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Donizete Rodrigues
2023
I - EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO CIENTÍFICO
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II - QUESTÕES EPISTEMOLÓGICAS
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III - AS CIÊNCIAS SOCIAIS
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CS: sistemas de produção especializados de conhecimento. Procuram explicar
articuladamente as práticas e as estruturas sociais.
Cada uma possui a sua própria trajetória, no decurso da qual acumulou um património
específico de paradigmas, teorias, conceitos, métodos e técnicas, competências, obras de referência
(clássicos) e manuais de ensino, canais de difusão de resultados, reuniões científicas.
Cada CS perspetiva de forma específica a realidade social:
a) Elabora o seu próprio conjunto de questões - a sua problemática teórica - e define o seu
objeto de estudo;
b) Determina um certo número de problemas;
c) Constrói conjuntos de princípios, teorias, métodos, que servem de modelo orientador às
pesquisas produzidas na sua área – os paradigmas.
Psicologia
(psykhé – princesa que representava a alma na mitologia grega).
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- Stanley Hall (1846-1924): seguidor de Wilhelm Wundt; 1º Presidente da American
Psychological Association (1892); estudo sobre desenvolvimento infantil.
American Journal of Psychology (1887).
John Watson (1878-1958), A Psicologia de um ponto de vista behaviorista, 1913 – teoria S-
R; para cada resposta comportamental existe um estímulo.
d) Escola Inglesa (forte influência do Evolucionismo biológico): Galton, Inquérito sobre as
faculdades humanas e o seu desenvolvimento, 1883.
e) Escola Russa: a Neurofisiologia de Pavlov, Os reflexos condicionados, 1903.
Geografia
(descrição da terra)
Economia
(oikos-casa; nomia-administrar)
Estuda as variadas práticas sociais dos processos de transformação dos recursos naturais e
materiais: formas de produção, distribuição, circulação e consumo (mercado) de bens e serviços
(Adam Smith; David Ricardo, Stuart Mill).
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A atividade económica é caracterizada pela tentativa de satisfação das necessidades
(ilimitadas) com meios quantitativamente limitados.
Paul Samuelson: «economia é o estudo da forma como as sociedades utilizam os recursos
escassos para produzir bens com valor e como os distribuem entre os seus membros».
Abordagens: microeconómicas; macroeconómicas.
História
(testemunho)
«Para que não caiam no esquecimento os feitos humanos mais notáveis» (Heródoto, séc. V a.C.).
Ciência Política
(politiké – a arte de governar a cidade)
O termo ciência política foi cunhado, em 1880, por Baxter Adams, da Johns Hopkins
University (EUA): politics (forma de processos políticos); policy (conteúdo da política num campo
específico, p.e., não-proliferação nuclear); polity (instituições políticas dentro de um determinado
país). É o estudo da política, dos sistemas, das organizações e dos processos políticos. Apoia-se
principalmente no Direito, na História e na Sociologia. Estuda os problemas relativos às relações
de poder entre indivíduos e entre grupos e o exercício do poder pelas organizações (liderança,
partidos e organismos políticos).
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- Texto de apoio: Rodrigues, Donizete (2017). “Património Cultural, Memória Social e Identidade: interconexões
entre os conceitos”. Revista Letras Escreve, vol. 7, nº 4, pp. 337-361.
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Linguística
Antropologia
A reflexão sobre o Homem, nos seus aspetos biológicos, sociais e culturais, é tão antiga
quanto à própria humanidade. O Homem, dotado de inteligência, sempre questionou a sua origem,
a sua vida presente, a morte e, principalmente, num contexto religioso, o que acontece depois da
morte (Rodrigues, 2007).
Mas a Antropologia como ciência autónoma é relativamente recente; começa a despontar-se
na Europa somente no final do século XVIII, para adquirir maior cientificidade na segunda metade
do século XIX.
No princípio, o seu objeto próprio de estudo eram as denominadas sociedades primitivas,
que habitavam zonas exteriores às áreas de civilização europeia; sociedades de pequenas
dimensões, predominantemente caçadoras-recolectoras, com tecnologias rudimentares e sem o
conhecimento da escrita.
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Para compreender os povos primitivos, a Antropologia desenvolveu um método de trabalho
de campo, denominado «observação participante», cujo principal precursor foi Bronislaw
Malinowski.2 Segundo este método, não basta observar, é preciso integrar-se e participar
plenamente nas atividades quotidianas do grupo ou sociedade em estudo. É preciso ser adotado
(ser aceite pelo grupo); aprender a língua nativa e as suas regras de comportamento; ajudar nas
atividades que garantem a subsistência do grupo (caça, agricultura, pastorícia, pesca); rir e chorar
com (e como) eles, ou seja, participar nos momentos felizes (festas) e nos momentos de tristezas
(catástrofes naturais, doenças, mortes). Resumindo: embora sem nunca esquecer que é um
investigador, o etnógrafo (o antropólogo em campo) deve procurar viver com e como a sociedade
ou grupo em estudo vive.
Como testemunhou Evans-Pritchard (1976), quando fazia trabalho de campo etnográfico
com os Azande,
«I tried to adapt myself to their culture by living the life of my hosts, as far as
convenient, and by sharing their hopes and joys, apathy and sorrows. In many
respects my life was like theirs: I suffered their illnesses; exploited the same food
supplies; and adopted as far as possible their own patterns of behaviour with resultant
enmities as well friendships» (p. 45).
Antropologia da religião
A Antropologia da religião é um ramo da Antropologia social/cultural. A abordagem
antropológica da religião envolve sempre símbolos, mitos, ritos, rituais, ética e experiências do
sagrado, vividas no contexto da sociedade. Vejamos alguns dados da história desta disciplina.
O início da abordagem antropológica da religião surge com o aparecimento da própria
Antropologia como ciência, na segunda metade do século XIX. Portanto, o fenómeno religioso
sempre foi um tema primordial para a compreensão da estrutura e das manifestações culturais das
diferentes sociedades denominadas primitivas. Max Muller, Robertson Smith, Edward Tylor e
James Frazer, embora todos teóricos de gabinete, foram os primeiros antropólogos a defender que
as práticas religiosas das sociedades tribais poderiam ser estudadas segundo as regras do método
2
Bronislaw Malinowski (1884-1942) nasceu na Polónia, mas passou a maior parte da sua carreira científico-académica
na London School of Economics, onde tornou-se professor em 1927. Juntamente com Radcliffe-Brown, foi um dos
grandes fundadores da Escola antropológica funcionalista. Realizou trabalhos de campo etnográficos na Papua Nova
Guiné, no período da I Guerra Mundial (1914-18), e desenvolveu o método antropológico denominado «observação-
participante». As suas obras mais conhecidas são: Argonauts of the Western Pacific (1922), Magic, Science and
Religion (1925) e The Sexual Life of Savages in North-Western Melanesia (1929).
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Frederic Thrasher (1927). The Gang. Chicago: Chicago University Press.
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William Foote Whyte (1943). Street Corner Society: the social structure of an Italian slum. Chicago: Chicago
University Press
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científico. Assim, metodologicamente, estavam criadas as bases para a abordagem comparativa
das crenças e práticas religiosas da sociedade humana, em diferentes contextos históricos,
geográficos e culturais.
Os antropólogos clássicos estavam particularmente preocupados com duas questões fulcrais:
a natureza, a essência da religião e a origem e evolução da religião. Fortemente influenciados pelo
contexto científico da época, dominado pelo Evolucionismo social/cultural, eles defendiam uma
progressão do pensamento humano, das formas mais simples para as mais complexas, na seguinte
sequência: magia, religião e ciência.
Segundo Malinowski (1988), foi Edward Tylor, em Primitive Culture (1871), o primeiro a
criar as bases teóricas do estudo antropológico da religião. A teoria do Animismo de Tylor, a
crença em seres espirituais, «é a essência da religião primitiva» (p. 20). Segundo o Animismo, o
Homem primitivo, no seu «modelo explicativo religioso», diferenciou a alma do corpo, pois ela
continua a existir depois da morte. Graças à imortalidade, os espíritos dos mortos, as almas dos
antepassados, aparecem (e perseguem) os vivos em recordações, visões e sonhos.
E. Tylor defende a teoria dos três estágios de evolução social aplicados ao fenómeno
religioso: animismo, politeísmo e monoteísmo. A ideia central é que a origem da religião primitiva
está ligada aos espíritos ou almas - do latim anima, daí o conceito de animismo, um sistema
religioso caracterizado pela crença nas almas ou nos espíritos (que podem ser benignos ou
malignos), que vivem no mundo dos homens e que podem influenciar ou condicionar o
comportamento humano quotidiano.
Sir James Frazer, na sua obra clássica The Golden Bough (1890), aborda as três principais
questões antropológicas sobre a religião primitiva: a relação entre magia, religião e ciência -
defende a ideia de que, nas sociedades mais avançadas, a magia seria substituída pela religião e
ambas seriam finalmente substituídas pela ciência; o totemismo; os cultos de fertilidade e
vegetação. Segundo Frazer, o Animismo não é a crença dominante na sociedade primitiva, pois
«O homem primitivo procura, acima de tudo, controlar o curso da natureza,
tendo em vista objectivos práticos, e fá-lo diretamente através de rito e da fórmula
mágica … só muito mais tarde, ao descobrir as limitações do seu poder mágico, é
que … apela para seres superiores», ou seja, «demónios, espíritos ancestrais ou
deuses» (Malinowski, 1988:21).
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por Lowie (Primitive Society), Lévy-Bruhl5, Malinowski e Radcliffe-Brown, ele foi um dos
grandes defensores da teoria Estrutural-Funcionalista da Escola antropológica britânica. A maioria
dos seus trabalhos de campo etnográficos foi realizado em África (Sudão), entre 1926 e 1929,
principalmente com os Azande e os Nuer. As suas obras Witchcraft, Magic and Oracles among
the Azande (1937) e Nuer Religion (1956) são dois clássicos da Antropologia da religião. Nuer
Religion é considerado um marco no estudo da Antropologia simbólica, cuja perspectiva foi depois
seguida por Victor Turner6, Mary Douglas7 e Clifford-Geertz8. Aliás, para estes autores, a
Antropologia da religião nada mais é do que uma Antropologia do simbólico.
Após a crise da Antropologia na década de 1960, a Antropologia da religião, para além dos
estudos que já vinha realizando - sobre as sociedades tribais remanescentes e do sincretismo
religioso (como, p.e., o sincretismo dos deuses/divindades africanas com os santos católicos, no
Brasil e em Cuba) e movimentos messiânicos nas sociedades marcadas historicamente pelo
Colonialismo -, passou também a estudar manifestações religiosas no contexto das sociedades
modernas (Europa e América do Norte), como é o caso dos novos movimentos religiosos e das
minorias étnicas e religiosas (fruto do maciço processo de imigração dos países periféricos pós-
coloniais para estes dois grandes centros), e do importante fenómeno do Pentecostalismo
transnacional, principalmente na América Latina e em África.
A Antropologia da religião, que valoriza o homo religiosus, estuda, sobretudo, através do
método comparativo, a grande diversidade de crenças e práticas religiosas, em diferentes contextos
culturais. Atualmente, esta disciplina estuda a religião sob duas perspectivas: sincrónica, como um
conjunto ou subsistema coerente de pensamentos, sentimentos e comportamentos e diacrónica,
como um subsistema cultural dinâmico, marcado por uma constante mudança ao longo do tempo.
Sociologia
1. Bases científicas:
a) Evolucionismo biológico (Darwin, Origens das Espécies, 1859).
Evolucionismo social/cultural: do biológico ao social.
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Lucien Lévy-Bruhl (1857-1939), antropólogo francês, conhecido ex-professor de história da Filosofia moderna na
Universidade de Sorbonne, especialista no estudo da «mentalidade primitiva» (La Mentalité Primitive, 1923),
particularmente no papel das emoções nos povos primitivos.
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Victor Turner (1920-1983), nascido na Escócia, fez o seu doutoramento em Antropologia social, no contexto da
tradição estrutural-funcionalista, sob a orientação de Max Gluckman, na Universidade de Manchester, Inglaterra, onde
lecionou entre 1955 e 1963, quando migrou para os Estados Unidos. Desenvolveu o clássico estudo sobre a sociedade
Ndembu, um grupo Bantu da antiga Rodésia do Norte, atual Zâmbia (Schism and Continuity in na African Society,
1957). Nos seus estudos tem valorizado as questões relacionadas com a religião, ritual e símbolos (The Ritual Process,
1969).
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Mary Douglas nasceu na Inglaterra em 1921 e estudou Antropologia na Universidade de Oxford com Max Gluckman,
Meyer Fortes e Evans-Pritchard. Realizou trabalhos de campo etnográficos entre os Lele, na religião do Congo Belga.
Nas suas diferentes abordagens antropológicas sobre religião, inclusive sobre o Catolicismo, combinou a teoria
Estrutural-Funcionalista de Evans-Pritchard, e de outros antropólogos sociais britânicos, e a Antropologia Estrutural
do francês Lévi-Strauss.
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Clifford Geertz (1926-2006) é um dos mais importantes antropólogos norte-americanos do século XX. Formado em
Harvard, desenvolveu trabalhos de campo etnográficos na Indonésia (Java, Bali) e Marrocos. A sua obra A
Interpretação das Culturas (1978) é de leitura obrigatória.
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Filósofo inglês Herbert Spencer (1820-1903): Princípios de Sociologia, 1874.
Tese: desenvolvimento progressivo unilinear da humanidade - processo evolutivo da
sociedade humana, das mais simples/primitivas para as mais complexas/industrializadas. Os povos
primitivos testemunham os primeiros estágios evolutivos da humanidade.
Objeto de estudo:
Estuda os variados modos como as ações humanas são condicionadas por relações
estabelecidas ao nível do grupo e organizações no meio em que se inserem: famílias, círculo de
vizinhança, coletividades locais, meios profissionais, instituições, Estados…
O objetivo central da Sociologia é compreender a ação social e assim explicar as suas causas,
desenvolvimento e efeitos; compreender as regularidades sociais.
São problemas centrais para a Sociologia: fundamentos (normativos e simbólicos) da ação,
dos processos de socialização e sociabilidade, da estratificação, integração social, conflito e
mudança.
As ações humanas são produzidas, transformadas e reproduzidas, num processo dinâmico
de mudança social.
Mudança social: ocorre quando há alteração das estruturas básicas que compõem um grupo
social ou uma sociedade. É uma transformação observável no tempo, que afeta a estrutura ou
funcionamento da organização social de uma determinada coletividade e que modifica o curso da
sua história.
Fenómeno social: produto das ações dos indivíduos, que dão um sentido aos seus
comportamentos.
Desenvolvimento de quadros teóricos e conceitos, gerais e específicos, que permitam
análises dos diferentes sistemas sociais.
Premissas epistemológicas:
a) Criar uma teoria da sociedade respeitando as exigências científicas e rompendo com o
senso comum, a fim de atingir à objetividade do discurso sociológico. Para isso, o sociólogo deve
romper (rutura epistemológica) com os seus próprios preconceitos, religião, cultura, experiências,
moral – regra da imparcialidade científica.
b) Ciências positivas (fases metodológicas): observação, experimentação, indução (leis),
comparação, quantificação e classificação.
c) Método histórico: contexto histórico das atividades humanas.
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Cruzamentos/diálogos interdisciplinares:
O paradigma de Marcel Mauss - «o fenómeno social total»: qualquer facto social é sempre
complexo e pluridimensional e, portanto, transdisciplinar. Todo o comportamento só se torna
compreensível dentro de uma totalidade. Exemplo: económico, político e o simbólico-religioso
não são compartimentos estanques – são dimensões inerentes a toda a ação social e estão
profundamente interligadas.
Dificuldades do estudo do fenómeno social:
a) Complexidade do seu objeto de estudo: número elevado de elementos (variáveis) que
podem intervir nas ações sociais.
b) Causalidade social múltipla: enorme diversidade das razões por que e como se fazem as
coisas; não há uma causa única para explicar um determinado comportamento.
c) Instabilidade das situações sociais: decorrente do processo dinâmico de mudança na
sociedade.
d) O sociólogo também é um ator social (membro da sociedade).
e) «Representação teatral» dos atores sociais: questões metodológicas
Os Teóricos
Contribuições sociológicas
1. Preocupação central de Marx: procura do conhecimento das razões e dos mecanismos da
mudança social.
2. Subsídio para o estudo das desigualdades e dos conflitos sociais.
3. Teoria do «Materialismo histórico»:
Todas as sociedades assentam numa base económica (infraestrutura) e as mudanças nesta
provocam alterações nas outras instituições: políticas, legais, culturais (superestrutura).
As progressivas transformações técnico-científicas provocam mudanças e, principalmente,
conflitos entre as forças produtivas (trabalhadores) e o capital (proprietários). As mudanças podem
ser graduais e/ou revolucionárias e é impulsionada pela luta de classes (interesses); este processo
é o verdadeiro motor da história: «toda a história da humanidade até hoje é a história da luta de
classes».
No sistema capitalista (valorização do capital em detrimento do social), os proprietários
(classe dominante) controlam não só os meios materiais de produção, mas também os meios
políticos e simbólicos-ideológicos. Consequência: controle das classes trabalhadoras (conceito de
massa).
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Utopia: sociedade sem classes; posse comum do sistema económico de produção,
distribuição e consumo dos bens.
«Na construção social de sua vida, o Homem desenvolve determinadas
relações de produção que corresponde a uma determinada fase de desenvolvimento
de suas forças produtivas materiais. O conjunto dessas relações de produção forma
a estrutura económica da sociedade, a base real sobre a qual assenta a superestrutura
jurídica e política. O modo de produção da vida material condiciona o processo da
vida social, política, religiosa em geral. Ao mudar a base económica, se
revoluciona, mais ou menos rapidamente, toda a imensa superestrutura assente
sobre ela. A revolução é fruto das contradições gerada pela vida material, pelo
conflito existente entre as forças produtivas sociais e pelas relações de produção»
(adaptado de Karl Marx, in J. Berian & J. L. Iturrate (eds.). Para Compreender la
Teoria Sociológica, 1998, p. 23).
Pierre Bourdieu (Economia das Trocas Simbólicas, 1986), analisando o ilustre sociólogo
alemão Max Weber (1864-1920), afirma que «Weber está de acordo com Marx ao afirmar que a
religião cumpre uma função de conservação da ordem social contribuindo … para a ‘legitimação’
do poder dos ‘dominantes’ e para a ‘domesticação’ dos dominados» (p. 32).
Portanto, o marxismo atacava a religião em duas frentes: científica, demonstrando ao povo
a irracionalidade da crença religiosa e o caracter ilusório e alienante da fé em Deus e política,
defendendo a revolução social como forma de eliminar a estrutura económica da qual depende a
religião.
Nos anos de 1960, apesar das fortes críticas contra as teses marxistas, alguns neomarxistas
voltaram a se preocupar com o fenómeno religioso, considerando o materialismo histórico como
9
Donizete Rodrigues, Sociologia da Religião: uma introdução. Porto, Afrontamento, 2007.
10
Marx, Karl (1843-1844). «Crítica da Filosofia do Direito de Hegel», in Sobre a Religião. Lisboa, Edições 70, 1975,
pp. 47-49.
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o melhor modelo teórico-metodológico para explicar as crises das sociedades modernas. As teses
neomarxistas influenciaram não só a Antropologia e a Sociologia, mas também vários movimentos
laicos e religiosos; a teologia da libertação na América Latina é um dos exemplos mais conhecidos
(Boff, 1981).
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- As Regras do Método Sociológico, 1895. Sugere duas teses principais, sem as quais a
sociologia não poderia ser uma ciência:
a) Ter um objeto específico de estudo. Diferentemente da filosofia ou da psicologia, o objeto
próprio da sociologia é o fato social.
b) Respeitar e aplicar um reconhecimento objetivo, um método científico, trazendo-a para
perto, dentro do possível, das outras ciências exatas. Este método pode evitar a todo custo
preconceitos e julgamentos subjetivos.
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Donizete Rodrigues, Sociologia da religião: uma introdução. Porto, Afrontamento, 2007.
12
Donizete Rodrigues, Sociologia da religião: uma introdução. Porto, Afrontamento, 2007.
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Escolas sociológicas
Escola de Frankfurt (Adorno, Horkheimer e Habermas): reactualização da teoria marxista
para compreender as mudanças da estrutura social das sociedades pós-guerra, com principal ênfase
na emergência da «sociedade e cultura de massas».
Escola de Chicago (Herbert Mead, Paul Lazarfeld, Erving Goffman): início do século XX,
com a preocupação com o estudo do desenvolvimento urbano (sociologia urbana; geografia-
ecologia urbana – distribuição espacial do povoamento): desestruturação social causada pela
migração maciça para as grandes cidades; pobreza; segregação dos negros;
As principais teorias
Toda teoria sociológica consiste numa problematização compreensiva de estruturas e
processos sociais, na forma de discursos interpretativos da realidade social, ou seja, natureza e
função das relações sociais.
Construtivismo (Berger & Luckmann; Bourdieu; Giddens; Touraine): considera que a
realidade social é fruto de uma construção histórica (permanente) e quotidiana dos atores
individuais e coletivos.
Estruturalismo - Antropologia (Lévi-Strauss)
Observação das estruturas que compõem a sociedade. Procura entender no interior de uma
sociedade os elementos estruturais, ligados entre si - e que provocam (des)equilíbrios no sistema
– que explicam o porque da mudança social.
Def. de Estrutura: combinação das partes num todo.
Forte influência da:
a) Escola de Praga: Jakobson – a língua é uma totalidade sistémica;
b) Línguística de Ferdinand Saussurre - língua é um sistema cujas partes devem ser
consideradas na sua solidariedade.
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Donizete Rodrigues, Sociologia da religião: uma introdução. Porto, Afrontamento, 2007.
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- Grupal – analisa o processo de interação que se desenvolve em sociedade:
- Morfológico – analisa o conjunto de variáveis importantes na composição, no espaço e no
tempo, nos indivíduos e na dimensão física dos grupos;
- Sistémico – analisa as inter-relações como tais, independentemente das pessoas que as
realizam;
- Cultural – centra-se nos valores, nas ideias e nas normas que, em sociedade, os indivíduos
aprendem, partilham e transmitem.
Métodos e técnicas
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Fontes de informação: documental (escrito, filme, fotografia) e estatístico.
Abordagens:
a) Microssociologia: estuda as relações entre atores sociais, entre indivíduos ou entre grupos,
e as posições e os papéis sociais que os atores ocupam e desempenham no seio dos espaços sociais
em que estão inseridos.
b) Macrossociológica: estuda os mecanismos e os processos pelos quais as partes interativas
que compõem uma sociedade (sistema social) a fazem funcionar e existir enquanto tal; que
determina a sua especificidade.
c) Interdisciplinar: incorporação de conceitos, tipologias, técnicas de recolha de outras
ciências sociais.
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- Kurt Lewin (1946), “Action research and minority problems”. Journal Social Issues, 2(4):34-46.
15
- Alain Touraine (1982), “O Método da Sociologia da Ação: a intervenção sociológica”. Novos Estudos. CEBRAP,
1(3):36-45.
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IV - TEMAS INTERDISCIPLINARES
1. Natureza X Cultura
Abordagem naturalista/biologismo (Wundt, Ribot, Pavlov, Watson): procurar na sua
composição biológica (racial) a causa da diferenciação dos homens dentro da mesma sociedade e
a causa do desigual destino das diversas sociedades humanas ao longo da história. Interpretação
do social a partir de fatores ditos naturais (físicos-geográficos, biológicos-hereditários ou
psicológicos), considerados inerentes à natureza humana. Os fatores biológicos são causas dos
fatores culturais.
Sociobiologia e Etologia humana (Antropologia): estudo das bases biológicas do
comportamento animal/humano: a questão da teoria racial, da inteligência, das diferenças de
género, da propensão à violência.
2. Indivíduo X Sociedade
Psicologismo: a sociedade é um agregado de indivíduos singulares, a concretização dos
interesses por parte de cada um deles serve para garantir a harmonia coletiva. A explicação
sociológica deve ser obtida através da extrapolação de atributos individuais.
Sociologismo: indivíduos e sociedade não são realidades separáveis.
Karl Marx, Tese sobre Feuerbach: «a essência humana não é uma abstração inerente ao
indivíduo, mas … o conjunto das relações sociais».
Ruth Benedict, Padrões de Cultura (1934:276-7):
- «A sociedade e o indivíduo não são antagónicos, mas interdependentes»
- «A cultura fornece a matéria-prima de que o indivíduo faz a sua vida».
- «Não há nenhuma cultura que tenha conseguido destruir as diferenças de temperamento
das pessoas que a compõem».
Cultura e personalidade16
Def. de personalidade: conjunto das qualidades mentais do indivíduo. A soma total das
faculdades racionais, percepções, ideia, hábitos e reações emocionais condicionadas.
As personalidades afetam a cultura e a cultura afeta a personalidade – ver também a
problemática da dinâmica da mudança social.
- Os conceitos de endo-culturação e socialização.
3. Nós X Outros
Etnocentrismo: implica - sobrevalorização da cultura local, (trans)nacional (grupo, classe,
etnia, nação ou área civilizacional) e consequente depreciação das culturas diferentes.
Universalização dos valores próprios do grupo e da cultura de pertença, como referência para a
avaliação de estruturas e práticas sociais diversas.
16
- Ralph Linton, O Homem: uma introdução à antropologia. São Paulo, Martins Fontes, pp. 439-459.
20
Ex.: Colonialismo (dominação política, económica, cultural-religiosa); divisão centro-
periferia (3º mundo) no contexto da globalização.
Bibliografia básica
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