Você está na página 1de 21

Universidade da Beira Interior

Faculdade de Ciências Sociais e Humanas


Departamento de Sociologia

Donizete Rodrigues

Introdução às Ciências Sociais


(texto de apoio)

2023
I - EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO CIENTÍFICO

1. Evolução do pensamento pré-lógico/pré-científico


Fundamento básico: sistema religioso como modelo explicativo da natureza humana.
Desenvolvimento do pensamento religioso (fases): animismo; fetichismo, politeísmo,
monoteísmo (judaico-cristão).
Teocentrismo: Bíblia Sagrada como fonte de conhecimento (Cap. Génese).
- ‘Teoria’: Criacionismo
Século IV: Cristianismo como religião oficial do Império Romano/bases do Mundo
Ocidental.
Teólogos da Igreja:
Santo Agostinho (354-430): Cidade de Deus, 426.
São Tomás de Aquino (1225-1274): Suma Teológica, 1273.
Idade Média (X-XV): poder político quase absoluto da Igreja Católica e o monopólio do
conhecimento (não) científico. Ver a obra O Nome da Rosa, de Umberto Eco.
Idade Moderna (XVI): surgimento do pensamento científico laico.

2. Evolução do pensamento científico


Antropocentrismo: o Homem como fonte de conhecimento, através da razão.
Ordem social laica: ações sociais não diretamente determinada pela vontade divina; rutura
com a crença de que os factos sociais são comandados por uma ordem superior (Deus).

Renascimento italiano (XV-XVI):


- Leonardo da Vinci (1452-1519): «A Última Seia» (1495-97); «Mona Lisa/La Gioconda»
(1502).
- Maquiavel (1469-1527): Filosofia, Ciência Política; O Príncipe (1513/1532).
- Michelangelo (1475-1564): «Capela Sistina/Vaticano» (1508-12); arquiteto da «Basílica
de São Pedro» (1547).
Séculos XVI-XVIII - evolução da ciência pura:
- Copérnico (1473-1543): astrónomo polonês; ao contrário da teoria do «Geocentrismo»,
defendida por Aristóteles (384-322 a.C.), Ptolemeu (Egito, 178-100 aC.) e aceite pela Igreja
Católica, Copérnico criou a teoria do «Heliocentrismo» - o Sol é o centro do sistema solar.
- Galileu (Itália, 1564-1642): seguidor da teoria do Heliocentrismo; condenado pelo
Tribunal da Inquisição - «epur si muove, contudo, ela (Terra) move-se».
- Newton (1642-1727): matemático e físico inglês; «Lei da Gravidade».
- Montesquieu (1689-1755): francês, enciclopedista; «teoria da separação dos poderes»;
teoria política – O Espírito das Leis (1748); def. de lei - «relações necessárias que derivam da
natureza das coisas».
- J-J Rousseau (1712-1804): franco-suíço, enciclopedista; Filosofia, Ciência Política;
Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens (1755) e Do
Contrato Social (1762) – princípios do sistema democrático; a teoria do «bom selvagem» - o
Homem nasce bom mas a sociedade o corrompe.
- Adam Smith (1723-1790): escocês, economia; A Riqueza das Nações (1776).
- Kant (1724-1804): Prússia; Filosofia; Crítica da Razão Pura (1781).
Iluminismo/Século XVIII: movimento intelectual que valoriza a razão e a ciência como
forma de explicação do universo e do Homem.

2
II - QUESTÕES EPISTEMOLÓGICAS

Definição de Ciência: ciência é uma representação intelectualmente construída da realidade


(social).
É o uso do pensamento teórico, de métodos sistemáticos de investigação empírica, a análise
de material e a avaliação lógica de raciocínios, de maneira a desenvolver um corpo de
conhecimentos sobre determinado assunto.
O método científico (pôr problemas e procurar soluções testáveis), ou melhor, a «estratégia
de investigação científica» remonta apenas ao século XVII, altura em que, a partir de Galileu, se
aposta na combinação da teoria e da experiência, na dedução e na observação sistemática.
Estatuto de ciência: definição do objeto próprio de estudo.
A ciência deve se situar a um nível de abstração e generalidades que lhe permite elucidar
regularidades, formular leis, construir modelos interpretativos.
Ela deve definir problemas suscetíveis de resolução através de uma atividade de pesquisa.
Ciência «é também procurar soluções para problemas. Ela própria elabora e testa os meios
necessários: conjuntos coerentes de conceitos e relações entre conceitos – as teorias – uma
linguagem conceptual adequada e tanto quanto possível exclusiva, instrumentos técnicos de
recolha e tratamento de informação, métodos de pesquisa» (Silva & Pinto, 2001:12).
Estratégia científica: processo constante de validação do conhecimento, através do método
dialético, assente no princípio do contraditório (tese, antítese, síntese/tese...).
Critérios científicos de controle das teorias: princípio da racionalidade como modelo
explicativo (total ausência de senso-comum); compatibilidade com outras teorias; relação entre
construção teórica e pesquisa empírica; a sistematicidade (exaustividade da explicação proposta);
operacionalidade na recolha, tratamento e interpretação (análise) dos dados empíricos.
Resumindo: a ciência é caracterizada pela existência de um objeto de estudo (problemas
suscetíveis de resolução através de uma atividade de pesquisa). Para que uma teoria ou
pressupostos explicativos sejam aceites cientificamente têm que ser testáveis, orientados pela
racionalidade do método lógico-matemático de inteligibilidade, compatíveis com os restantes
pressupostos teóricos relacionados com o tema, possuir coerência interna, rigor, operacionalidade
na construção e interpretação de informação, resultando numa explicação exaustiva do
fenómeno. Deve também possibilitar a previsão do fenómeno e suas consequências. Assim, a
ciência é todo o conhecimento analítico e objetivo da realidade que visa compreender e prever
os fenómenos estudados.
Três atos epistemológicos na produção de conhecimento científico (Bachelard):
a) rutura – com as evidências do senso comum, que possam constituir obstáculos ao
processo de produção de conhecimento científico.
b) construção – do objeto de análise, das teorias explicativas.
c) constatação – da validade das teorias pelo seu teste, pelo confronto com a informação
empírica.

3
III - AS CIÊNCIAS SOCIAIS

O que são Ciências Sociais? Como estabelecer as suas fronteiras científicas?


A premissa básica das CS é de que os seres humanos não agem de modo simplesmente
instintivo ou absolutamente racional, mas sob influência de sua história, de sua cultura e das
expectativas de outros seres humanos, que são assim, ao mesmo tempo, criadores e criaturas de
sua sociedade.
«As diversas CS têm como objectivo comum o estudo da realidade social, que
… se manifesta de forma pluridimensional e é, portanto, susceptível de uma
multiplicidade de abordagens. Partindo de perspectivas teóricas particulares e de
metodologias específicas, cada uma dessas ciências procurou delimitar, ao longo
do seu processo de formação, a respectiva área de observação e análise, buscando
a compreensão de um determinado nível do real, que será tanto mais profundamente
apreendido quanto maior for a aproximação interdisciplinar» (Dicionário de
Sociologia, Porto Editora, pp. 63-64).

Dificuldade: segundo Piaget, a sociologia e a psicologia tem o triste privilégio de tratar de


matérias de que todos se julgam competentes. As CS são especialmente permeáveis às
interpretações de senso comum
Contexto histórico (séculos XVII-XIX): herança dos Iluministas e dos Enciclopedistas
(Rousseau, Montesquieu) e do conhecimento e métodos das ciências matemáticas e naturais.
A capacidade de articular racionalmente estruturas e práticas sociais é um processo
relativamente recente: só se consolida em meados do século XIX – «autonomia do estudo do
social».
Contexto socioeconómico do aparecimento das CS: profundas transformações científicas,
económicas, demográficas, políticas e culturais. Um mundo fortemente alterado pela
industrialização, urbanização e crescimento e migração populacional, revoluções liberais e eclosão
de movimentos operários (Inglaterra, França, Itália, Alemanha, Estados Unidos): centros de
produção de conhecimento científico.
Objetivo das CS: explicação dos múltiplos e complexos fenómenos sociais: «As CS têm por
objecto o estudo dos fenómenos ligados à vida dos homens em sociedade. Procuram o
entendimento das ações dos homens e das representações que estes formam a respeito de si
próprios e do modo em que vivem» (Barata, 1994:7).
Premissa básica: as estruturas sociais não são a soma de atividades do plano individual: sem
a consolidação desta tese não haveria CS.
O que é o social? Os homens são seres sociais. As suas ações desdobram-se: em práticas
materiais (cultura material) e simbólicas-religiosas (cultura não-material); relações com a
natureza; relações com outras sociedades; relações dentro da própria sociedade; relações no âmbito
de grupos, de dimensões variadas (gang, grupo do bairro, «malta» da universidade; clube de
futebol, sala de conversação na internet, etc.); relações no âmbito da família (nuclear, extensa ou
alargada).
Pelas suas práticas os homens criam instituições, modos de conduta que ocorrem e se
reproduzem ao longo do tempo; criam novas realidades materiais e técnicas (produção de bens),
paisagem e povoações (morfologia social de Marcel Mauss); criam acontecimentos e mudanças,
enfim, produzem práticas e comportamentos coletivos que se reproduzem e se perpetuam nas
gerações futuras (memória social).

4
CS: sistemas de produção especializados de conhecimento. Procuram explicar
articuladamente as práticas e as estruturas sociais.
Cada uma possui a sua própria trajetória, no decurso da qual acumulou um património
específico de paradigmas, teorias, conceitos, métodos e técnicas, competências, obras de referência
(clássicos) e manuais de ensino, canais de difusão de resultados, reuniões científicas.
Cada CS perspetiva de forma específica a realidade social:
a) Elabora o seu próprio conjunto de questões - a sua problemática teórica - e define o seu
objeto de estudo;
b) Determina um certo número de problemas;
c) Constrói conjuntos de princípios, teorias, métodos, que servem de modelo orientador às
pesquisas produzidas na sua área – os paradigmas.

As Diferentes Ciências Sociais

Psicologia
(psykhé – princesa que representava a alma na mitologia grega).

É o estudo do comportamento humano e dos processos psíquicos. Procura descrever e


explicar, prever e controlar os comportamentos, os processos mentais. Procura respostas às
questões da emoção e sentimentos, sonhos, perturbações, medos, desejos. A Psicologia abrange
várias áreas de estudo e de aplicação prática: o papel do instinto, da hereditariedade e da cultura;
os processos sensoriais, perceptivos, de aprendizagem e de memória; as bases da motivação e da
emoção.
Primeira questão epistemológica: Comte (1826) não inclui a Psicologia na categoria de
ciência (social).
Crise de identidade: o complexo da Biologia/Fisiologia.
Piaget, «Psicologia é uma ciência que todos pensam saber». Principais obras: A linguagem
e o pensamento, 1923; O nascimento da inteligência, 1935.

Perspetiva histórica e diferentes Escolas:


a) Escola Alemã – forte relação com a Filosofia.
Gustav Fecher, Elementos de Psicologia, 1860. 1ª obra de Psicologia experimental.
Wilhelm Wundt, Elementos de Psicologia Fisiológica, 1873; 1º laboratório de Psicologia
(1879).
- Gestaltismo (1910-12): Wolfgang Köhler, A inteligência dos símios superiores, 1917. Nega
a fragmentação das ações e processos humanos, postulando a necessidade de se compreender o
Homem como uma totalidade – o princípio do Holismo.
- Psicanálise: importância da afetividade e o estudo do inconsciente (id).
Sigmund Freud (1956-1939): A interpretação dos sonhos (1900).
Carl Jung: Mutações e símbolos da libido (1911).
Alfred Adler: A pulsão agressiva na vida e na neurose, 1908.
b) Escola Francesa (1885): Ribot, A Psicologia Inglesa Contemporânea, 1870; Binet, A
escola métrica da inteligência, 1905-1908.
c) Escola Americana (forte influência do Evolucionismo biológico):
Behaviorismo:

5
- Stanley Hall (1846-1924): seguidor de Wilhelm Wundt; 1º Presidente da American
Psychological Association (1892); estudo sobre desenvolvimento infantil.
American Journal of Psychology (1887).
John Watson (1878-1958), A Psicologia de um ponto de vista behaviorista, 1913 – teoria S-
R; para cada resposta comportamental existe um estímulo.
d) Escola Inglesa (forte influência do Evolucionismo biológico): Galton, Inquérito sobre as
faculdades humanas e o seu desenvolvimento, 1883.
e) Escola Russa: a Neurofisiologia de Pavlov, Os reflexos condicionados, 1903.

Psicologia: análise do dualismo: indivíduo–sociedade


Contribuição:
a) Faz a ponte entre o biológico e o social, evidenciando a interação entre determinantes
biológicas e culturais/sociais do comportamento humano.
b) Analisa as funções psicológicas, as estruturas básicas e interdependentes implicadas no
comportamento (inteligência, sentidos, memória, modalidades de resposta/reação, emoção -
personalidade) e que influenciam a adaptação do Homem ao meio.
Um ramo desta ciência, a Psicologia social, estuda o conjunto de atitudes psíquicas,
nomeadamente, as emoções e os «estados de espírito», que se revelam a partir e no decorrer das
relações sociais.
Aplicação prática da Psicologia: com base no conhecimento adquirido, tenta solucionar
problemas clínicos (perturbações mentais – ansiedade, fobias, depressão) e práticos quotidianos
(educativos, terapêuticos, trabalho, criminais-forenses, familiares).

Geografia
(descrição da terra)

Estudo da distribuição à superfície do Globo dos fenómenos físicos, biológicos e humanos


e interpretação das causas dessa distribuição e das relações locais desses fenómenos (Emanuel de
Martonne). Estuda as dimensões espaciais da vida social, a função do espaço na dinâmica das
sociedades. O Espaço é visto como um sistema no qual se interagem elementos do meio físico e
social. A paisagem é o resultado das criações/apropriações humanas.
Principais teorias:
a) Determinismo: Escola alemã - a antropogeografia de Ratzel.
b) Possibilismo: Escola francesa – Paul Vidal de la Blache: o meio físico é um conjunto de
possibilidades que o Homem pode aproveitar e modificar de modo diverso consoante a sua cultura
e/ou nível civilizacional.
- a teoria antropológica da Morfologia social de Marcel Mauss
- o mapa geográfico/mapa mental
Contribuição: descrição/caracterização dos aspetos físicos e dos assentamentos humanos
numa escala global; Geopolítica: a geografia do poder (CPRI).

Economia
(oikos-casa; nomia-administrar)

Estuda as variadas práticas sociais dos processos de transformação dos recursos naturais e
materiais: formas de produção, distribuição, circulação e consumo (mercado) de bens e serviços
(Adam Smith; David Ricardo, Stuart Mill).

6
A atividade económica é caracterizada pela tentativa de satisfação das necessidades
(ilimitadas) com meios quantitativamente limitados.
Paul Samuelson: «economia é o estudo da forma como as sociedades utilizam os recursos
escassos para produzir bens com valor e como os distribuem entre os seus membros».
Abordagens: microeconómicas; macroeconómicas.

História
(testemunho)

«Para que não caiam no esquecimento os feitos humanos mais notáveis» (Heródoto, séc. V a.C.).

Friedrich Hegel (1770-1831), em Filosofia da História (epistemologia): o processo histórico


é a projeção das ideias dominantes. Diálogo com as ciências sociais.
Karl Marx (1818-1883): a história é uma evolução dos sistemas de produção e das relações
sociais.
A história nasce do desejo de transmitir às populações futuras aquilo que as sociedades
julgam digno de ser preservado, de importante na construção da memória coletiva.1
É o relato das ações humanas vividas - os acontecimentos sociais, culturais, políticos,
económicos, religiosos, tecnocientíficos, militares, que marcaram a existência das sociedades
humanas. Estuda a mudança social ao longo do tempo no contexto das sociedades do passado.
O conhecimento histórico é fundamentado por factos comprováveis, vividos ou recolhidos
de testemunhos, registados em documentos. É, então, objeto de estudo desta ciência, todo o
momento em vias de se tornar passado.
A História complementa a Sociologia na medida em que se apoia em factos sociais, na
recolha e na crítica das fontes. Realiza recolha de dados sociológicos quando estes são do passado,
contribuindo para a consciência da historicidade das estruturas, o relativismo cultural, a atenção à
diferença e à mudança. Consisti numa narrativa refletiva, abarcando o campo total da aventura
humana.
Principais teóricos: Anais de História (França) – Lucien Febvre (1878-1956), Marc Bloch
(1886-1944) e Fernand Braudel (1902-1985).
Métodos e técnicas: análise das fontes documentais.
Abordagens: sincrónica e diacrónica.

Ciência Política
(politiké – a arte de governar a cidade)

O termo ciência política foi cunhado, em 1880, por Baxter Adams, da Johns Hopkins
University (EUA): politics (forma de processos políticos); policy (conteúdo da política num campo
específico, p.e., não-proliferação nuclear); polity (instituições políticas dentro de um determinado
país). É o estudo da política, dos sistemas, das organizações e dos processos políticos. Apoia-se
principalmente no Direito, na História e na Sociologia. Estuda os problemas relativos às relações
de poder entre indivíduos e entre grupos e o exercício do poder pelas organizações (liderança,
partidos e organismos políticos).

1
- Texto de apoio: Rodrigues, Donizete (2017). “Património Cultural, Memória Social e Identidade: interconexões
entre os conceitos”. Revista Letras Escreve, vol. 7, nº 4, pp. 337-361.

7
Linguística

É o estudo científico da língua como meio de comunicação e como sistema de signos. A


linguística analisa os elementos que intervêm na produção da linguagem:
- etimologia (origem das palavras);
- sons (fonética e fonologia);
- estruturas formais: gramática, lexicologia (conjunto das palavras que compõem um idioma,
base da lexicografia - dicionário), morfologia (estudo da estrutura e da formação da palavra) e
sintaxe (estudo das formas de organização das palavras na frase).
- estruturas de conteúdo (semântica, produção de sentido).

Ferdinand de Saussure (Genebra, 1857-1913), Cours de Linguistique Générale (1906-1911).


Língua: instituição social, independente da fala (manifestação individual concreta da língua).
Pertence ao conjunto mais vasto dos sistemas simbólicos que constituem a cultura.
A língua é a união de uma imagem, o significante, e de um conceito, o significado – os dois
juntos formam o signo (significação, construção explicativa do fenómeno).

R. Barthes, Semiologia (1930): o papel dos signos no contexto da vida social.


«A língua é o mais universal e o mais complexo de todos os sistemas de signos».

Linguística interna: estudo imanente da língua (ideia de sistema, funcionalismo).


Linguística externa: estudo das relações entre a língua e as esferas que nela influem – o
processo civilizacional (a), a história. A etnolinguística e a sociolinguística estuda o contexto social
que rodeia as diferentes línguas, os fatores sociais que originam variações em cada língua, bem
como a sua utilização.

Relação Linguística/Antropologia: Linguística estrutural/Antropologia estrutural (Lévi-


Strauss).
Escola de Praga: Roman Jakobson, Les Principes de Phonologie Historique (1931).
Escola Americana:
Edward Sapir (1884-1939): estudo das relações entre a língua e a cultura.
Franz Boas, Handbook of American Indian Languages (1911).
Lectures de Jakobson na Escola Livre de Altos Estudos de Nova Iorque (1942-1943).

Antropologia

A reflexão sobre o Homem, nos seus aspetos biológicos, sociais e culturais, é tão antiga
quanto à própria humanidade. O Homem, dotado de inteligência, sempre questionou a sua origem,
a sua vida presente, a morte e, principalmente, num contexto religioso, o que acontece depois da
morte (Rodrigues, 2007).
Mas a Antropologia como ciência autónoma é relativamente recente; começa a despontar-se
na Europa somente no final do século XVIII, para adquirir maior cientificidade na segunda metade
do século XIX.
No princípio, o seu objeto próprio de estudo eram as denominadas sociedades primitivas,
que habitavam zonas exteriores às áreas de civilização europeia; sociedades de pequenas
dimensões, predominantemente caçadoras-recolectoras, com tecnologias rudimentares e sem o
conhecimento da escrita.

8
Para compreender os povos primitivos, a Antropologia desenvolveu um método de trabalho
de campo, denominado «observação participante», cujo principal precursor foi Bronislaw
Malinowski.2 Segundo este método, não basta observar, é preciso integrar-se e participar
plenamente nas atividades quotidianas do grupo ou sociedade em estudo. É preciso ser adotado
(ser aceite pelo grupo); aprender a língua nativa e as suas regras de comportamento; ajudar nas
atividades que garantem a subsistência do grupo (caça, agricultura, pastorícia, pesca); rir e chorar
com (e como) eles, ou seja, participar nos momentos felizes (festas) e nos momentos de tristezas
(catástrofes naturais, doenças, mortes). Resumindo: embora sem nunca esquecer que é um
investigador, o etnógrafo (o antropólogo em campo) deve procurar viver com e como a sociedade
ou grupo em estudo vive.
Como testemunhou Evans-Pritchard (1976), quando fazia trabalho de campo etnográfico
com os Azande,
«I tried to adapt myself to their culture by living the life of my hosts, as far as
convenient, and by sharing their hopes and joys, apathy and sorrows. In many
respects my life was like theirs: I suffered their illnesses; exploited the same food
supplies; and adopted as far as possible their own patterns of behaviour with resultant
enmities as well friendships» (p. 45).

No entanto, na década de 1960, ocorre a denominada «crise da Antropologia». Porquê? O


seu objeto de estudo inicial, as sociedades indígenas, em função do genocídio (morte física
coletiva), da assimilação e da aculturação, estavam (e ainda estão) a desaparecer. A Antropologia
então retorna a casa e começa a estudar sociedades complexas; concentra sua atenção em
determinados segmentos da sociedade moderna: no meio rural, comunidades camponesas,
principalmente na área do Mediterrâneo, e no meio urbano, grupos marginais (‘gang’3,
prostituição), relações sociais nos bairros4, multiculturalidade, minorias e relações interétnicas,
etc. Em função disto, ocorre a inevitável aproximação e um maior diálogo interdisciplinar com
outras ciências sociais, nomeadamente com a História e a Sociologia.

Antropologia da religião
A Antropologia da religião é um ramo da Antropologia social/cultural. A abordagem
antropológica da religião envolve sempre símbolos, mitos, ritos, rituais, ética e experiências do
sagrado, vividas no contexto da sociedade. Vejamos alguns dados da história desta disciplina.
O início da abordagem antropológica da religião surge com o aparecimento da própria
Antropologia como ciência, na segunda metade do século XIX. Portanto, o fenómeno religioso
sempre foi um tema primordial para a compreensão da estrutura e das manifestações culturais das
diferentes sociedades denominadas primitivas. Max Muller, Robertson Smith, Edward Tylor e
James Frazer, embora todos teóricos de gabinete, foram os primeiros antropólogos a defender que
as práticas religiosas das sociedades tribais poderiam ser estudadas segundo as regras do método

2
Bronislaw Malinowski (1884-1942) nasceu na Polónia, mas passou a maior parte da sua carreira científico-académica
na London School of Economics, onde tornou-se professor em 1927. Juntamente com Radcliffe-Brown, foi um dos
grandes fundadores da Escola antropológica funcionalista. Realizou trabalhos de campo etnográficos na Papua Nova
Guiné, no período da I Guerra Mundial (1914-18), e desenvolveu o método antropológico denominado «observação-
participante». As suas obras mais conhecidas são: Argonauts of the Western Pacific (1922), Magic, Science and
Religion (1925) e The Sexual Life of Savages in North-Western Melanesia (1929).
3
Frederic Thrasher (1927). The Gang. Chicago: Chicago University Press.
4
William Foote Whyte (1943). Street Corner Society: the social structure of an Italian slum. Chicago: Chicago
University Press

9
científico. Assim, metodologicamente, estavam criadas as bases para a abordagem comparativa
das crenças e práticas religiosas da sociedade humana, em diferentes contextos históricos,
geográficos e culturais.
Os antropólogos clássicos estavam particularmente preocupados com duas questões fulcrais:
a natureza, a essência da religião e a origem e evolução da religião. Fortemente influenciados pelo
contexto científico da época, dominado pelo Evolucionismo social/cultural, eles defendiam uma
progressão do pensamento humano, das formas mais simples para as mais complexas, na seguinte
sequência: magia, religião e ciência.
Segundo Malinowski (1988), foi Edward Tylor, em Primitive Culture (1871), o primeiro a
criar as bases teóricas do estudo antropológico da religião. A teoria do Animismo de Tylor, a
crença em seres espirituais, «é a essência da religião primitiva» (p. 20). Segundo o Animismo, o
Homem primitivo, no seu «modelo explicativo religioso», diferenciou a alma do corpo, pois ela
continua a existir depois da morte. Graças à imortalidade, os espíritos dos mortos, as almas dos
antepassados, aparecem (e perseguem) os vivos em recordações, visões e sonhos.
E. Tylor defende a teoria dos três estágios de evolução social aplicados ao fenómeno
religioso: animismo, politeísmo e monoteísmo. A ideia central é que a origem da religião primitiva
está ligada aos espíritos ou almas - do latim anima, daí o conceito de animismo, um sistema
religioso caracterizado pela crença nas almas ou nos espíritos (que podem ser benignos ou
malignos), que vivem no mundo dos homens e que podem influenciar ou condicionar o
comportamento humano quotidiano.
Sir James Frazer, na sua obra clássica The Golden Bough (1890), aborda as três principais
questões antropológicas sobre a religião primitiva: a relação entre magia, religião e ciência -
defende a ideia de que, nas sociedades mais avançadas, a magia seria substituída pela religião e
ambas seriam finalmente substituídas pela ciência; o totemismo; os cultos de fertilidade e
vegetação. Segundo Frazer, o Animismo não é a crença dominante na sociedade primitiva, pois
«O homem primitivo procura, acima de tudo, controlar o curso da natureza,
tendo em vista objectivos práticos, e fá-lo diretamente através de rito e da fórmula
mágica … só muito mais tarde, ao descobrir as limitações do seu poder mágico, é
que … apela para seres superiores», ou seja, «demónios, espíritos ancestrais ou
deuses» (Malinowski, 1988:21).

Após o trabalho de gabinete dos teóricos clássicos, Alfred Radcliffe-Brown (1881-1955),


um ilustre antropólogo da Universidade de Cambridge, foi um dos primeiros a realizar trabalho de
campo etnográfico sistemático. A sua obra The Andaman Islanders (1922), cuja investigação foi
realizada entre 1906 e 1908, no subcontinente indiano, é considerada a primeira e uma das mais
influentes monografias no campo da Antropologia da religião. Segundo este autor, essas
sociedades tribais caçadora-recoletoras representam um importante «fóssil» vivo que pode ajudar
a explicar a origem da cultura humana e da religião. Ao interpretar os seus dados etnográficos
sobre essas populações primitivas, tenta compreender as correlações entre religião e estrutura
social, cuja abordagem será depois retomada e melhor fundamentada pelo antropólogo belga-
francês Claude Lévi-Strauss (1908-2009), considerado como um dos principais representantes da
Antropologia Estrutural, principalmente na compreensão da estrutura universal do pensamento
humano e da vida social.
Outro grande antropólogo que desenvolveu importantes estudos no campo da Antropologia
da religião foi Evans-Pritchard. Sir Edward Evans-Pritchard (1902-1973) foi professor de
Antropologia social na Universidade de Oxford, entre 1946 e 1970. Teoricamente influenciado

10
por Lowie (Primitive Society), Lévy-Bruhl5, Malinowski e Radcliffe-Brown, ele foi um dos
grandes defensores da teoria Estrutural-Funcionalista da Escola antropológica britânica. A maioria
dos seus trabalhos de campo etnográficos foi realizado em África (Sudão), entre 1926 e 1929,
principalmente com os Azande e os Nuer. As suas obras Witchcraft, Magic and Oracles among
the Azande (1937) e Nuer Religion (1956) são dois clássicos da Antropologia da religião. Nuer
Religion é considerado um marco no estudo da Antropologia simbólica, cuja perspectiva foi depois
seguida por Victor Turner6, Mary Douglas7 e Clifford-Geertz8. Aliás, para estes autores, a
Antropologia da religião nada mais é do que uma Antropologia do simbólico.
Após a crise da Antropologia na década de 1960, a Antropologia da religião, para além dos
estudos que já vinha realizando - sobre as sociedades tribais remanescentes e do sincretismo
religioso (como, p.e., o sincretismo dos deuses/divindades africanas com os santos católicos, no
Brasil e em Cuba) e movimentos messiânicos nas sociedades marcadas historicamente pelo
Colonialismo -, passou também a estudar manifestações religiosas no contexto das sociedades
modernas (Europa e América do Norte), como é o caso dos novos movimentos religiosos e das
minorias étnicas e religiosas (fruto do maciço processo de imigração dos países periféricos pós-
coloniais para estes dois grandes centros), e do importante fenómeno do Pentecostalismo
transnacional, principalmente na América Latina e em África.
A Antropologia da religião, que valoriza o homo religiosus, estuda, sobretudo, através do
método comparativo, a grande diversidade de crenças e práticas religiosas, em diferentes contextos
culturais. Atualmente, esta disciplina estuda a religião sob duas perspectivas: sincrónica, como um
conjunto ou subsistema coerente de pensamentos, sentimentos e comportamentos e diacrónica,
como um subsistema cultural dinâmico, marcado por uma constante mudança ao longo do tempo.

Sociologia

Contexto económico-social (segunda metade do século XIX): Revolução Industrial e o


processo de transformação da sociedade europeia.

1. Bases científicas:
a) Evolucionismo biológico (Darwin, Origens das Espécies, 1859).
Evolucionismo social/cultural: do biológico ao social.

5
Lucien Lévy-Bruhl (1857-1939), antropólogo francês, conhecido ex-professor de história da Filosofia moderna na
Universidade de Sorbonne, especialista no estudo da «mentalidade primitiva» (La Mentalité Primitive, 1923),
particularmente no papel das emoções nos povos primitivos.
6
Victor Turner (1920-1983), nascido na Escócia, fez o seu doutoramento em Antropologia social, no contexto da
tradição estrutural-funcionalista, sob a orientação de Max Gluckman, na Universidade de Manchester, Inglaterra, onde
lecionou entre 1955 e 1963, quando migrou para os Estados Unidos. Desenvolveu o clássico estudo sobre a sociedade
Ndembu, um grupo Bantu da antiga Rodésia do Norte, atual Zâmbia (Schism and Continuity in na African Society,
1957). Nos seus estudos tem valorizado as questões relacionadas com a religião, ritual e símbolos (The Ritual Process,
1969).
7
Mary Douglas nasceu na Inglaterra em 1921 e estudou Antropologia na Universidade de Oxford com Max Gluckman,
Meyer Fortes e Evans-Pritchard. Realizou trabalhos de campo etnográficos entre os Lele, na religião do Congo Belga.
Nas suas diferentes abordagens antropológicas sobre religião, inclusive sobre o Catolicismo, combinou a teoria
Estrutural-Funcionalista de Evans-Pritchard, e de outros antropólogos sociais britânicos, e a Antropologia Estrutural
do francês Lévi-Strauss.
8
Clifford Geertz (1926-2006) é um dos mais importantes antropólogos norte-americanos do século XX. Formado em
Harvard, desenvolveu trabalhos de campo etnográficos na Indonésia (Java, Bali) e Marrocos. A sua obra A
Interpretação das Culturas (1978) é de leitura obrigatória.

11
Filósofo inglês Herbert Spencer (1820-1903): Princípios de Sociologia, 1874.
Tese: desenvolvimento progressivo unilinear da humanidade - processo evolutivo da
sociedade humana, das mais simples/primitivas para as mais complexas/industrializadas. Os povos
primitivos testemunham os primeiros estágios evolutivos da humanidade.

b) Positivismo: Filósofo francês Augusto Comte (1798-1857) – Cours de Philosophie


Positive (1830-1842).
Física social: defende a necessidade de constituir uma ciência positiva dos fenómenos sociais
(sociologia), tendo como objetivo o estabelecimento de leis da evolução social e histórica.
Premissa epistemológica que se baseia em métodos científicos racionais e experimentais.
Valoriza os factos observáveis e verificáveis.
Processo evolutivo no campo do conhecimento científico, da cultura e da sociedade. Fases
de desenvolvimento: teológica (sobrenatural); metafísica (natureza dos seres e destino final das
coisas); positiva (procura de leis; analítico e sintético).
Carácter prático da Sociologia: contribuir para o progresso da humanidade. De que forma?
Utilizando o conhecimento científico para prever e controlar o comportamento humano.
Aplicação social e política do Positivismo: ex. Brasil. Ordem (por causa das perturbações
sociais ocorridas nos séculos XVIII e XIX) e Progresso (consequência da ordem social).

Objeto de estudo:
Estuda os variados modos como as ações humanas são condicionadas por relações
estabelecidas ao nível do grupo e organizações no meio em que se inserem: famílias, círculo de
vizinhança, coletividades locais, meios profissionais, instituições, Estados…
O objetivo central da Sociologia é compreender a ação social e assim explicar as suas causas,
desenvolvimento e efeitos; compreender as regularidades sociais.
São problemas centrais para a Sociologia: fundamentos (normativos e simbólicos) da ação,
dos processos de socialização e sociabilidade, da estratificação, integração social, conflito e
mudança.
As ações humanas são produzidas, transformadas e reproduzidas, num processo dinâmico
de mudança social.
Mudança social: ocorre quando há alteração das estruturas básicas que compõem um grupo
social ou uma sociedade. É uma transformação observável no tempo, que afeta a estrutura ou
funcionamento da organização social de uma determinada coletividade e que modifica o curso da
sua história.
Fenómeno social: produto das ações dos indivíduos, que dão um sentido aos seus
comportamentos.
Desenvolvimento de quadros teóricos e conceitos, gerais e específicos, que permitam
análises dos diferentes sistemas sociais.

Premissas epistemológicas:
a) Criar uma teoria da sociedade respeitando as exigências científicas e rompendo com o
senso comum, a fim de atingir à objetividade do discurso sociológico. Para isso, o sociólogo deve
romper (rutura epistemológica) com os seus próprios preconceitos, religião, cultura, experiências,
moral – regra da imparcialidade científica.
b) Ciências positivas (fases metodológicas): observação, experimentação, indução (leis),
comparação, quantificação e classificação.
c) Método histórico: contexto histórico das atividades humanas.

12
Cruzamentos/diálogos interdisciplinares:
O paradigma de Marcel Mauss - «o fenómeno social total»: qualquer facto social é sempre
complexo e pluridimensional e, portanto, transdisciplinar. Todo o comportamento só se torna
compreensível dentro de uma totalidade. Exemplo: económico, político e o simbólico-religioso
não são compartimentos estanques – são dimensões inerentes a toda a ação social e estão
profundamente interligadas.
Dificuldades do estudo do fenómeno social:
a) Complexidade do seu objeto de estudo: número elevado de elementos (variáveis) que
podem intervir nas ações sociais.
b) Causalidade social múltipla: enorme diversidade das razões por que e como se fazem as
coisas; não há uma causa única para explicar um determinado comportamento.
c) Instabilidade das situações sociais: decorrente do processo dinâmico de mudança na
sociedade.
d) O sociólogo também é um ator social (membro da sociedade).
e) «Representação teatral» dos atores sociais: questões metodológicas

Os Teóricos

Karl Marx (1818-1883): filósofo, sociólogo judeu-alemão, convertido ao Protestantismo.


Dimensões macrossociais dos fenómenos. Ponte entre economia, história e sociologia: é
importante analisar as relações sociais a todos os níveis de ação: económico, político, ideológico.
Obras mais importantes:
- Introdução à Crítica da Filosofia do Direito de Hegel, 1843: crítica à religião – o Homem
faz a religião, a religião não faz o Homem
- Manifesto Comunista, 1848, com Engels: burgueses X proletários.
- Uma Contribuição para a crítica da economia política, 1859: o método da economia
política. O trabalho como livre expressão da natureza humana.
- O Capital, 1867: teoria sobre a relação histórica entre capital e trabalho; a formação do
capital; o processo capitalista de produção; compra e venda da força de trabalho

Contribuições sociológicas
1. Preocupação central de Marx: procura do conhecimento das razões e dos mecanismos da
mudança social.
2. Subsídio para o estudo das desigualdades e dos conflitos sociais.
3. Teoria do «Materialismo histórico»:
Todas as sociedades assentam numa base económica (infraestrutura) e as mudanças nesta
provocam alterações nas outras instituições: políticas, legais, culturais (superestrutura).
As progressivas transformações técnico-científicas provocam mudanças e, principalmente,
conflitos entre as forças produtivas (trabalhadores) e o capital (proprietários). As mudanças podem
ser graduais e/ou revolucionárias e é impulsionada pela luta de classes (interesses); este processo
é o verdadeiro motor da história: «toda a história da humanidade até hoje é a história da luta de
classes».
No sistema capitalista (valorização do capital em detrimento do social), os proprietários
(classe dominante) controlam não só os meios materiais de produção, mas também os meios
políticos e simbólicos-ideológicos. Consequência: controle das classes trabalhadoras (conceito de
massa).

13
Utopia: sociedade sem classes; posse comum do sistema económico de produção,
distribuição e consumo dos bens.
«Na construção social de sua vida, o Homem desenvolve determinadas
relações de produção que corresponde a uma determinada fase de desenvolvimento
de suas forças produtivas materiais. O conjunto dessas relações de produção forma
a estrutura económica da sociedade, a base real sobre a qual assenta a superestrutura
jurídica e política. O modo de produção da vida material condiciona o processo da
vida social, política, religiosa em geral. Ao mudar a base económica, se
revoluciona, mais ou menos rapidamente, toda a imensa superestrutura assente
sobre ela. A revolução é fruto das contradições gerada pela vida material, pelo
conflito existente entre as forças produtivas sociais e pelas relações de produção»
(adaptado de Karl Marx, in J. Berian & J. L. Iturrate (eds.). Para Compreender la
Teoria Sociológica, 1998, p. 23).

Nota: A análise marxista do fenómeno religioso9


É preciso realçar que, embora a religião não tenha sido uma preocupação científica central
na obra de Karl Marx (1818-1883), as suas ideias críticas sobre este tema são importantes para a
compreensão sociológica do fenómeno religioso. A ideia central é que «foi o Homem quem fez a
religião, não foi a religião que fez o Homem»10. O que levava o Homem a buscar Deus eram um
tipo específico de estrutura social e determinadas circunstâncias económicas, de modo que se for
possível superá-las, politicamente, ou mediante o simples progresso histórico, os homens se
esqueceriam da divindade. Ou seja, a crítica à religião constituía o primeiro passo de uma prática
revolucionária a fim de transformar a sociedade, eliminando as relações económicas, políticas e
sociais que fomentam a necessidade de um Deus ilusório.
Resumidamente, segundo Marx, a religião, como superestrutura, apresenta as seguintes
características:
a) é uma projeção ideal da alienação humana.
b) sublima e facilita a aceitação resignada das situações de exploração e dependência em que
vive a humanidade.
c) legitima a hegemonia capitalista, que é uma estrutura económica imoral e injusta.
d) é uma teoria ideológica criada para tentar justificar as injustas desigualdades sociais,
económicas e políticas.

Pierre Bourdieu (Economia das Trocas Simbólicas, 1986), analisando o ilustre sociólogo
alemão Max Weber (1864-1920), afirma que «Weber está de acordo com Marx ao afirmar que a
religião cumpre uma função de conservação da ordem social contribuindo … para a ‘legitimação’
do poder dos ‘dominantes’ e para a ‘domesticação’ dos dominados» (p. 32).
Portanto, o marxismo atacava a religião em duas frentes: científica, demonstrando ao povo
a irracionalidade da crença religiosa e o caracter ilusório e alienante da fé em Deus e política,
defendendo a revolução social como forma de eliminar a estrutura económica da qual depende a
religião.
Nos anos de 1960, apesar das fortes críticas contra as teses marxistas, alguns neomarxistas
voltaram a se preocupar com o fenómeno religioso, considerando o materialismo histórico como

9
Donizete Rodrigues, Sociologia da Religião: uma introdução. Porto, Afrontamento, 2007.
10
Marx, Karl (1843-1844). «Crítica da Filosofia do Direito de Hegel», in Sobre a Religião. Lisboa, Edições 70, 1975,
pp. 47-49.

14
o melhor modelo teórico-metodológico para explicar as crises das sociedades modernas. As teses
neomarxistas influenciaram não só a Antropologia e a Sociologia, mas também vários movimentos
laicos e religiosos; a teologia da libertação na América Latina é um dos exemplos mais conhecidos
(Boff, 1981).

Émile Durkheim (1858-1917): sociólogo judeu-francês. Em 1912, 1ª cátedra de sociologia


em França. Perde o seu único filho na Guerra (1915) – morre dois anos depois.
Contribuições:
Reforça o princípio da exterioridade dos factos sociais relativamente ao indivíduo e elabora
as primeiras regras metodológicas sistemáticas.
Premissas sociológicas básicas:
- «factos sociais como coisas»: o sociólogo deve em 1º lugar procurar as causas dos
fenómenos que estuda.
- «o facto social só pode ser explicado por outro facto social» (ato coletivo, prática social).
- «o conjunto é mais que a soma das partes, pois há várias inter-relações que se estabelecem,
em diferentes níveis, entre os diferentes elementos do fenómeno (social) não susceptíveis de
isolamento e fragmentação».
A sociologia estuda os factos sociais, aspetos da vida social que moldam as nossas ações
enquanto indivíduos: situação económica, influência da religião…
Def. de factos sociais: maneiras de pensar, de agir, de sentir, as representações simbólicas,
que existem fora das consciências individuais (grupo, sociedade, religião) e que se impõem a elas.
Def. de papel social: «designa um conjunto de comportamentos associado à posição de cada
pessoa na teia de relações sociais» (Barata, 1994:9).
Consciência coletiva: É o conjunto de normas morais, regras, condutas, valores, atitudes,
prescrições, costumes, crenças, signos e símbolos, elementos compartilhados pelos membros da
sociedade, criando, assim, formas padronizadas de comportamento. Força moral exterior que se
impõe, sobrepõe ao puro interesse da pessoa, resultando na submissão do indivíduo ao coletivo. A
ausência, ou apenas enfraquecimento, pode provocar crise, caos e anomia, sinais evidentes de
desregulação da sociedade.
Def. de anomia: acontece com a desestruturação do marco normativo que regula as relações
entre os distintos subsistemas sociais.

- A Divisão do Trabalho Social, 1893: determinação de normas morais, limitações sociais e


implementação de regras jurídicas na intermediação da divisão do trabalho (diferenciação social).
Força moral exterior (consciência coletiva) ao puro interesse do indivíduo.
A divisão social do trabalho torna objetivamente o indivíduo mais dependente de outrem em
virtude do carácter parcelar do seu trabalho. Por outro lado, isso reforça a consciência da sua
diferença, da sua individualidade.
Solidariedade mecânica (semelhança): caracteriza as sociedades simples, primitivas, com
ausência ou pouca especialização de funções, papéis sociais – homogeneidade de valores e padrões
de conduta.
Solidariedade orgânica: caracteriza as sociedades modernas onde existe uma importante
«divisão de trabalho» e grande especialização de funções e papéis sociais.
A divisão do trabalho (bens e serviços), materializado no desenvolvimento social moderno,
substitui gradualmente a religião como a base da coesão social.

15
- As Regras do Método Sociológico, 1895. Sugere duas teses principais, sem as quais a
sociologia não poderia ser uma ciência:
a) Ter um objeto específico de estudo. Diferentemente da filosofia ou da psicologia, o objeto
próprio da sociologia é o fato social.
b) Respeitar e aplicar um reconhecimento objetivo, um método científico, trazendo-a para
perto, dentro do possível, das outras ciências exatas. Este método pode evitar a todo custo
preconceitos e julgamentos subjetivos.

Afirmação da objetividade do conhecimento sociológico – delimitação do objeto de estudo


e aplicação de métodos científicos de investigação empírica.

Revista L’Année Sociologique (1896-1913): teoria sociológica e investigação empírica.


- O Suicídio, 1897: o suicídio é explicado pelo social – integração (como os sentimentos
coletivos são partilhados). «O suicídio varia na razão inversa do grau de integração na sociedade
religiosa, doméstica e política».
Tipos de suicídio:
a) Egoísta: baixo grau de integração social - adaptação do indivíduo à sociedade: quanto
maior o isolamento do seu meio geográfico e social (casamento/divórcio, família, religião) maior
a taxa de suicídio.
b) Altruísta: alto grau de integração/défice de individualização - o indivíduo está fortemente
submetido aos valores coletivos; p.e., sociedades fortemente militarizadas, seitas religiosas, praxe
académica. A taxa aumenta em momentos de crise política, revolução, guerra.
c) Anómico: desestruturação/desregulamentação das normas sociais – caos social; crise
económica. Ver os casos recentes da Grécia e Portugal.

- Obra clássica: As Formas Elementares da Vida Religiosa, 1912.11

Max Weber (1864-1920). Sociólogo alemão, nascido numa família calvinista.


Economia política: ponte entre a economia, história e a sociologia.
A Sociologia estuda o modo de consciência que uma sociedade tem de si própria, da sua
história e das outras sociedades.
Os valores e as ideias culturais (religiosas) contribuem para moldar a sociedade e as nossas
ações individuais.
- A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo (1904-1905): Ética protestante: valorização
do trabalho, procura metódica do bem-estar material como dever moral; glorificar Deus através do
trabalho
- Economia e Sociedade, 1916.
«Neutralidade axiológica»: o sociólogo deve distanciar-se dos seus preconceitos, interesses
e valores e partir para a procura de leis e regularidades históricas.
Sociologia compreensiva: compreender os factos descobrindo a sua lógica interna própria,
assim como a sua racionalidade (razão de ser).
- Ensaios sobre Sociologia da Religião: a racionalização e a teoria do «desencantamento do
mundo».12

11
Donizete Rodrigues, Sociologia da religião: uma introdução. Porto, Afrontamento, 2007.
12
Donizete Rodrigues, Sociologia da religião: uma introdução. Porto, Afrontamento, 2007.

16
Escolas sociológicas
Escola de Frankfurt (Adorno, Horkheimer e Habermas): reactualização da teoria marxista
para compreender as mudanças da estrutura social das sociedades pós-guerra, com principal ênfase
na emergência da «sociedade e cultura de massas».
Escola de Chicago (Herbert Mead, Paul Lazarfeld, Erving Goffman): início do século XX,
com a preocupação com o estudo do desenvolvimento urbano (sociologia urbana; geografia-
ecologia urbana – distribuição espacial do povoamento): desestruturação social causada pela
migração maciça para as grandes cidades; pobreza; segregação dos negros;

Principais ramos da sociologia


- Sociologia histórica: estuda a mudança social tomando em consideração o contexto e as
influências históricas em que ela ocorre. A mudança social tem lugar num tempo histórico, que
tem as suas próprias características que, por sua vez, podem ser alteradas pelos fatores de mudança
e/ou revolução social - influência recíproca.
- Sociologia da religião: aparecimento e evolução do pensamento religioso e sua influência
nos grupos sociais, bem como as transformações que as diversas crenças sofrem ao longo do
tempo13.
- Sociologia criminal/Sociologia do desvio: causas sociais do crime, os fatores que
influenciam a prática do delito.
- Sociologia da cultura: práticas culturais – alta cultura e cultura popular (massas).
- Sociologia política: organização política das nações, Estados, cidades. Relação entre a
sociedade e o Estado (poder político).
Outras: família, género, do quotidiano, económica, das organizações, das minorias étnicas,
migrações, rural-urbana, da comunicação, etc.

As principais teorias
Toda teoria sociológica consiste numa problematização compreensiva de estruturas e
processos sociais, na forma de discursos interpretativos da realidade social, ou seja, natureza e
função das relações sociais.
Construtivismo (Berger & Luckmann; Bourdieu; Giddens; Touraine): considera que a
realidade social é fruto de uma construção histórica (permanente) e quotidiana dos atores
individuais e coletivos.
Estruturalismo - Antropologia (Lévi-Strauss)
Observação das estruturas que compõem a sociedade. Procura entender no interior de uma
sociedade os elementos estruturais, ligados entre si - e que provocam (des)equilíbrios no sistema
– que explicam o porque da mudança social.
Def. de Estrutura: combinação das partes num todo.
Forte influência da:
a) Escola de Praga: Jakobson – a língua é uma totalidade sistémica;
b) Línguística de Ferdinand Saussurre - língua é um sistema cujas partes devem ser
consideradas na sua solidariedade.

Diferentes abordagens da realidade social:


- Individual - analisa a personalidade de cada componente ou do conjunto das suas
personalidades consideradas individualmente;

13
Donizete Rodrigues, Sociologia da religião: uma introdução. Porto, Afrontamento, 2007.

17
- Grupal – analisa o processo de interação que se desenvolve em sociedade:
- Morfológico – analisa o conjunto de variáveis importantes na composição, no espaço e no
tempo, nos indivíduos e na dimensão física dos grupos;
- Sistémico – analisa as inter-relações como tais, independentemente das pessoas que as
realizam;
- Cultural – centra-se nos valores, nas ideias e nas normas que, em sociedade, os indivíduos
aprendem, partilham e transmitem.

Funcionalismo - Antropologia (Malinowsky)


Explica os factos etnológicos (e sociológicos), a todos os níveis do seu desenvolvimento,
pela sua função, pelo papel que desempenham no sistema cultural total, pela maneira como se
interrelacionam neste sistema.
Há uma lógica de conjunto que responde a uma necessidade específica. É essa função que
assegura a sua existência como expressão de um fenómeno (subsistema) dentro de um sistema
social/cultural total.
Funcionalismo - Sociologia
Robert Merton, Elementos de teoria e de método sociológico, 1965: considera que os
fenómenos sociais específicos devem ser explicados pelas funções que exercem dentro do sistema
social total.
Talcott Parsons, no contexto do funcionalismo americano, considera a existência de quatro
subsistemas principais: económico, político, cultural e societal.
Críticas à teoria funcionalista: a questão da disfunção social
Roger Bastide: «o funcionalismo explica bem porque é que as coisas subsistem, mas não
explica porque é que elas mudam».
Robert Merton: as disfunções, que são provocadas por causas externas ao sistema, perturbam
a adaptação e a harmonia do sistema.

Da Antropologia das sociedades primitivas à Sociologia das sociedades complexas: o


problema da importação da teoria antropológica estrutural-funcionalista para a Sociologia.
- o fator histórico e a questão da dinâmica social.
- sociedades primitivas: diferente combinação dos elementos no contexto da totalidade total
e a harmonia do seu funcionamento.
O conceito de «área cultural».
- sociedades complexas: maior dinâmica interna (as ruturas de equilíbrio que provocam
mudanças) e externa (relações e contactos entre diferentes sociedades).

Métodos e técnicas

Karl Popper, A Lógica da Descoberta Científica, 1959.


Método indutivo: parte da investigação (particular) para a generalização (criação de leis).
Método dedutivo: parte das teorias (geral) para a verificação através da investigação
empírica (particular).
Método – estratégia integrada de pesquisa que organiza as práticas de investigação;
observação, classificação e análise dos factos sociais: forma de atuação orientada para o
conhecimento da realidade empírica. Baseia-se em observações e teorias já existentes.
Técnica: recolha e tratamento da informação.

18
Fontes de informação: documental (escrito, filme, fotografia) e estatístico.

1. Método Quantitativo e suas técnicas:


- Ausência do investigador.
- Dados estatísticos: caracterização da população/grupo num determinado período de tempo.
- Questionário/inquérito: o que/tipo de perguntas a fazer; ordem de apresentação e o número
de perguntas; redação/como perguntar.

2. Método Qualitativo e suas técnicas


– Entrevista (semi) direta.
- Observação-direta.
- Análise de conteúdo: isolar no conteúdo do texto as linhas mestras, as principais ideias e
as tendências que lhes dão o seu sentido real; mitemas (palavras chaves, com forte significado).

- “action research” (Psicologia das organizações)14; “investigação-ação/participativa”: é


utilizado com o objetivo de resolver um problema concreto, imediato, numa determinada
empresa/organização/instituição, através de um trabalho contínuo, partilhado e controlado pelo
investigador. O investigador intervém com um sentido prático de mudança da situação. Pretende,
ao mesmo tempo, produzir um saber psicológico e sociológico e contribuir para transformar a
organização e as relações entre os atores/ comunicação institucional.

- “Sociological-intervention”/intervenção sociológica15: coprodução de ideias e de análise


entre o observador/observado. Fases:
a) Sociólogo faz uma investigação prévia, prospetiva (entrevistas).
b) Reunião/debate do investigador com os interlocutores e elaboração, por parte do
observador, de uma análise sociológica prévia.
c) O investigador submete a análise sociológica ao grupo, que poderá concordar/ou não com
o resultado e propor alteração/adaptação.
É um trabalho do investigador com um grupo, que atua primeiro como um grupo de
discussão/prognóstico do problema. A seguir, através do investigador, a ação é apresentada ao
grupo que a analisa/reconsidera (processo de conversão) e ambos julgam da pertinência da análise
sociológica. O papel do sociólogo é necessariamente duplo: suscitar e coordenar a autoanálise dos
atores e encaminhar o grupo à sua conversão (adaptação das ideias).

Abordagens:
a) Microssociologia: estuda as relações entre atores sociais, entre indivíduos ou entre grupos,
e as posições e os papéis sociais que os atores ocupam e desempenham no seio dos espaços sociais
em que estão inseridos.
b) Macrossociológica: estuda os mecanismos e os processos pelos quais as partes interativas
que compõem uma sociedade (sistema social) a fazem funcionar e existir enquanto tal; que
determina a sua especificidade.
c) Interdisciplinar: incorporação de conceitos, tipologias, técnicas de recolha de outras
ciências sociais.

14
- Kurt Lewin (1946), “Action research and minority problems”. Journal Social Issues, 2(4):34-46.
15
- Alain Touraine (1982), “O Método da Sociologia da Ação: a intervenção sociológica”. Novos Estudos. CEBRAP,
1(3):36-45.

19
IV - TEMAS INTERDISCIPLINARES

1. Natureza X Cultura
Abordagem naturalista/biologismo (Wundt, Ribot, Pavlov, Watson): procurar na sua
composição biológica (racial) a causa da diferenciação dos homens dentro da mesma sociedade e
a causa do desigual destino das diversas sociedades humanas ao longo da história. Interpretação
do social a partir de fatores ditos naturais (físicos-geográficos, biológicos-hereditários ou
psicológicos), considerados inerentes à natureza humana. Os fatores biológicos são causas dos
fatores culturais.
Sociobiologia e Etologia humana (Antropologia): estudo das bases biológicas do
comportamento animal/humano: a questão da teoria racial, da inteligência, das diferenças de
género, da propensão à violência.

Abordagem culturalista/humanismo (Stern, Sartre, Esquema de uma teoria das emoções):


apesar dos constrangimentos bio-físicos, as condicionantes biológicas são continuamente
transformadas pela sociedade; a ação humana transforma atributos biológicos em factos sociais.
Os conteúdos e as formas de conduta são tipicamente culturais. Ex: a sexualidade é um imperativo
biológico, mas as formas de comportamento sexual são determinadas culturalmente, o mesmo se
aplica à alimentação, etc.

2. Indivíduo X Sociedade
Psicologismo: a sociedade é um agregado de indivíduos singulares, a concretização dos
interesses por parte de cada um deles serve para garantir a harmonia coletiva. A explicação
sociológica deve ser obtida através da extrapolação de atributos individuais.
Sociologismo: indivíduos e sociedade não são realidades separáveis.
Karl Marx, Tese sobre Feuerbach: «a essência humana não é uma abstração inerente ao
indivíduo, mas … o conjunto das relações sociais».
Ruth Benedict, Padrões de Cultura (1934:276-7):
- «A sociedade e o indivíduo não são antagónicos, mas interdependentes»
- «A cultura fornece a matéria-prima de que o indivíduo faz a sua vida».
- «Não há nenhuma cultura que tenha conseguido destruir as diferenças de temperamento
das pessoas que a compõem».

Cultura e personalidade16
Def. de personalidade: conjunto das qualidades mentais do indivíduo. A soma total das
faculdades racionais, percepções, ideia, hábitos e reações emocionais condicionadas.
As personalidades afetam a cultura e a cultura afeta a personalidade – ver também a
problemática da dinâmica da mudança social.
- Os conceitos de endo-culturação e socialização.

3. Nós X Outros
Etnocentrismo: implica - sobrevalorização da cultura local, (trans)nacional (grupo, classe,
etnia, nação ou área civilizacional) e consequente depreciação das culturas diferentes.
Universalização dos valores próprios do grupo e da cultura de pertença, como referência para a
avaliação de estruturas e práticas sociais diversas.

16
- Ralph Linton, O Homem: uma introdução à antropologia. São Paulo, Martins Fontes, pp. 439-459.

20
Ex.: Colonialismo (dominação política, económica, cultural-religiosa); divisão centro-
periferia (3º mundo) no contexto da globalização.

Bibliografia básica

AA.VV (2002). Dicionário de Sociologia. Porto, Porto Editora


Akoun, André et al. (1983). A Filosofia das Ciências Sociais. Lisboa, Publicações Dom
Quixote.
Barata, Óscar Soares (1994). Introdução às Ciências Sociais. Lisboa, Bertrand.
Berian, Josetxo & Iturrate, José Luís (eds.) (1998). Para Compreender la Teoria
Sociológica. Estella, Editorial Verbo Divino.
Birou, Alain (1988). Dicionário de Ciências Sociais. Lisboa, Círculo de Leitores.
Boudon, Raymond et al. (1990). Dicionário de Sociologia. Lisboa, Publicações Dom
Quixote.
Giddens, Anthony (2013). Sociologia. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian.
Javeau, Claude (1998). Lições de Sociologia. Oeiras, Celta.
Lewin, Kurt (1946). “Action research and minority problems”. Journal Social Issues,
2(4):34-46.
Pité, Jorge (1997). Dicionário Breve de Sociologia. Lisboa, Editorial Presença.
Ritzer, George (1992). Sociological Theory. New York, McGraw-Hill.
Rodrigues, Donizete (2007). Sociologia da Religião: uma introdução. Porto, Afrontamento.
Silva, Augusto Santos & Pinto, José Madureira (orgs.). Metodologias das Ciências Sociais.
Porto, Edições Afrontamento.
Sousa Santos, Boaventura de (1989). Introdução a uma ciência pós-moderna. Porto, Edições
Afrontamento, pp. 33-49.
Wieviorka, Michel (2010). Nove Lições de Sociologia. Lisboa, Teorema.

21

Você também pode gostar