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D611 Discurso e midia : a cultura do espetaculo/ [organizado por] Maria do Rosdrio Gregolin. — Sao Carlos: Claraluz, 2003. 135 p. — (Colegao Olhares Obliquos). ISBN 85-88638-05-3 I. Gregolin, Maria do Rosario. 1. Lingiifstica. 2. Andlise do discurso. 3. Midia. JURSO EMIDIA: A CULTURA DO ESPETACULO Pa OS DESLIZAMENTOS DO ESPETACULO POLITICO! Jean-Jacques COURTINE? Vocé sabe de uma coisa, Stu? Politica é exatamente como show-business!... Ronald Reagan, citado por D. Chagall, The New Kingmakers, New York, Harcourt Brace Jovanovich, 1981, p. 3. n ’ Odiscurso politico esta em crise nas sociedades ocidentais. Constatacao daqui para frente banal, & qual chegamos como a algo de inevitavel. Mas ha > af, entretanto, uma realidade que de maneira surda e constante tende a se *agravar e a se generalizar. Nos Estados Unidos, 0 no-investimento dos Nseaios: em face as fung6es piiblicas recobre, de vinte anos para cé, uma falta de confianga sivados americanos em relacio as suas instituicdes governamentais (YANKELOVICH, 1982, VAVAKOVA, 1990). Na Franca, o sentimento mais antigo de incredulidade, ou aquele cada vez mais propalado de indiferenga no que diz respeito aos discursos politicos, vem acompanhado, presentemente, por recordes de abstenc&o eleitoral ¢ pela ascensio, até o momento irresistivel, da forga politica que fez da difamagio dos discursos e das instituig6es piblicas um dos pilares de sua exploragio eleitoral. Essa constatagao pessimista foi paradoxalmente reforcada pelo desmoronamento do sistema comunistae pelo celebrado triunfo da democracia: esta, renascendo no Leste, retoma—com os primeiros ardores de seus comegos, reencontrando seu frescor no tom politico e no rigor ético da elogiiéncia de Vaclav Havel - alguma coisa de seu impulso original, a nostalgia de uma inocéncia perdida. Ali retine-se, debate-se, vota-se em massa: € irnico e cruel 0 contraste com o sentimento de entorpecimento da democracia no Ocidente, a desergdo dos cidadaos, a usura dos homens € a rotina dos discursos. ' Les glissements du spectacle politique. Esprit, Paris, n.164, 1990. Texto gentilmente cedido pelo autor para publicagio. Tradugdio de Roberto Leiser Baronas ¢ Fabio César Montanheiro. » Professor na Université Paris Ill, Sorbonne Nouvelle, Paris. Seus trabalhos so consagrados 8 andlise do discurso politico e & histéria das mentalidades, n DISCURSO EMIDUA CULTURA DO ESPETACULO POF se apagar sob nossos olhos, ‘nko sem nostalgia nem desequilibrio. Ela cede seu lugar a estilos de 1u gostaria de tentar descrever aqui alguns aspectos e estabelecer 08 limites dos recursos politicos dessa transformagio e de suas conseqiiéncias. (© declinio dos monslogos Opse-se a esse tipo de fala, ent ‘uma outra politica da aquela das formas breves, das formulas, das pequenas frases. Uma fata, que se prende 20 instante antes ‘nua, fragmer vo falante,enguantooapaelio politic se apagaria: woz aio mais. complexa F verdade, desse modo, fim que de seduzir ow de clissica, modeladas pel r } ; DISCURSOEMIDIA ACULTUNA DOESPETACLLO 2 deeseritae de leitura proprias a0 aparetho audiovisual de a escapar das demarcagdes tradicionais(direitalesquerdo) para se repartir segundo as calegorias do arcaico e do moderno, 60 démodé edo fashion “Ateaicas as formas longas, geradoras de aborrecimentos, suspetas de ‘uplicidade,opacas alusvas ementiosas; modernas as formas breve, vivas despida, sua sintaxeliminar ‘alar-francamente”, lingua ordins A maioriados governantes se aplicam desde 8s, basis. reves é, assim, o primeiro elemento dessas recente¥ ransformages da fla publica. E possvel ver nlas os ef fo campo do discurso, de ur lizago do espaco pol totalmente eausada pelo uso de téenicas de comuricagso de massa. Na Jogica tlevisiva, quer seja aquela do spot publicitéio, da informagao ou do debate, as mensagens simples e cura sho preferidas em rlasio as Jongasecomplexast Time is money. Simplickdade calculada: comunicar em potica, seria empregar o pouco de palavras do francés fundamental, fazer frases cuts, introduzie algumas fOrmulas. Rebaixado de suas grandezas teéricas, assegurando um servig ideolgico mimo, o dscurso€ eno compreendido camo 0 produto homogencizado de um consumo de massa. é se pode. ‘nfo garantem em nada a transparéncia das intencde: acompanhadas de uma obsessdo por pequenas frases, de ume argumentago esquematizada, de uma inquietuide fascinada pela audiéncia, 'Nés nos libertamos, de fato, das inguas de madeira? A submissio exagerada dos discursos a esse modelo e, em conseqiiéncia, sua fastidiose monotcnia, ara despertar junto a0 pOblico © desejo de que fale de outra forma surja inesperadamente. A meu ver ‘in 1984, 2 dapso ‘lip fo de 1, 7 segundos er 1988, fr de 9 segundos, relatam Breton de Proulx (1950) 24 DISCURSOEMIDUACULTURADO ESPETACULO, Le Pen, uma das bases do seu sucesso A conversaciovespeticulo: life-style polities A histriada comunicasto politica na Franca, durante os diimos vinte anos, pode ser considerada como a do nascimento, a do desenvolvimento, ‘A partir dos anos sessenta, a al uma expresso mais segura das sens emancipasto progressiva do aparelho au controle do Estado sobre a informacto pol COURTINE, J.J, HAROCHE, Cl. Histoire du visage: exprimer ct rire ses Emotions du XVle sidcle au début du XIXe sitcle Pars: Rivages, 1988, (OND, E.; BATES, S. The Spot:The rise of poli ion, Cambridge: MIT Press, 1984 LIAS, N. La civilisation des maeurs. Paris: Calmann-Lé LIPOVETSKY, G. L’Empirede!"éphémere. Paris: Galli MACHIAVEL, N. Le Prince. Paris: Gallimard, 962 NEL, N. A fleurets mouchetés: 25 ans de débats tlevisés, Pars: INA Documentation Frangaise, 1988. is SCHWARTZENBERG,RG.L’ Etat spectacle Paris: Pamaron, 1977 TCHARHOTINE, 5. Le viol des foules par Ia propagande politique, Pas, 1939.

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