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revista de ensino de f{sica vol. 10 dez/1988 RECUO DE UM ATOMO DEVIDO A ABSORCAO DE FOTONS V.S. BAGNATO e S.C. ZILIO Instituto de Fisica e Quimica de Sao Cartos, usp'*) 1. INTRODUCAO 0 uso de lasers para resfriamento de um feixe atomico tor- Nou-se uma técnica importante no contexto de espectroscopia de al- tIssima resotucao''+2), weste tipo de experimenta, utiliza-se a trans, feréncia de momenta dos fétons de um Feixe de laser contrapropagan- do-se ao feixe atémico para fazer com que este se desacelere. Como a temperatura do atomo @ definida em termos da sua energia transla- cional (E ~ 3/2 kT) € a velocidade final & pequena, temos atomos com temperaturas bem baixas, daf a origem do termo “resfriamento de um Feixe atdmico". Recentemente, conseguiu-se resfriar jtomos a uma temperatura da ordem de 107* x (3), 0 decréscimo da velocidade permite a supressio do efeito Doppler © proporciona um tempo maior de interacao entre o atomo eo campo de radiagao de um segundo laser (teste), que é utilizado para as medidas espectrais. A auséncia do efeito Doppler e o aumento do tempo de transito do dtomo no feixe do laser de teste levam ao es- treitamento das linhas de ressonancia e produz um enorme acréscimo de resolucgdo nos espectros obtidos. Ouas aplicagoes imediatas des- te aumento de resolugao estado na determinacao das constantes atomi- cas fundamentais ¢ no desenvolvimento de novos padroes de freqiién- sias (reldgios atémicos), A existéncia de atomos a baixa temperatu ra também perm € a realizagao de confinamento de atomos neutros, ain da na fase gasosa, possibilitando o estudo de efeitos coletivos co- mo a condensagao de Bose-Einstein e propriedades de transporte em gases quanticos. 4) para descrever a interagao do atomo com o campo de radiacao eletro- 6) Embora jae € semi-classico tam tratamentos quanti co Magnética, uma abordagem classica é importante como uma maneira al- ternativa de se introduzir este assunto a nivel de graduagao. Con- siderando 0 dtomo como um sistema quantico de dois niveis em repou- “Veaixa Postal 369, 13560 Sao Cartos, SP. 43 so, descrito por uma freqiiéncia de transicgado wy = (E2-Ey)/f e sub- metido a um campo de radiacio monocromatica de freqiéncia w (ener gla de um féton = fiw), poder-se-ia em principio esperar que a absor ¢80 ocorresse quando a radiacgao estivesse ressonante com o atomo. Entretanto, como devemos ter conservacio de energia e mmentun, o ato mo recebe uma velocidade de recuo devido a absorcao do fétone aumen ta seu momentum linear em fik. Esta situagao esta esquematizada na Fig. 1. OQ tk ve SSSI (a) (b) Fig. | - Diagrama mostrando a absorcgao do féten eo recuo do oscila dor (a) antes e (b) depois da absor¢ao. A conservagao de energia requer que: 2 fiw = fiuy ohn - fo, + yp Ger a) Me onde MH & a massa do atomo e v sua velocidade apés a ocorréncia da absor¢ao. Assim, cemos uma situacao onde o dtomo nao absorve radia G80 com frequéncia we © um deslocamento para o azul ocorrera (w > > we). ° Uma maneira alternat a de tratar este problema é conside- Far ambos atomo e campo eletromagnético como variaveis classicas, ob ter as equagoes de movimento e resolvé-las para encontrar a forca uh de recuo assim como o efeito de deslocamento para o azul. 0 resul~ tado obtido desta maneira possui as mesmas caracterfsticas basi ca apresentadas pelo modelo semi-cl sico, embora o efeito de satura cao devido 3 emiss3o estimulada nao seja observaso. TI. TRATAMENTO CLASSICO DA INTERACAO ATOMO-CAMPO DE RADIACAO 0 tratamento tedrico a seguir é similar, até aeq. (8), aque- le feito para obtencao do cocficiente de absorcao de um s6tidol:7), A Introdugao do efeito Doppler e da transferéncia ao atomo da forca exercida pelo campo magnético sobre o elétron nao sao em geral fel- tas na literatura ¢ so responsivels pelos efeitos que queremos es- tud Isto justifica a importancia do tratamento a seguir na dis- cuss do resfriamento de um feixe atémico via laser. Neste modelo classico, o dtomo consiste de um nucleo pesado de massa Hs carregado positivamente, com um elétron de massa m a gado harmonicamente a ele. Quando este oscilador & submetido a um campo eletromagnético de frequéncia w, 0 campo elétrico agira so bre o elétron resultando num movimento oscilatério forcado. Como 4, >>m. © deslocamento do niicleo devido a este campo oscilando ra- pidamente € pequeno e sera desprezado. Para um tratamento mals rie geroso que considera também o movimento nuclear, podemos utilizar a massa reduzida, 0 que nos leva basicamente a0 mesmo resultado, Uma vez que o elétron adquiriu uma velocidade finita devido a forca cle trica, 0 campo magnético exercerd uma forca na diregao do vetor de Propagacdo k do campo eletromagnético. Esta é chamada de pressao de radiacao. Considerando o campo elétrico & com polarizacao na dir s80 x © propagando-se na diregao 2, a equacdo que descreve o efei to deste sobre o elétron & dada por: mk + myk + mux = - CE cosut (2) onde x representa a posicao do elétron, Wy @ frequéncia de res- sonancia e 0 lado direlto da equacao é a forcga que o campo elétrico de freqiéncia w exerce sobre o clétron. Hultiplicando (2) por x teremos uma equacao para o balanco da poténcia, onde o term Pamyx? tem sua origem no fato de que o elétron acelerado emite radlacio ele tromagnética. Para encontrar o valor de y utilizamos a férmul de Larmor (7), e7 5 |? Pow 2/3 Q) © 45 © 0 fato de que X ux para o estado estacionario de um movimento oscilatério forgado. Utilizando esta relagao em (3) © igualando es ta a myk?, encontramos y como send yee, (4) mc Esta expressio sera utilizada posteriormente para a execugao de cil culos numéricos. A forca magnética atuando sobre o elétron é: F(t) = = efe R(t) Bl )z (5) onde B(t) = € cosuty estd relacionado com € através das equa- sdes de Maxwell 7). & sotucio do estado estacionario de (2) & bem conhecida (8) e deve ser usada para obter=se o valor de X(t) da eq. (5). Encontra-se que: R(t) « sky sen(ut_+$) (6) WOES ary onde: e © ta foy/(w?-w2)) . (7) Colocando (6) em (3) © tomando-se a média temporal sobre um perfodo de oscilagao obtemos a forga magnética ia agindo sobre o elétron: z (8) onde o angulo de fase $ definido em (7) foi utilizado. Para chegarmos a esta expressdo de forca supusemos que o ng cleo & pesado demais para seguir as oscilagoes idas do campo elé trico (lembre-se que o valor médio da forga elétrica @ nulo). Por Outro lado, como a forca magnética tem um valor médio nao nulo co elétron esta fortemente acoplado ao nucleo, esta forca é transmiti- da ao atomo como um todo, o qual adquire uma velocidade V(t) na di regio de k, Esta velocidade introduz um deslocamento Doppler e a freqiéncia de transigao no referencial do laboratorio transforma-se de acordo com: 46 Wy —+ We = well -v/c) (3) de forma que a forca agindo sobre o atomo &; 2p? 2 SF) eye NS re) ee (10) MC [(w-ws) (weg ))? sur y? Estamos interessados no caso em que a onda cletromagnética esta quase em ressonancla como atomo i.e., wu. Supondo w/e << 1, podemos escrever wtws ~ 2u e (10) se torna: a2 no aay) 2m 4 (s -wyv/c)? vy? onde 4 = ww, € a de-sintonia. A integragado de (11) com a condi- sao Inichal v(0)=0 € trivial e da origem a um polindmio para v(t): = hws (4) + (ad ?ey?) - LEY 2 0. U2) s © 2mMc? Usando y dado em (4), 0 comportamento de v(t) € obtido apds caélculo numérico de (12) e € mostrado como fungao def na Fig. 2. Una inspesao cuidadosa desta gura mostra que os maximos das cur- vas vxA eos “detunings" correspondentes a estes maximos tém uma dependéncia linear em t. Concluimos que quando um pulso de laser de duracdo t € aplicado ao tomo, seu recuo € maximo para uma fre qUéncia deslocada para o azul (w>u,). 111, DISCUSSAO E CONCLUS. 0 modelo semi-classico trata o dtomo como um sistema quanti (5). do-se o formalismo da matriz densidade ¢ a aproximagao de onda g co de dois niveis e 0 campo eletromagnético como classico Usan rante, encontra-se a forca de recuo como sendo: af = AG we AR et (13) 4(B -w v/c)? + A? + 297 onde A € a taxa de emissdo espontanea (coeficiente A de Einst , u € 0 momento de dipolo da transigao e Q=pE/H € @ fregquéncia de Rabi. 0 termo Doppler aparece naturalmente neste modelo enquan- to que no modelo classico tivemos que introduzi-lo através de (9), 47 120 T — > ; 1 ———, : + " oO 3 a 1 Velocidade (cm/s) ° -20 ° 20 Dessintonia (MHz) Fig, 2 - Velocidade maxima alcangada como fungao da de-sintonia para diferentes tempos de interacao para um atomo com massa 23 u.a.m., we = 103% Hz © poténcia do laser de 100 mw. As equages (11) © (13) so bastante similares no caso pré- ximo @ ressonancia embora tenham interpretagdes diferentes. No ca- so cldssico, a taxa de decaimento deve-se a poténcia radiada pela carga acelerada enquanto que no modelo semi-classico, a emissio es- pontadnea € a respon: el pelo decaimento. Entretanto, a discrepan cia maior entre os dois modelos é 0 termo de saturagao 29? presen te em (13) devido & emissio estimulada. Para intensidedes altas te mos uma forca dada por:

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