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LEITURA DE MITOS EM MAPAS ...

LEITURA DE MITOS EM MAPAS:


UM CAMINHO PARA REPENSAR
AS RELAÇÕES ENTRE
GEOGRAFIA E CARTOGRAFIA 1

Gisele Girardi
Doutoranda em Geografia pela Universidade
de São Paulo e professora de Cartografia no Curso de Geografia
da Universidade Federal do Espírito Santo

INTRODUÇÃO fica era o instrumento legitimador do método


Afirmar a importância do mapa na produção do geográfico em questão, uma vez que a identi-
conhecimento geográfico pode parecer falar do dade da região era dada pela síntese obtida na
óbvio. Porém, a compreensão da real dimen- sobreposição de mapas temáticos.
são das relações entre a Geografia e a Carto- Subseqüentemente, no chamado período de
grafia é de extrema complexidade, pois, se de renovação da Geografia, a Cartografia teve pa-
um lado, as atividades de registro e inventário péis bastante diferenciados dentro das duas
dos lugares receberam a denominação de Geo- correntes polarizadas a partir de então, as de-
grafia, desde, pelo menos, a antigüidade clás- nominadas “Geografia Pragmática” e “Geogra-
sica, por outro, em determinado momento his- fia Crítica”.
tórico, a Cartografia separou-se da Geografia, No âmbito da Geografia Pragmática há a so-
tomando corpo como disciplina específica. brevivência da representação cartográfica, ou,
Uma breve incursão pela história do pensamen- mais especificamente, das bases cartográficas 1. Este artigo foi extraído
to geográfico revela momentos significativos como suporte para a construção de modelos da dissertação intitutada
A cartografia e os mitos:
da relação entre esses dois campos do conheci- matemáticos; essa tendência hoje em dia é bas- ensaio de leitura de mapas,
elaborada pela autora sob
mento humano. tante clara na utilização dos Sistemas de Infor- orientação da Profa. Dra.
mações Geográficas (SIGs) que, na essência, Maria Elena Ramos
Simielli, apresentada à
RELAÇÕES ENTRE GEOGRAFIA E coincidem com os propósitos da escola Universidade de São Paulo
para a obtenção do título
CARTOGRAFIA vidalina, com maior sofisticação tecnológica, de Mestre em Geografia,
e defendida em dezembro
Na escola regional, originada na França no fi- porém com menor vinculação a um método de 1997.
nal do século XIX, com Vidal de La Blache, geográfico2 (que era mais evidente tanto na es- 2. Na verdade, esta
vinculação existe, mas é
que foi importante matriz da organização da cola francesa/vidalina, quanto na proposta pouco discutida e até às
Geografia científica no Brasil, há intensa utili- hartshorniana). vezes negada em favor da
técnica. Mais elementos
zação da Cartografia, utilização que tem sua Já no âmbito da chamada Geografia crítica, para essa discussão
podem ser encontrados
justificativa no fato de que a imagem cartográ- encontramos uma situação bastante diferenci- em Taylor (1991).

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ada. Na primeira grande obra desta corrente, vista como uma técnica para ser usada quan-
A geografia – isso serve, em primeiro lugar, do necessário, caso contrário é melhor deixar
para fazer a guerra, de Lacoste (1988), origi- nas mãos de cartógrafos profissionais e de um
nalmente publicado em 1976, muitas das críti- pequeno número de geógrafos/cartógrafos
cas ao método, procedimento e posições polí- acadêmicos com disposição a pesquisar num
ticas da Geografia até então constituídas, reca- campo essencialmente técnico, revela uma das
em sobre os mapas e as atividades cartográfi- mais contundentes realidades da atual rela-
cas no âmbito dos trabalhos geográficos, reve- ção Geografia/Cartografia.
lando as relações de poder institucionalizadas
na prática cartográfica (tanto na “geografia dos O momento da ruptura entre a Geografia e a
professores” quanto na “geografia dos estados Cartografia parece apontar um paradoxo: quan-
maiores”, para usar os termos do próprio do a Geografia se engaja no movimento de
Lacoste). transformação social – e aí falamos especifica-
Também há, neste momento, em nível inter- mente da Geografia Crítica – ,tem como im-
nacional, a estruturação da Cartografia como portante suporte teórico as idéias estruturalis-
campo específico do conhecimento3 requeren- tas; é no âmbito desta corrente filosófica que
do para si o domínio de todas as etapas do pro- também são construídas importantes teorias
cesso cartográfico, desde a confecção até o es- sobre comunicação, verbal (tal como a lingüís-
tudo dos usos do mapa. tica) ou não (artes visuais, design, etc.).
Nesse processo, a Geografia deixaria de ser Parecia haver, então, condições para a elabo-
construtora e passaria à condição de usuária dos ração de análise crítica das representações car-
3. Sobre este aspecto é mapas, o que poderia fornecer fundamentação tográficas pela Geografia a partir da tese do
importante situar as
principais discussões
para uma crítica das representações cartográfi- mapa como veículo de comunicação dos fenô-
acerca do estabelecimento cas. No entanto a Geografia relegou-se ao pa- menos geográficos, visto que havia entendi-
da Cartografia como
ciência. Nas décadas de pel de consumidora de mapas. mento de método comum na ciência geográfi-
70/80 apontavam-se três
concepções sobre a A distinção aqui feita entre consumo e uso ca e nas chamadas ciências da comunicação.
natureza científica da pauta-se na observação de como são tratados Porém, é justamente este o momento em que a
Cartografia: ciência formal,
defendida por Kretshmer, os mapas no trabalho geográfico. Temos como separação – no espírito apontado por Guelke,
entre outros, na qual se
enfatizava a forma da consumo o mapa-ilustração, muitas vezes pre- anteriormente citado – se efetiva.
representação – e não o
seu conteúdo – como
sente apenas para legitimar a natureza geográ- É importante apontarmos aqui o único gran-
campo científico da fica da obra (situação muito comum nos livros de projeto, nesse sentido, levado a cabo, que
Cartografia; ciência
reflexiva, defendida por didáticos, por exemplo); temos também o mapa- foi a Semiologie graphique, de Jacques Bertin
Salichtchev, entre outros,
para quem a Cartografia só cópia, infelizmente ainda muito comum e mui- (1967), na qual se encontram sistematizadas as
se realiza na interface com
as Ciências Sociais e
to marcante no ensino de Geografia nos níveis regras para a construção de imagens racionais,
Naturais; e Ciência da fundamental e médio. O uso tem o sentido de as únicas cabíveis, segundo o autor, na comu-
Comunicação, defendida
por Morrisson, entre outros, emprego consciente de algo, o que pressupõe nicação de informações de caráter científico.
na qual era considerado o
campo da comunicação conhecimento crítico do que se está utilizando Porém, segundo nos informa Dosse (1994, p.
como a base científica da e para quê. 359),
Cartografia. A Associação
Cartográfica Internacional, Guelke (1981, p. 5), ao afirmar que
no entanto, nunca
considerou a Cartografia dessa reflexão [la graphique como linguagem,
como “ciência”. A definição
de 1966 aponta-a como
muitos geógrafos pararam de ver mapas e o seguindo o modelo da lingüística estrutural]
“conjunto de operações uso destes como uma ferramenta vital ao en- emergiu uma prática, a de uma Cartografia
científicas, artísticas e
técnicas” e a de 1991 tendimento geográfico, apesar de completa- mais analítica que descritiva, que funciona na
como “disciplina”. Outros
elementos para essa mente preparados para ver a Cartografia como EHESS [École des Hautes Études en Sciences
discussão podem ser
encontrados em
uma técnica potencialmente valiosa, ligada Sociales] como produção de serviços presta-
Salichtchev (1970 e 1983), aos métodos quantitativos e ao sensoriamento dos às ciências sociais, mas que não é verda-
Kanakubo (1990) e Girardi
(1992). remoto... [e que] a cartografia muitas vezes é deiramente um lugar de produção de idéias,

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de problemáticas. O processo técnico se adi- o único critério para avaliação de mapas.


anta à criação, à teoria. Aprender Cartografia é aprender regras de cons-
trução de mapas, suas diferenças, o uso de cada
Um dos grandes equívocos que têm sido co- tipo de produto, e, modernamente, técnicas
metidos por geógrafos é a utilização da automáticas. De fato, isso deve ser considera-
Semiologia gráfica como conjunto de regras do e ensinado como conteúdo técnico, mas so-
para analisar os mapas quando, na realidade, mente isso, a nosso ver, não basta.
são regras para construir imagens racionais, Durante muito tempo se fez uma história da
conjunto no qual Bertin (1967) inclui os ma- Cartografia que separava os mapas “primiti-
pas, os diagramas e as redes. vos” e “antigos” dos “contemporâneos” (leia-
Diagramas são construções gráficas que têm se ocidentais, científicos e, portanto, “verda-
como objetivo a visualização de dados ou tra- deiros”). Nessa classificação está claro o pre-
tamentos gráficos de dados estatísticos; as re- conceito em relação tanto aos mapas das soci-
des são representações gráficas para edades tecnologicamente não avançadas quan-
visualização de correspondências lógicas entre to aos mapas “não-científicos”. Convencionou-
elementos ou fenômenos (organograma, por se chamar de mapa aquelas construções que
exemplo). São, pela sua natureza, informações obedecem a padrões. No decorrer da forma-
racionais, dada sua origem lógica e matemáti- ção em Geografia, somos treinados a opera-
ca e, de fato, quando sua construção se dá fora cionalizar e a construir tais mapas; eventual-
dos princípios da Semiologia gráfica, perdem mente a analisá-los. Ainda assim é comum
muito a eficácia comunicativa. balizar essa análise dentro de especificações
Tal raciocínio, porém, não pode ser aplicado técnicas da própria Cartografia. Julgamos se
ao conjunto dos mapas, sob o risco de, por um o mapa é bom ou não, se é correto ou não, a
lado, restringir sua função social e, por outro, partir da existência ou não de escala, de orien-
negá-los como produto cultural. tação, de título, de uso de variáveis visuais per-
Mapas são produções culturais de discursos tinentes, de coerência legenda-conteúdo, en-
sobre o território. Assim sendo, é possível ler a tre outros elementos.
sociedade por meio de seus mapas. Isso sugere que o trabalho cartográfico seria
A grande importância do mapa na Geografia um trabalho estritamente técnico – quase es-
reside na sua leitura e não exclusivamente na barrando no discurso da neutralidade – e acaba
sua elaboração técnica. Podemos estabelecer criando o vício da desconsideração de repre-
aqui um paralelo entre a leitura de textos e a de sentações espaciais que não seguem o rigor
mapas: aprendemos a ler criticamente textos, cartográfico na análise espacial. Sendo o mapa
chegando ao refinamento de desvendar sua ide- uma forma de representação do espaço – repre-
ologia, intenções e opções teórico-metodoló- sentação gráfica e visual – podemos também
gicas, mas não aprendemos a fazer exercício entendê-lo como uma mediação entre a reali-
semelhante em relação aos mapas. O exercício dade e o leitor dessa realidade espacial; como
da leitura crítica de material escrito nos orien- uma imagem (possível) do mundo. Assim, o
ta na produção de nossos próprios textos. Os mapa reproduz um sistema de valores sociais
mapas copiamo-los, literalmente, ou produzi- que são culturais e históricos.
mo-los sob um conjunto rígido de técnicas e, Segundo Board (1984, p. 96),
pior, não percebemos o conteúdo ideológico e
às vezes até mitológico do que estamos repro- é no campo da educação geográfica que deve-
duzindo. mos olhar com maior interesse a pesquisa do
Isso não quer dizer que os preceitos de uso geográfico do mapa.[...] É vital colocar
acurácia, de escala, etc. devam ser abolidos – mais esforços na melhoria da qualidade da lei-
muito pelo contrário! Mas esses não devem ser tura do mapa, não apenas perpetuar gerações
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de compradores de mapas, mas desenvolver A identificação dos elementos lingüísticos é


habilidades úteis para cidadãos de um mundo importante para a sistematização de procedi-
incrivelmente complexo e desconcertante. mentos de leitura, porém é insuficiente para que
se leia a sociedade através dos mapas, pelos
RUMOS DA LINGUAGEM seguintes motivos:
CARTOGRÁFICA (1) levam em consideração apenas os aspectos
A partir dos anos 60, momento no qual a Car- técnicos da confecção de mapas e, embora se-
tografia busca seu estabelecimento como cam- jam bastante significativos em termos desses
po científico independente, têm-se duas dire- avanços, ou seja, permitam iniciar um proces-
ções principais das discussões cartográficas: o so diferenciado na forma de construí-los, são
design e a comunicação cartográfica, ou, sim- estritamente vinculados à idéia do mapa como
plificadamente, entre a produção técnica e a modelo da realidade;
teoria, respectivamente. No âmbito da comu- (2) colocam o leitor comum primeiramente na
nicação cartográfica várias teorias sobre o mapa função de denotador, ou seja, de tradutor do
são formuladas (na verdade, adaptadas de ou- mapa a partir dos elementos da legenda, e o
tros campos do conhecimento para analisar leitor especializado na função de conotador, ou
mapas) e, após a inserção massiva da seja, de intérprete do mapa a partir de combi-
informática, são reorganizadas nas principais nações mediadas pelos signos, havendo, por-
linhas de pesquisa atuais: linguagem cartográ- tanto, aí uma clara divisão social do saber
fica, sistemas de informações geográficas e al- cartográfico;
fabetização cartográfica (Figura 1). (3) focalizam o mapa no contexto da atividade
Vários autores, tais como Dacey (1978), Head técnica e não de sua função social; no limite,
(1984), Andrews (1991), Schlichtmann (1979, afirmam que a função social do cartógrafo é
1985) e Pravda (1993), ao discutirem a lingua- fazer o mapa correto, e esta dicotomia certo/
gem cartográfica, fazem uso das categorias da errado pautada nos aspectos técnicos é útil na
linguística estrutural. Na figura 2 podem ser própria atividade técnica (de revisão, por exem-
observadas correspondências entre termos da plo) e mesmo no nível elementar do ensino do
Semiologia geral e da concepção linguística do mapa, porém é insuficiente para ler a socieda-
mapa (Figura 2). de e repensar o papel do mapa.

Figura 1 – Caminhos da pesquisa em comunicação cartográfica

TEORIA DA TEORIA DA SEMIOLOGIA TEORIA


anos 60/70

INFORMAÇÃO MODELIZAÇÃO COGNITIVA

Mapa como Mapa como modelo Mapa como Mapa como fonte
veículo de da realidade; conjunto variável de informa-
informações método científico de signos. ções, dependendo
espaciais. de investigação. das características
do usuário.
○ ○



○ ○



○ ○
○ ○

○ ○

○ ○

○ ○



○ ○
○ ○


○ ○
○ ○



anos 80/90


○ ○



○ ○
○ ○


LINGUAGEM SISTEMAS DE ALFABETIZAÇÃO


INFORMAÇÕES CARTOGRÁFICA
Organização: Girardi, 1996.
GEOGRÁFICAS

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Figura 2 – Principais termos da concepção linguística do mapa,


em comparação aos da Semiologia geral

TERMOS SEMIOLOGIA GERAL CARTOGRAFIA


- menor unidade de significação - menor unidade de significação
- algo que representa outra coisa - algo que representa outra coisa
- composto por - composto por:
significante — material
significado — conteúdo
forma
]
informação
significado (legenda) livre
localização
SIGNO informação plana
monema ou palavra cartomorfema/signo mínimo
fonema / letra / figura cartografema/traços distintivos
sema ou sentença macrosigno
sintagma cartosintagma
texto (arranjo de sentenças) mapa (arranjo de macrosignos)
sequência temporal e linear espacial e bidimensional
relação de um signo qualquer local - signos localizados
SINTAXE supralocal - arranjo no mapa
com os demais presentes no
mesmo enunciado
relação entre o signo e a sua relação entre os elementos
SEMÂNTICA designação gráficos e os objetos mapeados
relação do signo com o usos do mapa; questões
remetente e o destinatário referentes à percepção do
PRAGMÁTICA mapa e ao ensino da
linguagem cartográfica
Organização: Girardi, 1996.

Na verdade, há poucos trabalhos em Carto- de fusões internas, fornecem exemplos clás-


grafia que abordam a leitura de mapas por ou- sicos de poder-conhecimento e são sempre
tros enfoques. Dentre esses são dignos de nota apreendidos em contextos políticos mais am-
os artigos Design on signs: mith and meaning plos (Harley, 1989, p. 5).
in maps (Wood & Fels, 1986), Deconstructing
the map (Harley, 1989) e Cartography, ethics O autor considera que há regras de dois tipos
and social theory (Harley, 1990). que atuam no mapeamento: a regra da cientifi-
Harley (1989, p. 2), que trabalha com histó- cidade e a regra da cultura. Sua crítica está no
ria da Cartografia, preocupa-se com uma urgen- fato de que a elite cartográfica formula todo seu
te “mudança epistemológica no modo como in- discurso a partir da regra da cientificidade.
terpretamos a natureza da cartografia”. Para esse Assim,
autor, é preciso “quebrar a ligação entre reali-
dade e representação que tem dominado o pen- as regras operam tanto entre como além das
samento cartográfico, a tem conduzido no ca- estruturas ordenadas de classificação e
minho da ‘ciência normal’ desde o Iluminismo mensuração [...] Muito do poder do mapa
e também tem fornecido uma forma de leitura como uma representação da Geografia social
[...] para a história da cartografia.” é que ele opera escondido numa máscara de
Os esforços de Harley são no sentido de mos- uma ciência aparentemente neutra. Ela escon-
trar que, de e nega sua dimensão social ao mesmo tem-
po em que a legitima. Então, seja qual for a
como um discurso criado e recebido por agen- forma como nós olhamos para [o mapa] as
tes humanos, os mapas representam o mundo regras da sociedade virão à tona (Harley,
através de um véu de ideologia, são repletos 1989, p. 7).

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MITOS EM MAPAS 1985). Por exemplo, as letras P, V e A fazem


Um dos autores da lingüística que mais pro- parte, em princípio, do código lingüístico (o
fundamente discutiram a leitura da sociedade alfabeto); porém, quando aparecem no mapa
pelas imagens que produz foi Roland Barthes. pedológico significam “solo do tipo podzólico
Sendo o mapa também uma imagem, as idéias vermelho-amarelo”. A legenda do mapa, nesse
desse autor podem contribuir para a elabora- caso, é que atua como código, como repertório
ção de um procedimento de leitura de mapas. fixo.
No Retórica da imagem, Barthes (1982) vai Segundo Barthes (1982), toda imagem é
pontuar que toda imagem carrega três tipos de polissêmica e a mensagem lingüística é a que
mensagens que se articulam e cuja identifica- vai precisar, entre uma infinidade de possibili-
ção é imprescindível para se compreender sua dades, o sentido da imagem.
intenção: a mensagem lingüística, a mensagem Nesse aspecto há, a nosso ver, um equívoco
icônica codificada e a mensagem icônica não bastante grande em Cartografia, quando se pos-
codificada. tula o caráter monossêmico da representação
Nesse ponto é importante perceber que esse gráfica. Bertin (1967, p. 142) afirma que a re-
tipo de organização coincide parcialmente, em presentação gráfica é um sistema monossêmico,
termos temáticos, com a abordagem proposta constituindo “a parte racional do mundo das
por Wood & Fels (1986) (icônico e lingüístico), imagens”. A Semiologia Gráfica, a nosso ver,
mas tem uma diferença conceitual profunda: constitui-se num código icônico, ou seja, um
Wood & Fels falam em códigos e Barthes repertório fixo, composto de variáveis visuais
(1993) fala em mensagem. e formas de implantação, de que o mapeador
Na semiologia das comunicações visuais, o lança mão para construir a imagem do mapa.
par código/mensagem substitui o clássico da Antes, porém, de se utilizar deste código o
lingüística língua/fala. A língua é um “sistema mapeador deve ter o domínio conceitual do que
preexistente, instituição social que acumulou está mapeando para poder estruturar legenda e
historicamente uma série de valores e sobre a título do mapa e é somente neste momento –
qual, em princípio, o indivíduo não tem nenhu- quando a representação gráfica é codificada em
ma ascendência enquanto indivíduo” [e a fala termos lingüísticos – que o mapa pode se tor-
é o] “ato individual de utilização da língua, nar monossêmico, ou seja, manter as relações
um modo de combinar os elementos da língua existentes – tanto espaciais quanto conceituais
no ato de comunicação” (Coelho Netto, 1990, – na representação cartográfica tais como se dão
p. 18), ou ainda, “ato individual de seleção e na realidade.
atualizações; combinações graças às quais o fa- Assim, na mensagem icônica codificada, tam-
lante pode utilizar o código da língua com vis- bém chamada de imagem literal ou denotada, a
tas a exprimir o pensamento pessoal” (Barthes, mensagem lingüística corresponde à chave de
1977, p.18). identificação. Em Cartografia, a correspondên-
Como no plano da Cartografia o interesse não cia é a legenda, porém não somente a legenda
é organizar um catálogo de ícones, mas sim clássica, que aparece na forma de box externo
compreender os motivos pelos quais estão pre- ao mapa propriamente, mas toda mensagem lin-
sentes determinados elementos gráficos no güística que identifica elementos gráficos no
mapa – e, portanto, o ato individual da escolha mapa (por exemplo, “BR-116” é legenda de
dos elementos do código na composição da uma rodovia, que pode estar anotada no pró-
mensagem – parece-nos mais pertinente bus- prio mapa). No caso da mensagem icônica não
car a identificação da mensagem do que falar codificada, também denominada imagem sim-
propriamente em códigos, inclusive porque, em bólica, cultural ou conotada, a mensagem lin-
Cartografia, muitos símbolos são tomados de güística fornece elementos para a interpretação.
outros campos de significação (Schlichtmann, Dessa forma, o texto – estritamente o escrito,
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nesse caso – assume a tarefa de traduzir os as- logia, sendo uma ciência histórica, é que incide
pectos morais e ideológicos de uma sociedade sobre os conteúdos. O estudo dos mitos – a
(Barthes, 1982). Mitologia – faz parte tanto da Semiologia (for-
Tal função aproxima-se bastante daquela mal), quanto da Ideologia (histórica), uma vez
apontada como metalinguagem cartográfica por que estuda “idéias em formas”.
Andrews (1990, p. 15): “a metalinguagem [car- O mito é um sistema semiológico segundo,
tográfica] pode ser abstrata, geral, condicional, que se constrói a partir de uma cadeia semioló-
performática ou emotiva e pode implantar to- gica preexistente. As matérias-primas da fala
das estas qualidades na linguagem-objeto.” (ou mensagem) mítica, por mais diferentes que
A retórica da imagem é para Barthes (1982) sejam inicialmente (pode ser um texto, uma
o conjunto dos conotadores, ou seja, dos ter- imagem, um gesto, uma obra, uma roupa...),
mos que, a partir do suporte dado pela imagem quando são captadas pelo mito reduzem-se a
denotada ou literal, definem a intenção da ima- uma simples função significante.
gem. Assim, a retórica aparece como a face Para Barthes (1993) o significante (expres-
significante da ideologia. são material) é ao mesmo tempo o termo final
Sendo o mapa um suporte de comunicação do sistema lingüístico, ou do sistema semioló-
que contém imprescindivelmente estes dois gico primeiro – chamado SENTIDO – e o ter-
aspectos – o lingüístico e o icônico – essa or- mo inicial do sistema mítico – denominado
ganização proposta por Barthes parece bastan- FORMA. O significado, tanto no sistema
te pertinente para sustentar a leitura de mapas. lingüístico (primeiro) quanto no mítico (segun-
Essa organização vai também aparecer no do) é chamado CONCEITO (Figura 3).
Mitologias, onde há a formulação dos O mito opera transformando um sentido ple-
conotadores como mitos. Para Barthes (1993), no numa forma vazia, o sentido está contido na
o “mito é uma fala” e, portanto, um ato indivi- forma, porém empobrecido, sem seu valor ori-
dual do uso da língua; é um sistema de comu- ginal, pois a função do conceito mítico não é
nicação, uma mensagem sob a qual incide um eliminar o sentido, mas sim deformá-lo, aliená-
uso social. Qualquer fala poderia ser um mito, lo. O vazio da forma permitirá a locação de um
porém considera-se mito uma mensagem que conceito, com novo contexto, com nova histó-
visa à naturalização da cultura. ria. O mito, assim, é uma fala (mensagem) rou-
O autor considera a Semiologia somente uma bada e restituída. Essa mensagem é definida
ciência das formas, e que, portanto, só comporta pela sua intenção muito mais do que pela sua
a análise destas, não o seu conteúdo: “seu cam- literalidade (Barthes, 1993).
po é limitado, tem por objetivo apenas uma lin- No caso dos mapas não será então a relação
guagem, só conhece uma operação: a leitura ou símbolo-legenda estritamente que deveremos
deciframento” (Barthes,1993, p. 136). A Ideo- focalizar, já que este é o aspecto literal da re-

Figura 3 – Esquema gráfico do mito (a partir de Barthes, 1993)

SISTEMA
SEMIOLÓGICO
{ expressão

sentido
conceito

{
PRIMEIRO

SISTEMA forma conceito


SEMIOLÓGICO
SEGUNDO significação = mito

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presentação cartográfica, mas a intenção desta se dá essa codificação “azul = hidrografia” ao


representação, a sua retórica, o mito que pro- mesmo tempo é estendido um conceito de rio
paga. para todos os outros rios, ou seja, perde-se sua
A significação no mito é o processo que une história (esvaziamento da forma), implanta-se
a FORMA ao CONCEITO. Esse processo ser- o conceito “água limpa” (mito) mediado pelo
ve para notificar e constatar e, assim, a signifi- elemento “azul” e, a partir de então, todos os
cação é o próprio mito. Ela nunca é completa- elementos hidrográficos são representados.
mente arbitrária, é sempre em parte motivada, O princípio do mito é a transformação da his-
contém fatalmente uma parte de analogia. Não tória em natureza. Todo sistema semiológico é
existe mito sem forma motivada (Barthes, um sistema de valores; porém o consumidor do
1993). mito considera a significação como um siste-
Um dos recursos mais utilizados em Carto- ma de fatos: “o mito é lido como um sistema
grafia é a motivação dos elementos gráficos. fatual quando é apenas um sistema semiológi-
Assim, tal análise pode, no caso dos mapas, co” (Barthes, 1993, p. 152).
ganhar outras proporções, ou seja, se o elemen- No âmbito da Semiologia, Barthes (1993)
to gráfico presente no mapa mantém caracte- apresenta as três possíveis formas de trabalhar
rísticas reais do objeto, como, por exemplo, o com mitos: a primeira é focalizar um
logotipo representando uma empresa, esta men- significante vazio, ou seja, partir de um con-
sagem já está completa: “Ali existe a empresa ceito e buscar uma forma para este, que seria a
X”; já não se considera a função, a história, os estratégia do produtor do mito; a segunda é fo-
possíveis acordos da instalação da empresa calizar um significante pleno e compreender a
naquele lugar. Ela está lá. Esse é o processo deformação do sentido, que seria a atividade
que Barthes denomina esvaziamento do senti- do mitólogo, a atividade desmitificadora e a
do, que transforma o logotipo ou a representa- terceira é focalizar o significante do mito, ati-
ção da empresa na expressão material ou for- vidade do leitor do mito. Diz ainda o autor que
ma do mito. Assim, o significante tem então
duas faces: o sentido, que é a face plena, e a se quisermos relacionar o esquema mítico com
forma, que é a face vazia. O conceito mítico uma história geral, explicar como correspon-
deforma a face plena, o sentido, privando-o de de ao interesse de uma sociedade definida,
sua história. em suma, passar da semiologia à ideologia, é
Para Barthes (1993), tanto um significado evidentemente ao nível da terceira focalização
quanto um conceito mítico podem ter vários que precisamos colocar-nos: é o próprio lei-
significantes. Quando o conceito mítico pos- tor dos mitos que deve revelar a função es-
sui vários significantes, a decifração do mito é sencial destes últimos. (Barthes, 1993, p. 150)
possibilitada, pois é “a insistência num com-
portamento que revela sua intenção.” Dessa maneira, poderíamos considerar que a
Nesse caso, poderíamos pensar, no âmbito da leitura do mito cartográfico consiste na
Cartografia, no papel das convenções cartográ- elucidação do significante do mito, ou seja, o
ficas. Na medida, por exemplo, em que o ele- que era sentido pleno (literal) e foi transforma-
mento hidrográfico é identificado com a cor do em forma vazia e que foi naturalizado, re-
azul (significante) e que por convenção rígida cebendo um outro conceito.
(caso das convenções de Cartografia sistemá- Assim, para poder ler, através do mapa, a
tica, como as da carta topográfica) ou conven- sociedade que o produz e o consome, os valo-
ção tácita ou costume (no caso dos mapas res que estão em jogo e, conseqüentemente, o
temáticos) nada nos leva a questionar o azul poder da representação, é preciso que se iden-
para elemento hidrográfico (significante): azul tifiquem, em primeiro lugar, os componentes
é hidrografia e ponto! Mas, na medida em que da imagem literal ou denotada, ou seja, os as-
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pectos icônicos, lingüísticos, espaciais, tempo- ográfico e é nesse sentido que buscamos dar
rais e a maneira como são articulados no “dis- nossa contribuição.
curso” ou, em outras palavras, compreender o À guisa de conclusão deste artigo, citamos
seu sentido. Harley (1991, p. 11), que diz:
Posteriormente, poder perceber sua intenção,
suas conotações possíveis, enfim, sua retórica, dos esforços da Cartografia ‘científica’ para
que poderá dizer a quem, para que e em que converter cultura em natureza e para ‘natura-
contexto está a significação desta representa- lizar’ a realidade social sobrou um discurso
ção, ou perceber o mito que propaga. retórico inerente. [...] Retórica é parte do
Assim, um procedimento possível de leitura modo como trabalham todos os textos e to-
de mapas seria: dos os mapas são textos retóricos. Novamen-
(1) análise do primeiro sistema semiológico: te nós devemos desmantelar o dualismo arbi-
língua e código cartográfico, e nesse ponto ca- trário entre ‘propaganda’ e ‘verdade’ e entre
berá a análise formal, identificando como os modos de representação ‘artística’ e ‘cientí-
repertórios icônicos foram mobilizados para a fica’ como eles são encontrados nos mapas.
formação do signo “mapa”; este item também Todo mapa empenha-se em estruturar sua
comporta a análise do lugar do mapa – se é mensagem no contexto de uma audiência.
mensagem principal ou secundária no contex- Todo mapa estabelece um argumento sobre o
to gráfico no qual ocorre – bem como sua fun- mundo e são proposicionais por natureza.
ção declarada ou implícita; Todo mapa emprega o plano comum de retó-
(2) análise do segundo sistema semiológico: o rica tal como invocações de autoridade (es-
mito, identificando como se dá o processo de pecialmente nos mapas ‘científicos’) e ape-
esvaziamento do sentido e a locação de novo lam ao leitor potencial através do uso de co-
conceito, tentando nomear esse novo conceito4. res, decoração, tipografia, dedicatória ou es-
critos de justificação de seu método. [A pre-
PALAVRAS FINAIS ocupação não é] privilegiar a retórica sobre a
Investigar maneiras diferenciadas de abordar os ciência, mas dissolver a distinção ilusória en-
mapas pode contribuir para a desmistificação tre os dois na leitura tanto dos propósitos so-
desse objeto na produção do conhecimento ge- ciais quanto do conteúdo dos mapas.

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RESUMO RÉSUMÉ
Este artigo apresenta breves considerações sobre a Cet article présente de brèves considérations sur la
relação da Geografia com a Cartografia, identifican- relation de la géographie avec la cartographie; il
do o momento da ruptura entre esses dois campos cherche à établir le moment de la rupture entre ces
do saber e, na busca da superação dessa ruptura, deux champs du savoir. Dans la recherche du dépas-
apresenta-se a trajetória da elaboração de um con- sement de cette rupture y est présentée la trajectoire
junto de procedimentos de leitura crítica dos mapas, de l’élaboration d’un ensemble de procédés de lec-
que possibilite a leitura da sociedade por meio de ture critique des cartes, ce qui permet la lecture de la
suas representações cartográficas, pautada na société à travers ses représentations cartographiques,
Semiologia e linguagem cartográfica, e utiliza como utilisant les outils théoriques de la sémiologie et du
referencial metodológico as Mitologias de Roland langage cartographique. Le référentiel methodolo-
Barthes (1993). gique utilisé est celui du livre Les Mythologies de
Roland Barthes.

PALAVRAS-CHAVES MOTS-CLÉS
Cartografia – Leitura de mapas – Ensino superior Cartographie – Lectures des cartes – Enseignement
em Geografia supérieur de la Geographie

50 GEOGRAFARES, Vitória, v. 1, no 1, jun. 2000

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