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1984-1994: 10 anos'de lita e conquistas Apresentacao ‘Companheiros: Este texto dé continuidade as reflexdes sobre a alfabetizagdo de jovens e adultos, iniciadas no Caderno de educagao n° 3. Naquele Caderno, tratamos de sistematizar nossa concepedo e nossos prinefpios de como organizar 0 proceso de alfabetizagdo, com os companheiros assentados ou acampados que ainda nao dominam a linguagem escrita. O objetivo deste Caderno € entrar mais no mitido do processo de alfabetizacdo, Na chamada diddtica, ou seja, no jeito de ajudar alguém a aprender a ler ¢ a escrever. O texto tem a preocupagao de fornecer elementos basicos © muitas sugestes sobre como conduzir 0 trabalho em sala de aula. Como garantir 0 envolvimento de todos no proceso de alfabetizagao € pés-alfabetizagao, desenvolvendo a linguagem de forma motivadora e atraente, para que os jovens e adultos descubram a importancia ¢ 0 prazer de ler, de escrever, de conhecer a realidade através do mundo escrito. Neste sentido, este texto & destinado especialmente aos alfabetizadores ou aqueles que esto se preparando para sé-lo. Monitores, professores, educadores que querem assumir esta bonita e érdua tarefa de superar definitivamente o analfabetismo em nosso meio. Como os demais materiais do Setor, este também ¢ fruto de um trabalho coletivo. E a sistematizacio das experitneias que j4 comecamos a realizar nos assentamentos e acampamentos do pals afora EXperigncias que precisam ser multiplicadas e qualificadas. © proximo Caderno de Educacao tratard especificamente da alfahetizacao em Matemética, Que possamos aproveitar a0 maximo estes materiais que tentam semear 0 novo. Ocupar, Resistir e Produzir também na Educacio. Porto Alegre, Setembro de 1994. Coletivo Nacional de Educagéo do MST. Caderno de Educagio n° 4 Sumario Apresentagao Parte 1: adulto aprende por necessidade Parte 2: Negociando as necessidades : Ambiente alfabetizador Como se desenvolve um encontro A producio escrita através do texto Parte 6: A construgio da escrita. Como juntar as letras? Parte 7; A escrita do alfabetizando - Em busca do acerto - Bibliografia de apoio. MST Caderno de Educagio n° 4 Parte 1 O adulto aprende por necessidade ‘A necessidade € 0 ponto de partida para a aprendizagem, para o querer aprender. O adulto, € movido pelas necessidades. Essas necessidades surgem através das suas experiéncias concretas, das suas atividades préticas. E isso que impulsiona, alimenta 0 adulto na busca do conhecimento, do saber, que faz com que erie vontade e se esforce em querer aprender. Saber trabalhar com as necessidades dos adultos envolvidos, & garantir a motivagio durante 0 proceso de desenvolvimento da aprendizagem Assim, todo trabalho educativo deve ter como ponto de referéncia as necessidades, pois 0 adulto € guiado pela sua propria forga de vontade. Na aprendizagem a agio & direta, implica em extrair um conhecimento itil de cada atividade pratica. No desenvolvimento da prética educativa devem ser atendidas as solicitagdes das necessida- des pessoais para que os alfabetizandos percebam que esto tendo retorno, Todas as necessidades levantadas precisam ser negociadas para serem computadas em necessidades coletivas. Considere- mos também as necessidades sociais, essas e: postas no seu dia-a-dia, na organizacao do propr Assentamento, enquanto MST como um todo. Porém as mesmas nio se tornam necessidades pessoais/prdprias, por isso necessitam ser garanti- das no decorrer do processo através de situagbes MsT Caderno de Educagio n® 4 diversas para criar a necessidade no préprio individuo, para que agarre e v4 construindo coleti- vamente as habilidades necessérias e conhecimen- tos necessérios, © que nds precisamos nos aprofundar para compreender melhor € como se faz para partir dessas necessidades: — Ter dominio/conhecimento do Assenta- mento, dos aspectos gerais do mesmo, na questo da organiza¢ao, do trabalho reali- zado, na participaclo/envolvimento nos acontecimentos, programas, reunides, conta- tos com as liderancas do Assentamento; — Conhecer e manter contatos informais com cada um e sobre cada um dos analfahetos, para que percebam a preocupacao em alcancar os objetivos propostos; — Ter conhecimento do seu trabalho, dos momentos de lazer : 0 que gostam, 0 que ensam, 0 que os preocupa, 0 que esperam aprender. Nio € suficiente fazer o levantamento das necessidades através do diagnéstico inicial, preciso sim, que ele seja retomado freqientemente, dentro de um proceso permanente de busca de conhecimento sobre a realidade social, 0 jeito de pensar, se organizar, comemorar. Pois sio esses dados que vao ser registrados pelo monitor para saber usar no momento de desenvolver os conheci- mentos, as habilidades. MST Caderno de Educagio n° 4 E agora! O que fazer com este monte de dados, de necessidades? Cada um tem um catatau de coisas que quer aprender... — Seu Jodo quer aprender logo para poder ler sua biblia; — Dona Maria quer escrever uma carta para seus pais; — Seu Manoel quer aprender marcar na tabela a distribuigao dos alimentos para os animais Mas como se faz para atender a todos? Como fazer essas necessidades pessoais virarem neces- sidades coletivas? E as necessidades sociais vira- rem individuais/pessoais? Parte 2 Negociando as necessidades 7 Antes de iniciarmos a reflexdo sobre essas questées precisamos lembrar, retomar alguns aspectos fundamentais: — Precisamos considerar que o adulto inicia ou até mesmo retorna a sua vida escolar com bastante expectativa para desenvolver suas habili- dades de ler, escrever, falar ¢ fazer contas no papel... = 0 adulto precisa sentir, 4 nos primeirus encontros, que aquilo que est4 aprendendo tem retorno na sua vida, isto é, a aprendizagem/aquilo que est apendendo nas aulas precisa ajudar na solugdo dos problemas do Assentamento, do seu trabalho, da sua vida didria. MsT Caderno de Educagio n° 4 processo de negociagio deve ser conduzido de tal maneira que os alfabetizandos sintam, percebam, que ao suprir as necessidades dos colegas/companheiros, também estardo sanando as suas. Nesse proceso de negociagdo precisam sentir-se parte ativa, sujeitos construtores de uma prética educativa. Nao podemos tornar aulas chatas, rotineiras e Passarmos 0 tempo todo, ov todos os dias nego- ciando 0 que vamos fazer, ou até mesmo pedir que lam sobre qual atividade iniciar... Devemos ser firmes nas negociagSes. Para isso chamamos atengdo do monitor para que fique atento para dois fatores essenciais: — As necessidades devem ser sempre nego- ciadas com antecedéncia com muitos questiona- mentos, problematizagdes. Isso tudo exige muita determinagdo/clareza_ do monitor demonstrando seguranca nas definig6es das atividades explicando, expondo os porqués do que vai ser feito, como, porque vai ser feito,onde e quando uma necessida- de se relaciona com a outra.. Essas negociagdes de necessidades acontecem sempre que for necessério mas principalmente quando queremos criar novas necessidades, quando precisamos selecionar, organizar as necessidades apresentadas pelos alfabetizandos e quando neces- sitamos reafirmar 0 compromisso e responsabilida- de de todos no processo de aprendizagem no cumprimento dos objetivas € metas. —~ No planejamento e no desenvolvimento das necessidades 0 monitor precisa ser criativo, deter minado, ousado e capaz de criar suspense, desper- tando uma sensacdo de curiosidade, desafio, de espera... Mas tudo isso na medida certa. $6 para deixar aquele desejo, vontade de quero mais, ¢ mais ainda, para que sintam na pele que vale a pena vir para a aula. © monitor precisa organizar essas idéias no papel, junto com seu coletivo, para pensar no melhor jeito de desenvolver as habilidades espect cas, mas varias possibilidades de atingir 0 objeti- vo, como também no cultivo de um ambiente de franqueza, confianga, solidariedade, ternura, didlogo na relacio com todos Sem pensar as varias possibilidades de condu- zit essa necessidade individual para 0 processo coletive de aprendizagem, fica muito dificil de garamtir 0 desenvolvimento das habilidades intelec- tuais de ESCREVER, CALCULAR, FALAR, LER, COMPARAR, ANALISAR, SINTETI- ZAR,... de todos. Em outras palavras seria a andlise, a reflexéo em cima das necessidades para serem transtormadas em ago concreta de aprendi- zagem, ensino, pensando, tragando as atividades que irdo ser desenvolvidas para que essas habilid des ¢ conhecimentos sejam contrufdas, concretiza- dss, E bom lembrar que & através do desenvolv mento dessas atividades que surgem as primeiras tentativas de escrita, os primeiros contatos com © tracado das letras, os primeiros textos escritos, as primeiras e6pias, como também so os primeiros trabalhos eseritos que iro ser expostos. para consulta, pesquisa,... para fazer parte do ambiente alfabetizador. MST Caderno de Educagio n° 4 Parte 3 Ambiente alfabetizador seu pai Ihe disse : "tés". Aureliano escre- marcou os animais e as plantas : VACA, veu 0 nome num papel que pregou com cola CABRITO, BANANEIRA,...” 5 na base da bigorninha: "tas". A: ficou (CEM ANOS DE SOLIDAO de certo de no esquect-lo no futuro(...) Mas Gabriel Garcia Marquez, pag. 37-38) poucos depois, descobriu que tinha dificuldades de lembrar de quase todas as Marcar_ com seu nome respective todo o coisas do laboratério. Ento marcou-as como material, todo 0 ambiente de circulagio das pes- nome respectivo, de modo que bastava ler a —_soas € transformar o espago em MUNDO ESCRI- inscrigdo para identificé-las (...) € José Arca- TO. A palavra, as letras precisam fazer parte nos dio Buendia o pos em pratica para toda a casa momentos de encontros, de lazer, de trabalho; e mais tarde o imps a todo o povoado. Com fazer parte da vida das pessoas, da vida do As- um pincel cheio de tinta, marcou cada coisa _sentamento. com o seu nome : MESA, CADEIRA, RE- Criar, construir um ambiente alfabetizador LOGIO, PORTA, CAMA,... Foi no curral significa: 8 MST Caderno de Educagio n® 4 — Tornar o mundo das letras, da palavra escrita, parte da vida das pessoas; — Tornar visfvel 0 mundo escrito — colocan- do 0 nome nos objetos para que todos possam nao 86 falar como também visualizar 0 proceso de estruturagao da palavra escrita; — Oferecer 0 convivio com a escrita para que compreendam 0 que a escrita representa e significa para a vida das pessoas e como estd representada, como podemos aprender a us4-la; — Tornar a escrita um processo permanente na vida das pessoas, para que os alfabetizandos aprendam a dominar a escrita da palavra, como também a escrita do significado e da utilidade da palavra, o que essa palavra representa na nossa vida. Chamamos ateng3o para o importincia desse trabalho de rotular 0 nome dos objetos, das pes- soas, dos animais, dos espacos mais significativos do Assentamento, da sala de aula, porque isso vai dar um outro aspecto para o ambiente, vai trazer vida nova para as pessoas, vida escrita que sempre Ihes foi negado, Esses ROTULOS devem ser feitos de tal forma que chame atengZo, sejam agraddveis de olhar ¢ demonstrem clareza, sendo verdadeiros Para que todo o Assentamento v4 compreendendo © porque que a palavras, as letras ESCRITAS comegaram a fazer parte do seu meio, da sua vida. No espago de realizagdo dos encontros, das aulas, além da identificagdo com os rdtulos 6 fundamental garantir a exposigio de diferentes materiais, como : livros, revistas, jornais, jogos (como xadrez), s{mbolos da luta do trabalhador.... Esses materiais precisam ser usados por todos, por isso © monitor precisa propagandear para provocar a curiosidade e motivar para o hdbito da leitura, sugerindo manuseio entre uma atividade e outra, solicitando pesquisa em grupo. Outro material indispensavel é 0 alfabetério, que precisa ser confeccionado e exposto, apresen- tando as formas da escrita mais usadas. Além disso, € recomendavel confeceionar alguns conjun- tos do Alfabeto para uso dos alfabetizandos na formagao de palavras e textos — com esse manu- seio de letras também vao observando seus traga- dos, vao percebendo as diferengas entre uma e outra, vao criando um jeito seguro e proprio de eserever. Para realizar esse novo processo, esse proces 80 de rotular os objetos em um ambiente/em um espaco torna-se necessério 0 envolvimento de um miimero expressivo de pessoas. Essa tarefa precisa ser assumida como misao por todos (liderancas, direcdo, monitores, professores, coordenadores... do Assentamento), pois todos precisam assumir seu papel de EDUCADORES nesse proceso de alfabetizacao. Mas, ambiente alfabetizador nfo é s6 rotular 08 objetos, existem outros momentos nesse proces- so de construgao da palavra escrita, que precisa ser cultivado por todos os educadores, sob a responsa- bilidade do monitor. Vejamos alguns desses mo- mentos: a) Organizagdo de um mural: Definir um ponto que seja de fécil circulago das pessoas. Nele coloca-se os avisos e comunicados dos acon- tecimentos do préprio Assentamento, como horério de Onibus, do atendimento médico/dentério, das reunides, palestras... Coloca-se também o preco de um determinado produto, o indice de aumento das mercadorias, da inflagdo; um resumo das princi- pais notfcias do pafs e do mundo extraidas do Jornal Sem Terra ou da Voz do Brasil... O impor- tante € que agradem a vérios interesses e corres- pondam a varias necessidades. A confecgao desse material exige bastante ctiatividade, organizacao e clareza para que o mesmo seja apreciado, usado e explorado pelas pessoas com Prazer, encanto, gostosura, para que se torne um ponto de encontro ou melhor ainda, um ponto de chegada de todos para colherem informacies. ) Registro das falas: O monitor precisa Promover espagos aonde ser desenvolvida a expresso oral, ctisndo os momentos para os alfabetizandos falarem de suas necessidades, seus sonhos, suas lembrancas... através de relatos, debates, discussdes... Porém tudo isso precisa ir para 0 quadro ou até mesmo para o cartaz em forma de rej fundamental conversar/discutir/debater assuntos diversos, como também faz-se necessério que durante essas falagdes, 0 monitor vai reprodu- zindo a fala dos alfabetizandos através da escrita Essa visualizagdo escrita da fala é indispensdvel para 0 avango no proceso de construcdo da palavra escrita. O ambiente alfabetizador ser construfdo também com esses materiais que repro- duzem a fala sobre quest6es do cotidiano, da vida dos alfabetizandos. Caderno de Educagio n° 4 Cabe a0 monitor (@ sua equipe), planejar muito bem essas atividades, tendo e deixando claro ‘© que se quer com cada uma delas, para que todos participem escrevendo, falando, lendo... Deixar que falem entre eles mesmos, falem em duplas ou em grupos, escolhendo um representante para relatar o resultado da conversa para todos. Durante esse relato das falas, © monitor registra os princi pais pontos no quadro. Apés, ou até mesmo durante, define-se 0 que 0s alfabetizandos irdo registrar em seus cadernos. E fundamental definir o tempo para cada momento a ser desenvolvido, pois muitas vezes corremos 0 risco de ficarmos $6 falando, e sabe- mos 0 quanto & fundamental, no processo de alfabetizagZo, acontecer a dosagem de tempo entre a fala, a escrita e a leitura pois facilita assim a propria avaliago do process, como também os, encaminhamentos necessérios. ©) Circulo de leituras: Ambiente alfabeti- zador também se faz entregando, expondo, indi- cando material para leitura, oportunizando 0 fluxo de comunicagdo esctita para com 0s alfabeti- zandos, as familias, 0 Assentamento como um todo. Precisa ficar atento quando vai ser realizado © levantamento das necessidades através das entrevistas, visitas, conversas informais, sobre essa questo da leitura, sobre o$ assuntos que chamam atengdo, que respondem a uma necessida- de, despertam interesse; pois assim fica mai fécil selecionar material para indicar ou empres- tar no momento certo conforme o gosto, a neces- sidade, Mas se ficarmos somente fornecendo material com leitura nao é suficiente, precisamos ser deter- minados, criativos e exigentes no jeito com que desenvolvemos essa habilidade de ler, para conse- guirmos despertar o encanto, o prazer, a dor, a sinfonia produzida pela pronuincia das letras e das palaveas, no ato de Ié-las. Devem-se criar formas diferentes de atrair 0 grupo cada vez mais para a leitura, como também ver as formas de cobranga, que precisam ir aumen- tando gradativamente porém sempre valorizando por merecimento os trabalhos apresentados, expon- do no mural, editando no jornalzinho do Assenta- mento, apresentando para os demais alfabetizan- dos. 4) Programagdes e eventos: Devemos cultivar a prética da escrita, para isso ndo podemos deixar que aconteca horas de reunides, palestras, onde pouguissimos anotam/registram os principais, Pontos, os encaminhamentos. Promover atividades atrativas, interessantes como assistir um video, programar um concurso de cantorias, programar uma festa, preparar uma celebragdo em homenagem ao aniversério do Assentamento,... porém desenvolvendo a pratica de usar a escrita e fazendo circular 0 maximo de convites, bilhetes, avisos, relatdrios, resumos. No infcio dessa prética ¢ fundamental usar vérias formas para divulgar a mesma atividade, para que se consiga despertar 0 gosto da maioria E importante que todos os educadores (também 0 monitor) quando vao fazer qualquer encontro distribuam algum pedaco de papel e lapis, registrar ‘no quadro alguns apontamentos principais, para que todos v3o experimentando/acostumando a usar a escrita, ‘A transformagdo do ambiente em ambiente alfabetizador é um processo coletivo e dinamico de conhecimento. Sem o envolvimento de todos no processo se perde 0 principal objetivo, que é de fazer com que seja mais uma forma de criar necessidades, de chamar atengao para 0 mundo nos cOdigos escritos, para que as pessoas saibam buscar auxflio quando sentirem necessidade, quando forem desafiados para tal. Devemos nos lembrar que 0 proceso nao mecdnico. Depois de colocar as placas...."t4 pron- to!" Fez-se o mural... "té pronto!" e que também ndo € feito por uma ou duas pessoas nem 130 pouco & responsabilidade somente dessas mesmas pessoas garantir o seu desenvolvimento. Porém, os ‘educadores e principalmente 0 monitor s30 uma pega-chave para orientar, conduzir as modifica- ‘Ges, as transformagdes permanentemente dentro das necessidades apresentadas pelo grupo de alfabetizandos, no decorrer do desenvolvimento das atividades praticas. Entio, 0 ambiente alfabetizador precisa ser encarado mesmo como um processo coletivo de conhecimento, que se dé pela acao de todos; tanto da confecedo/producdo, como da util busca de apoio nesse mundo dos escritos, de consultas, pesquisas, para a construc: propria escrita 10 MST Caderno de Educacio n° 4 Parte 4 Como se desenvolve um encontro: 1 Para desenvolvimento de um encontro preci- sam ser levadas em conta as questdes levantadas no diagnéstico inicial. Os elementos fundamentais para o desenvolvimento do plano do encontro, precisam ser extrafdos desse diagndstico, desse levantamento das necessidades. Dentro disso destacamos a importéncia da realizag3o do mesmo com o maior nimero de dados possivel, porque no decorrer dos encontros devemos constatar as formas, as diferentes pos- sibilidades para atender as necessidades dos adultos alfabetizandos, Devemos ser muito sérios, organizados, no Planejamento do desenvolvimento de cada encontro porque 0 adulto necessita perceberi/sentir a cada encontro que est encontrando respostas para dominar alguns problemas que enfrenta no traba- Iho, na famflia, no Assentamento, que as suas experiéncias esto sendo valorizadas e que as suas necessidades estéo sendo atendidas. Cabe aqui reafirmar a reflexdo anterior dizen- do que a forma de pensamento do adulto hé poucas manifestagdes abstratas, pois tudo é muito concre- to, precisa ser util na sua vida. Por isso mesmo que ele s6 vai integrar novos conhecimentos, quando hé necessidade para uma maior compre- ensio de uma determinada coisa, determinada tarefa. Para levar em conta essas quesides e para alcangar 0s objetivos que assumimos enquanto Caderno de Educagio n° 4 militantes do MST € que afirmamos a fundamental importincia de considerarmos alguns elementos para ‘© desenvolvimento dos encontros para que eles possam ser mesmo espago de produgio social do conhecimento, espago de busca coletiva, espago em que se constréem novos valores, espacos de legiti- maco dos direitos e deveres de ler e de escrever. 4.1 Por onde comecar 0 desenvolvimento dos encontros? A prdtica de refletir a respelto das questdes Jevantadas se d mais especiticamente no momento em que 0 monitor, junto com o seu coletivo, faz seus apontamentos, tracando os objetivos, aquil que se propde a desenvolver com seus alfabetizan- dos, com 0 Assentamento, propondo metas para 0 desenvolvimento das atividades, e também selecio- nando, ageupando por semelhancas as necessidades e tragando linhas de agio. Esse material & que vai ser negociado com os Alfabetizandos. Lembramos que a postura, 0 jeito com que 0 monitor coordena, direciona o processo é um fator determinante para o adulto, Ele nio se satisfaz com qualquer resposta, nem to poco com qual- quer atividade passada no quadro. Ele vem para os encontros para aprender e por isso mesmo que vai ficar observando se 0 monitor tem dominio de conhecimento. Se 0 monitor sahe mesmo aquilo que estd ensinando, aquilo que ele quer aprender, se 0 monitor est4 conseguindo ensinar a juntar as letras para escrever e ler. E ainda mais, se tem firmeza na organizacdo do trabalho e clareza de onde quer chegar. O alfabetizando nao pode sentir-se enrolado, precisa sim ser orientado num espago de seguranca e de desafio nesse processo de alfabetizacao. 4.2. A mistica nos encontros Outro ingrediente fundamental para um bom desenvolvimento de um encontro 6 a Mistica, A habilidade e a capacidade de motivar, de alimen- tar, esperangas, de comemorar as vit6rias, do grupo, de apontar safdas. E isso que faz com que tuns se preparem com tanto carinho para ir 14 na frente fazer um relato para a companheirada, que faz também com que dona Lurdes fique ansiosa em apresentar aquele canto para o grupo na hora da animagio, faz com que o grupo do seu Pedro mal possa se conter de vontade de apresentar represen- tando "a vida do Assentamento"... Ao mesmo tempo faz com que haja atitudes de solidariedade com aquele companheiro que faltou no ultimo encontro, com aquela companheira que no conse- guiu escrever uma determinada palavra. a8 questies vivenciadas e vividas no coletivo, fazem com que se construa mesmo uma relagdo de confianca, ternura, fraternidade entre todos, tornando 0 espago gostoso e agradavel de chegar, de ficar/estar e de aprender. 4.3. A distribuigdo do tempo A distribuigdo do tempo & um fator fundamen- tal, pois devemos ter cuidado para no nos perder durante essa prética, durante a arte de alfabetizar. Precisa ser controtado 0 tempo para cada atividade de ler, escrever, falar, calcular; a organi- zago nos grupos, 0 atendimento individual, para cada encontro. Essa é uma tarefa espeeffica do monitor. Essa previsdo de tempo para o desenvolvimen- to de cada assunto especffico, a cada habilidade, ¢ porque ndo pode haver tempo vago entre tarefas. adulto nao pode ficar esperando ociosamente 0 momento de copiar a préxima atividade até todos terminarem. Ou até mesmo ficar todo 0 encontro em cima de uma mesma atividade. O monitor necesita entdo de prever 0 tempo para as ativida- des comuns, para todos; como também o acompa- nhamento do monitor na leitura e da escrita de cada um, orientando, dando as opgies de ativida- des diversificadas para quem vai concluindo o trabalho, a atividade. No plano de cada encontro deve-se prever também o tempo para brincadeiras, cantorias, causos... Enfim aquilo que o proprio grupo de- monstrar que gosta. © monitor precisa ter bom senso e preciso nas distribuigo do tempo, analisando o plano na totalidade antes de desenvolvé-to. Isto € para ver em que momento do desenvolvimento do encontro, ird ser e ter maior aprofundamento, 0 momento que terd que acelerar, cobrar mais. Esses cuidados 2 MST Caderno de Educagio n° 4 € para nao sobrecarregarmos a aula com um monte de coisas sem dar tempo para aprofundar algumas questées bésicas ¢ também para no corrermos 0 risco de nfo ter feito nada durante o encontro. E a precisio de cada momento, de uma e qualquer atividade que ir ser realizada, desenvol- vida, que garantiré que a cada encontro se aprenda mais. 4.4 Trabathos em grupo: No processo de desenvolvimento da alfabeti- zacdo 0 trabalho em grupo deve ser incent do/valorizado: Porque é uma produgdo coletiva do conhe- cimento; ‘* Porque no grupo acontece a entre ajuda, a troca de saberes com uma linguagem mais fécil de explicar a compreensio do jeito de escrever; ‘* Porque 0 grupo acelera a aprendizagem, ois a duivida de um pode ser respondida por outro, porém este ao responder, tam- bem percebe que Ihe falta conhecimentos para argumentar e esclarecer sua resposta Af entdo cabe solicitar ajuda de um tercei- fo ou do monitor, buscar apoio no mate- sial...; ‘+ E porque também o grupo € gerador de conflitos, ora sente a sensacdo que sabe, ‘ora jé nao sabe mais; sao as incertezas que © processo de construcao da palavra escrita apresenta, como também no grupo o con- flito € bem melhor superado. Tudo isso ainda para a permanéncia dos alfabetizandos no curso. Quando a atividade requer trabalho em grupo aconselha-se que este no infcio seja formado por afinidade. Quando estio mais relacionados suge- re-se, indica-se a formag3o dos grupos conforme objetivo a ser atingido, conforme a habilidade que precisa ser melhor desenvolvida. Nesse caso & 0 ‘monitor que precisa saber quem vai com quem no trabatho em grupo. E bom que o grupos assumam responsabilida- des para contribuir no bom desenvolvimento das aulas: GRUPOS DE ANIMACAO, MISTICA. {que vo planejando com antecedéncia suas ativida- des. Chamamos a atengdo para a importancia do trabalho em grupo no desenvolvimento do processo de alfabetizacio, porém alertamos que deveré haver também, momentos significativos da produ- do individual do conhecimento e de assimilagio de cada um dentro do seu préprio ritmo, das novas informagdes adquiridas. ‘Chamamos atengio ainda, para outra questo que, muitas vezes acaba assustando os monitores: ‘os niveis de conhecimento muito diferenciados dos alfabetizandos. E essas diferencas quando bem pensadas e contempladas no planejamento, ajudam ‘bastante, ‘Sao essas diferencas no grupo que fazem com que aparegam as diferentes maneiras de enten mento sobre uma determinada questo, aparecem 0s diferentes jeitos de compreender/interpretar; os questionamentos so mais frequentes, os argumen- tos precisam ser melhor preparados e a busca por respostas, pelo acerto, em querer aprender, tor- na-se mais intensa nos alfabetizandos e no proprio monitor. Trabalhar com essas diferengas 6 um desafio € compromisso do monitor. Para isso, 0 monitor precisa desenvolver a habilidade de problematizar no momento oportuno, 0 momento de dar uma resposta, de lancar o desafio a pesquisas, a busca de Tespostas e acertos, como também 0 momento de ajudar, buscar junto ao alfabetizando as respos- tas, de propor que um colega o ajude,... 4.5 Momentos da fala: A alfabetizagdo ndo pode girar somente em torno da escrita, Precisa incentivar a fala e mostrar como ela funciona no meio social. © espaco da fala, o desenvolvimento da oralidade deve ser um dos objetivos que devemos alcangar com todos. Deixar que falem, soltem sua voz, contem seus causos/sonhos/lutas, contem noticias, que relatem o rendimento/a produtividade do Assentamento,... FALAR/ DIALOGAR faz bem. Nos momentos de fala a escrita acompanha sempre. Combinar/expor anteriormente 0 que vai ser feito de registro durante 0 momento da fala, MST 3 Caderno de Educagio n° 4 rc por todos. Para provar que o monitor também gosta de escrever e para os afabetizandos irem pegando 0 jeito de escrever,...0 monitor deve reproduzir a fala dos alfabetizandos através de registro no quadro. Ficar sé falando nao d4 e nem ficar sé ouy do e nem tio pouco ficar sentado durante todo 0 encontro. Os alfabetizandos precisam desenvolver_ tudo, todas as expressdes na dose certa, a fala, a escrita e a corporal. 0s alfabetizandos necessitam se expressar de varias formas ; falando, escrevendo, lendo, através de gestos e movimentos. Por isso mesmo precisam ser criados espacos onde, esses jovens e adultos, se sintam motivados para desenvolver atividades de escrita, leitura, interpretagdo e, também, de ex- pressio corporal. ‘As atividades de expresso corporal podem ser garantidas através de teatros, dramatizacbes, dangas, cangbes,... onde ¢ expressado, demonstra- do através do corpo, movimentos, gestos, ritmos. ‘As atividades podem até surgir de um causo, historia contada pelos alfabetizandos ou monitor, de uma notfcia lida ou contada, da letra de uma cangao,... Essas atividades so dtimas para serem inter- caladas durante o desenvolvimento do trabalho de sala de aula quando a aula estd cansativa,... poden- do até ser previsto 0 dia em que cada grupo ou atividade ird ser apresentada; como também & excelente para serem apresentadas num momento cultural com todo o Assentamento. 4.6 Escotha de atividades: Atividade & 0 como, o jeito concreto de fazer para chegar onde queremos. E essas so pensadas em cima dos objetivos e sao desenvolvidas para atender as necessidades dos alfabetizandos Para cada atividade, devemos pensar no jeito com que vamos iniciar seu desenvolvimento, no jeito com que vamos dar continuidade e no jeito ‘com que vamos encerrar/concluir. Assim acontece © aprofundamento, 0 envolvimento no grupo durante a prética endo devemos ficar a cada dia pensando qual atividade/o que fazer para chamar atengio, para envolvé-los nos trabalhos, pois ja temos 0 caldo grosso e no dia-a-dia 6 s6 ir afinan- do esse caldo, é s6 ir tornando mais detalhadas as agdes concretas. HG outras atividades que requerem um tempo maior para seu desenvolvimento e estudo. Eessas chamamos de Grandes Atividades que, podem ser : atividades culturais, esportivos, festivas, religio- sa... AS grandes atividades geralmente exigem uma organizacdo maior do trabalho, um planeja- mento mais rigoroso mais detalhado e também nelas acontece 0 envolvimento de um mimero maior de pessoas ¢ exige um tempo maior para seu desenvolvimento. Por Exemplo: © Fazer um mutirdo de trabalho para concluir a construgdo da nossa sala de aula; ¢ Organizar a festa de aniversé- rio do Assentamento; * Campanha para melhorar as condigdes de higiene do Assentamento, O adulto ndo € faz-de-conta, ele & pratico ¢ a0 desenvolver esas atividades o ler, 0 se organizar, © eserever, 0 discutir, 0 levantar questdes nos ‘grupos, apresentar suas opinides e 0s resultados de seu trabalho tornam-se mais expressivas porque ajudam nas suas vidas. Se ninguém pensa, propde, discute, langa o desafio, fica exigindo, nio acontece nada, ninguém tem nada de bom, de gostoso pra se preocupar, para tornar a cara mais alegre, para se deixar mais bonito e tomar 0 espago borbulhante. Quando acontece coisas © as pessoas sio envolvidas, af sim, sentem a escrita com prazer e com utilidade. Escrevem convidando, agradecendo, contando as novidades, as fofocas quentes para por no mural, acontece a pesquisa até para fazer uma carta de agradecimento, de protesto, de apoio,... Deve ficar claro durante 0 processo que 0 prdprio desenvolvimento vai mostrando 0 que vs ser preciso realizar no prdximos encontros para ser atingida a meta prevista. No trabalho de um encontro deixar um engate para o préximo com para cada demanda. As tarefas podem Giversificadas possiveis, conforme também as afinidades, entregar um convite para a direcdo do Assentamento vir fazer uma palestra, agendar com o ténico agricola, preparar_um iscurso, convidar mais um analfabeto para os encontros. Para o adulto é uma condigao necesséria saber com clareza 0 que vai ser feito na proxima aula e que algo estd sob sua responsabilidade. Isso s6 vem a somar nas horas de indecisbes. Por exem- 14 MST Caderno de Educagio n° 4 plo: saber se vai pra aula ou ndo. Se a aula em si responder alguma necessidade real do alfabetizan- do, a resposta ser4 positiva. 4.7 Como fazer a avaliagio: © monitor precisa refletir sobre o seu traba- Iho, o jeito que estd desenvolvendo os conhecimen- tos, se esté conseguindo fazer com que aprendam ler/escrever! expressar/calcular, se 0s alfabetizan- dos saem satisfeitos ¢ como est4 acontecendo 0 retorno deles para 0 préximo encontro. Refletir também no como terd que fazer para que acontega maior participagdo, se 0s objetivos estio sendo alcangados. © monitor também precisa refletir sobre 0 trabalho dos alfabetizandos, onde tera que desen- volver 0 habito de registrar as questGes fundamen- tais que acontecem na sala de aula — sobre o tipo de pergumtas, a responsabitidades e a partici- pagio nos encontros e também sobre suas diividas e como esté acontecendo o desenvolvi- mento da escrita, a produgao do conhecimento de cada um, Deve ser capaz de refletir em cima do material produzido pelos alunos e fazer os registros das quest5es observadas, todas as dificuldades _e avancos de cada um. Depois disso precisa ser feita uma andlise, reflex3o geral onde vio ser extraidos os principais elementos, contei- dos que necessita de aprofundamento na sala de aula. E refletir/avaliar também em cima das novas necessidades que vo sendo apresentadas durante 0 proceso para melhor ser conside- rada resultado da soma de todos esses momen- tos de reflexdo, avaliacdo € que vio ser trans- formadas em atividades préticas, para aprofu dar, desenvolver as habilidades e elaborar conheci mentos. O monitor tem que pegar o hébito de divulgar © parecer geral dessa avaliago em perfodos fre- quentes, para todos envolvidos — educadores, direcao do Assentamento, equipe de monitores ,os prdprios alfabetizandos, pois estes precisam ficar sabendo como esté andando 0 seu trabalho, a sua aprendizagem. 4,8 Elementos para 0 desenvolvimento dos encontros A alfabetizacdo que queremos e vamos desen- volver € muito séria e por isso mesmo, exige € necessita ser pensada, planejada e estruturada em cima dos principios da Classe Trabalhadora, do MST, ¢ apoiados no jeito de querer fazer essa alfabetizagio, Por isso, todo 0 provesso, nos seus diferentes ‘momentos de desenvolvimento, precisa ser defini- do, ser pensado passo por passo para que se construa 0 processo durante a caminhada. a) Definigio de objetivos: Pensar 0 que queremos com todos e com cada ‘um dos alfabetizandos para que avancem no seu conhecimento para o desenvolvimento do trabalho do Assentamento, da organizagao enquanto movimento. b) Contedidos a serem desenvolvidos: Pensar no que é mais urgente desenvolver, 0 que & mais necessério para aquela realidade social, para alcangar os objetivos, as metas Propostas, e quais so as habilidades a serem desenvolvidas. ©) Definir atividades: Definir 0 como desenvolver as habilidades intelectuais. Como tornd-las significativas, o tempo necessério para cada uma, os momentos da aula — © infcio, 0 desenvolvimento e o fechamento com 08 possfveis encaminhamentos. 4) Prever os recursos — humanos e mate- riais: Definir e providenciar 0 que precisamos, 0 que necessitamos para realizar um bom desenvolvi- mento dos encontros. ser acompanhado 0 trabalho como um todo ¢ no avango de cada um, MST 15 Caderno de Educagio n° 4 Histéria de luta por terra SEU ANTONIO TRABALHAVA DE MEIA, UM DIA DESANIMOU E SENTOU NO CHAO ONDE TRABALHAVA O PENSOU NUM ASSUNTO QUE PODIA DA CERTO. ENTAO AJUNTARAM UNS. COMPANHEIROS PARA UMA GRANDE REUNIAO E ENT&O COLOCARAM O SEGUINTE: QUE ‘TTENHA DE SER MAIS CORAJOSO, E LUTAR POR UM PEDACO DE TERRA QUI SERIA UM FUTURO PARA NOSSA VIDA. FOIDAI QUE OGANIZARAM E PATIRAM PARA UMA LUTA ONDE QUE HAJA TERRA PAO E MORADIA DIGNA PARA NOS O NOSSO FILHOS. TERMINOU AQUI MINHA HISTORIA. AGRADECO A DEUS POR MINHAS CARIDADE E POR DAI-ME MUITA CORAGEM. EDILSON ASSENTAMENTO UNIAO — ES. (15/03/93) 16 MST ‘Caderno de Educagio n° 4 Parte 5 A producio escrita através do texto a S.1 © que € um texto? Entendemos por texto um conjunto de pala- vras, ou um conjunto de palavras e ilustracdes, através do qual o autor expressa de forma organi- zada seus pensamentos, idéias e sentimentos, em cima de um determinado objetivo proposto. Seguidamente nos deparamos com vérias situagdes em que 0 texto ja estd representado, ja faz parte do nosso meio, como receitas de remédios, receitas culindrias, artigos de revis- tase jornais, as leis, estatutos, documentos, histérias/contos da literatura, folhetos propa- ganda, manual de instrucdo, correspondén- cias, Por outro lado, precisamos nos alertar para a importancia de comegarmos a criar, produzir os textos dentro de diferentes situagdes, aproveitando estes que jd esto circulando para pesquisa de apoio e de aprofundamento. Os textos precisam ser desenvolvidos dentro das 3 formas de expressao: ‘ORAL, CORPORAL, ESCRITA. Nosso compro misso € fazer com que a ESCRITA faga parte sempre de todo processo, sendo antes durante € aps a realizagao de uma determinada tarefa, Essas representages da ESCRITA em forma de texto, pode acontecer através de : relatérios de atividades, planejamentos de atividades, registros de discusses, decisbes e avaliagdes, normas gerais, para trabalhos em grupos, a forma de organizagao MsT 7 Caderno de Edueagio n° 4 do grupo nos encontros, entrevistas (elaboragdo de roteiros e critérios pecas teatrais, cangdes, poemas, ‘versos..., relagio de compras, registros, controle da alimentagdo e produgdo, correspondéncias mais usadas, atas e sinteses de reunides, conclusdes € encaminhamentos. Os textos precisam ser variados, pois cada texto tem sua funcdo e todos precisam ser trabalha- dos segundo suas especificidades. O importante € que 0s alfabetizandos aprendam e gostem de registrar suas expressdes tanto sociais como de Brupos. E bom lembrar que os textos surgem, mas com mais vigor, quando partem de situaydes concretas, de necessidades reais, vivenciadas no proprio grupo. Para quem est4 no processo de constru- go das hipdteses de escrita/leitura, um texto pode ser: ) Elaborado usando rabiscos. Os rabiscos sio a manifestagdo escrita do iniciante. Rabiscos séo tragos sem forma definida podendo até ter poucas semethangas do tragado de alguma letra Ao ler, os alfabetizandos relatam suas questées pessoais, de vida. Chamamos atencdo que essa maneira de representar a escrita ndo € comum no adul- to, podendo no entanto, haver casos assim. b) Elaborado usando as letras aleatoriamente. alfabetizando vai colocando as letras sem se preocupar com as combinagdes das mesmas para formar a palavra. Ao fazer a leitura, o alfabetizando 18 uma histéria ou I os nomes das letras. ©) Elaborado através de eépias de palavras ¢ frases do ambiente alfabetizador. Ao ler no hd sintonia entro o lido eo escrito, 4) Elaboraclo de frases pequenas, curtas. E na leitura geralmente hé relages entre escrita e leitura Cada vez maior e melhor compreendido concebido 0 processo através de questionamentos e desafios, 0s alfabetizandos desenvolvem textos com contetidos, argumentos, seqiiénci de idéias, Sobre esses textos, as formas de construgao da palavra escrita, retomaremos na PARTE 6. 5.2 Por que e como alfabetizar partindo do texto? “a escrita ndo se desenvolveré como habito de mio e dedos, mas como uma forma nova ¢ complexa de linguagem” "a escrita deve ter significado e deve ser incorporada a uma tarefa necessdria e relevan- te para a vida" L.S. Vygotski Dentro desse item, temos duas questdes fundamentais que precisamos aprofundar para que possamos compreender melhor a nossa concepca0 de alfabetizagao. Tniciamos argumentando o por que defende- mos que 0 processo de alfabetizagao seja desenvol- vido através de texto Porque sabemos que a escrita precisa ser significativa e til na vida das pessoas e que a mesma deve corresponder as suas reais necessidades, dando-Ihes a oportuni- dade de saber usé-la — Porque no texto fica mais fécil de identi car, reconhecer 0 significado real que a palavra expressa. ~ Porque ndo queremos ensinar a ler e escre- ver partindo de formas fragmentadas, com © objetivo centrado nas letras, nas sflabas, nas palavras. — Porque no texto o universo lingiistico, vocabular, € maior e isso faz com que 0 contato com a escrita aconteca, acelerando © processo de aprendizagem. — Porque 0 texto acelera a formagio das estruturas mentais do conhecimento, fazen- do com que acontega a formulago de hipsteses. — Porque a elaboracdo do texto exige argu- mentagdo, escolha de palavras, organiza- 30 do pensamento, definigo dos objet vos, com isso se vai adquirindo conhec mento sobre 0 que significa a escrita e como a usamos. — Porque € um processo de construcao cole- tiva do conhecimento, onde acontece partitha, cooperacao, solidariedade, orga- hizacdo e avaliacdo de todo o processo de estruturagao do texto. 18 MST Caderno de Educagio n° 4 Vamos ver agora como fazer este jeito de alfabetizar partindo do texto e como construir esse processo permanentemente, Para a elaboragio, 0 domfnio maior com a escrita, € preciso que compreendam duas questdes, importantes: como a escrita esté representada, construfda © © que a mesma representa. Por isso mesmo da importincia do material exposto nas mais diferentes formas de expressio escrita. Por isso mesmo a importéncia de deixar ou forgar e sugerir que os alfabetizandos manuseem material escrito como livros, revistas, jornais, r6tulos... depois que relatem oralmente, dramati- zem,,. O monitor deve ter o hébito de ler 0 jornal, ‘uma lenda, um aviso. Quando se faz essas ativida- des de leituras, de fala, de manuseio de material, sempre se precisa reservar momentos para a realizagdo da expressio escrita Quando estd acontecendo a transformagio do ambiente alfabetizador, € preciso pensar nas varias maneiras de envolver a todos no desenvolvimento, na organizagdo do trabalho, na distribuigdo de tarefas nos grupos. Ainda, como aproveitar tudo para trabalhar as habilidade espectticas de alfabeti- zasio. O mais importante & que o monitor aproveite todas as oportunidades para desenvolver conheci- mentos com os e dos alfabetizandos, para que eles prdprios vio compreendendo e incorporando os elementos novos. Os ensaios, as tentativas de escrita e leitura passam por af também, seja no tornar 0 ambiente alfabetizador, no manuseio de revistas, nas cdpias de palavras, nos encaminhamentos tirados, no relato da fala do grupo, na comunicagio,... O importante € que esses momentos precisam ser criados, vividos e aproveitados para a escrita e a leitura. O monitor vai para o quadro, registrar chamando a atencdo para aquilo que estd escreven- do — Estou escrevendo a decisio do. grupo... olhem como se escreve essa palavra — quantas letras tem? Qual letra comega? Qual letra termina? ‘Agora vou ler para vocés, quem ajuda ler essa palavra?.. Devemos criar espagos de produgdo da escrita do proprio alfubetizando, mas devemos fazer que cada um construa conhecimentos e desenvolva habilidades indo além do que jd sabem. Por isso 0 alfabetizando precisa ter tempo para sentir segu- ranga ¢ fazer as tentativas de texto escrito, junto a isso precisa ser ensinado o nome das letras, precisa ser feita o6pia de registros escritos no cartaz, no quadro e precisa ser feita a leitura de alguma palavra, de algum texto em cada encontro. Pre sam ser supridas as curiosidades, expectativas © necessidades. ‘As formas de elaboracio de textos precisam ser variadas, podendo ser produzidos individual- mente, em grupos e coletivamente. Cada um no seu momento especifico, porém todos contribuem no processo de construgdo da escrita e leitura ‘Tendo também bem presente que o trabalho em ‘grupo acelera o processo de aprendizagem, e que © trabalho individual € fundamental no momento de ver como esté se dando a construgao da pala- vra, como 0 individuo vé seu avanco no desenvol- vimento das habilidades de ler escrever e fazer contas. Entdo precisa haver um equilfbrio. Veja- mos algumas possibilidades de como poderia contecer este equilfbrio: a) Textos criados pelos alfabetizandos: quan- do os textos sio criados pelos alfabetizandos, 0 monitor precisa considerar os diferentes niveis de desenvolvimento da escrita ¢ leitura e os diferentes ritmos de cada um. E necessdrio manter a motiva- glo para que todos escrevam fazendo uso da pesquisa nos diversos materiais, solicitando ajuda dos colegas, do monitor. Depois que os alfabetizandos tiveram seu ‘momento individual de desenvolvimento da escrita, daf sim 6 0 momento de deixar que ampliem ainda mais sua escrita e leitura nos grupos. Assim, quando v3o para o grupo j4 tém algo pensado, escrito, facilitando a participacdo, a troca de idéias, 0 escrever juntos, a producao coletiva do conhecimento Os trabalhios, as atividades desenvolvidas em cada grupo se expie para os demais, 0 monitor aproveita os mesmos para estudos e aprofundamen- tos (extrair as palavras principais, estudar as letras, sflabas, frases...). O monitor precisa analisar todos 05 textos produzidos nos grupos e pensar as formas de aprofundamento com todos os alfabetizandos. b) Textos elaborados junto com os alfabet zandos (coletivos): para montar um texto coletivo faz-se necessério todo um trabalho de aprofunda- mento, estudo do assunto, anteriormente. Precisa haver coleta de dados, informagies através de MST 19 Caderno de Educagio n® 4 pesquisa nos livros, jornais, nas discussdes... E bom lembrar que essa preparaso para a elabora- 0 do texto coletivo, vai criando condigdes para realizar trabalhos individuais, em grupos, onde v0 buscar 0 aprofundamento do contetido, buscando elementos para a argumentacio.. Para deixar mais pratica a idéia, colocaremos algumas sugestées de como fazer um texto cole- tivo: — Registro pelo monitor, dos principais pontos € questbes discutidas. — Extrair a idéia principal do assunto discuti- do, Deixar que escrevam primeiramente individual ¢ apés em pequenos grupos — escrever em painéis ¢ expor na sala... — Podem expor os trabalhos para os demais, ao fazé-lo ir pontuando alguns dados mar- cantes (e 0 monitor registra no quadro). — Dos dados e fatos levantados pode ser ordenado a sequéncia dos mesmos, assim estardo montando a estrutura do texto Quanto maior for 0 mimero de informagdes, de dados, maior serd a patticipagio e o resultado do trabalho, O importante que tenham espago para ser construidas as vérias tentativas e as diferentes formas, até chegar na elaboracao do texto coletivo, propriamente dito, aproveitando todos os dados extraidos anteriormente. ©) Textos jé elaborados: Os textos das revis- tas, jornais, livros diversos... podem ser usados para a leitura, para a pesquisa bibliogréfica, para realizar cépias de fatos e dados importantes, nos mais diversos assuntos. E bom orientar os alfabetizandos sobre como se faz para aproveitar bem a leitura - ler com atencdo, ler varias vezes o mesmo texto, sublinhar ‘ou passar no caderno os pontos principais do texto; ao ler, identificar as partes que compdem o texto e extrair a idéia principal de cada parte, bem como, também a mensagem do texto lido. Orientar para que elaborem, por escrito, seus argumentos sobre 0 assunto do texto, para isso terdo que identificar e entender os significados das palavras usadas no texto, Essas anotagdes sobre os textos lidos, servem para orientar, apoiar os alfabetizandos no momento de um debate, de uma discussdo; até mesmo para desenvolver a expresso oral, desinibindo e tirando o medo de falar, dando alguns minutos para cada um expor seus argumen- tos para os demais companheiros, Todos esses exemplos citados podem ser desenvolvidos até mesmo quando © monitor faz a leitura para os alfabetizandos, Do texto lido, pode ser montado pesas de teatro, dramatizagdes, ou até mesmo cangies, versos, poemas, como ainda extrair elementos para seus proprios textos. Lembramos que & no contato com esses textos que 0 monitor vai desenvolver conhecimentos sobre a producto textual, a estrutura de um texto. Por isso precisa ser fulado, explicado e discutido sobre os pardgrafos e as partes do texto, sobre como ele estd organizado, sobre o jeito que 0 autor expressou seu pensamento, seus argumentos... para que os alfabetizandos construam conhecimento sobre 0 TEXTO e para que estes, nas mais dife- rentes formas, comecem a fazer parte das suas Para cada texto ou habilidade que © monitor desenvolve com os alfabetizandos, € fundamental ter clareza do que, pra que e como fazer, pois através do seu desenvolvimento 0 monitor vai ter @ garantia se esté respondendo ou no certas questdes fundamentais, se esté dando respostas para as necessidades do grupo como um todo, Isso 0 monitor consegue na medida em que faz a reflexdo, pensa sobre sus prética : © melhor jeito de envolvé-los, de ensinar a ler e escrever, como um interesse maior para escrita do atividade que ird ser desenvolvida precisa relevar a capacidade de criagio e o desen- volvimento do conhecimento de todos e de cada um. Vamos ver como se trabalha com as formas de elaboracao de textos, através de um exemplo de desenvolvimento de uma pesquisa dentro do assunto producdo. Agora vamos pensar alguma possibilidades de desenvolvimento de escrita leitura em trés momentos : Antes, durante e apds a realizagio da pesquisa. 1. ANTES: O monitor precisa pensar todas as possibilidades de desenvolvimento, organizacio, execugdo e produgao de conhecimento na alfabeti- zacio: — Os alfabetizandos organizam-se em grupos para definir a drea da produgdo a ser 20 MST Caderno de Educagio n* 4 pequisada, como também fazer 0 levanta- ‘mento das principais produgdes dessa érea; — Ap6s isso os grupos expiem os dados, onde se faré a definigio da drea e da produgio; — Se tiver mais que uma producZo a ser pes- quisada na 4rea, cada grupo desenvolve a pesquisa em cima da produgdo escolhida, Exemplo : PRODUCAO DE MILHO, PRODUCAO DE LEITE, PRODUCAO DE SUINOs. — Preparagdo dos dados que cada grupo quer levantar, saber dentro de cada producio. Momentos de: © Montar um questionario. © Organizar as definigbes de cada grupo em ‘um painel. © Definir quem do grupo ird expor. — Apresentagdo de andlise dos dados que cada grupo levantou dentro da produgdo escolhida, ‘* Discussdo com aprofundamento das ques- tes levantadas de cada grupo. ‘© Nesse momento o monitor deve chamar atengio para alguns dados fundamentais que precisam ser levantados também com a pesquisa: a organizagio das pessoas para o trabalho; cuidados, higiene e controle de produgio; a localizacio. — Como também podem ser elaboradas as questdes primeiro individualmente, onde faremos 0 estudo das questdes trabalhando com a alfabetizagao, depois faz-se a andli- se das mesmas em pequenos grupos e por ultimo no grande grupo. — Entrar em contato com os responsaveis de cada Area de producdo, através de cor- respondéncias (cartas, bithetes,...) definin- do a data, hordrio € os informantes de cada produgio. — Carta comunicando o realizagdo da pesqui- sa no Assentamento. — Definir como vai se dar a organizacio dos alfabetizandos durante a realizacio. da pesquisa; © Cada grupo pesquisa a sua produgZo, ou vamos todos fazer a pesquisa primeiro em uma drea e depois nas outras... © Tragar as normas de organizacao de todos (como vai acontecer, vamos escrever as respostas em grupo, individual, material necessério, horério de chegada...) — Organizar as definigdes no mural, divulgar no jornal... Além dessas possibilidades levantadas, pode- rho ser criadas outras diversas junto com 0 grupo de alfabetizandos. Assim esto entrando em contato com varias formas de organizacao, de convivio de conhecimentos, e estio obtendo elementos suficientes para programar-se € ava- liar-se em suas atividades pessoais e do seu cole- tivo. 2. DURANTE: Breve tetomada dos encami- nhamentos — Realizagdo da pesquisa com a aplicagdo do questiondrio com registro das respostas — Observagdes (anotagdes de algum dado novo). — E 05 agradecimentos. Uma palavra do epresentante do grupo ¢ do monitor, como também uma cartinha... Ninguém lembrou de pensar e organizar essa parte? Entio depois se avalia, 3. APOS: Espago para conversas para que os alfabetizandos possam apresentar 0 parecer geral da pesquisa — Avaliagdo escrita dos grupos de trabalho. — Avaliagdo esctita do todo da pesquisa. — Apés essa avaliacdo fazer 0 relatério da pesquisa, expor no mural, fazer um jornal- zinho para cotocar os dados conseguidos através da pesquisa — Com cada produgdo calcular os custos ¢ a receita para desse tirar o resultado da producdo — os lucros de cada ano. — Para controle dos dados de cada produgto pode ser feito uma tabela por ano, onde definimos com os alfabetizandos os princi- pais elementos que iremos fazer constar; Exemplo: PRODUCAO DE MILHO: tipo de semente, preparo da terra, quantidade do produto usado internamente, quantidade que foi comercializado por ano... Assim a producdo de leite e de suinos. — Os resultados das produgdes por ano po- dem ser apresentados com gréficos, linhas de tempo. MST a Caderno de Educagio n® 4 — Pode ser desenhado 0 trajeto feito para realizar a pesquisa — deste criam-se tex- tos, fazem-se leituras, estudam-se as pala- vras, letras... — Montar uma maquete da drea de produgio, destacando os principais pontos a serem considerados. — Calcular 0 tempo ganho na realizagio da pesquisa, da apuracdo dos dados por gru- pos, dos lucros obtidos de cada ano. Nos queremos uma alfabetiza¢ao que v4 muito além da escrita, do nome, € muito além do reco- nhecimento das letras. E para isso precisamos fazer vida e paixdo nas aulas, nos encontros e isso se consegue quando acontecer um envolvimento dos alfabetizandos em todos os momentos : plane jando, discutindo, combinando, organizando, executando e avaliando esse processo de aprendiza- gem, ndo somente no espaco da sala de aula, como também em todas as atividades culturais, religio- sas, recreativas,... do Assentamento. 5.3 © papel do monitor no trabalho com texto: Oportunizar momentos de producdo coletiva. Por esses elementos que o alfabetizando adquire através da elaboracao do texto, ficam mais ricos quando sao trabalhados em grupo, pois acontece com mais intensidade a interagdo de idéias, argu- mentagdo,... e acontece a cooperacdo na aprendiza- gem nos diferentes niveis de desenvolvimento do conhecimento, Garantir que a leitura e a escrita acontegam juntas, tudo 0 que se escreve se I¢, pois ao ler estard percebendo a forma e 0 sentido das pala- vras. A leitura exige do alfabetizando organizagZo no uso das letras, como a colocagdo sistematica e gradual dessas letras para escrever a palavra, Pois a escrita remete sempre & leitura. E leitura se garante criando espacos para a mesma acontecer. O monitor precisa ter o hébito de ler para os alfabetizandos a cada encontro, e a leitura terd que ser bem feita. Precisa ler bonito, com boa articulago das palavras, com vérias tonalidades na voz para que a leitura agrade, prendendo a aten¢o e emocionando. Os dados coletados sobre a escrita e a leitura dos alfabetizandos nao s40 suficientes, pois € fundamental 0 momento de pensar, refletir sobre cada texto, registrando em separado as questies, especificas de cada um como também os aspectos mais relevantes do grupo como um todo. Af entdo © monitor vai saber quais as dificuldades mais urgentes da maioria do grupo e aprofundar 0 estudo com todos. E ao mesmo tempo saber onde, © em que aspecto poderd ajudar cada alfabetizando a avangar na escrita e leitura no momento do acompanhamento individual © monitor acompanha a escrita dos alfabeti- zandos anotando em seu caderno os aspectos fundamentais que v3o aparecendo no geral do grupo de alfabetizandos: — jeito que cada um esté escrevendo; — busca de informagdes nos mate- riais; duividas apresentadas,... como também, orientando, demonstrando seguranca, carinho nos momentos em que for solicitado com questiona- mentos: — Quantas letras tem essa palavra?; Qual 6 primeira letra?; O cartaz tal ajuda para escre- ver essa palavra?; O que tem de igual?; Quantas palavras tem?; No momento j4 tomar a leitura do seu texto. Quando analisa os textos dos alfabetizandos, por menor que seja 0 valorizar 0 conteddo, bem como a estruturagdo do pensamento através da organizagao das idéias, da argumentagdo usada com a escolha das palavras e também a prépria definigéo do que se quer com o texto, Esses sio elementos essenciais para a elaborado de novos conhecimentos, pois ganham significado maior na sua vida, O monitor deve criar condigdes permanentes de aprendizagens que despertem a curiosidade cientffica e intelectual, como também o gosto pela investigagio e reflexio, pela pesquisa nos mate- riais, pela elaborago e compreensio das palavras expressadas nos textos. MST Caderno de Educacio n° 4 Parte 6 A construcao de escrita. Como juntar as letras EU ACHO QU/ UIS TRABALHADORES. ISTA. MARSACRADO. PELO. A BUR- GUESIA. ELES TEI U MEIO DE PRODU- CAO, QUE. ELE TOMA A FORCA DOS TRABALHADORES ; PARA QUE ELE SEJA UN. BOIA FRIA. SI ELE COIESECI A REFORCA AGRARIA. ELE NAO ES- TAVA. ASALARIADO. E UN POBE ASALARIADO U. QUELE GANHA NAO DAR PARA SUBISISTENCA. TE MAIS ‘TRABALHADORES. FIM — 7 ose [eames aerate ACUPA REZITI 1 PRODUZI AUTOR : Severino A. da Silva PERNAMBUCO, 26/06/93 E através da escrita que nds podemos fazer uma reflexdo, uma andlise do nosso proprio pensamento, Para realizar essa escrita € necessdrio conhe- cer 0s signos — 0 nosso alfabeto — e ao mesmo tempo entender como fazer para juntar, compor esses signos para formar a palavra escrita e lida MST Caderno de Educagio n° 4 ‘A construgéo da escrita inicia quando o alfabetizando cria hipsteses, estabelece relagdes entre letras e palavras. Por isso mesmo precisa identificar os nomes das letras do alfabeto e enten- der que as letras tem um tragado que € chamado de GRAFEMA e um som que ¢ chamado de FONE- MA. Para que a construcdo da escrita acontesa faz-se necessério criar espago de pesquisa, segu- ranga, gosto em querer fazer as “tentativas de escrita" e "as tentativas de leitura", que sdo apre- sentadas em forma de texto. Muitas vezes os alfabetizandos, quando solicitados para escrever seus textos livres, suas tentativas de escrita, podem ter varias reagdes —um diz que precisa aprender a eserever antes de escrever sozinho, outros tem medo de fazer errado e dizem que nao escrevem porque ndo sabem juntar as letras,... Porém & nesses momen tos que entra a combinacdo entre monitor e alfabe- tizando. monitor precisa travar um didlogo com os alfabetizandos, demonstrando seguranga nas of tages para a pesquisa nos materiais, explicando como se dé 0 processo de escrita e nas combina- es, nas negociaghes — primeiro voce escreve depois eu te ajudo. O mais importante nesses momentos é propor- cionar esperanca ¢ seguranga para que os alfabet zandos vio adquirindo vontade e gosto de produzir sua propria escrita e sua prOpria leitura. E se for preciso escrever porque eles se negam, entio 0 monitor que faga e continue buscando outras formas, vias de combinagdes e negociagdes. Alguns alfabetizandos podem escrever seus textos usando as letras conhecidas por eles, sem se Preocuparem com os fonemas de cada palavra. Outros nio admitem escrever as palavras usando somente uma letra, por que acham impossfvel mas ‘40 mesmo tempo Ihes faltam conhecimento para saber porque isso ocorre. Como também, alguns aceitam escrever as palavras fazendo relagdo. com a fala, isto é conforme a pronincia da palavra usam-se as letras Ex: ua(uma), BA(Bahia), AGARA(agréria), ALERKalegria), POC(porque), TEI(tem). Os alfabetizandos precisam entender e conhe- cer 0 que & um texto e suas partes, que este se divide em frases, palavras..., pois essas orienta- Ges va0 ajudar a elaboragdo e a avaliacao feita pelo monitor. Além disso, precisam compreender como ocorre a légica da unido das letras e sflabas na palavra para formar. o texto. E justamente no momento que a gente cria seu jeito préprio de escrever, que vao aparecer Igicas e jeitos diferen- ciados. Essas questdes, somente aparecem quando os alfabetizandos sio autores de sua propria escrita, pois & nesses momentos que expressam seu nivel de conhecimento. © monitor precisa desafié-los @ fazerem seus textos, pois & dessa forma que esta- io refletindo sobre sua ago e se desafiando a buscar novas informagGes através da pesquisa. No momento da produgdo do texto (escrita) 0 alfabetizando no pode ser interrompido pelo monitor, mas deve sim, ser orientado para pesqui- sar, refletir no uso das letras de cada palavr observar as diferencas das palavras, da letras € também para elaborar seu texto usando sempre 4 investigagao,a procura de novos conhecimento sendo um questionador, desafiador nesse processo de aprendizagem. MST ‘Caderno de Educagio n° 4 Parte 7 A escrita do alfabetizando — em busca do acerto TEXTO 1: DAVA VOCER E UA BOA PROFECORA (DALVA VOCE E UMA BOA PROFESSORA), EU GOSTOU DE VERA EU VOU LEVA ELA PA BA (EU GOSTO DE VERA. EU VOU LEVAR ELA PARA BAHIA), EU ANMU ALUTA DU MOVIMENTO SEM TERRA. Benedito Ferreira TEXTO 2: NOS LUTA PEL REFORMA AGARA POC TEI 12 MILHOES DE FA- MILIAS SEM TERRA Autor: Benedito Ferreira ACETAMETO — MODLU MONSIPO DE PRADO — BA 22/06/93 Se a escrita € 0 sistema de representacdo da Jinguagem, precisamos entender que essa lingua- gem vai adquirindo caracterfsticas proprias confor- me 0 meio social em que se vive, € que sociedade atribui valores sociais diferentes conforme as situagdes econdmicas, politicas e sociais, para os diferentes modos de falar a lingua. MST 25 Caderno de Educacio n° 4 ‘Com isso estabeleceu-se um preconceito, uma falsa interpretazo do certo e 0 errado lingiifs- tico, esquecendo-se do diferente, das variagdes lingiisticas, dos diferentes jeitos de falar e de escrever. Na alfabetizagdo precisam ser trabalhadas essas variagdes lingiifsticas junto com as fungdes da linguagem, ensinando como essas variedades de lingua funcionam, respeitando e comparando-as entre si. Sobre essa questo vamos refletir em cima de algumas palavras utilizadas pelos alfabetizan- dos Benedito e Severino: DI. VERA(de Vera), DU(do), MODLU(modelo), UIS(os), Uo), TE(até). Serd que eles estdo trocando a letra "o” pelo "u". Ser que escondem/comem letras MO- DLO, TE? Porém em outras, UIS coloca mais letra/soma letra? Pode ser que seja tudo isso, como também pode set que estdo se orientando pela fala ao escrever. Af entdo a fala passa a ser o determi- nante da escrita, que & 0 mais provavel nesses exemplos. Quando os alfabetizandos esto criando a escrita do seu jeito, usando seu conhecimento, podem escolher as letras de uma palavra pelo seu som quando na ortografia usa-se outra. Esse caso comum acontecer, como por exemplo, com 0 som "s" 9 que pode ser trocado por (Z,C,SS,S). Exemplo : VOCER(vocé), PROFECORA(profes- sora), MARSACRADO(massacrado). Também acontece troca de letras ao escrever por falta de dominio do conhecimento dessas letras — flv, mn, bip, dit... exemplo: EMBRE- ‘GOS(empregos), UN(um), FACA(vaca), VOI (Foi), Acontece 0 acréscimo de letras nas palavras. Exemplo: ANMO(amo), VOCER(vocé), UIS(os). Podem ocorrer palavras com falta de letras. Exem- plo: UA(uma), MOVIMETO(movimento), PA(pa- 1a), BA@ahia), POBE(pobre). No infcio da alfabetizagdo, quando estdo produzindo seus textos, os alfabetizandos podem escrever palavras emendadas, juntas. Isso ocorre porque na fala nao existe separago das palavras, Exemplo ; QUELE(que ele), PAREFORMA (pela reforma), PRODUSIALIMENTO(produzi alimen- to), TIRAANOSOALIMETO(tira 0 nosso atimen- to). Como também podem separar as palavras devido & acentuaco tonica. Exemplo : EM BO- RA(embora), A GORA (agora). Os acentos gréficos precisam ser trabalhados com os alfabetizandos, que podem usé-los ou no. Exemplo: QUi(que), LEVA(leva), ELA(ela), VO- CER(voce), FEUAO(feijio). © mesmo acontece com os sinais de pontuagdo, usam raramente e podem usar para separar palavras. Como também, as vezes, querem empregd-tos em seus textos e no tem conhecimento de alguns elementos fundamen- tais (ver o texto do Severino), aluno pode escrever "i" em vez de "e", "u” em vez de "0", por que na fala se produzem estes sons, Di(de), QUi(que), ANMU(amo). Nao usa 0 "r", 0 "s" no final das palayras por nao ter som correspondente na sua fala : LEVA(le- var), DEZITO FAMILIA (dezoito familias). Escreve "u" no Tugar do "I": SAUTOU(al- tou), SOU(sol). Escreve uma vogal em vez de duas, no final das palaveas: GOSTO(gostou), EU ESTO(eu estou). Como pode ser 0 contrério : NOIS(nés), FEIS(fez). Também acontecem troca de "r" por "I" (PRANETA-planeta), “Ii” por “Ih” (COELIO-coe- Iho), “e" por "ei" (OTEIM-ontem), quando 0 "nh" no aparece (MIA-minha), o til (MAIE-mie), Ao criar e usar a escrita essas questOes apare- cem, porém cada alfabetizando vai apresentando caractertsticas especificas para a construcdo das palavras, com nfveis diferentes de respostas para uma mesma atividade, dependendo dos niveis de desenvolvimento do conhecimento atingidos pelo adulto. Os alfabetizandos adquirem aprendizagem também em espaco de tempo diferenciados, depen- dendo da pré-disposicgo em querer aprender de cada um, das necessidades que Ihe exige aprender, das respostas encontradas, da motivacdo criada em torno do ato de escrever,ler, com a ajuda do ‘monitor na hora certa e no tempo necessério, erro na escrita, até ento analisado é um indicativo bom, pois através dele percebemos se hd busca de respostas, para as dvividas do alfabetivan- do, para poder melhor entender 0 mundo eserito € se ele estd esté descobrindo 0 coletivo como interlocutor dos seus conflitos cognitivos. O monitor precisa ser capaz de gerar 0 confli- to cognitivo nos alfabetizandos, isso acontece quando consegue bagungar, mexer com as estrutu- ras do seus conhecimentos, deixa-os com a sensa- 0 de que nio sabem mais nada, de que vdo 26 MST Caderno de Educagio n° 4 conseguir aprender. Junto a isso, entra outro elemento fundamental, que ¢ a criagfo de um espago de construgo de hipsteses, que ¢ a ajuda para se criarem as possibilidades de acertos. Essas crises de conhecimentos criados através do conflitos cognitivos ¢ das hipéteses que nao esto bem estruturadas, se manifestam de vérias formas a observar: Alguns tem muito medo de avangar no processo da escrita e leitura porque sentem medo do desafio, do novo avango, de tudo que Ihes ¢ desconhecido. Nesse caso podem até retroceder do jeito que vinham fazendo antes. Outros podem parar, estagnar seu processo de conhecimento ¢ continuar desenvolvendo suas habilidades do jeito que vinham fazendo, porque dese jeito eles sabem, tém seguranga. Outros fa podem criar um bloqueio na aprendizagem. Ainda hd os que desistem, nao vem mais. © monitor e 0 coletivo todo véo criando forma de superagdo desses conflitos cognitivos, através de varias possibilidades de combinagies € negociagdes dos acertos da palavra escrita. Porém sendo capazes de ir gerando outros conflitos — hipsteses continuamente. Pois é responsabilidade de todos no processo nfo deixar que fique com bagunea total (no conhecimento) e nem fazendo 0 que querem, o que sabem. Precisamos sim, medir, equilibrar com bastante firmeza... Através do estudo dos textos & que vamos aprofundar de diversas maneiras a formagio das palavras, dessas palavras para 0 estudo dos nomes das letras e se for necessério, para auxiliar nosso trabalho e também, na construgdo da palavra escrita, a formacHo das sflabas. Assim temos 0 texto, as palavras, as letras e as sflabas. Para que aconteca 0 avanco do proceso de escrita e leitura, podemos fazer de varios jeitos ‘© Passar um texto de um dos alfabetizandos no quadro e destacar algumas_palavras para serem corrigidas tanto individual, quanto em grupo, coletivamente. Através de pesquisa no ambiente alfabetizador ow com a ajuda do monitor. + Escrever o texto em um cartaz, fixando na parede e em cima desse destacar as pala- vas, + As palavras podem ser eseritas em fichas onde se fard o registro, a leitura, podendo ser recortadas as letras, em sflabas as pala yras montadas novamente. + Fazer a corregio coletiva no quadro, apés fazer a eSpia — fazer a leitura junto com a e6pia © mais importante & que o alfabetizando perceba que est avangando no processo da escrita @ que a mesma esté ajudando-o em sua vida digria sentindo-se seduzido por esse mundo das letras. Bibliografia de apoio ‘Caderno de Educagio Numero 3. Alfubetizagio de jovens © adullor — Como organizar? MST, margo de 1994, Caderma de Educacio Niimero 2. Allabetizagio, MST, fevereiro de 1993, Cademos do SEJA Numero 1. Formasio de professores de Jovens ¢ adukos trabalhadores. Editors Palotti. Secreta- ria de Educagfo de Porto Alegre, outubro de 1993. CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetizagio e linguistica. Sio avlo, Scipione, 1991 COOK — GUMPERZ, Jenny. A construsdo social social da alfabetizagio. Porto Alegre, Arte Médicas, 1991. FERREIRO, Emilia e TEBEROSKY, Ana. Psicogénese da Lingua escrita. Porto Alegre, Artes Médicas, 1985. FREIRE, Paulo. Alfabetizagio e cidadania, UNDIMEVAD, ‘iio Paulo, Cortez, junho/88. Jomal u, Telecurso 1® Grau — Lingus Portuguesa, Rio Gri ‘8, Sio Paulo. MULLER, Josef. El modelo do entrenamiento en acc y sus fundamentos educativos, 1993, PEA — FABES — PMSP, CURSO DE CAPACITACAO E. RECICLAGEM EM METODOLOGIA DE EDUCA CAO DE ADULTOS — julho!85 — CEDI (Progra magio de Edvcagio e Escolarizagio Popular. Ancxos 18 19 APS TASCA, Maria ¢ POERSCH, José Marcelino. Suporte tin ‘uisticn para a Alfatizagio. Porto Alegre, Sara, 1990. VYGOTSKY, L. S. A formagio social da mente. Si0 Paulo, Martins Fontes, 1989. MST i (O11) 864.89.77 Fax: (O11) 871.46.12

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