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A POLITICA COMUNITARIA DE «ACCISES» E A ADESAO DE PORTUGAL AS COMUNIDADES EUROPEIAS (Alguns Aspectos) Pela Dr.* Maria Eduarda Azevedo (*) SUMARIO a INTRODUCAO 2. A LIVRE CIRCULAGAO DE MERCADORIAS 2.1. O desarmanento pautal € contingentdrio 2.2. A harmonizagéo fiscal comunitéria 3, AS «ACCISES» NO CONTEXTO DA FISCALIDADE COMUNITARIA 3.1. Prineipios gerais 3.2. A harmonizagéo das principais «accises» 3.2.1. Bebidas alcodlicas 3.2.2. Tabacos manufacturados — cigarros 3.2.3. Oleos minerais 4. AS «ACCISES» NO CONTEXTO DA FISCALIDADE PORTUGUESA. 4.1. Generalidades 4.2. Andlise legislativa 1. Tabacos Combusttveis 5. CONCLUSOES o Jurista do Centro de Estudos Fiscais Assistente da Faculdade de Direito da ‘Universidade de Lisboa. 354 MARIA EDUARDA AZEVEDO 1. INTRODUCAO Uma Comunidade fiscalmente integrada pode admitir sem- pre a existéncia paralela do IVA e de alguns grandes impostos especiais sobre 0 consumo («accises»), reservando estes ultimos para um reduzido elenco de bens de notdvel carga fiscal. A suprimirem-se totalmente as «accises» aplicadas nos Esta- dos membros, seria indispensdvel compensar a correspondente perda de receita majorando as taxas do IVA, procedimento nao isento de sequelas inflacionistas. Além disso, as «accises» repre- sentam em todos os sistemas fiscais um instrumento de acentuada flexibilidade, facilmente manipuldvel em face de um urgente aumento das receitas puiblicas. Por fim, enquanto impostos auté- nomos, as «accises» podem adaptar-se com facilidade as mais diversificadas necessidades econémicas, sociais e estruturais. Assim, se ha argumentos convincentes favordveis 4 manu- tengdo das «accises» nas Comunidades Europeias, outras tantas razdes militam para que semelhante subsisténcia seja selectiva. Importard, pois, atender a determinados critérios cuja rigidez se aconselha: — ando incidéncia de «accises» sobre bens de primeira neces- sidade, nem matérias-primas; — a preferéncia pela eliminacdo das «accises» fonte de ren- dimento fiscal insignificante; — a supressdo das «accises» geradoras de compensagées € controlos fronteirigos. Mas, mesmo quando em todos os Estados membros se lan- gam e cobram «accises» uniformes, as diferencas estruturais dos impostos em causa — explicdveis por raz6es histéricas, econd- micas ¢ sociais — provocam importantes distorgdes na concor- réncia, as mais correntes, alias, centradas no desvio do consumo para bens sucedfneos menos tributados. Dai que a harmonizacdo das «accises» — mais propriamente, da sua estrutura — surja como um imperativo para garantir a imediata eliminac&o de tais distorgdes, e, subsequentemente, a A POLITICA COMUNITARIA DE «ACCISES» 355 supressio da tributaco nas importagbes e das restricbes nas expor- tagdes € consequentes controlos de fronteiras globalmente per- turbadores da livre circulacdo de mercadoria no seio do mercado comum. Estas caréncias, originariamente sentidas numa Europa de Seis, séio hoje superlativadas numa Europa de Doze — alargada para Sul, a paises de menor desenvolvimento econédmico —, num momento histérico em que a concretizacaéo da Unido Econémica, ainda que desejo efectivo ¢ profundo, depara com dificuldades de natureza institucional ¢ econémica. 2. A LIVRE CIRCULAGAO DE MERCADORIAS 2.1. O desarmamento pautal e contingentdrio Em 9 de Maio de 1950, Robert Schuman dava publicidade a uma célebre declaraco concebida e redigida em colaboracaéo com Jean Monnet (’), em que se continham os alicerces de uma federacdo europeia a implantar num contexto de paz e estabili- dade (’). Compromisso assumido pelos Seis — Franca, Republica Federal da Alemanha, Italia, Bélgica, Holanda e Luxemburgo — e concretizado originariamente no Tratado CECA — Tratado de Paris em vigor desde 18 de Abril de 1951 — , 0 projecto assumiu-se numa 6ptica tendencialmente horizontalista — conquanto debu- tante numa perspectiva vertical— ¢ prospectivamente politica — conquanto debutante numa estrita perspectiva econémica. ©) Cf., W.Diebold, The Schuman Plan; Nova Torque, 1952. @) Cf, E.Noel, Les rouages de l'Europe, Paris-Bruxelas, 1976, p. 93:«Son impor- tance ne réside pas seulement dans le fait qu’elle propose Ia mise en commun des ressour- ces en charbon et acier de Ia France et de I’Allemangne dans une organisation ouverte 2 tous les pays d'Europe, mais dans I'énonot des objectifs et des méthodes nouvelles qui sont restés ceux de toute la construction européennen. 336 MARIA EDUARDA AZEVEDO A légica intrinseca do processo ditava a ultrapassagem do estddio inicial, pelo que, apés estudo analitico e feito o balanco da actuagdo da CECA, foi possivel proceder 4 assinatura, em 25 de Margo de 1957, em Roma, dos tratados constitutivos das outras duas comunidades: a CEE e a CEEA. No contexto alargado, unitério e complementar dos trés tra- tados, o estabelecimento de uma Unido Aduaneira ergueu-se enquanto 0 cerne da construgdo, a que deveriam acrescer, a ritmo Progressivo, a livre circulacdo dos demais factores de producdo (Mercado Comum) e a harmonizagdo das politicas econémicas sectoriais dos Estados membros (Unido Econdémica) (°). No Ambito das «quatro liberdades», a realizacao da livre cir- culacdo de mercadoria foi alcancada mediante o apelo nao sé a instrumentos de «integrago negativa» (*), mas também ao noté- vel contributo da jurisprudéncia do Tribunal do Luxemburgo — ora definindo conceitos (°), ora garantindo a aplicacdo e inter- C) Reuniam-se as condigSes para aproveitar das vantagens imputadas & integra- so econémica: © economias de escala intensificagho da concorréncia ‘atenuago dos problemas com os pagamentos internacionais desenvolvimento de novas actividades de dificil custo se empreendidas isola damente aumento do poder de negociag&o formulagdo mais coerente de politicas econémicas aceleraclo de transformagSes estruturais, incluindo a manutengio de altos niveis de emprego ¢ de clevado grau de desenvolvimento. ©) _Cf., Jean-Victor Louis, A Ordem Juridica Comunitéria, Bruxelas, Ed. Pers- pectivas Europeias, 1979, () Cf., C.W.A. Timmermans, «La libre circulation des marchandises», in Trente ans de droit communautaire, Ed. Perspectives Européennes, COM.CEE. p. 252: «ll faut considérer cet ¢gard que les dispositions du traité contiennent um certain nombre de definitions extrémment vagues (taxes d’effet équivalant & une restriction quantitative). En interprétant les définitions non précisées de ces notions, la cour @ toujours appliqué comme principal critére la réalisation entre les Etats membres d’une circulation des mar- chandises aussi libre et dégagée d'entraves que possible. Il est intéressant de constater ~Que ce critére s’est peu & peu matérialisé dans Ia jurisprudence pour devenir um principe général du droit communautaire». A POLITICA COMUNITARIA DE «ACCISES» 357 pretacao uniformes do direito comunitério ©) —, da doutrina e da propria intervencao directa dos interessados OC). Pedra-angular do desafio lancado e assumido pelos Seis, a Unido Aduaneira foi concebida para estar concretizada ao fim de doze anos ('°), mostrando o Tratado CEE ter assim acolhido as propostas do Rapport Spaak na matéria (). A primeira etapa — de 1 de Janeiro de 1958 a 31 de Dezem- bro de 1961 — impés aos Estados membros ('?) a proibico de cobranca de direitos alfandegdrios ¢ encargos de efeito equiva- lente ('?) sobre as mercadorias. Liminar e constrangedora, tal medida mereceu o acolhimento positivo dos meios econémi- cos interessados, potenciando a introdugéo de uma primeira cldusula de aceleracdo ('*). Paralelamente, a Comissdo prosse- guia acgdes de aplicacdo do principio da livre circulacdo as mer- © CE. R. Lecourt, L’Europe des juges, Bruxelas, Ed.Emile Bruylant, 1976, p. 22: «Le résultat était entre les mains du juge». () Cf. v.g.: 0 contributo para a teoria «self-executing». ®) Cf., TCE, Proc. n.° 26/62, Van Gend & Loos c. Administration Fiscale Néer- landaise, Rec. 1963, pp. 6 © segs. @) Cf., C.W.A. Timmermans, (n.5), p.252: «La jurisprudence de la Cour a été de plus en plus alimentée par des décisions préjudicielles rendues au titre de l'article 177 CEE A la suite de procés intentés intentés devant le juge national, par des particuliers ou des entreprises, mettant en cause les principes de la libre circulation des marchandises». (°°) Cf., artigo 8, Tratado CEE. (") Cf., Louis Cartou, Communauté Européenne, Paris, Ed. Dalloz, 1975, pp. 62 € segs. (2) Consonantes com o ritmo previsto no artigo 14.° do Tratado CEE, os Estados membros procederam, em 1 de Janeiro de 1959, a uma primeira reducdo de 10%, e, dezoito meses mais tarde, apés a Recomendacdo da Comisso, de 26 de Fevereiro de 1960, realizaram uma segunda, entio ao abrigo de uma cldusula de acele- () Cf., artigo 12, Tratado CEE. (Cf. Terceiro Relatério Geral, CEE, n.°* 1 ¢ 3. 358 MARIA EDUARDA AZEVEDO cadorias provenientes de Terceiros Estados e em trAnsito comu- nitario ("*)('9). Cumprido o calendario pré-definido ('’)('*), a transigSo para a segunda fase — iniciada em 1 de Janeiro de 1962 ('%) — significou nova acelaracdo — introduzida em 15 de Maio de 1962 — no processo de desarmamento pautal em curso (”°)(?'). Outro progresso, contempordneo, resultou também do estabele- cimento da primeira rede de OCM (””), visto os respectivos regu- () Cf., Decisio de 4 de Dezembro de 1958, JOCE n.° 33, de 31 de Dezembro de 1958 (revogada pela DecisBo de 5 de Dezembro de 1960, JOCE n.° 4, de 20 de Janeiro de 1961) que regulamentou o uso de um certificado para a livre circulagdo intracomunita- ria de mercadorias: 0 famoso DDI. A seu respeito escreveu Timmernmans, (n. 5), p. 257: «Ce certificat sert & prouver qu'il s’agit de marchandises en libre pratique, provenant soit d’un autre Etat membre, soit d'un pays tiers ou obtenus sous le régime du trafic de perfectionnement, regime pour Jequel la Commission, en application également de l'article 10, § 2, arréta spécialement une décision fin 1958 (cf., Décision du 17 décembre 1958, JOCE n.° 33, du 31 décembre 1958). L’introduction de ce certificat ne constitue pas encore en soi une garantie de libé- ration des contrdles douaniers et des autres formalités, mais est la reconnaissance d’un droit & la supression des droits de douane et des restrictions quantitatives realisée progres- sivement (cf., TCE, Proc. n.° 41/76, Donckerwolcke, Rec. 1976, pp. 1921 ¢ 1936 e segs.). (Cf, artigo 9, n.° 1, Tratado CEE. (") Cf, Decisio do Conselho de 14 de Janeiro de 1962, JOCE n.° 10, de 10 de Fevereiro de 1962. (') Em 31 de Dezembro de 1961 estavam definitivamente eliminados quer os direitos alfandegarios ¢ encargos de efeito equivalente (artigo 16, Tratado CEE), quer as restri- ebes quantitativas ¢ medidas de efeito equivalente (artigo 30, Tratado CEE). () A segunda etapa durou de 1 de Janeiro de 1962 a 31 de Dezembro de 1965. ) Em I de Julho de 1962, os direitos aduaneiros para produtos industriais fica- ram reduzidos a metade dos correspondentes direitos de base (2.* acelerago): cf., JOCE n° 41, de 28 de Maio de 1962. €) No decurso da segunda etapa do periodo transitério, o Tribunal proferiu os primeiros acérdiios em sede de livre circulag&o de mercadorias: v.g., reconheceu carac- ter aself-executing» das obrigagdes de «stand still» dos artigos 12 [ef., TCE, proc. n.° 26/62, (0.8), p.3] € 37, n.° 2 (cf., TCE, Proc. n.° 6/64, Costa c. ENEL, Rec. 1964, P. 1143); ¢ afirmpou a interpretagio restritiva daquele principio (cf., TCE, Proc. N.°° 2-3/62, Commission c, Luxembourg e Belgique, Rec. 1962, pp. 815 ¢ 826-827; Proc. n.°° 90-91/63, Commission c. Luxembourg e Belgique, Rec. 1964, pp. 1221 e segs.). @) Cf., artigos 40 ¢ 43, Tratado CEE. Por todos: cf., Giancarlo Olmi, La mise en oeuvre par la CEE de Uorganisation commune des marchés agricoles, RMC, 1963, n.° 63, pp. 420-439. A POLITICA COMUNITARIA DE «ACCISES» 359 lamentos disciplinadores preconizarem idéntica supresséo de con- tingentes e de medidas de efeito equivalente no sector agricola. Os sucessos r4pidos encorajaram a Comissao a apresentar ao Conselho de Ministros proprostas de conclusao antecipada da Unido aduaneira, as quais, se néo encontraram total receptivi- dade, influenciaram, no entanto, aquela instituigao. Na verdade, o Conselho acabou por estabelecer a Unido Aduaneira para os produtos industriais com uma antecedéncia de dezoito meses sobre a data fixada — 1 de Julho de 1968 7°) —, complementando, assim, a Deciséo de 1966 (“) que eliminara definitivamente os direitos aduaneiros para tais categorias de bens [para os produ- tos agricolas preconizavam-se reduces percentuais progres- sivas ()]. O termo do periodo transitério saldava-se, pois, por um balango positivo (7°) que a década de 70 iria, porém, desmistifi- car: por um lado, o nascimento do neo-proteccionismo — a «flam- bée de néo-protectionnisme» de que falava o Coléquio sobre a Unido Aduaneira de 1977 —, efectiva proliferacao de instrumen- tos sofisticados normalmente atinentes 4 proteccdo da sade, do meio-ambiente e do consumidor; por outro, a sobrevivéncia de fronteiras administrativas e fiscais, tao proteccionistas quanto as barreiras alfandegarias e contingentdrias, mas de mais dificil eli- minagao. O novo combate centrava-se, assim, na harmonizacao legis- lativa, esforco cuja complexidade e delicadeza foram desde sem- @) Saliente-se o avango de dezoito meses sobre a data prevista no Tratado CEE. @) CL, Decisdo n.° 66/532/CEE, JOCE n.° L 165, de 21 de Setembro de 1966. @)_ Os direitos alfandegdrios vieram a diminuir cerca de 25% sobre os direitos de base, em 1 de Julho de 1967 (cf., Dir, n.° 67/364/CEE, JOCE n.° L 108, de 7 de Junho de 1967), sendo totalmente suprimidos no decurso da terceira etapa; os contingen- tes foram eliminados entre 1 de Janeiro de 1966 € 31 de Dezembro de 1969, visto ser entendimento da Comissdo a sua subsisténcia no quadro das ONM até a substituigdo destas por OCM. @5) Em sintese: 1) as Comunidades Europeias obtiveram enorme sucesso com as cléusulas de aceleragdo no ambito dos produtos industriais; 2) fizeram assinaldveis pro- gressos em matéria de eliminagao dos encargos de efeito equivalente a direitos aduanei- ros; 3) alcangaram resultados importantes, embora ndo definitivos, no «aménagement» dos monopélios nacionais com cardcter comercial. 360 MARIA EDUARDA AZEVEDO pre intufdas. E particularmente no campo fiscal onde os Estados membros iriam afrontar, na 6ptica polémica da transferéncia de competéncias, um dominio em que o exercicio da soberania nacio- nal fora sempre ciosamente reservado. 2.2 A harmonizacdo fiscal comunitdria A simples eliminacdo dos direitos aduaneiros e das restri- gSes quantitativas era, pois, insuficiente para garantir a livre cir- culagdo de mercadorias e a sé concorréncia no espago europeu integrado; premente, a supressdéo de outros obstaculos de natu- reza diversa mas de efeitos idénticos convidava a unidade de todos os Estados membros (”’). Entre tais obstdculos inscreveram-se desde a primeira hora os impostos — particularmente, os impostos indirectos — , cuja aptiddo distorgora resultava acentuada num contexto marcado por amplas divergéncias a nivel dos sistemas fiscais dos paises membros. @”) Cf, 1.8, Schwartz, De Ja conception du rapprochement des legislations dans Ja Communauté économique européenne, RTDE, 1967, pp. 248-249: «Le fonctionnement du Marché commun consiste dans I’exercice libre, juridiquement garanti, par les diverses entreprises, des possibilités d'action qui sont crées par |’élimination des droits de douane ¢t autres restrictions de la concurrence. Ce qui est juridiquement garanti c'est donc la concurrence potentielle et effective entre les entreprises du Marché commun, qui résulte de l'union douanitre, des quatres libertés, et de la liberté et de l"égalité de la concur- rence (cf., Mestmaecker, Offene Miirkte im System unverfalschten fiir Franz Bohm, 1965, p. 352). «En conséquence, les dispositions nationales et les disparités entre les dispositions de divers Etats membres ont en tout cas incidence directe sur l’établissement ou le fonc- tionnement du Marché Commun [article 100), et nécessitent de ce fait un rapprochement [article 3, litt. h)], lorsqu’elles affectent la liberté des échanges économiques entre Etats membres (...), ou lorsqu’elles affectent ou faussent la concurrence entre Etats membres, ou lorsqu’elles font obstacle & la politique commune dans le domaine de agriculture, des transports ou du commerce, ou a Ia coordination des politiques économiques ou des, transports ou politiques sociales des Etats membres» (No mensmo sentido: cf., Polach, «Harmonization of Laws in Western Europe», American Journal of Camparative Law, 1959, n.° 8, pp. 156-159; Verloren Van Themaat, «Die Rechtsangleichung als Integra- zur Integration Europas», Festschrift fur C.F Ophuls, 1965, pp. 245 © 249). A POLITICA COMUNITARIA DE «ACCISES» 361 No especifico campo tributdrio, a ponderagdo destes facto- res requereu a necessidade de conciliar objectivos muitas vezes conflituosos: por um lado, uma indispensdvel acgao harmoniza- dora, célere mas meditada; por outro, um sentido de medida e uma prudéncia que deveriam estar-lhe subjacentes, ndo sé por forca da alienagéo da soberania nacional C*), mas também, e sobretudo, pela utdpica pretensdo de anular tais disparidades antes mesmo de promover a efectiva convergéncia econdémica dos par- ceiros comunitdrios. A interaccfio economia — fiscalidade inviabilizava a concep- ¢4o de uma politica econdémica de que estivesse alheada uma poli- tica fiscal consentAnea. Desta se fez eco 0 Tratado CEE pelo aco- lhimento dado a normas que, conquanto gerais e basicamente transitérias, encerraram, contudo, as grandes orientagdes de acgdes futuras. Apontando, tendencialmente, para a criagéo de um poder tributario verdadeiro e proprio titulado pelas Comunidades Euro- peias, tanto o tratado, como o «acquis» comunitdrio nao conse- guiram evitar a instrumentalizacéo da harmonizagao fiscal. Jamais considerada em si mesma, a acco harmonizadora surgiu, num primeiro momento, através da abolicdo dos direitos alfandegarios e da criagéo da Pauta Externa Comum, para viabi- lizar a Unido Aduaneira; mais tarde, a progressiva articulacéo harmonica do modelo de tributac4o geral do consumo tem visado tornar possivel e operacional o sistema de financiamento orga- mental através de recursos préprios. @) C) Cf., Dominique Berlin, Jurisprudence fiscale européenne, RTDE, 1983, n.° 1, p. 39: «Comme les autres formes d’exercice de cette souveraineté elle (la politique fiscale) pose le probléme de son champ géographique d’application et de son articulation avec la politique fiscale des autres pays. (...) Chaque Etat est donc en principe libre de définir, dans le cadre de ses régles constitutionnelles et juridiques internes, son systéme fiscal, expression de sa souveraineté nationale. Ce pouvoir téchnique est bien sir limité par des considérations politiques et de mise en oeuvre pratique». @) Cf., Dominique Berlin, Portée des disposition fiscales du Traité de Rome et harmonisation des fiscalités indirectes, RTDE, 1980, n.° 3, p. 462, 0.7. 362 MARIA EDUARDA AZEVEDO Além de subalternizada, a harmonizagdo fiscal tem sido ainda incompleta ¢ lenta. Incompleta, porque se avancou no dominio da tributacdo indirecta, descurando os impostos directos. De facto, para con- cretizagéo das metas da integracdo econémica apenas se impu- nham a instauracdo da neutralidade fiscal como meio de no entra- var os fluxos comerciais intra-comunitarios, a generalizacao do princfpio do destino ¢ a substituicio dos impostos em cas- cata (°°); para os impostos directos, 0 Tratado ndo sé ndo recla- mou qualquer harmonizacéo, como nem sequer os considerou autonomamente. (31)(32) No tocante a lentiddo deste processo, nem sempre linear e ainda seguramente inconclusivo, uma breve digressdo pelos prin- cipais marcos histéricos no sé serd elucidativa, como também constituira um proveitoso exercicio analitico. O primeiro impulso surgiu com o Rapport Neumark, de 7-8 de Julho de 1962, produto do Comité Fiscal e Financeiro e em que se definiram as grandes linhas de uma politica econdmica e financeira. Mandatado pela Comissdo e fundando-se no Tratado CEE, © Comité abordou duas questées fulcrais: 1) «Examiner si et dans quelle mesure les disparités exis- tant actuellement dans les finances des Etats mem- bres empéchent partiellement ou méme totalement l’ins- tauration d’un marché commun créant et garantissant des conditions analogues a celles d’un marché inté- rieur». C) Cf, G. Montagnier, Fiscalité européenne, RTDE, 1974, n.° 2, p. 326. (’) Cf. artigo 98 Tratado CEE. ) Cf. Os impostos directos passaram a merecer a atengio da Comissio a partir de 1961, com fundamento juridico nos artigos 100 ¢ 101 do Tratado CEE e utilizando & técnica juridica fornecida pelas directivas (artigo 189 CEE). Cf., G, Montagnier, (n.30), pp. 326 ¢ segs. A POLITICA COMUNITARIA DE «ACCISES» 363 2) «Examiner dans quelle mesure il est possible d’éliminer ces disparités qui entravent considérablement la forma- tion et le fonctionnement du marché comum». (**) Semelhantes problemas, ao projectarem-se na margem de um alinhamento progressivo das politicas financeiras dos Estados membros, conduziram o préprio Comité Fiscal e Financeiro @ defini¢ao de um leque de tarefas prioritdrias: a) A indicacdo e valorac&o das disparidades constatadas a nivel das financas dos Estados membros, capazes de entravar ou, até, de inviabilizar o projecto (**); b) A definic&o das formas e meios de eliminacgéo ou com- pensac4o das disparidades mais gritantes, sem anular as particularidades nacionais, nem recorrer a frequentes desestabilizadoras manipulacdes cambiais; c) A formulacao da politica financeira mais conforme a defesa de uma «Workable competition» entre os Esta- dos membros; €)Cf., «Rapport du Comité Fiscal et Financier, Rapport Neumark, COM.CE, 1962, p. 3. (*) Cf., Rapport Neumark, (n.33), pp. 5-6: «Les ‘disparités existant dans les finances publiques’ portent sur: a) Le montant global des recettes publiques (impéts) et les dépenses par rapport au produit national; : b) Le rapport des impéts directs aux impéts indirects; ©) La nature et le taux des impéts indirects, tant ceux des impéts généraux (taxes sur le chiffre d'affaires) que ceux des impdts spéciaux (accises); @) La nature et taux des impéts directs, y compris les abbatemments, franchises, régimes spéciaux et mesures prises en matitre de double imposition; ©) La taxation des transports (en liaison avec le financement des cofits d’infra- structure); J) Les autres impéts (sur la fortune, les successions, les mouvements des capitaux, ete.); 2) La structure des dépenses publiques, en particulier le niveau absolu et relatif des dépenses des administrations publiques au sens étroit, celui des dépenses militaires, d’une part, les dépenses publiques de consommation, les investisse- meats et les transferts correspondant a la politique sociale (subdivisés en trans- ferts de revenus et subventions), d’autre part». 364 MARIA EDUARDA AZEVEDO d) O exame das condigédes para eliminacdo das fronteiras fiscais ou, pelo menos, para a respectiva reducdo. No dominio fiscal, o Comité comegou por reputar politica- mente irrealizdvel e desnecesséria, na perspectiva da politica de integracdo, uma completa unificacdo dos sistemas fiscais dos Esta- dos membros. Dai que o Relatério se tivesse antes preocupado com as disparidades emergentes do confronto entre os paises par- ticipantes, particularmente sensiveis no nivel global dos impos- tos, carga fiscal e estrutura de certas figuras tributdrias, e, bem assim, na diversidade de taxas e beneficios fiscais concedidos. Coerente com o diagnéstico feito, o Rapport Neumark pro- pés uma linha de conduta particularizada em funcdo das varias categorias de impostos . Sob a epigrafe «Quelques hypotheses de travail et idées mai- tresses sur lesquelles s’appuie le présent rapport», foi acolhido um calend4rio detalhado em que a progressividade e consequente definicfo de etapas ditavam o ritmo das medidas preconiza- das. Estas, hierarquizadas e ponderadas no seu conjunto, nado s6 deveriam ser encaradas na éptica de uma filosofia global de harmonizagéo — recusa-se o principio de que a politica fiscal (e financeira) iria visar a uniformizacao e centralizagéo — , como também haveriam de se inserir num contexto mais amplo, for- mado por uma politica monetdéria comum e pela livre circula- ao de capitais, e politicamente mais propicio a respectiva conse- cugio. Avancando propostas relativas 4 tributacao directa Pye a tributacdo geral sobre o consumo (*5), 0 Comité foi tam- bém particularmente sensivel 4 especificidade das questdes susci- tadas pelas «accises», decorrentes, desde logo, da sua incidéncia sobre bens de consumo directo, matérias-primas e bens intermé- dios. @’) €)Cf., Rapport Neumark, (n.33), pp. 32-40. 5 Cf., Rapport Neumark, (n.33), pp. 40-45. (’) As diferentes taxas praticadas nos varios Estados membros criavam as condi- ‘¢bes para introduces na concorréncia, fruto da variedade de custos de produgdo e, con- sequentemente, de precos. . A POLITICA COMUNITARIA DE «ACCISES» 365 Partindo do pressuposto da vontade de adoptar o principio de tributacdo no pais de origem, o Comité recomendou o alinha- mento das taxas dos impostos especiais sobre a despesa, 0 qual, conquanto relativamente dispensdvel, facilitaria a acc4o harmo- nizadora. Tratava-se, contudo, de uma evolug&o perspectivada para o longo prazo; no imediato, a orientac&o defendida pendia para a subsisténcia do principio vigente da tradi¢ao no pais de destino (**). A guisa de sintese conclusiva, o Relatério apontava duas vias: ou a incorporacdo das «accises» no imposto geral sobre 0 con- sumo, continuando aquelas a ser cobradas mesmo apés a passa- gem a segunda fase do programa de harmonizacdo fiscal, ou a respectiva supressdo enquanto impostos especiais, hipdtese em que a consequente perda de receitas deveria ser compensada por um aumento geral da taxa do imposto geral sobre 0 consumo ). Contemporaneo do Comité Financeiro e Fiscal, o Comité de Representantes das Administrag6es Fiscais Nacionais recebeu igual- mente a missao de analisar os regimes fiscais dos Estados mem- bros e de fazer sugestdes respeitantes a uma futura acgéo harmo- nizadora. Concluidos os respectivos trabalhos também em 1962, o Rela- tério entéo apresentado — Rapport ABC (*°) — consagrou-se exclusivamente A tributacdo indirecta, condenado o imposto em cascata e propondo a adopgao do IVA. Sobre as «accises» caia @) Ainda que paradoxal, tal subsisténcia significava mudanca: «Pour améliorer la transparence de la fiscalité, il serait cependant souhaitable de rechercher, pour un méme bien imposable, un accord entre les Etats membres sur l'assiette & retenir (impéts ad valo- rem ou impéts spécifiques). I1 semble douteux qu’un accord analogue sur la question du’monopole ou impét sur la consommation stricto sensu’ soit politiquement possible. On ne devrait pas, a notre avis, vouloir rechercher & tout prix l'uniformisation pour la forme de perception, d’autant plus que les pays of existent des monopoles ont fait de précieuses expériences auxquelles ils ne voudront pas renoncer et pour cause(...)». Cf. Rapport Neumark, (n.33), p.45. () Cf., Rapport Neumark, (n.33), p. 46. () Cf., Rapport général des sous-groupes A,B et C créés pour examiner diféren- tes possibilités en vue d’une harmonisation des taxes sur les chiffres d'affaires, Service de publications des CE, Bruxelas, Luxemburgo, 1962. 366 MARIA EDUARDA AZEVEDO um siléncio fruto de hesitagdes varias, cendrio que os anos seguintes nao iriam alterar no essencial. Entretanto, as perspectivas gerais de harmonizagdo fiscal res- surgiram durante os anos de 1970 e 1971 (*!), ent&o orientadas pelos trabalhos da Uniao Econémica e Monetaria. O Rapport Werner (7) — auténtico protocolo adicional ao Tratado CEE, cujos objectivos e mecanismos de integracdo refor- gou e completou — pretendia que fosse imprimido um novo «élan» a politica fiscal, em ordem a evitar que as disparidades dos regi- mes fiscais nacionais falseassem o funcionamento da UEM. Para tanto, impunha-se um grau suficiente de harmonizacdo legisla- tiva, nomeadamente em matéria de IVA, de impostos suscepti- veis de influenciar os movimentos de capitais e de certas «accises». Ao afirmar os principios da progressdo paralela e da con- vergéncia entre as politicas econdmicas e a integracéo monetaria, o Relatério justificava ndo sé as sugestdes em sede de fiscalidade, como também a respectiva inserco no quadro da politica econé- mica global das Comunidades Europeias. No tocante aquelas, o necessdrio reforgo harmonizador foi concretizado, a nivel de tributacdo indirecta (**), no convite diri- gido a Comissio para apressar a generalizagéo do IVA com apro- ximag&o das respectivas taxas e para harmonizar e alinhar as taxas das «accises» com incidéncia directa na circulacdo intra- -comunitéria. (') Ao Rapport Neumark sucederam-se medidas de menor impacto: v.g., Memo- rando COM., de 1 de Dezembro de 1965 (fiscalidade de empresa); Propostas COM., de 20 de Dezembro de 1066 (acco fiscal concertada); Rapport COM., de 1966 (tributa- Ho dos lucros das empresas); Programa de Harmonizacio dos Impostos Directos, COM., de 26 de Junho de 1967. De destacar o «Programa de Harmonizacio Fiscal», de 8 de Fevereiro de 1967, apresentado pela Comiss&o ao Conselho, ¢ cujo interesse radicou tanto na introdugdo analitica, como nas medidas preconizadas (cf., G. Montagnier, Fiscalité, RTDE, 1976, n.° 3, pp. 499 € segs.). (42) Cf, Rapport Werner, de 8 de Outubro de 1970 (JOCE n.° C 136, de 11 de Novembro de 1970), completado no plano politico pelo Plano Davignon. (°) Em matéria de tributado directa preconizava-se a harmonizacdo dos impos- tos com influéncia imediata sobre os movimentos de capitais: aproximag&o da estrutura do imposto sobre as sociedades e da tributag&o dos lucros de obrigagées ¢ de dividendos. A POLITICA COMUNITARIA DE «ACCISES» 367 Genericamente acolhidas na Resolugao do Conselho de Minis- tros, de 22 de Marco de 1971 (“), as propostas traduziram-se, entdo, num catélogo calendarizado de medidas fiscais concretas que seguiram de perto as sugestdes do Relatério. Os problemas monetarios que as Comunidades defrontaram durante a primeira etapa constituiram, no entanto, um entrave ao programado esforco de harmonizacao. Dai a falta de conviccdo (*5) e o cardcter limitado (**) das acces encetadas; dai também, a nova comunicagéo dirigida pelas Comissdes ao Conselho — «Les grandes lignes d’un programme d’action pour la deuxiéme étape» (*”) — , em cujo contexto o Parlamento Europeu pretendeu introduzir — sem éxito — a ideia de «nécessité d’une véritable politique fiscale communautaire» (“). Retomados em 1975 com uma nova comunica¢ao da Comis- sAo ao Conselho (*%), os trabalhos reflectiam ent&o, com espan- tosa clareza, 0 novo espirito que doravante passaria a nortear a actualizacdo daquela instituicdo. Na verdade, apds consultas as organizacées profissionais € sindicais e As administragées fis- cais nacionais, a Comissdo insistia na necessidade de completar as accdes de natureza fiscal viabilizadoras da construgéo efectiva do Mercado Comum, ao mesmo tempo que publicitava as suas reflexdes sobre as mediadas de uma integracéo econdémica mais avangada. (“) Cf., JOCE n.° C, de 27 de Margo de 1971. Esta resolugdo foi reforgada no ‘ano seguinte pela Resolucdo de 21 de Marco de 1972 (JOCE n.° C 38, de 18 de Abril de 1972), tendo passado a constituir a base dos diversos programas de acco elaborados pelas CE em matéria fiscal. (5) Desse facto deu conta a Comisséo no balanco da 1.* etapa; ef., Bull, CE supl. n.° 5/73. (¢) Entre 1971-1973, os textos definitivamente adoptados circunscreveram-se a duas directivas, modificando ou concretizando uma outra de 1969 quanto aos direitos de registo de sociedades. Cf., G. Montagnier, (1.30), pp. 327-328. (’) Cf, G. Montagnier, (0.30), pp. 328 € segs. () Cf, Resolugdo PE, de 8 de Maio de 1972, JOCE n.° C 56, de 2 de Junho de 1972. () Cf., «Le programme d’action fiscalen, de 23 de Julho de 1975, Doc. COM. (75) 391, final e Bull. CE, n.° 9/75. 368 MARIA EDUARDA AZEVEDO Em concreto, o programa da acco fiscal de 1975 compor- tou no Ambito da tributacdo indirecta dois vectores: um, a implan- tar de imediato, traduzido numa melhor e mais eficaz coordena- ¢40 dos esforcos dos Estados membros em matéria de harmonizacio de IVA e «accises», atendendo a intensificagao das transacgées intra-comunitérias; outro, a realizar no médio e longo prazos, consubstanciado na efectiva harmonizagdo das taxas do IVA € «accises», condicao necesséria — mas néo suficiente! — supressdo das fronteiras fiscais. De modo geral, dir-se-4 que todos os projectos ficaram aquém das expectativas; a sua implementacdo mitigada e parcelar con- correu para que se multiplicassem os estudos, relatérios e comu- nicagdes. ( Jana presente década mereceu particular atencdo o Rapport Burke (*') — Relatério da Comissdo ao Conselho sobre as pers- pectivas de convergéncia dos sistemas fiscais nas Comunidades Europeias —, onde se procuraram alinhar, por outro lado, as accdes requeridas para efectivar a integracdo econémica dos Esta- dos membros, e, por outro, os obstaculos a defrontar e os meios de superagéo dos impedimentos. No Rapport Burke, a Comissdo teve ensejo de reflectir mais aprofundadamente sobre a sua concep¢ao de harmonizagao fis- cal — naturalmente moldada a partir das circunstancias politicas e econémicas vividas a escala comunitaria e mundial — e de pér €°) De salientar 0 «Rapport d'information sur I’harmonisation fiscalen, redigido por Fredersdorf em nome da Seceiio de Assuntos Econémicos ¢ Financeiros, do Comité Econémico e Social (cf., Dossier ECO/18), publicado em 12 de Julho de 1978. Tal documento revestia um duplo interesse: traduzia a posi¢&o da maioria do CES face & concepg&o geral relativa A harmonizagdo fiscal e as orientagdes sectoriais na maté- ria. A leitura do texto mostrou que o comité era maioritariamente partidério da harmoni- zagho répida da totalidade dos impostos. Todavia, manifestaram-se opiniées divergentes para as quais «l’harmonisation fiscale devrait se limiter prendre les mesures qui, dans Mintérée de la libre circulation et pour éviter les distorsions de concurrence, sont absolu- ment nécessaires» e «la politique financiere et fiscale doit, dans toute la mesure du possi- ble, rester de la compétence des Etats membres». Minoritéria, mas realista, esta foi a orientagio que vingou! @) Cf., Doc. COM. (80) 139 final, de 27 de Marco de 1980; Bull. CE, supl. n.° 1/80. A POLITICA COMUNITARIA DE «ACCISES» 369 em foco as dificuldades de uma possivel solucdo (7). Quanto & filosofia inspiradora, aquela instituicdo marcou com particular clareza o seu distanciamento das teses tradicionais através de uma posi¢ao alicergada em duas ordens de factores: primeiro, a exis- téncia de um orcamento comunitdrio exiguo, como tal inviabil zador de uma accao comum eficaz (°°); segundo, a utopia subja- cente a aspiracio de uma politica fiscal unica, emanac&o das Comunidades Europeias (*). No capitulo das conclusées a Comissao equacionou objecti- vos fundamentais, norteadores de «une réalisation 4 terme» para que congregava esforgos: «Dans le domaine des impéts indirects il s’agit d’élimi- ner les frontiéres fiscales, c’est-a-dire de supprimer dans les importations, la détaxation des exportations et les contréles aux frontieres pour réaliser un véritable marché unique a Pintérieur de la Communauté» (°°). () A Comissao alertou para duas grandes dificuldades: — inexisténcia de um acordo geral sobre 0 grau de integracKo econdmica a atingir nas Comunidades, tendo os Estados membros perspectivas divergentes ¢ nem sempre concilidveis quanto partilha dos poderes entre as instncias ¢ as insti- tuigdes comunitarias; —inexisténcia de uma aceo hrmonizadora a nivel das taxas. Como se podia ler no Rapport Burke: «(...) toute différente sera la situation lorsqu’il faudra aborder les domaines de la répartition des fiscalités nationales entre impOts directs et indirects, et du taux des différents impdts, car ces actions porteront alors atteinte & 1a libre utilisation par les Etats de l'imp6t comme instrument de leur politique budgétaire, économique et socialen. €) Cf., Rapport MacDougall, COM., série «Etudes, économie et finances», A (13), 1977. ()Nestas condigdes, a politica econémica ¢ social, ainda muito determinada pela componente nacional, passaria a ser conduzida mediante o apelo a instrumentos tributd- rios postos em marcha pelos paises membros, nao sendo posstvel qualquer evoluedo sig- nificativa enquanto no se realizassem progressos pela via da integracdo. ) Quanto aos impostos directos, apontou-se & conveniéncia (...) de procéder un rapprochement des charges fiscales des entreprises pour qu'une concurrence équita- ble puisse s’établir entre les entreprises des différents Etats et que les mouvements de capitaux ne soient pas provoqués par des considérations fiscales». 370 MARIA EDUARDA AZEVEDO No plano dos impedimentos (°), de entre a multiplicidade enumerada, a Comissdo salientou essencialmente doi —um, de natureza politica, traduzido na forte incerteza e alguma tibieza subjacente 4 vontade dos Estados membros em alienar a respectiva soberania tributaria, até ent&o ciosamente salvaguardada (a autonomia fiscal nacio- nal) (*"); — outro, de cardcter econémico, conexo com as reservas pos- tas ao alargamento dos poderes fiscais das Comunidades Europeias, sobretudo num contexto em que as acgdes con- junturais obrigavam os Estados membros a privilegiarem aquela mesma autonomia fiscal e os impostos se afirma- vam antes como instrumentos de politicas de estabiliza- gdo e de redistribuicao. Este apelo & soberania tributaria nacional e a flexibilidade das instituigdes fiscais arriscava tornar-se particularmente premente em face do lancamento do Sistema Monetdrio Europeu, cuja con- cepgdo e funcionamento efectivo privavam ja os Estados mem- bros de importantes instrumentos de politica monetaria. Por outro lado, a perspectiva de accdes harmonizadoras sobre as taxas do IVA e sobre a tributacdo das sociedades nao poderia deixar de impor aos paises participantes a urgente reforma dos seus siste- mas fiscais, orientada para a compensacdo da perda de receitas ocorridas em determinados sectores. (°*)(°°) 5 Cf., Rapport Burke (n.51), capitulos Il e V. €) Cf., Rapport Burke, (n.51), ponto 5. ¢) Cf., Rapport Burke, (n.51), ponto 64. () Cf., G.Montagnier, Fiscalité, RTDE, 1980, n.° 4, p. 721: «Si l'on ajoute que les systémes fiscaux nationaux sont encore largement disparates, et que leur structure dans chaque Etat n’est en général que le reflet de structures économiques ¢t sociales ct de mentalités fagonnées par I’histoire, leur harmonisation apparait comme une oeuvre de longue haleine, & conduire avec prudence et par étapes». A POLITICA COMUNITARIA DE «ACCISES» 371 3. AS «ACCISES» NO CONTEXTO DA FISCALIDADE COMU- NITARIA 3.1 Principios gerais De ha muito que as «accises» vém exigindo uma acco har- monizadora decisiva e urgente, orientada para a neutralizacéo de uma potencial transferéncia do efeito de barreira tipico dos direitos aduaneiros (suprimidos), sucessivamente, para 0 imposto geral sobre o consumo e deste para os referidos impos- tos especiais. Obvia, a constatagéo e eminente, 0 perigo, nem assim foi possivel evoluir no sentido de uma politica comum na maté- ria: argumentos classicos ligados a alienacdo da soberania tri- putdria e razdes atinentes aos efeitos estritamente fiscais destes impostos tém retardado a definigaéo de medidas comunitd- rias. ()() ) Cf., Gabriel Montagnier, 1957-1982: Les fiscalités nationales vingt cing ans apres, RTDE, 1982, n.° 4, p. 639: «(...) N.B 2) Les statistiques OCDE ne se prétent pas A une analyse détaillée de la part des accises a I’intérieur des impSts de consomma- tion. Cette question est pourtant importante dans l'optique de "harmonisation fiscale, en raison des trés grandes difficultés rencontrées pour I’harmonisation des «cing grandes accises» (bidre, vin, alcools, tabac, huiles minérales). Le Rapport Burke sur les perspecti- ves de convergence des systtmes fiscaux dans la Communauté (sauf la fiscalité grecaue) montre que les Etats membres font appel dans des proportions trés diférentes & cette ressource — ce qui explique largement les difficultés de cette harmonisation. Si ces acci- ses ne représentent, environ, que 10% des impéts dans la majorité des Etats a la fin des années 70 (Pays-Bas: 8%; Belgique: 8,5%; France et Danemark: 9%; RFA: 11%), ‘elles assurent, dans certains, des rentrées beaucoup plus importantes: 16% au Royaume- -Uni; 18%, en Italie, et atteignent méme 25,5%, en Irlande». Ny ‘Com taxas especificas, s6 0 aumento destas ou do consumo ¢ capaz de fazer crescer o volume de receitas auferidas a partir destes impostos. Além disso, em cada Estado membro é indispensivel a adaptaco periddica das taxas, de modo a que tais réditos acom- panhem o movimento geral dos pregos. 372 MARIA EDUARDA AZEVEDO Apesar de tudo, a Comisséo vem cumprindo zelosamente as suas funcdes ao apresentar ao Conselho um numero elevado de propostas de que se extrai, em sintese: (°) — a necessidade de harmonizar as estruturas das cinco prin- cipais «accises»: sobre os éleos minerais, os tabacos manu- facturados, 0 alcool, a cerveja e o vinho; — a urgéncia em aproximar/harmonizar as respectivas taxas; — a possibilidade de manter certas «accises» — v.g., «acci- ses» sobre os espectdculos —, insusceptiveis de afectagaéo directa das transac¢des entre os Estados membros; (©) — oconvite a suprimir outras «accises» susceptiveis de desen- cadear controlos fronteirigos ou mecanismos de repercus- sdo fiscal, e cujo peso e relevancia orcamentais so, em regra, irrelevantes. Nestes termos, atendendo a import4ncia e especificidade das «accises», por um lado, e, por outro, ao elenco das medidas pre- conizadas pelas instituigdes supranacionais, tornou-se pacifica a tese de que semelhante harmonizacao viria a ter multiplas seque- las nos Estados membros, especialmente em determinados domi- nios, através de: — conflitos entre as estruturas harmonizadas das «accises» e as prioridades socio-econémicas definidas por cada Estado membro; — modificagdes estruturais no consumo interno global, capaz de afectarem a producdo nacional; — alteracdes no volume das receitas fiscais; — reducéio da margem de manobra em matéria de politica econémica conjuntural. ©) _Cf., Proposition de directive du Conseil en matiére de droits d’accises et d’impo- sitions indirects, autres que la IVA, frappant directement ou indirectement la consomma- tion de produits, JOCE n.° C 43, de 29 de Abril de 1972. () Nesta categoria esto também compreendidas «accises» susceptiveis de reves- tirem uma considerdvel incidéncia em sectores econémicos determinados, — v.g. imposto sobre prémios de seguros — situag&o em que uma aceSo harmonizadora se afigura entéo inadidvel. ‘A POLITICA COMUNITARIA DE «ACCISES» 373, Os dois primeiros pontos repercutem-se naturalmente sobre a estrutura qualitativa ¢ quantitativa do consumo, que influen- ciam, gerando até um cendrio de alguma forma similar ao decor- rer da criagéo da unido aduaneira. E que, embora em teoria a neutralidade das «accises» face 4 producdo nacional e ao fluxo de importagées constitua um processo substancialmente diverso do da harmonizaco dos impostos alfandegarios, na pratica, con- tudo, até o cardcter proteccionista tipico destes ultimos tem estado na base da estruturacao de muitas «accises», criados ao abrigo de uma mesma filosofia e no intuito de, de forma indirecta, serem também fonte de discriminacao. (“) A combinagao de uma taxa elevada com uma estrutura espe- cifica e outros factores no fisicos é susceptivel de atribuir & «accise» efeitos cuja natureza proteccionista, de dificil demons- tracdo, dificulta sempre o acesso a certos mercados. (*) O problema centra-se na relagdo simbolica entre o sector secundario dos Estados membros e as respectivas «accises», resul- tando que, sob a pressdo de uma carga fiscal elevada, um e outras tender&o a adaptar-se numa base de reciprocidade. Nesta ordem de ideias, muitos produtos tornaram-se essenciais ao mercado nacional do seu préprio pais, para ele escoando com continui- dade e racionalidade econémica os seus excedentes. () No tocante as implicacdes orcamentais, a harmonizacdo das «accises» pode colocar problema ndo sé quanto as oscilagées quan- titativas, mas também em matéria de repercussées sobre 0 equili- brio global entre tributacdo directa e indirecta, em cada pais membro. Trata-se de uma questao normalmente demasiado empolada, sobretudo porque ponderado o grau de dependéncia dos Estados (“) Este 0 fundamento de muitas acgdes interpostas junto do Tribunal do Luxem- burgo, ao abrigo do artigo 169 do Tratado CEE. ()_ Cf., Bernard Jadau e Mario Burgio, «Hamonisation des fiscalités européen- nes», in: La Communauté Economique Européenne en Crise, Ed. Economica, Paris, 1982, pp. 208 € segs. (©) Diferente a situacdo dos produtos dependentes do mercado internacional. Por outro lado, a proteceao do mercado nacional ¢ fonte de permanentes preocupacies para 05 produtores dos bens sujeitos a «accises» (dai a urgéncia em encarar as CE como um grande mercado tinico para que a harmonizacéo possa progredir). 314 MARIA EDUARDA AZEVEDO membros face as receitas do IVA e «accises», as sequelas de uma ac¢do harmonizadora sobre estas podem ser compensadas total ou parcialmente através da prépria harmonizagdo daquele. Por fim, quanto a utilizacdo das «accises» enquanto instru- mento de politica conjuntural, vem-se generalizando a conviccéo de que as variagdes stibitas ¢ frequentes das taxas revestem efei- tos prejudiciais e, bem assim, a import4ncia crescente das politi- cas monetdria e de rendimentos e pregos. Dai uma certa retrac- ¢do quanto a este meio privilegiado de regulacdo da procura interna global. No entanto, torna-se indiscutivel que a harmonizaco das «accises», especialmente se efectuada a par e em articulagéo com actuag&o semelhante em sede de IVA, restringe necessariamente 0 campo de manobra dos Estados membros em matéria de poli- tica financeira. Da apreciacdo do regime juridico das «accises» nos paises membros das Comunidades Europeias as instituigdes comunita- rias retiraram a certeza de se estar a dar cobertura nacional a incoeréncias ¢ injusticas importantes, (°”) quer em relacdo a estru- (°) © Relatério sobre as perspectivas de harmonizacdo continha conclusdes neste ‘mesmo sentido: — 0s Estados membros tinham «accises» com taxas inferiores @ taxa de inflagao, demonstrando uma certa incapacidade em se adaptarem a um ritmo convergente; —nenhum Estado membro apresenta aumentos coerentes das «accises»: néo sé dissonantes relativamente ao indice de precos, mas também praticamente alhea- dos dos verdadeiros imperativos das politicas social, de saiide publica ou até de salvaguarda de recursos, para jé no falar da manifesta incompatibilidade com a disciplina da concorréncia; — austncia de disposigdes comunitdrias reguladoras de evolucdo das taxas das «acci- ses» — quer em valor absoluto, quer relativo — , passtvel de agravar as diferen- as sensiveis por forca da inflacéo. Tal andlise permitia, entio, tirar certas ilagdes ¢ orientagdes futuras: — libertos de constrangimentos comunitérios, os Estados membros experimenta- riam — experimentavam jé — dificuldades para realizarem com coeréncia 0 objec- tivo primordial das «accises», a sua finalidade fiscal; — 08 governos dos Estados membros néio poderiam esquecer que o «fiscal boost» — contrariamente ao «fiscal drag» — é mais facil de compreender e aceitar pela Populacdo contribuinte, pelo que importaré no minimizar os correlativos efei- tos psicolégicos; — 48 contradigdes intrinsecas das politicas nacionais em matéria de «accises» teste- munhariam a impotincia dos governos face & acco dos «lobbies». A POLITICA COMUNITARIA DE «ACCISES» 375 tura do imposto, quer as taxas. Alids, este motivo tem bastado a certas correntes para defenderem um sistema comunitério mesmo que constrangedor para os Estados membros. Independentemente desta opcao pela solugéo menos mé, seria de facto ingénuo acreditar na concep¢iio e implementagdo de poli- ticas comuns em sectores sujeitos a pesados encargos fiscais sem © estabelecimento de uma orientagéo uniforme no campo das «accises». Preconizada, a harmonizacdo terd de obedecer ao ritmo pré- prio do processo de integracéo — realizacdo progressiva, por eta- pas — , ao mesmo tempo que distinguird entre as accSes a tomar nos dois momentos cronoldgicos cruciais: durante o processo, a subsisténcia condicionada e paulatinamente cerceada da autono- mia dos Estados membros impée-lhe tao sé o acatamento coor- denado das orientagdes comunitdrias; no final — apéds o termo do periodo transitério — , a tolerancia de medidas derrogatérias nao ha-de atentar contra a liberdade das trocas, restringindo-as ou discriminando-as no 4mbito do espaco integrado. Independentemente, porém, do numero de fases, e do con- tetido ¢ ritmo das medidas a implementar, cedo se firmou a defesa da urgente harmonizagdo das «accises» — das cinco mais impor- tantes, pelo menos — , ainda que uma concretizacdo timida e miti- gada parega querer desmentir um esforco que, embora encetado sob os auspicios e impulso das instituiges supranacionais, esta longe de ter levado os Estados membros a adoptar uma atitude activa e comprometida num projecto comum. 3.2 A harmonizagao das principais «accises» 3.2.1. Bebidas alcodlicas A harmonizacao das «accises» sobre bebidas alcodlicas rece- beu um primeiro impulso com cinco propostas de directiva e uma de deciséo, apresentados pela Comissio ao Conselho de Minis- tros em 7 de Maio de 1972. (*) (*) Cf., JOCE n.° C 43, de 29 de Abril de 1972; Bull. CE, supl. n.° 3/72. 376 MARIA EDUARDA AZEVEDO De cardcter geral e definidora da filosofia e principios a assu- mir pelas Comunidades Europeias na matéria, a primeira pro- posta encerrou uma importante classificagao tripartida de tais «accises»: — 1.° grupo: «accises» de manuteng&o expressamente auto- rizada, se bem que condicionada a uma acc4o harmoni- zadora posterior — «accises» sobre 0 alcool, cerveja € vinho 7 — 2.° grupo: «accises» de supressdo tendencial, conquanto aos Estados membros fosse dada a oportunidade nao sé de conserva-las, mas também de submeté-las a um regime nacional auténomo, sob condicéo de nao afectarem as trocas intra-comunitarias (")(”'); — 3.° grupo: «accises» susceptiveis de introdugdo «ex novo» e de subsisténcia néo harmonizada, desde que nao distor- goras da concorréncia e/ou geradoras de controlos fiscais de fronteira. ("2)(3) Nela se conteve também a referéncia a intervencdo de um «Comité des Accises», composto por representantes dos Estados membros e com poderes consultivos, cuja génese foi entdo igual- mente preparada. (") Mas, a par destes aspectos, a proposta de directiva-base teve ainda o mérito de — sensibilizada pela lentiddo tradicionalmente envolvente do «decision making process», consciente da urgén- cia em avancar rapidamente com medidas complementares da har- monizacdo e, sobretudo, empenhada em evitar o recurso a morosa, complexa e, ainda assim, habitual tramitacdo usada para o efeito @) Cf., artigo 3. C%) Cf., artigo 4. C') Tratar-se-ai, v.g., de «accises» sobre produtos tropicais. () Cf., artigo 6. (*) Citem-se, v.g., certas taxas locais ¢ «accises» sem influéncia sobre as trocas entre os Estados membros. () Cf., Proposition de décision du Conseil instituant un «Comité des accises», JOCE n.° C 43, de 29 de Abril de 1972, p. 42. A POLITICA COMUNITARIA DE «ACCISES» 37 — prever a possibilidade de a Comissdéo avancar com os projec- tos de diploma na forma simplificada desde que o «Comité des Accises» Ihe concedesse o necessdrio «agrément». A completar o pacote, surgiram ainda quatro propostas con- cretas relativas 4 harmonizaco das «accises» sobre 0 alcool, vinho, cerveja e «boissons en mélange» (i.¢., a aventual combinacao das trés primeiras bebidas). No tocante ao alcool, a consideracéo da mao neutralidade das «accises» incidente e, bem assim, das disparidades de disci- plina nos Estados membros ditava a urgente harmonizacaio do imposto em causa. Por outro lado, a consciéncia das particulari- dades atinentes quer as varias categorias de bebidas com alcool etilico como componente, quer as diversas utilizacdes deste ultimo impunha a previsdéo de um leque de taxas e de certos regimes de isengdo. ("*) Em matéria de vinho, a concorréncia mantida com a cer- veja — ela prépria tributada em IVA e «accise» — , e desvanta- josa para esta, aconselhava tratamento fiscal se ndo idéntico, pelo menos capaz de atenuar uma certa discriminagdo. Alias, esta a razdo de apenas sujeitar a tributacdo os vinhos de mesa, deixando de fora toda uma elevada gama utilizada como aperitivo ou diges- tivo. (”) Quanto a cerveja, divergéncias constatadas a nivel dos Esta- dos membros e consequentes nos planos da receita, concorréncia e livre circulagao de mercadoria conduziam a um inevitdvel esforco harmonizador, de que nao poderiam estar ausentes preocupacdes de tratamento equivalente adentro das categorias comercialmente definidas. (’’) Por fim, a proposta de tributacdo das «boissons en mélange» surgia como consequéncia inevitavel e coroldrio ébvio da tribu- () CF., 2.°, 5.° € 7.° considerandos (proposition de directive concernant ’har- monisation des accises sur lalcool). (%) Cf., 3.° e 7.° considerandos (proposition de directive concernant une accise harmonisée sur le vin) () Cf., 2.°, 5.° € 6.° considerandos (proposition de directive concernant l’har- monisation des accises sur la bidre). 378 MARIA EDUARDA AZEVEDO tagdo das respectivas componentes «mélangées». Dai ter sido con- siderado pertinente sujeitar tais bebidas a um imposto de natu- reza similar ao que agravava aquelas, calculado, naturalmente, a partir dessas mesmas «accises». (”*) Em termos criticos, afigura-se oportuno recordar as pala- vras de G. Montagnier quanto 4 prudéncia da Comissdo e ao ensejo de tal regime (7%): «Si le juriste ne peut que louer ce sens de prévoyance, Vamateur risque d’avoir un mouvement de recul a la lecture de exposé des motifs, en constatant que cette précaution tend a permettre de taxer par exemple ‘un mélange de biére et de vin mousseux’ dont’il était certainement loin de soup- gonner 1|’étonnante existence (...)». Nascidas no primeiro trimestre de 1972, as propostas perdu- raram enquanto tais, originando assim um atraso claramente impu- tavel a dois factores: por um lado, ao contributo destes impos- tos — de modo algum minimiz4vel — para o volume das receitas fiscais de determinados Estados membros; por outro lado, a fun- g&o substitutiva que, na auséncia dos direitos aduaneiros, lhes passou a assistir como meio relativamente eficaz de proteccdo das produgées nacionais. (°°) () Cf., 2.° € 3.° considerandos (proposition de directive concernant le régime des accises & appliquer aux boissons en mélange). @) Cf., G.Montagnier, Fiscalité, RTDE, 1974, n.° 2, p. 341. (°) Nao seria possivel alcancar 0 efeito proteccionista — mediante o estabeleci- mento de taxas diferenciadas para a produc nacional e importacées — sem violar fron- talmente a interdicHo de tributagdes discriminatérias do artigo 95 do Tratado CEE. Todavia, 08 Estados membros poderiam superar facilmente tal dificuldade, definindo as taxas em fung&o dos produtos e sem distinguir entre bebidas produzidas internamente e importa das, procurando no entanto tributar mais pesadamente as primeiras com vantagem para as segundas, A letra do artigo 95 seria ent&o respeitada, embora ndo fosse 0 seu espirito. Neste sentido: Cf., G. Montagnier, Fiscalité, RTDE, 1980, n.° 4, p. 745: «on va constater que telle a bien été attitude des Etats les plus intéressés & l’affaire, mais que, fort heureusement pour les consommateurs et pour I'intérét profond du Marché Com- mun, la Cour de Justice a condamné ces «habiletés». A POLITICA COMUNITARIA DE «ACCISES» 379 A inércia das instituigdes decisoras — mormente, do Conse- lho de Ministros — conduziu a interpelagdes directas e frequen- tes ao executivo comunitério por parte de parlamentares euro- peus, no intuito de apurar dos motivos do atraso ¢ da previsivel data da tomada de decisdo. (*') Mascarando o imobilismo e a timidez sob uma capa de reflec- tida prudéncia, o Conselho declararia, em 1975, que «(...) l’har- monisation des structures des accises souléve de nombreux pro- blémes importants», pelo que entendia «(...) ne pas étre en mesure d’indiquer 4 quel moment il lui sera possible de prendre une déci- sion en cette matiére». No ano seguinte — em 13 de Abril de 1976 — , interpelado de novo, o Conselho limitou-se a remeter para as consideracgdes antes feitas. (°”) Todavia o Parlamento Europeu, insatisfeito, pro- curou conhecer o ntimero de sessdes até A data — de Marco de 1972 a Agosto de 1976 — consagradas a questdo em debate, apu- tando, na sequéncia de um inquérito, que os peritos comunitd- tios haviam abordado quinze vezes a matéria e que o COREPER e o Conselho de Ministro apenas sobre ela se tinha debrugado uma Unica vez, cada um, em Dezembro de 1974 (°°). Tratava-se de uma conclusdo do mais alto significado e impor- tancia, em larga escala responsdvel pelo impasse e por dificulda- des suplementares suscitados ao redor da tributacdo do vinho, um e outras atempadamente assinaladas pelo Parlamento. (*)(*) () Cf., JOCE n.° C 208, de 11 de Setembro de 1975. () Cf., JOCE n.° C 178, de 2 de Agosto de 1976. (©) Aberto em 27 de Julho de 1976, 0 inquérito teve os resultados publicados em 15 de Novembro desse mesmo ano, (%) As «Accises» sobre o vinho haviam duplicado em Janeiro de 1976 no BENE- LUX, pelo que o PE interrogou a Comissio, 24 de Marco de 1976, sobre tal facto. Afir- mando deplorar que semelhante medida houvesse sido tomada, uma vez que frontalmente contréria a sua recomendaco de 1975 (cf., Recomendac&o n.° 76/2/CEE, de 5 de Dezem- bro de 1975, JOCE n.° L 2, de 7 de Janeiro de 1976), a Comissdo salientou entéo que nesta se procurara dirigir aos Estados membros um convite formal para diminuigio das respectivas «accises» sobre o vinho, medida perspectivada como remédio para ocorrer aos problemas experimentados pelo sector vitivinicola. (°) CE., Montagnier, Fiscalité, RTDE, 1977, n.° 3, p. 519: «Les discriminations fiscales a ’égard des alcools étrangers mises en oeuvre par plusieurs Etats, notamment 380 MARIA EDUARDA AZEVEDO De um modo geral, o problema das «accises» sobre o vinho foi amplamente debatido aquando da discusséo de uma quest4o verbal colocada pelo parlamentar Edgar Pisani e outros mem- bros do Parlamento Europeu no decurso da sessio de 13 de Janeiro de 1977. Feito, entéo, o ponto da situag4o, acentuou-se nao sé a lenta progressdo dos trabalhos, como também as disparidades encontradas na disciplina tributdria vitivinicola dos Nove (*). Na pratica, a problematica subjacente as «accises» sobre bebi- das alcodlicas comegou entiio a desdobrar-se em dois vectores: — 0 das bebidas de mesa: vinho e cerveja (*”); — o das aguardentes. Em matéria de vinho e cerveja, a Europa integrada com- porta claramente uma «Europa do vinho» e uma «Europa da cer- veja» (8), que, pesem embora as relagdes complementares man- tidas a nivel de habitos de consumo, se apresentam fortemente competitivas por razGes fiscais. par la France, ont été évoquées notamment par Mme. Ewing (cf., JOCE n.° C, du 10 juin 1976) et par M.Cousté (cf., JOCE n.° C , du 30 adut 1976), qui ont souligné la contradiction existant entre ces mesures et l'interprétation donnée par la Cour de Justice a Particle 37 du Traité CEE dans ses arréts 45-75, Rewe — Zentrale (cf., TCE, Rewe — ‘Zentrale des Lebensmittel — GroBhandels Gmbh c. Hauptzollamt Gottingen e Bundes- finanzminister c. Wolfgang Miritz Gmbtt& Co., Rec 1976-2). Dans ses réponses, la Com- mission a indiqué qu'elle avait engagé contre ces Etats la prooédure du recours en consta- tation du manquement des Etats (article 169 du Traité)». (*) Cf., PE, Doc. Séance n.° 211/197. (°) Devido a importiincia econdmica, aos niveis de consumo ¢ & natureza suceda- nea, vinho e cerveja vém atraindo a particular atenc&o dos Estados membros — em espe- cial, dos paises do Norte da Europa que praticam uma politica coordenada, protectora dos produtores de cerveja contra a invasio concorrencial do vinho importado. (*) A «Buropa da cerveja» — niio circunscrita ao territério das Comunidades Euro- peias — n&o é um complexo unitdrio ¢ homogéneo: a Austria, & revelia do acordo de cooperagio celebrado com as Comunidades, aumentou fortemente a tributac&o sobre as ‘cervejas importadas, tendo criado em Novembro de 1977 uma taxa compensatéria (cf., JOCE n.° C 107, de 8 de Maio de 1978), A POLITICA COMUNITARIA DE «ACCISES» 381 Cada uma tem-se esforgado por se proteger contra a «rival», tributando mais intensamente o produto concorrente em ordem a defender os interesses dos produtores nacionais. (°°) Manipulando o instrumento tributdrio, os Estados membros do Centro e Norte da Europa apresentavam em fins da década de 70 uma fiscalidade dissuasiva relativamente ao consumo de vinho, falseando assim largamente a concorréncia vinho-cer- veja. () Por tudo isto, afigurou-se desejavel que a harmonizacio des- tas «accises» ocorresse de forma simultanea e paralela. Contudo, a Comisséo, na comunicacao dirigida ao Con- selho em 8 de Agosto de 1977, mostrou perfilhar a tese da autonomia dos sectores ao dirigir um convite para «reprendre immédiatement l’examen des propositions concernant I’harmoni- sation des accises sur l’alcool et la bitre, en vue de leur adoption avant le 1% mai 1978». (°)Cf., Rapport Pisani, Doc. PE n.° 205/1978, p.15: «L'Italie défavorise la bidre au profit du vin (...): le Royame-Uni favorise, et trés fortement, la biére par rapport au vin; Je Danemark favorise la bidre par rapport au vin; la Belgique et les Pays-Bas favorisent eux aussi fortement la bitre par rapport au vin; I’Irlande se comporte comme Je Royaume-Uni, mais plus modérément; la France posséde une taxation a peu prés equi- valent pour le vin et pour la biére (...)» Estados membros como a RFA ¢ a Italia nfo faziam incidir «accises» sobre o vinho. ©) Cf., G.Montagnier, Fiscalité, RTDE, 1978, n.° 3, p. 531: Charge fiscale a litre d’accises et de TVA frappant, & la date du 1." octobre 1977, un vin de table produit des raisins frais et tirant 13.° G.L. Montant de Vaccise HL ‘En monnaic nationale 1 306FB 750DKR OFF 50.57L 382 MARIA EDUARDA AZEVEDO A dissociac4o de duas questées intrinsecamente conexas acar- retou para a Comissao as criticas dos mais diversos quadrantes da vida comunitdria, as quais aquela instituigdo procurou res- ponder buscando a legitimacao da posigdo assumida nao sé nas divergentes opinides expressas no seio do Conselho, obstaculo ao progresso de uma harmonizacdo fiscal imediata, mas também no objectivo ultimo do processo: o estabelecimento de «un systéme de taxation cohérent de I’ensemble des boissons alcoolisées». (°') Entrados no anos 80, a situac4o continuou a manter a mesma fisionomia, assistindo-se apenas ao agravamento das clivagens tri- butdrias entre as duas bebidas. (”)(°) Para alguns Estados membros o cerne da questo transferiu-se para a Politica Agricola Comum, visto que, face a sobretributa- ¢&o do vinho face a cerveja e 4 consequente barreira 4 entrada daquele nos territérios nacionais protegidos, a instabilidade ins- talada no mercado do primeiro esteve na origem do acréscimo de excedentes, apenas escoaveis por via de destilacdo. Por outro lado, certos intermedidrios passaram a mostrar tendéncia «melho- rando», expediente tendente a proporcionar-lhes uma certa com- pensac4o perante a carga fiscal suportada. (**) Em 22 de Junho de 1977, a nova comunica¢ca4o da Comissio ao Conselho pareceu traduzir o relancamento de um projecto em 0!) Cf., JOCE n.°° C 42, de 20 de Fevereiro de 1978, ¢ 150, de 26 de Junho de 1978. () Cf., Rapport Burke, (n.51), pp. 39 ¢ 47 © segs. (°°) Cf., G.Montagnier, (n.80), p. 746: «Elle (importance des écarts entre les deux boissons) a été chiffrée pour la période récente dans des réponses de la Communauté — de Ia Commission — a des questions écrites postes par M.Schyns, qui permet de cons- tater qu’au Royaume-Uni le rapport entre les deux accises est actuellement de 5 a 1 (cf., JOCE n.° C 246, du 1. octobre 1979), et par Mme. Ewing, dont la réponse présente a la fois le taux des accises et celui de la TVA (cf., JOCE n.° C 66, du 17 Mars 1980)» (*) Sem pretender fazer a apologia de medidas tendentes a obrigar os consumido- res comunitdrios a observar toda a produsdo vitivinicola do sul da Europa, importaré nlo descurar a necessidade de conceder oportunidade a tentativas sérias para estabeleci- mento de uma concorréncia sie normal entre vinho ¢ cerveja. Trata-se, alids, de uma questo cuja flagrante relevincia ressalta particularmente quando encarada na perspec- tiva do alargamento das Comunidades Europeias. A POL[TICA COMUNITARIA DE «ACCISES» 383 letargia. °°) Diploma de compromisso, o texto continha orienta- ¢6es dirigidas aos Estados membros que nao cobravam «accises» sobre o vinho (°°), convidando-os a manter inalterada a situacdo até a concluséo do desarmamento pautal fruto do primeiro alar- gamento entretanto ocorrido. A Comisséo avancou também uma solucéo que visava assegurar a neutralidade econémica das «accises» sobre o vinho e a cerveja (°”): por um lado, as taxas das «accises» nado poderiam, num mesmo Estado membro, ultrapassar a relacdo entre os niveis de alcoometria das duas bebidas (°°); por outro, aplicar-se-ia a mesma taxa de IVA quer ao vinho, quer a cerveja. O sistema sugerido reservava aos Estados membros uma certa dose de autonomia na condugao das respectivas politicas fiscais, sendo-lhe também reconhecidos poderes para, por razées de satide publica ou rentabilidade orgamental, agravarem a tributagao ou controlos suplementares. (°°) No que concerne as aguardentes — finalmente retomadas —, uma vez liminarmente postergado o estabelecimento de taxas dife- rentes para a producdo nacional e importada, a persisténcia de um sistema lacunar propiciava accdes em favor das producdes internas sem parecer transgredir ostensivamente o artigo 95 do Tratado CEE. Assim, aos Estados membros interessados bastou prever, no 4mbito do processo de fixagéo das taxas mais eleva- das, que elas se aplicariam indistintamente a uma mesma catego- ria de alcoois tanto nacionais, como estrangeiros, embora na pra- 2) Cf., Doc. COM. (79) 261 final; Bull. CE n.° 6/79. (°% Tratava-se da RFA, Itdlia e BENELUX. (’) Atente-se que a proposta da Comissdo veiculava a tinica disciplina que os Esta- dos membros pareciam em condigSes ¢ disposi¢ao de aceitar (Cf., JOCE n.° C137, de 9 de Junho de 1980) () © PE, em parecer emitido durante a sesso de Setembro de 1978, havia-se j4 pronunciado em favor do estabelecimento de um leque de tarifas maximas ¢ minimas para cada uma das bebidas (Cf., JOCE n.° C 251, de 23 de Outubro de 1978) (?) Idéntico processo de desarmamento fiscal deveria ser posto em marcha para © Alcool nao industrial. 384 MARIA EDUARDA AZEVEDO tica visassem antes «(...) condamner a cet ‘enfer’ fiscal les alcools qui, en fait sont produits dans les autres Etats (')('"'). Em termos teéricos, qualquer Estado membro estaria certa- mente interessado em anular a sobretributacdo incidente sobre a sua produg4o; na pratica, contudo, semelhante interesse nio encontraria paralelo num proporcional empenhamento ¢ em accdes decisivas, inibidos um ¢ outras pelo que significariam quanto a pér em causa o respectivo ordenamento juridico-tributario (2%), A iniciativa partiria da Comisséo que, tendo anunciado a intengdo de solicitar a intervencdéo do Tribunal, nem assim con- seguiu levar os Estados membros a realizar espontaneamente a ansiada reforma. Quanto ao Conselho, entendeu esta instituicdo, na reunido de 16 de Outubro de 1979, ser de aguardar pela deci- sio do Luxemburgo, encontrando ai pretexto para adiar a ana- lise e tomada de posic&o sobre o dossier «accises». No plano jurisprudencial, os acérddos proferidos em 27 de Fevereiro de 1980 pela Tribunal Europeu constituiram um valido contributo para a efectiva harmonizacdo das «accises» sobre bebi- das alcodlicas. Por detras de tais decisées estavam processos intentados pela Comissao contra a Franca ('°), Italia e Dinamarca — Processos (() Cf., G.Montagnier, (n.80), p. 747. (() Considere-se, v.g., a situapdo de quatro Estados membros: — Franca: as aguardentes de fruta so nitidamente menos tributadas que as de des- tilago cerealifera; — Itdita: a taxa sobre as aguardentes vinicas ¢ sensivelmente inferior 4 das aguar- dentes de cereais cana sacarina; — Irlanda: tributam-se mais gravosamente os alcoois estrangeiros, mediante a pre- visllo de diferentes prazos de pagamento das «accises» consoante se trate de bebidas nacionais ou importantes; — Dinamarca: « «accise» sobre 2 aguardente (akvavit) nacional ou importada é manifestamente inferior as «accises» sobre as aguardentes. Ora, ¢ muito duvi- dosa a existincia de «akvavit» nfio dinamarquesa. (%) Entre os operadores econémicos envolvidos, ¢ a categoria dos consumidores que sai francamente prejudicada pela auséncia de uma «Workable competition» entre 08 produtores comunitérios. @°) Na mesma altura, a Franca foi alvo de outra condenagfo relativa a discrimi- nacdes em matéria de publicidade de bebidas alcodlicas: cf., TCE, Proc. n.° 152/78, Commission des Communautés européennes c. République francais, Rec. 1980 — 6. Pp. 2299 € segs. A POLITICA COMUNITARIA DE «ACCISES» 385 n.°* 168/78, 169/78 e 171/78, respectivamente —, por um lado, e contra a Gra-Bretanha — Processo n.° 170/78 —, por outro ('*). Os primeiros haviam sido inspirados por discriminagées tri- butdrias praticadas por aqueles paises quanto as aguardentes importadas em beneficio das congéneres nacionais, em clara vio- lag&o da letra e do espirito do artigo 95 do Tratado CEE. Na circunst4ncia, o Tribunal, conquanto nao identificado com a tese da Comissaéo, considerou que os Estados membros haviam fal- tado ao cumprimento das suas obrigagdes, condenando-os, por isso, a reformar os respectivos ordenamentos juridicos-tributdrios € a assegurar a correspondente neutralidade. (195)(1%) Igualmente importante, o ultimo processo (!°’) pés em foco a disparidade de tratamento fiscal entre o vinho e a cerveja (mais gravosa para o primeiro), tendo entao o Tribunal adoptado uma (%) Cf., TCE, Proc.** n.°* 168/78, Commisson c. République francaise, 169/78, Commission c. République italienne, 170/78, Commission c. Royaume-uni, 171/78, Com- mission c. Royaume de Danemark, Rec. 1980. Sobre uma andlise detalhada desta jurisprudéncia: Cf., Dominique Berlin, Portée des dispositions fiscales du Traité de Rome et har- monisation des fiscalités indirectes, RTDE, 1980, n.° 4, pp. 635 € segs. ('%) Os Estados membros argumentaram que os produtos nacionais néo eram sucedaneos das aguardentes como defendia a Comisséo, excluindo assim a aplicacto do artigo 95 do Tratado CEE [quanto a interpretac&o do artigo 95 do Tratado CEE, cf., Dominique Berlin, (n. 28), pp. 46 ¢ segs]. © Tribunal, contrariando tal entendimento, pronunciou-se pela necessidade de obser- vancia daquela norma: «(...) soit s'il s'agissait de produits similaires au sens du premier alinéa de article 95; soit, s'il n’y avait pas rapport de similitude, il existait & tout le moins un rapport de concurrence, fat-ce partielle ou potentielle, de nature & tomber sous Je coup de son deuxitme alinéa». (%) J4 antes, na sequéncia de uma questdo prejudicial, o Tribunal havia assu- mido uma posi¢éo consonante com esta (cf., TCE, Proc n.° 68/79, Hans Just 1/S ¢. Ministére danois des impéts et accises, Rec. 1980-2, pp. 501 ¢ segs.): «Si le traité n’exclut pas, dans son principe, une différenciation d'imposition entre divers produits alcooli- ques, une telle différenciation ne saurait étre utilisée A des fins de discrimination fiscale ou de manitre & protéger, fit-ce indirectement, une production national. Un systéme fis- cal consistant & assurer un avantage fiscal A un seul produit, représentatif de la plus grande partie de la production nationale, a l’exclusion de tous autres produits importés, similai- Tes ou concurrentes, est incompatible avec le droit communautaire. (() Contemporaneo ¢ de igual relevancia, o Proc. n.° 55/79 — cf., Commission ¢. République d’Irlande, Rec. 1980 — , conquanto suscitado por discriminagées relativa- 386 MARIA EDUARDA AZEVEDO posi¢do prudente ao remeter 4 Comiss4o e ao Reino Unido, em conjunto, a tarefa de retomarem a questdo litigiosa e de lhe apre- sentarem um relatério até finais do ano de 1980 (!%). S6 em 19 de Abril de 1985 a problematica das «accises» sobre bebidas alcodlicas voltou 4 ordem-do-dia, ent&éo sob a forma de duas propostas de directiva apresentadas pela Comissdo ao Con- selho de Ministros: — uma, respeitante aos impostos indirectos sobre bebidas alcodlicas; (') — outras, relativa A harmonizagdo das «accises» sobre os vinhos e produtos similares. (''%) A primeira procurou responder a trés objectivos fundamen- tais: —— integrar as lacunas resultantes da impossibilidade de adop- ¢do imediata da directiva de harmonizago das «accises» sobre o vinho; — extrair todas as consequéncias do acérdao do Tribunal proferido no Proc. n.°. 170/78; — completar a disciplina das «accises» mediante o apelo as regras do IVA, sob pena de comprometer os objectos de neutralidade fiscal e de equivaléncia das condicdes de con- corréncia entre as diferentes bebidas alcodlicas, metas, afi- mente a bebidas estrangeiras, nuio mereceu a nossa atencSo, visto que a fonte daquelas no tinha natureza fiscal. () Proviséria, a sentenca do Tribunal Europeu teve grande alcance: «(...) la Cour déclare que, pour établir que la charge fiscale supérieure du vin exerce un effet protecteur au profit de la biére, il conviendrait de déterminer ’un rapport de taxation adéquat entre Jes deux produits’ et que, *parmi les critéres mis en avant par les deux parties, le seul indice pouvant permettre une comparaison adéquate tant soi peu objective consiste, des lors, dans l'appréciation de l'incidence de la charge fiscale par rapport au degré alcooli- que des boissons en cause’, et I’on reconnaft la le critére du degré alcoolique par volume, avancé par la Commission. Si deux boissons sont, par exemple, dans un rapport de degré alcoolique par décimétre cubique de une a trois, le ‘rapport de taxation adéquat’ devrait tre du méme ordre» (cf., G.Montagnier, (n.80), p. 752}. tribunal seguiria, assim, na senda das sugestdes da Comissio constantes da Comu- nicaglo de 26 de Junho de 1979. €) Cf, Doc. COM. (85) 150 final, Bruxeias, de 19 de Abril de 1985. () Cf. Doc. COM. (85) 151 final, Bruxelas, de 19 de Abril de 1985. A POLITICA COMUNITARIA DE «ACCISES» 387 nal, das acgdes de harmonizacdo estrutural daqueles impostos. Com semelhante filosofia, esta proposta de directiva visou regulamentar apenas os chamados «vins tranquilles», ('!') impondo aos Estados membros a adopcdo de uma taxa unica fixada em fungao do volume, mas deixando-lhe plena liberdade em matéria de «vins mousseux». Por outro lado, consciente quer das vantagens da existéncia de estruturas comuns das «accises» sobre vinho e cerveja — existéncia viabilizadora do estabelecimento de regras ¢ relacdes harmonicas de tributag&o do consumo destas duas bebidas fer- mentadas —, quer da prépria utopia em querer concretizar tal projecto no curto prazo, a Comisséo avancou a inten¢ao de evi- tar, pelo menos, tributagées discriminatérias e assim contribuir para a reducdo dos processos de infracc4o e dos recursos juris- prudéncia. Todavia, o facto de a cerveja, ao contrario do vinho, ser produzida em todos os Estados membros, conduziria 4 enun- ciago de uma regra nao discriminatdria unilateral, consubstan- ciada na exclusiva proibigao de tributacdes excessivas do vinho nos paises membros nao produtores. Dai que, baseando-se nos crtitérios enunciados no referido acérdao, a proposta tenha defi- nido uma relacéo comunitdria entre as taxas incidentes sobre vinho e cerveja. ('7) Em obediéncia a terceira preocupacdo, admitiu-se também, numa fase transitéria, a aplicagéo de uma taxa uniforme de IVA qualquer que fosse a categoria visada de bebidas alcodlicas — bebidas fermentadas, intermedidrias e espirituosas —, pre- conizando-se para facilitar tal medida a aproximagao das legisla- des nacionais na matéria (""), De referir, por fim, 0 comando dirigido aos Estados mem- bros para adaptarem o respectivo ordenamento juridico a direc- tiva, dentro do «timing» pré-determinado: até 1 de Janeiro de (4) Cf., Doc. COM. (85)150 final, artigo 1. (?) Cf, ibidem, artigo 2. C) CE, ibidem, artigos 3 a 6. 388 MARIA EDUARDA AZEVEDO 1986 ('!*), O incumprimento constatado ndo sé compromete o sucesso do empreendimento, mesmo que se entenda o seu mero diferimento no tempo, como também frustra as expectativas nele colocadas. A segunda proposta de directiva centrou-se na harmoniza- g&o das «accises» sobre vinho a que foi junto Alcool, e produtos similares («produits intermédiaires»). Se a sua simples existéncia mostrou os reduzidos progressos feitos na matéria, ela ndo deixou de evidenciar também os bene- ficios retirados das multiplas discussdes no seio do Conselho, onde os Estados membros — apoiados pela Comisséo — se pronun- ciaram por uma accdo harmonizada apoiada em duas directivas distintas: uma, consagrada as bebidas espirituosas; outra, respei- tante ao vinho com mistura de 4lcool etilico. Basicamente, a proposta visou harmonizar as estruturas das «accises» identificadas, em ordem a permitir o estabelecimento de concorréncia nao falseando entre produtos similares adentro de um mesmo Estado membro ¢ entre produtores de varios par- ceiros. S6 num segundo momento a harmonizagéo assumiria cariz mais ambicioso, apontando entdo para o alinhamento das taxas praticadas a nivel nacional e para a respectiva harmonizacéo no plano comunitério. A primeira questéo de fundo abordada prendeu-se com os produtos abrangidos, os quais foram rigorosamente circunscri- tos a duas grandes categorias: por um lado, as bebidas alcodlicas de fermentagao natural; por outro lado, os produtos simila- res («produits intermédiaires»), em regra obtidos a partir daque- les. ('!5) Assim, constatou-se a expressa exclusdo das bebidas espi- rituosas, tributadas em funco do indice alcoométrico com a mesma taxa do dlcool. Cotejando as propostas de 1972 e 1985, ressaltou nitido o alargamento do elenco de produtos similares, por certo devido ao desejo de assegurar um maior equilibrio entre bebidas de cla- tas afinidades e cuja producdo reveste uma particular importan- cia para os paises que aderiram em 1973. (4) Cfr., ibidem artigo 7. (5) Cf, Doc. COM. (85) 151 final, artigo 1. A POLITICA COMUNITARIA DE «ACCISES» 389 Em sintese, diremos que o critério atendivel respeitou 4 quan- tidade de alcool misturada na bebida fermentada: quanto maior for, mais esta ultima se tornard assimildvel a uma bebida espiri- tuosa. Dai, a definigdo capital dos volumes alcoométricos maximo e minimo permitidos — 22% e 15% —, pardmetros rigidos de classificagdo correspondentes aos valores vigentes nos Estados membros ('"6), No que concerne o estabelecimento da «accise», prop6s-se, a semelhanga da versdo de 1972, que os «produits intermédiai- Tes» ficassem sujeitos a um imposto especifico calculado em fun- ¢ao do volume respectivo; paralelamente, sugeria-se a sua tribu- tacdo em taxa reduzida por comparacdo com 0 alcool. Além disto, equacionaram-se também cendrios alternativos, competindo aos Estados membros optar pelo sistema de determinagdo da taxa jul- gada mais conforme com os seus interesses socio-econémicos, mas sempre sob compromisso de a estrutura escolhida valer para todos os produtos da mesma categoria. ('!”) Alicergada nestas linhas-de-forga, a proposta definiu ainda medidas especificas de natureza administrativa ligadas 4 execu- Go do sistema, ('!*) regime de isencdo (1!) e o recurso ao «Comité des Accises», em caso de necessdria regulamentacdo inerente. (!2°) 3.2.2. Tabacos manufacturados — cigarros A livre circulacéo de tabacos manufacturados no interior das Comunidades Europeias tem sido entravada tanto por regulamen- tagOes restritivas e falseadores da concorréncia — monopdlios nacionais com cardcter comercial (!7*) — , como pela presenca de regimes fiscais diferenciados de pais para pais. No plano fiscal, a tributagéo dos cigarros na Europa dos Seis revestia duas modalidades: a cobranga de «accise» por uni- “9 o (7) Cf., artigo 37 Tratado CEE. 390 MARIA EDUARDA AZEVEDO dade — imposto especifico — (RFA), e a percepcdo de imposto proporcional ao prego de venda — imposto «ad valorem» — (restantes Estados membros). Mais tarde, o primeiro alargamento confrontou a Europa dos Nove com um terceiro sistema baseado na incidéncia de uma «accise» calculada em funcdo do peso de tabaco utilizado (!74), A esta natureza complexa e multifacetada do problema acres- ceu ainda, de muito cedo, o facto de em todos os Estados mem- bros as «accises» sobre o tabaco constituirem uma fonte or¢a- mental de vulto, obstdculo suplementar responsdvel, com os demais, pela multiplicacdo de relatérios, comunicagdes e propos- tas e pela escassez de efectivas decis6es comunitdrias. A obra harmonizadora encetada sob a égide da Comissao iniciou-se com a Resolugdo de 21 de Abril de 1970 ('?), de acordo com a qual o modelo comunitario de tributagdes dos cigarros deve- ria consistir numa «accise» que combinasse um elemento especi- fico e um elemento proporcional (1%), relacionados a nivel comu- nitério. Tais principios encontraram eco na Directiva n.°. 72/464/CEE, de 19 de Dezembro (!”5), onde entre outras consi- deracdes se salientou: — a indispens4vel harmonizacdo estrutural das «accises», para garantia do nao falseamento da concorrréncia entre as categorias de tabacos manufacturados pertencentes a um Mesmo grupo e da abertura e interpenetracdo dos merca- dos nacionais; — aconveniéncia em proceder a uma harmonizagdo progres- siva, definindo etapas; — a vantagem em fixar um sistema de incidéncia degressiva do imposto sobre os cigarros, traduzido na combinacaéo ('®) Para o Reino Unido e Irlanda o comero da harmonizacio foi diferido para finais de 1977 — termo do respectivo transitério —, dada a particular dificuldade em se adaptarem a0 modelo comunitirio gizado. €) Cf., JOCE n.° C 32, de 28 de Abril de 1970. (™) © mesmo diploma previu ainda a abolic&o dos direitos exclusivos de impor- taco © comercializaclo por grosso até 1 de Janeiro de 1976. (4) Cf., JOCE n.° L 303, de 31 de Dezembro de 1972. A POLITICA COMUNITARIA DE «ACCISES» 391 de uma «accises» proporcional e de outra especifica com valores determinados segundo critérios comunitarios para cada Estado membro. (6) Da anilise do articulado retiravam-se regras flexiveis e gené- ricas informativas de todo o processo de harmonizacio — regras desde logo concretizadas para a primeira fase —, prevendo-se, no entanto, que o Conselho de Ministros elaborasse com a ante- cedéncia de um ano, relativamente & expiracio de perfodo ini- cial, uma directiva de execucao para as etapas subsequentes. (!77) Ainda no ambito dos principios gerais, a directiva imp6s aos Estados membros uma obrigacdo de «standstill» conducente 4 restrigéo do numero de figuras tributarias incidentes sobre os taba- cos manufacturados — «accise» harmonizada e IVA ('?8); defi- niu, numa primeira aproximagdo, 0 conceito de tabacos manu- facturados (79); e enunciou regras respeitantes ao processo administrativo-tributario (1°). Em sede das normas particulares aplicaveis no decurso da primeira fase, € de destacar a solucdo proviséria consagrada quanto a articulagado dos elementos especificos e proporcional, tendo-se entao disposto que 0 montante em causa se circunscreveria a um minimo de 5% e um maximo de 75% do cimulo das duas «acci- ses» (31), Meramente indicativa, tal decisdo constitufa um esforco pioneiro para delimitagao e redugdo das flutuacées verificadas nos Estados membros. Independentemente de outras criticas, a implementacdo da directiva de 1972 suscitava varios problemas: a classificag4o deta- lhada e rigorosa dos tabacos manufacturados, enquanto condi- go de exequibilidade daquele diploma, e o dificil cumprimento do calendério fixado. Quanto a primeira questao, esteve ela no centro da proposta de directiva apresentada pela Comissio em 1977 ("3") e que o (9 Cf., ibidem, considerandos 5.°, 6.° € 7.°. () Cf., ibidem, artigo 1. (7) Cf., ibidem, artigo 2. CF, ibidem, artigo 3. ., ibidem, artigo 4 a 6. Cf., ibidem, artigo 8. @)_ Cf, JOCE n.° 72, de 7 de Junho de 1976. 32 MARIA EDUARDA AZEVEDO Conselho, por falta de consenso e no obstante as pressdes do Comité Econémico e Social e do Parlamento Europeu, hesitou em aprovar (13). Surgida, finalmente, em 1979 ('%), a definicao pormenori- zada dos varios tipos de tabaco manufacturado obedeceu a um duplo critério: caracteristicas préprias e uso. Ainda que prevendo derrogacées transitorias, esta classificagdo permitia dar cabal exe- cucdo ao artigo 3, n.° 2 da directiva de 1972 e, assim, garantir as condigdes propicias de passagem 4 etapa seguinte. O tempo entretanto despendido com as discussdes serviu a Comissdo para aperfeicoar as propostas de modificagao relativas & interpenetragao dos mercados visados, estudo sujeito ao Con- selho em Fevereiro de 1976 ('3°). Na nova Comunicag4o, aquela instrumentacdo interrogava- -se sobre os progressos possiveis na harmoniza¢4o das «accises» mediante a reducdo da diferenca entre os elementos especifico e proporcional, (%) tarefa que remetia para a segunda etapa. Quanto a fase final, nado obstante um anterior convite do Parla- mento Europeu, a Comissao considerou prematura a apresenta- g&o de sugestdes. Sobre esta proposta de directiva — comummente designada por «Proposta da Quinta Directiva» —, o Comité Econdémico e Social emitiu um parecer relativo ao conjunto de problemas fis- cais suscitados pela aproximagao mitigada, sectorial e ndo muito arrojada das legislagdes nacionais. ('*”) (33) Hesitagdes devidas as intimeras particularidades, sensiveis em cada Estado membro, responséiveis pela dificuldade em estabelecer uma classificagdo unitéria unani- memente aceite. (™) Cf, Directiva n.° 79/32/CEE, JOCE n.° 10, de 16 de janeiro de 1979. ()_ Cf., Doc. COM. (76) 22 final, de 4 de Fevereiro de 1976; Rapport Artzinger, Doc. n.° 128/76, de 9 de Junho de 1976. (Na redaceiio original, o elemento especifico da «accises era calculado em funcio do total dos dois elementos: especifico e proporcional. Mas, como a base de incidéncia da «accise» proporcional compreende 0 IVA calculado «ad valorem» a uma taxa variével de pais para pais, pareceu desejavel que a fracclo da accise especifica fosse calculada ndo $6 em relag&o ao total das duas «accises», mas também a esse total aumento do IVA correspondente. (37) Relevantes, nio s6 0 préprio parecer — cf., Doc. CES n.° 691/76 ¢ JUCE n.° C 204, de 30 de Agosto de 1976 — , mas também o Rapport 0’ Ceallaigh — cf., Doc, CES n.° 417/76 final CH/AW/CS. A POLITICA COMUNITARIA DE «ACCISES» 393 Em sintese — vistos ¢ ponderados todos os elementos — , o Comité Econémico Social sublinhava a importfncia de trés pontos: — a oportunidade de consentir calendarios especificos para © Reino-Unido e Irlanda, a fim de «éviter une grande et grave désorganisation dans ces Etats membres»; — 0 interesse econdémico ligado a que a Comisséo formu- lasse, «aussi rapidement que possible au cours de la deu- xitme étape d’harmonisation», propostas sobre a estru- tura ultima da tributacdo (1%*); — a necessidade de atender concomitantemente aos restan- tes obstdculos ao funcionamento de um mercado unico de tabacos manufacturados, cujo reflexo em termos de custos globais se mostrava por igual preocupante. ('3%) A adopgdo da Quinta Directiva pés uma vez mais em foco a segunda questao inerente a directiva de 1972: o dificil — leia- -se, impossivel — cumprimento do calendario ajustado. Varias dilagSes entretanto ocorridas ('*°) haviam ja trans- ferido o termo da primeira etapa para 31 de Dezembro de 1977. ('*1) A data, «quase» em vésperas de mais uma progra- (5) Cf., Doc. CES n.° 691/76 (n.137): «A ce sujet, le Comité souligne l’impor- tance d’un fait dont il n’a pas, semble-t-il, éé suffisamment tenu compte jusqu’ici: les conditions de concurrence engendrées par le systéme d’imposition sont ainsi dérterminées par les taux d'imposition proportionnelle sur les prix de vente au détail, et non par la relation entre les taux d’incidence de imposition spécifique et de imposition propor- tionnelle! Le simple établissement d’une relation fixe entre les deux éléments, seuls envi- ‘sagés jusqu’ici, "il serait encore insuffisant pour assurer la création de ces conditions uni- formes de concurrence souhaitées par la Communauté’». (9) Cf, ibidem: «ll s'agit 1a, notamment, de I’accts & des sources sub-ventionnées de capitaux, actuelles ou potencielles! La principale de ces sources ’actuelles’, dans les Etats oit la fabrication des cigarettes n’est pas un monopole d’Etat, est l’apport indirect de moyens financiers représenté par les crédits d’impdts de longue durée consentis par les fiscs nationaux pour le paiement de l’accises sur les tabacs et qui sont d’importance tres inégale, puisque nuls au royaume-Uni et jusqu’é 105 jours au Pays-Bas». () Cf., Directiva n.° 74/318/CEE, JOCE n.° L 180, de 3 de Julho de 1974; © 75/786/CBE, JOCE n.° L 330, de 24 de Dezembro de 1975. () Cf, Doc. COM. (76) 330 final; Directiva n.° 76/911/CEE, JOCE n.° L 354, de 24 de Dezembro de 1976.

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