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Santa Maria- RS
2019
Sidnei Mauro de Melo Junior
Santa Maria- RS
2019
RESUMO
1
Primeira fala do texto dramatúrgico da encenação FEELOOP
2
Desviantes; aqueles que contradizem com os padrões héteronormativos impostos pela sociedade.
3
Expressão artística popular entre a comunidade Queer, que transita de modo exagerado entre estéticas atribuídas
ao feminino e masculino.
4
Sigla que abrange à Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transsexuais, Travestis, Queer Gender e Intersexuais.
5
Organização não governamental.
6
Preconceito com pessoas Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transsexuais, Travestis, Queer Gender e Intersexuais.
Brasileiro não possui órgãos ou leis que auxiliem no registro desses tipos de crime em
escala nacional.
Tendo a contradição da realidade Queer no Brasil, a encenação buscará
colocar dois lados em conflito: a celebração ou festividade, associada a comunidade
Queer, junto a violência que os indivíduos desse grupo sofrem em nosso país. Para
enfatizar esteticamente esse paradoxo, a encenação trará uma vasta exploração da
iconografia que permeia a cultura Queer nacional e mundial, desde a década de 50.
A encenação buscará como ambientação a construção da atmosfera dos Drag
Balls7, que aconteciam em Nova Iorque a partir da década de 1980. Nas palavras de
Danilo Simões Liu, esses eventos:
[...]eram um lugar de aceitação, uma forma de que pessoas
marginalizadas pudessem sair de sua posição na sociedade e
ocupar os holofotes. Tal fantasia de estrelato aponta para o
desejo de ser olhado como igual pelos demais, não sendo
estigmatizada por sua sexualidade[...](LIU, 2016, p.21)
7
Festas que surgem em meados da década de 1980, na cidade de Nova Iorque, em que a comunidade Queer
negra e latina se reunia para competir por diversas categorias.
OBJETIVO GERAL
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
8
Estilo de dança que surge nos Drag Balls de Nova Iorque, em que se execulta poses como se estivesse sendo
fotografado para capa da revista Vogue.
9
Grupo teatral que surge durante a Ditadura Militar do Brasil. Transitava e questionava os padrões de gênero
através do humor escrachado e pela ousadia estética.
10
Optou-se por substituir os termos “ator” e “atrizes” por “atrozis” como modo a enfatizar o questionamento dos
padrões de gênero, presentes também na língua portuguesa.
esgotamento, ele conseguiu, por assim dizer, ‘limpar’ seu corpo
de uma série de energias ‘parasitas’, e se vê no ponto de
encontrar um novo fluxo energético mais ‘fresco’ e mais
‘orgânico’ que o precedente” (BURNIER apud. FERRACINI,
2012, p.95)
11
“Ela possibilita ao ator a busca de uma organicidade e de uma vida a partir de ações coletadas externamente,
pela imitação de ações físicas e vocais de pessoas encontradas no cotidiano. Além das pessoas, ela também permite
a imitação física de ações estanques como fotos e quadros, que podem ser, posteriormente, ligadas organicamente,
transformando-se em matrizes complexas. Cabe ao ator a função de “dar vida” a essa ação imitada, encontrando
um equivalente orgânico e pessoal para a ação física/vocal.” (FERRACINI, 2003, p.19)
de um grupo social. Porém, o principal expoente que será pesquisado para compor o
coro e a atmosfera do espetáculo é o encenador Max Reinhardt.
Situado no período modernista, Reinhardt tinha como principal proposta de
renovação - entre as muitas experimentadas por ele - o desenvolvimento de um Teatro
dos 5000 atores. Essa ideia de multidão no palco se justifica pelo interesse do
encenador em explorar o deslocamento constante da quarta parede, pois os atrozis
misturados ao público, o convoca para uma posição realmente ativa na cena,
proporcionando a energia necessária para a instauração da atmosfera ilusória do
espetáculo.
Para concluir, é importante reforçar o grande propositor que mobilizará toda a
construção do espetáculo, os Drag Balls. Essa potente matéria-prima traz em seu
interior a forma e o conteúdo pretendido pelo aspirante a Encenador Sidnei Junior. A
partir do estudo, pesquisa e criação da atmosfera dos Drag Balls, que FEELOOP12
nascerá! E como diz Mama Ru13: Good Luck… and Don’t Fuck It Up!14
Segue abaixo o cronograma de trabalho prático da concepção da encenação:
CRONOGRAMA DE ENSAIOS
DATAS PLANEJAMENTO DE ENSAIO
12
Título dado pelo Encenador Sidnei Junior ao Espetáculo.
13
Apelido dado pelos fãs à Drag-Queen Ru Paul, apresentadora do reality show RuPaul’s Drag Race, em que
várias Drag-Queens competem para receber o título de Próxima Drag Super Star da América.
14
Em tradução livre do Encenador Sidnei Junior: Boa Sorte... E não estraguem tudo!
26/09-QUINTA-FEIRA Experimentação dis cenas II, III, VI, V e VI no espaço da
18:00-22:00 encenação/ Adaptações corpo/voz para o espaço.
27/09-SEXTA-FEIRA Passagem dis cenas II, III, IV, V e VI/ Criação da cena I/
08:30-12:30 Ensaio para as performances da HAUS OF FEELOOP.
28/09-SÁBADO LABORATÓRIO CRIATIVO: HAUS OF FEELOOP
19:00-00:00 Apresentação dis performances para o público/
Arrecadação de doações.
04/10-SEXTA-FEIRA OFICINA DE DANÇA VOGUE
08:30-12:30 Criação de coreografias de cena, em especial da Cena
I/ Elaboração de sequência de poses.
11/10-SEXTA-FEIRA Criação da cena II/ Criação de partituras e repetições.
08:30-12:30
14/10-SEGUNDA-FEIRA Orientação de atrozis- Lívia/ Passagem de todas as
13:30-15:30 falas/ Criação das marcações da Personagem.
18/10-SEXTA-FEIRA Término das coreografias/ Elaboração das partituras
08:30-12:30 com objetos/ Passagem da cena II/ Criação da cena III
e IV.
21/10-SEGUNDA-FEIRA Orientação de atrozis- JOÃO, BRUNO E WILLIAN/
13:00-16:00 Passagem de todas as falas/ Criação das marcações da
Personagem.
23/10-QUARTA-FEIRA Passagem das cenas II, III e IV/ Criação das cenas V e
08:30-12:30 VI.
24/10-QUINTA-FEIRA Criação da cena VII/ Passagem de todas as cenas.
08:30-12:30
25/10-SEXTA-FEIRA CONCEPÇÃO DO FIGURINO E MAQUIAGEM
08:30-12:30
28/10-SEGUNDA-FEIRA Orientação de atrozis- JOÃO, BRUNO E WILLIAN /
13:00-16:00 Passagem de todas as falas/ Criação das marcações da
Personagem.
31/10-QUINTA-FEIRA Orientação de atrozis- LÍVIA/ Passagem de todas as
10:00-12:30 falas/ Criação das marcações da Personagem.
01/11-SEXTA-FEIRA TERMINAR AS CENAS
08:30-12:30
04/11-SEGUNDA-FEIRA Orientação de atrozis- JOÃO, BRUNO E WILLIAN /
13:00-16:00 Passagem de todas as falas/ Criação das marcações da
Personagem.
07/11-QUINTA-FEIRA Orientação de atrozis- LÍVIA/ Passagem de todas as
10:00-12:30 falas/ Criação das marcações da Personagem.
08/11-SEXTA-FEIRA PASSAGEM GERAL PARA CONCEPÇÃO DE LUZ
08:30-12:30
09/11-SÁBADO GRAVAÇÃO DOS VÍDEOS DE TRANSIÇÃO E FOTOS
17:00-20:00 DE DIVULGAÇÃO
11/11-SEGUNDA-FEIRA Orientação de atrozis- JOÃO, BRUNO E WILLIAN /
13:00-16:00 Passagem de todas as falas/ Criação das marcações da
Personagem.
14/11-QUINTA-FEIRA Orientação de atrozis- LÍVIA/ Passagem de todas as
10:00-12:30 falas/ Criação das marcações da Personagem.
15/11-SEXTA-FEIRA PRIMEIRA PASSAGEM GERAL NO ESPAÇO
08:30-12:30
22/11-SEXTA-FEIRA ENSAIO GERAL/LIMPEZA DAS CENAS I, II, III E IV
08:30-12:30
29/11-SEXTA-FEIRA ENSAIO GERAL/LIMPEZA DAS CENAS V, VI E VII
08:30-12:30
30/11-SÁBADO ENSAIO GERAL NO ESPAÇO
18:00-22:00
01/12-DOMINGO APRESENTAÇÃO
14:00-22:30
QUEER IS THE NEW BLACK15
15
Expressão em inglês utilizada no ambiente fashionista e significa que algo está em evidencia na atualidade, por
exemplo, em tradução livre pelo Encenador Sidnei Junior, “Queer está em alta”.
Tais apontamentos são perceptíveis no trecho onde Cleópatra
(personagem da peça Antônio e Cleópatra, escrita em 1606)
veste a armadura de Antônio, seu amado, e brande a sua
espada. Em uma época onde as mulheres eram consideradas
inferiores e passíveis de submissão, tendo seu lugar na
sociedade medido apenas pelo casamento e a capacidade de
gerar herdeiros, uma personagem vestindo trajes masculinos
militares, foi considerado algo ultrajante e, para o leitor de hoje,
inovador. (LIU, 2017, p.6)
16
Bares em que " em que drag queens se encontravam vestidas de tipos sociais da época para se
comportarem como mulheres.” (AMANAJÁS, 2015, p.13)
período histórico. A partir daí, as Drag Queens encontram no Teatro Musical a
espetacular e glamourosa personificação das grandes mulheres, que tanto às
inspiravam.
A década de 1960 é marcada pela renovação dos modos tradicionais de se
produzir e consumir arte. Esse movimento é chamado de contracultura e foi formado
por diversas expressões artísticas que não se viam representadas nos modelos
tradicionais da arte. Além disso, há uma certa aceitação da sociedade, ainda que
pequena, para com a comunidade gay o que abriu espaço para que esse grupo
sentisse minimamente confortável para construir seus próprios modos de se relacionar
com o mundo, seja pela linguagem, moda ou gestos (AMANAJÁS, 2015, p.16).
A cultura gay foi se expandindo junto com o número de bares e clubes voltados
a esse público, que acolhe muito bem as Drag Queens. As artistas, nessa realidade
multicultural que a cada dia crescia mais, possuíam um terreno fértil para explorar e
se relacionar com seu público, brincando no híbrido do masculino e feminino, o chique
e o de mau gosto etc. Nesse momento pode-se notar o estabelecimento de alguns
movimentos que abraçam e se fundem a cultura Queer e que serão usados como
principal referencial estético da encenação FEELOOP, são eles is Club Kids, o Camp
e os Drag Balls.
I Dzi Croquettes foi um importante grupo teatral brasileiro que teve sua formação
original durante a ditadura militar. Esse período se caracterizou pelo corte de direitos,
em especial no tocante a liberdade de expressão. Pode-se imaginar que um
espetáculo formado por 13 integrantes, que vestiam trajes -socialmente ditos como-
femininos no palco, não passaria despercebido pela censura brasileira daquela época.
O grupo explorava a transgressão dos papéis de gênero estabelecidos por
aquela sociedade conservadora e acima de tudo repressora. Nas palavras de Rafael
de Freitas Amambahy Santos, o espetáculo:
Misturando-se e revezando-se entre momentos de dança e
canto, entrecortados por falas inteligentes e divertidas; com
corpos viris, cabelos compridos, 15elos e barbas unidos a trajes
femininos e maquiagem carregada – tudo banhado por muita
descontração e irreverência –, movimentou e reinventou o
cenário artístico brasileiro da época: o grupo chamava-se Dzi
Croquettes.(SANTOS, s.d., p.2)
17
Expressão que indica surpresa.
conhecido como a Mãe dos Dzi- com a atriz Hollywoodiana Liza Minnelli, que
conseguiu turnês na Europa e temporada na Broadway, se o grupo não tivesse se
separado logo após a primeira agenda de apresentações internacionais.
I Dzi Croquettes, possuía uma linguagem própria para se comunicar com o
público. Prova disso é a difícil definição acerca do que o era de fato os Dzi Croquettes,
uns dizem que eram performances soltas para festas, outros entendem com
performances teatrais. Essa indefinição se define para o encenador como sendo um
ponto potente para FEELOOP, pois lhe é interessante que o público adentre o
espetáculo como se realmente estivesse celebrando em um Drag Ball. Para
posteriormente se chocar quando exposto a outra realidade dessa comunidade no
Brasil e no mundo.
5. VOGUE
Como dito Vogue surgiu dentro dos Drag Balls como uma das categorias
principais, em que is competidoris simulavam uma batalha de poses, passos de dança
e sequências coreografadas (BERTE, 2014, p.70). O principal objetivo dessa
performance era se mostrar como se estivesse posando para a capa da revista
VOGUE e é daí que surge seu nome. Sendo assim, vale tudo para se mostrar para os
olhares atentos dos jurados.
[...]a dança mistura pantomima, trejeitos de manuseio de estojos
de maquiagem, passos de break, movimentos de ginástica,
hieróglifos do Egito antigo, desfile de moda e imagens de poses
de revistas, articulando linhas corporais sinuosas ou retilíneas e
posições rebuscadas. (PARIS IS BURNING apud BERTE, 2014,
p.70)
ATIVIDADES PRAZOS
ago set out nov dez
AMANAJÁS, Igor. Drag queen: um percursos histórico pela arte dos atores
transformistas. Revista Belas Artes. Ano 7, n. 19. set-dez 2015.
CAMPOS, Márcia Regina Bozon de. Recordar, repetir, criar: a dança-teatro de Pina
Bausch. Ide, v. 40, n. 64, p. 117-128, 2017. Disponível em: <
http://pepsic.bvsalud.org/pdf/ide/v40n64/v40n64a10.pdf>. Acesso em: 15 set. 2019.
LIU, Danilo Simões. O percurso histórico da cultura drag: uma análise da cena
queer carioca. 2017. Disponível em: <
https://pantheon.ufrj.br/bitstream/11422/4016/3/DSLiu.pdf>. Acesso em: 15 set. 2019