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Mulheres Artistas Negras no Brasil e o desafio ao Cânone da Arte Branco-

Brasileira.
Igor Moraes Simões
(Universidade estadual do Rio Grande do Sul- UERGS)
Por arte branco brasileira esse artigo nomeia aqui toda a produção de arte que
não corresponde a hifenização conferida pela historiografia brasileira à arte
produzida por sujeitos negros. Se toda arte produzida por sujeitos negros é
afro-brasileira. Como nomearemos a outra? Seria ela então a arte branco-
brasileira? Por entre processos de apagamentos que marcam nossa história e
historiografia da arte que jogam sombras sobre nomes fundamentais como o
de Manuel Querino, há ainda um grupo de sujeitos que representa tanto no
campo da arte como da sociedade brasileira ao mesmo tempo a base e o
assentamento desse território: as mulheres negras. Se ainda hoje nos
dedicamos, queremos crer, a um trabalho de buscar escavar na história da arte
o nome de artistas negros, quando tratamos das mulheres a questão se acirra.
Ao enfocarmos essa produção estamos também encarando alguns canônes
históricos da arte brasileira e seus enquadramentos. Afinal, são elementos
como esses que confirmam por exemplo, a produção de Maria Auxiliadora ao
confinamento modernista e excludente de naif, ingênuo ou bruto. Mesmo
exposições históricas e definitivas para a arte afro-brasileira como as mostras A
Mão Afro-Brasileira (1988) ou a mais recente Territórios: Artistas
afrodescendentes no acervo da Pinacoteca (2015/2016) apresentam um
número ínfimo de mulheres artistas negras. O mesmo acontece quando se
tomam as coleções institucionais que cruzam o país, haja visto a aproximação
proposta aqui entre o caso do Museu de Arte do Rio grande do Sul- MARGS e
do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand- MASP. Ainda assim,
trabalhos fundamentais como aqueles propostos pela artista paulistana Rosana
Paulino, as performances de jovens artistas que emergem no fim da primeira
década do Século XXI, as instalações de Aline Motta ou ainda de maneira mais
pronunciadamente radical a produção de mulheres trans tem aportado novas
definições para antigas ferramentas, definições, hierarquias e lugares das
mulheres negras na arte brasileira seja essa arte branca, preta, com ou sem
hífen. Consideram-se ainda nessa proposta os aportes conceituais do
feminismo negro brasileiro como as formulações empreendidas por Lélia
Gonzalez, como importante arsenal conceitual para situar essa produção em
escritas contemporâneas da história da arte que tomem como ponto de partida
a assimétrica situação das mulheres negras na vida social e na arte do país.
Palavras-Chave: Artistas Negras; História da Arte; Arte Brasileira

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