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DESCENTRALIZAGAO, INTERSETORIALIDADE E REDE NA GESTAO DA CIDADE Luciano A, Prates Junqueira** R 3SUMO A |\ descentralizac&o, intersetorialidade e rede so abordadas como estratégias de um novo modelo de gestéo municipal na gest&o das politicas sociais, tendo em vista 2 /\\ qualidade de vida dos municipes. A descentralizacio, enquanto propde a transfe- A dAréncia de poder de deciséo sobre as politicas sociais para os niveis periféricos da cidade, possibilita que a sua gest8o ocorra com 0 envoivimento dos seus usuarios. Essa transferéncia de poder, necessariamente, no otimiza a gestSo integrada dessas politicas A intersetorialidade constitul uma alternativa para otimizar essa gestSo, pois integra as diversas politicas sociais na solugSo dos problemas socials, que afetam grupos de popule. 80 que ocupam determinado territério. A rede, como a construggo de relacdes entre atores sociais, preservando sua identidade, viabiliza € otimiza recursos necessarios a0 encaminhamento da gestéo das politicas sociais. Analisa-se dois casos de modelos de gest&o, no Brasil, a partir dos pressupostos, a experiéncia da reforma administrativa de Fortaleza, estado do Ceara, e a criacfo de uma rede intermunicipal de municipios da regio de satide de S80 Joao da Boa Vista, no estado de Sao Paulo. ABSTRACT he decentralization, intersectoriality and networks as strategies for a new city Management mode! due to the social policies aiming the better life quality of the Clizens. While the decentraitjation Proposes the transfer of the decision power over the social policies to the peripheral levels of town, it also permits that its management occurs with the embrace of its users. This transfer of power doesn’t necessarily optimizes this management of these policies. The interation among the sectors establishes an alternative to optimize this management, since it combines the various social policies as the solution for the social problem that affects groups of the population that occupies determined region. The networks, as the construction of the relation among social actors, Preserving their identity, makes it feasible and optimizes sources needs to direct a Management of the social policies. We analyse two cases of models management in Brazil, from this presuppositions, the experience of administrative reform of Fortaleza, State of Ceard, and the criation of a intermunicipal net of counties at Satide de SS0 Jodo da Boa Vista, In S80 Paulo state. Uma verso deste texto fol publicada na Revista FEA-PUC SP, Vol. 1, p. 57-72, 1999 “Prof. PPGA/Faculdade de Economia, Administracdo, Contabllidade e Atusria da PUC/SP 08s + v.11 - Edig8o Especial - 2006 129 Luciano A. Prates Junquelra INTRODUGAO || cidade é 0 espago onde as pessoas vivem e de relacionam, em que também | manifestam seus problemas e tém acesso aos servigos que Ines proporcio- |-\ fam meios para satisfazer suas necessidades. Isso coloca para 0 gestor da {A cidade a importancia de identificar estratégias para gerencid-la e as suas politica, visando a garantir aos municipes condig6es de vida saudéveis. ‘A descentralizacdo, a intersetorialidade e a rede constituem alternativas de gestdo das politicas municipais e, em especial, das politicas sociais. Isso porque os problemas sociais, sendo de natureza diversa, afetam uma mesma pessoa ou grupo de pessoas, si uadas, em geral, no mesmo espaco. Essa maneira de ver os sroblemas socials ainda ndo ocasionou mudangas nas praticas de solucions-los. Cada politica social encaminha a seu modo uma solucdo sem considerar 0 cidaddo ha cua totalidade e nem a aco de cada politica social, que também busca a melhoria da qualidade de vida. ‘Abordar os problemas sociais de maneira integrada, no espaco onde se manifestam, considerando os diversos atores sociais envolvidos como sujeitos do processo, coloca como necessaria a descentralizacdo da gestéo das politicas mu- nicipais. Com isso, as solugdes dos problemas sociais poderéo ser encaminhadas de maneira integrada, respeitando a contribuigéo e a autonomia de cada ator nesse proceso. Dai a importancia de considerar os conceitos de descentralizacao, de intersetorialidade, de rede e sua interdependéncia. Isso permitiré que as solu- ces dos problemas sociais sejam buscadas de maneira integrada, fazendo com que os municipes possam fruir uma vida com qualidade. Esse texto inicia com o entendimento dos conceitos de descentralizacao, intersetorialidade e rede, visualizando o papel de cada um na mudanga das praticas politicas e institucionais, que interferem na gest&o da cidade, para torna-la_ mais Saudavel. Em seguida, sdo apresentados dois casos em que esses conceitos foram trabalhados. Um, a reforma da Prefeitura Municipal de Fortaleza, centrada na descentralizag3o e na intersetorialidade, e outro, @ Rede Adolescente, concebida e gerida no 4mbito de municipios de uma regido de Saude do estado de Sao Paulo. IDESCENTRALIZAGAO GeEsSTAO DA CIDADE 3A _ A descentralizago é um conceito importante na gestao das politicas socials um discurso que ocupou e ainda ocupa um lugar de destaque na discussdo da eficdcia das politicas sociais, especialmente da saude, a partir da década de 80. Contudo, do discurso a pratica hd uma distancia significativa. E ndo basta a lel para tornar realidade a politica sem considerar outras determinacées, as praticas institucionais, os interesses corporativos. Descentralizar significa transferir decisdo, trazer para junto dos usuérios 0 poder de decidir. Mas poder de decidir sobre 0 qué? Por isso que quando se fala fm descentralizagao é importante ter claro transferir o qué, para quem e como ‘A descentralizagdo como um processo de transferéncia de poder determina a redistribuigSo do poder de decisio como resposta & centralizacéo. Esse proces- So envolve mudancas na articulacdo entre estado e sociedade, entre o poder publico e a realidade social, e implica mudar a atuac3o do estado, seu papel na gesto das politicas sociais. Apesar da sua importancia para garantir aos cida- dos seus direitos sociais, 0 estado n&o pode substituir a sociedade em qualquer que seja o sistema Descentralizar ndo 6 apenas um processo de transferéncia de atribuicbes € competéncias que ocorre no ambito do estado, entre os trés niveis de governo e 130 085 - vil - Edigdo Especial - 2004 Descentralizacso, Intersetorialidade e Rede na Gestio da Cidade entre as suas organizagdes. Essa transferéncia pode ocorrer também para entes privados de cardter ptiblico. Assim, 0 estado pode transferir, por exemplo, a pres- taco dos servicos, sejam de satide, de educacéo que séo de sua competéncia, para entes nao estatais, mas preservando 0 seu poder de regulacdo (Martins, 1994). O ente privado de cardter publico que recebe as competéncias permanece- r4 sujeito as normas, & avaliacdo e aos controles de qualidade estabelecidos pelo poder cedente. Esse processo de descentralizag&o no se esgota apenas na transferéncia de atribuicées. E necessdrio, para que tenha eficdcia, considerar os beneficiérios das politicas sociais como sujeitos e participantes da sua gestéo. Para isso, é necessério que as politicas sociais sejam consideradas como direito, no seu carater distributivo e no apenas compensatério. E essa mudanca sé ocorrerd através da educacéo para a cidadania, quando os diversos atores sociais tomarem consciéncia dos seus direitos de cidadéos. ‘A cidadania é um processo de aprendizado, que se atualiza na medida em que as pessoas vo experimentando relacées e percebendo que seu saber e sua experiéncia tem importancia e s&o respeitados. A cidadania se consuma mediante 0 exercicio do papel de sujeitos e de seus valores face a sujeicao a liberdade e n&o ao poder ( Manzini-Covre, 1996: 37). ‘Assim, a realidade socio-econémica, politica e cultural das organizacées, para quem o poder é transferido, determina diferentes maneiras de seus diversos ato- res lidarem com esse poder, até sem dar acesso as decisdes populacdo cliente. Por isso que se diz que a descentralizac&o ndo garante, necessariamente, a par ticipac&o, podendo, em algumas circunstancias, até reiterar as diferencas. A pos sibilidade de participar nao homogeneiza os interesses que permeiam a relacao, inclusive pela descrenga no poder de influenciar os acontecimentos. As mudancas sociais benéficas requerem, com freqiiéncia, o uso de poder diferencial, mantido apenas pelos privilegiados (Giddens, 1991:154). A INTERSETORIALIDADE COMO ESTRATEGIA DE GestTAo Das Poriticas Socials A dicotomia que se observa na gestdo das politicas sociais so pode ser superada através de uma acéio integrada, pois mesmo aquelas de carter univer- sal, isoladamente, tém dificuldade em promover a eqilidade e a integralidade do atendimento. Apesar dos problemas sociais manifestarem-se setorialmente, sua solugao esta na dependéncia da ago de mais de uma politica. E no Ambito do municipio, como o espago onde a populagdo tem acesso aos servigos, onde seus problemas se manifestam, que a articulagdo das politicas so- ciais se viabiliza, dando maior eficdcia a sua gestdo. Assim, é no municipio, como espaco definido territorial e socialmente, que se concretizar. a integracao interinstitucional e a aco intersetorial. Essa interacao pode ser construida através de um processo dindmico entre os sujeitos, mediada por novos paradigmas, que devem informar a mudanga das instituicdes sociais e de suas praticas. E um processo de aprendizagem e de determinacao dos sujeitos, que resul- ta também na gestdo integrada das politicas socials, para responder com eficacia aos problemas da populacio de um determinado territério. A logica intersetorial de atuacdo deve referir-se, basicamente, a populacao e a0 espaco onde se situam. Assim, a base populacional e geogréfica permite que se identifique os problemas e as possibilidades de sua solucdo para atingir uma vida com qualidade. A intersetorialidade é a “articulagdo de saberes e experiéncias no planeja- mento, realizag&o e avaliacdo de agdes para alcancar efeito sinérgico em situa- cdes complexas visando ao desenvolvimento social, superando a exclusdo social” 08s - v.11 - Edigdo Especiat - 2004 131 Luciano A, Prates Junqueira Qunqueira & Inojosa, 1997). E uma nova légica para a gestdo da cidade, buscan- do superar a fragmentacao das politicas, considerando 0 cidadéo na sua totalida- de. Isso passa pelas relacdes homem/natureza, homem/homem que determinam a construcao social da cidad Nessa perspectiva, é interessante ressaltar que a intersetorialidade nao é um conceito que engloba apenas as dimensées das politicas sociais, mas também a sua interface com outras dimensées da cidade, como sua infra-estrutura, ambiente, que também determinam a sua organizagdo e regulam a maneira como se d&o as relacdes entre os diversos segmentos sociais (Junqueira, 1998a). ‘Assim, a intersetorialidade constitul uma concepcao que deve informar uma nova maneira de planejar, executar e controlar a prestacao de servicos. Isso sig- nifica alterar toda a forma de articulagdo dos diversos segmentos da organizagao governamental e dos seus interesses. Essa forma de atuar é nova, por isso deve acarretar mudangas nas praticas e na cultura organizacional. E um processo que tem riscos em fungao das resistén- cias previsiveis de grupos de interesses contrariados. A ousadia de mudar vai precisar das aliangas de todos os que desejam incrementar a qualidade de vida do cidad3o, dentro e fora da administragéo municipal. Tratar os cidaddos, situados num mesmo territdrio, e seus problemas de maneira integrada exige um planejamento articulado das acdes e servicos. Mas isso sé ndo basta. E necessario um novo fazer que envolva mudancas de valores, de cultura como um “fenédmeno ativo, vivo, através do qual as pessoas criam € recriam os mundos dentro dos quais vivem”(Morgan, 1996:135). Essa nova realidade deve ser criada no interior das organizagées gestoras das politicas da cidade na sua totalidade. Isso exige que os diversos atores, parte dessa rede, se interpenetrem, formando um novo tecido. E uma nova ldégica que determina a atuacdo das organizagées munici- pais, deixando de ser informada pela especializagdo, pela setorializagao e pela autonomizacao, mas por uma elaboragdo integrada de saberes e de per- cepcdes do homem e de sua realidade social. Isso remete para a questdo da complexidade dessa realidade e da necessidade de um conhecimento que dé conta das diversas dimensdes que determinam os problemas sociais € sua interagdéo (DEMO, 2002). Esse processo ganha consisténcia quando a cidade é considerada na sua totalidade. Quando as necessidades dos grupos populacionais, que se distribuem pelo seu territério, tornam-se sujeitos do processo. Sujeitos capazes de percebe- rem seus problemas e encaminharem solucdes articuladas intersetorialmente. A Repe NA GESTAO Das Potriticas Socials Ao complementar a dimensdo intersetorial das politicas sociais emerge a nocao de rede como a interacdo de pessoas, instituicdes, familias, municipios e estados, mobilizados em funcg3o de uma idéia abracada coletivamente. Num ambiente de mudanga social, as diferentes atividades que a determinam implicam na formagéo de redes como a possibilidade de intercdmbio. ‘O termo rede, em sua multiplicidade, nos remete tanto a uma dimensao conceitual como a um sentido instrumental. Nesse sentido, ela 6 uma proposta de acdo como um modo de funcionamento do social, um modo espontaneo de organi- zagdo em oposigéo a uma dimensao. formal e instituida. Assim, a rede, em muitos casos, em vez de ser um processo rigido estereotipado, cede lugar a outros que s40 criativos e Inventivos (Saidén, 1995:203). Nessa perspectiva, a rede como uma construgao social depende da sensibilizagdo dos diversos atores sociais para um objetivo comum que melhor se Viabiliza através da parceira. Esse processo de parceria estabelece relacbes 132 08s - v.11 - Ediglo Especial - 2004 Descentratizacio, Intersetorialidade e Rede na Gestlo da Cidade interpessoais e interinstitucionais, preservando as diferencas e as especificidades de cada componente que contribui, da sua maneira, para a construcaéo de uma politica que preserve os principios da cidadania, da liberdade e da justica. A rede surge da percepg&o conjunta dos problemas comuns e da possibili~ dade de resolvé-los n3o apenas no 4mbito de um municipio, mas da articulacéo entre outros atores sociais envolvides com o problema e sua solucao. Quando vemos o mundo ‘pelo olhar das redes, este aparece com uma varie- dade de cenarios que emergem das diversas maneiras como cada membro se sente chamado para participar. Nesse sentido, pensar na perspectiva de rede significa guardar as identidades de cada membro, fugindo das relagdes estereoti- padas e fixas entre organizagées e pessoas. A rede é uma construcéo coletiva onde organizagdes, sociedade civil, lide- rangas, voluntarios interagem para otimizar e ampliar os resultados para o con- junto da populacdo. Pensar em rede é uma possibilidade de facilitar a construcao do tecido social, mas n&o guiado por uma atitude voluntarista, pois a “rede com- porta materiais de diversas origens, mas sua produtividade e criatividade” ad- quire consisténcia ao longo de seus processos de transformacdo ( Saidén, 1995:207). Pensar em rede favorece, no contexto da mudansa social, a possibilidade de reconstruir a sociedade civil, uma vez que ela cresce e se desenvolve quando seus integrantes assumem o papel de sujeitos. Como sujeitos, tornam-se responsa- veis nas diferentes redes em que atuam como produtores ativos na construgado do bem estar dos diversos segmentos sociais e da sociedade no seu conjunto. A nog&o de rede remete também para a idéia de intervengéo em um sistema social. Contudo, essa intervenc&o n&o determina o sistema, mas faz parte dele, contribui para construir sua histéria, Cada participante do sistema é um sujeito real, que tem sua identidade, mas que nao é dono do sistema. Ha varios partici- pantes com diferentes tradicées e culturas que déo a sua marca e sua contribui- ¢3o, mas que no sSo Unicos. Dai a necessidade de uma_linguagem e praticas comuns, para organizar e mobilizar os diferentes atores para um unico objetivo, para a construg3o de uma nova realidade social que resulta das relagdes estabelecidas entre si. ‘A complexidade aumenta na medida em que a sociedade vai evoluindo e, consequentemente, tornando ojconhecimento mais multifacetado e complexo. Esse movimento de complexificagéo é acompanhado pelo surgimento de “problemas novos, imprevistos, e por fenémenos que escapam a nossa compreensao € con- trole” (Genelot, 1992:26). Essa auséncia de controle aumenta a imprevisibilidade e a incerteza que crescem em funcéo da complexidade, com isso busca-se novos modelos de ges- tdo. Nesse contexto, a idéia de rede como interdependéncia entre atores e insti- tuicdes é privilegiada, o que possibilita superar os limites da agéo mediante a integragao de conhecimentos e praticas de cooperacao, constituindo um meio para intervir na realidade social. Nesse sentido, a rede é uma construcao coletiva € ela se define na medida que é@ realizada. Sua verdade esta na concretizacéo, na superacdo das determi- nacées sociais, mediante o estabelecimento de parcerias entre sujeitos individu- ais ou coletivos, mobilizados por objetivos construidos e apropriados coletivamen- te, para a construcéo de uma nova realidade social. E nessa perspectiva de construg&o social que devem ser entendidas as ex- periéncias que serao descritas a seguir. Construcées soliddrias que se organiza~ ram possibilitando uma gestdo participativa das organizacées que compéem a rede (Mance, 2000). ‘0 objetivo é entender a complexidade da realidade social e, através da integracdo das politicas sociais, buscar solugdes que respondam nao as necessi- dades da populacdo, mas aos direitos dos cidadaos a uma vida com qualidade o&s - vitl - Edigbo Especial - 2004 eD ome ee eee Gestréao MounicipaL DESCENTRALIZADA E JINTERSETORIAL: O Caso DO Municipio DE FORTALEZA (CE) E a partir dos pressupostos da descentralizagdo, da intersetorialidade, da territorializagdo e dos grupos populacionais neles situados, que a Prefeitura Muni- cipal de Fortaleza buscou redefinir seu aparato governamental. Buscou modelar Uma nova organizacSo, introduzindo um novo modo de gerenciar o espago urba- no, superando a distancia entre o governo municipal € 0 cidad&o, para tornar a cidade saudavel. ‘0 municipio € 0 espaco onde a atuagao do Estado ganha concretude e encon- tra com 0 cidaddo, Onde esse cidadao tem acesso aos seus direltos constitucionais e aos servicos que Ihe garantem esses direitos. A populagdo de um municipio n3o é homogénea, nem em suas caracteristicas, nem em’ suas necessidades, nem em suas aspiracées. Assim, para interferir nessa realidade, respeitando e atendendo as suas peculiaridades, é preciso estabelecer critérios para que haja uma aco articulada, permitindo estabelecer objetivos e metas que promovam a qualidade de vida, através do acesso a bens materiais € imateriais disponiveis na sociedade contemporanea (Junqueira & Inojosa, 1997). Um critério € © geografico, que se refere ao espaco onde vive determinado grupo. Outro, s80 as caracteristicas dos grupos populacionais e a transferéncia de poder para os atores situados em um territério. A descentralizacao emerge como Um instrumento de participacéo, como uma possibilidade de criar uma rede de relagées, permitindo que os cidadaos, situados nas regides da cidade, tenham lcesso aos responsdveis pelos servicos publicos| municipais. ‘A descentralizac&o se constitui em um instrumento de expansdo da l6gica democrética, possibilitando a criagdo de novas instancias de negociacdo e, consequentemente, o reordenamento da estrutura organizacional. Essa nova or- ganizacao, em principio, mais permedvel as demandas dos cidadaos, permite que se aumente a eqiidade através da articulac&o e implementacao de politicas de desenvolvimento. Nesse contexto, é importante visualizar a descentralizagdo nao apenas atra- vés da ética dos grupos instalados no poder, mas dos cidaddos, daqueles que Utilizam os servigos prestados. Nesse sentido, a descentralizacao da gest&o das politicas sociais, no ambito municipal, permite que os problemas sociais que afe- tam a populagaio sejam objeto de decisfo, tanto dos gestores como dos usuarios dos servicos. Com isso, ha possibilidade de integracdo e participacdo dos diversos atores sociais no gerenciamento dessas politicas, trazendo para o ambito local as decisdes sobre os problemas sociais. Esse processo interativo determina uma nova concepcao do planejamento € gestdo das politicas sociais. A descentralizagSo e a intersetorialidade na gestéo da cidade traz implicito a idéia de territério, de espago que as pessoas ocupam, interativamente, para decidirem sobre os problemas que afetam a populacao. Apesar do caso de Fortaleza n&o ser novo, creio ser interessante recuperé- lo nessa discussdo, porque a experiéncia da reforma da estrutura organizacional do municipio, tendo como referéncia a descentralizac8o e a intersetorialidade, foi exemplar, mesmo que néo tenha tido o impacto que se desejava. © trabalho politico que se pretendeu implementar em Fortaleza envolveu a descentralizac3o, a intersetorialidade, territrio e a participacdo, mas isso nao era suficiente sem a vontade politica de mudar e dos meios necessdrios @ mudansa: A partir dessa decisdéo de administrar a cidade de maneira descentralizada e intersetorial, 0 passo seguinte foi definir um projeto politico, a reforma administra- tiva necessaria para desenvolvé-lo. O aparato a ser criado deveria dar nova dinamica, responder de maneira integrada aos cidad3os das vérias regides da cidade sobre suas necessidades de 134 8s - v.11 - Edigdo Especial - 2004 Descentralizacio Intersetorialidade @ Rede na GestBo da Cidade satide, educagdo, habitac&o, emprego e renda e infra-estrutura urbana. Criada de forma descentralizada e intersetorial, distribuido pelo territério, pretendia-se que 0s municipes resolvessem seus problemas urbanos perto de suas casas e tives- sem acesso garantido e diferenciado dos equipamentos sociais O Governo da Cidade de Fortaleza (CE) assumiu essa decisdo! de reordenar a estrutura organizacional da Prefeitura a partir de novos critérios que diferem das reformas até aqui implementadas. Determina-se novos paradigmas organizacionais que introduzem uma nova modelagem do aparato governamental. O objetivo des- sa reforma administrativa foi dar maior eficdcia as organizacées municipais, segun- do critérios que possibilitassem aos municipes uma vida com qualidade. A intenco de mudar ainda ndo é a mudanga, mas 0 inicio de um processo de construgao de uma nova realidade, e no caso, uma nova cidade. A situacdo dese- javel depende do entendimento e do compromisso de todo 0 corpo diretivo com a nova proposta. Isso nem sempre é possivel, porque nem todos os atores tém os mesmos interesses e a mesma visdo dos direitos socials da populacdo. A mudanca é um processo que envolve a vontade de mudar, a concepco da mudanca, bem como seus objetivos e estratégias. “Conceber ndo significa criar a realidade mas reconstrui-la"( Demo, 2002:31). Esse processo nem sempre tem eficdcia pela auséncia de atores com com- peténcia e clareza da proposta. No caso de Fortaleza, isso pode ter sido um pro- blema. Os interesses politicos nem sempre manifestos, mas encastelados no apa- rato gestor das politicas ptiblicas que foi desmontado, constituiram, na maioria das vezes, em fatores impeditivos 4 mudanca. Integrar a gestdo das diversas politicas puiblicas, sejam as sociais, sejam as de infra-estrutura, em um Unico espaco de poder, no é uma tarefa facil. Os inte- resses e valores que permeavam a gestao atomizada dessas politicas nao mu- dam rapidamente. A légica que devera permear o novo aparato estatal ¢ de outra ordem, ou seja, dos interesses coletivos e n&o dos individuais e corporativos, que eram dominantes. Os atores que passaram a incorporar a nova estrutura organizacional ne- cessitavam, portanto, mudar a concep¢&o das politicas e a sua maneira de ges- tdo, Mas essa mudanga para ocorrer de fato, e no apenas no discurso, necessi- tava de transformacées nas préticas e valores dos diversos segmentos das uni- dades organizacionais da Prefeitura, necessitavam de ser reconstruidas. O novo discurso deveria ser trabalhado com esses atores para que fosse incorporado ao seu quotidiano e desse corpo ao novo modelo de gestéo. A realizagéo de seminarios e reunides buscava discutir e passar a concep- do da mudanga e de seus valores para os servidores. Apenas esse processo ndo é suficiente para ocasionar a incorporacdo dos valores pretendidos pela mudanca Além disso, 0 jogo politico presente na instituigg0 e 0 medo gerado pela mudanca, podem ter impedido que a transformacao proposta pela reforma nao tenha sido percebida de maneira similar nas diversas instancias da Prefeitura Municipal de Fortaleza. Por isso que cada segmento da organizag3o buscou, muitas vezes, articular-se seja para boicotar 0 processo ou para criar nichos de poder que con- trariavam a proposta original. Creio que a reforma proposta na Prefeitura de Fortaleza criava uma nova instituigso, partindo de concepgdes totalmente diversas das existentes na admi- nistragdo publica municipal do pais. Essa mudanga exigia.uma geréncia, pois a inovagdo deve ser aprendida e organizada como um processo sistematico, para no perder sua forca e aprofundar suas raizes (DRUCKER, 1999). Apesar do Pre- feito ter tido clareza da proposta e de seus rumos, ele n&o contou com um gestor da prépria Prefeitura para langar as raizes desse processo. * Loge depois do primeiro turno da elel¢o municipal de 1996, o Prefeito eleito, Juraci Magalhaes, convidou 2 FUNDAP para assessorar a elaboracdo de uma proposta de revisdo completa da estrutura do governo municipal a ser apresentada 8 Cémara Municipal, orlentada por dois pressupostos: 2 descentralizacdo e 2 intersetorialidade. O projeto-de-lei enviado 3 Cémara foi aprovado em 29 de Janeiro de 1997. A partir desse momento, iniciou-se efetivamente um processo de mudanca. 08s - v.11 - Edigdo Especial - 2004 135 Luclano A. Prates Junqueira Tendo dado seus primeiros passos, @ nova instituicao perdeu alguns de seus atores que acreditavam na proposta € estavam envolvidos. com ela, inclusive seus uitoria, Outros atores foram incorporados, mas sem a viséo da reforma & de Seus pressupostos. A mudanca é um processo lento ¢ exige ser acompanhado e seus pressupora retomar seus rumos e aperfeigoar sua dinamica. Parece que fol fes0 que n3o ocorreu em Fortaleza. Ao invés de aperfeicoar os rumos do projeto, basccu-se outras alternativas de mudanga e incorporou-se outros atores que nao tinham a clareza do processo e de sua diregdo. efarma da Prefeitura de Fortaleza foi importante como modelo de gestéo intersetorial das politicas sociais. Outras prefeituras buscaram implantar modelo Similar, para otimizar seus recursos na gestéo dessas politicas. Mas tanto 2 exPe- sinc de Fortaleza como as outras experiéncias estéo por ser avaliadas JINTERSETORIALIDADE E REDE NA GESTAO DE UM ProjeTo: 0 Caso DE SAO JOAO DA Boa Vista (SP) Nessa dindmica de construir 0 novo e otimizar os recursos disponiveis, fol que se propés, a partir de um curso de planejamento intersetorial, que envolveu 35° mameipios ‘da regido de Satide de S80 Joao da Boa Vista, no estado de So paulo, formar uma rede intermunicipal para atendimento ao adolescente. ‘A partir da identificagdo dos problemas sociais que afetam os diferentes municipios da regio, selecionou-se aquele que os participantes consideravam Gusceptivel de intervengéo e que sua solucao seria otimizada pela articulacso dos municipios em rede. Pega rede ja tem uma historia. Criada em maio de 1998, ainda hoje articula os municipios que véem na atuago conjunta a possibilidade de otimizar sexs OS ireos na solugso e controle de problemas sociais que afetam sua populagso Jovem, A consolidacao dessa rede passa pelo poder local, pelo compromisso dos Girigentes municipais com um objetivo definide coletivamente, com a vontade po- litica de oferecer a seus jovens uma vida com qualidade Os municipios se integraram para a gestéo em rede de um politica social. © problema das drogas e sua disseminacao necessitava, na percepgéo dos diversos atores municipais, de criar zonas de protecdo que|ndo dependiam apenas de um municipio, pois sua soluco estava no Smbito da regiao. Foi 2 partir da identificag3o da importancia desse problema social que afetava de aigum modo segmentos dos municipios participantes do curso de planejamento, que seus dirigentes e técnicos decidiram articular-se para buscarem uma solucao Conjunta, Nesse contexto, surge a idéia da criaco de uma rede adolescente, que Grticulasse comunidade, conselhos, organizacdes da sociedade civil, profissionais ¢ Servicos publicos de satide, de educagéo, de promogéo social, de cultura ¢ de es- portes para dar apolo aos adolescentes € suas familias (INOJOSA, | 1999) No processo de conformagao dessa rede procurou-se envolver pessoas que, voluntariamente, como representantes de instituicées ou, simplesmente, como Uidaddos, tivessem interesse em melhorar as condicdes de vida do adolescente. Definiram metas, que hoje ja mudaram, e também os municipios membros. Apesar dos objetivos definides coletivamente representarem a razdo de ser da rede, na medida que o tempo passa e que novos membros séo incorporados, eles necessi- tom ser atualizados. Contudo, os municipios membros da rede que acreditavam ho projet e foram lideres na sua implantago continuam dando sua contribuicéo. ‘As metas definidas inicialmente foram atingidas com o compromisso de cada municipio no atendimento dos seus adolescentes e de suas respectivas familias’. Eoso rede constituiu um elo de ligagdo entre os diversos municipios e apesar de ) A concepsS0 dessa rede teve o apoio da Diretoria Regional de Saude ~ DIR da Secretaria de Estado do Saude de S40 Paulo e da Fundacéo do Desenvolvimento Administrative - FUNDAP 136 o8s - v.11 - EdicSo Especial - 2004 Descentrallzacio, Intersetorlalidade e Rede ne Gestfo de Cidade suas diferencas, ela continua sendo construida por cada um que tem sua contribui- so. Esse 6 um processo que vai se aperfeicoando e incorporando novos atores. Aqui é interessante visualizar como 0 conceito de intersetorialidade se arti- culou com 0 de rede. A intersetorialidade € um processo que articula politicas socials, pois uma Unica politica ndo resolve os problemas sociais. Nessa perspec- tiva, ela é importante para construir e dar suporte & rede, interacdo de pessoas, instituigdes, familias e municipios mobilizados em torno de uma idéia abracada coletivamente. Uma causa partilhada, para construgdo do novo. As metas, os objetivos, foram formulados em fung3o de um novo modo de oferecer servicos. Cada instituicSo, cada familia, cada participante preservou suas diferentes contribuicgdes sem homogeneizar-se, porque cada componente tem a sua maneira propria de se integrar e contribuir para o atendimento dos jovens Nesse processo, os municipios envolveram-se mediante a contribuicéo de seus diversos setores para oferecer aos adolescentes uma vida com qualidade. Varias questdes continuam sendo objeto da rede. Ela é um momento de apren- dizado, é um momento de crescer. A rede intersetorial aponta para solucdo dos pro- blemas da populacéo de uma maneira integrada, criando zonas de protecao contra as drogas para os adolescentes. Esse processo nao se realiza apenas a partir de uma cidade, mas da integrac&o entre elas, criando a possibilidade da protecao, mediante a construgSo de um objetivo coletivo para proteger seus adolescentes. ConcLusAo A descentralizacao e a intersetorialidade inovam na gestao da cidade. Trans- fere o poder para junto dos que utilizam os servicos prestados e integra a gestdo das politicas publicas. No bojo desse movimento, surge a rede como outra nocado capaz de dar conta da complexidade da realidade social e buscar solugées que otimizem os recursos disponiveis na gest&o das politicas sociais. Adotar esses pressupostos par modelar uma nova estrutura governamen- tal, como ocorreu em Fortaleza, traz implicito uma nova forma de gestdo da cida- de. No entanto, isso no significa mudancas efetivas nas praticas organizacionais, que sé ocorrem quando ha transformagao de valores e da cultura das organiza- 6es. Inclusive ndo se pode dizer que houve mudangas sem visualizar o impacto que elas ocasionam na realidade social. A mudanga representa sempre um risco. Significa abrir mo do certo para apostar em algo que n&o se conhece. Dai a necessidade de acreditar na proposta e em seu fiador. Hé varias leituras, varios aspectos a considerar ao assumir um projeto e em comprometer-se com ele. No{caso da mudanca da gestao da cidade para uma pratica intersetorial, exige envolvimento dos diversos segmentos organizacionais e da sociedade, pois é: + um processo de crescimento e desenvolvimento do individuo como cidadao; * um processo politico, que se inicia com um compromisso do executive e do legislativo municipais. + uma nova forma de gestao e de organizac’o do poder e como tal pode acarretar perda de espaco politico; . um processo de transformagao das praticas das politicas de sade, de edu- cago, de assisténcia social, de habitagSo, de emprego, que buscam resol- ver de forma integrada os problemas sociais. Isso significa mudar a légica da gest3o das politicas setoriais para a intersetorial. Esse processo integra saberes e recursos, para dar respostas mais eficazes & populagdo de um territério, garantindo-Ihe uma vida com qualidade. Os problemas sociais sd0 complexos e aborda-los é uma tarefa que exige respeito & contribuic&o de cada participante, preservando sua identidade, o seu saber. Os atores individuals e institucionais devem identificar-se como sujeitos comprometides com os objetivos delineados coletivamente, para a construcdo de uma sociedade justa e equanime. OBS - v.11 - Edig80 Especial - 2004 137 Luciano A. Prates Junqueira A experiéncia municipal de Fortaleza de gest&o intersetorial foi importan- te, mas de eficdcia duvidesa. Mesmo tendo mudado a estrutura organizacional sua implantag3o no teve a permanéncia esperada. Interesses corporativos & politicos comprometeram seus resultados, inclusive com a desarticulacéo da Gestao intersetorial. Prevaleceu o setorial, porque a gestao integrada significa briorizar a clientela e seus interesses, significa abrir novos espacos de poder ¢ de negociacao. ‘Com a rede introduz-se uma nova possibilidade. Pessoas ¢ instituicées con- servam sua identidade e sua forca politica. No entanto, respeitar um objetivo de- finido coletivamente também significa abrir m3o de algumas prerrogativas, pois 0 coletivo deve prevalecer sobre 0 individual. ‘A gestao da cidade exige mudancas € articulagdes dos diversos atores poli- ticos para a construcéo do espaco pubblico urbano. Os problemas sociais urbanos que se multiplicam demandam soludes integradas e nao setorializadas, pois @ fealidade social ndo se manifesta de maneira dicotémica. Com a descentralizacao, Intersetorialidade e a rede como estratégias de gestéo da cidade permite-se que os diversos segmentos sociais passem a ser sujeitos das solugdes dos problemas que afetam a cidade. IREFERENCIAS DRAIBE, Sonia M. As politicas sociais e 0 neoliberalismo: reflexes suscitadas pelas experiéncias latino-americanas. Revista USP, No. 17:86-101, margo/abril/maio 1993. DABAS,E. & NAJMANOVICH,D. Redes. 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