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Abstract: Structural, discoursive and social constraints are important to understand the
variable use of the imperative form in Brazilian Portuguese. In this paper we aim to
discuss the role of structural constraints, specifically the influence of syntactic and
phonological aspects on the use of variants in the indicative form (Me liga ‘Call me’)
or in the subjunctive form (Ligue para a NET Rio ‘Call the Company NET Rio’).
A pesquisa está sendo conduzida com base nos princípios teóricos da Teoria da
Variação Lingüística que pressupõem uma dissociação entre estrutura lingüística e ho
mogeneidade, com o conseqüente estabelecimento de uma nova concepção de língua,
associando a ela a noção de heterogeneidade ordenada como uma característica necessá
ria. Neste sentido, diferentemente da idéia de gramáticas em competição (cf. Lightfoot,
1999:92-101), a língua é concebida como uma estrutura inerentemente variável e a su
posta variação livre como passível de descrição sistemática, em função de restrições
lingüísticas e não-lingüísticas, o que implica a aceitação de motivações internas e/ou ex
ternas em competição na descrição e explicação dos fatos lingüísticos (cf., por exemplo,
Weinreich, Labov & Herzog, 1968; Labov, 1975; Sankoff, 1988a; Labov, 1994).
Para o tratamento quantitativo dos dados, estão sendo utilizados programas com
putacionais apropriados – o pacote varbrul (Pintzuk, 1988). A versão binária do progra
ma de regra variável fornece pesos relativos associados aos fatores das variáveis inde
pendentes, em função do seu efeito sobre as variantes do fenômeno lingüístico analisa
do. Adicionalmente, fornece a seleção das variáveis estatisticamente significativas e a
exclusão das não-significativas. O efeito dos fatores deve ser lido em função de suas di
ferenças numéricas: quanto maiores forem, mais polarizado é o efeito, tanto em termos
de favorecimento ou de desfavorecimento de uma dada variante. Os pesos relativos das
tabelas a serem apresentados foram calculados em função da variante na forma indicati
va; o peso em relação à forma subjuntiva é exatamente o completo para 1 (um) (San
koff,1988b).
3. Análise
Conforme já dissemos, nos eventos de língua escrita de propaganda que não en
volvem diálogo, a expressão do imperativo se faz predominantemente por meio da for
ma subjuntiva. Alguns exemplos podem ser vistos a seguir num texto contendo instru
ções de atitudes com os filhos na hora de dormir (negritos e itálicos são nossos):
NA HORA DE DORMIR
Mantenha uma rotina diária normal
Diminua os ruídos da casa
Evite brincadeiras antes de dormir
Massageie a criança com amor
Passe alguns minutos com seu filho no quarto, abrace, beije, despeça-se,
saia e apague a luz (Correio Braziliense, 26 março de 1999, Sexta Dois,
Pais e Filhos – Dicas dos Livros, p.2, c.4)
1 Leite (1994:10-11) foi a responsável pela introdução da variável presença/ausência de pronome e pela
posição que ele ocupa na oração. Ampliamos o entendimento desta variável, com a especificação do tipo
de pronome. Por ora, não tivemos nenhum pronome me posposto ao verbo. Uma outra variável do traba
lho de Leite (1994) que merece destaque é a associação do uso do imperativo na forma indicativa a falan
tes representando personagens autoritárias e do uso do imperativo na forma subjuntiva a falantes repre
sentando personagens passivas, mostrando de forma indireta nuances semânticas (realis/diretividade vs.
irrealis/indiretividade) que possam estar envolvendo as duas variantes. Aspectos como estes ainda têm de
ser mais explorados.
Em síntese, subjacente às três circunstâncias que favorecem o uso do imperativo
na forma subjuntiva está uma razão de natureza sintática: possibilidade de preenchimen
to da posição de sujeito, com ruptura da leitura imperativa ou com o estabelecimento de
estranhamento estrutural.
A continuidade da análise dos dados de língua falada revelou três outras restri
ções interessantes, entre as quais destacamos neste texto duas relacionadas ao compo
nente fonológico: uma delas diz respeito ao número de sílabas da forma verbal na forma
infinitiva; a outra diz respeito ao paralelismo fônico.
O segundo aspecto analisado que tem relação com componente fonológico, cuja
explicação se situa fora da estrutura interna da língua (Scherre, 1988; no prelo; Scherre,
1998), diz respeito à influência da natureza [+-aberta] da vogal das formas verbais con
jugadas em verbos regulares da primeira conjugação: fala/fale; espera/espere;
olha/olhe; alonga/alongue; perdoa/perdoe; senta/sente; analisa/analise; procura/procu
re, variável denominada paralelismo fônico (Tabela 4).
Embora a taxa global de uso do imperativo na forma indicativa nos dados de lín
gua falada aqui analisados seja da ordem de 80%, se ocorrer uma forma subjuntiva nos
verbos regulares da primeira conjugação, ela terá mais chance de ocorrer se a vogal
imediatamente precedente da forma verbal conjugada for uma vogal [-aberta], como em
procure ou use.
4. Palavras finais
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
fases, registramos os nossos sinceros agradecimentos. E, a quem por ela se interessar, estamos abertos
para fornecer os bastidores da nossa análise.
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