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ABREU, MARTHA. Diversidade cultural, reparação e direitos. In: ABREU, M.

; MATTOS,
H.; DANTAS, C. V.; O negro no Brasil: trajetórias e lutas em dez aulas de história. Rio de
Janeiro: Objetiva, 2012, pp. 107-112.

Crescimento “nos últimos tempos”, [107] de movimentos de reivindicação por


políticas de reparação
Conceito de dever de memória, como aquilo que deve extrapolar tão-somente as medidas de
reparação: refere-se à noção de os acontecimentos de repressão e opressão aos grupos
minoritários “não serão esquecidos, que continuarão lembrados na memória de grupos e
nações e registrados na história do país. Mais ainda, que grupos detentores de memórias de
sofrimento podem e devem ter reconhecidos sua história, memória e patrimônio.”
Conceito de [108] dever de Estado como uma posição reparadora-afirmativa tomada pela
esfera governamental em relação à elaboração de políticas públicas que atuem nessa direção;
nesse caso, devemos pensar a conjunção desses dois “conceitos” relacionados e postos em
prática no âmbito escolar/educacional.
Lei Afonso Arinos, 1.390: promulgada em 1951, tornou o preconceito racial
contravenção penal; em 1985 fora ampliada e passara a incluir as discriminações
baseadas no sexo e no estado civil;
Constituição de 1988 – estabeleceu “a necessidade de implementação de medida
capazes de promover, de fato e como requisito da democracia, a igualdade sancionada
pela lei e a valorização da diversidade étnica e cultural brasileira.
Parâmetros Curriculares Nacionais, publicados em 1996

Estes parâmetros indicaram “uma política educacional voltada para o reconhecimento


da pluralidade cultural, entendida como patrimônio da sociedade brasileira, uma marca
característica da nação.” Tal pluralidade corresponderia “à diversidade das
características étnicas e culturais dos diferentes grupos sociais que formaram a
sociedade brasileira e convivem no território nacional.”

[109] Ações voltadas à diversidade começam a se intensificar a partir dos governos de FHC e
sobretudo nos governos Lula;
Decreto nº 3551 de agosto de 2000: instituía, a partir de uma política de valorização da
cultura afro-brasileira, o patrimônio cultural e imaterial brasileiro
Decreto nº 4228 de maio de 2002: instituiu o Programa Nacional de Ações
Afirmativas no âmbito administrativo público federal
Lei nº 10.639, janeiro de 2003: estabeleceu as Diretrizes curriculares nacionais para a
educação das relações étnico-raciais e para o ensino de história e cultura afro-
brasileira e africana
Decreto nº 4886: criação da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade
Racial (Seppir), com a finalidade de coordenar as ações necessárias à implantação da
Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial e “criar possibilidades para o
desenvolvimento pleno da população negra brasileira através de ações afirmativas.”
Esse mesmo decreto ainda regulamentava “o direito à terra aos descendentes de
escravos.”
[110] 2012: patrimonialização das manifestações culturais afro-brasileiras, como o
samba de roda, o Jongo e o acarajé.
Todas essas conquistas nos âmbitos legais, educacionais e culturais “estão articuladas aos
diversos movimentos negros e à rediscussão, realizada também nas universidades, sobre a
identidade nacional brasileira. Representa, ainda, um marco de ruptura com a ideia que se
fazia presente homogeneamente do Brasil, sobretudo nos livros didáticos, de uma nação
fundada numa espécie de pacificidade e apaziguamento típico de uma “democracia racial”,
advinda do fato de que o Brasil está enraizado num processo de intensa mestiçagem. Essa
ruptura evidencia não só o caráter inventivo desse mito, mas também o desenrolar de todo um
processo de inferiorização e exclusão das comunidades afrodescendentes – e dos indivíduos
que acham-se diretamente ou não vinculados à elas –, além de reparar os silenciamentos e
esquecimentos através do estabelecimento de “direitos e deveres à memória, à história e à
diversidade.”

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