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136 PAISAGISTAS BRASILEIROS: _ FORMACOES E FORMATACOES PROFISSIONAIS BRAZILIAN LANDSCAPE ARCHITECTS — EDUCATION AND PROFESSIONAL QUALIFICATION BARRA, Eduardo Arquiteto poisagista (FAU-UFRJ, 1976), presidente da Associagéo Brasileira de Arquitetos Paisagistas. E-mail: eborra@altemex.com.br. RESUMO Esse artigo relaciona algumas iniciativas dos uliimos cinqlenta anos que tiveram por finalidade a formacéo de profissionais para atuago na érea paisagistica no Brasil e se propée a servir do base para a rofloxdo sobre osee process disporso © a confusa rogulamontacao profiseional vigente. Palavras-chave: Paisagismo, paisagistas no Brasil, formacdo e regulamentacao profissional. ABSTRACT Brazilian landscape designers: professional qualification and experises. This paper relates some initiatives that took place over the last 50 years, concerning Landscaze Architecture’s professional qualification in Brazil. lis objective is to provide a basis for a deeper discussion of both this rather disperse process and the confusing professional legal regulation currently in force. Key words: Landscape archietcture, Brazilian landscape designers, professional qualification and regulation. Introdugéo De forma simples e objetiva, podemos dividir a histéria do oficio do paisagista em trés fases distintas: A primeira abrange dos primérdios até meades do século XIK, longo periodo em que © paisa- gista se limitava a produzir jardins privados para as classes mais favorecidas. Poucas excecdes sGo conhecidas, como o Parque da Alameda na Cidade do México e 0 Passeio Publico do Rio de Janeiro, criados respectivamente nos séculos XVI e XVIII jé com a destinacdo de uso péblico. Nao se sabe exatamente como se dava a formagio dos primeiros paisagistas, mas é facil supor ue © conhecimento acumulado passasse de pai para filho e que os conceitos paisaaisticos em voga em determinado local e momento migrassem de uma regio a outra a partir dos relatos dos viojantes e da costumeira pratica de conquista territorial da vizinhanca. A segunda fase abarca a lula em favor da criagéo dos parques nacionais e da implantacéo de parques urbanos, que teve o Central Park de Nova York (1858) como marco inaugural, momento em que o paisagista passou a trabalnar também em prol da coletividade, como um agenciador da natureza em pleno contexto urbano. Esta etapo teve vida relativamente curta, se conparada com a primeira, uma ver que a partir de meados do século XX comecou a ser delineada a terceira fase, em que o paisagista se fransformou em uma espécie de gerente de recursos naturais e passou a integrar grandes equipes multidisciplinares. Poitagem Ambiente: endsios -n. 22 - Sao Paulo -p. 196 - 143 - 2006 Puisagits Brasietes: Formos eFormatacore Pofsioncia A formacao do paisagista no Brasil Em 1964 (ov talvez 1958), © paisagista Reborts Burle Man o © arquitete Wit Olaf Prochnik se reuniram para ministrar na Faculdade de Arquitetura da Universidade do Brasil (atual UFRJ) 0 primeiro curso de paisagismo dirigido a arquite-os de que se tem noticia, embora nada se saibo a respeito de seu formato e abrangéncia. Nesta época, a disciplina de paisagismo comecava a ser valorizada na FAUUSP a partir da marcante presenca do professor norfe-americano de origem portuguesa Roberto Coelho Cardoso Em 1958, Wit-Olaf ¢ 0 botdnico Luiz Emygdio de Mello Filho realizaram um novo curso no recém-inaugurado bloco-escola do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Chamava-se Curso de Boténica Aplicada para Arquitetos e Paisagistos e era composto por 22 aulas com enfoque quase que exclusivamente boténico e mais 3 aulas de exiensdo, com abordagem di- ferenciada, ministradas pelos arquitetos Wit-Olaf e Hélio Modesto, e a educadora Ethel Bauzer Medeiros, consultora pedagégica para os projetos dos playgrounds do Parque do Flamengo. As aulas se concentravam basicamente em sistematica vegetal, talofitos, briéfites, pteridofitos, monocotilédones e dicotilédones, ecologia vegetal, tratos culturais em jardins, técnicas hort colas, fitogeogratia brasileira, plantas para inferiores e arborizacéo urbana. Conversando com o professor Luiz Emygdio a respeito deste curso, mais de quarenta anos depois, ele admitiv - com sua caracteristica humildade - que aquela época ainda ndo possuia ‘a consciéncia do que realmente interessaria a9 arquiteto e ao paisagista, considerando esse primeiro curso um “exagero boténico”. Mas com 0 tempo, sem duvida, aprendeu a adaptar © enfoque de sua abordagem ao que hoje chamariamos de piblico-alvo. Em 1972, enquanto diversos paises se reuniam na Conferéncia Mundial de Estocolmo para discutir a sobrevivéncia do planeta e estabeleciam metas que resultariam na ampliacéo da abrangéncia de campo de trabalho do paisagista, a Escola de Belas-Artes da UFRJ oferecia pela primeira vez seu Bacharelado em Composicao Paisagistica, reconhecido pelo MEC em 1979, mas até hoje ignorado pelo poderoso Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura Agronomia (CREA) ~ se é que a escola em alum momento almejou @ aprovacée do érgao. A meu ver, a nova denominacéo da titulagdo ~ bacharel paisagista, compositor paisagistico? ~ s6 veio provocar mais confuséo na ja indefinida situacdo do profissional brasileiro. Esiruturalmente, 0 bacharelado da EBA é dividido em dois ciclos, cada um com quatro se- mestres. © primetro, basico, inclui disciplinas comuns aos demais cursos de uma escola de artes: historia da arte, teoria da percepcéo, teoria da informacéo, estética, desenho anistico, modelo vivo, desenho unuldmice, ciugée du (ora, plislica, geumelrie descrilive, elementos de orquitetura e perspectiva, No ciclo profissional, 0 oluno cursa dois semestres de historia dos jardins, quatro de composigéo de jardins (720 horas) e dois de mobilidrio de jardins. Para completar os erédilos necessdrivs & diplomagdw, cada ulune deve escolher ainda duas ov {rs disciplinas “complementares” de uma lista que engloba, entre outras, maquetes, desenho de boldnica, topografia, impactos ambienais e fotointerpretacdo. A mais procurada, como era de se esperar, costuma ser boténica apliceda ao paisagismo (60 horas) Analisando temas e cargas hordrias de cada disciplina pode-se deduzir que © curso tem enfo- que predominantemente ortistico, sendo menos direcionado aos aspectos ecolégicos, biéticos ‘ou ecossistémicos, embora com tempo suficiente para ser mais aprofundado que o ministrado nas escolas de arquitetura do pais. Apenas dois anos depois da implantacdo do bacharelado da EBA, um curso avulso foi or- gonizado pelo Departamento do Estado da Guanabara do Instituto de Arquitetos do Brasil, dentro do novo espirito multidisciplinar sugerido pela Conferéncia de tstocolmo, que la no Paisagem Ambiente: ensoios -n, 22 - S30 Paulo =p. 196 143 - 2006 13/ 138 BARRA, Eaordo inicio do texto caracterizei como terceira fase. Corria 0 ano de 1974 e o arquiteto paisagista Fernando Chacel se encarregou da coordenacéo do curso Paisagismo: Métodos e Técnicas. No corpo docente, alem de Chacel, o botanico Lutz Emygdio de Mello Filho, o engenheiro agrono- mo Alcev Magnanini, o geomorfélogo Aziz Ab‘Sdber e também um agrimensor e um geélogo. Pela primeira vez, tantas especialidades se reuniram em torno de um mesmo propésito, numa fentativa de reproducéo do modelo que comecava a ocorrer, ainda de forma incipiente, nas equipes de trabalho daqueles novos tempos. Aresar de tratar-se de curso isolado, desvinculado de qualquer estrutura académica sistematizade, “epresentou o marco inicial de uma nova posture no trato de questéo. Denire os temas abordados, arborizacéio urbana. viéria, macrounidades da paisagem brasileira, fungBes do espaco livre, conservacio da natureza e planejamento da paisagem, paisagens inter € sublropicais, parques nacionais e reservas equivalentes, o papel do agrimensor no planejamento da paisogem, aeotecnia e planeiamento do meio ambiente Em 1976, dois fatos marcantes so merecedores de registro: a criagdo da Associagio Brasileira de Arquitetos Paizogiztas (ABAP) © 0 IX Congreso Brasileiro de Arquitetos, ambos ocorrides em So Paulo. Representando a primeira forma de organizacéo corporativa dos paisagistas brasileiros, a ABAP nasceu e, capitaneada pela arquiteta paisagista Rosa Grena Kliass, logo filiou-se @ International Federation of Landscape Architects (FLA). Em peralelo, Fernando Chacel, um dos fundadores da entidade e que viria a ser seu segundo presidente, aliou-se a Aziz Ab’Sdber para elaborar o Modelo de Curso de Planejamento Paisagistico, que apresentou no IX Congreso Brasileiro de Arquitetos, provocands estrondosa reacio dos colegas arquitetos, por considerarem que professova a divisio da categoria e seu conseqiente enfraquecimento perante as inimeras reivindicacées politicas em curso. Eram os anos 1970, néo podemos esquecer. Mas, por outro lado, também era a época éurea do desenvolvimentismo ¢ a proposta dos dois professores se encaixava como uma luva no conceito da nao aceitacéio passiva de agress6es irreversiveis ao meio ambiente, tudo no mais puro espirito da terceira fase. Entretanto, acabou prevalecendo a repulsa dos arquitetos e © programa foi engavetado sem mais discussées. (© Modelo de Curso de Planejamento Paisagisico admitia duas allernativas de operacionaliza- do, podendo ser encaixado dentro dos curriculos das faculdades de arquitetura, com seis a oito semesires de trabalho integrado, ou funcionar de forma independente, embora com algum nivel de vinculagéo com 0 curso de arquitetura, com oito a dez semestres. Mas 0 fato & que tanto uma quanto a outra alternativa exigia consideréveis clteragdes dos curriculos universitirios e dos con- ceitos vigentes, resultando na efetiva formacdo de um novo profissional, ainda ndo existente em solo pdtrio. A bem da verdade, até hoje inexistente, Denire suas disciplinas, destacavam-se histéria do paisagismo, métodos de pesquisa, legislacéo € prética profissional, recursos naturals e consenacdo da natureza, fitogeografia e boténica, geo- morfologia ¢ pedologia, biogeografia, dominios puisagisticos brasileires, climatologia dinamica, corganizacdo do espace e paisagismo, ecologia uibana, sistemas agrdrios e organizacéo do espaco rural, paisagem e estética urbana, fotointerpretacéo, micro e macropaisagismo, planejamento da protegdo de recursos naturais, planejamento em fungdo da producio de recursos, planejamento do espaco da recreacdo, do espaco do deslocamento, de Greas para extensdo urbana, de espacos residenciais, industriais e comerciais. Apesar da distancia de apenas quatro anos entre a formatacGo deste curso € do oferecido pela Escola Ue Belus-Aries, & pursivel perceber uifereius quuse que exislericiuis ene us Uuus propuriges. Em 1978, a jovem ABAP acolheu em Salvador o XVI Congreso da IFLA, que contou com a parti- cipacéo de arquitetos paisagistas dos quatro cantos do mundo, inserindo definitivamente © Brasil, © profissional brasileiro © sua produgéo no panorama internacional. Poitagem Ambiente: endsios -n. 22 - Sao Paulo -p. 196 - 143 - 2006 Puisagits Brasietes: Formos eFormatacore Pofsioncia Nos anos 1980, a ABAP promoveu em Sdo Paulo cursos sobre vegetacdo aplicada ao paisa- gismo e paisagismo urbano, contando mais uma vez com professores de dreas distintas, entre eles 0 paisagista Koberto Burle Marx, os arquitelos paisagistas Fernando Chacel e Kosa Kliass, 0 gedgrafo Aziz Ab’Séber, os boténicos Mario Ferri, Luiz Emygdio de Mello Filho e Harry Blossfeld, @ 0 engenheiro agrénomo Hermes Moreira de Souza. Aquela altura, a interdisciplinaridade (4 poderia ser considerada irreversivel Em 1993 aconteceu, também em Sao Paulo, © Coléquio sobre Ensino de Arquitetura Paisagistica no Brasil, que deu origem a série dos ENEPEA, cuja primeira edicdo ocorreu em 1994, no Rio, € id rendev frutos, pois os temas debatidos durante o evento acabaram sendo incorporados & redaco da Portaria 1.770, assinada em dezembro do mesmo ano, que estabeleceu 0 novo curriculo minimo para as escolas de arquitetura, exigindo a presenca da disciplina paisagismo na grade curricular de todas as faculdades, piblicas e privadas. Por incrivel que pareca, até entéa a prética néo era obrigatéria. Mas néo vamos ser ingénuos a ponto de pensar que a partir deste momento tudo tenha sido resolvido, pois sabemos que um ou dois semestres de paisagismo, por melhor que sejam mi- nistrados, so insuficientes para formar um arquiteto paisagista, sem levar em conta que até hoje muitas escolas oferecem a disciplina apenas para cumprir a lei, relegando-a aos Ultimos perlodos do curso, como se os compromissos élicos e ambientais com a ocupacdo do territério. com a inserco da edificacéo na paisagem pudessem ficar para depois. Em outras palavras, @ arquitetura paisagistica ainda tratada como o molho da salada, a cereja do bolo. A falta de professores gabaritados para a disciplina € uma das alegacdes mais frequentes, © que ndo deixa de ser verdade, considerando que hoje existem mais de 150 escolas de arquitetura no pais. E assim, os cursos de arquitetura néo formam paisagistas e, como néo formam, onde arranjar professores qualificades para a tarefa? Com 0 objetivo de desmontar ‘ecto circule vicioso, a FUPAM (Fundagéo para Peequica Ambiental), aliada & IFLA, Unesco, FAUUSP e ABAP ofereceu no periodo 2004-2005 0 Programa de Capacitagdo em Arquitetura Paisagistica, voltado preferencialmente para professores de paisagismo atuantes em escolas de arquitetura de todo © pais. Ao longo de quatro médulos, professores brasileiros e estrangeiros desenvolveram trés disciplinas em cada médulo, reunindo 75 alunos de 22 cidades e 12 esta- dos brasileiros, representantes de 18 instituicdes de ensino superior, que cursaram parcial ou totalmente o programa. No rol de temas, teoric e histéria da arquitetura paisagistico, processo de projeto e representacéo grafica, métodos de projelo, caracterizacéo paisogistico-ambiental do sitio, a vegetacao e seus aspectos ecolégicos, o projeto de plantio, elementos construidos, tecnologia da paisagem, arquitetura e arquitetura paisagistica, leitura da paisagem, andlise paisagistica, espagos abertos urbanos e plane amento paisagistico. Um ano antes do inicio deste programa, Femando Chacel colocou em prética uma nova experiéncia no Rio de Janeiro, em certo sentido assemelhada ao modelo de curso interdisci- plinar rechacado pelos arquitetos em 14/6. Irata-se do curso de tormacdo de tecndlogos em paisagismo oferecido pela Universidade Veiga de Almeida, com 1.680 horas de carga horéria distribuidos por quatro semestres. Apés a primeira etapa de experimentacdo, que envolveu trés turmas em seqiéncia, 0 curso Fassou por total reestruturacao, contando com @ participacdo de todo o corpo docente, que resultou no acréscimo de mais dois semestres de especializacéo, com 840 horas além das 1.680 iniciais, mas esta complementacéo néo chegou a ser implantada, comprometendo a configuragio global do curso. ‘Apés o primeiro semestre basico, em que 0 aluno recebe ensinamentos sobre histéria da arte, desenho de observacdo e geoméirico, ecologic e outros conceitos preliminares, so estudados desenho e comunicacéo grafica, conceituacao e intervencéo paisagistica, leitura da paisagem, inventério e anélise da paisagem, uso e funcées do espaco exterior, histéria, teoria e critica do Paisagem Ambiente: ensoios -n, 22 - S30 Paulo =p. 196 143 - 2006 139 lau BARRA, Eaordo paisagismo, introdugéo ao projeto de paisagismo, solos, clima, boténica aplicada, principios de ecologia, composicéo de jardins: componentes mineralizada e vegetal, topogratia, dre- nagem e modelagem do terreno, materiais de construcao, detalhes construtivos, cadernos de encargos e orcamentos. Na etapa de especializacdo, concebide como continuidade natural, © aluno trabalharia com a recuperacdo de dreas degradadas, aprofundaria os conhecimentos de histéria, teoria e critica do paisagismo, estudaria boténica aplicada ao paisagismo avan- cado, o sistema vegetal atléntico, entomologia, fitopatologia, educacdo ambiental e fauna, alem de praticar em atelier de projeto integrado, para onde convergiriam os conhecimentos adquiridos em todas as disciplinas. Atualmente 0 curso se encontra em via de reconhecimento pelo MEC, mas néo se ouvem comentirios a respeito de sua regularizacéo perante o CREA, fato que, néo se concretizando, impediré que os formandos exergam plenamente suas atividades profissionais. Assim como este, indmeros outros cursos pipocam pelo pais afora, acarretando total confusdio. nos interessados em seguir a carreira paisagistica e no mercado de trabalho. A prépria termi- nologia empregada por cada um, que embaralha expressées como especializacdo, extenso € pés-graduacéo de forma aleatéria, contribu’ para 0 caos, 0 que talvez interesse a alguns. O paisagista e a regulamentacao profissional © Crea “fiscoliza 0 exercicio profissional com a misséo de defender a sociedade da pratica ilegal das profissées abrangidas pelo Sistema CONFEA/CREA" e estabelece “normas que re- gulamentom ou disciplinam a aplicagéo das leit e decretos pertinentes ao exercicio profizsional da Engenharia, da Arquitetura e da Agronomio, do Geologia, da Geografio, da Meteorologia, dos Tecnélogos (grifo meu) e dos Técnicos Agricolas e Industriais”. E possivel que algumas orientacées variem de um estado a outro da federactio, mas as determinacées dos ultimos ‘anos demonstram que o 6rgao se encontra mergulhade em duvidas quanto 4 relacdo entre arquitetos, agrénomos e as atividades especificas de paisagismo. Seguem alguns exemplos. Em sua Deliberacéo Normativa n® 023/00, a Camara Especializada de Arquitetura do Crea- PR cita o Anexo | da Decistio Normativa 047/92 do Confea, que afirma que “Paisagismo € habilitagéo exclusiva do Arquiteto” e “Parques e Jardins é habilitacéo dos profissionais Arquiteto, Urbanista, Engenheiro Agrénomo e Engenheirs Florestal”. © mesmo documento comenta © Arligo 5° da Resolucéo 218/73 do Confea, explicando que a expresséio Parques e Jardins di “respeito aos aspectos de produgéo e mango, e néo de planejamento e projeto de espa- 0s”, enquanto “Paisagismo € arfe e técnico de planejar espacos (...)". Dai depreendemos que cabe ao arquiteto tanto o planejamento quanto a produgao e o manejo, sendo vedado, entretanto, 0 planejamento aos engenheiros agrénomos e florestais. Por fim, a Cémara Es- pecializada delibera: “At. 14 O projeto de paisagismo é atribuicéc exclusiva (grifo no original) do Arquiteto (...). Art. 2 A execucéo do servico de paisagismo atribuigéio do arquiteto (...). Art. 38, Parégrafo Unico — A empresa que se propée a prestar servicos de execugéo de paisa- gismo poderd (grifo meu) fer como responsével um Engenheiro Agrénomo ou Florestal, além (grifo meu) do Arquiteto. Art, 6% - O uso do termo Paisagismo € exclusivo de Profissionais ou Empresas da érea de Ar quitetura e Urbanismo que se dediquem a esta atividade, caracterizando seu uso indevido em exercicio ilegal da profissao.” Dois anos depois, as Cémaras Especializadas de Arquiteture e Agronomia do Crea-MG, através do Decisao Normalizadora n° 01/2002, deliberaram o que segue abaixo. Chamo a Poitagem Ambiente: endsios -n. 22 - Sao Paulo -p. 196 - 143 - 2006 Puisagits Brasietes: Formos eFormatacore Pofsioncia atencdo para o fato de o documento ter sido gerado por instancia conjunta de arquitetos & agrénomos. “At 12. Esto obrigados ao registro no CREA os profissionais, empresas e firmas que se de- diquem @ atividade de Poisagismo e Parques € Jardins e que possuam o fermo Paisagismo em sua razéo social (grifo meu). Art 22. Somente a0 arquiteto, engenheiro arquiteto e arquiteto urbanista € facultado o direito de se intitular PAISAGISTA. Art, 3°- Actividade de execucéo de parques e jardins é desenvolvida por: Arquiteto, Engenheiro Arquiteto, Arquiteto Urbonista, Engenheiro Florestal, Engenheiro Agrénomo, Urbanista e Técnico 2° grau na Grea de Agronomia (grifo meu).” Torna-se mais complicado ainda se analisarmos 0 teor das Decisdes de némeros 11/2002 e 12/2002 do CREA-RJ, ambas emitidas em 21 de agosto de 2002, sendo a primeira firmada conjuntamente pelas Cémaras Especializadas de Engenharia Agronémica e de Arquitetura € a Ultima incluindo também a chancela da Camara de Engenharia Civil, além das duas jé citadas. A Decisdo n° 11/2002 estabelece: 1. As atividades de Projeto de Paisagismo, de Aquitetura Paisagistica sao atribuicées exclusivas do arquiteto, do urbanista e do arquiteto urbanista (...). 1.1 As empresas que se prope (sic) a prestar servicos de execucdo de paisagismo poderé (sic) ter como responsével técnico um engenheiro Agrénomo ou Florestal, além (grifo meu) do Arquiteto. 2. Asatividades referentes © Parques ¢ Jardins sia da campeténcia das Arquitetas, Engenheiras Agrénomos e Engenheiros Florestais, observardo-se o seguint 2.1 quando envolver o planejamento e o proelo de espacos séo da compeléncia exclusiva dos Arquitetos; 2.2 quando envolver a produgéo, manejo e rranutencéo das espécies arbéreas (pergunto: € quando os espécies forem arbustivas ou herbaceas?) sdo da competéncia exclusiva dos En- genheiros Aarénomos ¢ Engenheiros Florestais. (Esta determinacéo entra em choque com 0 estabelecida pelos CREAs mineiro e paranaence, pois exclui o arquiteto.) 3. (4) 4, O uso do termo Paisagismo ¢ exclusivo de Profissionais ou Empresa da drea da Arquitetura € Urbanismo que se dediquem a esta atividade. A Deciséo 12/2002 acrescenta alguns dados ue ainda néo haviam sido considerados: 1. As atividades de Projeto de Contencao de Encostas, Taludes e Canteiros em Estradas ou de Obras com uso de graminea sdo atribuigées do engenheiro civil (grifo meu), observando-se © seguinte 1.1 Os arquitetos (...) possvi (sic) atribuigées para o autoria de projetos e responsabilidade técnica pela execucdo de obras de contencéo de taludes. (Essa informagéo conflita com a contide no item anterior) 1.2 O formecimento e especificacdo do tipo de graminea a ser utilizado na Contencéo de Encostos, Toludes e Canteiros em Estradas ov de Obras sao da competéncia de engenheiros Paisagem Ambiente: ensoios -n, 22 - S30 Paulo =p. 196 143 - 2006 41 \az BARRA, Eaordo ‘agrénomos e/ou florestais. (Segundo o item 1, projetos com emprego de graminea competem a0 engenheiro civil, mas aqui determina-se que a especificagdo do tipo de graminea é atribui- 00 de outros profissionais. Vole a pena lembrar que a expressao graminea coracteriza apenas uma familia boténica e vale supor que néo foi regulamentado o emprego de leguminosos, melastomatéceas, ciperéceas e liliéceas, por exemplo, ou mesmo solugdes em que se utilizem espécies arbustivas ou arbéreas. Acredito que os engenheiros agrénomos, signatérios desta Deciséo, saibom disto.) 1.3 A colocacao de graminea na Contencdo de Encostos, Taludes e Canteiros em Estradas ou de Obras é da competéncia dos engenheiros agrénomos e/ou florestais, civis e arquitetos. (Recomendo a releitura desta frase, pois se a cotejarmos com a anterior deduziremos que engenheiros civis e arquitetos ndo podem especificar ou fornecer a graminea, mas podem planté-lo.) De tudo isso podemos concluir que os atribuicées precisam ser mais bem definidos. Pelo menos até a criacdo do conselho préprio da categoria dos arquitetos, momento em que deixardo o Sistema Confea/Crea exclusivamente para os engenheiros civis, agrénomos e florestais. Quando isso ocorrer, seré que 0 Crea continuaré a afirmar que paisagismo é atribuicdo exclusiva do arquiteto? O que pensam disto os agrénomos? E os profissionais graduados na EBA? E os tecnélogos em paisagismo? O problema de base é que a profissdo de arquiteto paisagisia (ou de paisagista) nao é regu- lamentada no Brasil, assim como em varias partes do mundo. A Organizacéo Internacional do Trabalho (OIT) reconhece como independentes as profissées de arquiteto, de urbanista e de arquiteto paisagista, viséo respeitada pelos Estados Unidos, Canada, Alemanha, Austria, Inglaterra, Suica, paises nérdicos, Japéo, Israel e, mais recentemente, Itdlia, nagSes que pos- suem escolas especificas de arquitetura paisagistica ou cursos de pés-graduacdo em arquitetura paicagietica para diplomados em dreas afins. Infelizmente, o Brasil ainda née ce enquadra em nenhum destes casos. Conclusées Ao longo da histéria, © oficio do paisagista passou por transformacées que o levaram do oprendizado transmitido de pai para filho, a uma vis6o muito mais abrangente do profissio- nal integrado a grandes equipes multidisciplinares. Da concepcdo praticamente arquiteténica do espaco externo, passou a visdo pictérica da fruicdo visual e a seguir caminhou para uma conjugacao entre fatores estéticos, ambientais, culturais e de utilizacdo intensiva dos ambientes paisagisticos. Com todas essas modificacdes de enfoque, percebe-se que em alguns paises, como € 0 caso do Brasil, nao se chegou a delinear um modelo de profissional oficialmente habilitado para o desafio que se tem a frente, apostando ainda no auto-didatismo, na espe- cinlizagéio no exterior e no actimulo de conhecimentas adquirides am cursos auténomos. Na verdade, nenhum curso existente no pais forma © profissional que precisamos. O resultado € uma miriade de paisagistas com caracteristicas tao distintas e que enxergam a questao de forma tao diversa, que os possibilidades de didlogo se tornam quase impossiveis. Em algum momento teremos que enfrentar a fundo esta situacéo, ¢ esperamos que este dia esteja pro- ximo, pois as questdes ambientais e as necessidades bésicas do homem urbano nao podem caguardar mais. Poitagem Ambiente: endsios -n. 22 - Sao Paulo -p. 196 - 143 - 2006 Panag Brosebos:Formagoes« Formatages Prfssonais Bibliografia CHACEL, Fermandy (Count) Fueuytin ied ¥ Wuaius. Abus, Rty Ue Jane hs Brasil/Departamento da Guanabara. 1974. CHACEL, Femando, AB'SABER, Ar. Modelo de Curso de Planejomento Paisagistic. In: Xt CONGRESSO BRASILEL RO DE ARQUITETOS, SaoPaulo: Instituto de Arquitetos do Brasil, Sé0 Paulo. Anais. Sdo Paulo: Instituto de Arquitetos dle Bassi, 1976. CREA.MG. Decisdo Normalizadora n. 01/2002. Camaras Especiolizadas de Arquitetura @ Agronomia. 2002. CCREA-PR. Deliberacée Nermativa n. 023/00. 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Prisagem Ambiente: enscios -. 22 - S30 Poulo-p. 136 149 - 2006 las

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