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CARTOGRAFIA

Larissa Figueiredo Daves


Conceitos de
cartografia e mapa
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar tipos de comunicação cartográfica.


 Sintetizar a história da cartografia e sua importância.
 Descrever as teorias e os postulados da cartografia.

Introdução
A cartografia representa o conhecimento a partir das informações en-
contradas no mapa. Por meio da comunicação cartográfica, técnicas e
instrumentos são utilizados com o objetivo de mostrar a realidade de
maneira clara e exata. Assim, a cartografia é entendida como comunicação
e análise, enquanto o mapa é uma abstração da realidade.
A comunicação é um fenômeno essencial ao debate no plano
do conhecimento humano desde os primórdios da humanidade.
A comunicação cartográfica é um assunto presente em discussões
sobre cartografia e geografia, principalmente, no que diz respeito às
representações utilizadas em estudos geográficos e postulados da
cartografia.
Neste capítulo, você estudará o desenvolvimento da comunicação
cartográfica e as características elementares de um mapa a partir da
cartografia. Além disso, aprenderá sobre a história da cartografia como
ciência, sua relação com a geografia e seus postulados.
2 Conceitos de cartografia e mapa

Comunicação cartográfica e sua essência


para a leitura de mapas
A comunicação é uma forma de reproduzir informações a partir de linguagens,
símbolos e representações. Já a comunicação cartográfica é feita por mapas,
e sua relevância encontra-se na representação de dados cartográficos. Desse
modo, ela antecede o mapa, utilizando cartas para determinar o conteúdo de
novas informações. A cartografia como comunicação concentra-se mais na
carta existente: como foi feita e como pode ser lida e interpretada. Essa não é
a única forma de comunicação, mas uma forma especializada que dá ênfase
ao visual.

A cartografia como ciência vem do conhecimento de como comunicar, com


quais instrumentos e técnicas, para que a realidade representada fique bem
mais exata. É o conhecimento de quais símbolos colocar no mapa e quais itens
omitir. É o conhecimento da projeção usada no mapa e de como os mapas
são produzidos. Também, a ciência na cartografia permite o uso de técnicas
avançadas que proporcionam a produção de mapas através de computadores,
de imagens de satélites ou fotografias aéreas (ANDERSON, c1982, p. 13).

Nesse sentido, o mapa é uma abstração científica da realidade. Essa afir-


mação nos permite entender que o:

[...] mapa antecipava a realidade espacial, e não vice-versa. Em outros termos,


um mapa era um modelo para o que (e não um modelo do que) se pretendia
representar. [...] Ele havia se tornado um instrumento real para concretizar
projeções sobre a superfície terrestre (WINICHAKUL apud ANDERSON,
2008, p. 239–240 apud FONSECA; OLIVA, 2012, p. 30).

Assim, podemos definir o mapa como um instrumento de representação


dos aspetos geográficos naturais ou artificiais da Terra destinado a fins cul-
turais, políticos, ilustrativos ou científicos. Trata-se de uma representação
gráfica, na maioria das vezes, de uma superfície plana com escala específica,
que demonstra os terrenos acidentados física ou culturalmente da superfície
terrestre, podendo ser também de algum planeta ou satélite. Suas posições
devem apresentar precisão em conjunto com um sistema de coordenadas.
O mapa também deve denominar parte ou toda a superfície da esfera celeste
(OLIVEIRA, 1993).
Conceitos de cartografia e mapa 3

Para Lacoste (1988), a geografia e o mapa sempre foram confundidos, ou


seja, fazer geografia era o mesmo que fazer mapas. Esse pensamento prevaleceu
até o final do século XIX, antes de a geografia constituir-se como ciência.
Christian Jacob (1992) relata que é de extrema relevância a desconstrução dos
mapas antigos e das representações imagéticas (paisagens), pois não descon-
sideram as concepções espaciais explícitas (ou implícitas) nas representações
do espaço (mapas e paisagens). Fonseca e Oliva (2012, p. 28), ao explanarem
sobre espaço e tempo, falam sobre “[...] ‘virtudes e características’ universais
da ‘categoria’ espaço, quando o são na verdade parte de uma percepção (uma
construção) histórica e limitada de um espaço não generalizável”. Assim, po-
demos observar a relevância dos mapas na análise histórica, cultural e política.
No que diz respeito à utilização dos mapas para auxílio na análise do
espaço geográfico, Jacques Lévy e Michel Lussalt (2003, p. 13, tradução
nossa) abordam que:

O mapa é um bom exemplo de objeto híbrido: ele é uma representação do


espaço fixo na matéria e constitui em si mesmo um espaço próprio, suporte
de usos específicos. Este se situa na microescala, mas na interespacialidade,
via mapa e linguagens com outros níveis escalares, pode nutrir outras práti-
cas de espaço e vários imaginários. Este exemplo, tomado dentre os objetos
espaciais que os geógrafos mais utilizaram e naturalizaram, mostra bem toda
a complexidade do menor fenômeno que implica uma relação com o espaço.

O mapa pode ou não ter caráter científico, além de relatar a respeito da


comunicação cartográfica três atributos imprescindíveis:

 escala;
 projeção;
 simbolização.

Nesse sentido, as vantagens e limitações derivam do grau pelo qual os


mapas:

1. reduzem e generalizam a realidade;


2. comprimem ou expandem formas e distâncias por projeção;
3. apresentam fenômenos selecionados por meio de sinais que, sem possuir
semelhanças com a realidade, comunicam as características visíveis ou
invisíveis da paisagem.
4 Conceitos de cartografia e mapa

Assim, a linguagem cartográfica utiliza-se da representação de quatro


elementos fundamentais: os três primeiros elementos têm como referência o
fundo do mapa, ou seja, a base de informações contextuais julgadas úteis para
esclarecer uma situação. O quarto elemento refere-se às informações projetadas
sobre o fundo. Os elementos que compõem o mapa estão elencados no Quadro 1.

Quadro 1. Linguagem cartográfica

Elementos indispensáveis
do mapa Função e posição

Escala Contexto, redução da área (fundo do mapa)

Projeção Controle de deformações (fundo do mapa)

Métrica Contexto, definição de áreas (fundo do mapa)

Simbólico Informações projetadas no fundo do mapa

Kolacny (1967, apud GIRARDI, 2009) apresenta o processo de transmissão


de informações por meio de mapas, permanecendo até os dias atuais como
o modelo analítico por meio da comunicação cartográfica. A comunicação
cartográfica ainda representa o foco da cartografia, principalmente, a partir
do momento em que, pelo processo de visualização, chegou-se a um resultado
a ser publicitado.
Na Figura 1, podemos observar o modelo de transmissão da informação
cartográfica. Esse modelo identifica o início e o fim do processo — a
realidade, ou seja, a intersecção das esferas chamadas de realidade do
cartógrafo e realidade do usuário do mapa. Desse modo, o mapa relaciona-
-se diretamente com a dimensão do cruzamento dessas esferas a fim de
mostrar a máxima intersecção, configurando o desejo do cartógrafo. Toda-
via, as dimensões que afetam tanto o cartógrafo como o usuário do mapa
devem ser levadas em consideração, pois, quanto mais o cartógrafo puder
conhecer sobre o perfil, as condições e as necessidades do usuário do
mapa, maiores serão as possibilidades do uso da linguagem cartográfica
adequada para esse usuário.
Figura 1. Modelo de comunicação cartográfica.
Fonte: Girardi (2009, p. 152).
Conceitos de cartografia e mapa
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6 Conceitos de cartografia e mapa

Nesse sentido, o modelo proposto por Kolácny, ao expor as condições do


usuário como componente do processo comunicativo, almejou uma série de
investigações a respeito de como a informação é recebida pelo usuário do
mapa, uma vez que o acesso à informação mapeada aumenta o uso de mapas
como fonte de conhecimento por parte do usuário (GIRARDI, 2009).
Segundo Nogueira (2009), para a cartografia temática, os temas a serem
mapeados são muitos variados. Diante disso, a construção de cada mapa temá-
tico é sempre um novo desafio, que visa à confecção de um mapa eficiente para
o leitor. A informação expressa pelo mapa temático deve cumprir sua função,
ou seja, dizer o que, onde e como ocorre determinado fenômeno geográfico
a partir de símbolos gráficos para facilitar a compreensão do usuário final
sobre diferenças ou semelhanças.
As pesquisas em comunicação cartográfica passaram por muitas fases.
No início dos anos de 1950, a cartografia apresentou métodos de pesquisa
da psicofísica para examinar as relações entre estímulo-resposta e símbolos
individuais. Ao final dos anos 1960 e início dos anos 1970, os pesquisadores
produziram teorias sobre comunicação cartográfica tentando formalizar o
processo cartográfico, porém tiveram dificuldades para interpretar os resul-
tados das experimentações cognitivas com mapas, principalmente, por causa
do surgimento dos computadores.
Peterson (1994) e Wood e Keller (1996) relatam que, durante o início dos
anos de 1980, os microcomputadores desviaram o interesse pela experimenta-
ção cognitiva para o entendimento da nova tecnologia e de como desenvolvê-la
para automatizar as operações cartográficas e implementar algoritmos com essa
finalidade. Nesse período, iniciava-se o processo de adaptação às inovações
tecnológicas com novas ferramentas que deveriam ser integradas às recentes
formas de comunicação cartográfica.
Nos anos de 1990, ressurgiu o interesse pela cognição na cartografia, en-
tretanto, os computadores pessoais tornaram-se equipamentos que produziam
mapas em papel e eram um novo meio de comunicação. Diante disso, essa
flexibilidade exercida com o uso dos computadores — para dados matriciais,
vetoriais e textos que podem ser acessados e combinados — conduzia à ex-
ploração de novas alternativas de representação cartográfica sem custos, algo
inédito para a época. Nesse sentido, ocorreu o retorno à cognição, envolvendo
a dinâmica de display associada à visualização (PETERSON, 1994 apud
NOGUEIRA, 2009; WOOD; KELLER, 1996). Nesse período, a computação
gráfica proporcionou, a partir da dinâmica de display, a seguinte novidade para
a cartografia: flexibilidade na visualização de mapas, pois a visualização co-
meçou a assumir um papel preponderante ao lado da comunicação cartográfica.
Conceitos de cartografia e mapa 7

Cognição cartográfica é um processo único na medida em que desenvolve o uso


do cérebro humano para reconhecer padrões e relações em seu contexto espacial
(TAYLOR, 1994).

História da cartografia
Os estudos da cartografia tiveram início em épocas remotas, quando grupos
humanos começaram a representar seu modo de vida, principalmente, em
relação à localização e ao seu uso no cotidiano. Assim, a evolução da carto-
grafia é muito relevante até os dias atuais por sua importância no decorrer da
evolução das civilizações.
Os primeiros estágios sob a forma de mapas itinerários foram feitos por
populações nômades no período da Antiguidade. Após esse período, na Grécia
Antiga, o conhecimento geográfico e cartográfico esteve idealizado na obra
Geografia do astrónomo, geógrafo e cartógrafo grego Cláudio Ptolomeu de
Alexandria (90–168 d.C.). Em sua obra, ele apresenta os princípios da carto-
grafia matemática, das projeções e dos métodos de observação astronômica.
A contribuição da Grécia Antiga para a ciência cartográfica foi ignorada
durante toda a Idade Média, retomada apenas no século XV, quando teve
grande influência sobre o pensamento geográfico da época, em um período
denominado Renascimento de Ptolomeu (ANDERSON, c1982).
De acordo com Anderson (c1982), a evolução da cartografia foi institucionali-
zada pelas guerras, pelas descobertas científicas, pelo desenvolvimento das artes
e ciências e pelos movimentos históricos, que possibilitaram maior precisão na
representação gráfica da superfície da Terra. Na Grécia Antiga, Hiparco (160–120
a.C.) mostrou os primeiros fundamentos da ciência cartográfica utilizando
métodos astronômicos para a determinação de posições na superfície da Terra.
Além disso, sugeriu a solução para o problema relativo ao desenvolvimento da
superfície da Terra sobre um plano idealizando a projeção cônica. Nessa época,
os gregos obtiveram as concepções da esfericidade da Terra, polos, equador e
trópicos, que configuraram as primeiras medidas geométricas, a idealização do
primeiro sistema de projeção e a introdução das noções de longitude e latitude.
No século XII, o geógrafo árabe Abdullah Al Idrisi introduziu a agulha
magnética com base no campo matemático teórico para atender às exigências
náuticas motivadas pelo desenvolvimento da navegação, dando início ao aspecto
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funcional da cartografia nesse período. No início do século XIV, as cartas


Portulanas obtiveram o ressurgimento e a expansão da obra de Ptolomeu,
principalmente, pelos navegadores de Gênova. Essas cartas não obedeceram
nenhum critério de projeção, pois eram reservadas aos navegantes que possuíam
o traçado das loxodromias (rumos) e o delineamento das costas dos países
mediterrâneos (MARTINELLI, 2003; ANDERSON, c1982).
A revolução da cartografia teve início no século XV, e o advento da agulha
magnética permitiu a exploração dos mares, além de intensificar o comércio
para Leste, auge dos descobrimentos portugueses. A obra de Ptolomeu foi
explanada novamente na cartografia, sofrendo modificações e adaptações de
acordo com o interesse dessa época pela navegação. Com o conhecimento da
gravação ou impressão, foi possível uma produção cartográfica abundante,
substituindo os manuscritos dispendiosos. Assim, a navegação foi estudada
a partir de métodos racionais na Escola de Sagres, e o espírito aventureiro
português a serviço dessa Escola descobriu o mundo.
No século XVI, a vasta produção cartográfica teve destaque com os tra-
balhos dos cartógrafos portugueses, espanhóis e italianos, como Fernão Vaz
Dourado, Toscaneli, Cantino e Pedro Nunes. Na Figura 2, podemos observar o
mapa-múndi do ano de 1500, confeccionado por Juan de La Cosa, o navegador
de Cristóvão Colombo, além da representação cartográfica da navegação e
sua característica rústica (ANDERSON, c1982).

Figura 2. O mapa-múndi de Juan de La Cosa, utilizado por Cristóvão Co-


lombo em 1500.
Fonte: CRISTÓVÃO... ([2019], documento on-line).
Conceitos de cartografia e mapa 9

Anos depois, ainda no século XVI, teve o surgimento da cartografia ho-


landesa com a representação de Mercator e Ortelius, sucedendo a cartografia
mediterrânea. Em 1569, surgiu o primeiro mapa do Mercator, nome latino
de Guerhard Kramer, cuja projeção mostra os meridianos em linhas retas e
paralelas formando ângulos retos com os paralelos, também representados
por linhas retas e paralelas (Figura 3). Assim, para manter a conformidade
das áreas, a separação entre duas paralelas aumenta em direção a cada polo
ou em proporção direta com o afastamento dos paralelos em relação à linha
do Equador (ANDERSON, c1982).
O século XVIII foi marcado pela instituição de academias científicas, dando
início à ciência cartográfica moderna. A escola francesa Grandes apresentou
inovações como, por exemplo, a proposta do astrônomo francês Cesar-François
Cassini de Thury (1714–1784), que produziu a primeira série sistemática de
mapas topográficos para a França (MARTINELLI, 2003).

Figura 3. Primeiro mapa do Mercator, confeccionado por Mercator e Ortelius em 1569.


Fonte: Le Point.fr (2015, documento on-line).

Durante o Imperialismo, ao final do século XIX, ocorreu um grande im-


pulso nos mapeamentos devido aos novos conhecimentos. Nesse período, cada
potência necessitava de um inventário cartográfico com vistas às investidas nas
áreas de dominação para sua exploração espoliativa. Ao final do século XVIII
e início do século XIX, emergiu a cartografia temática, além do surgimento
e sistematização de diferentes ramos de estudos operados com a divisão do
trabalho científico (MARTINELLI, 2003).
10 Conceitos de cartografia e mapa

Ao final do século XX e início do atual século, a cartografia tem sido vincu-


lada à área da informática. Existem as novas tecnologias que possibilitam que
geógrafos e profissionais da área confeccionem mapas atrelados a tecnologias
da informação (Sistema de Informação Geográfica [SIG], geoprocessamento
e sensoriamento remoto) com a utilização de softwares com o objetivo de
representação do espaço geográfico.
Entretanto, é possível observar como a geografia está relacionada com a
cartografia, segundo Lacoste (1988), o real, o espaço geográfico, é somente
aquilo que pode ser mapeado, colocado sobre a carta, delimitado, com precisão
sobre o terreno e definido em termos de escala cartográfica. Além disso, a
geografia, em suas premissas epistemológicas e análise do processo científico
ligado a uma história, deve ser entendida, de um lado, em suas relações ideo-
lógicas junto à ciência e, de outro, como prática ou como poder, pelo interesse
da sociedade, principalmente, ao uso da cartografia.

Leia mais a respeito da cartografia geográfica no artigo “Mapas desejantes: uma


agenda para a Cartografia Geográfica”, de Gisele Girardi. Acesse o link a seguir para
ler o trabalho na íntegra.

https://qrgo.page.link/ChS67

Arte da cartografia: teorias e postulados


da cartografia temática
A abordagem de teorias na cartografia tem sido desenvolvida, principalmente,
sobre a cartografia temática na segunda metade do século XIX. A cartografia
teórica moderna, pelo domínio da geografia, ainda teve atreladas aos seus ob-
jetivos a tecnologia de levantamentos e a topografia, e essa tendência teve mais
destaque sobre a técnica e prática da cartografia topográfica do que a teoria.
A intenção dos geógrafos era produzir mapas voltados a projeções e cores,
representação de relevo e elaboração de atlas (ARCHELA; ARCHELA, 2002).
A teoria da semiologia gráfica, preconizada pelo geógrafo Jacques Bertin,
salienta a necessidade da transmissão de mensagens com significado universal
por parte dos mapas (FONSECA, 2007). Segundo Bertin (1973), a cartografia,
Conceitos de cartografia e mapa 11

assim como a representação gráfica, possibilita a linguagem, constituída pelos


homens para comunicar observações essenciais à sua sobrevivência, definida
como linguagem bidimensional atemporal e destinada à vista. Apresenta
relevância sobre as demais devido à percepção do leitor ao interpretar o mapa.
Diante disso, o autor formulou o sistema semiológico monossêmico como
apoio a análise da representação cartográfica.
Haja vista que a teoria da semiologia gráfica contribuiu para a construção
de mapas ou gráficos para serem vistos e não para serem lidos, com base na
percepção imediata, a apreensão deve ser nítida e acessível. O nível monos-
sêmico de imagens é construído por um sistema semântico a partir do estudo
das regras relacionadas aos signos.

Quando se utilizam as primitivas gráficas em uma representação cartográfica,


pode-se fazer com que os pontos, as linhas ou áreas sejam mais ou menos
perceptíveis. A maneira de conseguir isto é considerar a alteração da sua
forma, tamanho, orientação, cor, valor e textura. Denominadas variáveis
visuais segundo Bertin nos anos 1960 para representação gráfica compondo
uma linguagem bidimensional e atemporal destinada a visão humana (NO-
GUEIRA, 2009, p. 128).

Bertin (1986) explana duas abordagens a respeito da representação gráfica,


explanadas a seguir.

a) Neográfica de tratamento: atenta analisar relações existentes entre dados


de uma tabela e como agrupá-las para constituir respostas satisfatórias
às questões que precisam ser formuladas.
b) Neográfica de comunicação: apresenta preocupação em fixar e transmi-
tir às pessoas o que foi descoberto nos dados, considerando as dimensões
do plano (seja na folha de papel ou tela de computador), chamando a
atenção do leitor pela variação visual de manchas. Todavia, a semiologia
gráfica é utilizada na construção de mapas temáticos (MARTINELLI,
2003; NOGUEIRA, 2009).

A teoria da informação tem influência na cartografia por meio dos sis-


temas comunicacionais embasados na teoria geral da comunicação. Utiliza
o método para controlar os ruídos de canal que apresenta com o objetivo de
transmitir, independentemente de seu conteúdo, um número maior de sinais
do que o necessário para a recepção da mensagem, o que implica na repetição
de sinais ou redundância. Devido à comunicação cartográfica, vista como
produção teórica e metodológica ligada a teoria da informação, nesse caso, a
12 Conceitos de cartografia e mapa

produção de mapas é explanada com base na dimensão sintática. Essa dimensão


é um fenômeno da comunicação pelo mapa, que compreende como construir
mensagens que apresentem condições excelentes para, quando veiculadas pelo
canal, almejem de forma mais eficiente possível o receptor.
Nesse sentido, o mapa é o resultado do processo de comunicação cartográ-
fica, pois permite que o conteúdo da realidade seja observado e processado
pelo cartógrafo. Além do ato de comunicação, tem que ter significado para
que o cartógrafo apresente a realidade do fenômeno a ser mapeado para, en-
tão, produzir mapas eficientes, capazes de produzir o efeito que o cartógrafo
almeja enquanto emissor da informação. O cartógrafo deve ter em mente a
codificação correta dos fenômenos para que os objetivos da transmissão da
informação cartográfica sejam alcançados por meio da interseção do reper-
tório do cartógrafo com o repertório do usuário de mapa definido no campo
comunicacional (GOMES et al., 2013).
Segundo Archela e Archela (2002), Taylor foi o precursor da teoria da
modelização, introduzida pela tecnologia SIG, resultado da intensiva utilização
de métodos matemáticos e estatísticos com diversas variáveis e também da
evolução tecnológica e da computação com o auxílio de programas gráficos.
Desde então, é possível acessar bases cartográficas que interagem com bancos
de dados e produzir documentos cartográficos para a análise espacial. Nos
dias atuais, com a ampliação do número de usuários dos SIGs, tornou-se
inevitável a melhor capacitação de profissionais em geografia e cartografia.
A teoria cognitiva utiliza como método cartográfico o envolvimento com
operações mentais lógicas como comparação, análise, síntese, abstração, gene-
ralização e modelização cartográfica. Essa pesquisa cartográfica apresenta o
mapa como uma fonte variável de informações, dependendo das características
do usuário. Ela foi desenvolvida a partir da psicologia, contribuindo para a
cartografia tanto no processo de mapeamento quanto para o cartógrafo, pois
gerou a preocupação com as características do usuário, como no processo de
leitura do mapa. Portanto, o mapa é definido como um instrumento para a
aquisição de novos conhecimentos sobre a realidade representada. Essa teoria
teve contribuições a respeito dos mapas mentais e da alfabetização cartográfica
(ARCHELA; ARCHELA 2002).
Conceitos de cartografia e mapa 13

A teoria da visualização cartográfica permitiu para a cartografia uma


nova concepção de visualização. Sobre a cartografia contemporânea e sua
visão particular do que seria a visualização cartográfica no início da década
de 1990, Mcormick et al. comentam que:

A visualização é um método da computação em que a computação gráfica e a


tecnologia de processamento de imagens são usadas em aplicações científicas
de análise intensiva de dados, visando transformar o simbólico em geométri-
co, capacitando assim o pesquisador a observar suas simulações e cálculos
(MCORMICK et al., 1987 apud WOOD; KELLER, 1996).

Assim, a visualização possibilita que o pesquisador produza rapidamente


um número de imagens com diversas combinações das variáveis de um con-
junto de dados. Essa teoria apresenta, a partir da visualização, o potencial de
revitalizar a cartografia para além do SIG e da cartografia digital, buscando
os atlas eletrônicos interativos e os sistemas de multimídia do SIG, entre as
inúmeras tecnologias. As definições e os conceitos desse tipo de atlas envolvem
visualização da informação, esquematização, análise comparativa, ordenação,
animação, modelagem dinâmica, projeção, navegação casual, hipertexto,
base de dados e capacidade para o processamento de interatividade. Nesse
sentido, a visualização e os sistemas de mapeamento eletrônico de multimídia
envolvem três elementos conceituais, tecnologias sofisticadas que estão na
junção dessas novas tecnologias com a cognição e a comunicação cartográfica
(ARCHELA; ARCHELA, 2002).

O desenvolvimento da cartografia teórica tem sido o tema atual para os estudos


geográficos. No artigo “Correntes da cartografia teórica e seus reflexos na pesquisa”,
Rosely Sampaio Archela e Edison Archela observam as correntes da cartografia teórica
e seus reflexos na pesquisa brasileira.
14 Conceitos de cartografia e mapa

ARCHELA, R. S.; ARCHELA, E. Correntes da cartografia teórica e seus reflexos na pesquisa.


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DUARTE, P. A. Fundamentos de cartografia. 3. ed. Florianópolis: UFSC, 2008.

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