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CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL
CURSO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL
Santa Maria, RS
2018
Andressa Roana Costa Schley
Santa Maria, RS
2018
Andressa Roana Costa Schley
________________________________________
Denise Ester Ceconi, Profª Drª. (UFSM)
(Presidente/Orientadora)
_________________________________________
Ana Maria Thielen Merck, Profª. Drª. (UFSM)
_________________________________________
Suelen Aires Gonçalves, Socióloga Mª. (UFRGS)
Santa Maria, RS
2018
AGRADECIMENTOS
(Florestan Fernandes)
RESUMO
Basic sanitation in Brazil is still a service with deficient coverage. Nearly 50% of the
population does not have access to sanitary sewage, a common characteristic of the
poorest places. To change this reality, public policies and actions that promote social
and environmental development are needed. In a situation of marked social
inequality in 1991, the National Movement for Struggle for Housing (MNLM)
articulated an occupation that became the current neighborhood of Nova Santa
Marta, Santa Maria, RS. The present study aims to analyze access to basic
sanitation in the neighborhood over the years, considering the intervention of social
organization and the implementation of public policies. For this purpose, a qualitative
exploratory research was carried out, which involves bibliographical survey, field
visits and interviews with social actors involved in the processes of access to basic
sanitation, being residents and public representatives. Access to basic sanitation in
Nova Santa Marta is a result of the social engagement of the residents and the
actions of public policies and investments. Government efforts to work directly in the
neighborhood, in a democratic and participatory manner, cooperated in the social
development and autonomy of the community. The PAC (Growth Acceleration
Program) made possible in 100% of the neighborhood works of domestic sewage,
storm drainage, water, lighting and paving.
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................... 13
1.1 OBJETIVOS .............................................................................................. 14
1.1.1 Objetivo Geral ......................................................................................... 14
1.1.2 Objetivos específicos ............................................................................. 14
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA................................................................ 15
2.1 SANEAMENTO BÁSICO PARA O DESENVOLVIMENTO DO PAÍS ........ 15
2.1.1 Desenvolvimento .................................................................................... 15
2.1.2 Saneamento básico ................................................................................ 17
2.1.3 Situação do saneamento básico no Brasil ........................................... 19
2.1.3.1 Situação do saneamento básico em Santa Maria, RS .............................. 22
2.1.3.2 Caracterização social do acesso ao saneamento básico ......................... 24
2.2 LEGISLAÇÃO VIGENTE........................................................................... 25
2.2.1 Legislação Nacional ............................................................................... 25
2.2.2 Legislação de Santa Maria, RS .............................................................. 26
2.3 POLÍTICA PÚBLICA ................................................................................. 26
2.4 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA ........................................................ 27
2.5 A HISTÓRIA DA OCUPAÇÃO NOVA SANTA MARTA ............................. 30
3 MATERIAL E MÉTODOS ......................................................................... 32
3.1 ÁREA DE ESTUDO .................................................................................. 32
3.2 METODOLOGIA ....................................................................................... 34
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................ 39
4.1 PARTICIPAÇÃO SOCIAL E O ACESSO AO SANEAMENTO BÁSICO ... 39
4.1.1 Primeiras políticas públicas para saneamento .................................... 45
4.1.2 Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) ................................. 50
4.2 OBRAS E PROJETOS .............................................................................. 57
4.3 SITUAÇÃO ATUAL ................................................................................... 59
4.3.1 Percepção sobre o saneamento ............................................................ 59
4.3.2 Conflitos socioambientais ..................................................................... 61
4.3.3 Regularização fundiária urbana ............................................................. 63
4.4 MELHORIAS NECESSÁRIAS A PARTIR DA PERCEPÇÃO DOS
ENTREVISTADOS .................................................................................................... 64
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................... 66
BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................ 70
13
1 INTRODUÇÃO
1.1 OBJETIVOS
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1.1 Desenvolvimento
recurso como uma moeda de troca, essa redução do meio ambiente a valores
econômico causa a destruição irresponsável (SOUZA, 2000; GADOTTI, 2005;
OLIVEIRA, 2005).
É inviável alcançar mudanças substanciais sem transformar as estruturas que
regulam o sistema econômico e político, principalmente os que tangem a
propriedade, o controle, o acesso e o uso dos recursos naturais, ou seja, é preciso
encarar interesses e poderes. Outra crítica à sustentabilidade é quanto à visão
ambientalista de tratar as questões ambientais separadamente das questões sociais.
O verdadeiro desenvolvimento sustentável deve considerar igualmente as questões
sociais, as ambientais e as econômicas (VEIGA; ZATZ, 2008).
Celso Furtado (2000) defendia um Projeto Nacional de Desenvolvimento no
qual o Estado tem o papel de garantir as condições básicas à população e conduzir
o desenvolvimento. O combate à pobreza é estratégico para o desenvolvimento dos
países, e para isso, é necessária a adoção de políticas públicas de saúde, habitação
e saneamento básico, entre outras, prioritárias para a população de classe baixa, e
de forma que envolvam os estados, os municípios e as próprias comunidades
beneficiadas. Logo, a presença do Estado é essencial para a comunicação entre
povo e governo, da qual deve resultar menos pobreza e mais cidadania. Na
ausência do Estado, a economia ao invés de diminuir, aumenta as desigualdades
sociais (ALBUQUERQUE, 1995; FURTADO, 2000).
O não atendimento das necessidades básicas da população representa uma
ameaça ao desenvolvimento, é necessário encarar a política social como parte
integrante do processo de desenvolvimento de um país, e não mais acreditar que
será uma consequência natural do crescimento econômico (ALBUQUERQUE, 1995;
SOARES, 2011).
Fonte: IBGE, 2008 - Pesquisa Nacional de Saneamento Básico. Adaptado pela autora.
Fonte: IBGE, 2008 - Pesquisa Nacional de Saneamento Básico. Adaptado pela autora.
100,00%
95,00%
90,00%
85,00%
80,00%
75,00%
1 O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) foi criado em 2007 pelo Governo Federal através
do decreto nº 6.025. Foram destinados recursos públicos a obras de infraestrutura social, urbana,
logística e energética do país, a fim de aumentar o crescimento da economia através da renda e
consumo dos trabalhadores, visando o desenvolvimento acelerado e sustentável. Em 2011 houve a
segunda fase do PAC com aprimoramento e mais recursos (PAC, 2017).
24
Foi com base nessa formação social que se deu a transição para o sistema
capitalista no Brasil. “A opressão de uma raça sobre outra serve aos interesses da
exploração de uma classe sobre outra” (AFONSO, 2018). O racismo oprime e divide
a classe trabalhadora, e, assim, serve à consolidação e manutenção do sistema
capitalista, que perdura até hoje. Associa-se a essa realidade uma série de outras
desigualdades permeadas pelas relações de gênero, condição de saúde, orientação
sexual e, ainda, desigualdades regionais (GUIMARÃES, 2017). Ou seja, os mais
atingidos pela exploração e pela desigualdade social atual são os historicamente
mais explorados. Por isso, há a necessidade urgente de formulação de políticas
públicas que reparem essa dívida histórica e promovam de fato um desenvolvimento
social equitário (MOTTA, 2013).
3 MATERIAL E MÉTODOS
Figura 5 – Mapa de localização de Santa Maria, RS, e do bairro Nova Santa Marta.
Figura 6 – Unidades residenciais do bairro Nova Santa Marta, Santa Maria, RS.
3.2 METODOLOGIA
criado em 2013 (IPLAN, 2018), portando não existia quando foram realizadas as
obras do PAC na Nova Santa Marta, entretanto o contato foi realizado em busca de
dados e mapas.
As entrevistas com moradores do bairro foram realizadas no local de moradia
das pessoas, exceto duas que foram realizadas por telefone. A entrevista com o
representante da Sehab, da Corsan e da empresa Magma Engenharia foram
realizadas por telefone. A entrevista com o representante da gestão 2001-2009 da
prefeitura foi realizada na Universidade Federal de Santa Maria, e as entrevistas
com o engenheiro da prefeitura e a representante do IPLAN foram realizadas em
seus respectivos locais de trabalho. As respostas das entrevistas foram devidamente
anotadas, sendo que algumas foram gravadas e posteriormente transcritas conforme
consentimento da pessoa entrevistada.
A porta de entrada ao bairro foi através de pessoas conhecidas pela própria
autora da pesquisa. Foram entrevistados, então: moradores, lideranças, moradores
indicados pelos próprios entrevistados e moradores que se aproximaram da autora
durante as visitas de campo. Todos os entrevistados moram na Nova Santa Marta
desde o início dos anos 90, sendo alguns desde o acampamento em 1991, outros
desde os primeiros anos de ocupação. Das entrevistas realizadas no bairro 2/3 eram
mulheres.
Para obter os relatos de história de vida nas entrevistas foi pedido à pessoa
entrevistada contar como foi o acesso ao saneamento básico no bairro. As
entrevistas foram guiadas de modo a compreender como era o acesso à água e ao
esgoto durante o acampamento, como era esse acesso nos primeiros anos de lotes,
qual era a situação do esgoto pluvial, quais eram os problemas gerados pela falta de
saneamento, o que foi mudando ao longo dos anos, quais foram as primeiras obras,
quando e como foi cada processo. Essas entrevistas possibilitaram coletar dados
quantitativos das obras e acesso a arquivos fotográficos. Além disso, buscou-se
compreender com as entrevistas o que motivou as pessoas a ocuparem, e qual a
participação delas com a organização social do bairro.
Com base nas entrevistas dos moradores foram procurados os órgãos
públicos envolvidos com o acesso do bairro ao saneamento básico. Por isso, foram
entrevistados representantes da primeira gestão (1999-2003) da Secretaria Especial
de Habitação do Estado do Rio Grande do Sul (Sehab), representantes da gestão
2001-2009 da Prefeitura Municipal de Santa Maria, engenheiros responsáveis pelas
37
Entre- Local da
Descrição Gênero Ligação com o bairro
vistada entrevista
Mora no bairro desde o acampamento
1 Moradora Masculino Casa da ocupação em 1991, quando tinha 5
anos de idade
Mora no bairro desde o acampamento
2 Moradora Feminino Casa da ocupação em 1991, com marido e
filhos. Foi liderança
Mora no bairro desde 1992 com marido.
3 Moradora Feminino Casa
Foi liderança
Mora no bairro desde o acampamento
4 Moradora Feminino Casa da ocupação em 1991, com marido e
filhos
Morou no bairro desde 1995 com a mãe
e irmãos. Se mudou para estudar na
5 Moradora Feminino Telefone
UFRGS. A família continua no bairro. É
liderança
Acompanha a ocupação desde o início
quando era estudante da UFSM,
morador da CEU II. Foi morar no bairro
6 Moradora Masculino Telefone
em 1997. Se mudou recentemente para
trabalhar pelo MNLM em outra cidade.
É liderança
Fundador nacional do MNLM. Se inseriu
Sehab
7 Masculino Telefone no bairro através dos trabalhos da
1999
primeira gestão (1999-2003) da Sehab.
Morador da Tancredo Neves,
acompanha a ocupação desde o início
Prefeitura
8 Masculino UFSM em 1991 através de apoio solidário.
2001-2009
Trabalhou com o bairro durante as
gestões da prefeitura de 2001 a 2009
Engenheiro Engenheiro da prefeitura responsável
9 Masculino Prefeitura
prefeitura pelas obras do PAC no bairro
Engenheiro Engenheiro responsável da Corsan
10 Masculino Telefone
Corsan durante as obras do PAC no bairro
Engenheiro que acompanhou uma parte
Engenheiro
11 Masculino Telefone das obras de esgoto realizadas pela
Magma
Magma Engenharia no bairro
12 IPLAN Feminino IPLAN Arquiteta representante do IPLAN
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Tem que entender um pouco os anos 90, por um lado no meio rural o MST
no auge das ocupações, uma época ruim, governo do PSDB, desemprego
lá em cima. Em Santa Maria, se tu olhar para a Nova Santa Marta, tu
imagina que aquilo era um vazio urbano gigantesco, em volta tinha
população, duas Cohabs grandes, rodeado de vilas mais pobres, então tava
pedindo para ser ocupado.
Está na constituição que todos têm direito à moradia. Se todos tem direito à
moradia é dever de quem? Do Estado. Mas só está na Constituição porque
quem garante são os movimentos sociais. E a gente garante com a
ocupação.
antiga Fazenda Santa Marta. As 33 famílias logo se tornaram 100, 200, 300 pessoas
até o amanhecer (Entrevista). Uma entrevistada define a diferença entre invasão e
ocupação e relata:
Não é invasão, eu não fui lá invadir tua casa, é ocupação. A gente ocupou
um terreno, eu ocupei uma área. Invasão é invadir uma área privada. O
governo tomou a terra da fazenda Santa Marta por falta de pagamento e a
área ficou aí sem uso. O gado que tinha era de outras pessoas que se
utilizavam. Os proprietários nem existiam mais. Aí o movimento e mais
outras pessoas se reuniram para ocupar.
Figura 7 – Placa da Avenida Secundária, primeira rua a ser loteada na Nova Santa
Marta, Santa Maria, RS.
Fonte: Autora.
41
Para o banheiro cada família havia construído sua patente externa à barraca,
barraco ou a casa (Figura 8a). O banho era de bacia e caneca, no inverno
esquentavam a água no fogão à lenha. Ao longo do tempo algumas famílias
improvisaram chuveiros de lata (Figura 8b).
Silva (2017) relata o quanto as mulheres são as mais afetadas pela falta de
saneamento. Algumas especificidades relevantes são a dificuldade de higiene nos
banhos de balde e caneca, principalmente no período menstrual, e para lavar os
cabelos. Além disso, são as mulheres que dedicam a maior parte do seu tempo a
buscar água e limpar a casa – como pode ser observado no relato de filas de
mulheres com baldes na bica para buscar água, sendo esse um trabalho de intenso
desgaste físico.
42
Figura 10 – Casa de uma família na ocupação Nova Santa Marta, Santa Maria, RS.
Nós construímos ali na Nova Santa Marta um caso onde a gente jogou as
nossas energias, na articulação democrática, no pensar coletivo com a
sociedade, para as definições do projeto urbanístico, do projeto ambiental,
do projeto de saneamento com a comunidade. Construímos um grupo de
trabalho, com a comunidade, com os técnicos do estado, com os técnicos
da prefeitura. E transformar a experiência da Nova Santa Marta em uma
experiência inovadora, era esse o objetivo.
Uma das políticas adotadas a partir deste período foi montar uma equipe de
técnicos e assistentes sociais no bairro e construir um Conselho Popular do bairro. O
conselho é uma instância democrática de diálogo e atuação conjunta entre a
administração pública e a sociedade civil. Portanto, o conselho era formado por
moradores e representantes do governo. Segundo relatos dos entrevistados, as
reuniões ocorriam a cada 15 dias na sede da comunidade.
A organização dos conselhos se dava da seguinte maneira: Cada quarteirão
tinha um representante eleito (titular e suplente) e reuniões do “Conselho de Quadra”
e cada uma das sete vilas também tinha uma espécie de diretoria. As escolas, por
serem locais de concentração de muitas famílias, eram um canal de diálogo
importante da comunidade. O processo decisório passava, então, pelos conselhos
de quadra e de vila, pelas reuniões com todas as vilas, pelas reuniões com as
escolas e pelo Conselho Popular. Significava o acolhimento das demandas
populares e a decisão democrática das ações do Estado.
Esse processo é pontuado como um momento de muitos avanços no bairro:
“Conselho é desde a primeira vez de governo do Olívio, foi quando deu um up”, “Foi
quando mais avançou a Nova Santa Marta, só não tinha dinheiro”.
Veio o “Pé no Bairro”. Eles vinham nas ruas e passavam patrola. Final de
semana ele (Valdeci) vinha no bairro, nas casas, visitava. Empedrou as
ruas, fez orçamento participativo, tinha uma pesquisa, que foi aí que nós
escolhemos o ginásio na escola. Nós tínhamos o conselho da Nova Santa
Marta. A gente conseguiu caminhar melhor na rua, não atolava mais.
Era legal, era frequente o Rosetto, o Olívio, o Ary Vanazzi que era
secretário de habitação. No primeiro Fórum Social Mundial uma das oficinas
foi na ocupação.
O que era possível foi feito dentro de um debate coletivo, que envolvia o
técnico, envolvia a política e envolvia orçamento. A visão do bairro, tamanho
da praça, onde vai ser a praça, onde vai ser a Igreja, onde vai ser o salão
comunitário, tamanho das ruas. Daí o cara dizia assim: faz uma rua mais
estreita pro lote ser maior, sim, mas daqui 10 anos a gente vai ter mais
casa, mais gente e a rua fica muito estreita. Então tu já ia pensando o bairro
pra 30 40 anos. Porque tu olhava todo o entorno dela, toda aquela área. Vai
ser área rural? vai ser área urbana? Dá pra fazer espaço que seja
rural/urbano. Teve debate de toda aquela região da cidade, não envolvia só
o loteamento ali de 200 - 500 famílias, envolvia todo o entorno também.
que causava mau odor forte e proliferação de vetores e doenças. A fala a seguir
relata esse episódio:
Esse negócio das caçambas vir aqui, imagina assim ó, era tirando aquelas
terras de esgoto, abrindo as valeta e tirando aquelas terras que não
prestava, fedida das valetas, era caçamba saindo era caçamba entrando,
era todo mundo na rua feliz.
Foi nesse momento que houve uma política de acesso universal à água e luz
e colocação de iluminação pública. Houve a construção da caixa d’água. Os
banheiros passaram a ser dentro de casa com a utilização de fossa séptica.
Também surgiram os primeiros postos de saúde da região. O governo
municipal (2001-2009) fez um contrato no qual selecionou algumas lideranças da
comunidade para capacitação e trabalho como agentes de saúde do bairro. Neste
mesmo período houve também a conquista do passe-livre aos domingos e a
liberação de recursos para a creche comunitária e o espaço físico do CRAS (Centro
de Referência da Assistência Social) os quais foram construídos e inaugurados anos
depois.
Além de protagonizar o planejamento, realizar algumas construções, a
comunidade realizava a fiscalização das obras.
através de obras de infraestrutura (PAC, 2017). Na Nova Santa Marta o PAC só foi
possível graças a muita luta e organização da própria comunidade, como é relatado
a seguir:
A Nova Santa Marta sempre foi uma ocupação de presença nacional, sempre
participando do Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM) e das atividades
nacionais. Em 2004 o Governo Federal criou o Conselho Nacional de Cidades para
ser um órgão colegiado de caráter consultivo e deliberativo, parte do Ministério das
Cidades, e o MNLM teve cadeiras de conselheiros representantes (IPEA, 2018).
Dado o exposto, a organização ativa da comunidade, o movimento social de
amplitude nacional, somada à relação direta com o governo federal, foram
essenciais em tornar a informação sobre o PAC acessível à comunidade.
Entrevistados contam que dentro da organização da comunidade sempre
houve uma Comissão de Regularização Fundiária na Nova Santa Marta. Essa
comissão é composta por moradores, lideranças, escola, Igreja, etc., e se reúne
frequentemente a fim de planejar as questões inerentes ao tema. Um representante
da Comissão de Regularização Fundiária conta que, após uma das reuniões da
comissão, viram na televisão noticiar as experiências do PAC na Rocinha e no Morro
do Alemão, no Rio de Janeiro:
O projeto do PAC incluía, então: esgoto cloacal, pavimentação com meio fio,
esgoto pluvial, remanejamentos de rede de água e rede elétrica, e regularização
fundiária. Considerando que, nessa época rede de água e luz já eram serviços
alcançados pelas famílias, seriam somente remanejadas as redes que fossem
interferidas pelas novas obras (Entrevista na Prefeitura). No anexo A consta a planta
de remanejamento da rede elétrica disponibilizada pela prefeitura.
A primeira obra iniciada em 2008, de acordo com informações da prefeitura,
foi a rede de esgoto (Figura 11), a qual contemplava 100% das moradias do bairro.
Previa três estações de bombeamento, toda a rede, até a caixinha de calçada. A
ligação do esgoto à rede ficou a cargo de cada morador. Foi finalizada em 2009 com
mais ou menos 45 km de rede de esgoto cloacal. A planta do projeto do sistema
coletor de esgoto, disponibilizada pela prefeitura, consta em Anexo B. Assim como
as especificações técnicas das estações de bombeamento, linhas de recalque e
redes coletoras de esgoto projetadas em Anexo C e D respectivamente.
53
Figura 11– Tampa de esgoto da Corsan em rua da Nova Santa Marta, Santa Maria,
RS.
Fonte: Autora.
Figura 12 – (a) e (b) Avenida Malman Filho asfaltada, bairro Nova Santa Marta,
Santa Maria, RS.
Fonte: Autora.
Figura 13 – Rua com revestimento primário, esquina com rua asfaltada com boca de
lobo, bairro Nova Santa Marta, Santa Maria, RS.
Fonte: Autora.
55
O PAC pra mim foi as plaquinhas de área de risco. Veio um pessoal aqui e
colocou a plaquinha identificando área de risco, era para gente receber
indenização, mas até hoje nada.
Além disso, nessa época todas as casas passaram a ter relógio de água
individual, como relatado a seguir:
Assim como toda estrutura da ocupação da Nova Santa Marta até então, o
PAC também foi todo decidido e planejado coletivamente. Os relatos pontuam que
ao elaborar a proposta de projeto ao governo, uma das exigências da comunidade
foi de haver o acompanhamento da obra pela comunidade. Por conta disso a
prefeitura construiu uma sede do PAC no bairro e disponibilizou uma equipe técnica
para executar a obra na Nova Santa Marta que reunia periodicamente com uma
equipe de acompanhamento da comunidade. A comunidade, então, acompanhava
todos os passos da obra, decidiam quando, por onde e de que maneira iriam
começar as obras, acompanhavam o cronograma, sabiam os motivos dos atrasos,
participavam das resoluções de problemas e imprevistos. Segue relato:
56
A gente se propôs a pensar, já que é para nossas vidas, vamos fazer legal.
Também porque tinha um governo disposto a fazer isso. E as empresas
eram parceiras. Muitos vizinhos que estavam sem emprego começaram a
trabalhar nessa empresa, na obra da própria comunidade, então tinha outra
relação. Era uma relação boa com a vizinhança inteira. A obra em si foi uma
baita experiência.
É Brasil, por isso hoje as obras dá aditivo direto. É básico, não tem uma
sondagem mais precisa. Quando vai abrir o trecho começa a desmoronar, já
dá um volume maior de terra, porque não foi feito uma sondagem.
Isso não dá no orçamento do governo nunca. Por isso que todas as obras
do Brasil dá aditivo. Bom, quando dá aditivo tu acaba a obra. Quando dá
aditivo além do 25% da lei de licitações, tu faz a obra, usa os 25% e tem
que relicitar para acabar. Por isso as obras ficam nessa morosidade. Esse é
o problema, é projeto básico, não é projeto que tu chega lá e sabe onde tá
pisando.
Fonte: Autora.
60
Figura 15 – (a) e (b) Residências sem ligação à rede de esgoto doméstico, bairro
Nova Santa Marta, Santa Maria, RS.
Fonte: Autora.
Já foi da ordem porque era esgoto a céu aberto, muita doença, muito
mosquito, naquele período anterior era um problema sério que impactava na
área da saúde. Era visível, nítido, porque estava na tua cara. Hoje algumas
pessoas se preocupam, mas são as pessoas que não tem acesso à rede.
Ninguém mais entrou depois do PAC.
de esgoto, era gente que era muito pobre mesmo” (Entrevista). É um processo que
causa impactos sociais e ambientais.
A nova ocupação na Nova Santa Marta, conhecida como 18 de Abril, reflete
os impactos socioambientais vividos. No fundo da ocupação, na área em volta da
caixa d’água, existe uma área de areia e vegetação frágil, na qual aflora água e que
os moradores dizem ser uma área de recarga do Aquífero Guarani (Figura 16).
Fonte: Autora.
É uma polêmica hoje, é uma das áreas que mais está sofrendo pressão de
ocupação hoje na Nova Santa Marta. O movimento tem a posição de ser
contrário à ocupação adensada dela. Mas é complicado, todo mundo quer
terreno para morar, mesmo sendo banhado, o desespero bate.
Tem lugares que o esgoto já tá saindo, tem bueiro quebrado, tem muitos
pontos precisando de manutenção. Por exemplo, teve uma rua que teve um
acidente, um caminhão caiu, e aí quebrou embaixo, e até hoje tem esgoto
vazando. É uma rua importante que tem esgoto vazando. A gente cobra de
todos os prefeitos mas ninguém faz.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
BIBLIOGRAFIA
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2007.
G1. 'Os negros saíram da senzala para morar na favela', diz ministro. Jornal G1.
São Paulo. 13 de maio de 2008. Disponível em:
<http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL464569-5598,00-
OS+NEGROS+SAIRAM+DA+SENZALA+PARA+MORAR+NA+FAVELA+DIZ+MINIS
TRO.html>. Acesso em: 27 de junho de 2018.
IPEA. Participação em Foco - Conselho Nacional das Cidades. 2018 Disponível em:
<http://www.ipea.gov.br/participacao/conselhos/conselho-nacional-de-combate-a-
discriminacao-lgbt/134-conselho-nacional-das-cidades/270-conselho-nacional-das-
cidades>. Acesso em 02 de julho de 2018.
MNLM-RS. Perfil. Blogspot. Rio Grande do Sul, julho de 2007. Disponível em:
<https://www.blogger.com/profile/06047265700325978388>. Acesso em: 29 de
junho de 2018.
Nova Santa Marta: 25 anos. Direção de Pâmela Rubin Matge e Rafael Sanches
Guerra. Santa Maria. Diário de Santa Maria, 2017. Disponível em: <
https://www.youtube.com/watch?v=NcJiwBIH-Js&t=47s>. Acesso em: 01 de junho de
2016.
POCHMANN, M. Anos 90, uma nova década perdida? Folha de S. Paulo. São
Paulo, 05 de maio de 1998. Disponível em:
<https://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi05059804.htm>. Acesso em: 27 de
junho de 2018.
SILVA, et al. A relação entre Estado e políticas públicas: uma análise teórica sobre o
caso brasileiro. Revista Debates. Porto Alegre, V. 11, n 1, p. 25 – 42. 2017.
75
Anexo A – PLANTA DE REMANEJAMENTO DE REDES ELÉTRICAS DO BAIRRO NOVA SANTA MARTA, SANTA MARIA, RS.
77
Anexo B – PLANTA DE REDE DE ESGOTO DO BAIRRO NOVA SANTA MARTA, SANTA MARIA, RS.
78
Anexo E – PLANTA DE PAVIMENTAÇÃO DO BAIRRO NOVA SANTA MARTA, SANTA MARIA, RS.