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O Secar dos Girassóis

Eu me lembro das flores na janela. Não porque eu achava bonito, mas porque eu
achava um desperdício. Eu sempre olhava para aquilo e me perguntava: “Porque ela continua
comprando flores? Vai morrer daqui a pouco, é só mais dinheiro jogado no lixo”. Eu me
lembro que ela gostava de girassóis. Ela os colocava naquela janela, para que a luz do pôr do
sol batesse neles. “Assim, o sol nunca irá se pôr aqui”. Era o que ela dizia com um sorriso. Eu
não me lembro da voz dela dizendo isso, mas eu me lembro de rir. Eu ria porque achava
ridículo, não porquê achava fofo, ou bonitinho. Eu nunca lhe comprei flores pelo mesmo
motivo. Chocolates, sim, joias, sim, mas nunca flores. Elas não duravam, para gastar com isso,
eu preferia gastar em algo mais permanente. Só que nada é permanente, foi isso que eu
aprendi com aqueles girassóis. Agora sempre tem flores na minha janela, mas o sol nunca
mais se levantou aqui.

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