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Todos somos migrantes

Filomena Barata

Pequena cabeça em terracota com os atributos da deusa Ísis: sobre a cabeça ergue-se o disco solar, ladeado por cornos de vaca em forma de lira,
mantendo o conjunto uma traça claramente egiptizante. O toucado propriamente dito, é composto por um nimbo de folhas de hera ou de
palmetas. Esta cabeça pertenceria, sem dúvida, a uma estatueta de corpo inteiro, produzida pela técnica de acopular e de soldar entre si, as
respectivas metades anterior e posterior, prévia e independentemente moldadas, resultando oco o interior da figura.
MNA Nº Inv. 15001. Séculos II – III. Milreu. Estói. Fotografia: José Pessoa . ADF/DGPC
Do Ocidente ao Oriente
Desde meados do século II a.C., Roma
começou a expandir-se em direcção
ao Oriente, onde as grandes
monarquías helenísticas herdeiras de
Alejandro Magno se repartiam por
diversos territórios que haviam
formado parte do seu enorme
império. Depois de derrotar o
Império Selêucida, a partir das
Guerras Mitridáticas (88 – 64 a.C.),
Roma tem à sua disposição quase
todo o Mediterrâneo oriental à
excepção do reino helenístico
egípcio, que cairá sob Octávio, a
partir do ano de 30 a.C.
Império Romano – Século III

Mapa a partir de:


https://pt.wikipedia.org/wiki/Imp%C3%A9rio_Romano#/media/Ficheiro:Roman_Empire_Trajan_117
AD.png
Do Império e suas gentes

Esta Pedra de Anel é o vestígio mais antigo da


presença judaica no território actualmente
português e está exposta na exposição
temporária do Museu Cidade de Ammaia.
A imagem representa:
Ao centro, assente numa base de três pés, um
candelabro de sete braços (menorah), cada um
deles sobreposto por uma vela acesa com a
chama inclinada para o centro. A ladeá-lo, à
direita, uma palma (lulav) e, à esquerda, um
chifre de carneiro (shofar) e um limão (ethrog)
com um pequeno caule e duas folhas"
in Graça Cravinho, Catálogo Exposição Ad
Aeternitatem, 2015.
Séculos II - III d.C.
Dos caminhos longos
“Está presente e recorda-te da
hospitalidade. Ama os campos de
Juno com a tua direita, ou então
chama o róseo Titã com o rito do
povo Aqueménida; ou assiste ao
frugífero Osíris, ou então ainda,
sob as escarpas da rocha persa,
segue Mitra, aquele que torce os
indignados chifres”.
Estácio (ca. 45 Nápoles - ca. 96
Tebaida 717-720
As Religiões Mistéricas
• A expressão “religiões de mistérios” refere-
se, normalmente, ao culto de Ísis, Mater
Magna, Mitra, de Dioniso/Baco, e,
igualmente, aos cultos de Elêusis,
representantes dos “mistérios”
propriamente ditos. Pressupõe-se que as
religiões mistéricas tinham uma
espiritualidade mais elevada,
transcendendo assim a religião oficial,
sendo consideradas religiões de salvação
• As divindades de origem oriental que o
panteão greco-romano acolheu e cujo culto
expandiu, a exemplo de Ísis, deusa da
mitologia egípcia (Auset) são um exemplo
disso.
Representação de um Templo de Ísis em Pompeios
Os Mistérios de Elêusis
Estes mitos e mistérios foram adoptados pelo Império Romano. Os ritos e
crenças eram guardados em segredo, só transmitidos a novos iniciados, ou
neófitos.
Deméter e sua filha, Perséfone, (Ceres e Prosérpina para os romanos), presidiam
aos pequenos e aos grandes mistérios.
São estas palavras de Apuleio: «Na Grécia fiz parte de iniciações na maior parte
dos cultos mistéricos. Conservei ainda, com grande carinho, certos símbolos e
recordações destes cultos, que me foram entregues por sacerdotes. Não estou
dizendo nada insólito, nem desconhecido». (APULEIO, Apologia, LV, 8).
Na Apologia (LX, 9), Apuleio assume-se iniciado nos mistérios de Liber, uma das
denominações utilizadas pelos romanos para o deus Baco e, no No Livro XI das
Metamorfoses, o autor faz uma pormenorizada descrição de um ritual de
iniciação aos mistérios de Ísis, admitindo-se que conhecia esse o culto.
No entanto, Apuleio não nos dá a conhecer nada relativamente a Mitra.
As Religiões Mistéricas
• É através de Lucius Apuleius (Apuleio), nascido na colónia de
Madaura, (actual Argélia) cerca de 125 d.C., descendente de
uma abastada e influente família de Itália, que viveu em
Cartago e em Atenas, que conhece muitos dos “Cultos
Mistéricos” da Antiguidade Greco-Latina.
• Em Cartago, Apuleio interessa-se pelos ritos esotéricos,
designadamente pelos mistérios de Esculápio e é, em Atenas,
que toma contacto com os mistérios eleusinos.
• O culto de Ísis, no qual o escritor Apuleio parece ter sido
iniciado, alcançou seu esplendor na época dos Imperadores
Antoninos e Severos, passando a integrar a ideologia
dominante, conhecendo-se, no século II d.C., entre seus
adeptos, magistrados, funcionários imperiais e outros
representantes do poder público. Ísis, de cujo culto Apuleio
era adepto, era a deusa da maternidade e da fecundidade e
considerada como exemplo da mãe e da esposa ideais,
Fotografia Gentilmente partilhada por protectora da natureza e da magia. Era ainda defensora dos
José Manuel Jerez Linde.
escravos, pescadores, artesãos e dos oprimidos em geral,
Representaçáo de Ísis com coroa lunar e disco solar. Proveniente de
Mérida.
tanto como lhe eram também devotadas as preces dos
Aquisicão do Museu Arqueológico de Madrid opulentos, das donzelas, aristocratas e governantes.
As Religiões Mistéricas
• São conhecidos também, no contexto da Ocupação
Romana, vários casos que atestam o culto a Serápis, essa
divindade a cujos mistérios se acedia através de rituais.
Era considerado um dos variados "cultos mistéricos" que
o Ocidente importou do Oriente.
• Serápis (Sarapis, Zaparrus) foi um «composto» de várias
divindades de origem egípcia do período ptolomaico e
helenístico, introduzido em Alexandria, por volta do
século IV a.C., reunindo tradições religiosas egípcias e
helénicas. Do lado egípcio, a divindade identificava-se
com Osíris, o marido de Ísis que era cultuado como o
deus do sol, fonte de energia, da vida e da fecundidade,
além do que era também considerado como deus do
Nilo, que anualmente visitava sua esposa, Ísis (a Terra),
por meio de uma inundação; do lado grego aproximava-
se de Dioniso e dos seus mistérios. Ambos, nas diferentes
civilizações, presidiam à vegetação e dominavam o
mundo subterrâneo. O seu culto, geralmente associado
ao de Ísis, acabou por disseminar-se pelo mundo Greco-
Romano.
Serápis
• Serápis é representado com o aspecto de um homem
de
idade adulta e semblante de aspecto grave, usando
barba e longos cabelos. O seu atributo é a corbelha
sagrada dos mistérios, símbolo da abundância,
juntamente com a serpente de Asclépio ou Esculápio,
uma vez que ele tinha, igualmente, poderes de deus
curandeiro.
• A sua devoção manteve-se durante o período
romano.
• Com o triunfo do Cristianismo, os seguidores de
Serápis passaram a ser perseguidos e seus locais de culto
destruídos.
• No reinado do imperador Teodósio, em 391, o grande
Templo de Serápis, em Alexandria, foi arrasado por
ordem do bispo Teófilo, perdendo-se não só o templo
1 - Busto de Serápis exposto na "Sala Rotonda" do Museo
como a Grande Biblioteca de Alexandria "Filha" (a Pio-Clementino, Vaticano. Trata-se de uma cópia romana
do século I d.C. em mármore, de um original greco
Biblioteca "Mãe" foi queimada por Júlio César, por (320/310 a.C. ) que se encontrava no Serapeu de
Alexandria.
acidente).
O Culto Mitraico e os Deuses Solares
Assim se referia Macróbio, autor latino nascido por volta de 370 d. C., na Numídia, em África, a propósito do culto de
Serápis:

«Na cidade na fronteira do Egito que se orgulha de Alexandre da Macedónia como seu fundador, Sarápis e Ísis são
adorados com uma reverência que é quase fanática. Prova de que o sol, sob o nome de Serápis, é o objecto de toda a
reverência».
Macróbio, Saturnalia (I.20.13).

Entre os cultos mistéricos de Ísis e Serápis o Santuário de Panóias um conjunto edificado em sua honra pode
considerar-se a maior manifestação da grandeza desses cultos.
As Religiões Mistéricas
• São estas as palavras de Apuleio:
«Na Grécia fiz parte de iniciações na
maior parte dos cultos mistéricos.
Conservei ainda, com grande
carinho, certos símbolos e
recordações destes cultos, que me
foram entregues por sacerdotes.
Não estou dizendo nada insólito,
nem desconhecido». (APULEIO,
Apologia, LV)
• «Pois bem, eu também, como já
disse, conheci, por meu amor à
verdade e minha piedade aos
deuses, cultos de toda classe, ritos
numerosos e cerimônias variadas. E
não estou inventando esta
explicação para acomodar-me às
circunstâncias [...] ». (APULEIO,
Apologia, LV, 9-10).
Lucerna com representação de Serápis
Museu Britânico.
O longo caminho de Baco

Relevo em mármore com representação de uma ménade e dois sátiros. O Tiaso de Baco .
C. 100 d. C. Villa Quintiliana . Roma

«Até aqui tratei o cultivo dos campos e os astros do céu.


Agora, Baco, cantar-te-ei, e contigo as árvores silvestres
e os frutos da oliveira que crescem vagarosamente.
Vem até aqui, ó Leneu, meu pai!
Aqui está tudo cheio das tuas oferendas. Para ti, carregado das outonais parras,
floresce o campo, espuma a vindima em talhas cheias.
Vem até aqui, ó Leneu, meu pai! E, tirando os coturnos,
tinge comigo as pernas nuas com o novo mosto».
Vergílio, Geórgicas, (Int. Tr. e notas: Gabriel A. F. Silva), Livros Cotovia. 2019.

A DIFUSÃO DO VINHO E O MITO: uma longa caminhada

As mais antigas sementes de uvas cultivadas foram descobertas na Georgia (Rússia) e datam de7000 -
5000 a.C. (datadas por marcação de carbono). Foi encontrada no Irão (Pérsia) uma ânfora de 3.500 anos
contendo no seu interior uma mancha residual de vinho.

1 – Mapa histórico da Vinicultura


A partir de: http://www.vinetowinecircle.com/historia/inicio-cultivo/
2 - Vinho na Grécia Antiga.
3 - Expansão da vini e viticultura na Europa até o século I.
Fotografia a partir de: https://mundosommelier.wordpress.com/2011/09/11/denominacao-de-origem-parte-2/
O VINHO NA SUMÉRIA
O primeiro registo escrito que refere a utilização do
vinho para fins medicinais é uma tábua de argila de
escrita cuneiforme encontrada em escavações na
antiga cidade Suméria de Nippur (Babilónia), datado
de 2100 a.C.
Com base no Código de Hamurabi, os habitantes
desta região eram verdadeiros apreciadores de vinho,
estando até regulamentada punição para práticas de
fraude.
Siduri é a deusa babilónica da cerveja e do vinho, da
folia e também da sabedoria, referida na versão
babilónica da Epopeia de Gilgamesh (1.800 a.C.)
Fotografia a partir de: http://docplayer.com.br/16728496- como "a Refrescante" ou "a menina cujas bebidas
A-medicina-na-mesopotamia-antiga-1a-parte.html
refrescam a alma".
O VINHO E AS DIVINDADES
• Foram os Fenícios que mais
contribuíram para a difusão da
plantação da vinha e que o exportaram
em ampla escala, na região do
Mediterrâneo.
• Arqueólogos encontraram no sítio
fenício de Tell el-Burak, no Líbano, uma
prensa usada numa "fábrica" da
bebida que funcionou durante a Idade
do Ferro. Estima-se que as ruínas
tenham cerca de 2600 anos.
• Sabe-se que o Egipto comprava vinho
aos fenícios no século VIII a. C, estando
esse comércio atestado através de
naufrágios de navios.

2 - Imagem: Tell el-Burak Archaeological Project/O.


Bruderer/Divulgação
3 – Vaso e ânforas usadas no transporte de vinho
O VINHO E OS SEUS PERCURSOS
Já citado nas Sagradas Escrituras, conhecido entre
Egípcios e Mesopotâmicos, o vinho terá chegado ao
sul da Itália através dos gregos, cerca de 800 a.C.

“E começou Noé a ser lavrador da terra e plantou


uma vinha.
E bebeu do vinho e embebedou-se; e descobriu-se
no meio de sua tenda”.
Génesis, Capítulo 9

O primeiro manuscrito conhecido sobre do uso de


plantas para fins medicinais é o Papiro de Ebers,
que data da primeira metade do século XVI (a.C.),
decifrado em 1873 por George Ebers.
São conhecidas representações do cultivo e
celebração em torno da bebida, datadas entre 1000
e 3000 a.C.
1 - Vindima e colheita do vinho, segundo uma pintura tumular egípcia do túmulo de Nakt, da
Sabe-se que no Egipto havia festivais com um vinho XVIII dinastia, cerca de 1400 a.C.
preservado pelos sacerdotes e de uso exclusivo de
Faraó.
OS DEUSES E O VINHO – O EGIPTO
• Os egípcios consideravam o vinho como o suor de Ré,
deus do sol. O seu culto foi muito intenso no Egipto,
sendo um culto oficial por cerca de vinte séculos. Ré foi
especialmente querido pelos faraós.
• É um deus primordial, criador do mundo, dos deuses, da
humanidade e da ordem divina, sendo pai de Osíris,
Seth, Ísis e Néftis e outros.
• Uma das primeiras divindades a ter o seu nome ligado
ao vinho foi Osíris, deus da agricultura e também da vida
após a morte. Terá sido o primeiro a cultivar a vinha e
pisar os grãos para obter vinho.
• O vinho era ainda considerado as lágrimas de
Hórus, deus da luz, do poder e da realeza, filho de Ísis
(deusa da maternidade e fertilidade) e de Osíris.
• Outra divindade ligada ao vinho foi Hathor, deusa do
amor, beleza, música, fertilidade, alegria, e também da
embriaguez. Esposa de Hórus, acreditava-se que os seus 1 – Ré , o deus solar.
2 – Hathor usando a Pshent, ou Coroa dupla do Alto e Baixo Egipto. Templo de Hórus,
olhos tinham surgido de dois grãos de uva. Por ser uma Edfu.
deusa violenta, nos rituais que lhe eram dedicados, 3 – Osíris. Museu do Cairo.
https://www.descobriregipto.com/estatua-de-osiris
oferecia-se vinho para a aplacar. 4 - Conjunto em cobre representando a deusa Ísis amamentando seu filho Hórus
ladeado por Mut e Néftis. Três serpentes (uraeus), à frente, protegem o casal.
AS DIVINDADES EGÍPCIAS E O VINHO
• Osíris, filho de Geb, deus da terra, e de Nut, deusa do céu
e mãe dos deuses, era o deus da agricultura e da vida
após a morte. Foi o primeiro a cultivar a vinha para obter
vinho. O seu mito acabou por ficar muito relacionado
com o de Dioniso.
• Osíris tinha três irmãos: Set, deus da guerra, da violência
e do caos; Néftis, deusa do morte; e Ísis, deusa do amor,
da natureza, da fertilidade e da magia.
• Set casou-se com a sua irmã Néftis, e Osíris com Ísis.
• Osíris governou o império antigo, sendo considerado o
criador da civilização. O irmão governava o deserto e
acabaram rivais. Set matou Osíris e atirou-o ao Nilo.
• Ísis desesperada vai em busca do corpo do marido, para o
enterrar com dignidade.
• Com receio que sua irmã encontrasse o corpo, Set
dividiu-o em 14 pedaços e distribuiu as partes do cadáver
de Osíris pelo Egito.
• Com a ajuda de sua irmã Néftis, a deusa Ísis desenterrou 1 - Imagem de Hórus, o deus com cabeça de falcão, na fachada do templo
de Edfu.
todos os pedaços e mumificou o seu corpo.
AFINAL QUEM ERA DIONISO/BACO?
• Dioniso confunde-se com vários outros deuses
de várias civilizações, cujos cultos teriam origem há
9.000 anos. Originalmente era apenas o deus da
vegetação e da fertilidade e gradualmente foi-se
tornando o deus do vinho, como Baco, deus
originário da Lídia.
• Existem muitas variantes do mito e a mitologia
grega em torno de Dioniso é rica e controversa.
Citemos as palavras de Marco Túlio Cícero (106 a.C.
- 43 a.C.), na sua obra Da Natureza dos Deuses:
«Temos muitos Dionisos: o primeiro é filho de
Júpiter e Prosérpina; o segundo do Nilo, de quem
se diz ter matado Nisa; o terceiro tem como pai
Cabiro, que dizem ter sido o rei da Ásia, e por ele
foram instituídas as Sabázias. O quarto é filho de
Júpiter e da Lua, e pensa-se que os mistérios
órficos foram criados por ele.
Baco (Dioniso grego) com a personificação do vinho, Estátua romana
O quinto é filho de Niso e de Tione, e foi ele que em mármore, possivelmente cópia a partir de um original helenístico.
Século II d.C. British Museum, Londres.
criou as Trietérides».
O DEUS DO VINHO: Zagreu, o Primeiro Dioniso
• Uma das lendas sobre o deus grego do vinho dá conta
que o seu nome original seria Zagreu, filho de Zeus que,
sob a forma de serpente, violou Perséfone, a senhora do
submundo onde reinava Hades. Outras narrativas referem-
no como filho de Hades.
• Zagreu era a criança eleita por Zeus para o substituir no
governo do Olimpo. Teve, contudo, outro destino.
• Para proteger o filho dos ciúmes de Hera, Zeus confiou-
a aos cuidados de Apolo e dos Curetes, deuses das
montanhas, que o esconderam nas florestas do monte
Parnaso.
• Hera descobriu o esconderijo e encarregou os Titãs de
raptá-lo e matá-lo. Disfarçados, os Titãs atraíram o
pequeno Zagreu com brinquedos: ossinhos, pião,
crepundia (chocalhos, argolas), amuletos e um espelho.
• Depois os enviados de Hera desfizeram-no em pedaços,
cozinharam as carnes num caldeirão e devoraram-no.
• Zeus fulminou os Titãs e das suas cinzas nasceram os
Fresco do século I d. C. Pompeios. Museu Arqueológico Nacional de Nápoles
homens, explicando-se assim as suas duas facetas: o mal, Baco veste-se como um cacho de uvas, tem o seu tirso ritual e está
vindo dos Titãs, e o bem, vindo do Zagreu devorado. acompanhado por uma pantera. Usa uma cora de louros. Ao fundo está o
Vesúvio
A ORIGEM DO VINHO
Segundo outra versão, terá sido Atena (ou
Deméter noutra lenda) a salvar o coração de
Zegreu que ainda palpitava e, engolindo-o, a
princesa tebana Sémele engravidou do
segundo Dioniso.
• Diz uma das lendas que Zegreu encontrou
uma planta que achou bonita e frágil,
portanto, decidiu guardá-la dentro de um
osso de pássaro para protegê-la. Tendo a
planta crescido, decidiu transplantá-la para
um osso de leão, mas como já não cabia,
colocou-a dentro de um osso de burro.
• Depois saboreou os frutos e guardou
alguns para comer pouco a pouco.
Fermentados teriam originado o vinho. Há
quem considere que a sucessão de
“recipientes” usados representa as
diferentes fases do consumo do vinho. Ou
seja, primeiramente, sente-se a alegria,
como é alegre o voo das aves. Depois, a
bebida dá-nos força e coragem, como um 1 - Fragmento arquitectónico de mármore branco, representando um cacho
leão. Por fim, leva-nos ao comportamento de uvas com nove bagos em relevo. Santa Vitória do Ameixial. MNA
2 - Fragmento de bordo de prato de Terra Sigillata africana clara C. Forma do
banal, como dos burros. tipo Hayes 52b, variante 3b. Decoração em relevo, aplicada, de um cesto
com cacho de uvas. Proveniente de Tróia.
• Aceita-se ainda numa outra das versões que o coração de
Zagreu tenha sido reduzido a pó que foi dado a beber a
Sémele, que assim ficou grávida.
• O filho de Zeus e de Sémele viria a ser o famoso Dioniso, deus
do vinho e da vinha, que, na verdade, era uma reencarnação
do falecido Zagreu, conhecido entre alguns autores como o
"primeiro Dioniso“. Por isso, ele é chamado “duas vezes
nascido” ou “o de duplo nascimento” (dio-nisio).
• Hera, ao ter conhecimento das relações amorosas de Sémele
com o seu esposo Zeus, resolveu eliminá-la.
• Disfarçando-se de ama da princesa tebana, aconselhou-a pedir
ao amante que se apresentasse em todo o seu esplendor.
• O deus advertiu Sémele que semelhante pedido lhe seria
funesto, uma vez que uma mortal não suportaria a epifania de
um deus imortal. Mas, como havia jurado pelas águas do rio
Estige jamais contrariar-lhe os desejos, Zeus apresentou-se
com seus raios e trovões e ela morreu fulminada, salvando-se
apenas o seu filho.
• O feto do futuro Dioniso, foi salvo por Zeus que o recolheu do
ventre de Sémele e o colocou na sua coxa, até que se
1 - Zeus e Sémele. Peter Paul Rubens. 1636.
completasse a gestação normal.
https://www.pinterest.pt/pin/557390891361759587/
2 – Nascimento de Dioniso
Fresco de Pompeios. Museo Nazionale Archeologico. Nápoles
O LONGO CAMINHO DE DIONISO/BACO
Mas o longo caminho de Baco não termina por aqui.
Temendo novo estratagema de Hera, mal nasceu o
filho de Zeus, Hermes recolheu-o e levou-o às
escondidas para a corte de Átamas, rei beócio, casado
com a irmã de Sémele, Ino, a quem o menino foi
entregue. Irritada, Hera enlouqueceu o casal que
matou os seus filhos.
Zeus transformou o filho num menino (ou em bode,
segundo algumas narrativas) e ordenou que Hermes o
levasse para o monte Nisa, onde foi confiado aos
cuidados das Ninfas e dos Sátiros, que lá habitavam
numa gruta profunda.
Ainda assim a saga não termina e, enciumada, a
deusa Hera transforma Baco já adulto num louco a
vaguear pelo mundo.
Ao passar pela Frígia, foi curado e instruído nos rituais
religiosos pela deusa Cibele. Na Frígia, conheceu
Cíbele, deusa da natureza e abundância, que o curou
e o iniciou em seus ritos religiosos.
Assim, Baco começou a juntar discípulos por onde
Fresco representando uma ninfa com Dioniso menino. andava, ensinou-os a cultura da vinha e os seus
Villa de Farnes, Roma. mistérios por toda a Ásia.
Fotografia a partir
de: https://www.pinterest.pt/pin/442056519669571377/
O DEUS ETRUSCO FUFLUNS

• Fufluns ou Puphluns é o deus da vida


vegetal, da felicidade, do vinho, da
saúde e do crescimento de todas as
coisas na Mitologia Etrusca.
• Teria sido filho de Semla, a versão
etrusca de Sémele, mãe de Dioniso.
Assim como suas versões posteriores,
este deus já era representado com uma
taça na mão e um tirso (bastão
envolvido em hera e ramos de videira),
caraterização típica das divindades
ligadas ao vinho. Fufluns chegou a ser
cultuado pelos romanos, mas logo foi
substituído por outras divindades.
• Fufluns é geralmente descrito como
um jovem sem barba, mas, por vezes,
surge como um homem mais velho e Espelho etrusco com representação de 'Fufluns', com Eros e Sileno, 250-150 a. C.)
https://forestdoor.wordpress.com/.../dionysos-at-the.../
barbudo. Estátua de Fufluns
Fotografia a partir de: http://www.egyptsearch.com/forums/ultimatebb.cgi?ubb=print_topic;f=15;t=011701
Os Mistérios Dionisíacos
• Os ritos ligados a Dionisio ficaram
conhecidos como os Mistérios Dionisíacos.
Sabe-se que os cultos primitivos assentavam
em rituais.
• Dioniso era festejado com procissões
ruidosas que acabaram por dar origem aos
ditirambos, odes musicais tocadas com
tambores, liras, flautas com coros. Durantes
os coros eram soltado os gritos de evoé, uma
saudação ou evocação de alegria ao deus.
• Das representações dionisíacas
constavam sátiros e ninfas carregando um
grande falos simbolizando a fertilidade, a
natureza e ao prazer.
• Os ritos religiosos dedicados a Dioniso
Implicavam normalmente agentes tóxicos, na
sua maior parte vinho, para induzir transes.
• Os ritos centravam-se num tema de morte-
renascimento. Acredita-se que eles entravam
em transe e usavam música rítmica nos 1 - Ânfora - Cerâmica Ática, atribuída a Andokides e Lysippides ca 520 - 510 a.C.
rituais. Museu do Louvre, Paris. Nº Inv. F204
https://www.theoi.com/Gallery/K12.12.html
2 – Krater figuras negras, atribuída a Python. ca. 360 – 350 a.C.
https://www.theoi.com/Gallery/T50.3.html?fbclid=IwAR2epG39oANmWytH8zE8hIxeJjY2FtHo6-
wt2VE2nfd9rDyeYJM5U7kTaXM
3 – Dioniso Sileno e Bacantes. 370 a. C. Museu do Louvre
DIONISO E O TEATRO
• A cada nova safra de uva, era realizada uma
festa em agradecimento ao deus, através de
procissões.
• Nas procissões os participantes cantavam,
dançavam e apresentavam diversas cenas das
peripécias de Dioniso quer em procissão
urbanas, quer em maios rurais (procissões
campestres).
• Essas procissões gradualmente começaram a
ganhar maior organização, ficando cada vez
mais elaboradas e surgiram os responsáveis
pelo coro.
• Os primeiros registos dessas manifestações
datam aproximadamente do século VIII a.C. , 1 - Lucerna figurativa, possivelmente uma máscara teatral.

tendo o seu florescimento ocorrido entre 550 Villa Romana de Torre de Palma. Publicada em: «Lusitânia Romana: Origem de Dois Povos»
2 – Máscara de mármore para Tragédia, provenienete de Pompeios
e 220 a.C.
Século I. Fotografia Mharrsch https://www.flickriver.com
• As festividades aliavam ao culto sagrado e cívico
/photos/mharrsch/40160659492/
um carácter competitivo, pois, gradualmente,
começaram a ser premiadas.
DIONISO E O TEATRO
• Considera-se que o Teatro Grego teve origem em
Atenas, nas encenações relacionadas com
manifestações em homenagem ao deus do vinho,
originando a Tragédia e, mais tarde, a Comédia.
• A tragédia, com origem nos ditirambos em honra de
Dioniso, era representada nos Grandes Festivais e
surgia como um momento religioso, ritual. Em 534 a.
C. são criadas em Atenas as primeiras competições
poéticas para eleger a melhor tragédia.
• No centro da orquestra, no teatro grego, havia um
altar a Dioniso, sugerindo que o destino trágico do
herói a representação trágica eram como uma
imolação a Dioniso. Gradualmente o teatro
desenvolve-se e os autores gregos começam a
apresentar as suas obras. Um magistrado – arconte –
decidia se a peça seria encenada ou não.
• Concorriam com um conjunto de três peças, o
vencedor recebia:
• - apoio financeiro (era dado aos autores vitoriosos
um corego, cidadão rico que custeava as despesas
da peça.
• - uma coroa de hera ou dionisíaca 1 - Cena de comédia em vaso da Apúlia, século IV a.C. Fotogtafia: Marie-Lan
Nguyen
• - o seu nome inscrito nos registos de honra da
cidade.
O Triunfo Indiano de Baco
• "As Bacantes" ou Ménades de Eurípides é
uma tragédia grega que celebra Dioniso.
Estreou postumamente no Teatro de
Dionísio em 405 a.C., como parte de
uma tetralogia e, provavelmente, foi dirigida
pelo filho ou sobrinho do próprio Eurípides.
A obra obteve o primeiro lugar na
competição teatral realizada durante
o festival da “Grande Dionisíaca”.
• A tragédia é baseada na história mitológica
do rei Penteu, rei de Tebas, e de sua
mãe, Agave, e da punição dos dois pelo
deus Dioniso, primo de Penteu, pela sua
Mosaico de Vale do Mouro, Coriscada. Meda. À esquerda, uma figura masculina
recusa em venerá-lo e pelo injusto representa o deus Bacchus ostentando os seus atributos clássicos: um thyrsus
na mão esquerda, um kantharus na mão direita, uma coroa de cachos de uva na
descrédito em que pairava o nome de sua cabeça e folhas de hera e a pardalris cobrindo a parte esquerda do tronco. O
mãe, Sémele. deus está de pé numa biga de duas rodas, puxada por dois leopardos, pouco
conservados.
“Oh!

Ide, Bacantes, ide Bacantes

Bem-aventurado o ditoso

que conhece os mistérios divinos,

purifica sua vida,

participa com toda a alma no tíaso,

faz as bacanais nas montanhas

com santas purificações,

celebra as orgias de Cíbele,

a grande mãe,

e, brandindo o tirso,

coroado de hera,

presta culto a Diónisos.

Ide, Bacantes, ide Bacantes,

das montanhas da Frígia

para as espaçosas

ruas da Hélade!

Trazei Brómio, deus filho de um deus,

Diónisos! Trazei Brómio!

Aquele que saiu das entranhas

da mãe que, tomada

das dores da maternidade,


Dionísio estendendo com um kantharos. Final do século VI a. C.
Fotografia a partir de: https://pt.qwe.wiki/wiki/Dionysus ao som do trovão alado de Zeus,

abandonara a vida.

(...) Eurípides, As Bacantes, Tradução Maria Helena Rocha Pereira, Edições 70, 2018.
BACO: as fontes escritas e arqueológicas
• Licurgo era o mitológico rei da Trácia que
perdeu a vida por proibir o culto de Dioniso.
• O vaso Licurgo faz parte das colecções do
British Museum.
• Nele podemos ver a figuração humana,
animal (cão) e vegetal (ramos e folhas de
videira), que vêm roubar lugar ao
geometrismo enriquecido dos restantes
recipientes.
• Uma característica que claramente difere
dos outros exemplos é a sua coloração verde
e vermelha, ao invés do uso de vidro incolor
(que pode conter matização de outras
cores). Também este possui um suporte em
prata, que combina com um friso no bordo
do mesmo material.
• Parece ter sido feito em Alexandria ou
Roma, cerca de 290-325 d.C.
(British Museum).
BACO: as fontes escritas DIONISO/BACO

Mas Dioniso e mais tarde o seu homólogo Baco


continuarão a ser uma presença constante entre
os poetas, escritores e artistas da Antiguidade e
de todos os tempos.
Com a helenização de Roma a partir do século III
a.C., os mistérios dionisíacos penetraram
particularmente na Itália central e meridional e
vão-se alastrando, pese algumas tentativas de
proibição.
O Senado Romano, através de um decreto de 186
a.C. (Senatus consultum de Bacchanalibus),
"também por motivos políticos", proibiu sob
pena de morte (o que provavelmente não foi
levado muito a sério) as chamadas Bacchanalia,
"Bacanais".
Mas as seitas místicas sempre mantiveram a
Pormenor da alegoria de Outono
Quinte da Regaleira, Sintra
tradição dionisíaca e o deus das orgias chegou
sem dificuldades à época imperial.
BACO E A LITERATURA E A ARQUEOLOGIA
O grande poeta Vergílio canta por inúmeras vezes
a divindade:
«Até aqui tratei o cultivo dos campos e os astros
do céu.
Agora, Baco, cantar-te-ei, e contigo as árvores
silvestres
e os frutos da oliveira que crescem
vagarosamente.
Vem até aqui, ó Leneu, meu pai! Aqui está tudo
cheio das tuas oferendas. Para ti, carregado das
outonais parras,
floresce o campo, espuma a vindima em talhas
cheias.
Vem até aqui, ó Leneu, meu pai! E, tirando os
coturnos,
tinge comigo as pernas nuas com o novo mosto»

Vergílio, Geórgicas, (Int. Tr. e notas: Gabriel A. F.


Silva), Livros Cotovia. 2019.

1 - Fresco proveniente de Pompeios com representação de Baco


2 - Mosaico do Outono, Ruínas Romanas de Conímbriga
«(...) Ora, o sacerdote ordenara que um festival
fosse celebrado, e que as servas e as matronas, dispensadas BACO:
dos seus afazeres, cobrissem o peito com peles de animais, as fontes escritas e arqueológicas
soltassem do cabelo as fitas, e, de grinaldas na cabeça, tirsos
frondosos empunhassem. Vaticinara ainda que a ira do deus,
se ofendido, seria terrível. Obedecem matronas e jovens.
Pousam os teares e os cestos e os novelos deixados a meio,
queimam incenso, invocam Baco: chamam-lhe Brómio, Lieu,
Filho do Fogo, Nascido duas vezes, Único a ter duas mães.
A estes somam o nome Niseu, o de Tioneu de cabelo intonso,
E, com o de Leneu, o de Plantador da videira festiva,
e o de Nictélio e o de seu pai, Eleleu, e de Iaco e de Évan,
e todos os outros títulos sem conta que os povos da Grécia
te conferem, ó Líber. Tu tens uma juventude inesgotável, Texto:
Ovídio, Metamorfoses, Livro IV vv: 1-25, Bolso Cotovia, Clássicos, 2004
tu és o menino eterno, tu és admirado nas alturas dos céus
como o mais belo; tu, quando estás presente sem cornos, 1 - Triunfo de Baco proveniente de Susa. A partir de: https://www.artehistoria.com/es/obra/triunfo-de-
baco-procedente-de-susa
tens um rosto divinal.
2 – Mosaico com representação de várias cenas do Triunfo de Baco.
(…) Seguem-te Bacantes e sátiros, Fotografia: Wild Beard
https://es.m.wikipedia.org/wiki/Archivo:Mosaico_%22El_Triunfo_de_Baco%22_de_la_villa_romana_de_F
e o velho ébrio que sustém o corpo cambaleante com o bastão uente_Alamo.jpg
e nem se aguenta bem sobre a carupa encurvada do burrico»
OS DEUSES DO VINHO: a história e as lendas
• Podemos dizer que Dioniso ou Baco, mais
conhecido entre os Romanos por ser filho de
Zeus/Júpiter e da princesa Sémele, era o deus
grego das festas, do vinho, da fecundidade,
do lazer e do prazer, símbolo do desejo e da
libertação de qualquer inibição.
• O vinho aparece, em Roma, associado a Liber
Pater e sua divina esposa Libera, e
gradualmente, estas duas divindades
relacionadas com a fertilidade foram
assimiladas por Dioniso/Baco.
• Mas a vinha também se relaciona com
Saturno e a Príapo como nos refere Vergílio,
n’ As Geórgicas, datada do Século I da nossa
Era.
• E a sua expressão aparece associada à Vida e Sarcófago das Vindimas (Castanheira do Ribatejo. Museu Nacional de Arqueologia.
http://www.matriznet.dgpc.pt/MatrizNet/Objectos/ObjectosConsultar.aspx?IdReg=110266
à Morte.
A CULTURA DA VINHA

Por vezes, aceita-se que foi o sátiro


Sileno, seu tutor, quem lhe ensinou a
cultura da vinha e a produção de vinho.
Ele teria sido o principal companheiro
do deus e vivia bêbado.
Acredita-se, ainda, que alguns filhos do
deus é que disseminaram a vinha.
Um deles seria Estáfilo, filho de Dioniso
e da princesa de Creta, Ariadne, e que
teria sido o primeiro a conhecer o
vinho.

Sileno com Baco ao colo. Escultura romana cópia do original de Lysippos (310-
300 a.C.) Glyptothek Museum Munich Germany
2 – Baco e Sileno. Que toca uma lira. plays the lyre. villa de Boscoreale,
Pompeiosc. 30 a. C.
(The British Museum, London).
http://romehistory.co.uk/gods/romangodsdionysu.html
BACO E OS SEUS ATRIBUTOS
• Dioniso/Baco é por vezes figurado com o
corpo coberto por um manto de pele de leão
ou de leopardo, com uma coroa de
pâmpanos, os ramos tenros (com menos e
um ano) ou rebentos de parra, na cabeça e
conduzindo um carro puxado por leões. Pode
igualmente ser apresentado sentado num
tonel.
• Baco está associado a diversos animais
(principalmente leão, tigre, leopardo, urso,
serpente e touro) e vegetais (hera e videira),
ele pode figurar em diferentes idades:
criança, jovem, adulto ou ancião.
• Quando não é representado nu, veste túnicas
Lucerna com representação de Baco, Ruínas de Troia. Museu Nacional de Arqueologia
esvoaçantes sobrepostas por peles de animais
Fotografia a partir
de:http://www.matriznet.dgpc.pt/MatrizNet/Objectos/ObjectosConsultar.aspx?IdReg=134167
(raposa, felino e cervo).
BACO E OS SEUS ATRIBUTOS
• Baco apresenta-se geralmente como
um jovem imberbe, risonho e de ar
festivo. Os cabelos, normalmente
longos, são adornados com uma
guirlanda de hera ou ramos de
videira.
• Segura um cacho de uvas ou uma
taça de grandes proporções para
consumo de vinho, o cântaro
(cantharus), com duas asas laterais,
e empunha na outra um tyrsus –
bastão envolvido em hera e ramos
de videira e encimado por uma
pinha, simbolizando a fertilidade,
Busto de Dioniso em mármore. Século II d.C. também usado pelas bacantes.
Milreu, Faro. Museu Nacional de Arqueologia. Fotografia a
partir de:
http://www.matriznet.dgpc.pt/…/Obje…/ObjectosConsultar.asp
x…
Muitas foram as personagens que
nutriram por Dioniso grande
. fascínio, ao ponto de se fazerem
representar como a divindade.
Um exemplo disso foi Alexandre, o
Grande (Alexandre III da Macedónia
356 a.C. - 323a.C), filho de Olímpia
de Épiro (religiosa fiel do deus
Dioniso) e do monarca Filipe II da
Macedónia. Alexandre sempre
manifestara interesse nas lendas do
de Dioniso e os seus feitos na Índia.
Os triunfos de Alexandre não só o
tornaram o governante do mundo,
mas também o elevaram ao
patamar divino com os seus feitos
em paralelo a conquista mitológica
do Oriente pelo deus Dioniso. Estátua colossal de Antinoo representado como
Séculos mais tarde, o favorito de Dionysos-Osiris (com coroa de hera, com uma
banda encimada por pinha).
Adriano, Antinoo, muitas vezes se Museo Pio-Clementino, Sala Rotunda
fez representar como o deus. Fotografia 1 -
https://www.tuttartpitturasculturapoesiamusica
.com/2011/12/antinoo-il-dio-greco-per-il-
quale.html
Fotografia 2 Marie-Lan Nguyen (Septembro 2009)
O Triunfo Indiano de Baco

É conhecida na Mitologia essa grande viagem percorrida por Baco no Oriente, até à Índia.
De regresso, vitorioso, faz-se acompanhar por um séquito, no qual participavam Sileno, as Bacantes, ninfas, sátiros e mesmo o
deus Pã. Todos levavam o tirso enlaçado com folhagens, cepas de vide, coroas de hera, taças e cachos de uva. Dioniso abre a
marcha, e todo o cortejo o segue, acompanhado por instrumentos musicais.
Neste mosaico da villa romana de Torre de Palma estão representadas dezasseis personagens. É visível um carro puxado por
dois tigres, cujas rédeas são seguradas por um jovem sátiro situado à direita de Baco (dentro do carro) e também por Pã, que
conduz os tigres. O jovem sátiro, coroado de folhas de hera, tem uma chibata na mão direita. Baco, em pé , segura na mão
direita uma cratera. Atrás dele e no chão, junto ao carro, são visíveis Ménades, ou Bacantes, uma delas segurando o tirso. Outra
ménade segura uma flauta.

Painel representando «O Triunfo de Baco». Mosaico das Musas. Vila Romana de Torre de Palma. Museu Nacional de Arqueologia.
O DEUS DO VINHO:
O longo caminho de Baco

Triunfo de Dioniso/Baco. Sétif Archaeological Museum, Argélia.


Fotografia: Steve Richards Triunfo de Dioniso/Baco.
Fotografia: Steve Richards
BACO TRIUNFANTE
Baco percorreu o Oriente: vêmo-lo no Egito; na
Síria, luta contra Damasco, que se opõe à
introdução da cultura da vinha. Vencedor, continua
a viagem, atravessa os rios sobre um tigre, lança
uma ponte sobre o Eufrates, e empreende a
gigantesca expedição contra os indianos.
A Conquista da Índia
A lenda heróica de Baco parece ser apenas a
história da plantação da vinha, e a narração dos
efeitos produzidos pela embriaguez, desde que o
vinho se tornou conhecido. O temor desses
terríveis efeitos explica naturalmente a oposição
que se lhe depara por toda parte, quando ensina
aos homens o uso do vinho por ele personificado.
Dioniso combatendo os Indianos. Palazzo Massimo, Roma, século IV.
Fotografia: Marie-Lan Nguyen
https://en.wikipedia.org/wiki/Dionysus#/media/File:Dionysos_Indians_Massi
mo.jpg
DIONISO E ICÁRIO
Segundo a Mitologia, o ateniense Icário recebeu,
em sua casa, o deus Dioniso, durante uma das
suas viagens à Ática.
Dioniso presenteou o anfitrião com vinho, uma substância
desconhecida, que Icário mandou distribuir pelos pastores.
Os pastores sentindo-se intoxicados e tontos,
pensaram que Icário os queria envenenar e mataram-no.
A filha deste ateniense, Erígone, procurou-o
e encontrou o local onde estava sepultado
com a ajuda do seu fiel cão Marea. Desgostosa,
enforcou-se perto da árvore onde o pai fora enterrado.
O deus Dioniso castigou os habitantes de Ática
com uma praga e as mulheres ficaram enlouquecidas e
enforcaram-se.
Mosaico da Casa de Dioniso em Pafos (Chipre),mostrando o mito de Icário, o
primeiro homem a beber vinho presenteado por Baco) Depois, Dioniso transformou Icário, Erígone e
Fotografia a partir de: https://sites.google.com/site/dionysionbr/
o cão Marea nas constelações de Boeiro, Virgem e Cão Menor.
BACO E AMPELOS
Quando Baco estava na Ásia Menor,
banhando-se com os sátiros nas águas do
Pactolo e brincando com eles nas costas da
Frígia, ligou-se a um jovem sátiro chamado
Ampelos.
Em breve, tornaram-se inseparáveis; mas um
touro furioso matou um dia o infeliz Ampelos,
e Baco, não podendo consolar-se, derramou
ambrósia nos ferimentos do amigo que foi
metamorfoseado em vinha, e é precisamente
esse divino sumo que deu à uva a qualidade Estatua de Dioniso e Sátiro. Castro da Muradella, em Mourazos,
no concelho de Verín (Galiza, Espanha). Datada no século III d.C.,
Embriagadora. nos nossos dias conserva-se no Museu Arqueológico Provincial de
Ourense
A epifania (manifestação/ aparição) é um aspecto
marcante da caracterização de Dioniso, fortemente
associada ao séquito de sátiros, ménades, ninfas e
silenos, que anuncia a sua chegada com procissões
(thiasus, tiaso), cantos e danças em orgias em picos
de montanhas, bosques e cavernas.

1 – Mosaico da Villa Romana de Noheda.


Fotografia a partir de: http://pabloaparicioresco.blogspot.com/2012/09/la-villa-romana-
de-noheda-cuenca.html
2 - Sileno num burro é ajudado por um sátiro e acompanhado por Pã com dois intrumentos
musicais nas mãos. Pormenor de mosaico tardorromano Século IV d.C. Villa romana de
Noheda, Cuenca.
Fotografia a partir de: http://temasdeculturaclasica.com/dioses-semidioses-y-heroe…/ illa
Romana de Noheda. Fotografia a partir de:
http://pabloaparicioresco.blogspot.com/2012/09/la-villa-romana-de-noheda-cuenca.html
BACO E ARIADNE
Diz a Mitologia que Ariadne, que vivia na ilha
de Creta, filha de Minos, o rei da ilha, era uma
jovem de uma beleza exuberante, mas não
havia ninguém que a desejasse para esposa.
Quando na ilha desembarca Teseu, o herói que
mata o Minoutauro, ela apaixona-se por ele e
apoiou-o.

Após a morte do Minotauro, fogem para a ilha


de Naxos, tendo sido abandonada por Teseu
enquanto dormia.

Desamparada e sem rumo, ela decidiu acabar


com a sua vida, tendo acabado por adormecer.
saico com representação do casamento de
Ariadne e Baco.
ca. século II d. C. - Aphrodite Gallery
DIONISO/BACO
«(...) Ora, o sacerdote ordenara que um festival
fosse celebrado, e que as servas e as matronas, dispensadas
dos seus afazeres, cobrissem o peito com peles de animais,
soltassem do cabelo as fitas, e, de grinaldas na cabeça, tirsos
frondosos empunhassem. Vaticinara ainda que a ira do deus,
se ofendido, seria terrível. Obedecem matronas e jovens.
Pousam os teares e os cestos e os novelos deixados a meio,
queimam incenso, invocam Baco: chamam-lhe Brómio, Lieu,
Filho do Fogo, Nascido duas vezes, Único a ter duas mães.
A estes somam o nome Niseu, o de Tioneu de cabelo intonso,
E, com o de Leneu, o de Plantador da videira festiva,
e o de Nictélio e o de seu pai, Eleleu, e de Iaco e de Évan,
e todos os outros títulos sem conta que os povos da Grécia
te conferem, ó Líber. Tu tens uma juventude inesgotável,
tu és o menino eterno, tu és admirado nas alturas dos céus
como o mais belo; tu, quando estás presente sem cornos,
tens um rosto divinal.
(…) Seguem-te Bacantes e sátiros,
1 - Mosaico com Triunfo de Dioniso/BACO
e o velho ébrio que sustém o corpo cambaleante com o bastão Séc. III d.C.
e nem se aguenta bem sobre a carupa encurvada do burrico» Sétif, Argélia

Ovídio, Metamorfoses, Livro IV vv: 1-25, Bolso Cotovia, Clássicos,


2004
BACO, O DEUS DO VINHO

1 - Baco (Dioniso grego) com a personificação do vinho, Estátua romana em mármore, possivelmente cópia a partir de um original helenístico. Século II d.C. British Museum, Londres.
2 - Baco, relevo em mármore. Cerca do século I d. C.
Museu Arqueológico de Nápoles
Os Companheiros de Dioniso/Baco:
Sátiros e Silenos
O Deus Baco é normalmente representado
na companhia de outros bebedores:

Sileno – Tutor de Dioniso, companheiro


fiel e o mais velho, sábio e beberrão dos
seus seguidores, que embriagado tinha
o poder da profecia. Representado
quase sempre bêbado, amparado por
sátiros ou carregado por um burro.
Em algumas versões do mito, Sileno, um
velho sábio, deus da embriaguez, que
também acompanha Dioniso no seu
cortejo, aparece como o pai da tribo dos
1 – Sileno. Prov.: Ruínas do Teatro romano. Peça recolhida em 1798. MNA. Século I d. C.
sátiros.
A estátua retrata Sileno, essa figura da mitologia greco-romana tutor e companheiro do deus
Dionísio/Baco. A posição reclinada, segurando um odre na mão esquerda denota o estado ébrio
com que ele frequentemente se apresenta.
DIVINDADES DA NATUREZA: OS SÁTIROS
Os Sátiros, divindades campestres do
cortejo de Dioniso/Baco, tinham aspecto
humano, mas com cabelos eriçados, grande
cauda e orelhas bicudas de bode, pequenos
cornos na testa, narizes achatados, lábios
grossos, barbas longas e órgãos sexuais
excessivos e erectos.
Viviam nos campos e nos bosques, onde
tinham relações sexuais com as Ninfas e as
Ménades, e copulavam embriagados com
humanos, cabras e ovelhas.

Sátiro-Sileno sentado numa rocha. Museu Nacional de Arqueologia.


Fotos e cometários: Graça Cravinho
Os Companheiros de Dioniso/Baco:
Sátiros
Sátiros – divindades menores da
natureza com aspecto humano,
cabelos eriçados, com grande cauda
e orelhas bicudas de bode, pequenos
cornos na testa, narizes achatados,
lábios grossos, barbas longas e
órgãos sexuais de proporções sobre-
humanas, frequentemente
mostrados em estado de erecção.
Viviam nos campos e nos bosques,
onde tinham relações sexuais
frequentes com as Ninfas e as
Ménades, que a eles se juntavam no
cortejo de Dioniso, além de
copularem com mulheres e rapazes
humanos, cabras e ovelhas.

Vénus, Sátiro e Eros. National Archaeological Museum, Athens


PRÍAPO
Príapo participava do cortejo de Dioniso
em companhia dos sátiros e de Sileno.
Filho de Dioniso/Baco e Afrodite/Vénus,
segundo uma versão do mito, tem
bastantes associações com a serpente,
visto que, segundo uma outra versão da
lenda, nascera da fecundação de uma
serpente.
O mito de Príapo consagra assim a ideia
do nascimento de heróis a partir da
fecundação de uma mulher por uma
Serpente, tal como acontecera com o
primeiro Dioniso.
A característica desse deus era o pénis
exageradamente grande e sempre ereto,
simbolizando a fertilidade. A sua função Príapo Príapo
era guardar pomares em geral, vinhedos e Século I d.C. Século II d.C.
Lupanar, Pompeia, Itália The J. Paul Getty Museum,
jardins, desviando os malefícios dos Los Angeles, Califórnia
olhares invejosos.
O CULTO BÁQUICO EM BUCELAS
Esta pequena estatueta figurativa de bronze romana,
datada do século II d.C., faz parte das coleções do
Museu Nacional de Arqueologia. Foi doada pela família
de Bartolomeu Osório, antigo colecionador, sendo a sua
proveniência exacta desconhecida, mas atribuída a
Bucelas.
Representa um jovem nu, de características
fisionómicas africanas, num movimento de dança
rítmica, exibindo um falo desproporcional. Apesar de
não se ter conservado intacta até aos nossos dias -
parte dos braços e uma das pernas estão fraturados - é
evidente o movimento que a escultura procura exibir.
Alguns investigadores associaram as caraterísticas que a
figura aparenta – cabelo fortemente encaracolado,
lábios grossos, nariz achatado, falo de grande dimensão
e aparente dança orgástica - ao chamado ciclo báquico.

Estatueta itifálica. Século II d.C. Bronze.


MNA. N. Inv. 17907.
Fotografia: José Pessoa
As Companheiras de Dioniso/Baco
AS Ménades/Bacantes
As ménades, também conhecidas como bacantes,
lenai, tíades ou coribantes (estas últimas ligadas
ao culto de Cibele na Lídia) são as seguidoras de
Baco, participantes das orgias e aliadas nos seus
confrontos. Participavam no cortejo de
Dioniso/Baco.
Buscavam a vida nos bosques e dedicavam-se à
dança, a festins de embriaguez e dilaceramento
de animais selvagens.
São normalmente representadas nuas ou vestidas
só com peles de veado, com grinaldas de Hera e
empunhando um tirso.
Na presença do deus, ficam imbuídas do seu
poder e podiam atingir o êxtase.
Na fotografia: Ménade
Século I d.C | Mármore. Museu de Évora
Deve ter pertencido a um friso, provavelmente de um edifício
público de Pax Iulia, e era uma das principais peças da coleção
arqueológica do Bispo Frei Manuel do Cenáculo (1725-1814).
O Culto Mitraico e os deuses solares
• No Ocidente, o culto de Mitra acabou por confundir-se com o do Sol Invictus,
ou Sol Invencível, que tinha uma grande importância em Roma, havendo quem
professasse, ao mesmo tempo, o mitraísmo e a religião do Sol Invictus.
• O culto do Sol tinha, desde épocas remotas, grande adesão, existindo um
templo dedicado ao Sol (bem como um sagrado à Lua) no Circus Maximus, onde
as corridas de cavalos decorriam sob os auspícios das divindades. (Tácito, Anais,
XV.74; Tertuliano, Dos Espectáculos,VIII.1).
• Já na época de César, Roma se havia rendido ao culto do Sol Invictus , mas é
depois do grande incêndio de 64 d.C., quando uma grande parte de Roma foi
destruída, que Nero manda edificar uma estátua colossal do mesmo, com 120
pés de altura (Suetónio, Vida de Nero, XXXI.).
• Vespasiano foi o primeiro imperador a colocar a imagem do Sol numa
cunhagem oficial.
• É em finais dessa centúria, em 274, quando Aureliano atribuiu ao Sol Invictus
as suas vitórias no Oriente, que esta religião se torna oficial, tendo o imperador
mandado edificar em Roma um templo dedicado ao deus e foram incumbidos
sacerdotes de lhes prestar culto. O máximo dirigente deste era o pontifex solis
invicti.

https://mythology.net/roman/roman-
gods/sol_roman/?fbclid=IwAR0dOYbIgreRRhEdmTYl56X5qghsHidIX753JNzE-
PTVbGqDgOCQ14E43nQ
AFINAL QUEM É MITRA OU MITRAS?
Distinguem-se 3 Mitras, todos eles deuses ligados ao astro solar:

1. O deus Védico (irmão de Varuna).


Sabe-se que na Índia é referenciado desde cerca de 1380 a. C., existindo uma antítese entre os dois.
Mitra, representando a conciliadora e luminosa, próxima da terra e dos homens e Varuna seria o
aspecto mágico, violento, terrível de tenebroso.

2. O deus Persa Mitra, que há quem filie no Zoroastrismo, cujo profeta era Zaratustra, também
conhecido na versão grega Zoroastro. Na doutrina zaratustriana, antes da criação do mundo,
reinavam dois espíritos ou princípios antagónicos: os espíritos do Bem (Ormuz) e do Mal (Arimã).
Divindades menores, génios e espíritos ajudavam Ormuz a governar o mundo e a combater Arimã e
a legião do mal. Entre as divindades auxiliares, a mais importante era Mithra, um deus benéfico que
exercia funções de juiz das almas.

3. Mitra entra na esfera helenística com Alexandre, por volta de 330 a.C. com a queda do império
persa.
O FINAL DO MITRAÍSMO
• No final do século III d.C, em Roma, a religião de Mitra fundiu-se
com cultos solares de procedência oriental, configurando-se no
culto do Sol.
• Também o século III d. C. assiste à consagração do cristianismo
como religião do Império Romano.
• O mitraísmo era praticado em pequenas sociedades secretas na
qual as mulheres eram excluídas. Não se propunha ser uma religião
de massa, aberta a todos, como o cristianismo.
OS RITUAIS MITRAICOS
• Mitra surge como divindade ligada ao Sol e à Lua, à luz e às
trevas, à vida e à Morte, às Estações do Ano, ao tempo
cíclico e à fertilidade e à regeneração .

• Nos rituais há exclusão do género feminino.


• Tem especial popularidade entre os legionários romanos e
funcionários.
• As Cerimónias mistéricas decorriam em santuários
subterrâneos, os mitreus) que simulavam a gruta da
tauroctonia), e o facto de Mitra ter nascido numa gruta.
• Mitra é um deus petrógeno, surge de uma rocha com
barrete frígio, uma adaga numa das mãos e noutra uma
tocha.

Mithraeum. Basilica Saint-clement, Roma.


Fresco com representação de Mithras degolando um touro Barberini
Palace. © Costantinus
O CULTO MITRAICO: MITRA E JESUS
Mitra romano e Jesus Cristo apresentam as seguintes semelhanças:

- Ambos têm data de nascimento fixada a 25 de Dezembro


- Ambos são dados como filhos de virgens (Anahita e Maria)
- Ambos tinham 12 companheiros/apóstolos
- A ambos são atribuídos milagres
- Ambos “ascenderam” e eternizaram-se
- Ambos têm pastores que acompanham o seu nascimento.

O Mitraísmo e o Cristianismo apresentam as seguintes semelhanças:

- Ambos são de origem oriental


- Ambos são religiões mistéricas
- Os mistagogos hierarcas de ambos representam a Via da Verdade, da Luz, da Ascenção e da Imortalidade
- Ambos têm ritos e níveis de iniciação
- Ambos celebram comunhões com a divindade através de refeições sagradas (ágape/eucaristia)
- Ambos começaram os seus cultos na clandestinidade e em espaços subterrâneos (grutas artificiais/catacumbas)

- Na fotografia: Taq-e Bostan: Alto Relevo da investidura de Ardeshir II (379-383 DC),


Mitra (esquerda), Shapur II e Ahura Mazda (direita), sobre o corpo caido
do Imperador Juliano. Via Wikipedia Commons, foto de Phillipe Chavin
MITRA E SOL INVICTUS
• O culto mitraico relacionava Mitra directamente com o Sol

• Quando o culto a Sol Invictus foi oficializado pelo Imperador Aureliano em 274 d.C., o seguidores do
mitraísmo identificaram Mitra com a própria divindade solar

Sol Invictus. Século III. Museu do Vaticano. Fotografia a partir de: Mitra tauroctone como Sol Invictus. Século III. Museu Pio-Clermentino. Roma. Itália.
https://www.pinterest.pt/pin/297659856594964717/ Fotografia a partir de: https://www.counter-currents.com/2011/03/sol-invictus-encounters-between-
east-west-in-the-ancient-world/
NÍVEIS DE INICIAÇÃO
E ATRIBUTOS
(CONOTAÇÕES ASTRAIS E TEMPORAIS)

O processo de iniciação requeria a subida de


sete degraus, cada um com um metal
diferente, simbolizando os corpos celestiais.

7 7 – Saturno – pater (pai) – sacerdote mitraico

6 6 – Sol – heliodromos – corredor do sol

5 5 – Lua – perses (persa) – sacrificador

4 4 – Júpiter – leo (leão) – guardião do fogo sagrado

3 3 – Marte – miles (militar) – guerreiro da fé

2 2 – Vénus – nymphus (noivo) – esposo místico

1 1 – Mercúrio – corax (corvo) – mensageiro divino ou do Sol.

Mitreu de Felicissimo
Óstia, Itália Entrada (terra, fogo, água e ar)
NÍVEIS DE INICIAÇÃO E ATRIBUTOS

As festividades dedicadas a Mitra, realizavam-se


no sétimo mês do ano, mas todos os meses lhe
era dedicava uma semana.
Comemorava-se o aniversário de Mitra, o natalis
invicti.
Os iniciados eram sujeitos a várias provações,
nus e de olhos vendados, andavam às
apalpadelas, ajoelhavam-se e, após lhes ter sido
colocada por um sacerdote uma coroa de flores,
simulavam a morte, como acontece em muitas
sociedades secretas.

Casa de Felicíssimo, Óstia Antiga


OS TEMPLOS MITRAICOS
A INICIAÇÃO E O
CULTO
Os templos conhecidos apontam para uma
tipologia similar: são uma câmara rectangular,
que poderia ter uma cobertura abobadada.
Teria bancos de um lado e de outro, onde se
sentavam os iniciados, podendo-se passar em
ambientes que simulassem uma gruta, aludindo
ao nascimento de Mitra.
1 - O Mitreu das Sete Portas, Óstia. Fotograia: Bill Storage.
Reuniam-se em pequenos grupos, entre 20 e
2 – O Mitreu de Carrawburgh, Inglaterra
30 pessoas.
O RELEVO MITRAICO DE TRÓIA
Encontrado em 1925, apenas existe uma cópia no MNA.
Seria um tríptico. Apenas sobreviveram parte do central e o
painel do lado direito.
Provavelmente na zona central estaria representado o
sacrifício do touro, taurotctonia.
A Lua aparece apresentada. Do outro lado deveria estar o Sol.
Caupates, o Sol poente. ampara a tocha invertida, sobre o
qual de vê uma pata animal, possivelmente sacrificada.
Na zona oposta, deveria estar Cautes com a tocha erguida, o
Sol nascente.
No painel da direita, temos Hélios e Mitras, com o barrete
frígio, reclinados num triclinium, celebrando o banquete que
comemora o pacto destas duas divindades.
Em baixo Cautes e Caupates, ladeando uma serpente
encorada uma cratera, representando a terra e a água.
Obedecendo aos ícones, no painel do lado esquerdo, poderia
estar representado um leão, simbolizando o fogo, e talvez ainda
os quatro ventos, relativos ao elemento ar.

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