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20 artigos científicos foram criados em “gerador de lero-lero” e ninguém percebeu

por
Ashley Feinberg
publicado em
1 de março de 2014 @ 19:45

Esta semana, a Nature revelou que as editoras de revistas científicas Springer e


IEEE removeram mais de 120 artigos publicados entre 2008 e 2013. Elas descobriram
que cada um deles era jargão sem sentido, todos gerados automaticamente por
computador.

O enorme descuido foi descoberto pelo cientista da computação Cyril Labbé, que
passou os últimos dois anos reunindo esses artigos.

Os textos foram elaborados com um programa do MIT chamado SCIgen; qualquer pessoa
pode baixá-lo e usá-lo. Ele foi criado em 2005 para provar que conferências
acadêmicas constantemente aceitam estudos sem qualquer sentido. Labbé criou um site
onde usuários podem testar se artigos foram criados usando o SCIgen; ele diz à
Nature que eles “são bastante fáceis de se detectar”.

Labbé diz não saber por que os trabalhos foram enviados, nem mesmo se os autores
sabiam deles. Mas como algo assim pode ser publicado em veículos sérios? Parte da
genialidade do esquema é que, pelo menos para um olhar destreinado, os artigos
parecem plausíveis.

Por exemplo, um dos trabalhos publicados, vindo de uma conferência de engenharia na


China, é intitulado “TIC: Uma metodologia para a construção do e-commerce”. Vago,
mas parece plausível. Só que o resumo já causa estranheza:

Nos últimos anos, muitos estudos vêm se dedicando à criação de chaves públicas e
privadas de criptografia; por outro lado, poucos sintetizaram a visualização do
problema do produtor-consumidor. Dado o estado atual de arquétipos eficientes,
importantes analistas notoriamente desejam uma emulação do controle de
congestionamento de rede, que incorpora os princípios fundamentais de hardware e
arquitetura. Em nossa pesquisa, nós concentramos nossos esforços em refutar que
planilhas podem ser compactas ou feitas com base em conhecimento e empatia.

Basicamente, algo saído de um gerador de lero-lero. Segundo a Nature, a maioria dos


trabalhos veio de conferências que aconteceram na China, e a maior parte tem
autores com filiações chinesas. No entanto, ninguém sabe ao certo quem está por
trás desse escândalo.

Dezesseis dos trabalhos foram publicados pela Springer, enquanto mais de 100 vieram
da IEEE. O problema é que os estudos, supostamente, são revisados por pares: eles
passam pelo escrutínio de um ou mais estudiosos com mesmo escalão que o autor, em
geral de forma anônima. Por isso, as editoras estão tendo dificuldade em explicar
exatamente como isso aconteceu.

Ou seja, se você já teve que ler um artigo científico e ficou meio (muito) confuso,
não se sinta tão mal: talvez o texto fosse algo sem sentido gerado automaticamente
por computador. [Nature]

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