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Universidade Evangélica de Anápolis

Curso de Direito

Nome: Tiago Meireles – 8º ‘B’

Data: 20/06/2022

Registro de dados bibliográficos:

PLATÃO. A República [ou sobre a justiça, diálogo político] . Tradução Anna lia de
Almeida Prado. São Paulo: Martins Fontes, 2006.

Tema:
Platão. Filosofia Clássica. República. Cidadania. Justiça. Ética.
Conteúdo fichado:

Sócrates, queres aparentar que nos persuadiste ou persuadir-vos de verdade, de que de toda
a maneira é melhor ser justo do que injusto? (p.28)

Dizem que uma injustiça é, por natureza, um bem e sofrê-la, um mal, mas que ser vitima de
injustiça é um mal maior do que o bem que há em cometê-la. De maneira que, quando as
pessoas praticam ou sofrem injustiças umas das outras, e provam ambas, lhe parece
vantajoso, quando não podem evitar uma coisa ou alcançar a outra, chegar a um acordo
mútuo, para não cometerem injustiças nem serem vitimas delas. Daí se originou o
estabelecimento de leis e convenções entre elas e a designação de legal e justo para as
prescrições entre elas e a designação de legal e justo para as prescrições da lei. Tal seria a
gênese e essência da justiça, que se situa a meio caminho entre o maior bem – não pagar a
pena das injustiças – e o maior mal – ser incapaz de se vingar de uma injustiça. Estando a
justiça colocada entre estes dois extremo, deve, não preitear-se como um bem, mas honrar-
se devido à impossibilidade de praticar a injustiça. (p.45).

...um homem assim se basta perfeitamente a si mesmo para viver feliz e que, diferentemente
de outros, precisa muito pouco de outrem (p.76).

Porém o juiz, meu amigo, governa a alma por meio da alma, à qual não convém desde nova
ser criada no convívio com as almas perversas nem ter percorrido todas as injustiças,
cometendo-as ela mesma, de modo a poder conjecturar com precisão, pelo seu próprio
exemplo, os crimes dos outros, tal como a avaliativa das doenças pelo seu corpo. Deve antes
se inexperiente e estar intacta dos maus costumes na juventude, se quer tornar-se perfeita,
para julgar escorreitamente o que é justo. Por este motivo é que as pessoas de bem, quando
jovens, se mostram simples e fáceis de ludibriar pelos injustos, por não terem em si modelos
com sentimentos iguais aos dos perversos (p. 102-103).

...toda a cidade tiver aumentado e for bem administrado, consentir a cada classe que
participe da felicidade conforme a sua natureza (p. 114).

...se, devido à sua pobreza, não tiver à mão utensílios ou qualquer outro objeto para o seu
trabalho, executará obras piores, e ensinará a serem piores artífices os filhos ou quaisquer
outros que aprendam com ele (p. 114).
Mas escuta Adimanto, e diz se eu digo bem. O princípio que de entrada estabelecemos que
devia observar-se em todas as circunstâncias, quando fundamos a cidade, esse princípio é,
segundo me parece, ou ele ou uma das suas formas, a justiça. Ora, nós estabelecemos,
segundo suponho, e repetimo-lo muitas vezes, se bem te lembras, que cada um deve ocupar-
se de uma função na cidade, aquela para a qual a sua natureza é mais adequada (p. 135).

...não há na administração da cidade nenhuma ocupação, meu amigo, própria da mulher,


enquanto mulher, nem do homem, enquanto homem, mas as qualidades naturais estão
distribuídas de modo semelhante em ambos os seres, e a mulher participa de todas as
atividades, de acordo com a natureza, e o homem também, conquanto em todas elas a
mulher seja mais débil do que o homem (p. 150).

...contemplar a totalidade do tempo e do ser... [a alma se] apaixonará pelo saber que possa
revelar-lhe algo daquela essência que existe sempre, e que não se desvirtua por ação da
geração e da corrupção (pp.179-180).

...desde a infância se operasse logo uma alma com tal natureza, cortando essa espécie de
pesos de chumbo, que são da família do mutável e que, pela sua inclinação para a comida e
prazeres similares, gulodices, voltam a vista da alma para baixo; se, liberta desses pesos, se
voltasse para a verdade, também ela a veria nesses mesmos homens, com a maior clareza,
tal como agora vê aquilo que está voltada (p. 214).

...no limite do cognoscível é que se avista, a custo, a ideia do bem; e, uma vez avistada,
compreende-se que ela é para todos a causa de quanto de justo e belo há; que, no mundo
visível, foi ela que criou a luz, da qual é senhora; e que, no mundo inteligível, é ela senhora
da verdade e da inteligência, e que é preciso vê-la para ser sensato na vida particular e
pública (p. 232).

Quem é livre não deve aprender ciência alguma como escravatura. E que os esforços
praticados à força, não causam mal algum ao corpo, ao passo que na alma não permanece
nada que tenha entrado pela violência... não devemos educar no estudo pela violência, mas
a brincar, a fim de ficares mais habilitado a descobrir tendências naturais de cada um (p.
234).

...na cidade que o sujeito quiser administrar com perfeição, haverá comunidade das
mulheres, comunidade dos filhos e de toda a educação, e do mesmo modo comunidade de
ocupações na guerra e na paz, e que dentre eles serão soberanos aqueles que mais se
distinguirem da filosofia e na guerra (p. 239).

...entre os prazeres e desejos não-necessários, há alguns que me parecem ilegítimos,


que provavelmente são inatos em toda a gente, mas, se forem castigados pelas leis e
pelos desejos melhores, com o auxílio da razão, em alguns homens, ou se dá a
libertação deles ou os que restam são poucos e débeis; ao passo que em outros se
tornam mais fortes e mais numerosos (p. 269).

...[tais desejos são] daqueles que despertam durante o sono, sempre que dormem a
parte da alma que é dotada de razão, cortada e senhora da outra, e quando a parte
animal e selvagem, saciada de comida e de bebida, se agita, repudia o sono e
procura avançar e satisfazer os seus gostos (p. 269).
...quem fizer elogio a justiça falará verdade, e quem fizer o da injustiça mentirá. Com efeito,
quem tiver em conta o prazer, a boa fama e a utilidade, se exaltar a justiça, fala verdade;
mas, se a censurar, a sua crítica é malsã, pois não sabe o que critica (p. 290).

Resumo:

Obra do mais destacado pensador da Grécia Clássica, a República é a obra


que condensa a concepção platônica de mundo. Sua contribuição política no contexto
da cultura grega se dá no cenário da dicotomia entre a vida da polis (cidade) e a vida
privada, no contexto da óikos (casa). A cidadania estava relacionada à vida na cidade,
fruto da interação entre cidadãos livres e iguais, pautados por leis orientadas pelo
princípio da isonomia. A justiça era compreendida, então, como o justo equilíbrio
que colocaria freios no poder excessivo que comprometeria a isonomia entre os
homens livres. Para tal objetivo, era fundamental a construção de um caráter ético. Só
assim os homens alcançariam a boa vida, objeto fixo do empreendimento filosófico
grego.

A obra em questão, portanto, se apresenta como um empreendimento idealista


que se volta sobre o mundo da matéria. Uma contribuição da filosofia, abstrata, ao
aprimoramento da vida política prática da arena pública, a ágora. Aqui Platão vai
propor a construção concreta da Polis a partir da discussão do problema da Justiça. A
combinação de narrativa e diálogo a partir da figura de Sócrates, arquétipo do
cidadão ético entre os gregos de então, é o fio condutor dos dez livros que compõem
a obra.

À guisa de introdução, o Livro I se dá a partir da busca de Sócrates por uma


definição do que é justiça. Bem ao modo socrático, diálogos vão sendo travados em
busca de um conceito mais adequado. De forma que também lhe é peculiar, o
protagonista encerra essa sessão afirmando que não sedimentou convicção alguma
sobre o tema. O Livro II persegue o mesmo objetivo, apresentando o bem conhecido
mito do Anel de Giges, que aponta para a corruptibilidade de todos os homens. A
discussão irá atravessar o Livro III, em que a reflexão buscará imaginar uma polis
ideal e harmônica, para no Livro IV levar Sócrates a concluir que justiça seria a
manifestação de equilíbrio e harmonia na vida pública dos cidadãos, cada qual
descobrindo sua própria natureza e seu lugar no cosmos.

O Livro IV traz à cena uma discussão sobre de que modo funciona a relação
entre esse cosmos e a alma humana. Seria a harmonia resultado da constante
mudança ou, pelo contrário, da insistente permanência das coisas e das almas? Platão
conciliará mudança e permanência a partir do dualismo que compreende a matéria
como transitória e a alma como permanente. A partir de então é que o autor pensará
no Livro V a gestão da polis pelo trilho desta harmonia produtora de justiça. Também
é o caso da reflexão sobre a noção de bem, presente nos Livros VI e VII, trecho que
apresenta o excerto mais bem conhecido de Platão: a Alegoria da Caverna.
Adentrando a reta final da obra, o Livro VIII desenvolve uma tipologia das
formas de governo, refletindo sobre as formas de degradação típicas de cada uma,
destino incontornável de tudo que seja da ordem da matéria. Já o Livro IX é uma
fértil reflexão sobre a tirania e sua relação com os desejos indomados do tirano. O
Livro X, que encerra a obra, discute mitologicamente o destino final do homem.

Sua conclusão/consideração final:

A leitura dos clássicos é por si só um privilégio e também um desafio. Entra-


se em contato com o passado fundante da civilização ocidental e, simultaneamente,
se olha para o hoje em diálogo com pensadores do quilate de Platão.

Ler a República é uma experiência dessa natureza. Acompanhar os diálogos,


conhecer o espírito arguto de Sócrates, explorar mitos como o da Caverna e do Anel
de Giges constituem uma viagem ao passado com olhos no presente. Desafios
contemporâneos relativos à esfera pública, o conceito de Justiça, o significado do
bem comum e a relevância do caráter ético. Saber ler o texto em sua dimensão
sociohistórica é também fundamental, a fim de relativizar elementos como a visão
dualista da realidade, a naturalização de um modelo escravocrata e a fragilidade da
concepção de isonomia quando aplicada às mulheres.

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