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O fator trabalho, em desemprego

Publicado no JCAM em 08 e 09 de fevereiro de 2009

Nilson Pimentel (*)

Nesses últimos tempos muito se tem falado da crise econômica mundial e de seus impactos
nas economias nacionais e regionais e todos os dias assistimos, atônitos, notícias catastróficas
no cenário mundial. O grande impacto da semana foi a notícia sobre a gigante transnacional
Panasonic, maior fabricante mundial de TV de plasma, que, por seus resultados negativos,
vultuosos no ano passado, decide que desempregará 15.000 (quinze mil) operários de suas
fábricas no mundo. E que, das suas 250 (duzentos e cinqüenta) fábricas, fechará 27 (vinte e
sete). Mais desemprego a vista.

Como se pode constatar, a desaceleração da demanda em todas as economias capitalistas


está provocando reestruturações organizacionais aceleradas, em face da crise mundial e das
incertezas do futuro do capitalismo.

Não é de agora que o mundo capitalista enfrenta o que se apropriou chamar de processo de
globalização financeira, que desaguou nessa crise atual. Entretanto, segundo a Professora
Maria da Conceição Tavares, "A globalização financeira, não é, portanto um fato 'natural',
provocado pelo 'mercado', mas foi o resultado deliberado de políticas financeiras da potência
hegemônica (Estado Unidos da America)”.

Como se viu, a ampliação desmensurada do sistema financeiro mundial, desconectado do


sistema produtivo, com seus lucros criados e apropriados através de mecanismos
especulativos, prejudicou sobremaneira o Fator Trabalho.

Efeito Socioeconômico

Nesse processo de desmonte do sistema financeiro especulativo e com o fim do


neoliberalismo, a reorganização capitalista ainda, às cegas, penaliza a mão de obra
trabalhadora, como o fator de produção mais vulnerável no sistema de produção pós-
fordista, ou como queiram sistema flexível de produção. Pois, o trabalhador, pouco ou nada
tem a perder, a não ser sua força de trabalho que fica desempregada do ciclo econômico,
como centro de geração de riqueza, inclusive da sua renda – remuneração do fator de
produção, Trabalho.

O que se vê, de todas as conseqüências provocadas pela crise, pouco se tem tratado da
questão do desemprego, das perspectivas sociais desse contingente de mão de obra
desempregada, das interferências no frágil tecido sócio-familiar e que providências o agente
Governo projeta, estrategicamente, para minimizar os graves efeitos disso na sociedade. Com
que políticas públicas poderá contar os trabalhadores para superar os desafios dessas
mudanças?
Vejamos o que afligem as economias nacionais e regionais, ainda no modelo econômico
antigo, é a questão do crescimento econômico, no qual requer a utilização dos fatores de
produção em combinações máximas racionais de pleno emprego, expansão da produção e
maximização dos resultados positivos.

Desigualdades do crescimento

Nas economias que se encontram em baixos estágios de desenvolvimento, mais que o


processo de crescimento, uma das dificuldades mais aparentes, é a questão do desequilíbrio
estrutural. Ou seja, o processo de crescimento econômico costuma se apresentar de forma
desigual, não apenas entre países e regiões, mas, também, entre setores econômicos
(primário, secundário, terciário e a indústria do turismo).

Através dos fatores da Teoria Endógena de Crescimento, tem-se tentado demonstrar a


importância de algumas variáveis que, até então, não eram sequer mencionadas na análise
dos elementos motivadores da expansão econômica.

O crescimento econômico no longo prazo, conforme nos ensina a teoria econômica


convencional, depende dos fatores de produção: capital e trabalho, bem como da tecnologia
que articula os quantitativos dos fatores de produção, para se obter determinado volume de
produto. O desenvolvimento da tecnologia produziu diversos efeitos:

1. Substitui a energia humana por outras formas, modificando o conceito de trabalho,


como fator de produção (o trabalho passa a ser avaliado pela capacidade de
aprendizado de novas técnicas e de gerenciamento da produção a flexibilização e o
conhecimento);
2. Cria modos de produção quase inteiramente artificiais, não fosse pela necessidade da
energia e das diversas formas de matéria-prima.

Como se pode denotar, o trabalho, como fator de produção, está na condição de


vulnerabilidade máxima nos processos produtivos dentro do ciclo econômico básico.

Dentro dessa visão, a primeira fase provocada por essa crise, foi a necessidade do sistema
capitalista, com a intervenção do agente Governo, “queimar capital”, na tentativa de superá-
la e retornar ao status quo anterior, o que nos pareceu inócuo, até o momento.

Na segunda fase está havendo a retração da produção, por encolhimento da demanda,


retração do crédito, com as conseqüências que conhecemos para o fator trabalho – o
desemprego. Assim, assistimos indústrias anunciarem dispensa de trabalhadores, reduções
de jornada de trabalho e de salários, férias coletivas e redução e adiamento de investimentos.
Isso tudo provoca, redução do poder de compra dos salários; eliminação de direitos; à
falência e fechamento de muitas empresas, com graves conseqüências para os trabalhadores.
Ainda, não estamos em recessão, e talvez nem ocorra.

Crise social
Como vimos, a crise financeira atingiu a economia real, podendo ocorrer a terceira fase que
será a crise social, provocada pela forte retração das atividades econômicas, aumentando o
desemprego da mão de obra em massa, com cenários de recessão e, até de depressão em
alguns setores da economia. O que ninguém almeja.

Contudo, a intervenção do agente Governo é primordial para minorar essa questão,


principalmente aqui no Amazonas, mais diretamente no Pólo Industrial de Manaus (PIM) e no
segmento do Comércio da capital. O impacto do desemprego em Manaus é crucial para o
tecido social, principalmente, quanto ao aumento da pobreza, da violência, da demanda por
saúde pública e de outras mazelas sociais provocadas pelo desespero pela ausência de renda.

O que temos assistido o Governo se movimentando por aumentar os Incentivos Fiscais


concedidos às indústrias, alargamento de prazos de recolhimentos de tributos ao comércio,
fechamento de acordos com determinados ‘pólos’ do PIM, como o de Duas Rodas e o de
Plástico, até o incremento nas obras do Prosamin, quer dizer existem alguns caminhos para
trilhar contra o desemprego estrutural estabelecido pela crise.

Impulso ao desenvolvimento

Também, reputamos como da máxima importância para a sociedade manauense, a escolha


de Manaus como uma das sub-sedes da Copa Mundo de Futebol em 2014. O Projeto Manaus
rumo à Copa, orçado em cerca de R$ 6 bilhões, terá a oportunidade de mostrar ao mundo,
como se coaduna o crescimento econômico sustentável com a preservação ambiental, com a
valorização do ecossistema amazônico, tendo a preservação da floresta como um marco
ambiental para a humanidade.

Por isso, o Projeto se reveste de classificada importância econômica ao desenvolvimento


regional local, injetando esse volume de recursos numa economia com graves problemas de
desemprego, será a retomada de um crescimento, em curto prazo, até maior que os
resultados do PIM.

Essa intervenção que poderá ser feita mediante obras públicas do Projeto, de composição e
recomposição da nossa infra-estrutura, gerando encomendas para o setor privado, gerando
grande massa de emprego e renda em Manaus. Portanto, todos amazonenses estão
clamando por essa vitória de Manaus. Então, que venha a Copa 2014.

(*) Economista, Engenheiro, e administrador de empresas, com pós-graduação:


MBA in Management (FGV), Engenharia Econômica (UFRJ), Consultoria Industrial
(UNICAMP), Mestre em Economia (FGV), Consultor Empresarial e Professor Universitário.
nilsonpimentel@uol.com.br

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