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Portal Entretrextos - Assis Brasil fala sobre O Prestígio do Diabo

Publicada Em 01 de maio de 2018


Transcrição em 0205/2019
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diabo,2400.html

Entrevistador – A academia piauiense de letras relançou, em 2018, o romance O Prestígio do


Diabo, do escritor Assis Brasil. Assis, O Prestígio do Diabo é uma grande ironia. O que, sob
sua ótica, no viés do riso, está personificado em sua obra?

Assis Brasil – Este livro de todos os romances meus, ele tem uma segunda leitura. A do enredo,
relacionado com o personagem e o que acontece com o personagem. Agora, de um modo geral, eu
não entrego todas as coisas para o leitor. Todos os significados da queda, a queda do personagem
reiterada é o miolo da narrativa, dali você pode interpretar o que significa, o que significam aquelas
quedas do personagem. Ele não está doente, ele está doente, mas não está. Então, vocês que
procurem interpretar, né?

Entrevistador – O livro é curioso desde o título da obra, né? O prestígio do diabo é uma forma de
negação da realidade ou uma forma de aceitação dela?

Assis Brasil – Olha, o problema da realidade nos meus livros são muito interessantes. De modo
geral, eu nego a realidade, enquanto eu interpreto o significado dela. O problema da realidade eu
acho muito complexo nos meus romances porque, de um modo geral, eu não acredito nela. Nela, a
realidade. E isso para o romancista é muito importante. Acho que a literatura, no caso dos romances,
diz tudo sobre o real e o irreal. De modo geral, você está lendo algo que não é real, mas ao mesmo
tempo é real porque é o romancista que imprime essa feição à realidade.

Entrevistador – Logo de saída, Assis, você projeta o perfil social e humano de Lázaro em um
retrato que é ao mesmo tempo terno e seco. Por que a ternura e a secura se combinam tão bem em O
Prestígio do Diabo?

Assis Brasil – Aí eu coloquei um personagem que vai amenizar praticamente todas as passagens do
livro. Cacilda, a Cacilda é o lado terno do humano. É quem sustenta o personagem Lázaro em sua
vida, nas coisas que acontecem a ele e ele não entende. Mas ao mesmo tempo, ele vai se
sustentando no apoio, no cabide que é Cacilda pra ele.

Entrevistador – Lázaro busca respostas para suas quedas involuntárias, busca a ciência, questiona a
dimensão espiritual. As quedas, mais do que uma manifestação orgânica ou holística, funcionam
como uma grande metáfora. Quais associações você espera que o leitor construa acerca das quedas
ao ler O Prestígio do Diabo?

Assis Brasil – Olha, o leitor tem que ser, modéstia a parte, inteligente, né? Porque as quedas
significam mutia coisa, inclusive revolta contra o emprego burguês, revolta sobre a compreensão
das próprias quedas, as razões disso. Porque ele tá sofrendo, o que significa o sofrimento. Ele
mesmo sabe que ele é um sofredor, mas ele sabe que esse sofrimento dele é a mesma razão que ele
sustenta, os revéses que sustentam a maldade do mundo. (rindo)Ele é um sofredor. Lázaro é um
sofredor e esse sofredor é o lado humano dele e da classe dele, principalmente.

Entrevistador – A tensão entre o dominante e o dominado no mundo do trabalho em O Prestígio do


Diabo, Assis, atenua-se pelo operário solidário à causa do chefe. O trabalhador que vê na
solidariedade ao capital, personificada na figura da empresa, uma forma de ascensão econômica e
social. Assis, para seu narrador, há humanidade no capital?

Assis Brasil – Olha, (risos) há uma falsa humanidade no capital. Os personagens que lidam com o
capital, eles lidam com uma ferida, eles sofrem com o sofrimento, então é difícil você aceitar o que
está...por exemplo, Lázaro, devido às quedas dele, ele já não suporta. O sofrimento dele está todo
nas quedas. Ele é um sofrente (risos).

Entrevistador – A cidade grande figura em O Prestígio do Diabo como um espaço caótico e


sufocante. A construção psíquica de Lázaro apresenta traços semelhantes. Para Assis Brasil, a
cidade grande, nessa obra, significa a personificação do drama interior de Lázaro?

Assis Brasil – Sem dúvida, o drama de Lázaro…

(corte)

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