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TEMÁTICA
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
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A origem da Cartografia Temática está relacionada à denominada
Revolução Científica, a partir do século XVI e cujo auge ocorreu entre os
séculos XVIII e XIX. Até então, a Cartografia enfatizava o aspecto de
localização de fatos geográficos sem que houvesse, necessariamente,
preocupações com o conteúdo ou com as possíveis informações que os mapas
poderiam oferecer aos leitores ou usuários. Até então, os mapas buscavam
responder "onde?", mas não "o quê?". Esse cenário começou a mudar com a
sistematização de alguns ramos do conhecimento, que ganharam corpo
teórico-metodológico específico e se tornaram ciências independentes, tal
como a própria Geografia.
Para compreendermos essa transição, é importante considerar o
conhecimento cartográfico acumulado até o Revolução Científica. Enquanto
muitas sociedades antigas proveram as bases acerca da compreensão
geométrica da Terra (com ênfase no sistema cartográfico proposto pelos
gregos, mas também os egípcios, chineses e mesmo o conhecimento
astronômico dos maias), a civilização europeia renascentista emergia no
Mercantilismo e no período das Grandes Navegações. Para favorecer tanto o
comércio quanto a exploração, os mapas se tornaram instrumentos
indispensáveis à orientação. Como consequência, houve um avanço de ordem
técnica: a precisão das medições passou a ser um elemento imprescindível,
para além dos aspectos meramente artísticos e ilustrativos que os mapas
medievais dispunham.
Com a estruturação de novos campos científicos, apenas evidenciar a
localização espacial dos fatos observáveis da paisagem era, muitas vezes,
insuficiente para transcrever informações espaciais específicas. Era preciso,
também, trazer um significado explicativo para o mapa, para além de
elementos geométricos ou essencialmente topográficos: surgem, assim, os
temas. Essa é uma ruptura entre a denominada Cartografia Geral (ou
sistemática, de base) para a recém concebida Cartografia Temática (ou
especial). Destaca-se que "as representações temáticas não estão apartadas
das topográficas e sim, se acrescentaram a elas" (Martinelli e Graça, 2015, p.
914).
As análises puramente descritivas do espaço geográfico, decorrentes da
corrente epistemológica da Geografia Tradicional, eram atendidas pela
Cartografia Geral. Contudo, análises mais complexas resultaram em métodos
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temáticos de mapeamento. Para Duarte (1991, p. 137), “nos trabalhos da
Cartografia Temática, partimos, geralmente, de um fundo básico ou mapa de
fundo que nada mais é do que o conjunto de traços que serve de suporte para
a informação a ser dada sobre determinado tema através de simbologia
adequada”. Isso significa que, embora a distribuição dos fatos geográficos seja
importante, a cartografia temática atende demandas mais específicas.
Martinelli e Graça (2015) realizaram uma ampla discussão sobre a
estruturação da Cartografia Temática e destacaram que os mapas de Edmund
Halley são considerados os pioneiros das representações temáticas
estruturadas e com um método gráfico apropriado. Trata-se de dois mapas do
Oceano Atlântico: um com os ventos alísios e monções, publicado em 1686, e
outro das declinações magnéticas, de 1701. Entretanto, o termo “Cartografia
Temática”, segundo Queiroz (2007), surgiu somente em 1934, na Alemanha.
Posteriormente, as representações (tanto na forma de mapas quanto na
forma de gráficos) foram criadas e adaptadas seguindo demandas particulares
de cada ramo científico, tais como geologia, geomorfologia, climatologia,
demografia e economia. Ou seja, de modo concomitante à evolução das
interpretações sobre os objetos de cada disciplina, os mapas precisaram
responder perguntas sobre as propriedades intrínsecas à espacialização dos
referidos objetos. Novos conceitos e novas teorias resultavam em novos
métodos de representação, ora para explicitar aspectos qualitativos, ora
aspectos quantitativos. A simbolização passou a ser destacada como elemento
principal.
Como exemplo da relação entre fatores históricos e a estruturação da
Cartografia Temática, ressalta-se o Pós-Guerra em meados do século XX. As
perspectivas nacionalistas da época tiveram reflexo na produção de mapas,
pois a elaboração de atlas nacionais, compilando temas físico-naturais e
socioeconômicos, tornou-se um símbolo de soberania dos países (Martinelli e
Graça, 2015). A popularização dos mapas temáticos, portanto, decorre da
aplicabilidade dos produtos cartográficos como ferramenta auxiliar à
interpretação da realidade.
Numa perspectiva evolutiva do conhecimento cartográfico, o aparato
técnico sempre foi o meio, enquanto a mensagem (o conteúdo) sempre foi o
fim. Isso significa, na prática, que o desenvolvimento da informática, dos
Sistemas de Informações Geográficas, dos softwares de Geoprocessamento,
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dos produtos derivados do Sensoriamento Remoto e da internet trouxeram
novos significados e responsabilidades para a Cartografia Temática, com
potencialidades e limitações que devem ser consideradas durante a fase de
estruturação do projeto cartográfico e também na fase de utilização dos
produtos. Salienta-se, por fim, a importância de conhecer os métodos
adequados de representação para a produção de mapas com simbologias
adequadas ao conteúdo e aos usuários.
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considerar as características dos usuários, pois um um estudante do Ensino
Fundamental efetua a leitura do mapa temático de modo mais simplificado se
comparado a um engenheiro cartógrafo, por exemplo, ainda que o conteúdo da
representação (significado) seja o mesmo. Ou seja, o nível de alfabetização
cartográfica prévio ou pretendido (no caso de mapas para fins didáticos) é um
parâmetro que norteia a elaboração do projeto de um mapa temático.
A determinação da simbologia, posteriormente, também tem relação
com as características do tema a ser representado. Numa perspectiva
semiológica (que atribui significado único para a mensagem), os dados que
compõem um mapa temático podem ter relações de similaridade / diversidade,
ordem ou proporcionalidade. Um mapa dos biomas brasileiros, por exemplo,
expressa uma relação de diversidade (qualitativa); um mapa sobre a
classificação da influência das capitais brasileiras indica uma relação de ordem
(hierárquica); um mapa sobre a população municipal do Brasil representa uma
relação proporcional (quantitativa).
Cada uma das relações pode ser representada com uma simbologia
específica que melhor traduza, graficamente, o significado da mensagem. Tais
relações exemplificadas anteriormente "consistem nos significados da
representação gráfica e são expressas pelas variáveis visuais (tamanho, valor,
textura, cor, orientação e forma), que são significantes" (Archela, 1999, p. 6).
Reforça-se que, como citado anteriormente, os mapas temáticos são somados
aos elementos da Cartografia Geral e, portanto, devem indicar elementos de
base (como grade de coordenadas, informações sobre o sistema de referência
e localização).
A comunicação cartográfica abarca as seguintes questões: "o quê?",
"para quem?" e "como?". As respostas dão suporte e embasam a elaboração
do projeto cartográfico. Recentemente, com os recursos tecnológicos
disponíveis, as possibilidades de criação e utilização de mapas vêm
aumentando o leque de representações. A Cartografia cada vez mais interativa
exige que a comunicação seja condizente à popularização da geoinformação,
isto é, que os mapas temáticos não sejam restritos apenas a grupos
profissionais específicos. A linguagem cartográfica, no século XXI, torna-se
cada vez mais universalizada mediante a aplicabilidade no cotidiano.
Os mapas impressos pouco a pouco foram incorporados aos
computadores, como arquivos digitais, e tais representações outrora estáticas
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vêm se tornando cada vez mais dinâmicas com recursos gráficos animados. A
comunicação é influenciada tanto pelas demandas da sociedade quanto pelo
nível tecnológico disponível. Daí a importância de destacar, mesmo em
ambiente computacional, o tratamento gráfico da informação: o tema a ser
representado é manifestado de que maneira no espaço geográfico? Qual é a
escala de representação? Os símbolos são condizentes às características
intrínsecas ao tema? O layout possui organização e caráter informativo?
Martinelli (2007) diferencia mapa "para ver" do mapa "para ler", no qual o
primeiro é assimilado de modo instantâneo e o segundo demanda maior
atenção e análise. Além disso, a compreensão do conteúdo ocorrerá de modo
mais rápido se os símbolos apresentarem maior independência em relação à
legenda. Isso significa que se os símbolos não apresentarem relação com os
conceitos do tema, a consulta à legenda será constante e a leitura do mapa
dependerá do fator de memorização. Isso explica porque mapas turísticos,
majoritariamente, trazem elementos pictóricos (de fácil assimilação) para
indicar temas de interesse.
Em suma, destaca-se que o processo de comunicação cartográfica
provém uma intermediação entre a emissão e a recepção de uma mensagem
transcrita por um mapa. Como síntese do processo comunicativo, Sampaio
(2019) apresenta as seguintes etapas: definição do usuário, definição do
objetivo, análise da informação, análise do veículo de comunicação, análise do
layout e da percepção e, por fim, testes com usuários e rascunhos para a
obtenção do material gráfico final.
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Muitas limitações e potencialidades apontadas por cada teoria auxiliaram
a responder questões que trouxeram novas perguntas. Esse ciclo é
fundamental para o avanço científico, pois cada período possui especificidades
em relação aos temas, aos produtores, aos usuários e aos modos de efetuar a
comunicação com emprego de mapas. Martinelli (2007) destaca que a década
de 1960 marcou uma segunda fase da denominada Cartografia Científica, com
ênfase nas questões dialógicas. A primeira fase, no século XIX, marcou a
estruturação de metodologias pioneiras para representações temáticas.
Entre as teorias cartográficas de maior relevância para as reflexões
acerca da produção de mapas temáticos, conforme Archela e Archela (2002) e
Queiroz (2007), destacam-se: Teoria da Comunicação, Teoria Geral dos
Signos (Semiologia Gráfica), Teoria da Modelização, Teoria da Cognição e,
mais recentemente, a Visualização Cartográfica.
Na Teoria da Informação, o mapa é tratado como um veículo de
informação. Essa teoria foi uma das precursoras nas discussões específicas da
comunicação cartográfica. Considera-se que, assim como outros meios
comunicativos, a relação entre emissor (o produtor do mapa), mensagem
(traduzida pelo mapa, que é o canal de transmissão) e receptor (o usuário) é
complementar e pode apresentar ruídos. Nesse sentido, o mapa é um sistema
aberto: a informação pode ter distintos significados, caracterizando a
denominada linguagem polissêmica. Na prática, isso significa que o mapa
temático depende tanto do conhecimento prévio do produtor quanto do usuário
e de seus respectivos repertórios sobre o conteúdo tratado.
Na Teoria Geral dos Signos, em contrapartida, considera-se que o
produtor e o usuário do mapa devem estar em condições iguais no processo
comunicativo. Ou seja, a transmissão do conteúdo não pode ser dúbia e, para
isso, os símbolos (conjunto de signos) adotados para a representação têm a
necessidade de indicar um significado único: eis o princípio da linguagem
monossêmica, na qual os símbolos têm significados universais e objetivam
eliminar subjetividades no processo comunicativo para a compreensão
imediata.
Essa teoria é primordial para a Cartografia Temática e foi amparada
pelos preceitos da Semiologia Gráfica, na qual Jaques Bertin definiu " as regras
que regem a redação gráfica [...] baseadas em mecanismos de percepção
visual" (Martinuci, 2016, p. 44). De acordo com a obra de Bertin (1967), o olho
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humano possui seis propriedades perceptivas e com base nessa característica
foram definidas as variáveis visuais: cor, valor (ou intensidade da cor),
tamanho, forma, orientação e textura (também chamada de granulação). Tais
variáveis são aplicadas nas representações gráficas e podem ser comparadas
à função do alfabeto na linguagem escrita, tamanha sua importância para a
Cartografia Temática.
Na Teoria da Modelização o mapa é concebido como um modelo da
realidade. Essa característica decorre da corrente epistemológica da Geografia
Teorética-Quantitativa, que priorizou o raciocínio estatístico e matemático para
explicar os fenômenos da natureza e da sociedade. Os mapas temáticos,
portanto, traduziam esses conceitos graficamente. As representações
deveriam, nessa perspectiva, evitar elementos subjetivos ou que não fossem
estruturadas sob preceitos positivistas (hipóteses científicas acerca dos temas).
Na Teoria Cognitiva, o mapa é considerado uma fonte variável de
informação. Considera-se o nível de conhecimento dos usuários como
elemento central para a produção de mapas. Trata-se de uma abordagem mais
voltada para aspectos subjetivos e individuais, tais como os mapas mentais.
Essas discussões foram essenciais, por exemplo, para o ensino de Geografia:
professores têm capacidades de leitura cartográfica superiores aos alunos de
Ensino Médio, que por sua vez têm repertório superior aos alunos de Ensino
Fundamental. O produtor do mapa, assim, deve considerar tais características.
A transposição da informação não é limitada a aspectos relacionados à visão,
senão também à psicologia e fatores afins.
Essas quatro teorias apresentadas até aqui foram enfatizadas durante a
década de 1960 e 1970 e, até chegarmos nas perspectivas da Visualização
Cartográfica, já no século atual, Girardi (2003) considerou outras três
perspectivas importantes que auxiliaram nessa transição durante a década de
1980 e 1990: os Sistemas de Informações Geográficas (SIGs), a alfabetização
cartográfica e a linguagem dos mapas.
De modo gradativo, a inserção da tecnologia trouxe novas tendências às
teorias cartográficas, complementando as perspectivas comunicativas e
cognitivas. É nesse contexto que emerge a denominada Visualização
Cartográfica, com ênfase nos recursos computadorizados e de multimídia para
aumentar a interatividade na utilização dos mapas (Slocum et al., 2009). Nesse
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cenário, a Cartografia ganhou novas possibilidades (inclusive de exploração
das informações) para além de representações estáticas e bidimensionais.
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técnicas estabelecidas pela Especificação Técnica para o Controle de
Qualidade de Produtos de Conjuntos de Dados Geoespaciais (ET-CQDG).
Tenhamos como exemplo a elaboração de um mapa temático sobre
risco a desastres naturais de determinado município. Se a base de dados
disponível contempla a geologia na escala 1:1.000.000, uso do solo 1:50.000
do ano de 1980, precipitação pluviométrica com dados da década de 1960 e
cadastro urbano 1:1.000 de 2018, há uma incompatibilidade escalar (tanto
temporal quanto espacial) que inviabiliza a integração de todos os temas para
criar um mapa de síntese. Isso significa que as decisões para a elaboração de
mapas precisam seguir critérios cumulativos, com rigor metodológico.
Os softwares de geoprocessamento dispõem de inúmeras possibilidades
para a construção de mapas temáticos: alguns com ênfase em ferramentas
operacionais, outros com ênfase nas interfaces gráficas para layouts, embora
comumente ambos sejam associados e adequados à estrutura de um Sistema
de Informações Geográficas, como o QGis (livre) e ArcGIS (comercial).
Referente às ferramentas operacionais para o tratamento dos dados
geoespaciais, destacam-se: 1) ferramentas de edição vetorial, como o desenho
(criação) de pontos, linhas e polígonos, operações de corte, união, interseção,
topologia e demais edições geométricas; 2) análise espacial, incluindo
sobreposições, combinações, cálculos de vizinhança, distâncias etc.; 3) edição
matricial (com muitos produtos de Sensoriamento Remoto), contemplando
composição de bandas, álgebra de mapas, reclassificações e variáveis
morfométricas; 4) interpoladores, para representar valores contínuos a partir de
dados pontuais (precipitação pluviométrica a partir de estações meteorológicas,
por exemplo); 5) ferramentas geoestatísticas, para inferências com maior nível
de complexidade matemática.
Tais ferramentas auxiliam na transformação de um dado bruto em
informação, que é a interpretação do dado. Alguns dados temáticos já são
disponibilizados sem que haja necessidade de edição posterior (unidades de
relevo, por exemplo), sendo necessário apenas o tratamento gráfico, ou seja, a
escolha da simbologia (nesse caso, das cores). Todavia, tudo depende do
objetivo do mapa temático.
Quanto às ferramentas gráficas aplicadas na simbolização dos mapas,
destacam-se: inserção de textos, feições geométricas, encartes, perfis, figuras,
símbolos pictóricos, símbolos proporcionais, símbolos personalizados, distintos
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sistemas de cores, transparências e, num SIG, sobreposição de camadas.
Devido à finalidade cartográfica, também incluem grades de coordenadas,
escalas gráficas e numéricas e referenciais de orientação. Tanto os
processamentos quanto as representações dos dados foram favorecidas pelo
desenvolvimento da informática, que automatizaram e otimizaram muitas
etapas outrora manuais, custosas e com limitações técnicas.
Novas perspectivas também têm salientado a função da Cartografia
Temática no âmbito digital, tais como a cartografia colaborativa, na qual os
próprios usuários atuam como produtores e gerenciadores de dados
geoespaciais; aplicativos em smartphones, com mapas integrados para
diversas finalidades; e WebSIGs, cujas interfaces contemplam conceitos
cartográficos temáticos na representação das camadas de informação.
A inclusão dos preceitos computadorizados, entretanto, não deve
sobrepor ou eliminar os preceitos acumulados sob a perspectiva analógica. Ou
seja, mapas impressos ainda são muito importantes e utilizados. Vivenciamos
uma fase transitória. Ressalta-se, por fim, que os conceitos, objetivos e
técnicas da Cartografia Temática devem ser sempre evidenciados. Os mapas
podem ser elaborados em ambiente digital para fins de impressão ou
visualizados nos próprios dispositivos digitais. A função do geógrafo é analisar
criticamente não apenas os conteúdos dos mapas (a informação), mas também
a própria construção dos produtos cartográficos.
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serão os resultados. A ênfase em determinado aspecto se dá pelos objetivos
de cada mapa e também ao público de destino.
Essa característica diferencia o geógrafo de outros profissionais, pois é
um conhecimento que acompanha o raciocínio desde a concepção até a
utilização dos mapas temáticos. Além disso, "a expressão artística é própria
também de todo trabalho cartográfico, no instante em que o cartógrafo busca
fornecer uma informação do modo mais adequado, através de uma linguagem
gráfica, respeitando as regras da semiologia gráfica e sem esquecer a ótica da
estética" (Duarte, 1991, p. 135).
Tenhamos como exemplo um mapa temático sobre a vulnerabilidade
socioambiental brasileira. Inicialmente, os conceitos teóricos sobre o tema
devem ser reconhecidos de modo amplo, pois uma confusão conceitual entre
vulnerabilidade, suscetibilidade e risco tornaria o mapa inconsistente já nas
etapas prévias. Na sequência, o produtor do mapa deve reconhecer os
métodos de representação e as melhores soluções cartográficas para efetuar a
comunicação do conteúdo e os instrumentos técnicos para isso (aquisição de
dados e softwares de edição). Por fim, deve sistematizar a simbolização e um
layout (seja em formato impresso ou digital) que favoreça, esteticamente, a
transposição da informação.
Se o mapa for elaborado para um público especializado, sejam
acadêmicos ou profissionais da área, os conceitos científicos podem ser
enfatizados. Se o documento cartográfico tiver uma finalidade mais pragmática,
como para gestores públicos, o mapa assume uma função de ordem mais
técnica. Se for aplicado no ensino de Geografia, a simplificação do conteúdo
científico passa por considerações artísticas vinculadas a conceitos
pedagógicos e semiológicos.
Num produto temático, ressalta-se que a “informação apresentada num
mapa deve concordar com as necessidades específicas de sua estrutura e
esta, com um conjunto de características geométricas e simbólicas” (Rodrigues
e Souza, 2008. p. 66). Trata-se de um processo contínuo: o tema apresenta
consistência científica, isto é, os conceitos são coerentes? Os procedimentos
técnicos empregados na produção do mapa são eficazes e transmitem, sem
dubiedade, o conteúdo? A estruturação da representação é visualmente
harmônica, informativa e organizada?
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Devido às questões recentes que vieram imbricadas à popularização da
Cartografia, os produtores dos mapas têm assumido as funções de "designers
da informação espacial" ou "arquitetos da informação geoespacial" para criar
aplicações inovadoras de mapas (Meneguette, 2012, p. 30). A transição do
papel para a tela do computador, do uso restrito para o uso amplo, implicou em
novos pesos dados aos elementos científicos, técnicos e artísticos.
As facilidades técnicas para criação de mapas, atualmente, evidenciam
limitações e potencialidades da Cartografia Temática. Ainda que a
possibilidade de criação de mapas pelo público não especializado seja benéfica
para a democratização da informação, a ausência de critérios durante a
elaboração de tais produtos pode banalizar o caráter metodológico empregado
nos projetos cartográficos.
Um exemplo interessante da relação entre arte e Cartografia é o mapa
da região da Toscana (Itália), de 1503, de Leonardo da Vinci. Nessa obra, o
artista representou fielmente o relevo, continuamente, com o sombreamento
detalhado. Hoje muitos mapas temáticos apresentam uma camada
transparente com relevo sombreado para representar a noção de profundidade,
cujo processamento é realizado com base em modelos digitais do terreno.
NA PRÁTICA
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reflexão: o processo de alfabetização cartográfica acompanhou a evolução
tecnológica?
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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CARTOGRAFIA TEMÁTICA
PARA PROJETOS
CARTOGRÁFICOS
Cartografia Temática
18
2. CARTOGRAFIA TEMÁTICA PARA PROJETOS CARTOGRÁFICOS
INTRODUÇÃO
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tempo em telejornais, mantêm-se alguns elementos (como frentes frias,
sistemas de alta pressão e temperatura), mas a linguagem é alterada em
função do público-alvo e, consequentemente, a simbolização também –
inclusive com recursos de animação, para indicar aspectos dinâmicos.
O preceito básico é considerar "que formas o falante (autor do mapa ou
seu apresentador) utiliza (linguagem) para transmitir o enunciado (mapa)"
(Francischett, 2014, p. 849). A intermediação desse processo se dá pelas
considerações acerca do nível de alfabetização cartográfica, tanto do produtor
quanto do usuário. Além disso, "na relação da natureza da linguagem do mapa
e a prática discursiva, o que interessa interpretar é o mapa, que trata os dados
não como ilustrações, mas como significados para a comunicação dos
sentidos" (Francischett, 2014, p. 851).
Antes do tratamento dos dados temáticos há a necessidade de
adequação dos elementos de base, já que a localização é a função elementar
de qualquer mapa. O tema, por si só, pode ter seu significado espacial
esvaziado se não contar com atributos de referência que o situem. Num mapa
temático sobre densidade demográfica, por exemplo, a inclusão dos limites
municipais e das principais rodovias (base cartográfica) incrementa a
compreensão. Quanto mais informativa for a representação, maior será a
eficácia da comunicação.
Conforme apresentado no sistema de comunicação cartográfica (figura
1), a realidade é compartilhada pelo produtor e o usuário do mapa. Ambos
possuem arcabouços linguísticos (cartográficos) distintos. Para Sluter (2008), o
projeto cartográfico possui seis etapas: conhecer o usuário e suas
necessidades; determinar os mapas a serem projetados; definir escala e
projeção; coletar a analisar os dados; definir a linguagem visual (primitivas,
níveis de medida e variáveis visuais); construir o mapa (generalização e
simbologia).
Na questão “mapa para quê?”, a ênfase está na concepção do tema. Ou
seja, de que maneira uma representação gráfica pode ajudar na explicação de
determinado fenômeno geográfico que um texto já não o faça? Quais são as
vantagens da comunicação visual para a leitura dos fenômenos geográficos?
Quais serão os recursos utilizados? O mapa será impresso, visualizado em tela
ou permitirá interação na Web? Quais são as características do tema? A
linguagem, assim, deve ser condicionada aos meios operacionais.
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Figura 1 – A linguagem cartográfica no processo de comunicação.
Fonte: Sluter (2008, p. 4)
21
proposição de um sistema de signos cartográficos deveria ser capaz [...] de
expressar qualquer referente, todos eles reunidos em torno de três relações
fundamentais que caracterizam os fenômenos espaciais:
diversidade/similaridade, ordem e proporcionalidade” (Martinuci, 2016, p. 40).
A partir da definição das características do tema, a representação gráfica
é realizada pela aplicação das variáveis visuais, que, conforme Bertin (1967),
são as seis propriedades perceptivas que nossos olhos conseguem distinguir
graficamente. São elas: cor (azul, vermelho, amarelho etc.); valor ou
intensidade da cor (azul claro, azul escuro); forma (círculo, triângulo, retângulo
etc.); tamanho (círculo pequeno, círculo grande); orientação (linha horizontal,
linha vertical, por exemplo); textura ou granulação (variações de espessuras,
como em hachuras).
Cada uma das variáveis visuais possui propriedades perceptivas
particulares em relação às características dos temas a serem simbolizados.
Assim, cada variável pode indicar noções seletivas, ordenadas, quantitativas ou
associativas. A intensidade (valor), por exemplo, tem propriedade ordenada e
seletiva, pois as variações da cor, do claro para o escuro, trazem essa
sensação. Isso significa que ela é recomendada para temas que contemplem
hierarquias (como eras geológicas), mas não é recomendada para temas
associativos (como formas de relevo).
Por fim, cada variável visual pode ser implantada graficamente de três
maneiras: como ponto, linha ou área (polígono ou zona), conhecidas como
primitivas gráficas. Por causa das variações de escala, os objetos ou
fenômenos podem ser implantados de distintas maneiras.
Todas essas características são resumidas pelo quadro da figura 2, que
sistematiza, ilustrativamente, os conceitos da Semiologia Gráfica. Faz-se
imprescindível o conhecimento sobre essas regras semiológicas e suas
possibilidades de aplicação. Na figura 2, a propriedade quantitativa é
representada por Q, a ordenada por O, a seletiva por ≠ e a associativa por ≡.
Posteriormente, alguns autores adaptaram e refinaram a proposta de
Bertin (1967). Entre elas, destaca-se a proposta de Slocum et al. (2009), que
referente aos modos de implantação incluiu a perspectiva de representações
volumétricas de superfícies (2,5D), como o relevo, e tridimensionais (3D), que
são os objetos sobre a superfície. Referente às variáveis visuais, Slocum
propôs três novas possibilidades adicionais às seis de Bertin: espaçamento,
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arranjo (com lógica semelhante à textura ou granulação) e altura em
perspectiva. Por fim, ainda subdividiu a cor em três variáveis: matiz, brilho e
saturação.
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feita por área. Todas as variáveis podem ser utilizadas nesse caso, mas a cor é
assimilada de modo mais rápido do que as demais. Além disso, é possível
vincular a cor ao significado de cada classe (vegetação em verde, por exemplo,
praticamente elimina a necessidade de consulta à legenda).
No segundo mapa, o tema expressa um conteúdo proporcional e, por
isso, a variável visual para representá-lo deve ter uma propriedade perceptiva
quantitativa. A única que pode expressar essa noção, graficamente, é o
tamanho. Considerando a escala do mapa, as escolas públicas devem ser
implementadas com pontos. Visualmente, de modo instantâneo o leitor do
mapa compreenderá onde estão localizadas as maiores e menores escolas do
município.
No terceiro mapa, mais complexo, o tema contempla relevo e deve
transpor duas informações: a altimetria, que pode ser implementada por linhas
que indiquem o mesmo valor ou por uma superfície 2,5D, com os valores da
elevação acima do nível do mar; e as formas de relevo, que podem ter
ocorrência linear (vales), pontual (topos) e areal ou zonal (montanhas). A
utilização da variável intensidade (valor da cor) para representar a hipsometria
traz a percepção de ordem, ou seja, quanto mais escura for a cor, mais alto
será o local. Nos objetos do relevo, a variável forma indicaria a noção
qualitativa do tema.
"o entendimento de que a criação e o uso de mapas são atividades que fazem
parte de um mesmo processo denominado de comunicação cartográfica, e que
sua efetivação depende de nossa percepção visual, mudou a maneira de se
realizar o projeto cartográfico. A comunicação cartográfica ocorre com a
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linguagem cartográfica, e esta é construída com base nas capacidades e
limitações de nossa percepção visual" (Sluter, 2008, p. 3).
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Especificamente em relação à composição temática, a legenda é
caracterizada como o principal elemento do layout. Ela "espelha uma
metodologia científica. Portanto, mais importante do que escolher signos com
caráter definitivo para representar determinados objetos ou fenômenos, é
preciso transcrever corretamente a natureza das relações que se estabelecem
entre eles" (Francischett, 2014, p. 854). A legenda reúne todo o processo de
simbolização e nela fica evidente se a atribuição dos símbolos foi efetuada de
maneira correta.
Outro elemento essencial na composição dos layouts é a indicação da
escala, pois sem ela a representação fica adimensional e, em última instância,
perde a consistência cartográfica, tornando-se uma mera ilustração. Camadas
temáticas em plataformas de Sistemas de Informações Geográficas têm as
escalas condicionadas à tela visualizada, alterando sua proporção com
aproximações ou afastamentos (zoom).
A escala pode ser inserida de modo numérico ou gráfico. A escala
numérica é uma razão matemática que indica a redução da representação.
Numa escala 1:1000, significa que a realidade precisou ser reduzida mil vezes
para ser modelada nesse tamanho (numa folha A4, por exemplo). A escala
gráfica, por sua vez, é uma indicação com segmentos de reta graduados por
unidades de medida. Recomenda-se sempre o uso da escala gráfica, pois se o
tamanho do mapa for alterado (especialmente em arquivos digitais), a escala
gráfica muda proporcionalmente. A escala numérica, entretanto, fica fora de
escala se houver apenas 0,1 milímetro de deslocamento. Além disso, é
possível descobrir qual é a escala numérica a partir da escala gráfica (divisão
entre a distância real e a distância mensurada no mapa, convertendo o
resultado à unidade de medida correspondente).
A inserção de encartes de localização é importante tanto para situar o
leitor no contexto mais abrangente quanto para inserir informações adicionais
(se a representação principal conter muitos elementos, essa pode ser uma
solução gráfica para acrescentar outras características do tema). Comumente
mapas temáticos também incluem gráficos, vinculados às variáveis visuais e de
modo complementar a conteúdos estatísticos ou quantitativos.
Por fim, outros elementos essenciais condizem à grade de coordenadas,
informações sobre o sistema de projeção e a indicação das fontes dos dados
utilizados no mapa. Essa informação é essencial, uma vez que o mapa possa
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ser um produto gerado por dados de distintas fontes e, ao mesmo tempo, ser
uma fonte de consulta para gerar novos dados.
A elaboração do projeto cartográfico para visualização em tela com
recursos digitais possui especificidades, conforme será discutido nas próximas
aulas, mas a lógica se mantém. O senso de organização por parte do produtor
é indispensável, já que o mapa é um meio comunicativo.
Ressalta-se que o layout de um mapa temático deve evitar elementos
que apenas poluam a representação e não tenham caráter informativo.
Conforme caracterização de Sampaio (2019, p. 155), “considera-se imagem
parasita toda imagem que não possui relação direta com o tema apresentado
ou não possui referência junto à legenda”.
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Há a possibilidade de criar superfícies contínuas com base em objetos
discretos. Tenhamos como exemplo a temperatura. Se tivermos dados
derivados de estações meteorológicas (pontuais) é possível inferir valores para
todo o recorte analisado. Isso se dá pelo processo de interpolação, que estima
grandezas desconhecidas a partir de valores conhecidos. Operacionalmente
existem diversos métodos de interpolação.
Os novos recursos gráficos possibilitaram a representação de objetos
contínuos em superfícies 2,5D (dimensão de profundidade da superfície) e
objetos discretos em 3D, tal como consta em softwares populares como o
acervo do Google Maps com edificações tridimensionais. Salienta-se, todavia,
que "atualmente, as representações cartográficas 3D não seguem uma
linguagem cartográfica própria, seguem apenas o conhecimento herdado do
projeto de mapa 2D e o bom senso do cartógrafo" (Fosse et al., 2009, p. 314).
30
a escala mínima e máxima predefinidas, o que limita e condiciona sua
visualização em tela.
A simbolização e as propriedades geométricas de objetos e fenômenos
geográficos, portanto, dependem do fator de escala. Por exemplo: num mapa
temático de vegetação, uma representação de detalhe (grande escala) permite
a representação de áreas com tipologias comuns (como vegetação arbórea,
arbustiva e campos) pelo uso de polígonos. Numa representação com o
mesmo tema, mas num mapa generalizado (pequena escala), tais
diferenciações podem não ser passíveis de simbolização. Nesse caso, os
remanescentes florestais, por exemplo, poderiam ser representados por
pontos. Mudam-se, inclusive, as classes conforme a escala é alterada.
Em dados matriciais (raster), a escala é definida pelo tamanho do pixel
(célula). Ao utilizar imagens de satélite para mapear determinados objetos,
portanto, a resolução espacial deve ser condizente ao que se pretende
identificar. Uma imagem Landsat, com resolução de 30 metros, pode ser
suficiente para um estudo regional (média escala) sobre coberturas florestais,
mas não para identificar fragmentos florestais de detalhe.
NA PRÁTICA
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
32
FRANCISCHETT, M. N. Construindo elos metodológicos na linguagem
cartográfica. Revista Brasileira de Cartografia, n. 66/4, p. 843-859, 2014.
33
MÉTODOS, TIPOS E
CARACTERÍSTICAS DE
MAPAS TEMÁTICOS
Cartografia Temática
34
3. MÉTODOS, TIPOS E CARACTERÍSTICAS DE MAPAS TEMÁTICOS
INTRODUÇÃO
35
ou sobreposto a outros métodos de representação, sejam ordenados ou
quantitivos – nesse caso, em mapas exaustivos.
O método mais utilizado para representar temas qualitativos é o
corocromático (no qual choros, do grego, significa área e chroma significa cor).
Trata-se, portanto, de polígonos diferenciados por cores. Embora todas as
variáveis visuais propostas por Bertin (1967) tenham propriedade perceptiva
qualitativa (seletiva), a distinção com uso de cores é assimilada de modo mais
rápido pela retina. A figura 1 evidencia um exemplo de mapa corocromático,
para ressaltar a percepção seletiva dos distintos biomas brasileiros, com o
acréscimo de polígonos vermelhos com a variável textura para indicar as áreas
de desmatamento. Nessa sobreposição, note-se que as áreas de
desmatamento não ocultam a informação subjacente.
36
tal correspondência instantânea). Muitas subdisciplinas da Geografia têm
padrões de cores preestabelecidos para seus temas, o que também facilita a
leitura do mapa por usuários com nível mais especializado.
A cor, aliás, é a principal variável visual e também a que oferece maior
número de possibilidades para a aplicação gráfica. Conforme destacado por
Martinelli (2007), a cor é uma realidade sensorial que atua sobre a emotividade
humana (cores quentes e frias), dispostas no círculo cromático (construído
como uma série de pastilhas coloridas de acordo com a sucessão espectral
das radiações visíveis).
Além disso, é importante salientar que a escolha das cores nos mapas
tem relação direta com fator cognitivo. A cor vermelha, por exemplo, é
associada a características extremas e, por vezes, negativa. Também é
fundamental considerar as diferenças da cor num mapa representado na tela
de equipamentos eletrônicos (como o computador) e no papel. A percepção
humana é limitada, mas os softwares gráficos viabilizam a criação de milhares
de cores.
38
embora mapas isarítmicos (detalhados adiante) também empreguem de modo
recorrente a variável visual intensidade para ordenar determinados fenômenos,
a diferença com o método coroplético é que este tem as unidades espaciais
predefinidas com implantação areal (polígonos), como limites político-
administrativos. No método isarítmico, a base geométrica é dada por linhas de
mesmo valor.
Uma característica fundamental do método coroplético é a definição das
classes e, consequentemente, da simbolização das mesmas pela aplicação da
intensidade da cor. Um único dado pode ser classificado com distintos valores,
o que altera sua representação. Muitas vezes os critérios para definição das
classes são pautados por critérios determinísticos, ou seja, o próprio produtor
do mapa define os intervalos arbitrariamente, por análise visual do histograma
de distribuição dos valores do fenômeno ou com base em recomendações de
outros mapas ou estudos. Há, também, métodos estatísticos para a
determinação das classes, tais como o desvio padrão, quebras naturais,
quantis e intervalos geométricos.
Consideremos o exemplo da figura 3, com a representação de uma
variável censitária (rendimento médio mensal). Qual mapa está correto?
Ambos. As cinco classes numéricas do mapa poderiam ser qualificadas em
"rendimento muito baixo, baixo, médio, alto e muito alto". Mas então por que as
representações constam tão distintas? Isso se deve aos intervalos definidos
para cada classe. O dado é o mesmo, o que mudou foi sua ordenação
numérica.
39
Antes da leitura da legenda, a transcrição gráfica repassa uma
mensagem prévia: para favorecer o discurso que o município é pobre, bastaria
usar a primeira representação; pra reforçar que é rico, bastaria usar a segunda.
Isso significa que mesmo seguindo os preceitos metodológicos monossêmicos,
mapas carregam intencionalidades. O produtor do mapa deve se atentar ao
poder das variáveis visuais no processo comunicativo.
41
Recorrentemente a elaboração de mapas isarítmicos é realizada pelo
processo de interpolação, que consiste na estimativa de grandezas
desconhecidas com base em valores conhecidos. Muitos fenômenos de
ocorrência contínua no espaço são medidos pontualmente, como a temperatura
a partir de estações meteorológicas. Preencher os espaços vazios, a partir de
relações matemáticas de proximidade, é a função dos interpoladores. Entre os
métodos mais comuns, presentes em softwares de geoprocessamento,
destaca-se a triangulação, krigagem, ponderação do inverso da distância,
Spline e vizinho mais próximo.
A figura 5 exemplifica o processo de interpolação, com pontos que
possuem valor de altimetria (que poderiam ser pontos cotados de cartas
topográficas ou pontos coletados por GPS) e a estimativa para toda o recorte
analisado com o método do vizinho mais próximo. Eis a diferenciação entre
representação discreta e contínua.
Figura 5 - Processo de interpolação da altimetria com uso do método do vizinho mais próximo
42
3.4 MAPAS DINÂMICOS
Figura 6 - Exemplo de mapa dinâmico sobre a origem das importações do Rio Grande do Sul
Fonte: Cargnin (2013)
“A animação pode não ficar apenas na apresentação, pode ir muito além, ao ser
interativa. Na simples apresentação, o observador não tem controle sobre o
andamento: a animação apenas pode ser vista. Ao contrário, na animação
interativa, o usuário passa a ter amplo domínio sobre seu curso. Ele pode intervir,
44
girando em torno, se aproximando, se afastando da cena, bem como,
rotacionando-a. Pode, também, dialogando com o computador, acrescentar-lhe
novos dados ou colocar-lhe questões em busca de respostas” (Martinelli, 2005, p.
63).
45
Figura 7 - Exemplos das operações de álgebra de mapas
Fonte: Silveira (2019)
46
distintos temas aplicados numa problemática central. Nesse exemplo, foram
empregadas as variáveis visuais tamanho, cor e granulação.
Figura 8 - Exemplo de mapa exaustivo sobre a expansão da fronteira agrícola no Brasil Fonte:
Archela e Thery (2008)
47
NA PRÁTICA
CONCLUSÃO
48
REFERÊNCIAS
49
TRATAMENTO DOS DADOS
E APLICAÇÃO DAS VARIÁVEIS
VISUAIS EM
MAPAS TEMÁTICOS
Cartografia Temática
50
4. TRATAMENTO DOS DADOS E APLICAÇÃO DAS VARIÁVEIS VISUAIS EM MAPAS
TEMÁTICOS
INTRODUÇÃO
51
limitações. Se em décadas anteriores as dificuldades eram sobretudo de
aquisição de informações espaciais, hoje, talvez, o principal desafio seja o de
filtrar as informações que vão compor os projetos cartográficos.
Até meados do século XX, o desenvolvimento da fotogrametria foi muito
importante para o mapeamento de aspectos visíveis da superfície terrestre que
favoreceram interpretações mais abrangentes e consequentes tematizações.
Com a corrida espacial ocorrida durante a Guerra Fria, o sensoriamento remoto
se desenvolveu rapidamente, com satélites que dispunham imagens com
resoluções espectrais, espaciais, temporais e radiométricas cada vez melhores
e com coberturas cada vez mais abrangentes – cujo processo se mantém até
hoje. Tais dados são muito utilizados para mapas de uso do solo, da
vegetação, atmosféricos, modelos digitais do terreno e diversas análises
multitemporais.
Em paralelo, o desenvolvimento da informática a partir da década de
1970 revolucionou as maneiras de computar e processar dados, tanto pela
obtenção quanto pela representação em interfaces gráficas. Muitos produtos
cartográficos no papel passaram a ser digitalizados e vetorizados. Foi nesse
contexto que os Sistemas de Informações Geográficas (SIGs) se
desenvolveram e trouxeram consigo os conceitos da cartografia temática como
parte da composição das plataformas. Posteriormente, a partir da década de
1990, a era da internet marcou uma nova fase para a aquisição e,
principalmente, compartilhamento de dados geoespaciais – o que resultou na
expandiu os horizontes de aplicação da cartografia pautada pelo
desenvolvimento das geotecnologias de modo geral.
Considerando o grande volume de dados geoespaciais disponíveis,
"tornaram-se relevantes os esforços para que essa informação seja estruturada
para garantir a sua acessibilidade por parte de diversos grupos de usuários. Foi
nesse contexto que foram criadas as Infraestruturas Nacionais de Dados
Espaciais (INDEs)" (Camboim e Sluter, 2013, p. 1128). No Brasil, a INDE foi
instituída pelo Decreto n. 6.666, de 27 de novembro de 2008 e possui o
seguinte propósito:
52
seus respectivos metadados, publicados pelos produtores/mantenedores desses
dados" (Brasil, 2019).
53
.lyr). Isso significa, na prática, que os elementos cartográficos de referência e
os elementos temáticos são complementares e, ao mesmo tempo, tratados
individualmente. Portanto, as vantagens de acesso aos dados exigem maior
atenção às questões vinculadas à representação cartográfica com ferramentas
informatizadas, sobretudo ao considerar as regras semiológicas dos mapas
temáticos.
54
extensão mínima no real. Isso é feito pela multiplicação entre o denominador
da escala e o valor convertido em metros da extensão medida no mapa (0,2
milímetros é equivalente a 0,0002 metros). Ou seja, num mapa de escala
1:2000, portanto, os segmentos com dimensão inferior a 40 centímetros no
mundo real não são visualizados pelo olho humano (2000 x 0,0002 = 0,4
metros). Num mapa de escala 1:200.000, o valor mínimo para representação
de objetos medidos no real é de 40 metros (200000 x 0,0002 = 40); em
representações de escala 1:1.000.000, o resultado é de 200 metros (1000000 x
0,0002 = 200).
Para ilustrar essa problemática e aplicar os conceitos num exemplo
prático, consideremos o projeto de um mapa temático sobre inundações do
município de Curitiba que deve ser elaborado na escala 1:5.000. Inicialmente, a
escala dos dados geoespaciais utilizados precisa ser coerente com o objetivo
da representação. Dados sobre a hidrografia na escala 1:25.000, sobre o
relevo na escala 1:50.000 e uma imagem de satélite com resolução de 30
metros, por exemplo, não têm o nível de detalhamento necessário para esse
projeto. Mas se esses dados fossem utilizados para gerar uma informação
sobre inundações, mesmo que o layout do mapa final seja elaborado na escala
1:5.000, os processamentos prévios para obter esse resultado não foram
realizados nessa escala. Então, esse é um erro metodológico que é omitido
para os usuários. O mapa é inconsistente, mesmo que aparentemente os erros
não sejam explícitos.
Existem, também, parâmetros legais e parâmetros técnicos para a
definição da escala cartográfica – mais especificamente, da acurácia
posicional. O Decreto n. 89.817, de 20 de junho de 1984, instituiu o Padrão de
Exatidão Cartográfica (PEC), definido como um indicador estatístico para a
qualidade posicional (altimétrica e planialtimétrica). Posteriormente, a
Especificação Técnica dos Produtos de Conjuntos de Dados Geoespaciais (ET-
PCDG), publicada por Brasil (2014), resultou num novo conceito do PEC para
os Produtos Cartográficos Digitais (PEC-PCD). Tais parâmetros constam na
tabela 1 (referente à planimetria) e tabela 2 (referente à altimetria).
55
Tabela 1 - Padrão de exatidão cartográfica (PEC) da planimetria dos produtos cartográficos
digitais.
Fonte: ENGESAT (2019)
56
cartografia temática e a cartografia digital, abarcando questões metodológicas
de ambas.
No caso das edições de arquivos vetoriais, os softwares de
geoprocessamento dispõem de um conjunto de operações, tais como recortes
de polígonos, uniões de feições, exclusões, alargamentos (buffer), definição de
centroides, extração de vértices e interseções. Essas ferramentas são
aplicadas para edições geométricas. As operações com maior nível de
complexidade, normalmente aplicadas à análise espacial, incluem:
combinações, cálculos de densidade e proximidade, estatísticas, modelagens e
muitas outras opções.
Faz-se imprescindível a aplicação de regras topológicas, que definem os
relacionamentos espaciais entre as feições, para a edição vetorial. Os erros
topológicos mais comuns são as sobreposições ou lacunas, sobretudo em
polígonos. Tenhamos como exemplo o mapeamento de propriedades rurais:
sobreposições de polígonos resultam em áreas com duplicidade de
proprietários, enquanto as lacunas formam "buracos" não pertencentes a
ninguém. Eis um erro de edição que, aplicado ao planejamento, pode se tornar
um caso de litígio. No caso de linhas, rios que não tenham a geometria
conectada são exemplos de inadequações topológicas – o que, na prática,
pode afetar cálculos e modelagens hidrológicas por exemplo. Ou seja,
pequenos erros podem ocasionar grandes problemas em mapas temáticos.
O processo de generalização e simplificação também contempla parte
importante das edições vetoriais, uma vez que a escala dos dados esteja
relacionada ao detalhamento das feições. Se a mudança de escala for muito
grande, o próprio modo de implantação pode mudar.
- Exemplo 1: num mapa sobre desmatamento, na escala 1:5.000 seria
possível mapear as áreas desmatadas com polígonos; num mapa com mesmo
tema, mas na escala 1:100.000, essas mesmas áreas podem não ser
visualizadas por causa do erro gráfico (0,2 milímetros, no mapa) e, assim, a
representação pode ser feita com pontos que indiquem focos de
desmatamento.
- Exemplo 2: num mapa sobre crimes de determinado município, na
escala 1:5.000, os casos registrados podem ser representados por pontos. Ao
reduzir a escala de um mapa com esse mesmo tema para 1:100.000, os pontos
não serão representativos. Como solução de generalização, o agrupamento de
57
ocorrências (pontos) pode ser indicado por polígonos com a concentração do
registro de crimes.
Em relação aos principais modos de generalização cartográfica, Slocum
et al. (2009) citam os seguintes operadores: simplificação (redução do número
de vértices para representar determinado objeto); suavização (redução do
ângulo das linhas); agregação (agrupamentos de pontos em polígonos, como
no exemplo supracitado do mapas de crimes); amalgamação (agrupamento de
polígonos); colapso (substituição por símbolos); fusão (agrupamento de linhas);
refinamento (seleção de porções específicas); exagero (aumento de
proporção); aprimoramento (detalhamento da informação); e deslocamento
(separação de objetos).
Nos dados matriciais (raster), as edições são feitas principalmente
seguindo métodos de processamento digital de imagens (PDI) e técnicas de
sensoriamento remoto. Entre os procedimentos mais comuns, estão as
aplicações de filtros para correções nos valores dos pixels, reclassificações,
interpolações, composição de mosaicos e álgebra de mapas. O tratamento de
dados raster pode ser efetuado tanto nos produtos primários, como imagens de
satélite, quanto nos produtos secundários, como representações de síntese ou
vetores convertidos em matrizes. A vantagem dos processamentos em dados
raster é o tratamento da superfície de modo contínuo, sendo a desvantagem o
tamanho de armazenamento desses arquivos.
Independentemente da natureza do dado geoespacial, muitos erros (que
se acumulam durante a elaboração do projeto cartográfico) são relacionados à
atribuição incorreta – ou também à ausência – do sistema de coordenadas e do
sistema geodésico de referência (denominado Datum). Esse é um exemplo
prático da vinculação entre a cartografia de referência e a cartografia temática
em ambiente digital. Embora alguns SIGs permitam a entrada de arquivos com
distintos sistemas de coordenadas e de referência, os deslocamentos podem
variar de poucos centímetros a centenas de metros. Isso reforça a importância
dos metadados e também do conhecimento sobre os processos de conversão
dos dados. No Brasil, por exemplo, até 2005 o sistema de referência oficial era
o SAD69; desde então é o SIRGAS2000. Num mapa temático sobre produção
de sedimentos, se os rios forem arquivos vetoriais e estiverem em SAD69 e a
imagem de satélite em SIRGAS2000, a representação não será coincidente.
58
4.4 NORMALIZAÇÃO, PADRONIZAÇÃO, PONDERAÇÃO E DISCRETIZAÇÃO
DE DADOS GEOESPACIAIS
59
conhecer tanto a natureza do tema quanto os procedimentos técnicos
aplicados para sua devida representação.
Figura 1 - Exemplo de normalização de uma variável censitária, discretizada pelo método das
quebras naturais e dos quantis.
60
utilizado um procedimento que limita o valor máximo em 1 e que permite a
variação do valor mínimo (padronização simples) ou um que estenda os
valores observados para os extremos da escala de 0 a 1 (padronização direta)
ou, ainda, podem ser atribuídos valores previamente arbitrados às variáveis de
entrada (padronização por reclassificação)".
Tenhamos como exemplo o projeto cartográfico para um mapa temático
sobre riscos a tempestades. As variáveis que comporiam os níveis de risco
envolveriam, de modo simplificado, pluviosidade (mm³), temperatura (ºC),
ventos (m/s), densidade populacional (habitantes/km²) e renda (R$). Todas as
variáveis possuem valores mínimos e máximos variáveis, com unidades
distintas. Numa padronização direta, os valores mínimos de cada variável
seriam indicados como 0 (zero) e os valores máximos como 1 (um), com a
respectiva distribuição dos valores do fenômeno entre eles. Isso facilita tanto a
combinação quanto a comparação das informações.
Quanto à ponderação, esse processo viabiliza a atribuição de pesos
(valores hierárquicos) para as variáveis. Destaca-se que se a atribuição dos
pesos for aplicada para os valores das variáveis, trata-se do processo de
padronização por reclassificação (Sampaio, 2019). No exemplo do mapa sobre
riscos a tempestades, cada variável poderia receber um valor associado ao seu
nível de importância em relação ao tema. Pluviosidade é mais importante do
que temperatura na manifestação do evento natural, então, numa combinação
entre as variáveis, ela poderia ser reclassificada com um peso maior.
Por fim, o processo de discretização consiste na definição de classes a
partir de conjuntos ou dados numéricos. Mapas coropléticos com dados
comumente apresentam o processo de discretização nos layouts finais, como
em mapas hipsométricos (0 a 250; 251 a 500; > 500 metros). As classes
podem ser discretizadas ("fatiadas") por critérios determinísticos (empíricos ou
arbitrários) ou por critérios estatísticos – considerando, sobretudo, a
distribuição no histograma de frequência de determinada variável. Nesse
processo, dois fatores devem ser considerados: o número de classes e o
intervalo numérico de cada classe.
Embora o número de classes dependa dos objetivos da representação,
Bertin (1967) considera que mapas devem ter 3, 5 ou 7 classes. Segundo
Sampaio (2019, p. 222), para "a produção de um mapa ou gráfico, o elaborador
deve ter em mente que a quantidade de classes decorre, essencialmente, do
61
grau de similaridade dos dados". O intervalo numérico, por sua vez, pode ser
simétrico (divisão proporcional da amplitude dos valores pelo número de
classes) e assimétrico (divisões variáveis).
63
utilizada em mapas temáticos – tanto para representações em 2,5D quanto
para 3D, como ilustrado pela figura 2. A representação do relevo, por exemplo,
com uso de modelos digitais de elevação, viabiliza a simulação do
sombreamento do relevo (hillshade), o que resulta numa percepção de
profundidade mesmo no plano bidimensional (o que caracteriza o 2,5D).
Comumente o relevo sombreado é incluído como camada temática auxiliar às
representações principais, com transparência.
Além disso, a modelagem de superfícies ou objetos de modo
tridimensional vem sendo cada vez mais utilizada nos mapas digitais – seja
para representar o relevo ou os objetos que constam na superfície, como
vegetação e edificações. Para determinadas finalidades, a visão tridimensional
é a melhor variável para a comunicação cartográfica. O exemplo da figura 2
demonstra essa característica, vinculando cor e altura em perspectiva. Um
usuário que não tenha conhecimento sobre geomorfologia entenderá facilmente
o que é uma serra ao visualizá-la com exagero vertical.
NA PRÁTICA
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
65
CARTOGRAFIA TEMÁTICA E
SISTEMAS DE INFORMAÇÕES
GEOGRÁFICAS
Cartografia Temática
66
5. CARTOGRAFIA TEMÁTICA E SISTEMAS DE INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS
INTRODUÇÃO
67
entrada de dados na forma de pontos, linhas ou áreas – que, hoje,
conhecemos como as primitivas gráficas das estruturas vetoriais. Cinco anos
mais tarde, o mesmo laboratório desenvolveu o programa GRID, que
armazenava os dados na forma de quadrículas regulares – eis o início dos
dados raster ou matriciais (Olaya, 2014).
Tais plataformas só foram viabilizadas, conforme já apresentado, pela
revolução da informática. É importante destacar que um SIG não é
caracterizado como um software específico para a produção de mapas
temáticos, embora a maioria tenha essa função. Em termos gerais, um SIG
permite o armazenamento, leitura, edição, análise e consulta de dados
geoespaciais, além da obtenção de resultados (principalmente na forma de
mapas e gráficos). Ou seja, um SIG constitui uma plataforma abrangente.
Conforme Olaya (2014), os SIGs são compostos por cinco elementos
básicos: 1) Dados, que são a matéria-prima necessária; 2) Métodos, que se
referem ao conjunto de formulações e metodologias aplicadas nos dados; 3)
Software, que compõe as aplicações informatizadas para trabalhar com os
dados e implementação dos métodos; 4) Hardware, que são os equipamentos
necessários para executar os softwares; 5) Pessoas, que são as encarregadas
pela concepção e utilização dos softwares. A evolução de cada elemento traz
novas perspectivas para o conjunto total, o que coloca os SIGs como produto
do seu tempo sob o viés teórico-metodológico, científico e sociopolítico.
Concomitante ao desenvolvimento dos computadores, a temática
ambiental também influenciou na concepção dos SIGs a partir da década de
1970 e, consequentemente, dos produtos temáticos gerados para explicitar
determinadas problemáticas. Segundo Medeiros e Câmara (2001, p. 1), "na
perspectiva moderna de gestão do território, toda ação de planejamento,
ordenação ou monitoramento do espaço deve incluir a análise dos diferentes
componentes do ambiente, incluindo o meio físico-biótico, a ocupação humana,
e seu inter-relacionamento", já que no âmbito da integração dessas variáveis
"os estudos de mapeamento temático visam a caracterizar e entender a
organização do espaço".
Algumas limitações comunicativas de mapas impressos para a
cartografia de temas complexos, condicionados por representações exaustivas
ou coleções de mapas, foram superadas com o uso dos SIGs. As aplicações
de mapas temáticos para o planejamento, ordenamento e gestão territorial
68
foram muito favorecidas. Em contraste à competência multiescalar e dinâmica
dos SIGs, mapas impressos têm escala fixa e apresentam uma visão estática
do mundo. Outra vantagem dos SIGs é o fato dos usuários terem a
possibilidade de criar suas próprias representações, não se limitando à
perspectiva do produtor de um mapa impresso. Há, assim, um nível de
interação cada vez maior entre os usuários e a informação geográfica.
As interpretações da realidade, com ênfase nos objetos e fenômenos
geográficos, dependem cada vez mais da sistematização de múltiplas
informações (dispostas em camadas, nos SIGs). Assim, a cartografia temática
passou a ter uma importância maior como elemento da interdisciplinaridade no
contexto recente. Um sistema de informações é abastecido com dados de
distintas características têmporo-espaciais e as mudanças de escala permitem
uma análise mais abrangente de determinados conteúdos pela sobreposição
de camadas temáticas. Os SIGs e a cartografia temática se desenvolveram em
paralelo à evolução das disciplinas, das tecnologias, dos dados e das técnicas
e formulações vinculadas. De acordo com a síntese que consta na figura 1,
considera-se três gerações nesse processo evolutivo dos SIGs.
69
que os SIGs se popularizaram como ferramenta do cotidiano. A cartografia,
assim, vivencia uma nova fase.
70
possibilidade de criação de mapas. Note-se que a atribuição de coordenadas,
para cada caso registrado da planilha, denota uma vinculação entre os
componentes temáticos (informações relacionadas aos registros de dengue
dos municípios) e espaciais (localização geográfica, propriamente dita).
73
Tabela 1 – Exemplos de processos de análise espacial em SIG
Fonte: INPE (2019)
74
representações. As limitações das análises devem ser sempre explicitadas,
dando transparência ao processo de elaboração do mapa (ou seja, quais foram
as ferramentas utilizadas para se chegar no produto final).
75
Os MDE comumente são obtidos e armazenados em formato matricial
(raster), com grades regulares, onde a resolução espacial (tamanho do pixel) é
um dos fatores que define a escala do modelo. Considerando que cada pixel
possui um valor de altimetria, é possível fazer cálculos de vizinhança (pixel
central em relação aos pixels que constam no seu entorno) para extrair novas
informações, denominadas de atributos topográficos.
Os atributos topográficos mais comuns são: declividade (que é a
inclinação das vertentes), curvatura (indica a forma em plano e perfil do relevo),
relevo sombreado (que simula uma iluminação no relevo, em tons de cinza),
orientação das vertentes e acumulação de fluxo. Para exemplificarmos os
atributos topográficos calculados a partir dos MDE, consideremos a figura 3
(esquema que ilustra a declividade) e a figura 4 (que ilustra o processo para
cálculo da acumulação de fluxo).
76
do fluxo hídrico e, em consequência, o mapeamento de rios (C). Ou seja, a
modelagem digital do relevo possibilita a extração automática da rede de
drenagem.
77
cartografia web distribuída (várias fontes de dados); 4) cartografia web
animada; 5) cartografia web personalizada (representação definida pelo
usuário); 6) cartografia web interativa; 7) cartografia web analítica (análises por
SIG); 8) cartografia web colaborativa (aquisição e manutenção de dados
distribuídos).
Segundo Kraak e Brown (2001), os mapas na internet podem ser
classificados em estáticos e dinâmicos. Considere, por exemplo, um conjunto
de mapas temáticos em papel que foram digitalizados e disponibilizados para
visualização online ou download nos portais governamentais: trata-se de
mapas estáticos. Se as informações temáticas constarem em arquivos
geoespaciais digitais e forem organizadas num SIG (no caso, um WebSIG),
com recursos de animação e uma interface que permita aos usuários visualizar
e selecionar as camadas temáticas em distintas escalas, trata-se de um mapa
dinâmico. Se o usuário do mapa puder modificar a representação (escolha das
camadas, das cores, da escala de visualização) e criar seus próprios produtos
cartográficos, esse WebSIG é interativo.
Como ilustra a figura 5, a cartografia interativa na internet está na
interseção de conhecimentos geográficos (com toda a bagagem do
conhecimento cartográfico), da informática e das tecnologias de
desenvolvimento web (incluindo as linguagens de programação).
Em relação às vantagens dos WebSIGs, além do acesso de dados
remotos alocados num servidor, destacam-se os seguintes aspectos: não é
necessário um software SIG específico (na perspectiva do usuário); demanda
um perfil menos técnico para os usuários; potencializa o trabalho colaborativo;
as informações são mais atualizadas (inclusive em tempo real); há maior
independência do sistema; é possível personalizar aplicações e combinar a
cartografia com outros elementos, como multimídia (Olaya, 2014) e realidade
aumentada.
A popularização dos smartphones, com GPS integrados à rede de
internet, pouco a pouco vem caracterizando os SIGs móveis. Cabe uma
reflexão crítica sobre a qualidade de muitos aplicativos difundidos na sociedade
atual sob o viés da comunicação cartográfica e da simbolização utilizada nas
interfaces, visto que podem prejudicar ou confundir a alfabetização
cartográfica. Mesmo nos mapas online:
78
“a linguagem do mapa é monossêmica, mas a informação ou interpretação que
esta linguagem possui tem graus de polissemia. O significado consiste na forma
como o objeto é dado e refere-se de modo diferente ao mesmo objeto. Se uma
mesma referência tem significados diferentes, é necessário entender a polissemia
do mapa no aprendizado de seus significados e de sua leitura (Francischett, 2014,
p. 844).
NA PRÁTICA
79
áreas de atuação) e instituições públicas/governamentais. Quais são as áreas
que se aproveitariam dos recursos oferecidos por essa ferramenta? De que
maneira os WebSIGs podem auxiliar no processo de alfabetização cartográfica,
considerando sua popularização? Como evitar problemas metodológicos
vinculados à cartografia temática? Questões contemporâneas que visam o
futuro próximo.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
81
CARTOGRAFIA TEMÁTICA
APLICADA ÀS SUBDISCIPLINAS
DA GEOGRAFIA
Cartografia Temática
82
6. CARTOGRAFIA TEMÁTICA APLICADA ÀS SUBDISCIPLINAS DA GEOGRAFIA
INTRODUÇÃO
83
destaque foi o mapa de William Smith, de 1815, que mapeou a Inglaterra e o
País de Gales. Dois séculos mais tarde, as representações corocromáticas
ainda são as mais utilizadas para representar as unidades geológicas (classes
distintas com ocorrência espacial areal). As unidades geológicas resultam da
combinação de características litológicas, físico-químicas e cronológicas, que
indicam, respectivamente, a descrição, a composição e a idade das rochas.
Além dos aspectos qualitativos, ressalta-se que a geologia possui
propriedades ordenadas, com hierarquias espaciais e temporais vinculadas. Na
perspectiva espacial, lembremos os conceitos da generalização cartográfica:
quanto maior for a escala do mapa, menor será o detalhamento. Num mapa
1:1.000.000, por exemplo, pelo erro gráfico (área mínima mapeável de 0,2
milímetros, no mapa) não é possível mapear áreas menores do que 40.000 m².
Numa perspectiva hierárquica, conforme o Serviço Geológico do Brasil
(CPRM, 2014), as unidades litoestratigráficas podem ser mapeadas, em ordem
crescente de detalhe, como: super-grupo, subgrupo, grupo, formação, membro
e camada. Para elaborar um mapa geológico, o número e a distribuição das
amostragens de campo são os principais fatores para determinar a
abrangência das unidades (escala geológica) e, consequentemente, a escala
cartográfica.
Comparativamente a outros mapas temáticos, a definição dos objetos a
serem incluídos num mapa geológico é mais objetiva do que subjetiva, ou seja,
existem critérios claros para classificar as rochas e estruturas. Considerando
que o fator temporal também é inerente à geologia, tal ordenamento é
representado nos mapas como a variável visual que possui essa propriedade
perceptiva: o valor (ou intensidade). Recomenda-se consultar a tabela
cronoestratigráfica internacional (ICS, 2019) para a atribuição das cores e
valores das eras, períodos, épocas e idades das unidades geológicas.
Destaca-se, também, que muitos objetos relacionados à geologia são
mapeados com símbolos padronizados (variável visual forma), tanto para
pontos (locais de subsidência, poços de perfuração etc.) quanto para linhas
(falhas, lineamentos estruturais, diques etc.). Como exemplo, sugere-se a
consulta da Biblioteca de Símbolos para Cartografia Geológica, publicada
recentemente (2019), como documento orientativo auxiliar para a elaboração
de mapas temáticos da geologia.
84
Os mapas pedológicos, responsáveis pela tematização dos solos, têm
características semelhantes aos da geologia, sobretudo pelo emprego do
método corocromático. As cores dos mapas pedológicos são definidas pelo
Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (SiBCS), que constam detalhadas
no Manual Técnico de Pedologia, publicado pelo IBGE (2007). Em termos
operacionais, “a classificação de um solo é obtida a partir da avaliação dos
dados morfológicos, físicos, químicos e mineralógicos do perfil que o
representam” e “a chave de classificação é organizada em 6 níveis categóricos.
Os quatro primeiros níveis são denominados de ordens, subordens, grandes
grupos e subgrupos, sendo que o 5º e 6º nível categórico ainda se encontram
em discussão” (Embrapa, 2019).
Pelo fato das convenções temáticas serem muito difundidas, a atribuição
de cores aleatórias num mapa pedogológico pode ocasionar ruídos no
processo de comunicação, pois usuários experientes já têm muitas classes
memorizadas. Em relação à escala, considera-se os valores de áreas mínimas
mapeáveis. Em mapas detalhados, por exemplo, a escala varia de 1:20.000 e
1:7.000, com segmentos mínimos de 200 e 70 metros, respectivamente; em
mapas denominados exploratórios, que variam de 1:2.500.000 e 1:750.000, os
segmentos mínimos devem ser de 25 e 7,5 quilômetros.
Em contraste à ênfase qualitativa dos mapas geológicos e pedológicos,
a tematização de elementos meteorológicos (condições atmosféricas atuais) e
climatológicos (características de, pelo menos, 30 anos) tem um nível maior de
complexidade e também de métodos possíveis de representação. Mudanças
geológicas ou pedológicas significativas ocorrem num intervalo de tempo muito
superior às mudanças atmosféricas, o que confere uma natureza dinâmica aos
elementos e fatores climáticos.
Atualmente, muitos satélites auxiliam na aquisição de dados
atmosféricos, cujas observações e interpretações podem resultar em
prognósticos (previsões do tempo). Os recursos animados também
favoreceram muito a comunicação cartográfica, destacando os movimentos de
massas de ar e frentes frias, variações de temperatura e precipitação, direção
dos ventos, deslocamento de sistemas de baixa pressão etc. Na internet, como
exemplo das potencialidades de um WebSIG atmosférico, recomenda-se o
Windy (windy.com), que conta com diversas informações tematizadas.
85
Devido ao elevado número de informações que devem ser
representadas, com muitas variações têmporo-espaciais, os mapas
meteorológicos e climatológicos normalmente são representações exaustivas.
Podem conter elementos qualitativos (tais como tipos de clima, com
representação corocromática; tipos de sistemas frontais, com linhas
simbolizadas; zonas de convergência, com símbolos nominais), quantitativos
(pressão atmosférica, temperatura, que são representadas pelo método
isarítmico ou, eventualmente, coroplético), dinâmicos (direções dos ventos e
nuvens) e de síntese (classificação de zonas climatológicas).
86
incluísse informações sobre altitude (morfometria), processos denudacionais e
agradacionais (morfogênese), locais suscetíveis a movimentos de massa e
inundação (morfodinâmica) e datação da idade dos principais topos
(morfocronologia), seria um mapa geomorfológico completo.
Há outro elemento importante que influi na elaboração de um mapa
geomorfológico: o componente escalar. Quando a escala de um mapa
geomorfológico muda, os objetos também mudam. Ou seja, não é apenas uma
questão de generalização cartográfica, mas sim da natureza multiescalar
intrínseca ao relevo. A generalização é cartográfica e conceitual.
Espaço e tempo são dimensões indissociáveis em mapas
geomorfológicos. Em termos práticos, uma mesma área pode ser mapeada de
diversas maneiras. Numa praia, por exemplo, as ondas (duração de poucos
minutos) podem gerar formas na areia (“estrias”) com extensão de poucos
centímetros. Com tempestades ou mudanças das marés (duração de dias), a
praia pode ser erodida e formar pequenos terraços com extensão na casa dos
metros. Com as oscilações do nível do mar, transportes de sedimentos e os
processos denudacionais das áreas serranas (milhares de anos) são formadas
planícies litorâneas com extensão de dezenas de quilômetros. Observe que a
dimensão espacial acompanha a dimensão espacial das formas de relevo.
Essas características suscitam a complexidade desse tipo de mapa,
evidenciando a seguinte questão: como simbolizar todos esses elementos num
único documento cartográfico sem prejudicar a leitura aos usuários? A
elaboração de um mapa geomorfológico, portanto, demanda conhecimento
aprofundado sobre o relevo e sobre a cartografia temática, principalmente dos
preceitos da semiologia gráfica. A figura 1 exemplifica um recorte de mapa
geomorfológico, com legenda que aplica as variáveis visuais forma, cor e valor,
além do relevo sombreado em transparência para dar a noção de profundidade
(2,5D) e uma fotografia. O produtor do mapa precisar ter um senso estético que
objetive transpor a mensagem do modo mais eficaz possível, utilizando os
recursos que tem à disposição.
Desde a década de 1950, muitas tentativas para sistematizar uma
legenda mundial unificada foram propostas (Florenzano, 2008), embora não
tenham se efetivado. Surgiram várias escolas de mapeamento geomorfológico,
com ênfases e perspectivas distintas. No Brasil, os principais métodos de
mapeamento geomorfológico utilizados se apoiam em critérios morfográficos –
87
como unidades homogêneas do relevo divididas por níveis taxonômicos de
grandeza geomorfológica.
88
6.3 MAPAS DE USO E COBERTURA DA TERRA E FITOGEOGRÁFICOS
91
Visto que o leque de possibilidades de representação é amplo, mapas
socioeconômicos sempre se utilizaram de múltiplos métodos de tematização:
pontos de contagem (para a população), símbolos proporcionais, mapas
coropléticos (aplicados para unidades administrativas, desde setores
censitários até continentes), representações dinâmicas (circulação de pessoas,
de dinheiro, de bens produzidos e comercializados), entre muitas outras. Todas
as variáveis visuais podem ser aplicadas.
Os mapas de síntese são muito utilizados para o planejamento, já que
exigem a compreensão de múltiplas informações (cuja relação é, muitas vezes,
caótica e desordenada) para projetar cenários e problemáticas. Temas
complexos da sociedade, como violência, desigualdade social, riscos a
desastres naturais e imigração, só são explicados a partir de análises
multicritério. Dados tabelados, por si só, não são suficientes: a espacialização
dos temas complementa o raciocínio envolvido na assimilação dos fatores que
influem nas problemáticas citadas.
No âmbito nacional, os dados censitários são importantes variáveis a
serem consultadas para estudos regionais e para a composição de mapas
temáticos sobre as características da população e da economia. O tratamento
dos dados é realizado com base nos preceitos apresentados em aulas
anteriores, atentando para as características da informação. A espacialização
aleatória de dados censitários produz mapas inconsistentes. Ou seja, é preciso
adequar a simbolização (número de classes, intervalo numérico entre as
classes e cores, por exemplo).
No meio socioeconômico, é interessante destacar os mapas turísticos.
Seja qual for a região com atividades ligadas ao turismo, em qualquer lugar do
mundo, além de facilitar a localização os mapas são instrumentos publicitários.
A escolha dos símbolos busca evidenciar os principais pontos turísticos, para
que sejam assimilados rapidamente. Mapas como esse têm pouca precisão
cartográfica (sequer possuem grades de coordenadas), pois a eficiência da
comunicação está vinculada mais aos elementos ilustrativos.
Em relação à política, os mapas não são políticos apenas quando
contêm os limites de municípios, estados ou países, tal como os tradicionais
mapas da geografia escolar. Mapas têm discursos e, tal como outros meios
comunicativos, podem distorcer a realidade para transpor mensagens que não
condizem com a realidade. Como foi discutido em todas as aulas, os
92
procedimentos metodológicos e a transparência na escolha dos critérios afetam
diretamente a representação do mapa resultante.
Os temas socioambientais – e, portanto, políticos – foram notabilizados
no contexto recente em função das problemáticas associadas aos conflitos
entre o aumento da urbanização e do sistema consumista instaurado na lógica
econômica globalizada. A própria legislação reflete a emergência da temática
ambiental e dos instrumentos legais para sua aplicação, na qual os mapas
temáticos configuram importantes documentos de base para a pesquisa e
consulta. A Constituição Federal de 1988, no artigo 225, assegura a exigência,
na forma da lei, “para instalação de obra ou atividade potencialmente
causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de
impacto ambiental, a que se dará publicidade”. Daí decorre a importância dada
ao Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e ao Relatório de Impacto Ambiental
(RIMA) nas últimas décadas.
Os mapas temáticos são instrumentos indispensáveis aos EIA/RIMA,
pois os documentos devem conter diagnósticos relacionados à caracterização
do empreendimento, do meio, biológico, área de influência, qualidade
ambiental, análise dos impactos, medidas mitigadoras, entre outras etapas
estabelecidas pela Resolução nº 001/86 do CONAMA. Ou seja, tais estudos e
relatórios demandam muitos mapas temáticos. O geógrafo é o profissional que
consegue reunir a competência analítica sobre os distintos fatores e, ao mesmo
tempo, ter o domínio técnico e científico para a confecção dos projetos
cartográficos.
Seja para fins socioeconômicos, seja para fins de planejamento
socioambiental, “o uso de mapas nas pesquisas e no ensino vem crescendo
como fonte documental, como instrumento, ou como veículo de intervenção
política e cultural” (Francischett, 2014, p. 844).
93
Além dos aspectos teórico-metodológicos, a organização harmônica da
representação (sob o viés artístico) também é fundamental. A transposição
didática, nesse contexto, vai muito além da produção de mapas para o ensino
formal de geografia. Um mapa turístico também deve ser didático ao comunicar
os visitantes, por exemplo.
A questão da transposição didática está centrada no público-alvo, ou
seja, os destinatários da mensagem que o mapa carrega. Um único tema pode
ser assimilado de distintas maneiras por distintas pessoas, seja por
características individuais (cognitivas e nível de escolaridade) ou coletivas
(grupos profissionais), mesmo que a representação seja adequada aos
preceitos da semiologia gráfica (isto é, com emprego correto das variáveis
visuais).
Consideremos o exemplo de um mapa geomorfológico do Brasil. Alunos
do ensino fundamental não têm o mesmo embasamento científico de alunos de
graduação para compreender determinados objetos, assim como engenheiros
civis podem divergir frente ao conhecimento de geólogos e gestores públicos.
Se esses distintos grupos utilizarem um único mapa para consulta, a
informação pode ser simplificada demais para alguns e complexa demais para
outros. Eis a necessidade de generalizações conceituais.
Essa problemática enfatiza a importância dada ao processo de
alfabetização cartográfica e à linguagem dos mapas. Mapas temáticos, além de
informarem sobre os temas específicos, têm a responsabilidade de habilitar a
compreensão dos elementos cartográficos básicos. Aplicados ao ensino, a
figura 3 demonstra os principais pontos que compõem a cartografia escolar.
94
Fonte: Nascimento e Silva (2017, p. 1507)
CONCLUSÃO
96
REFERÊNCIAS
97
OLIVEIRA, L. de. A construção do espaço, segundo Jean Piaget. Sociedade &
Natureza, Uberlândia, v. 17, n. 33, p. 105-117, 2005.
98
Geoprocessamento:
Usos e Aplicabilidade
Cartografia Temática
99
7. GEOPROCESSAMENTO: USOS E APLICABILIDADE
INTRODUÇÃO
100
capturas de tela), salientando algumas problemáticas intrínsecas às análises
geográficas.
102
como exemplo para consulta, constam listadas abaixo algumas possibilidades
de acesso:
• Infraestrutura Nacional de Dados Espaciais (INDE):
http://www.visualizador.inde.gov.br/
• Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística:
http://downloads.ibge.gov.br/index.htm
• Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada: http://www.ipeadata.gov.br/Default.aspx
e http://www.ipea.gov.br/ipeageo/index.html
• Bancos de dados geográficos do exército:
https://bdgex.eb.mil.br/mediador/
• Acervo de imagens de satélite do Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (INPE): http://www.dgi.inpe.br/catalogo/
• EMBRAPA:
http://inde.geoinfo.cnpm.embrapa.br/geonetwork_inde/srv/por/catalog.se
arch#/home
• Ministério do Meio Ambiente:
http://mapas.mma.gov.br/i3geo/datadownload.htm
103
[...]. Os dados geoespaciais serão catalogados através dos seus respectivos
metadados, publicados pelos produtores/mantenedores desses dados”.
O visualizador de mapas da INDE pode ser acessado pelo serviço
disponível em: <http://www.visualizador.inde.gov.br/>. Os downloads, por sua
vez, constam em: <https://inde.gov.br/AreaDownload>. Sugere-se sua consulta
para compreender a estruturação dos dados geoespaciais e também para
montar bases de dados que possam auxiliar nos exercícios com as ferramentas
de geoprocessamento.
104
7.2 APLICAÇÕES EM TEMAS AMBIENTAIS
105
necessário adquirir o arquivo vetorial da hidrografia ou, então, criar um novo
shapefile (figura 2) e delimitar o rio como polígono – sendo necessário, nesse
caso, uma base cartográfica em escala adequada e com o mesmo sistema de
referência na visualização em tela.
No QGIS, a ferramenta Buffer consta conforme a figura 3. Nesse
exemplo, o arquivo de hidrografia foi inserido e, pelo fato do rio possuir largura
inferior a 10 metros, foi estabelecida a distância de 30 metros para cada
margem (vide figura 1). O resultado dessa operação é um novo arquivo
shapefile, gerado como polígono, contendo o distanciamento mensurado a
partir dos limites externos do arquivo de entrada.
106
Figura 3 – Ferramenta Buffer no QGIS.
107
Para isso, basta ativar a edição vetorial (figura 2) do shapefile da APP e, na
sequência, selecionar a opção “Quebrar feições” nas opções de edição (figura
4), dividindo as áreas vegetadas, o leito do rio e as áreas sem vegetação. O
último passo consiste em calcular a área de cada feição especificada, com uso
da calculadora de campo. Após selecionar a opção para criar um novo campo,
nomeá-lo e inserir a expressão $area, será acrescentado o valor na tabela de
atributos do shapefile.
108
bacia hidrográfica pode ter a ele vinculado, além da feição espacial, o nome e a
extensão dos rios, por exemplo.
109
Figura 5 – Extração de dados de um raster para a tabela de atributos de um arquivo de pontos.
110
estabelecida para fins de controle cadastral) à planilha com os dados das
variáveis censitárias. A figura 6 exemplifica essa vinculação.
111
7.3.2 Estimador de densidade por kernel
113
Figura 10 – Espacialização de casos de dengue (kernel).
114
resolução espacial (tamanho do pixel), as imagens de satélite também
possuem resoluções temporais, espectrais e radiométricas. Os conceitos
derivados do sensoriamento remoto, portanto, são essenciais para trabalhar
com imagens de satélite – e, consequentemente, com uso e cobertura da terra.
As principais ferramentas para essa finalidade são oriundas do processamento
digital de imagens (PDI), cujos conceitos também são fundamentais.
Segundo o IBGE (2013), para análise e interpretação de imagens por
meio do sensoriamento remoto, três elementos são fundamentais a se
considerar: o objeto do estudo, a radiação eletromagnética (aquilo que nossos
olhos conseguem perceber como cores diferentes) e a escolha do sensor. O
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) possui um acervo de imagens
de distintos satélites, tais como o Landsat (em suas distintas versões) que é o
mais popular para estudos regionais.
Com as imagens de satélite é possível efetuar classificações
semiautomáticas ou automáticas de uso e cobertura da terra. Nas
classificações semiautomatizadas, o usuário cria áreas de treinamento com
locais conhecidos (amostras de vegetação, agricultura e áreas urbanas, por
exemplo) e a partir do valor dos pixels das amostras é realizada, na imagem,
uma classificação para todo o recorte de estudo. Existem muitos métodos para
realizar tais processos, como a Máxima Verossimilhança e Distância
Mahalanobis. Nas classificações automáticas o usuário define o número de
classes e, a partir dos valores dos pixels da imagem, há a segmentação de
distintas classes (que posteriormente podem ser interpretadas qualitativamente
pelo usuário).
Para essas classificações, é necessário ter o arquivo das imagens de
satélite. No QGIS, as principais ferramentas de processamento digital de
imagens constam como plugins que podem ser instalados no software. Sugere-
se o Orfeo Toolbox e também o Semi-Automatic Classification Plugin.
Há, também, como elaborar um mapa de uso e cobertura da terra de
modo manual, ou seja, a partir da vetorização realizada por interpretação
visual. Nesse caso, não é necessário ter o arquivo das imagens de satélite que
servirão como base para as delimitações, pois existem serviços de WebSIG
que possibilitam a visualização em tela (com acesso à internet) de acervos de
imagens e outros dados geoespaciais (tal como o Google Maps, que é o mais
popular).
115
Para essa etapa, no QGIS, sugere-se instalar o plugin denominado
“Quick Map Services”, que reúne grande acervo de imagens de satélite (figura
11).
117
resolução espacial do MDE tem relação direta com a escala e as possibilidades
de representação ou aplicação.
Destaca-se, de acordo com Silveira (2019), que há três fontes de dados
para a construção de MDEs: a) técnicas de levantamento de campo, com a
aquisição de pontos precisos de latitude, longitude e elevação (x, y, z); b)
mapas topográficos existentes, com a derivação de curvas de nível, drenagens,
lagos e pontos de elevação; c) sensoriamento remoto, com imagens adquiridas
de satélites, com destaque para a fotogrametria (métodos estereocópicos),
radares e, mais recentemente, levantamentos Laser.
Em relação aos MDE que são produtos de sensoriamento remoto,
destacam-se os principais, gratuitos para download e com cobertura global,
com as seguintes resoluções espaciais: SRTM (30 m), ASTER GDEM (30 m) e
ALOS PALSAR (12,5 m). A figura 12 ilustra um MDE SRTM em perspectiva 3D.
Quanto aos MDE que são gerados por interpolação, destacam-se
aqueles calculados a partir de bases planialtimétricas, que têm como dados de
entrada curvas de nível, pontos cotados e, às vezes, a hidrografia (informações
disponíveis em cartas topográficas). A partir do MDE é possível calcular outras
informações derivadas, chamadas de atributos geomorfométricos (ou
topográficos). Isso é calculado pela valor de elevação do pixel central em
relação aos pixels do entorno.
Os principais atributos geomorfométricos são: declividade (que mensura
a inclinação das vertentes), relevo sombreado (que simula a iluminação com
azimutes específicos), plano e perfil de curvatura, aspecto (que mensura a
orientação das vertentes), área de contribuição e muitos outros. Com esse
último, por exemplo, é possível extrair automaticamente a rede de drenagem a
partir de um MDE. Ou seja, os atributos viabilizam identificar feições fluviais e
formas de relevo.
A figura 12 exemplifica as principais ferramentas disponíveis no QGIS
para a análise digital do relevo. Destaca-se especialmente as ferramentas do
SAGA GIS (figura 12B), que possui muitos atributos geomorfométricos e um
pacote completo para efetuar tais operações (nas opções de “Terrain
Analysis”).
118
Figura 12 – Principais ferramentas de modelagem digital do relevo no QGIS. 1)
Opções default; 2) Ferramentas acopladas do software SAGA GIS; 3) Opções para
visualização 3D.
120
Figura 14 – Opções de simbologia para um arquivo vetorial (polígono) no QGIS.
121
Observe que na figura 14, para um polígono, o software oferece
inúmeras possibilidades de representação e customização (escolha das cores,
do preenchimento, do tamanho da linha etc.). Na figura 15, a característica do
dado é diferente, pois ele é uma matriz contínua (raster). Nesse caso, como os
dados são numéricos, a representação pode ser feita com gradiente de cores
associado a um método de discretização (fatiamento) dos valores.
122
Salienta-se que no compositor de impressão (que é a produção do
layout final, propriamente dito) tudo é customizável. Ou seja, o usuário tem
muitas opções para elaborar suas representações com liberdade criativa – visto
que a cartografia é, historicamente, definida como arte, ciência e técnica.
Sugere-se seguir essas etapas básicas: 1) definir o tamanho da representação
(“Page Properties”); 2) adequar a escala da representação e das camadas
(“Adds a new map to the layout”); 3) Acrescentar a grade de coordenadas
(“Propriedades do Item”); 4) Adicionar a legenda; 5) Adicionar a escala gráfica,
as informações textuais, os encartes adicionais (quando for o caso); 6)
Organizar o layout de modo harmônico, com tamanhos padronizados, tentando
evitar espaços em branco, para que a visualização seja esteticamente
agradável e cartograficamente informativa.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
124
PIKE, R. J. Geomorphometry — diversity in quantitative surface analysis.
Progress in Physical Geography 24 (1), 1–20, 2000.
125