfermaria,” Mike disse. “Mas ela não ia mais longe
do que isso.”
“Eu levo-a. Você pode voltar para a aula,” eu disse desdenhoso.
Os dentes do Mike se juntaram firmemente. “Não. Eu que deveria fazer isso.”
Eu não ia ficar parado em volta discutindo com o patife.
Empolgado e apavorado, metade agradecido por e metade aflito pela situação
desagradável que me fazia tocar ela uma necessidade, eu gentilmente levantei Bella da
calçada segurando-a nos meus braços, tocando apenas as suas roupas, mantendo o máximo
de distância entre nossos corpos que fosse possível. Eu andava a passos largos para frente
no mesmo movimento, com pressa para colocá-la a salvo – o mais distante possível, em
outras palavras.
Os olhos dela abriram repentinamente, assombrados.
“Me coloca no chão,” ela ordenou em uma voz fraca – embaraçada de novo, eu
adivinhei pela sua expressão. Ela não gostava de mostrar fraqueza.
Eu mal ouvi o protesto gritado de Mike atrás de nós.
“Você parece horrível,” eu disse a ela, sorrindo porque não havia nada de errado
com ela além de uma cabeça leve e um estômago fraco.
“Me coloca de volta no chão,” ela disse. Os seus lábios estavam brancos.
“Então você desmaia ao ver sangue?” Podia ficar mais irônico?
Ela fechou os olhos e pressionou os lábios juntos.
“E nem mesmo o seu próprio sangue,” eu adicionei, meu sorriso aumentando.
Nós estávamos no escritório frontal. A porta estava estaqueada um centímetro
aberta, e eu chutei-a fora do meu caminho.
A Sra Cope pulou, alarmada. “Oh, céus,” ela disse, com a voz entrecortada,
enquanto examinava a garota num tom de cinza em meus braços.
“Ela desmaiou em Biologia,” eu expliquei, antes que a imaginação dela pudesse sair
do controle.
A Sra Cope correu para abrir a porta da sala da enfermaria. Os olhos de Bella
estavam abertos de novo, observando-a. Eu ouvi o assombro interno da enfermeira idosa
enquanto eu deitava a garota cuidadosamente na cama gasta. Assim que Bella estava fora
dos meus braços, eu coloquei a amplitude da sala entre nós. Meu corpo estava muito
excitado, muito ansioso, meus músculos tensos e o veneno correndo. Ela era tão quente e
fragrante.
“Ela só está um pouco tonta,” eu ressegurei a Sra Hammond. “Eles estão tendo tipos
de sangue em Biologia.”
Ela acenou com a cabeça, agora entendendo. “Sempre tem um.”
Eu sufoquei uma risada. Confie em Bella para ser esse um.
“Apenas deite por um minuto, querida,” a Sra Hammond disse. “Já vai passar.”
“Eu sei,” Bella disse.
“Isso acontece freqüentemente?” a enfermeira perguntou.
“Às vezes,” Bella admitiu.
Eu tentei disfarçar minha risada com uma tossida.
Isso chamou a atenção da enfermeira. “Você pode voltar para a aula agora,” ela
disse.
Eu olhei-a diretamente nos olhos e menti com perfeita confiança. “Eu devo ficar
com ela.”
Hmm. Eu imagino...oh, bem. A Sra Hammond acenou com a cabeça.
Funcionou perfeitamente com ela. Por que Bella tinha que ser tão difícil?
“Eu vou pegar um pouco de gelo para a sua testa, querida,” a enfermeira disse,
levemente desconfortável por ter olhado nos meus olhos – o jeito que um humano deveria
ficar – e saiu do quarto.
“Você estava certo,” Bella gemeu, fechando os olhos.
O que ela queria dizer? Eu pulei para a pior conclusão: ela tinha aceitado os meus
avisos.
“Eu normalmente estou,” eu disse, tentando manter a diversão na minha voz; soava
azeda agora. “Mas sobre o que em particular dessa vez?”
“Matar aula é saudável,” ela suspirou.
Ah, alívio de novo.
Ela ficou silenciosa, então. Apenas respirava devagar para dentro e para fora. Os
lábios dela estavam começando a ficar rosa. A boca dela estava levemente fora de
equilíbrio, o seu lábio inferior um pouco mais cheio para se igualar ao superior. Olhar para
a boca dela me fazia sentir estranho. Me fez querer me mover mais perto dela, o que não
era uma boa idéia.
“Você me assustou por um minuto lá,” eu disse – para reiniciar a conversa para que
eu pudesse ouvir a voz dela de novo. “Eu pensei que Newton estava arrastando seu cadáver
para enterrar no meio das árvores.”
“Ha ha,” ela disse.
“Honestamente – eu já tinha visto cadáveres com uma cor melhor.” Isso era
realmente verdade. “Eu estava preocupado que talvez tivesse que vingar o seu assassinato.”
E eu teria vingado.
“Pobre Mike,” ela suspirou. “Aposto como ele está bravo.”
A fúria pulsou em mim, mas eu a contive rapidamente. A preocupação dela era
certamente somente pena. Ela era amável. Isso era tudo.
“Ele absolutamente me abomina,” eu falei a ela, animado pela idéia.
“Você não tem como saber isso.”
“Eu vi o rosto dele – eu posso dizer.” Era provavelmente verdade que ler o rosto
dele iria me dar informação suficiente para fazer essa dedução em particular. Toda a prática
com Bella estavam afiando a minha habilidade de ler expressões humanas.
“Como você me viu? Eu pensei que você estivesse matando aula.” O rosto dela
parecia melhor – o tom verde havia desaparecido da pele translúcida dela.
“Eu estava no meu carro, ouvindo um CD.”
A expressão dela se contraiu, como se a minha resposta muito simples tivesse
surpreendido-a de algum modo.
Ela abriu seus olhos de novo quando a Sra Hammond retornou com o saco de gelo.
“Tome aqui, querida,” a enfermeira disse enquanto ela colocava-o na testa de Bella.
“Você parece melhor.”
“Eu acho que estou bem,” Bella disse, e ela sentou enquanto colocava o saco de
gelo de lado. Claro. Ela não gostava que cuidassem dela.
As mãos enrugadas da Sra Hammond tremularam na direção da garota, como se ela
fosse empurrá-la para baixo, mas então a Srta Cope abriu a porta da enfermaria e se apoiou.
Com a aparição dela veio o cheio fresco de sangue, apenas uma brisa.
Invisível no escritório atrás dela, Mike Newton ainda estava muito brabo,
desejando que o corpo pesado que ele carregava agora fosse da garota que estava aqui
dentro comigo.
“Nós temos mais um,” a Sra Cope disse.
Bella rapidamente pulou para fora do leito, ansiosa para sair do refletor.
“Aqui,” ela disse, entregando a compressa de volta para a Sra Hammon. “Eu não
preciso disso.”
Mike resmungou enquanto enfiava meio Lee Stevens pela porta. Sangue ainda
estava pingando da mão que Lee segurava no rosto, gotejando até o pulso.
“Oh não.” Essa era a minha deixa para sair – e a de Bella também, aparentemente.
“Saía da enfermaria, Bella.”
Ela me encarou com olhos confusos.
“Confie em mim – vá.”
Ela girou e pegou a porta antes que batesse fechada, correndo pela enfermaria. Eu a
segui alguns centímetros atrás. O cabelo balançante dela roçando na minha mão...
Ela se virou para me olhar, ainda com os olhos arregalados.
“Você realmente me ouviu.” Essa era a primeira.
O seu pequeno nariz se enrugou. “Eu senti o cheio do sangue.”
Eu a olhei sem expressão. “Pessoas não sentem cheio de sangue.”
“Bom, eu consigo – é isso que me deixa enjoada. Cheira que nem ferrugem...e sal.”
Meu rosto congelou, ainda encarando.
Seria ela realmente humana? Ela parecia humana. Ela era tão macia quanto um
humano. Ela cheirava com um humano – bom, melhor na realidade. Ela agia como
humana...às vezes. Mas ela não pensava como um humano, ou respondia como um.
Qual outra opção havia, então?
“O quê?” ela exigiu.
“Não é nada.”
Mike Newton nos interrompeu, entrando na sala com pensamentos ressentidos e
violentos.
“Você parece melhor,” ele disse a ela rudemente.
Minha mão se torceu, querendo ensinar a ele algumas maneiras. Eu teria que me
policiar, ou acabaria realmente matando esse garoto odioso.
“Apenas mantenha a sua mão no seu bolso,” ela disse. Por um segundo de fúria, eu
pensei que ela estava falando comigo.
“Não está mais sangrando,” ele respondeu mal-humorado. “Você vai voltar para a
aula?”
“Você esta brincando? Eu apenas teria que dar meia volta.”
Isso era muito bom. Eu tinha pensado que iria ter que perder essa hora inteira com
ela, e agora ao invés disso, eu ganhei tempo extra. Eu me sentia ganancioso, um avarento
reunindo cada minuto.
“É, eu imagino...” Mike murmurou. “Então, você vai nesse fim-de-semana? Para a
praia?”
Ah, eles tinham planos. A raiva me congelou no lugar. Era uma viagem em grupo,
no entanto. Eu tinha visto algo disso na cabeça de outros estudantes. Não eram apenas os
dois. Eu ainda estava furioso. Eu me apoiei sem movimento contra o balcão, tentando me
controlar.
“Claro, eu disse que estava dentro,” ela prometeu a ele.
Então ela disse sim a ele, também. O ciúme queimava, mais doloroso do que a sede.
Não, isso era apenas uma saída em grupo, eu tentei me convencer. Ela está apenas
passando um dia com os amigos. Nada mais.
“Nós vamos nos encontrar na loja do meu pai, às dez.” E Cullens NÃO estão
convidados.
“Eu vou estar lá,” ela disse.
“Eu te vejo na Educação Física, então.”
“Até mais,” ela replicou.
Ele arrastou os pés para a aula, seus pensamentos cheios de ira. O que ela vê
naquele esquisito? Claro, ele é rico, eu imagino. As garotas acham que ele é gostoso, mas
eu não vejo isso. Muito...muito perfeito. Eu aposto que o pai dele faz experimentos com
cirurgia plástica em todos eles. É por isso que eles são todos tão brancos e bonitos. Não é
natural. E ele tem meio que...uma aparência assustadora. Às vezes, quando ele me encara,
eu poderia jurar que ele está pensando em me matar...Esquisito...
Mike não estava inteiramente desatento.
“Educação física,” Bella repetiu calmamente. Um gemido.
Eu olhei para ela e vi que ela estava triste com alguma coisa. Eu não tinha certeza
porque, mas era claro que ela não queria ir à próxima aula dela com Mike e eu estava
totalmente por aquele plano.
Eu fui para o lado dela e me inclinei perto do seu rosto, sentindo o calor da pele dela
radiando para os meus lábios. Eu não ousei respirar.
“Eu posso cuidar disso,” eu murmurei. “Vá sentar e parecer pálida.”
Ela fez o que eu pedi, sentando em uma das cadeiras dobráveis e escorando a cabeça
contra a parede, enquanto, atrás de mim, a Srta Cope saía da sala dos fundos e ia para sua
mesa. Com seus olhos fechados, Bella parecia que tinha passado mal de novo. A sua cor
real ainda não tinha retornado.
Eu me virei para a secretária. Esperançosamente, Bella estava prestando atenção
nisso, eu pensei sardonicamente. Assim era como um humano deveria responder.
“Srta Cope?” eu perguntei, usando meu tom persuasivo de novo.
Os seus cílios tremularam, e o coração dela acelerou. Muito jovem, se controle!
“Sim?”
Isso era interessante. Quando o pulso de Shelly Cope acelerava era porque ela me
achava fisicamente atraente e não porque estava com medo. Eu estava acostumado com isso
perto de mulheres humanas...ainda assim, eu não tinha considerado essa explicação para a
aceleração do coração de Bella.
Eu gostava muito disso. Muito mesmo, de fato. Eu sorri e a respiração da Srta Cope
ficou mais alta.
“Bella tem educação física no próximo horário, e eu não acho que ela se sinta bem o
suficiente. Na realidade, eu estava pensando que eu deveria levá-la para casa agora. Você
acha que poderia liberá-la da aula?” Eu encarei nos seus olhos sem profundeza, desfrutando
a destruição que isso causava no seu processo de pensamento. Seria possível que Bella...?
A Srta Cope teve que engolir sonoramente antes de me responder. “Você precisa ser
liberado também, Edward?”
“Não, eu tenho a Sra Goff, ela não vai se importar.”
Eu não estava prestando muita atenção nela agora. Eu estava explorando essa nova
possibilidade.
Hmm. Eu gostaria de acreditar que Bella me achava atraente como outras humanas
achavam, mas desde quando Bella tinha a mesma reação que outros humanos? Eu não
devia elevar as minhas esperanças.
“Certo, está tudo resolvido. Melhoras, Bella.”
Bella acenou fracamente – exagerando um pouco.
“Você pode caminhar ou quer que eu te carregue de novo?” eu pergunte, divertido
pela suas pobres habilidades teatrais. Eu sabia que ela ia querer caminhar – ela não iria
querer ser fraca.
“Eu vou caminhar,” ela disse.
Certo de novo. Eu estava ficando melhor nisso.
Ela se levantou, hesitando por um momento como se para conferir seu equilíbrio. Eu
segurei a porta para ela, e nós caminhamos para a chuva.
Eu a observei enquanto ela levantava o rosto para a leve chuva, com seus olhos
fechados, um leve sorriso no seu rosto. O que ela estava pensando? Algo nessa ação me
parecia errado, e eu rapidamente percebi porque a postura não parecia familiar para mim.
Garotas humanas normais não elevariam seu rosto para a garoa desse modo; garotas
humanas normais normalmente usavam maquiagem, mesmo aqui nesse lugar molhado.
Bella nunca usava maquiagem, nem deveria. A indústria de cosméticos faz milhões
de dólares por ano com mulheres que tentam obter peles como a dela.
“Obrigada,” ela disse, agora para mim. “Vale a pena ficar doente para perder
a aula de Educação Física.”
Eu olhei ao longo do campus, me perguntando como prolongar meu tempo com ela.
“Quando precisa,” eu disse.
“Então, você vai? Esse sábado, quero dizer?” Ela soou esperançosa.
Ah, sua esperança era tranqüilizadora. Ela me queria com ela, não Mike Newton. E
eu queria dizer sim. Mas havia muitas coisas a considerar. Uma delas é que o sol estaria
brilhando nesse sábado...
“Onde vocês todos estão indo, exatamente?” Eu tentei manter minha voz
indiferente, como se isso não importasse muito. Mike tinha dito praia, entretanto. Não tinha
muitas chances de evitar a luz do sol lá.
“Vamos para La Push, à Primeira Praia.”
Droga. Bem, era impossível, então.
De qualquer forma, Emmett ficaria irritado se eu cancelasse nossos planos.
Eu a olhei de relance, sorrindo torto. “Eu realmente não acho que eu fui convidado.”
Ela suspirou, já resignada. “Eu acabei de te convidar.”
“Eu e você não vamos forçar ainda mais o pobre Mike essa semana. Não queremos
que ele morda.” Eu pensei em morder o pobre Mike eu mesmo, e aproveitei a imagem
mental intensamente.
“Mike bobão.” Ela disse, indiferente de novo. Eu sorri largamente.
E então ela começou a andar para longe de mim.
Sem pensar em minha ação, eu me estiquei e a segurei pelas costas de sua capa de
chuva. Ela cambaleou com a parada.
“Onde você pensa que está indo?” Eu estava quase irritado por ela estar me
deixando. Eu não havia tido muito tempo com ela. Ela não podia ir embora, não ainda.
“Estou indo pra casa,” ela disse, desconcertada com o porque isso deveria me
chatear.
“Você não ouviu minha promessa de levá-la a salvo para casa? Você acha que vou
deixá-la dirigir nessas condições?” Eu sabia que ela não iria gostar disso – minha
implicância com sua fraqueza. Mas eu precisava praticar para a viagem a Seattle, de
qualquer forma. Ver se eu podia agüentar a proximidade dela em um espaço fechado. Esse
era um caminho bem mais curto.
“Que condições?” ela exigiu. “E minha caminhonete?”
“Alice vai levá-la depois da escola.” Eu a puxei de volta para o meu carro
cuidadosamente, como agora eu sabia que andar para frente era suficientemente desafiador
para ela.
“Me larga!” ela disse, girando para os lados e quase tropeçando. Eu levantei uma
mão para segurá-la, mas ela se endireitou antes que isso fosse necessário. Eu não devia
estar procurando por desculpas para tocá-la. Isso me fez pensar sobre as reações de Ms.
Cope sobre mim, mas eu guardei isso para depois. Havia muito a ser considerado nessa
fachada.
Eu a larguei do lado do carro, e ela bateu na porta. Eu teria que ser ainda mais
cuidadoso, levando em consideração seu péssimo equilíbrio...
“Você é tão insistente!”
“Está aberta.”
Eu entrei no meu lado e liguei o carro. Ela segurou seu corpo rigidamente, ainda do
lado de fora, embora a chuva tivesse aumentado e eu sabia que ela não gostava do frio e
molhado. A água estava ensopando seu cabelo volumoso, escurecendo-o quase até ficar
preto.
“Estou perfeitamente capaz de dirigir até minha casa!”
Claro que ela estava – eu só não era capaz de deixá-la ir.
Eu abaixei a janela e me inclinei em sua direção. “Entre, Bella.”
Seus olhos estreitaram, e eu achei que ela estava debatendo entre fugir ou não.
“Eu vou te arrastar de volta,” eu disse, aproveitando o desgosto em seu rosto quando
ela percebeu que eu falava sério.
Seu queixo rigidamente no ar, ela abriu a porta e subiu. Seu cabelo pingou no couro
do banco e suas botas rangeram uma na outra.
“Isso é totalmente desnecessário,” ela disse friamente. Eu achei que ela parecia
embaraçada por baixo do ressentimento.
Eu só aumentei o aquecedor para que ela não ficasse desconfortável, e liguei a
musica para um nível de fundo legal. Eu dirigi na direção da saída, observando-a com o
canto do olho. Seu lábio inferior estava se projetando teimosamente. Eu fitei isso,
examinando como isso me fazia sentir... pensando na reação da secretária novamente...
Subitamente ela olhou para o rádio e sorriu, seus olhos crescendo. “Clair de Lune?”
ela perguntou.
Uma fã de clássicos? “Você conhece Debussy?”
“Não muito,” ela disse. “Minha mãe coloca muita música clássica para tocar pela
casa – só conheço minhas favoritas.”
“É uma das minhas favoritas, também.” Eu encarei a chuva, considerando isso. Eu
na verdade tinha algo em comum com a garota. Eu tinha começado a pensar que nós
éramos opostos em todos os sentidos.
Ela parecia mais relaxada agora, encarando a chuva como eu, olhando sem ver. Eu
usei sua distração momentânea para experimentar respirar.
Eu inalei cuidadosamente pelo nariz.
Potente.
Eu apertei o volante mais fortemente. A chuva tornou seu cheiro melhor. Eu não
teria pensado que isso era possível. Estupidamente, eu estava de repente imaginando que
gosto ela teria.
Eu tentei engolir contra a queimação em minha garganta, para pensar em alguma
outra coisa.
“Como sua mãe é?” eu perguntei como distração.
Bella sorriu. “Ela se parece muito comigo, mas ela é mais bonita.”
Eu duvidei disso.
“Eu tenho muito de Charlie em mim,” ela continuou. “Ela é mais comunicativa do
que eu, e mais corajosa.”
Eu duvidei disso, também.
“Ela é irresponsável e ligeiramente excêntrica. E ela é uma cozinheira muito
imprevisível. Ela é minha melhor amiga.” Sua voz se tornou melancólica; sua testa
enrugou.
De novo, ela soou mais como mão do que criança.
Eu parei na frente de sua casa, me perguntando tarde demais se era suposto eu saber
onde ela morava. Não, isso não seria suspeito em uma cidade tão pequena, com seu pai
como figura pública...
“Quantos anos você tem, Bella?” Ela deveria ser mais velha que seus colegas.
Talvez ela tenha começado a escola tarde, ou tenha repetido... isso não era provável,
entretanto.
“Tenho 17.” Ela respondeu.
“Você não parece ter 17.”
Ela riu.
“O quê?”
“Minha mãe sempre diz que eu nasci com 35 anos e que eu avanço mais na meia-
idade a cada ano.” Ela riu de novo, e depois suspirou. “Bem, alguém tem que ser o adulto.”
Isso esclareceu as coisas para mim. Eu podia ver agora... como a mãe irresponsável
ajudava a explicar a maturidade de Bella. Ela teve que crescer cedo, para se tornar a
responsável. Por isso ela não gostava de que alguém cuidasse dela – ela sentia que esse era
seu trabalho.
“Você mesmo não parece um calouro no Ensino Médio,” ela disse, me puxando do
meu devaneio.
Fiz uma careta. Tudo o que percebi sobre ela, ela percebeu também em retorno. Eu
mudei de assunto.
“Então, porque sua mãe casou com Phil?”
Ela hesitou um minuto antes de responder. “Minha mãe... ela é muito nova para sua
idade. Eu acho que Phil a faz sentir ainda mais nova. De qualquer forma, ela é doida por
ele.” Ela balançou a cabeça indulgentemente.
“Você aprova?” eu questionei.
“Isso importa?” ela perguntou. “Eu quero que ela seja feliz... e é ele que ela quer.”
A falta de egoísmo em seu comentário teria me chocado, exceto que isso se
encaixava com o que eu tinha aprendido sobre seu caráter.
“Isso é bem generoso... eu me pergunto.”
“O quê?”
“Ela estenderia a mesma cortesia a você, você acha? Não importando quem fosse
sua escolha?”
Era uma pergunta boba, e eu não podia manter minha voz casual enquanto
perguntava isso. Tão estúpido por mesmo considerar alguém me aprovando para sua filha.
Tão estúpido por mesmo pensar sobre Bella me escolhendo.
“E-eu acho que sim,” ela gaguejou, reagindo de alguma forma ao meu olhar.
Medo... ou atração?
“Mas ela é a mãe, afinal de contas. É um pouco diferente,” ela completou.
Eu sorri tortuosamente. “Ninguém muito assustador, então.”
Ela sorriu largamente para mim. “O que você quer dizer com assustador? Piercings
em todo o rosto e tatuagens extensivas?”
“Essa é uma definição, eu suponho.” Uma definição muito não-ameaçadora, para
minha mente.
“Qual é sua definição?”
Ela sempre fazia as perguntas erradas. Ou exatamente as perguntas certas, talvez.
Aquelas que eu não queria responder, de qualquer forma.
“Você acha que eu poderia ser assustador?” eu perguntei a ela, tentando sorrir um
pouco.
Ela pensou nisso antes de me responder numa voz séria. “Hmm... eu acho que você
poderia ser, se quisesse.”
Eu estava sério também “Você está com medo de mim agora?”
Ela respondeu de uma vez, sem pensar muito nessa. “Não.”
Eu sorri mais facilmente, eu não achei que ela estivesse me dizendo inteiramente a
verdade, mas ela também não estava verdadeiramente mentindo. Ela não estava assustada o
suficiente para querer ir embora, pelo menos. Eu me perguntei como ela se sentiria se eu a
dissesse que ela estava tendo essa conversa com um vampiro. Me encolhi internamente com
a reação imaginada.
“Então agora você vai me contar sobre sua família? Deve ser uma história bem mais
interessante que a minha.”
Uma mais assustadora, pelo menos.
“O que você quer saber?” Eu perguntei cuidadosamente.
“Os Cullens adotaram você?”
“Sim.”
Ela hesitou, e então falou numa voz pequena. “O que aconteceu com seus pais?”
Isso não era tão difícil: eu não estava nem mesmo tendo que mentir para ela. “Eles
morreram há muito tempo.”
“Sinto muito,” ela murmurou, claramente preocupada por ter me machucado.
Ela estava preocupada comigo.
“Eu não lembro deles claramente,” eu a acalmei. “Carlisle e Esme tem sido meus
pais por um longo tempo agora.”
“E você os ama,” ela deduziu.
Eu sorri. “Sim. Eu não poderia imaginar duas pessoas melhores.”
“Você é muito sortudo.”
“Eu sei que sou.” Nessa circunstância, no sentido de pais, minha sorte não podia ser
negada.
“E seu irmão e irmãs?”
Se eu a deixasse pressionar por muitos detalhes, eu teria que mentir. Eu olhei de
relance para o relógio, desanimado porque meu tempo com ela tinha acabado.
Meu irmão e irmã, e Jasper e Rosalie também, vão ficar bem chateados se tiverem
que ficar na chuva esperando por mim.”
“Oh, desculpe, eu acho que tenho que ir.”
Ela não se moveu. Ela não queria que nosso tempo terminasse, também. Eu gostei
muito, muito disso.
“E você provavelmente quer sua caminhonete de volta antes que Chefe Swan
chegue em casa, então você não vai precisar contar a ele sobre o incidente em Biologia.” Eu
sorri largamente para a memória do embaraço dela em meus braços.
“Tenho certeza de que ele já sabe. Não existem segredos em Forks.” Ela disse o
nome da cidade com desgosto distinto.
Eu ri das palavras. Nenhum segredo, certamente. “Se divirta na praia.” Eu olhei para
a chuva caindo, sabendo que isso não duraria, e desejando mais fortemente que o normal
que isso pudesse durar. “Bom tempo para um banho de sol.” Bem, seria no sábado. Ela
aproveitaria isso.
“Não vou te ver amanhã?”
A preocupação em seu tom me agradou.
“Não. Emmett e eu vamos começar o final de semana mais cedo.” Eu estava bravo
comigo agora por ter feito planos. Eu podia quebrá-los... mas não tinha nada como muitas
caçadas nesse momento, e minha família se preocupava o suficiente com meu
comportamento sem que eu revelasse o quão obsessivo eu estava me tornando.
“O que vocês vão fazer?” ela perguntou, sem soar feliz com minha revelação.
Bom.
“Nós vamos fazer trilhas em Goat Rocks Wilderness, no sul de Rainer.” Emmett
estava ávido pela temporada de ursos.
“Oh, bem, se divirta,” ela disse pouco entusiasmada. Sua falta de entusiasmo me
agradou de novo.
Enquanto eu a encarava, comecei a me sentir quase agoniado com a idéia de dizer
até mesmo um adeus temporário. Ela era tão suave e vulnerável. Parecia temeroso deixá-la
fora da minha visão, onde qualquer coisa podia acontecer com ela. E ainda assim, as piores
coisas que poderiam acontecer com ela resultariam em estar comigo.
“Você fará algo pra mim nesse final de semana?” eu perguntei seriamente.
Ela virou, seus olhos grandes e transtornados com minha intensidade.
Mantenha isso relaxado.
“Não se ofenda, mas você parece ser uma dessas pessoas que atraem acidentes como
um imã. Então... tente não cair no oceano ou ser atropelada ou qualquer coisa, ta bom?”
Sorri pesaroso para ela, esperando que ela não pudesse ver a tristeza em meus olhos.
Quanto eu queria que ela não ficasse tão melhor longe de mim, não importando o que
pudesse acontecer com ela lá.
Corra, Bella, corra. Eu te amo muito, para seu bem ou meu.
Ela estava ofendida com minha provocação. Ela me encarou com raiva. “Verei o que
posso fazer,” ela soltou, pulando para fora na chuva e batendo a porta tão forte quanto
podia atrás dela.
Como qualquer gatinho irritado que acredita ser um tigre.
Enrolei minha mão ao redor da chave que eu acabara de pegar do bolso da jaqueta
dela e sorri enquanto dirigia para longe.

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