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CAPITULO 11 EE Abordagens basicas sobre lideranca Depois de ler este capitulo, vocé seré capaz de: Compara lideranga # administragao, Resumir as conclus6es das teorias dos tragos. Identiticar as limitagdes das teorias comportamentais. Descrever 0 modelo da contingéncia de Fiedler. Explicar @ teoria situacional de Hersey @ Blanchard. Resumir a teoria da troca entre lider e liderado. Descrever a teoria da meta e do camino. SAO TEENS Identificar as varidveis situacionais no modelo de participacao @ lideranca. ma pessoa pode fazer diferenga no diminuiam. Mas, apenas quatro semanas depois desempenho de uma organizacdo? Andrea de assumir 0 cargo, Jung pos em marcha um plano Jung, presidente da Avon Products (foto), _para reverter a situagdo. A Avon Iria langar uma esté provando que sim.’ Jung entrou para a Avon em 1984, depois de ter trabalhado em empresas varejistas como a Neiman Marcus € a Bloomingdale's. Sua fungdo original na Avon era eriar uma marca internacional. E foi o que ela fez. Jung integrou e padronizou a logomarca, 8s, embalagens e a propaganda da empresa para criar uma imagem uniforma, Ela deu forga ao atual slogan dda organizacao: “Uma empresa para as mulheres”. Por causa de sou sucesso em melhorar 0 enfoque de marketing da Avon, Jung foi nomeada presidente dda empresa pelo conselho de administragao em novembro de 1999. A empresa que Jung assumiu tinha sérios problemas. Os dias de gloria pareciam ter ficado para tds. Cada vez menos mulheres se candidatavam @ atuar como representantes da empresa e as vendas 258 —_Comportamento Organizacional linha totalmente nova de negocios, desenvolver produtos de forte apelo, vender seus produtos em lojas de departamento ¢ expandir signiticativamente ‘suas vendas internacionais. Ela aumentou em 46 por cento 0 orgamento do setor de pesquisa o desenvolvimento para permitir que os novos produtos fossem comercializados logo. Isto levou ao langamento do Retroactive, um creme de rejuvenescimento que se tornou um sucesso imediato de vendas, além de ‘uma linha nova de vitaminas e 6leos torapéuticos. Ela trouxe uma nova vida para as revendedoras Avon, Para reconstruir a forca de vendas da empresa, Jung jou um programa de marketing que recompensa as revendedoras atuais que consequirem novas representantes. Pola primeira vez em muitos anos, ‘© numero de roprosontantes de vendas da Avon ‘aumentou. Finalmente, aps um movimento agressivo 1n0 mercado internacional, corca de dois tergos do faturamento de 6,2 bilhdes de délares de Avon hoje vvom de fora dos Estados Unidos. Depois de quatro anos no cargo, a lideranga de Jung realmente fez a diferenca no desempenho da empresa, ‘As vendas cresceram 4 por conto ao ano. Os lucros, foram 20 por cento maiores em 2002. E 0 valor das ages da empresa subiu 99 por cento desde que Jung assumiu a presidéncia, analisar as trés abordagens basicas para a determinacio do que fax um lider cfieaz ¢ 0 que diferencia um ider de um nio-lider. Primeiro, vamos apresentar as teorias dos tracos. Elas dominaram os estudos sobre lideranca até o final da década de 1940. Depois, discutiremos as teorias comportamentais, que foram populares até 0 final dos anos 60. Finalmente, falaremos das teorias contingenciais, que sio 2 abordagem dominante no ‘estudo atual da lideranca, Mas, antes de tudo, vamos esclarecer 0 que significa 0 termo lideranca, C ‘omo Andrea Jung demonstra na Avon, os lideres podem fazer toda a diferenca. Neste capftulo, vamos O que é lideranga? Lideranca ¢ adninistracdosio dois termos que costamam ser confundidos. Qual é a diferenga entre eles? John Kotter, da Harvard Business School, argumenta que a administracao diz respeito ao enfrentamento da complexidade.* A boa administracao traz ordem e consisténcia por meio da elaboracio de planos formais, do projeto de estruturas organizacionais rigidas ¢ da monitoragao dos resultados em comparacao com os planos. A lideranca, por outro lado, diz respeito 20 enfrentamento da mudanga. Os Iideres estabelecem diregoes através do desenvolvimento de uma visio do futuro; depois, engajam as pessoas comunicando-Ihes essa visio e inspirando-as. ‘a superar os obstéculos. Robert House, da Wharton School da Universidade da Pensilvinia, concorda, em principio, quando dia que 0 administrador ttiliza a autoridade natural de sua posi¢io na organizacio para obter o comprometimento dos membros.* A administracio consiste na implementacao da visio e da estratégia oferecidas pelos lideres, coorde- nando a organizacio e fornecendo-he recursos humanos, bem como tratando dos problemas do diaa-dia Embora Kotter ¢ House oferecam definicées separadas para os dois termos, tanto pesquisadores como execu- tivos raramente fazem essa distincio. Precisamos, portanto, apresentar a lideranca de um modo capaz. de refletir como ela é utilizada na teoria e na pritica. Definimos ideranga como a capacidade de influenciar um grupo para aleangar.metas. A orig cia pode ser fornal, ono a que € vonferidla por um alto Caigy na organicaya. Como essas posigées subentendem uum certo grau de autoridade, uma pessoa pode assumir umn papel de lideranga apenas em funcio do cargo que ‘ocupa. Nem todos os lideres sao administradores e nem todos 0s executivos sio lideres. O fato de a organizacao conferit a seus executivos alguns dircitos formais nao thes assegura a capacidade de lideranca eficaz. A lideranca no sancionada — aquela capacidade de influenciar os outros que emerge fora da estrutura formal da organiza- co — geralmente é tio importante quanto a influéneia formal, ou até mais, Em outras palavras, os lideres podem surgir naturalmente de dentro de um grupo ou por indicagao formal Devemos notar que nossa definicio nao faz mengao especifica a uma visio, embora tanto Kotter quanto House sem 0 termo para diferencia lideranca de administrag0. Essa omiss4o ¢ proposal. Embora a matoria das discus- Bes atuais sobre 0 conecito de lideranga (veja 0 Capitulo 12) inclua a articulagio de uma wisi em comum,* quase todos os trabalhos anteriores aos anos 80 nao fazem qualquer referencia a isto, Para que nossa definicao possa abran- ger as duas abordagens de lideranga, a histérica e a contemporanea, nao fazemos uma referéncia explicita a visio. Um ltimo comentario antes de prosseguirmos: as organizacées precisam de lideranea forte ¢ administracio forte para atingir sua eficécia étima. No mundo dindmico de hoje, precisamos de lideres que desafiem o status CAPITULO 11 Abordagens bésicas sobre lideranca 258 quo, criem visbes de futuro e sejam capazes de inspirar os membros da organizacio a querer realizar estas visdes. ‘Também precisamos de executivos para elaborar planos detalhados, criar estruturas organizacionais eficientes € gerenciar as operacdes do diaa-dia. Teorias dos tracos Quando Margaret Thatcher era primeira:ministra da Gri-Bretanha, costumava ser enaltecida por sua capack dade de lideranga. Ela era descrita como confiante, portadora de uma vontade de ferro, determinada e decidida Estes termos se referem a tracos de personalidade. Ao utilizar estes tragos para descrevé-la, seus criticos e defenso- 1s, talvez sem se darem conta, tornaram-se seguidores das teorias dos tracos. Ha muito tempo, a midia tem seguidores das teorias dos tragos de lideranea — que diferenciam lideres dos ndo-ideres com base nas qualidades € caracteristicas pessoais. Eles identificam pessoas como Margaret Thatcher, Nelson Mandela, Richard Branson (presidente do Virgin Group), Steve Jobs (co-fundador da Apple), Rudolph Giuliani (ex-prefeito de New York) € Kenneth Chenault (presidente da American Express) como lideres ¢ os descrevem usando termos como carismaticos, entusiastas & corajosos. A midia ndo esta sozinha nisso. A procura por 1tragos sociais,fisicos, intelectuais ou de personalidade que possam descrever os lideres e diferencisilos dos demais remonta a década de 1930, Muitas das pesquisas para identificar os tacos responsdveis pela capacidade de lideranca deram em nada. Por exemplo, uma revisio de 20 trabalhos nessa linha, feita no final dos anos 60, identificou quase 80 tracos de lideranga, mas apenas cinco eram comuns a quatro ou mais estudos.® Por volta dos anos 90, depois de muitos estuddos ¢ analises, 0 maximo que se poderia dizer € que os sete tracos seguintes pareciam diferenciar os Iideres > e energia, desejo de liderar, honestidade e integridade, autoconfianca, inteligencia, ele- vado automonitoramento, conhecimentos relevantes para o trabalho.® Mas a capacidade de prever a lideranga a partir destes tracos continua modesta ‘Uma certa novidade surgiu quando os pesquisadores comecaram a organizar os tracos com base no modelo Big Five de personalidade (veja no Capitulo 4)." © que ficou claro € que a maioria dos varios tracos identificados znas pesquisas sobre lideranca podiam ser incluidos em cada uma das dimensdes daquele modelo, e que o modelo Big Five dava apoio forte e consistente aos tracos como previsores de lideranca. Por exemplo, ambicao e energia sdo parte da extroversio, e a autoconfianca é parte da estabilidade emocional Amplas revisdes da literatura sobre lideranca, quando organizadas com referéncia ao modelo Big Five, tém. demonstrado que a extroversio € 0 traco mais importante do lider eficaz.* Mas os resultados mostram que a extro- versdo esti mais associada a emergéncia do Ider do que a sua eficacia. Isto nao é surpreendente, ja que as pes- soas mais sociveis e dominantes costumam se impor em situacdes de grupo. A consciéncia e a abertura para novas experiéncias também ‘mostraram uma relacio forte ¢ consistente com a lideranca, mas no tho forte quanto a extroversio, Os tracos amabilidade e estabilidade ‘emocional nao parecem ser muito valiosos para indicar lideranca. Com base nas titimas descobertas, chegamos a duas conclusdes. A primeira é que os tracos podem indicar a lideranga. Ha vinte anos, as evidencias apontavam para o contratio, Mas, provavelmente, isto deveu-se & auséncia de uma estrutura valida para classificar e organt- zar 0s tragos. O modelo Big Five resolveu a questo. A segunda con ar Kemmsios taptvee As teorias dos tragos no testudo da lideranga baseiam- se nas caracteristicas pessoais 1 do lider. Por exemplo, 20 | descrever o presidente da | ‘American Express, Kenneth | Chenault, a miaia usa termos | como inteligente, soclavel, utoconfiante, positive, responsével, aticulado, lenérgico e ético. Comportamento Organizacional ENFOQUE NA MiDIA 260 tf No outono de 2002, a revista Taining @ o Center for Creative Leadership realizaram uma pesquisa com mais de 250 executvos para identiicer quais as competéncias us eles julgavarn mais importantes para 0 desempenho da ideranca. Entre os respondentes, 54 por cento eram ho: ‘mens @ 46 por cento mulheres. Eles epresentavam todos os nveis na acmin'stracéo: par exemplo, 28 por cento eram altos executivas e 48 por cento estavam em posindes de ‘bana ou média hiererquia ‘A pesquise revelou que todos consideravam que a étca, a integridade e os valores estavam no topo das compatén- clas exigidas. Isto néo foi surpresajé que a pesquisa foi rea lizada logo depois da divulgagéo dos escandalos envolven- do executivos de ernoresas como Enron. Tyco. WorldCom Arthur Andersen, indiciados por préticas antiticas(e, em alguns casos, legals). Os respondentes acreditavam que, Executivos falam sobre competéncias para — lideranca para serem eficezes, os ideres precisam ser respeitados. Elas tom de ser vistos como honestos @ confidveis. Por isso, a importancia da ética, da integridade © dos valores. Em uma escala de 0 a 5, estas competéncias ficaram com uma pontuagio méaia de 4,7 Avalrizagdo de algunas competéncias variava de acordo com 0 nivel hierérquico do respondent Para os executivos de nivel médio, a comunicago (7) fcava um pouco acima 4a 6tca (4,69) na escala do importancia. Nos atos escalbes, a competénciarrais importante er a habildade de crar © ar ‘ieular uma visdo ciara para a organizacdo (4,89), com a ética| recebendo uma pontuaco média de 4.8, Entre estes execur ‘vos, 90 por cento dissaram qua o desenvolvimento da visto era o mais importante, enquanto entre os escalées hierér {quicos mais baixos apenas 19 por centocitarar a criagao da ‘iso entre 25 competéncias mais importantes, ate: sesso em J. Schetl, “Leacrahio in corporate mse", Ting, 8 7002 9.0877 clusio é que 0s tracos funcionam melhor para prever o surgimento da lideranca do que para distinguir entre lideres fleazese ineficazes® O fato de um individuo apresentar determinados tracos e ser considerado umn lider pelos demais ‘do significa, necessariamente, que ele sera bem-sucedido em liderar seu grupo para o alcance dos objeuwvos. Teorias comportamentais As falhas dos primeiros estudos sobre tracos levou os pesquisadores a seguir por outra direcio do final dos anos 40 até a década de 1960, Eles comecaram a analisar 0 comportamento exibido por certos lideres e proc ravam descobrir se havia alguma coisa especifica na maneira de se comportarem. Para utilizar exemplos atuais, ‘Thomas Charlton, presidente da Tidal Software, ¢ Tom Siebel, presidente da Siehel Systems, foram muito hem. sucedidios na lideranca de suas organizacdes através de tempos dificeis.!° E ambos possuem um estilo semelhante de lideranca — incisivo, intenso € autocratico. Isto poderia ser uma sugestio de que o estilo autocrético seria 0 estilo preferencial para os lideres? Nesta seco, vamos examinar quatro diferentes teorias comportamentais de lideranea para tentar responder a esta pergunta Primeiro, porém, vamos considerar as implicagées praticas da abordagem comportamental. Se a abordagem comportamental tivesse sucesso, as implicagdes teriam sido completamente diferentes daque- las da abordagem dos tracos. Se as teorias dos tracos tivessem sido comprovadas, teriam proporcionado uma hase para a selegdo das pestoas “certas” para assumir posigSes formais em grupor © orga lideranca. Em comparacao, se a abordagem comportamental conseguisse identificar os determinantes criticos do comportamento dos lideres, entio serfamos capazes de treinar as pessoas para a lideranca. A diferenca entre as abordagens dos tracos e a comportamental, em termos de aplicabilidade, esta em suas premissas bisicas. As teorias dos tragos pressupdem que os lideres nascem com suas caracteristicas de lideranca, € no que eles se for- mam lideres, Por outro lado, se existissem comportamentos especificos que identificassem os lideres, a lideranca ser ensinada — poderfamos elaborar programas para implantar esses padroes comportamentais nos 10s que desejassem tornarse Iideres eficazes. Este seria um caminho muito mais estimulante, jé que se presume que o grupo de lideres poderia estar sempre em expansio. S¢ o treinamento funcionassc, teriamos um Celciro inesgotavel de Hideres eficazes izager que buscavam Estudos da Universidade Estadual de O As teorias comportamentais mais abrangentes e mais reproduzidas resultaram ce uma pesquisa iniciada no final dos anos 40 na Universidade Estadual de Ohio.!! Os pesquisadores buscaram identificar dimens6es inde- CAPITULO 11 Abordagens bisieas sobre lideranga 261 Thomas Siebel, presidente da Siebel Systems, classifica. fe hem em actrutira ce iniciagao. Depois de prever tuma reduce no mercado para seus softwares, ele logo Fedesenhou seu orcamento eum plano de cortes de Custos. Demitiu 10 por cento de seus funcionaries, cortou as despesas com viagens pela metade e reduziu os custos Ge recrutamento de 8 para 1 milhao de délares. O estilo de lideranga de Siebel enfatiza o corte de custos como forma de atingir as metas de lucratividade da empresa. pendentes do comportamento do lider. Comecando com mais de mil dimensdes diferentes, foram afunilando a lista até chegar a duas categorias que sio substancialmente responsiveis por boa parte do comportamento de lideranca descrito por funcionsirios. Eles chamaram estas duas dimensdes de estrutura de iniciacéo © conside ragao. A estrutura de iniciacao se refere & extensio em que um lider é capaz de definir e estruturar o seu proprio papel e o dos funcionérios na busca do alcance dos objetivos. Isso inclui 0 comportamento que tenta organizar © trabalho, as relacdes de trabalho e as metas. O lider com alto grau de estrutura de iniciagao pode ser dlescrito como alguém que “delega tarefas especificas aos membros do grupo”, “espera que os trabalhadores mantenham, padrdes definidos de desempenho” ¢ “enfatiza o cumprimento dos prazos". Thomas Charlton e Tom Siebel tram esse tipo de comportamento em alto grau. A consideragio é descrita como a extensio em que uma pessoa & capaz de manter relacionamentos de trabalho caracterizados por confianga miitua, respeito as idéias dos funcionsirios ¢ cuidado com os sentimentos deles, Esse Nider demonstra preocupacao pelo bem-estar, conforto, status e satisfacao de seus liderados. Um lider com alto grau de consideracio pode ser descrito como alguém que ajuda seus funcionirios em seus problemas pessoais, é amigavel e disponivel e tata como iguais todos os subordinados. O presidente da AOL Time Warner, Richard Parsons, demonstra esse tipo de comportamento em alto grau. Seu estilo de lideranca é voltado para as pessoas, ‘enfatizando a cooperacio dos funcionarios e o consenso. ‘Muitas pesquisas baseadas nessas definicdes indicam que os lideres com alto grau de estrutura inicial e de con- sideracio (um lider “alto-alto”) costumam obter altos indices de desempenho ¢ satisfacio dos funcionarios com iaior freqiiéncia do que aqueles com baixa pontuacio em uma dessas dimensdes ou em ambas, Contudo, 0 estilo “alto-alto” nem sempre tem conseqiiéncias positivas. Por exemplo, o comportamento de lideranca caracterizado. pelo alto grau de estrutura de iniciacio leva a maiores indices de reclamacées, absenteismo € rotatividade e a indices mais baixos de satisfacdo entre os trabalhadores que executam tarefas rotineiras. Outros estudos demons- tram que o alto grau de consideracio esté negativamente relacionado a avaliacio do desempenho do lider por seus superiores. Concluindo, os estudos da Universidade Estadual de Ohio sugerem que o estilo “alto-alto” geral mente traz resultados positivos, mas existem excegdes suficientes para indicar que os fatores situacionais precisam. ser integrados A teoria. Estudos da Universidade de Michigan Estudos cobre Hideranga realizados pelo Survey Research renter da Universidade de Michigan, contempor neos aqueles da Universidade Estadual de Ohio, tiveram um objetivo similar de pesquisa: identificar as caracteris: ticas comportamentais dos lideres que pudessem estar relacionadas com o desempenho eficaz (© grupo de Michigan também chegou a duas dimensdes do comportamento de lideranga, que foram che madas de orientagio para o funcionério c orientagio para a producio.!® Os lideres vistos como orientados para 6 funcionarios foram descritos como enfatizadores das relacdes interpessoais; cemonstravam interesse pessoal 262 Comportamento Organizacional nas necessidades de seus funcionarios e aceitavam as diferencas entre os membros do grupo. Os Iideres orientados para a produgio, por seu lado, tendiam a enfatizar os aspectos técnicos e praticos do trabalho — sua principal preo- ‘cupacao estava na execucao das tarefas do grupo e seus membros eram apenas o meio para se atingir um fim. ‘As conclusées a que chegaram 0s peequiadores de Michigan foram extremamente favoraveis ao comport mento dos Iideres orientados para os funciondrios. Esse tipo de Tideranca estava associada a uma maior produti- vidade do grupo € a mais satisfacao com o trabalho. Os Iideres orientados para a producio estavam associados a dices mais baixos de produtividade e de satisfacao. O grid gerencial A representacio grafica de uma visio bidimensional dos estilos de lideranga foi desenvolvido por Blake € Mouton.'* Eles propuseram um Grid Gerencial (por vezes também chamado de grid da lideranca) baseado nos estilos “voltado as pessoas” e “voltado a producao”, que representam, essencialmente, as dimensoes encontradas tanto em Ohio como em Michigan, O grid, exibido no Quadro 11-1, tem nove posicdes possiveis 20 longo de cada eixo, criando, assim, 81 posigies diferentes, nas quais se pode colocar o estilo de lideranca. O grid ndo mostra os resultados produzidos, mas sim os fatores dominantes na forma de pensar do lider em relagao & obtengio de resultados. Com base nesses achados de Blake e Mouton, descobriuse que os executivos tém melhor desempenho em um estilo 9,9, em comparacio, por exemplo, com um estilo 9,1 (tipo autoritirio) ou 1,9 (tipo laisseefaire).® Infelia- o grid oferece apenas uma melhor estrutura para a conceitualizacio do estilo de lideranca, sem apresentar qualquer nova informacao tangivel para o esclarecimento da questio da lideranca, j4 que ha pouca evidéncia substancial para se afirmar que o estilo 9,9 o mais eficaz em todas as situacdes.1° Estudos escandinavos [As ués abordagens que acabamos de discutir foram desenvolvidas essencialmente entre 0 final da década de 1940 ¢ 0 inicio dos anos 60. Blas evoluiram durante uma época em que 0 mundo era muito mais estavel e previ sivel. Acteditando que esses estudos nio conseguiram captar a realidade mais dindmica dos dias atuais, pesqui- sadores da Finlandia e da Suécia comecarama reavaliar se existem mesmo apenas duas dimensbes para capturar a esséncia do comportamento de lideranca.*” A premissa bisica € que, em um mundo em mudangas, os Tideres eficazes devem exibir um comportamento orientado para o desenvolvimento. Fsses seriam lideres que valorizam a experimentacio, buscam novas idéias, geram e implementam mudancas. Os pesquisadores escandinavos fizeram uma revisio dos dados originais da pesquisa de Ohio. Descobriram que aqueles pesquisadores haviam incluido itens de desenvolvimento, tais como “busca de novas formas de fazer as coisas", “iar novas abordagens para os problemas” ¢ “encorajar as pessoas ainiciar novasatividades”. Mas esses itens, naquela 6poca, nao tinham muito a ver com a lideranca eficaz. Segundo os pesquisadores escandinavos, iso se deve a0 fato de 0 desenunivimenta cle nawas idéias ¢ a implementagio de mudancas naa serem fatores exfticos naquele tempo. No ambiente dinamico de hoje, a realidade é outra e, por isso, 08 pesquisadores conduziram TTTT TT es Boixo t—~ Vollado ‘a produgdo Alo | io 9 19 29) | fe | i ~ 1 7 | i Be? | gis 55 | gk 3*, | a | 2 toro 1) | en; CAPITULO 11 Abordagens bésicas sobre liderancs 263 novos estudos para descobrir a existéncia de uma terceira dimensiio — a orientacdo para o desenvolvimento —relacionada com a lideranga eficaz Essa evidéncia € positiva. Trabathando com amostras de Iideres na Finlandia e na Suécia, os pesquisadores encon- yam embasamento significative de que o comportamento de lideranca orientado para o desenvolvimento € uma dimensio separada e independente. As abordagens anteriores que enfocavam apenas dois tipos de comportamento do mais capturavam adequadamente a lideranca no século XXI. Além disso, embora as conclusbes iniciais ainda ‘precisem de mais evidéncias para confirmacao, tudo indica que os lideres que exibem comportamento orientado 20 desenvolvimento contam com funcionarios mais satisfeitos e sio vistos por estes como mais competentes. Resumo das teorias comportamentais ‘As teorias comportamentais obtiveram um sucesso modesto na identificacio de relacdes consistentes entre 0 comportamento de lideraiga © o desempent du grupo, O que pareve estar Lataudo € a consideragdo dos fatores situacionais que influenciam o sucesso ou o fracasso. Por exemplo, parece pouco provivel que Martin Luther King pudesse er sido o mesmo lider na luta pelos direitos civs se tivessevivido nas primeiras décadas do século XX. Ralph Nader teria sido o mesmo ativista pelos direitos dos consumidores se, em ver de ter nascido em Connecticut em 1984, nascesse na Costa Rica em 1884? Parece pouco provavel, embora as abordagens comporta- ‘mentais que discutimos aqui no esclarecam fatores situacionais como esses Teorias das contingéncias Linda Wachner tem a reputacio de ser uma chefe extremamente rigida. E, durante muitos anos, scu estilo funcionou. Em 1987, ela se tornou presidente da Warnaco, uma empresa de confeccdes com receita anual de 425 milhées de délares. Em um perfodo de 14 anos, ela aumentou o faturamento da empresa para 2,2 bilhoes de délares, com produtos que vao dos jeans Calvin Klein até as roupas de banho Speedo. Apesar de seu estilo rispido, que incluia freqientes cenas de humilhagao de funcionsrios diante de seus colegas e que resultava em uma rpida rotatividade de executivos, a maneira de Wachner administrar funcionou durante a maior parte dos anos 90. De fato, em 1993, a revista Fortuneapontowa como a “mais bem-sucedida mulher de negécios dos Estados Unidos". Mas os tempos mudaram e Wachner permaneceu a mesma.'* No inicio de 1998, os negécios da empresa comecaram a enfrentar dificuldades com a reducao da demanda de seus produtos e uma perda acelerada de sua participacio de mercado. A abordagem truculenta e as titicas agressivas de Wachner, que jf haviam afastado varios executives competentes, agora também distanciavam os credores € licenciadores, além dos funcionarios. Em junho de 2001, a Warnaco foi obrigada a pedir concordata. Cinco meses depois, 0 comité de reestruturacao do consetho de adininistracao da empresa decidiu demitir Wachner. Aaascensio e queda de Linda Wachner ilustra o que se torna cada vez mais claro para os que estudam o fend- ‘meno da lideranca ha décadas: prever o sucesso da lideranca é muito mais complexo do que identificar alguns poucos tracos ou comportamentos preferenciais. O que funcionou na Warnaco nos anos 90 deixou de funcionar em 2000. A impossibilidade de obter resultados consistentes levou os pesquisadores a enfocar as influéncias da situa do. A relacio entre estilo de lideranca e sugere que, sob uma condicao a, o estilo x pode ser adequado, enquanto 0 estilo y é mais indicado para a situacio , € o estilo z mais apropriado para a situagio c. Mas 0 que seriam essas situagdes a, be @ Uma coisa é dizer que a eficacia da lideranca depende da situacio, outra é ser capaz de identificar essas condicdes situacionais, Algumas abordagens para a identificagio de varidveis situacionais bisicas tiveram mais sucesso que ontras 6, assim, receberam amplo reconhecimento. Vamos considerar cinco delas: o modelo de Fiedler, a teoria situacional de Hersey e Blanchard, a teoria da troca entre lider e liderados ¢ os modelos de meta ¢ caminho e de participacio e lideranga. © modelo de Fiedler 0 primeiro modelo contingencial abrangente de lideranca foi desenvolvido por Fred Fiedler.!9 O modelo da contingéncia de Fiedler propde que a eficacia do desempenho do grupo depende da adequacao entre o estilo do Ider € 0 grat de controle que a sitaucae Ihe proporciona, Identificacao do Estilo de Lideranca Fiedler acredita que um fator essencial para 0 sucesso é 0 estilo de lideranca do individuo, Assim, ele comeca por tentar descobrir qual é 0 estilo bisico. Fiedler elaborou o questio- nério do colega menos preferide (LPC’) para esse fim. Seu propésito é avaliar se uma pessoa € orientada para C= Least Prefered Co:orker(N.T) 264 Comportamento Organizacionsl ‘A ascensao e queda de Linda Wachner (na frente, na foto) no comando {da Warnaco ilustra a relacio entre o estilo de lideranca e as influéncias situacionais. 0 estilo de Linda, orientada para a produsao, foi eficaz ata @ empresa eriquarto ela atravessava um perfodo de robustez econdmica, Mas, quando os negécios da Warnaco enfrentaram problemas, o estilo de lideranca dela tornou-se um aspecto negative. 0s relacionamentos ou para as tarefas, O questiondrio LPG comtém 16 adjetivos contrastantes (como agradvel-desagradivel, eficiente— ineficiente, aberto-reservado, apoiador-hostil). Pede-se aos respon: dentes que pensem em todos os colegas que jé tiveram e selecio- nem aquele com quem gostaram menos de trabalhar, classificando-o em uma escala de I a 8 em todos os 16 pares de adjetivos. Fiedler acredita que, com base nessas respostas, podese determinar o estilo bbasico de lideranca de cada pessoa. Se 0 colega menos querido for descrito com termos relativamente positives (uma alta pontuacio LPO). 0 respondente estara basicamente interessado em manter uma boa relagio com ele. Se vocé descrever em termos favordveis a pessoa com quem menos gostaria de trabalhar, Fiedler 0 rotulard de orientado para o elacionamento. Ao contrério, se o colega menos prefe- rido for descrito em termos relativamente desfavoraveis (uma baixa pontuacio LPC), 0 respondente estara basica- ‘mente interessado na produtividade e, assim, sera rotulado como orientada para a tarzfa. Cerca de 16 por cento dos respondentes pontuam na média.® Essas pessoas no podem ser classificadas em nenhuma das duas orientacées, ficando, portanto, fora da previsio da teoria, Deste modo, o restante de nossa discussio refere-se apenas aos 84 por cento que se situam nos extremos de pontuacio de LPC. Fiedler parte do principio de que o estilo de lideranca de uma pessoa é fixo. Como mostraremos a seguir, isso € importante porque significa que, se uma situacio requer um lider orientado para a tarefa e a pessoa na posicao de lideranca é orientada para o relacionamento, ou a situagio tera de ser modificada ou o lider substituido para que se possa obter a eficacia étima. Definindo a Situagdo Depois que o estilo bisico de lideranca do individuo for avaliado por meio do ques- tionirio LPC, sera necessirio adequar a pessoa A situacdo. Fiedler identifica trés dimensdes contingenciais que, ra sua opiniao, definem os fatores situacionais basicos que determinam a eficacia da lideranca, Sao clas as rela- des entre Ider e liderados, a estrutura da tarefa e o poder da posicio. Essas dimensdcs aio definidas da seguinte 1. Relacio entre lider e li em seu lider 2, Estrutura da tar ou no estruturadas) 3. Poder da posicao: O grau de influéncia que um lider tem sobre as varidveis de poder, tais como 0 poder de contratar, demitir, comar agdes disciplinares, conceder promocdes e aumentos salariais lerados: o grau de confianga, credibilidade respeito que os membros do grupo tém grau de procedimentos estabelecidos no trabalho (ou seja, se as tarefas so estruturadas © passo seguinte no modelo de Fiedler é avaliar a situagao em relagao a essas trés variaveis contingenciais. A relagao entre lider e liderados é boa ou ruim, 0 grau de estrutura da tarefa é alto ou baixo e © poder da posicio é forte ou fraco, Segundo Fiedler, quanto melhor a relacio Iider-liderados, mais alto o grau da estrutura da tarefa e mais forte © poder da posicio, mais controle o lider tem. Um exemplo de situacio altamente favoravel (na qual o lider pos- sui um grande controle) pode ser a de uma gerente de pessoal respeitada por subordinados que confiam nela (boa relagio lider-iderados), cujas atividades — como 0 preenchimento de formulirios, o processamento da folha de pagamento e o preenchimento de cheques — sio claras e especificas (alto grau de estrutura de tarefa) ¢ ela tem consideravel liberdade para recompensar ¢ punir os subordinadas (forte poder de posicio). Por outro Indo, poderiamos ilustrar uma situagio desfavoravel como a do chefe pouco estimado de uma equipe de volunté- rias que trabalham no levantamenta de doacées de fandos — situacio em que o lider tem pouquissimo controle. ‘No conjunto, combinando as trés varidveis contingenciais, temos oito situagdes potenciais ou categorias diferentes em que um lider pode se encontrar: CAPITULO 11 Abordagens bésicas sobre liderange 268 ‘Adequando os Lideres as Situagdes Com os resultados do questionétio LPC do individuo e a avaliagio das variéveis contingenciais, o modelo de Fiedler propée que se faca a adequacio entre eles para se chegar 20 maximo de eficacia na lideranca?! Com base em sua pesquisa, Fiedler concluiu que os lideres oriemtados para a tarefa tendem a ter melhor desempenho em situagSes extremamente favoraveis ou extremamente desfavordy a cles (veja 0 Quadro 11-2), Fle prevé que esse tipo de Iider tem melhor desempenho quando enfrenta situagaes das categoria I, 1, JI, VIS ou VIL Os Kideres orientados para o relacionamento, entretanto, tém melhor desem- penho em situacdes moderadamente favordveis — categorias de IV a VI. Recentemente, Fiedler condensou essas ito categorias em apenas txés. Ele agora afirma que os lideres orientados para a tarefa tm methor desempenho «em situacbes de alto e baixo controle, enquanto os lideres orientados para o relacionamento tém melhor desem- penho nas situagSes de controle moderado, ‘Tendo em vista essas descobertas de Fiedler, como voce as aplicaria? Vocé procuraria adlequar o Wider situacac Os resiltadins de questionsria LPC via determinar o tipo de simacio para a qual Wider é mais indicado. Asta. ao” seria definida pela avaliacao dos trés fatores contingenciais, ou seja, a relacao entre o lider € 0s liderados, a estrutura da tarefa e 0 poder da posicio. Mas lembrese de que Fiedler entende o estilo de lideranca individual como uma coisa fixa, Portanto, existem, na verdade, apenas duias formas de melhorar a eficdcia da lideranca. Primeiro, voce pode mudar o lider para atender & situacio. Em uma partida de futebol, 0 técnico pode escalar mais jogadores de ataque ou de defesa, dependendo do jogo. Assim, por exemplo, se a situacao de um grupo € extremamente desfavorivel ¢ ele esté sendo liderado por alguém orientado para o relacionamento, o desem- penho do grupo pode melhorar se esse lider for substituido por alguém orientado para a tarefa. A segunda lternativa seria modificar a sinuacio para adequisa ao lider. Isso poderia ser feito através da reestruturacio das tarefas, aumentando ou diminuindo © poder do lider para controlar fatores como salétios, promogdes e acbes isciplinares. 7 ‘Avaliagdo No geral, a revisio dos principais estudlos que testaram a validade do modelo de Fiedler chegou a uma conclusio positiva. Existem evidéncias consideraveis para apoiar pelo menos uma parte substancial do modelo. Se as previsies feitas a partir desse modelo usassem apenas trés categorias, em vez das oito originais, hraveria uma ampla evidéncia para apoiar as conclusées de Fiedler." Mas o questionatio LPC e a utiizacao pritica do modelo tém alguns problemas que precisam ser examinados, Por exemplo, a ldgica que norteia 0 LPC nio € muito clara e alguns estudos revelaram que seus resultados nao sio estiveis*° Alem disso, as variveis contin- sgenciais sio complexas e dificeis de serem avaliadas na pratica. Geralmente € complicado avaliar, na pratica, se a relacio lider-liderados € boa, como sio estruturadas as tarefas e qual © poder de posicio que o lider detém.2* Teoria do Recurso Cognitive Recentemente, Fiedler ¢ um colega, Joc Garcia, reconceitualizaram a teoria original.” Mais especificamente, eles se concentraram no papel do estresse como forma de desvantagem situacio- ~ Orienade pore a trefa Crentado nota 0 eloionamento Dorempenho—> Froco Cowgoio 1 hh MM Palogdee dor Kdeodce Soe Bon Bow © Boe Baim ulm Baim Baim Esruue doterels Aho Ala Bato Baixo Ako Alo Baka Baia Poder da posido Forte Fraco Fote Fraco Forte | Fraco Forte Froco 266 Comportamento Organizacional MITO OU CIENCIAg “Ea experiéncia que contal” A-crenga de que a experiéncia & um bom indicador da eficacia da lideranca & bastante forte © emplamente aceita. Infelizmente, a experiéncia, por si s6, no ¢ um bom indi cador da eficécia da lideranga® As empresas procuram cuidadosamente candidatos para os cargos mas altos com base om suas expariéncias. Da masma forma, as empresas rormalmente exigem varios anos de experiéncia em algum nivel da organizacéo antes de considerar promacéo de um individuo, Vooé algums vez jé fez uma entrevista de empre- g0 em que ndo fosse perguntado sobre suas experiéncias Profissionais? Obvigmente, a administrecio acredita que a exporigncia é um dado importante. Mas 2 evidéncia néo corrobore esta crenga, Estudios envolvendo oficiis militares, equines da pesquisa @ desenvolvimento. supervisores dela js, gorentes de agGncias de coreio e dietores de escolas rmostram que as executivas mais exnerientes néo séo mais ceficazes do que aqueles com poucs experiéncia (Uma das falnas na logica do "a experiéncia 6 que conta” 6 0 pressuposto de que o tempo passado em uma mesma fungéo seja uma medida valide de experiéncia, O tema0 nada revela de qualidade da experincia. O fato de uma pes- nal e em como a inteligen teoria do recurso cognitivo a essa reconceitualiza¢io. Aes 50a estar no mesma fungéo ha 20 anos © outa hd apenas ois nao significa, necessariamonte, que a primeira seja dez ‘vez0s mais experionte que a dita, Muito frequentemente, 20 anos de exnerincia significam apenas um ano de ex peridncia repetido vinte vezes! Mesmo nos trabalhos mais compiexos, 0 aprendizado real termina por volta do segundo ano. Nesse ature, praticarnente todas as situagdes novas & cespecificas jd foram vivenciadas. Portanto, um oroblema na tentatva de elacionar a experiénc’a & canacidade de lideran- ca estd na falta de atoncéo dada & qualidade a & dversidade as experiéncias vivides Um segundo problema é que existe um variabilidads en- tre as situagées que influencia a transferéncia@ a relevancia das exneriéncias. A situacdo em que 2 experiéncia fl obticla dificimente seré compardvel 8 nova situapSo enfrentada. O trabalho difere, os recursos alacados diferem, e cultura or- ganizacional dtere, as caractersticas dos iderados aiferem © assim por dianta. Por isso, uma outra razéo pela qual a experiéncia no é um fom indicador de capecidade de lide- ranga ¢ dada, sem duvide, pela varablidade das situagdes cenfrentadas pelo lider. = ‘ea experiéncia de um lider influenciam a sua reacio ao estresse, Deram o nome de cia da nova teoria € de que o estresse€ inimigo da racionalidade. E diffi para o lider (e para qual- quer outra pessoa) pensar de forma logica ¢ analitica quando esta sob forte tensio, Além disso, a importancia da inteligéncia e da experiéncia do lider difere nas situagdes de alta baixa tensio, Fiedler e Garcia descobrirain que a inteligencia do lider tem uma relacao positiva com 0 desempenho sob baixa tensio, ¢ negativa, sob alta tenséo. Por out lado, 4 experiencia do lider wei una relacio neyativa com o deseimpenho sob baixa ust, € positivs, sob alta tensio. Assim, de acordo com Fiedler Garcia, é 0 nivel de estresse da situacio que determina se a inteli géncia e a experiéncia do individuo vao contribuir para o desempenho da lideranca Apesar de ser novidade, a teoria do recurso cognitivo ja possui um embasamento significativo em pesqui sas para a sua sustentacao.®” Isto é, em situagdes de alta tensio, individuos brilhantes tém um desempenho de Jideranca pior do que aqueles menos inteligentes. Quando a tensio é baixa, os individuos mais experientes tém desempenho pior do que aqueles menos experientes. A teoria situaciunal de Hersey © Blanchard Paul Hersey e Ken Blanchard desenvolveram tum modelo de lideranga que vem conquistando seguidores entre iversos especialistas em desenvolvimento da administracio.™ Esse modelo, chamado de teoria da lideranca situa- ional (SLT’), foi incorporado aos programas de treinamento de lideranca de mais de 400 das 500 empresas lista- das pela revista Fortune, Sens elementos bisicos vém sendo ensinados a mais de um milhao de executivos por ano nas mais variadas organizag6es 2! Essa € uma teoria contingencial que centra seu foco sobre os liderados. A lideranca bem-sucedida 6 alcancada pela escolha do estilo adequado, que Hersey € Blanchard argumentam ser contingente ao nivel de prontidae dos liderados. Antes de prosseguirmos, devemos esclarecer dois pontos: por que 0 enfoque nos liderados? O que eles querem dizer com prontidac? A énfase nos liderados, no que se refere & eficacia da lideranca, reflete a realidade de que sio eles que aceitam, ‘ou nao, um lider. Independentemente do que © lider fizer, a eficdcia dependerd das agdes de seus liderados. Essa ‘SUT = Stuatonal Leadership Theory (N.T). CAPITULO 11 Abordagens basicas sobre lideranga 267 Kristen Cardwell 6 pesquisadora de doencas infecciosas no St. Jude's Children’s Research Hospital, em Memphis, Estado de Tennessee. Cardwell e seus colegas, meédicos pesquisadores do hospital, t#m um alto nivel de prontido. Como funcionarios experientes, responsavels e madures, thes se sentem dispostos fe capazes de realizar suas ‘tarefas sob uma lideranga {ue Ihes proporciona liberdade de tomar & implementar decsoes. Esta relagio lider-iderado & consistente com a teoria de lideranca situacional de Hersey e Blanchard. uma dimensio importante que foi menosprezada ou pouco enfatizada na maioria das teorias sobre lideranga. O termo prontidao, conforme a definicdo de Hersey e Blanchard, refere-se a habilidade ¢ a disposicao demonstradas, ppelas pessoas para a realiza¢io de uma determinada tarefa, A teoria da lideranga situacional percebe a relaco lider-liderados de maneira andloga Aquela existente entre pais ¢ filhos. Da mesma forma que 09 pais devem reduzir o controle sobre os filios quando estes se tornam mais maduros e responsiveis, o mesmo deve ser feito pelo lider. Hersey e Blanchard identificam quatro comportamen- tos especificos de Iideres — do estilo mais diretivo a0 mais laissezaiv. O comportamento mais eficaz depende da capacidade e da motivacio dos liderados, De acordo com essa teoria, se os liderados forem incapazes ou estiverem, desmotivadas para executar uma tarefa, 0 lider precisaré fornecer orientag6es Claras ¢ especificas; se os liderados forem incapazes mas estiverem motivades,o lider precisard oferecer muita orientaglo para a tarefa para compen- sar a falta de habilidade dos liderados, além de muita orientagio de relacionamento para “conquisti-los”. Se os liderados forem capazes mas estiverem desmotivadas, o lider precisard usar um estilo apoiador e participativo; e, i Iutente, se os lideradus Foren capuces€ eativerens motioudes, o idler nau precisard Gazer muita coi ‘A teoria da lideranca situacional tem um apelo intuitivo. Ela reconhece a importincia dos liderados e se baseia nna l6gica de que os lideres podem compensar as limitagdes motivacionais e de capacitacao de seus seguidores. No entanto, os esforcos feitos para testar e corroborar essa teoria foram, de modo geral, decepcionantes,*® Qual ‘© motivo? Algumas explicacées possiveis sio as ambigitidades e inconsisténcias internas do préprio modelo, bem. como problemas com a metodologia de pesquisa para os testes da teoria, Portanto, apesar de seu apelo intuitivo e da ampla popularidade, qualquer engajamento entusiasmado deve ser evitado, pelo menos por enquanto. A teoria da troca entre lider e liderados As teorias sobre lideranca que examinamos até aqui partem, basicamente, do principio de que os lideres tratam da mesma maneira todos 0s seus liderados. Mas pense em suas experigneias em grupos. Vocé ja reparou {que os lideres costumam agir de maneira diferente com pessoas diferentes? Eles tendem ater seus favoritos, que formam um “grupo de dentro"? Se respondeu afirmativamente a essas das questoes, vocé acaba de reconhecer 1 fundamentos da teoria da roca entre lideres e liderados.®? A teoria da troca entre Kider e liderados (LMX") argumenta que, por causa das pressdes do tempo, os lideres cestabelecem um relacionamento especial com um pequeno grupo de seus liderados. Estes individuos constituem ‘0 “grupo de dentro” — tém toda a confianca, recebem uma parcela desproporcional de aten¢io do lider ¢ cos tumam ser alvo de privilégios especiais. Os demais membros formam o “grupo de fora”. Recebem menos tempo do lider, menos recompensas controladas por ele ¢ seu relacionamento se baseia nas interacoes formais de auto- ridade. * LM = Leader-Member Exchange (N, i 268 © Comportamento Ora: ‘A teoria prope que, logo no inicio da histéria da interacdo entre um lider e um liderado, o lider implicita- mente o categoriza como um “de dentro” ou um “de fora’, e que esse relacionamento vai se manter relativamente ‘estavel no tempo. Exatamente como o lider escothe quem fica em qual categoria nao € muito claro, mas ha ‘cvidénciae de que ot membros “de dentro" sio escolhidos porque tém atitudes e earacteristicas de personalidade semelhantes as do lider ou por possuirem um nivel de competéncia superior ao dos demais membros" (veja 0 Quadro 11-8). A questio-chave a ser lembrada aqui é que, embora quem faca a escolha seja o lider, sio as caracte- cas dos liderados que conduzem a essa decisio. As pesquisas tém oferecido boa sustentacio a essa teoria. Mais especificamente, a teoria ¢ as pesquisas ofe- recem evidéncias substanciais de que os lideres realmente diferenciam seus liderados; que essas diferenciacdes no s2o aleatérias; que os membros do “grupo de dentro”, de maneira geral, recebem avaliacoes melhores € tém menos intencdes de rotatividade e maior satisfacdo com seus superiores.*° Essas descobertas nao sio exa- tamente surpreendentes se nos reportarmos & profecia auto realizadora (ver © Capitulo 5). Os Kderes investem seus recursos em quem acreditam que tera melhor desempenho. “Sabendo” que os membros do “grupo de dentro” sio mais competentes, os lideres 0s tratam como tal e, inconscientemente, realizam sua profecia.”” A teoria da meta e do caminho Atualmente, uma das mais respeitadas abordagens sobre lideranca é a teoria da meta e do caminho. Desenvolvida por Robert House, ela é um modelo contingeneial de lideranca que extrai elementos da pesquisa da Universidade Estadual de Ohio sobre estrutura de iniciacio ¢ consideracio, bem como da teoria das expectativas na motivacio.*® ‘ATeoria Essencialmente, a teoria da meta e do caminho argumenta que ¢ funcao do lider ajudar os subor- dinados no alcance de suas metas, fornecendo orientacao ¢/ou apoio necessério para assegurar que tais metas sejam compativeis com os objetivos da organizacdo. Os termos meta e caminko derivam da conviccao de que os es eficazes abrem os caminhos para ajudar seus lideracos a atingirem seus objetivos, tornando a jornada mais il a0 reduzir os seus obsticulos. Comportamentos do Lider House identifica quatro comportamentos de lideranca. © lider diretivo faz. com que os liderados saibam o que se espera deles, organiza o trabalho a ser feito ¢ fornece instrucdes precisas sobre como as tarefas devem ser realizadas. O tier apoiador€ amigavel e demonstra sensibilidade 3s necessidades de seus subordinados. O lider partcipativo consulta os liderados ¢ uliliza suas sugestdes antes de tomar uma decisio. O lider orientado para a conguista estabclece metas desafiadoras ¢ espera que os iderados oferecam 0 melhor desempenho possivel. Ao contrario de Fiedler, House parte do pressuposto de que os lideres sio flexiveis, podendo mostrar qualquer um desses comportamentos, ou todos eles, dependendo da situacio. Variaveis Contingenciais e Previs6es Como mostra 0 Quadro 11-4, a eoria da meta ¢ do caminho propde das classes de variéveis contingenciais ou situacionais que moderam a relacao entre o comportamento do lider € 6s resultados obtidos: aquelas ambientais, que estao fora do controle do funciondrio (a estrutura da tarefa, 0 sis- tema formal de autoridade ¢ 0 grupo de trabalho), € as que fazem parte das caracteristicas pessoais do funciona rio (centro de controle, experiéncia e capacidade percebida). Os fatores ambientais determinam 0 tipo de com- portamento requerido do lider como um complemento para que os resultados atingidos pelos seguidores sejam. maximizados, enquanto as caracteristicas pessoais do funciondrio determinam como 0 ambiente e 0 comporta- mento do lider sio interpretados. Assim, a teoria propée que o comportamento do lider sera ineficaz quando for redundante em relacio as fontes da estrutura ambiental ou incongruente com as caracteristicas do funcionario. Como exemplo, veja a seguir algumas previsbes bascadas na teoria da meta e do caminho: fi Serr Comatidade pessoal, | empotcio do siborinedo, |

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