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AO JUÍZO DA 1ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE VACARIA – RS

AUTOS Nº 5001381-13.2022.8.21.0038

RICARDO DUTRA DOS SANTOS, já qualificado nos autos em epígrafe,


vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, por intermédio da
Defensoria Pública, com fundamento no art. 5º, LXVI, da Constituição Federal, e
nos arts. 282, §6º, 310, III e 321, todos do Código de Processo Penal, requerer
LIBERDADE PROVISÓRIA, pelo que segue.

I – DOS FATOS

Trata-se de auto de prisão em flagrante de RICARDO DUTRA DOS


SANTOS, pela prática, em tese, do delito de embriaguez ao volante.

Homologado o flagrante, dispensada a audiência de custódia nos termos


da Recomendação nº 62/2020, o Ministério Público opinou pela concessão de
liberdade ao investigado.

Os autos vieram à Defensoria Pública para manifestação.

É o breve relato.

II – DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

A Constituição Federal, em seu art. 5º, LXVI, determina que “ninguém


será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória,
com ou sem fiança”.

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Por sua vez, o Código de Processo Penal regula a aplicação de medidas
cautelares, dentre as quais a prisão preventiva, e dispõe, no seu art. 282, que tais
medidas devem ser aplicadas considerando-se (i) a necessidade para aplicação
da lei penal, para a investigação ou a instrução criminal e, nos casos
expressamente previstos, para evitar a prática de infrações penais, bem como (ii)
a adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias do fato e condições
pessoais do indiciado ou acusado.

Especificamente quanto à prisão preventiva, o Código de Processo Penal


determina que esta é a ultima ratio no sistema das cautelares, sendo que sua
aplicação só é cabível nos casos do art. 313 do citado diploma legal.

Mesmo em se tratando de hipótese prevista no citado dispositivo, devem,


ainda, estar preenchidos os requisitos do art. 312 do Código de Processo Penal,
quais sejam, o fumus comissi delicti (prova da existência do crime e indício
suficiente de autoria) e o periculum libertatis (risco que a liberdade dos
investigados ou acusado traga para a ordem pública, para a ordem econômica,
para a instrução criminal ou para a aplicação da lei penal).

Ressalta-se que o perigo gerado pelo estado de liberdade do


imputado deve ser demonstrado de forma concreta, com base em fatos
contemporâneos à decisão que decretar a prisão preventiva, nos termos do art.
315, §§1º e 2º, do Código de Processo Penal.

Além disso, mesmo nos casos em que preenchidos os requisitos da


prisão preventiva, é necessário analisar, efetivamente, a sua necessidade e
adequação no caso concreto, pois, sendo a ultima ratio do ordenamento jurídico,
diante do seu caráter de medida cautelar, a prisão preventiva só pode ser
decretada se, no caso concreto, não forem suficientes e adequadas as
medidas cautelares não prisionais, sendo que, conforme dispõe o art. 282, §6º:

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Art. 282 […] §6º A prisão preventiva somente será determinada quando
não for cabível a sua substituição por outra medida cautelar, observado o
art. 319 deste Código, e o não cabimento da substituição por outra
medida cautelar deverá ser justificado de forma fundamentada nos
elementos presentes do caso concreto, de forma individualizada.

Ausentes os requisitos que justificam a necessidade de se decretar a


prisão preventiva, impõe-se a concessão de liberdade provisória, nos termos do
art. 321 do Código de Processo Penal.

Em resumo, para a decretação da prisão preventiva, o juízo deve passar


por três planos distintos: (i) possibilidade jurídica (art. 313, CPP); (ii) necessidade
(art. 312, CPP) e; (iii) adequação (art. 319, CPP).

Pois bem.

No caso concreto, é necessária a concessão de liberdade provisória


ao investigado, conforme sugerido pelo próprio Ministério Público.

Isso porque, não se verificam in casu o preenchimento dos requisitos


prescritos em lei para a adoção da medida cautelar mais grave, qual seja, a prisão
preventiva.

Ora, o delito imputado ao flagrado (art. 306 do CTB) possui como pena
máxima detenção de 03 (três) anos. Além disso, o autuado é ABSOLUTAMENTE
PRIMÁRIO (ev. 03) e a conduta a ele imputada não foi praticada com violência
ou grave ameaça a pessoa. Ainda, não foi apreendido nenhum armamento
em posse do investigado e não há notícia de ele ter resistido à prisão.

Note-se, aliás, que o flagrado apenas não foi posto em liberdade após a
confecção do auto de prisão em flagrante em razão de não ter condições para
pagar a fiança arbitrada pela autoridade policial.

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De se considerar também que justamente pelo seu caráter instrumental e
acessório, as medidas cautelares são regidas pelo princípio da homogeneidade
ou proporcionalidade, pois não podem ser mais gravosas que a sanção
eventualmente a ser aplicada ao final do processo. No caso dos autos, muito
dificilmente haverá a aplicação de uma pena privativa de liberdade em regime
fechado, de modo que a segregação cautelar se mostra desproporcional ao
caso concreto também por esse motivo.

Dessarte, não há nada na conduta imputada ao flagrado que transborde a


descrição do tipo penal, de modo que a prisão preventiva nesse momento
processual seria mera antecipação de pena, o que é vedado pelo
ordenamento jurídico, conforme art. 313, §2º, do Código de Processo Penal.

Desse modo impera no presente momento a presunção de inocência,


prevista no art. 5º, LVII, da Constituição Federal.

Por fim, não se pode deixar de comentar que as circunstâncias atuais são
excepcionalíssimas, diante da pandemia causada pelo novo coronavírus, o que
levou o Conselho Nacional de Justiça a editar a Recomendação nº 62/2020, na
qual o referido órgão urge aos magistrados e magistradas que considerem ainda
mais excepcional a decretação da prisão preventiva.

Com efeito, a recomendação, em seu art. 8º, §1º, I, c, dispõe que a prisão
preventiva SOMENTE deve ser adotada, se preenchidos os requisitos, nos
crimes cometidos com o emprego de violência ou grave ameaça contra a
pessoa, o que, evidentemente, não é o caso dos autos.

Portanto, não está demonstrado o periculum libertatis, ou seja, não há


evidências concretas de que, posto em liberdade, o investigado atentaria contra a
ordem pública, a instrução criminal ou a aplicação da lei penal, impondo-se a
concessão da liberdade provisória, com base no art. 5º, LXVI, da Constituição

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Federal, e nos arts. 282, §6º, 310, III e 321, todos do Código de Processo Penal.
Pelo mesmo motivo, aos mesmos são adequadas e suficientes as medidas
cautelares não prisionais do art. 319 do Código de Processo Penal.

III – DO PEDIDO

Ante o exposto, requer-se a concessão de liberdade provisória ao


investigado, com ou sem a aplicação de medidas cautelares não prisionais, com
fundamento no art. 5º, LXVI, da Constituição Federal, e nos arts. 282, §6º, 310, III
e 321, todos do Código de Processo Penal.

Nestes termos, pede deferimento.

Vacaria, data do protocolo.

Juliana Maia Antoniassi


Defensora Pública

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