Para Agostinho, a “existência” do mal não representa contrassenso à
concepção de um Deus, criador de tudo, onipotente e bom, haja vista que, diferentemente do que quiçá pudessem idear os maniqueístas de seu tempo, para ele, o mal não é algo que existe por si, materialmente, senão que representa tão somente a ausência do bem. Assim, se Deus for tudo que há, e o mal advém senão do “não-ser”, não foi este criado e, destarte, não é produto divino, mas apenas a ausência do que de fato existe, ou seja, o bem.
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O sentido ético de livre-arbítrio em Agostinho se consubstancia na ideia
de que a conduta ética ou antiética, em suma, o bem e o mal, dependem, inexoravelmente, da liberdade do sujeito, posto que sem ela não se poderia considera-lo nem bom nem mau, já que não lhe seria dado escolher e, destarte, tampouco seria justo arcar com qualquer consequência ou sanção referente a sua ação.
Assim, se Deus, onipotente e benevolente é criador de tudo, então tudo que
existe é bom, logo, o homem, ao ser criado, teve de necessariamente ser criado bom, o que, pela explicação supra, não poderia ter sido realizado senão concedendo-lhe o livre-arbítrio, lê-se, a possibilidade de escolha entre o bem e o mal.