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COLEGAO “SABER ATUAL” HISTORIA OA SOCIOLOGIA Gaston BourHou Doutor em Letras, Doutor em Direito VicePresidente do Institut International de Socologic Tradugio de J Gumspurc 4° edigio. DIFEL Sio Paulo — Rio de Janeiro Ate ‘SEGUNDA PaRTE, NASCIMENTO DA SOCIOLOGIA MODERNA CAPITULO T OS SISTEMAS SOCIOLOGICOS ce (1798-1857): jderado nani: ‘memente. 2 de sociologia ‘cujo. nome tambéen ¢ de sun auiori(?).”Sereiio de Suint-Simon ¢ ligado, pois, a tradigfo dos Enciclopedistas do século XVIII, influenciado pelos sarcasmos de Voltaire contra a metalic, concebeu a sociologia em oposiglo a sealogia € as quais sfo, para ele, logoma- ‘Gls pretensions e flees, "Ningutmn' declare, “pal de demonstra logicamente a inexsténcia de Apolo ou de Minerva”. Assim como Descartes cortou os lagos que ainda uniam a filozofie & teologia, Comte separou fogia da meats "A pordr do Comee, Sieeser Poe “ (3) Lembremos. que 0 termo pelos purists, pos € formado de uns riz fisica ser 0 caracterfstico da sociologia, Mas isto nio impede de-assistirmos ainda a iniimeras tentativas, mais ‘ou menos insidiosas, da metafisica ou mesmo da teologia, no sentido de recompor na sociologia uma ancilla pbilo- sopbiae. sistema de Comte principia por sm fovea: doe conhecimentos humanos e uma _teoria geral das ciéncias. Estas sio em ntimero de seis, clannfistlas em ordem de complexidade crescente: matemética, astronomia, fisica, imica, biologia e, afinal, como coroament nova cla, a_sociologia estudo objetivo € positive das sotie- dades- lassificagao, segundo Comte, € nio sé uma concepsio,racionl, mas eorresponde 3 histtia das ir cias: a8_de objcio. mais simples nasceram antes das_de -sbjeto mais complexo. ‘A sociologia é uma cigncia cujo tema de estudo & distinto: 9 ser social no seu conjunto. A sociedade, para Comte, compéese de todos oy Koos eat desaparecidos que sobrevivem no pensamento de seus des- cendentes, ¢ af desenvolvem uma agio igual ao ascendente de cur lembrass, Pola. ets 6 Toenail. deme deumaexperitucia ede um saber que constitui um spiritual objetivo e liga as geragbes entre si. Mas, de todos os seres, a sociedade € a mais variével, pois é susce- tivel de se adaptar a toda sorte de fendmenos externos. Nenhum ente & capaz de um progresso tio répido, e sobre- tudo tio continuo, pois, gragas a sucessio das geragées, © set social domina o tempo. No tocante a0 método, a sociologia deve empregat spshucrvaco ©. induso. Tal posiso selicionese, em Comte, a uma ‘cori Esta teodi, conhecida HBG nome de “Let dos Trds Bttedos”, considera que os homens, no curso de seus incessantes 58 esforgos de compreensio ¢ interpretagio do mundo circun- dante, passaram por trés atitudes sucessivas: 1°) 0 estado teolégico que consiste em explicar os diversos fenémenos por causas primeitas, em geral perso- nificadas nos deuses. Nas instituigGes. sociais correspon- dentes a tal mentalidade, a predominincia pertence aos grupos sacerdotais; 22) 0 estado metafisico: os homens empenham-se tem alcancar concepges menos antropomérficas. As cau- sas primeiras sio substituidas por causas mais gerais: as entidades metafisicas. Na vida dos Estados impera um mo considerado superior aos fatos; estes devem rine{pios @ priori, como a idéia de liber- dade absoluta, virtude “integral” ete.; 32) 0 estado positivista que consiste em explicar 6s fendmenos por causas segundas, bascadas na observagio cientifica. ‘A concordincia com os fatos deve ser_o nico crité. tio da filosofia positiva, “Esta precisa distanciar-se igual- mente do empitismo e do misticsmo. Devem buscar as is. dos fendmenos, sn, a reaps eostantes eitentes Entre os fendmenos_obsefva iam tais fendmenos observados ‘simultinea ou_sucessiy nea. ou, sucess ‘sejam_reunidos pela semelhianca_ou filiacio, a Sacto clagg a teresa oceania ue 3S coisas. istico da filosotia a sitive é ae parte @ Bahaan ‘pelo relativo. Enfim, Comte julga que a psicologia deve desaparecer, dividindo-se entre a biologia ¢ a sociologia, Pois, segundo afirma, 0 individuo isolado € uma abstracio escoléstica; 6 a espécie & uma realidade. Assim como na ffsica ou na quimica as forgas so ‘estudadas, de inicio, em equilibrio, e depois, em atividade, 59 do mesmo modo a sociologia deve comportar duas partes principals: 1°) a estdtica que estuda as condigSes cons- tantes da existéncia das sociedades; 2°) a dinimica que extuda as leis do desenvolvimento da sociedade. Comte continua a tradigio otimista de Con- Simon, ao asseverar que a_evolucio con a umanidade 20 progress, Mas tmp fgur enue os ppensadores que condenaram as convulsées da, Revolucéo € procuraram evitar, para o futuro, perturbas6es tio vio- Tentas, A utilidade’prética da sociologia, na sua opinio, seri descobrir na estitica social as condigées_da_ordem social ¢, na dinimic yas les da progreso a “gssim, assegurar na ordem o progresso ininterrupto hhumanidade. “Ordem e progreso", eis © lem da poll tica positiva. No fim de sua carreira, Auguste Comte schou-se no dever, sem esperar a conclusio da ciéncia social, de propor fos homens uma organizagio social ideal. Na sua éncia acabou mesmo por duvidar de seu préprio método: "Rurevome, hoje, a assegurar_que_as_ciéncias realmente ‘coneretas_permanecerio_ sempre interditas 4 nossa_débil Para Comte, 0 amor universal, produto de uma sim- patia irresistivel que impele os individuos uns para os outros, seri a chave da absbada do edificio social. A hhumanidade hé de ser, por exceléncia, o objeto deste amor. Mas, enquanto os {ilésofos do século XVIME dedu- ide premissas andlogas uma polftica liberal, Auguste. Gate dc g cea que # oizasio scl nce, ups ondlidade diceiora. autoriitia ¢ que a acio do pode ‘central se faca sentir em todos os setores da. vida social. forna-se, mesmo, cada vez mais “niio ha liberdade de consciéncia nas mate- miticas”. Desgostoso com as desordens ocorridas apés a 60 Sn Revolugio de 1848, aplaudiu 0 golpe de Estado de Na- poleio TIT. Auguste Comte, no fim de sua vida, dew-se a0 tra- alho de descrever pormenotizadamente 0 exercicio desta fungio ditetora: quis fundar uma espécie de religido com jum culto da Humanidade considerada como o “Grande Ser”. Esforgou-se por reunir nesta religifo todos os cul- tos existentes, adotando os seus fundadores, os seus gran- des homens ¢, stimonial. Um corpo _de i eso Seino ghar Novamente reaparece 0 ideal de ode uma sociedade quase teocritica, ‘governada por um’ colégio de sibios. Entretanto, espec- fica Comte, as fungSes sacerdotais supremas nfo devem cabet apenas aos homens, mas a cassis, ¢ seré concedida ‘grande atengio ao culto da mulher, considerada como Mae € Inspiradora. Assim, Comte acaba na procura de uma nova hierarquia indiscutida ¢ incontestada, Pretende, di- temos nés, reintegrar a hierarquia no sagrado. Alguns diseipulos de Comte, com Littré, rejeitaram ‘completamente esta parte normativa do comtismo. Outros, ao invés, viram af o fim I6gico de sua filosofia e uma prova de coragem: Comte abandonava a confortivel atitude cri- tica e especulativa para enfrentar a realidade e realizar uma ‘obra de proveito imediato. Outros, enfim, condenaram, no culto da humanidade, a “grosseira sociolatria de uma hhumanidade infinitamente satisfeita consigo mesma”, Stuart Milt (1806-1873) e 0 utilitarismof£Com ele, 6 liberalismo reassume o carter sobretudo psicolégico que possula no século XVIII. Desde entio haviam ocorrido fnimeros fatos novos: a revolugio industrial, a miséria das classes openitias, 0 enorme aumento da populacio, 0 Limperialismo e a expansio colonial ¢ econémica, as tenta- 61 © precursor da emancipacio feminina, sob 0 duplo aspecto erat te maison Nese sentido, mostrouse them mais preciso do que Auguste Comte, exo feminismo era, sobretudo, sentimental. Para Stuart Mill, as relagGes Entre os homens ¢ as mulheres de uma mesma nacio importam mais do que as relagGes com povos alienfgenas, 0 problema da emanci heres 10 capital la Bh! (eit eae das classes_opr- midas, 10 Fourier, considera as mufheres vitimas ZobrevivEncia de instituigdes © superstigdes primitivas, des- fdas de razio de ser em nossa época,] Marx ¢ 0 materialismo bistérico (1818-1883): Por sua atitude, aparenta-se, nfo no sentido literal, com o espirito positivista. Como Auguste Comte, aparta-se deci- Gidamente das questGes mecca «string se_20 et do dos fenémenos socigis. Na obra de Marx, a’ sociologia ‘propriamente dita é relativamente secundéria. ela o pri- speiro lugar cabe_is_suas_teoias sconhmicas, ‘que no se Enquadram no presente trabalho. Eis os principais tragos do: método € da sociologia de Karl Marx: Ele substitui a evolucio em sentido vinico de Hegel — que da tese leva & sintese, passando pela antftese — por um jogo mais complexo de influéncias, onde _a_tese a antitese agem uma sobre a outra, espécic i. vém srmutas, 1 ¢ indug ‘A dialética marxista ‘indo € mais, como para Tegel, um tipo de torneio logomé- quico, mas uma anilise positiva de forgas presentes ¢, sobretudo, de agbes reciprocas. ‘Marx realiza_esta_ané vista dintmico, isto €, qué e do como das variag5 i f ‘em seu selo contradigées e forcas antagénicas. Tais ccontradigdes so numerosas; algumas, como as rivalidades 64 rnacionais ¢ religiosas, ensangiicntaram petiodicamente 0 mundo, No entanto, Marx considera que, dentre Qe F se3; a cada forma de sociedade, como a Antiguidade ou 0 “Fegime feudal, corresponde uma nova forma desta luta. ‘Aos que contestam a primazia desta espécie de anta- smo, alegando que ela provocou menos conflitos vio- Tentos do que muitos outros, Marx responde que as opo- sigdes nacionais ¢ religiosas velaram os reais antagonismos, desviando 0s povos da luta de classes. Trata-se, na sua ‘opiniéo, de diversoes e mesmo de espécies de mistifica- ‘es, as vezes inconscientes, Reencontramos af o tom € 0 argumento dos cépticos do século XVIII, notadamente de Voltaize(*). [Os dois conceitos bésicos da crftiea marxista so a nocid-de aliengcio © de mistificagio. A sociedade ialista seri, aqucla onde o homem aio softer Heolégias, ‘Nela, o homem ‘tam serd libertado da obrigagao de dissipar ¢ alienar sua personalidade ¢ seu poder de trabalho. (Para o histo- riador da filosofia, isto lembra define a regra kantiana da moral prética: © homem “fim em si”) Como varia a forma dos antagonismos sociais? O principal motor de tais transformagies, diz Marx, sio_as Bt cies pica cence Marx teve o grande métito de assinalar a importancia das telagdes enire os modos de producio ¢ as insttuigdes, Ba- seadas no meio natural ¢ no estado da técnica, sio inelu- (1) Noma eélebre passagem de A Sagrada Familia, Maxx fenumera oe autores franceses do século XVIII, considerndos, por le, o6 grandes precursores do materialisno: Helvetius, Diderot « GHolbach, Referese também em termos elogiosos a Babeuf © a ‘Banga asset us teas consprdorse sus ens as téveis e independentes da vontade human: Neste sd a. Neste ponto, Marx assume uma posigao diametralmente oposta a Frepsl ene fia_que determina a histéria, para Marx, é a hist ie prema ho faestrutura econdmie ‘que-determ termina faecal palaves, para Mare, nlo signi, ica um prinefpio metafisico, mas, em particular, as dow. trinas € as instituigdes politicas bem como o direito, Assim a primazia perter a base material. Daf o nome de rater ico dado A sua_doutris ‘Da posigio de Marx resulta certo fatal'smo: 1°) a miséria das classes pobres nao proy maldade ie femeny de alguma forma, See mento da maquina econémic ‘Trata-se da conseqiién- de uma evolugio involuntia; — n'** & Somseién- 2°) a conduta dos homens é condicicnada por pe omg ot con 4 cee conceito de classe. Isto lembra o Homo "conomicus dos economistas clissicos, risio- neito de um determinismo econdmice aleuarern = P' 3°) Marx prediz que o fim do atual mundo eco- némico, fundado no lucro individual (capits ae ie beeen por ae do progresso técnico ¢ da Svolusao econémica, especialmente devido & concentragio las empresas industriais; ae 42°) assim como Auguste Comte cor idera 0 te nsidera 0 estado Positive como: um fim, Marx depois de demonstrar que toda forma social gera os seus antagonismos, no se refere #08 que seriam engendrados pelo estado social predito ou as formas que nele assumiré a hierarquia. Também acha- remos aguiaquele notével trago comum a maioria des Brandes doutrinas sociolégicas normativas: todas procuram sumn-estado futuro estével Ao lado deste otimismo, Marx ‘aptesenta uma outra tendéncia voluntarista © combativa. —Segunco declara, 0 66 hhomem, apés analisar e compreender os ptocessos econd- micos, pode intervir com eficiéncia ¢ alterar seus cursos. E © momento crucial da ‘‘tomada de consciéncia” e da apatigio em cena do “fator subjetivo”. Marx admite, aliés, possiveis enfraquecimentos deste fator. Neste caso nada acontece e pode haver até retrocessos. De outro lado, as convulsses violentas nfo sio excluidas dos processos de adaptagio as novas condigées: “A forca ¢a parteira das Selene Isto sucede especiafmente devido A resisté: ta das classes ditigentes que sofreram uma “perda de fungi”. “A partir destas posigdes contraditérias — que se am pela amplitude da obra de Marx e pelo fato de suas reflexdes abrangerem cerca de quarenta anos — ori naram-se muitas escolas e partidos politicos que o dispu- tam. Uns, como Bernstein, Jaurts ¢ os teéricos dos movi- mentos da socialclemocracia continuam a tendéncia paci- fista, otimista ¢ admitem a liberdade individual. Outros iscipulos de Marx representam a tendéncia combativa € ‘utotitéria, exemplificada sobretudo pelas obras de Lénine € dos teéricos dos movimentos comunistas. A expos estas doutrinas essencialmente politicas, visando a aio imediata, foge do quadro da sociologia cientifica. im todo caso, podemor det aut. desde Santo Agns tinhd, nenhuma doutrina sociolégica teve, na prati ‘sor- la teoria de Marx. Esta converteu-se no s6 em inspi- tadora direta ¢ confessada dos mais importantes movimen- tos politicos contemporineos (na atualidade, no Velho Continente, a raga branca quase se biparte entre as duas ‘tendéncias), mas’ também na crenca obrigatéria, e até na el de Estado de muitas nagdes — avatar assaz ines- prado para uma doutrina de critica aguda e desconfiads] Sob as duas formas, 4-dtstoral ¢-a.demostitica, as idéias de Marx dirigem oficialmente a organizagio de muitos grandes Estados. Os recentes acontecimentos levam mes- 67 mo a cret que a filosofia marxista deverd presidit a gigan- tesca revolusio, configurada pela subversio das estruturas sociais arcaicas e das mentalidades tradicionais de cettos povos da Asia. [Em especial, parece hoje que a concepsio chinesa do universo, incluindo a Iigica do Tao e a filo- sofia confuciana, acham-se em vias de abdicar em favor de Marx] Herbert Spencer e 0 evolucionismo (1820-1903) Como Auguste Comte, Spencer coroa com a sociologia 0 edificio constitudo pelo conjunto das cigneias. Sua socio- e enciclopédica damental A tarefa essencial da ciéncia é deduzir a fSrmula cons- tante de uma quantidade de fatos varidveis. Estas leis constantes sio, para Spencer, a lei da conservagio da forga € da evolugio. Cada forma de existéncia é para ele, como para Comte, 0 desenvolvimento de uma forma anterior © getme de uma posterior. dade. E, portanto, em todos 08 tertenos, um processo de diferenciagao. No mun- do social, os grupos humanos comecam como espécies de hordas, cujes membtos se encontram, ao mesmo tempo, no mesmo nivel intelectual, técnico e econdmico. Mais tarde, organizam-se ¢ convertem-se em conjuntos comple- x03, onde a divisio de trabalho e as relagSes jutidicas entre os individuos tendem a uma crescente diferenciacao. [Xias, exquanto Comte, crendo na descontinuidade dos fenémienos, repele, no fundo, 0 mecanicismo e chega a uma espécie de finalidade, Spencer julga que ela esté con- tida na evolugio. Se a finalidade governa 0 mecanismo Spencer elabora, pois, uma lei da evolugio: ela con- siste sa na ttansforma ete fo de um see ake 68 € porque, em suma, ela emerge daf, gragas a uma sorte de finalidade imanente que € a propria evolucio, Além disso, € também 0 conjunto de fases que um ser qual- quer perfaz, a fim de atingir o equiltbrio. Mas, para Spencer, o equilibrio nfo é definitivo, nfo pode perdurar. A evolugio, Spencer opde 0 proceso inverso, a di solusio, o retorno A confusio dos elementos diferencia dos, que Ihe parece o sinénimo da decadéncia ou do enve- Theeimento. A. Lalande criticou os excessos absolutistas destas concepoges ¢ assinalon que a maiotia dos progres- 805 morais se efetua pela assimilacio dos individuos e pelo abrandamento, ou mesmo pela destruigéo das estruturas sociais rigidas que tendem a transformar-se em 6rgiios diferenciados> Em politica, Spencer é conservador, mas de uma for- ‘ma inteiramente’diversa da de Comte. Pate cle_2-sci9, ind lesempenha um pabel_auase nulo.7 ir sientes que se i Ges OF = fpdiias, 10 proprio temperamento da populagio 6 0 ‘verdadeiro arbitro de seus destinos. Destarte, qualquer tentativa isolada de mudanga, mesmo proveniente de uma ditadura de sébios, como sonhava Auguste Comte, pare- ce-lhe desarrazoada, A adaptagio das sociedades 4s novas circunstincias surge de maneita espontinea. Spencer empenha-se em extrait uma lei geral da evo- Tugao das sociedades. Dis is des; 1°) o militar, onde predomina a coergio e a forga (regime feudal); 2.°) 0 industrial, baseado na divisio de trabalho, ‘onde predominam os sdbios, os engenheiros e os indus- triais("). Neste particular, a evolugio, a9 menos em seu estado parece confirmar as concepgies de Spencer: 0 progresso 0 ‘Ademuls,Soenes fol considera 0 pi inal funda dor do organicismo, devido as ‘a opis ive deseavolvet “SEES a Genes Taogten sos con -cephieas Has, segundo acentua, no organismo animal existe apenas um tecido sensorial para o conjunto, enquanto no corpo tordas as partes dispGem do mesiag- ‘Dal Tnfere usta con- seqiigncia muito importante: visto que a consciéncia social nifo existe no todo, mas apenas nos individuos, o objetivo da vida social € 0 individuo. Logo, 0 todo deve servir & arte © nao reciprocamente Nietzsche ¢ @ reagio anticristd (1844-1900): Pode- mos dizer que, até 0 fim do século XIX, todos os socié- logos, fossem cles mais filésofos, mais moralistas ou dou- tsindtios politices, tinham — dentro da diversidade de suas opinides — um ponto comum: mesmo itteligiosos, admitiam todos os valores morais cristios (0 Marqués de Sade constitui a tinica excegio, embora de um gener muito especial). Nietzsche no € um sociélogo na expressio da pala- va. Contudo, desempenha indiretamente um papel de grande importincia no pensamento social ¢ politico. Pois, foi o primeito a romper com a tradigéo do amor ao povo, ¢ do igualitarismo, a0 menos espiritual, que reinou desde © inicio do cristanismo. Campeio de'uma moral. atisto critica, postula que é preciso, sem hesitacio, sactificar as Iassas aos melhores. Além disso, quis eximit os “super. romens”” até das deveres de caridade que 0 Deuterond mio, 0 Evangelho ¢ 0 Alcorfo impéem aos poderosos. Ao verdadeito atistocrata tudo & permitide. Eo niilismo desesperante para as massas ¢ inebriante para 0s senhores. industrial nfo 6 no afastou a guerra, como, a0 que tudo indica, tnexowa a indistrs. Daf resultou a ma ampliagio e transforma: ‘fo em guerra total. A indstia converteuse em setvidora prove dora da: guerra 70, E com redobtada violéncia afirma « santificagio romin- tica dos impulsos. “E quando domarmos nossas_paixdes, © que nos restaré?” Acima de tudo, Nietzsche coloca uma ‘espécie de libido dominandi que designa como a “vontade de poder” ¢ a “exaltacio dionisiaca”. Estas devem situar- -se “além do bem ¢ do mal” permanecer imunes a qual- quer piedade. Nietzsche prognosticara que 0 “‘século XX seria a era léssica da guerra” ¢ foi profético. Servido de uma elo- ‘qiiéncia apenas comparivel a de J-J. Rousseau, exerceu enorme influéncia, tanto mais vasta quanto multiforme. Pois, o singular da exaltagfo nietscheana é 0 fato de nto podermos extrair dela a menor parcela de um programa determinado. Tomemos de inicio o seu_personagem prin- cipal: o “'super-homem”. Este sera um iogue, um fildsofo céptico ou um bandido? A nova elite dos super-homens set uma aristoctacia hereditéria, uma casta sacerdotal, um sinédrio de sibios, de poetas ou de téenicos, de politicos audaciosos ou de chefes militares? Como vimos, todos 08 socidlogos tentaram responder a estas perguntas, Nietzs- che, porém, as deixou na confusio. ‘O mesmo se verifica nos demais aspectos de sua dou- trina. A “vontade de poder” consistiré em tiranizar os ‘escravos, em se entregar a um banditismo sem escrpulos ou em exercer sobre si mesmo um império absoluto? A ‘atitude militar da alma” significaré a bravura fisica de um matamouros ou a inuepides de um pensamento rebelde a todo principio de autoridade e a todo conformismo?(?).. (2) Este siltimo ponte € o tinico que Nietasche expressou com alguma clareza, pois, assim, como lutou contra ctistianismo, ombiteu 0 espltito de fidelidade e submissio gregétia, tradicional fentre of alemacs. Para compreendermes a moral nitzscheana, deve- Imos considera, sinds, o seu carfter de compensagio. individual, ‘pois 0 teirico do superhomem, bem longe de ser una expécie de Anjo rebelde, eza pessoalmente fraco, doentio, imido © escrupuloso. a

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