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ora pass ee = Apresentacdo geral CO capitulo I, que agora seincia, seis subcapitulos, cada um dos quais Corresponde ao dominio da Educa Liter. st orgoizado em cerrado no estudo das obras terra indcadas no Programa De uma breve observaio dos conta programsticos do dominio da Educaio Litera hr pes vat focimente se conclu que estes Seguer um criti dacrénico ou sea 0s texts so apresentados porordem cronolégica, Nessesentido,no 10% ane ostestos teas. etude vb, sesielmente desde oséulo Xa séclo XV Este percurt dlacténico no exclu, contudo, uma eflexosincinica, it & uma efleo que envoheo tempo histrico em que cada um desses txts fi produ contextalagiohstricolitersi). Oprimeiro subcapitulo é dedicado & poesia tovadoresca enele serdo analisadas as diferentes manifes- togbesliterras que essa poesia assum + catigas de ago; + canigas de amor + camigas de escérioe male. Para cada um destes géneros poéticos ser tidos em conta os seguintes aspetos: Representagdes de afetos e emocoes Espacos medievais, protagonists e circunstincias + Linguagem, estilo eestrutura isa drumeanaero delete Primeramente estes aspetosserdoapresentados emi dos em subtpicos eer funcBo das cantigas especticas exporadas i ais, Numa segunda fase, sero analisa- 35 Cree Las vOE Contetdos essenciais @.Contextualizacao histérico-literdria, Espacos medievais, protagonistas e circunstancias Poesia trovadoresca é a designagio dada ao conjunto de composigbes poéticas medievals, enquad cavemen pee eins smc eave oar pease Pap roca também nos renos de Castel, Leo e Aragéo, por poetas que, pare além de comporem esses poems? fartians~tocavam e cantavar,sendo por isso chamados rovadres. Regia. gral 0s ovadores eam? < origem nobre e dedicavarse ao oi de compor e musicar poems apenas por Prazer, por delete, Sem dai etrare qualquer proveito material poesia trovadorescafloresceu durante ldade Média, mais concretamente durante © periodo que se estende de meados do século Xia meados do século XIV. Em termos histricos, politicos, sociais e econémicos, as seguintes expresses permitem-nos caraceri- {ar esse period: + Teocentrismo + Reconquista Crista + Feudalismo + Culture mondstica vs. cultura profana A sociedade medieval & profundamente marcada pela religio, vivida deforma intensa e permanente Deus € 0 centro do mundo e de tada a vida do ser hum iano ~teocentrismo. As romatas, as peregrinacées, 5 festasreligiosas eram momentos de demonst racio de fe, de devogéo, mas também de contacto entieas Populacoes, de alegria e diversio, & que traziam consigo a masica, a danca, 0 canto. A importincia de Deus © da fé cists € ainda atestade pela lta contra os ins, levada a cabo nas Cruzadas quer a orente (erusalém) quer ocidente, como aconteceu na Peninsula lbérica Este ¢, ads, um periodo de lutas e querras, motivadas ndo s6 por questies reigiosas, Por questdes poltcas, geoarsficas ou mesmo pessoas. No século Xl. a Peninsula Ibérca estava dvcidy em muitos reinos, Para além do Condado Portucalense, depois ansformado no reno de Portugal havia 05 einos da Galiza, Leto, Castela, Navara, Aragéo, Catalunha. Estamos no inicio das nacionalidades ibe «25, pelo que as lutas entre estes reinos eram frequentes eas fronteiras muito voldtels, ‘como também Por outro lado, a Peninsula Ibérica viva a Reconquista Crista. Com efeto, nos séculosXlle Xl, os mo- harcas portugueses, com a ajuda da classe guerreira e de cruzados vindos que fazem os trobadores descubertamente: e elas entrardm palavras e que queren dizer mal e nom aver outro entendimento se nom aquel que querem dizer chaam*. Assim, nas cantigas de escarnio, a critica é mals subti, ndo sendo revelada a identidade de quem se E critica. Nas eantigas de maldizer, a critica é mais direta, identificando-se 0 alvo visado. 1 Antec Trovar do Cancanero da Bbloteca Nacional de Lisboa, Introddo, ego crtcae fac simile por Giuseppe Tavant, Lisboa, Colibri 2002, 2 Encobertas mascaradas. 3 Demedo simples car. ligeira- ‘Ai dona fea, fostes-vos queixar Dona fea, nunca vos eu loet «em meu trobar, pero muito trobei cra ja um bom cantar farei em que vos loarei todavia direi-vos como vos loarel: dona fea, velhae sandiat Ai dona fea, fostes-vos queixar que vos munca louven'[o] meu cantar; mais ora quero fazer um cantar ‘em que vos loarei todavia; ce vedes como vos quero loar: dona fea, velhae sandia! Dona fea, se Deus mi pardom, Joo Garcia de Guitade (B 1486, V 1097) pois havedes [altam gram coragom que vos eu loe, em esta razom yo Vos quero jd loar todavia; Glossirio evedes qual seréaloagom: Sa at dona fea, velha e sandia! ¥.6-pois havedes [altam gram coragom ended 9-emestarazom - poreste motivo Maldizer ds Trovadores {ed pero=ainda que, pois ‘Graga Vieira Lopes, Canigas de Esedrnto yograls Galego Portuguese, Lisboa, Edtorll Estampe, 2002 p-207 Caracterizagao tematica 1s eantigas de escémio jé que se critica, de sdra-se nas chamad 1a dona (aludindo-se, Jerido), a atitude, 0 comportamento de um ser louvada, apesar de néo possulratributos para tal, « A composicio apresentada enqua forma indireta (0 nome nunca é re assim, a senhor das cantigas de amor) que quer pois é “fea, velha e sandia’. 1 cantiga 6 também considerada uma pares 0 irénico e comico. do amor cortés, pois € uma imita + Por essa 12280, est Je uma cantiga de amor com um propésit ‘evidente ao longo da cantiga. Vejamos: louvada e manifestou um grat ‘quero fazer um cantar /em qu 1 serd a loagom” (2.*estrofe); good + Rironiaé, lids, a dona queixou-se de nao ser ‘aceder a esse desejo ~ “mais ora {quero jd loar todavia; /e vedes qual que vos loare todavia" (3. estrofe = no entanto, apesar de o sujeito poet 1 repetido no reo &: “dona fea, vlha esanci!” iar-e no uma dona bela, jovern € com amor, mas antes uma mulher cuja ima inde desejo em sé-lo; 0 poeta parece re vos loarei todavia” (1.* estrofe); ‘vos “mais ora é um bom cantar farei/em io lowvar a dona, néo o faz da maneira que esta pretenders uma vez que 0 louvor mico que se cria a0 elogi + O reftdo assinala, assim, 0 efeito co sda nas cantigas de ‘bom senso, como é habitualmente retrata gem é extramente negativa. Marcas das cantigas de escarnio lentificacao direta, pom? « ettca a0 objeto de louvor~ “dona fe, velhae sandia’ -,evtandorse 6 para o escémio e para asatira, «A finguagem rude (s vezes, grossa) ests idetifcada com a poesia satica, Ven S6 2 titulo de cexemplo,atripla adjetivacdo do refréo: “ea, velha e sania". —__——aal Roi Queimado morreu com amor Roi Queimaclo morteu com amor +» Eom ha jf de sa morte pavor, ‘em seus cantares, par Santa Mar senom sa morte maisla temeria, pordia dona que gram bem queria; mais sabe bem, per sa sabedoria, ‘epor se meter por mais trobador, que viverd, des quando morto for; « porqueiela nom quisfo] bem fazer, « faz-[s] em seu cantar morte prender, feze-sl em seus cantares morrer; 1» desi arvive:vedes que poder _maisressurgit depois ao tercer dia. que lhi Deus deu - mais quen’o cuidaria! Esto fez el por asa senhor semi Deus a mi desse poder que quer gram bem; e mais vos en ditia: qual hojel hs, pois morrer, de viver, '» porque cuida que faz i maestra, jamais [eu] morte nunca temeria cen’os cantares que fez ha sabor demorterie des dar viver Bere cue neat (61380, v 989) Esto fazel, que x’ pode fazer, mais out’homem per rem nono faria, ‘Gaga Vide Lopes Cantgas de Bene Mader ds Toradores logras Galego Portuese Lisboa, Bari stampa, 202 pA lossrio 1 1= Roi Quaimado- poeta rovado que vive nosrsnador dD. Mono Le dO. Dini ‘4 porse met por mats Dobador-parase dae de pander 15am quis om cer coresponder 2 Seu amor 10 far iaearia far vesos como mest {E11 abor~terprazer ‘12 ederiar vier dade enti torm viet ‘14—perrom- pores neu mio noo 1 20-derfar vite depos dia vols ave 121 mat que culdaia- mats que poder repor 1 23-potemorer denser -(o pode} ds depots demovce re Caracterizacéo tematica + Nesta cantigaéfita uma critia deta eexplicita a um poeta Roi Queimad — que, nas suas compo- sigdes e por causa do amor por uma dona, estava sempre a morrer,mascontinuavaa vive. Trata-se, por sso, de uma cantiga de maldizer, que pde2ridculoo comportamento desse poeta + Citca'se assim, de forma mordaze irdnica, a morte de amor ti convencional, to frequente eat al das cantigas de amor: ~ Roi Queimado afrou nas suas cantgas que estave t80 apabxonado por uma dona que, por ea, rmorreu de amor ~ fez tudo ito para provar que era um trovador com grandes qualidades('e por se meter por mais trobador ~ oproblema é que parece ter essusitado a0 terceiro dia pols ainda esta vivo (mais ressurgiu depois ao tercer aa’. + Para satiizar 0 poder que Roi Queimado parece ter, 0 de morrere depois vver, 0 sujeito podtico recor ironia: ‘mais rssurgiu depots ao tercer ia alusbo&ressurreigdo de Jesus ist}; “Eto faze {que x pode fazer, / mais ou?hamem per rem no fara’ “‘vedes que poder / que thi Deus deu — mais Aquerio cuidara Als na dima esto, renate da cantga (finda), o préprio sujeto posticorevelao desejo de tamioém ele possui esse poder. n

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