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Leonardo Leocádio
leoleocadio@yahoo.com.br
Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento,
Universidade Federal de Santa Catarina, Trindade, Florianópolis, SC, Brasil
Gregorio Varvakis
grego@egc.ufsc.br
Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento,
Universidade Federal de Santa Catarina, Trindade, Florianópolis, SC, Brasil
Resumo
1. Introdução
Para Bowman (2002), uma das explicações para o crescente interesse pelo assunto pode estar
relacionada ao acelerado ritmo que acontecem as mudanças no mundo dos negócios. Essas
mudanças colocam o conhecimento na posição de principal fonte de vantagem competitiva
sustentável, tornando-o um grande diferencial para as organizações.
As organizações bem sucedidas têm buscado alinhar sua estratégia de gestão do conhecimento
com as suas outras estratégias, resultando em diversas possibilidades para criar valor e
promover diferencial. Neste sentido, compreender a GC como processo organizacional é
relevante para a implementação de práticas de criação, compartilhamento, disseminação e
aplicação de conhecimento.
Todavia, em geral, os estudos não consideram uma descrição das tecnologias que podem
apoiar as etapas de criação, disseminação e aplicação do conhecimento, limitando-se a apenas
uma dessas etapas e descrevendo as tecnologias de GC sem relacioná-las diretamente à
estratégia organizacional. Segundo Saito et al. (2007) isso acontece em parte devido a
dinâmica das tecnologias em geral, que têm aumentado em um ritmo acelerado tanto em
número como diversidade nas diferentes áreas, mas também à própria complexidade do
campo da GC, que inclui perspectivas conflitantes sobre conhecimento e como geri-lo.
Este trabalho está estruturado em sete seções. A primeira seção é esta introdução. A segunda
aborda a GC como processo organizacional. A terceira faz uma breve apresentação de
diferentes abordagens de processos de GC, mostrando algumas abordagens teóricas acerca das
relações entre TIC e estratégia organizacional. Na quarta seção, são apresentadas algumas
TIC utilizadas no processo de GC. Na quinta, é descrita a metodologia adotada para o
desenvolvimento deste artigo. A sexta seção apresenta um mapa conceitual da relação entre
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GC, TIC e Estratégia Organizacional a partir das abordagens estudadas. Na última seção são
feitas algumas considerações finais. E, finalmente as referências bibliográficas.
O conceito de GC não é consensual, seja entre os teóricos, seja entre as empresas. Alguns
estudos apontam para diferentes perspectivas para compreender e/ou praticar a GC. Este
artigo considera GC como processo organizacional. De forma sistêmica, considera que as
organizações são constituídas por conjuntos de processos interrelacionados e indissociáveis,
os quais afetam uns aos outros e, consequentemente, influenciam a competitividade
organizacional. Nesse contexto, a GC é vista como um desses processos.
Para Harrington (1993) processo é um grupo de tarefas interligadas logicamente, que utilizam
os recursos da organização para geração de resultados pré-definidos, visando apoiar os
objetivos da organização. Segundo Davenport (1994), processo é uma ordenação específica
das atividades de trabalho, no tempo e no espaço, com um início, um fim, inputs e outputs
claramente identificados, enfim, uma estrutura para ação.
Processos também são definidos como uma série de etapas criadas para produzir um produto
ou serviço, que inclui várias funções e preenche as lacunas existentes entre as diversas áreas
organizacionais, objetivando com isso estruturar uma cadeia de agregação de valor ao cliente
(RUMMLER e BRACHE, 1995). Para Beretta (2002) são momentos quando recursos e
competências da empresa são ativados a fim de criar uma competência organizacional capaz
de preencher suas lacunas, a fim de gerar uma vantagem competitiva sustentável.
Na mesma perspectiva, Boff (2000) define GC como um processo formado por um conjunto
de estratégias para criar, adquirir, compartilhar ativos de conhecimento, bem como
estabelecer fluxos que garantam a informação necessária, a fim de auxiliar na geração de
idéias, solução de problemas e tomada de decisão.
Uma das abordagens mais utilizadas na literatura para descrever as TIC que podem dar
suporte à GC, chamadas de Tecnologias de GC, é aquela que focaliza os processos do
conhecimento (ALAVI e LEIDNER, 2001; BECERRA-FERNANDEZ et al., 2004;
JASHAPARA, 2004; NONAKA et al., 2003). Logo, os estudos que utilizam esta abordagem
geralmente adotam a perspectiva de GC como um processo e associa o uso dessas tecnologias
com as etapas dos processos do conhecimento, como por exemplo, de criar, codificar,
armazenar, recuperar, disseminar e aplicar conhecimento. Esses processos são caracterizados
como cíclicos e contínuos identificados pela literatura como Ciclos de Gestão do
Conhecimento (Tabela I).
Alavi e Leidner (2001) buscam o equilíbrio entre os aspectos sociais e técnicos para estudar as
tecnologias de GC, concentrando-se nos processos de criar, armazenar, recuperar, transferir e
aplicar conhecimento. Enquanto Becerra-Fernandez et al. (2004) adotam uma inclinação
técnica voltada para a Engenharia do Conhecimento com uma abordagem focalizada nos
processos de descobrir, capturar, compartilhar e aplicar conhecimento.
Os processos do conhecimento utilizados por cada autor deixam evidentes que a depender da
perspectiva de GC adotada (Tabela I), as tecnologias de GC são identificadas e caracterizadas
de maneiras distintas. Por exemplo, quando Alavi e Tiwana (2003) identificam e-learning
como uma tecnologia para a criação de conhecimento estão focalizando o nível individual,
isto é, o conhecimento criado por cada indivíduo. Todavia se e-learning for vista no nível do
grupo ela pode ser considerada como uma tecnologia para disseminação do conhecimento
(SAITO et al., 2007).
Dessa forma, uma busca de tentar identificar e classificar as TIC a partir da perspectiva de GC
como um processo organizacional no contexto da Estratégia Organizacional deve considerar
as etapas de seu ciclo em um contexto específico, ou seja, é dependente do objetivo
estratégico que se pretende atingir com o uso da tecnologia.
Como pode ser observado na Figura 1, as TIC podem dar suporte a GC nos seus diversos
processos, seja em capturar e/ou criar, disseminar e aplicar conhecimento. Vale enfatizar que
a definição desses processos depende da abordagem adotada do que é GC, como mencionado
anteriormente (Tabela I). Se a estratégia organizacional tiver o conhecimento como fator
estratégico, isto é, considerar o ciclo da GC como processo que busca garantir a
competitividade da organização, as TIC para GC, ou “tecnologias da GC” poderão facilitar ou
auxiliar as ações desenvolvidas em cada um desses processos agregando valor ao negócio.
Uma análise detalhada das TIC para Gestão do Conhecimento é uma tarefa desafiante, uma
vez que há uma variedade significativa e uma quantidade surpreendente. Uma relação com os
processos do conhecimento e sua integração com a estratégia organizacional torna a tarefa
ainda mais difícil.
A tabela abaixo apresenta uma lista de algumas tecnologias agrupadas de acordo com a
funcionalidade para facilitar a compreensão. Algumas dessas tecnologias são razoavelmente
comuns e conhecidas pelas organizações, as quais são denominadas por Saito et al. (2007)
como tecnologias de infra-estrutura. Outras são mais específicas, implementadas algumas
vezes em outras aplicações ou adaptadas para uma determinada necessidade.
Estas diversas tecnologias podem apoiar a GC de maneiras múltiplas. Elas podem apoiar a
estratégia organizacional tanto na colaboração como na disseminação, descoberta e
armazenagem do conhecimento (SAITO et al., 2007). Também, podem apoiar os processos
do conhecimento de acordo com o contexto onde são utilizadas. Quando forem utilizadas no
contexto adequado em termos funcionais essas tecnologias servirão para apoiar a estratégia
organizacional.
Embora cada tipo de Sistema de GC tenha alguma funcionalidade específica sua aplicação
segundo a estratégia organizacional depende dos objetivos que se quer atingir. Além disso,
percebe-se que tem havido a integração de diversos sistemas para atender a finalidade
estratégica do negócio.
Portais Integra o acesso a uma larga escala de informação e de sistemas em um único ponto de
Corporativos entrada. Permite acesso controlado às aplicações operacionais e gerencial, e a
apresentação personalizada do índice, junto com a gerência do workflow, a
comunicação e a colaboração.
Gestão de Suporte de desenvolvimento e entrega de cursos online em uma variedade de
aprendizagem formatos, em ritmo individual ou em grupo com condução de um instrutor. Inclui
funções como a criação e gerência de satisfação, comunicação e interação e relatório
da avaliação e do desempenho.
Gestão de Fornece um gerenciamento de especialistas em grandes comunidades. Inclui funções
Especialistas como a identificação e perfil dos especialistas; ferramentas de comunicação para
questionamentos e respostas; avaliação das respostas e especialistas; e repositórios
para contribuições de reuso.
Fonte: Baseado em Saito et al. (2007)
Conforme Saito et al. (2007), esses grandes sistemas integrados da empresa não são por si
mesmos Sistemas de GC, mas incluem a funcionalidade de GC em alguns de seus módulos
e/ou subsistemas. Um pacote completo de CRM, por exemplo, pode contribuir para a GC nos
processos de descobrir, disseminar e aplicar conhecimento a fim de apoiar a estratégia
organizacional.
5. Metodologia
Esta pesquisa tem natureza exploratória e descritiva. Exploratória pela relativa escassez dos
estudos que abordam a GC como processo, levando em consideração as TIC e a estratégia
organizacional. O estudo é também descritivo porque visa identificar, descrever e analisar a
GC como processo organizacional, relacionando-a com algumas TIC que podem ser utilizadas
para facilitar ou auxiliar o desenvolvimento desse processo.
Por conseguinte, como sugerem Cooper e Schindler (2003), esta pesquisa partiu de uma
revisão de livros e de artigos ou literatura profissional relacionados ao tema em questão. Ou
seja, configurou-se como uma pesquisa bibliográfica, por se tratar de um estudo sistematizado
desenvolvido com base em material publicado.
Este estudo teve também como base as técnicas qualitativas. Segundo Cooper e Schindler
(2003, p. 132), “qualidade é o caráter ou a natureza essencial de alguma coisa”. Dessa forma,
propôs-se uma análise qualitativa referindo-se ao significado, à definição, à analogia, à
metáfora e a caracterização das discussões sobre as relações entre gestão do conhecimento
como processo, TIC para gestão do conhecimento e estratégia organizacional. Para isso, foi
elaborado um mapa conceitual (detalhado na próxima seção).
Manning (1979) complementa essa forma de fazer pesquisa ao afirmar que o trabalho de
descrição tem caráter fundamental em um estudo qualitativo, já que é por meio dele que os
dados são coletados.
Este método apresenta certas limitações por apresentar dados simbólicos, situados em
determinado contexto, revelando parte da realidade ao mesmo tempo em que oculta outra
parte. Entretanto, considerou-se o método utilizado como o mais apropriado para alcançar os
objetivos deste estudo.
De acordo com Davenport e Prusak (1998) e Zack (1999) é necessário haver uma relação
prática entre a GC e a estratégia organizacional. Da mesma maneira que acontece com os
ativos tangíveis (como, dinheiro e equipamentos), os ativos do conhecimento só valem a pena
ser cultivados no contexto da estratégia. Não é possível criar e gerenciar conhecimento sem
saber o que está tentando fazer com ele (STEWART, 1998).
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Mapas conceituais são organizadores gráficos, em níveis de tópicos ou idéias centrais que
geram uma estrutura visual associada a um determinado modelo mental (NOVAK, 1998).
Esta cadeia de idéias e conceitos facilita a compreensão e aplicabilidade do que está sendo
discutido.
Para Fialho (2001), o conhecimento que se tem sobre os seres e objetos está constituído pelo
que se chama de conceitos. A categorização de conceitos pode ser feito por mapas conceituais
em duas operações: (1) definir/delimitar a classe e (2) definir as relações entre esta classe com
outras classes
Os conceitos são “nós” e os “arcos” são as relações entre esses conceitos (rotulados com os
nomes das relações), constituindo uma rede semântica. A Figura 2 apresenta a estrutura básica
do mapa conceitual, o qual é representado por um diagrama que apresenta dois conceitos (A e
B), conectados por meio de ações representadas por uma unidade semântica (FIALHO, 2001;
NOVAK, 1998).
Conceito Conceito
A Ação/Proposição B
Para este trabalho, serão adotadas as seguintes etapas para elaboração do mapa conceitual:
Figura 3 – Mapa Conceitual das relações entre GC, TIC e Estratégia Organizacional
Fonte: elaborado pelos autores
O enfoque será conforme a perspectiva de GC que foi adotada pela organização. Este artigo
sugere a perspectiva que considera GC como processo organizacional. A partir daí os
processos de GC (por exemplo, criação, disseminação e aplicação do conhecimento) são
definidos e posteriormente melhorados em um ciclo contínuo, sempre alinhados à estratégia
organizacional e definidos de acordo com a abordagem de GC.
ser selecionadas conforme o contexto onde serão utilizadas com o objetivo de apoiar os
processos da GC, sempre considerando aspectos humanos (as pessoas). Conforme o objetivo
estratégico, essas TIC (tecnologias componentes, sistemas de GC e aplicações no negócio)
apóiam a estratégia organizacional.
Nesse contexto caracterizado por uma gestão estratégica do conhecimento, onde ações de GC
apóiam uma estratégia do conhecimento, as TIC utilizadas passam a possuir valor estratégico.
7. Considerações Finais
Por meio deste estudo, identificou-se e foram descritas as TIC que podem dar suporte à GC e
apoiar a estratégia organizacional na criação, disseminação e aplicação do conhecimento.
Essas tecnologias foram classificadas como tecnologias componentes, sistemas de GC e
tecnologias aplicadas no negócio. Em termos práticos, sua utilização pode ser integrada, isto
é, os sistemas de GC são constituídos por tecnologias componentes e quando integrados para
atender necessidades de processos e funções de negócio são classificadas como tecnologias
aplicadas no negócio.
A utilização das TIC deve integrar as pessoas, considerar e estratégia organizacional e de GC.
No entanto, o uso dessas tecnologias não garante a competitividade da organização, porém
servem como importantes instrumentos de apoio à GC. Todavia, o papel das TIC para GC
deve ser estratégico no sentido de apoiar o desenvolvimento do conhecimento como fator
competitivo para a organização, uma vez que a implementação da estratégia organizacional e
da GC depende da utilização das ferramentas adequadas.
A utilização do mapa conceitual para integração das TIC com GC e Estratégia Organizacional
contribuiu para uma compreensão das relações entre elas e suas implicações para a
organização.
Pesquisas empíricas poderão ser realizadas para estudar a utilização das TIC para GC alinhada
à Estratégia Organizacional segundo uma abordagem teórica em um contexto específico
(como melhoria de processos de produção, educação corporativa, entre outros).
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