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Advogado. Pós-graduando em Direito Processual Civil pelo Complexo de Ensino Superior de Santa
Catarina. Extensão acadêmica em Filosofia e Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande
do Sul (2013). Curso Superior de complementação de estudos em lingua gem e comunicação para a área
jurídica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2015). Graduação em Direito pela
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2015). Graduando em Filosofia pela Universidade
Federal de Santa Catarina – UFSC (2020). Tem experiência na área de Direito, com ênfase em Direito
Civil e Processual Civil. Atualmente dedica estudos precipuamente aos âmbitos da teoria do Direito e
Processo, Filosofia geral e jurídica e Hermenêutica jurídica e filosófica. Di sponível em
<http://lattes.cnpq.br/5901369938703885> Acesso em 20. Abr. 2017.
Imbuído de sua total insatisfação para com o sistema vigente à época,
foi em sua mais célebre obra, “A República”, que Platão descreveu suas
principais construções filosóficas, a exemplo da sua mundivisão dualista, a
separar os entes mundanos do que se usou chamar de “ideias” ou “formas”,
cujas quais, perfeitas, existiam em um universo próprio a que, diga-se,
qualquer que à verdade acerca dos mesmos quisesse encontrar, deveria
acessá-lo, por meio da razão.2 O título da obra não se dá, contudo, em função
de sua principal teoria, recém (brevemente) explanada. Este que é o mais
longo diálogo de Platão recebe este nome em virtude de ser aqui que o filósofo
constrói, por meio da dialética, o seu modelo ideal de polis (que terá, todavia,
forte relação com o próprio pensamento ontológico do autor, como se poderá
ver mais adiante).
2
Ver especialmente neste sentido o Livro VII da obra em comento, onde consta, dentre outros , a
famigerada “Alegoria da Caverna”. PLATÃO. A República. Tradução de Maria Hel ena da Rocha Pereira.
14ª ed. Lisboa, Portugal: Fundação Calouste Gulbenkian, 2014.
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Ibidem. 329 a-e, pg. 4 e 5.
pelas próprias injustiças, angaria, a si, toda sorte de benesses), ora
confrontando a necessidade de se ter, na conduta justa, a sua justificação no
próprio ideal de justiça, levando-se o homem a ser efetivamente justo em suas
atitudes, ou se, novamente, para fins de alcance do bem-estar, bastaria que
este nutrisse as aparências de homem justo, para só assim colher os frutos que
da conduta justa se pode obter (a exemplo da própria reciprocidade dos demais
que, imaginando-o justo, com ele, justos seriam).
Com base em tal sustentação, o personagem propõe que, tal qual a alegoria
acima, se quisessem investigar a justiça enquanto virtude humana, que
observassem antes a mesma “numa escala mais ampla” que, para aquele,
seria a polis, como se pode denotar do seguinte trecho:
Então, talvez exista uma justiça numa escala mais ampla, e mais fácil
de apreender. Se quiserdes então, investigaremos primeiro qual a
sua natureza nas cidades. Quando tivermos feito essa indagação,
executá-la-emos em relação ao indivíduo, observando a semelhança
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com o maior na forma do menor.
Será a partir de então que Platão passará a delinear seu ideal de cidade
justa.
4
Ibidem., 368 a-e, p. 70 e 71.
5
369 a-e, p. 71 a 73.
O ideal de cidade justa
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“...uma cidade tem a sua origem, segundo creio, no fato de cada um de nós não ser auto-suficiente (...)
Assim, portanto, um homem precisa de outro para uma necessidade, e outro ainda para outra, e, como
precisam de muita coisa, reúnem numa só habitação companheiros e ajudantes. A essa associação
pusemos o nome de cidade.” Ibidem., 369 b-c, p. 72.
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Ibidem., 374 a, Livro II, p. 81.
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...é tarefa nossa, segundo parece, e se na verdade formos capazes disso, proceder à escolha daqueles
de qualidades e natureza apropriadas para a custódia da cidade.” Ibidem., 374 e, Livro II, p. 82.
deveriam ser educados os seus cidadãos e, em especial, o retro mencionado
guardião.
9
Ver, neste sentido Ibidem., 412 a-e, , Livro III, p. 150 - 152.
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Veja-se, neste sentido: “– Acaso é possível executar alguma coisa tal como se diz, ou é da natureza das
coisas que a acção tenha menor aderência à verdade do que as palavras, ainda que a alguns nã o pareça
assim? Mas concordas ou não? – Concordo – disse ele. – Não me forces, portanto, a mostrar-te
perfeitamente realizado na prática tudo quanto descrevemos em palavras. Mas, se formos capazes de
encontrar maneira de fundar uma cidade o mais aproximado que é possível da nossa descrição,
proclama que descobrimos como é possível que as tuas normas se concretizem. Ou não te contentas, se
o conseguires? Eu, por mim, contentava -me.” Ibidem., 473 b, Livro V, p. 250.
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Neste sentido: “– Depois disto então, ao que parece, temos de procurar indagar e demonstrar que
espécie de defeito há actualmente nas cidades, devido ao qual não são assim organizadas, e qual a
menor mudança possível pela qual a cidade passaria ao nosso sistema de administração – uma só
alteração, de preferência; se não, duas; se não, as menos possível em número e as menores em
alcance.” Ibidem., 473 c, Livro V, p. 250
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Assim: “– Enquanto não forem, ou os filósofos reis nas cidades, ou os que agora se chamam reis e
soberanos filósofos genuínos e capazes, e se dê esta coalescência do poder político com a filosofia,
Para defender seu posicionamento, o autor realiza o raciocínio a seguir
transcrito, sempre por meio da maiêutica, como se pode ver em nota: Se
filósofos são aqueles capazes de atingir aquilo que se mantém sempre do
mesmo modo13, lê-se, “aquele que deseja prontamente provar de todas as
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ciências e se atira ao estudo com prazer e sem se saciar” , “aquele que, ao
contrário deste, entende que existe o belo em si e é capaz de o contemplar, na
sua essência e nas coisas em que tem participação, e sabe que as coisas não
se identificam com ele, nem ele com as coisas”15, e que “o pensamento deste
homem era conhecimento, visto que sabe, ao passo que o do outro era opinião,
visto que se funda nas aparências”16, então seria evidente que, em suas
palavras, tal qual não deveria ser um cego a tomar conta do que quer que seja,
mas sim a quem tenha visão clara, o controle da cidade deveria ser dado ao
filósofo.17
enquanto as numerosas naturezas que actualmente seguem um destes caminhos com exclusão do outro
não forem impedidas forçosamente de o fazer, não haverá tréguas dos males, meu caro Gláucon, para
as cidades, nem sequer, julgo eu, para o género humano, nem antes disso será jamais possível e verá a
luz do sol a cidade que há pouco descrevemos.” Ibidem., 473 d, Livro V, p. 251.
13
Ibidem., 484 b, Livro VI, p. 265.
14
Ibidem., 475 c, in fine, Livro V, p. 254.
15
Ibidem., 476 d, Livro V, p. 256.
16
Ibidem., 476 d, Livro V, p. 256.
17
Ver, neste sentido: Ibidem., 484 c-d, Livro VI, p. 265 e 266.
18
Ibidem., 485 c, Livro VI, p. 267.
19
Ibidem., 485 c, Livro VI, p. 267.
20
Ibidem., 490 c, Livro VI, p. 276.
21
Ibidem., 485 c, Livro VI, p. 267.
cobarde e grosseira não poderia ter parte na verdadeira filosofia” 22, mas, ao
revés, como postula Sócrates, “se quiseres distinguir a alma filosófica da que o
não é, observarás se, desde nova, é justa e cordata ou insociável e
selvagem.”23 Ademais, para ser verdadeiro filósofo, restaria ainda que o
pretenso “amigo da sabedoria” tivesse boa memória, a fim de poder reter o que
aprendesse, além de facilidade para aprender.24
22
Ibidem., 486 b, Livro VI, p. 269.
23
Ibidem., 486 b, in fine, Livro VI, p. 269.
24
Neste sentido, ver Ibidem., 486 d, Livro VI, p. 269 e 270.
25
Ibidem., 487 a, Livro VI, p. 270.
26
Ibidem., 487 d, Livro VI, p. 271.
27
Ibidem., 488 a-b, Livro VI, p. 272.
habilidade de ajudá-los a obter o comando, sendo chamado de inútil quem
assim não fizer.28
28
Ibidem., 488 d-e, Livro VI, p. 273.
29
Ibidem., 489 a, Livro VI, p. 273.
30
Ibidem., 489 c, Livro VI, p. 275
31
Ibidem., 500 d, Livro VI, p. 294.