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‘Os estudos renovadores sao aqueles que esu- tam de um questionamento perspicaz do tera 0 ser pesqusado, fundamentados na producto do ‘onhecimento eisponivel em ambitointeracio: nal citerosamente avalada e seleionada: as sim 6 esta obra dedicada a Arquilaco de Paros (st culo Vil a, C), uma interrogacto diferente sobre f poeta grego, que apresenta também conclu shes diferentes, E 0 coroamento de uma pesquise intericipliner, aeulando as mais signfiativas ciplinas das assim chamadas Ciéncias da Ant lidade, vale diver, Flologia,Epigafiae iteratu ra; Filosofia € Historia; Arquecioga, Porque os nossos Estudos Clisicos sofrem de um separatism centfico, decorrente sem davide dos (desicaminhos de nossas universidades, mas ‘2aravado ainda pele excesiva indvidualizacso do conhecimento caractersico nos classistas, 25 nossas disciplinas se desenvohem em departa- menos estanques com pouca intercomunicacao em decorténcia dessefolamento, 05 trabalhos produzidos nessas areas sG0 pobresvitimas de ‘uma realiade artifical ciada pelos tempos mo- demos. N3o foram os gregos que assim o que ram, Nos @ a nossa vida académica ¢ que sepa ramos filslogos elteratos dos fiésofs,histora- ores, arquedlogos. Vale @ pena refletir sobre essa questio. Por iso mesino, este wo € merit, Prvle- ‘dando os temas marcas em Arqutioco~ a quetra, ‘0 quero, a uta ~ Pavia da Cunha Correa res gate, contextualzando-os, os aspectos mais Sig ficatvos da Gréciaarcica em ambiente dlc, ‘onde o poeta viveu © produzi sua obra Este re- corte documenta éda maior relevinca w tratado fem finas andlses © substancsos comentrios, ‘com rigor e erudicao absolutamente incssocisvels fe inctspensiveis. Uma abordagem completa, mode- Jar em nosso pals, madelar em qualquer part. Hoiganuch Sarin ums de quel eros ~ Ueto alo ARMAS E VAROBS PAULA DA CUNHA CORREA ARMAS E VAROES A GUERRA NA LIRICA DE ARQUILOCO ‘Copyright © 1998 by Evora UNESP Dielts de publica reservados & Fundagdo Euitora da UNESP (FEL) Av. Rio Branco, 1210 101200-4 Sio Paulo -SP Tel: (O11) 225-7088 7038 (22 Home page: wiy.edioraunesp.br Fax: (O11) 225. 2560 E-mail: Feueeditora.unesp br Dados Invemacionals de Catalogacio na Publicacao (CP) (Cémara Brasileira do Livro, SP Brasil) Corréa, Paula da Cunha Aas e vardes «a guerra na lirica de Argufloco Paula da una Cortés - Sto Paulo: Fundayao Editora da UNESR, 1998, = (Prismas) Bibliogratia. ISBN 85-7159-204.8 1. arqulloco, de Patos ~ trtica e interpretagdo 2, Poesia = HistSiae erica. Titulo. i Série 98-5406 con-824.0109 Indie para eatdlogo sistematico 1. Poesia lita goegacssica< Hisniaecfica 884.0109 Editors afiliada Sl “ind Gréciae volear novo” Para meus pais ce Otavio Agraddeco ao eNPg pelo auxilio & pesquisa, fo Dt Martin L, West que, desde a orlentacdo de meu mestrado em Londres e, depois, durante minha estada em Oxford, tanto me ensinou, sempre discutindo © considerando minhas posiges, mesmo quando dlivergiam das suas, fe sobretudo, & Dra. Maria Sylvia Carvalho Franco, orientadora ¢ amiga, que me introduziu aos problemas das teturas modemas da Grécia antiga, desvendando suas implicagées teéricas. Presente em 10 dos os momentos deste trabalho, sem ela, ee nao teria sido realizado, om o privilglo de poder contar com esses dois professores¢leltores ideais,e dispondo de excelentes condicdes de pesquisa, qualquer falha se deve a mim somente. sumRIO Preticio Martin L, West hae 0 1 Afortuna ertica de Arguiloco de Paros na Antigiidade 2 Hometo ¢ Angutloco: leituras modlernas da Grécia arcaica a) Ohomem homérico 4) Corpoe alma ii) Emogbes mistas, relexdo e responsabilidade humana ily Perspectivas de investigacdo 1) Arquiloco e “a descoberta do esptito’ na lirica grega arcatca i) Efemeridade humana: fic ce mune iiy A “descoberta do individu Ui) questo dos géneros ©) Consciéncia EN coe wa: UT, SEATS 1 Enilioe as Musas 4) Um guerteito-poeta’ (fr.1) 1) Fontes 2. Cenas anti-hersicas a) Na lanca (fi20) by Acaneca (tia) ©) Com um escudo (f:5, 38) i) Comédia (Aristétanes) ii) Costumes e leis (Plutarco, Sexto Empirico ¢ Critias) itt) Geografia (Estrabio, A vide dle Arta e Eustécio) iv) A Segunda Sofistica e Neoplatonismo (Fildstrato, Proclo, Olim: piodoro, Elias ¢ Pseudo-Elias) ¥) Comentario 3. Dois generais: o granule ¢ 0 cambaio a) Vaidade e coragem (f: 114) i) Fontes ¢ edigdes ii) A fortuna critica iv) O general hoplita ¥) Conclusao 4 Allados a) Phila: 0 pacto de amizade (1:15) by Auxiliares carlos (1.216W) 5 Omodo de guetta herdico a) Os senhores de Eubéia (fe 3W) i) Fonte liy A "Guerra Lelantina” it Comentario PATE ‘swims nuns 1 Agruras da guerra a) Males magnésios (f:20W) by Lamentos tdsios (102, 103 & Sss8 (0 Monuumento de Mnesfepes (f:89, 881) (0 Monumento de Séstenes ‘A-embaixada musical ([r9Sa-BW) ‘Uma vitsria sobre os nxios (L194) Salvo" por Hermes? (1:95) GGlauco, novamente (f:96W) Mulheres para os colonos, ou Glauco? (fc97- Adefesa da muralha (f:98, 99W) 0s novos fragmentos elewfacos (1.7 Peuses na guerra Aes (18, 6, 146) Nas mos dos deuses (f:1110) ©) Preves e imprecayses (fe. 108, 9, 107) aa ies cue 1 Suplicio de Tantalo 4) A peatra (fk91W) i) Fontes diretas (a parte superior do papito) fi) A wansmissao indireta (Plutarco:o Escslio a Pindaro (01. 1.91a) eas versies do mito: 0 aftesco de Folignoto) iil Fontes diretas (a parte inferior do papiro) 2 Tormenta nos mares e na guerra 4) Aalegoria da nave (clo Estado?) (1.105) i) Fontes edihes li) 0 verso lil) alegoria arcaica ipo reverso by Uma continuagao? (i-106W) Conclustio Apéniice: fragments papiréceos 1 fki2w ft 13W i159 f i Abreviagdes Referéncias bibli PREFACIO ‘Arguiloco de Paros foi um dos poetas mais oélebres - ou not6rios - da Antigiiidade greco-romana: julgavam-no digno de ser nomeado ao lado ile Homero e Hesfodo, embora o carter de sua poesia fosse muito itiverso da deles. A épica homética, apesar das imagens brithantes extraflas dla mundo do proprio poeta, ¢ de sua sensibilidade para as iqualidades e as emoctes intemporais dos homens, enfocava um mundo [passado, uma lade herSica constsuida a partir de uma mistura de memérias histsricas, distantes e distorcidas, e de ideais poéticos de ‘ede realeza, A poesia hesidica, em parte antiquaria, em parte , 61a, de um modo geral, sistematizadora, visando a couificagio so Gl, seja ele histsrico-genealégico ou 6tico-prdtico. Se ‘aparece mais como tima personalidad co que o poeta épico que _S€ oculta, Isto ocorte, principalmente, poryue, a0 recorrer a formas literdrias provenientes do UrientePréximo, ele introduz elementos auto rficas como ponto de partia de seus poemas: em Os trabathos eos Sud instrugdo moral € enquadrada no vontexto de uma situacio em que ele &injusticado por seu iimdo e pelos governantes s¢ foram alvos de suas admonicbes, enquanto, na Teagona lum enconio pessoal com as Musas, que fzeram dele um poeta lhe qual seria © vonteido de seu poema. No entanto. com |. com tim homem visto no cemme de uma vida de fato, Nao parte de sua poesia deve ser compreendida em termos 14+ eam ou cunga conn dde-convencoes literdrias ~ canvengées essas sobre as quais pouca infor magao temos e que devemos procurar delinir observandlo as regulatida des na obra do poeta ou entre a sua obra ¢ a de outtos poetas gregos arcaicos, Mas, quando levamos tudo isso em consideragio, resta, porém, 1a forte impressdo de um individuo. Ele serve-se da poesia para responder diretamente a eventos de sua vida, seja num plano puramente pessoal, em seus relacionamentos com conhecidos, ou num plano mais piblico, quando escreve sobre assuntos que afetam toda a vomunidade: a guerra, a pollia, um nauTagh, OMS aNTaNgeNT Ha TOES TOCOSAS entre amiyos, ataques ferinos contra inimigas, comen: Létios satiricos de figuras pablicas, moderados lamentos por desastres, referéncias vivazes a batalhas recentemente travadas ou iminentes. Com a espontaneidade de expresso caracterstica do verso grego arcaivo, essa poesia, apesar da natureza fragmentada de sua preservacdo, ainda pode nos dar uma impressdo vivida das alegrias e ansiedades da vida de Arquiloco e das sociedades das thas egéias, nas quais Mlotesceu, Tal poesia € particulatmente adequada para iluminar 0 mundo no qual foi produzida. Mas para que a iluminagdo seja verdadeira € nao Aistorcida, € necessério um comentario cudadeso sobretudo guano temos apenas fragmentos, pedagos que consistem de pouvos versos, arrancados de seus contextos, citados por autores postetiores em vist de suas prSptias finalidades (nem sempre com algum escripulo pelas intengdes do poeta), ou que, por acaso, sobreviveram em peguenas Las de papiro que nem oferecem versos completas, “Comentitio cuidadoso” ro sentido de que cada fragmento nao deve setvir de base para voos de tua fantasia sem tavas, mas set interpretado a luz de tudo o gue sabemos sobre os significados das palavras e frases gregas, sobre as constrigbes do estilo e da méuica, ¢ sobre a mentalidade ¢ a diego do poeta, a natureza de seu contexto social ¢ geogrdtico, a histéria do periodo etc. ‘Nao hd nenhum comenttio moderno sabre Arguiloca que seja abvan _gente: 0s poucos comentarios antivos esse tipo esto bastante ultrapas- sados, ndo s6 por causa do acréscimo do nlimero de fragmentos, devida as descobertas de importantes insctigSes e papiros, mas também por causa das mudancas nas perspectivas dos estudos clssicos, que agora ldentificam novas perguntas por fazer, além das tradicionais, Realizar tal comentésio seria uma grande tarefa, em vista da diversidade dos uns evans = 15 temas na poesia de Arquiloeo, Este trabalho de Paula da Cunha Cortéa fepresenta, porém, um grande passo na direcdo do cumprimento desse objetivo, AO PacoMNeT Um TOS TEMAS THATS MPUAMIes € coctentes nos ersos Te Aguifoco, o da guerra e da luta, e ao realizar um estudo SFTEMATIC dos fragmentos relevantes, ela oferece uma valiosa contr puigdo para os estudos arquiloguéios, Ela investigou os problemas com ‘uma meticulosidade impressionante e que produz recompensas inespe- raulas, A admirdvel clareza, o igor flolégico o julgamento equilibrado, (que caracterizam o seu trabalho, fardo dele uma leitura essencial para todos os que estudam seriamente este poeta fascinante, e garantem que Tuturos pesquisadores, em qualquer pais, ido consulté-lo com proveito, Martin L. West ‘allege, Oxford PARTE! inTRODUGAD ‘wero TA PORTUNA CRITICA DE ARQUILOCO DE PAROS NA ANTICUIDADE ‘A maior parte da rica grega arcaica chegou até nds porque os textos foram citados por autores que oferecem, além de suas préprias lelturas, informagées importantes para a interpretagio dos poemas, embora os Feproduzam apenas parcialmente.' Tais comentétios antigos consti Iulem, em getal, as prdprias fortes dos fragmentos de Arguiloco, sendo também valiosos testemunhos de sua recepcao na Antigoidade2 Como (9s texios so, via de regra, muito breves, ndo chegando alguns a um ‘verso completo, em razio da escassez lo material disponivel, & indis Ppens4vel, para reconstrur o sentido dos poemas, o estudo dessas leitu- ras antigas, primetro a tentar reunir todos os fragmentos de Arquiloco foi 1 Liebel em Archiloché Religuiae (1812). Apés essa edigdo, novas pass ‘gens foram dlesvobertas nos papiros de Uxisrinco, Colénia, Estrasburgo, € has inscrigées dos Monumentos «@ Arqufloce em Paros. Atualmente, @ mais completa edicao de Arquiloco, /ambi et Elegi Gracci ante Alexan: drum Cantati (Oxford, 1989, v.), de M. L, West, inclui um total de 201 fiagmentos aos quais se somam 26 de autoria duvidosa e onze esptrios Desde sua composicio no século Vi a. C. até nossas eligdes modernas, omo nos foram transmitidos? ‘Raamente un pooma €etado por nulrow apenas cvs um sna dint no sie noi da ido garane que esti emp hoe res0s que cesar por via inca, so & cas em obvas de ouos si mais 9 fagnenosprovenenis as desstr ds apitoe de Onin que do seul ta at do sot, C3, das agente do pio de He mls ois do omamener a Amul 20 = xu a cumus cunsée Acscrita jf havia sido reintroduzida na Grécia por volta do séeulo Vin, nada impede que um poeta arcaico, embora inserido na tradicao oral, soubesse escrever, Quanto & primeira redagio dos poemas, se foram escritos pelo autor ou ditados a um cerceira, sé hd conjecturas. O que se sabe € que, segundo diversas testemunhas, os poemas de Arquiloco, objeto de récitas, mimeses, parduias e citagdes, eram extremamente populares ¢ difundidos por toda a Grécia durante os periodos arcaico e clssico, exercendo grande influéncia sobre as poetas e repercutindo para além dos meios eruditos eliterdrios, Ainda no século vn, Alceu, nascide aproximadamente uma década ou Pouco mais apés a morte de Argutloco, parecia terem mente os versos do fragmento SW ao compor um de seus poemas (lc428ruc). Pindaro, no final do periodo arcaico, inaugura uma longa tradigao ao criticar Wo Homkem homo. gue repezete em ues pont no de Verma, oh fo desenvsopox Sl cm um ago de 19 (Di Allassang des Menschen insporal depos em 2, cal 3 = rae v cana conta Além disso, ao encontrar nos textos homéricos apenas palavras rele rentes a membros que, embora agregados ao corpo, setlam indepen dentes, Snell (OE 27) wagou paralelos entre literatura e artes graticas, constatando que a Higuracao do corpo humano no periodo geométrico arcaico seria até mais “primitiva” que a de nossas criangas. A seu ver, 08 desenhos das criancas atuais enfatizam o tronco como um centro com pacto, revelando uma nocdo de unidade de que os homens homéricos careciam (DE 27).’ Apenas no século V teriam surgido tentativas de Fetratar 0 corpo humano como um todo, Antes disso, ao ressaltar mis. culos ¢ jungdes, os desenhos enfatizavam a agilidade e a capacidade de ‘movimento (DE 27). Novamente, Snell nao leva em consideracao uma palavra que, em Homero, representa o compo vivo na sua totalidade: dna Traz conseqiiéncias mais graves ndo admitir que haja em Homer uuma concepcao de unidade no ambito do espirito. Tal como Snell (DE 28. 9} nao havia encontrado nos poemas hométicos um termo pata o corpo vivo como um todo, mas apenas para membros distintos, assim também afiemou nao haver uma palavra que designasse a “alma” ou 0 “espititot fenguanto unidade, mas apenas um niimero de termos referentes a ‘rgdos corporais com funcdes distintas: psyhé, nds, ehymés. Seo homem homérico ignorava a existéncia da alma enguanto lunidade, assim como a dicotomia corpofalma," tampouco poseria co ‘nhecer sentimentos/emogdes “mistos" e “uma verdadeira reflex, det 7 Assim Denne (1973, 46.7. ctano Sel kegs gue na Gaia ana no haa ua oncepyodo orpocenjuano Uni, mas i se a ransom pon din ‘ue Lambe exci funy pgs: “Em sama, pe ie @ Rome ico AO ‘eve uma experi do csp essa etapa di dessobrta dest qu peri tanga, «nossa cilzato, deat sc cop eer sa pessoa” ‘argument desl (PE 26, que onside rs dma ory OF NO NLS homérics apenas sb fom do aeusaeo, ose susie. sky (1961, 8 am toto glsar dma por cenpo" somo sug), plein umaexpeena ome "a fog deTlémasa Tomi) su eck Yep emo uM todo. Mas des éparteameme aku; Yea, por exp, a Ut Bohme (192), un das oss rings de Sl CE, insist import da ata eum dic smo pra “alma” em Horo. Dols (1988. p24) Oe (1982, p20) He. penn, conconam com Snell. m0 aiam port suas conchsGe: “Os tlemenosprincpais a psioogla gras talon encomiavam plenameme sesenvotvis em Homero. mesmo sem oa do anit de alma 10 ede o so XIX. Roe, Oe, cel, Bohm, « Wiumowite olen irmest ‘ano a matutza di alma em Hemet contra que o“eprnal no esting sms EVAR = rida como “um didlogo da alma consigo prépria”, porque, em Homer0, a tensio ou contradigio nao ocortia em um $6 Srgdo, mas somente entre Srgdos distintos (Ne 43). Nao havendlo reflexdo, nao haveria a nagio de responsabilidade humana. Conclui-se que a “alma” do homem homérico por nio ser unitéria, carece de um panto central para que possa ser considerada fonte de emogdes ou sentimentos (DE 44-5); nao perce tendo em si a origem de seus poderes ou decisées, ele atribula toda inciativa e sua execucdo a obra dos deuses ou de agentes externas; " 1s rads espriuais, dyads e nées, sto até tal ponto concebidos como smeros Sigtos que nfo podem constitu por si mesnios a verdadera origem de uma emogio: a alma como preven Ainodn, come *primeire motor, tal como AristSteles a concebe, ou em geralaidéia de um elemento central que domine todo o sistema onginico,é alge que Homero ainda ndo conhece. A atvidade espiniual e antmica consiste na influéneia de Forgas que atuam @ pati de fora, 0 homers encontsa-sea mercé de milipls poderes que se Ihe impdem e 0 podem dominar Em primeito lugar, € evidente que a concepsao de préton kinotin, desenvolvida por Arist6leles, ndo se encontraria em Homero;"* nem a ‘alma humana (gue pode ser considerada um “motor imével"), jamais, setia um “primelro motor", “causa de todas as coisas, “Deus”."" Em Homero, as “Fontes de impulsos" s20 0 ndos, a phrén, a kara (cl. 1.0), Teresi abn para Fdnke (1975.7) e982, p26, 179N30},0 home homie costa una “uni soi, va apenas apés a mote 1 phen (1929, p.146)acotia ques nocd wesponsabade humana, “inexsere na ba a sug pela pier vena “parte mats rene” ua se (132-4), Fura Sl (ME 151-2), x8 no periods csc. opesiomente na ag, que a qussdo ds response humans ent em ens come ema de dea 42 © primcino moor (privon hou) ¢ subtinca © aude, een, imstral © tle, som maze, orcs u iss, separada ds cisas Sensis mpasivel ahve, caustic dees coats que move sem ser movi Ais. alta A070 35, L0rIt 20.37, 1072425 a, 1075-11), o pit hinoin causa © Mov fle Yomi dimples" pov ser 0 Ben supreme, obo primo de pensamentec Modes. sis. steph. Qh 10722655. SS Soati 083, p.225) para Deus como 0 penn hinon na Maer (2) ¢ pra © lems dana como un “motor imbre” Gl An 1.4068, W-8, AOBKEI8), alo menos na sus ula por un oe do deseo (lc AR. 3.10, 45381319} snc que a aa nae € mode ova alga ou ue é movida apenas no do spstio deer plenameneauaizas 34 = mun ou cum cone. ou o rhymés, que, como a psykhé, € uma espévie de “principio vital’ quando abandona o corpo, hd um colapso do “sistema organico’ Se falta em Homero um vocabulo que retina em si todos os aspectos de psythé, chymés, e néos, isso nao significa que os homens de sta época nao tivessem ciéncia de si enquanto uma unidade."" Embora nao haja na épica rferdo sobre a “pessoa”, a unidade dela se expressa na fala e alos das personayens:'* Homero as representa como “agentes unitérios". Se a “pessoa” for definida como o que organiza e reine atividades emotivas e intelectivas no individuo, o simples emprego do Pronome “eu” implica, por si, tal nocéo (Sharples, 1983, p.7n.12: Gaskin, 1990, p.2, 7) Snell arrola, entre importantes desenvolvimentos do perfodo Iifico. as vas concepgbes de hyd e pgvtké. Se, em Homero, 0 dhrmds nao era ‘mais que um “6rgio das emogaes animicas" que nao diferia basicamente dos demais érgaos corporais, os lriens nao o coneeberiam como tal (DE 103). © emprego de chymés em alguns fragmentos de Arqutloco (ft. 128, 114W) apontaria para uma “concepedo abstrata da alma" que Homero ignorava (DE 103)."* Com a “nova dimensdo" descoberta por Arquiloco € Safo, isto é, a diferenciacdo da “alma” dos érgios lisicos, os liticos teriam chegado & dicotomia corpofalma inexistente em Homero (DE 104), No entanto, as passayens da iliada citadas por Snell ndo pareve traduzir uma nogdo "menos atsirata" de alma." © novo conceito de uma psvkfé presente no ser vivo e distinta do corpo & dos érgios fisicos teria surgido primeiro em Herdclito (PE 41) 1H Inwood (1992, .189) naa, por exemple 0 hi um Gn temo alemse que radu odes ows signi de min” as vio ue sebvepbe. Cs als nov so "Gif "Vets p48 Yap olen do wxabliis 15 Lesy 1961, pa ca como exsmpl usages cm qu os hts homelos logan om Seu pri rs. bik (1982, 7.25 lnguagem hom conte musics chmentes anaes, Ut ck ¢ aparenemene, © modo de expesir nino psig, Temes, espe relly desl qualyerouua ava nikal a etoiva ¢leiemtememte ‘snsociada com ape esaca do wor ma yl pase sr produ ou eeu ible no, por, qu so do parca Hom, pos aso amb 1s hee lio em exes ooyuiais modems. ‘DE (108 029: fandie 10244, 12247, 16.260, 21.847) pins L108. 1.60 17.211, 499, 873) Notas que si esos hue «tn i, dee a sees de ‘mogioilexdo, so as yue masse pox de eos los: ano uo ca (aluzido mult ze om Hemet poe “soragt, Yo por ectplo CL 9302) em as ea Mas, segundo Snell (De 41), essa nova formulagao s6 fot possivel gracas a desenvolvimentos ocortios na litica arcaica. Por exemplo, a “profun: dlidade” que Herdclito™ atribui a alma e que a distingue dos objetos fisicos. dos Stgaos, seria nogio alheia a Homero, mas presente em ‘compostos ais como 0 batlyiphron bachymétés ("de protundo pensa mento e sabeclotia”) dos lricos (0E 41-2) Se Homero ignorava os és predicados da alma heracitica: 1. tenséo em intensidade e profundidade, 2. espontaneidade, e 3. 0 ser “comun’ oinds), 0s liricos teriam alcancado o primeiro ¢ 0 terceiro a0 “deseo: brirem” a divisio na alma e reconhecerem que os homens compartilham posses intelectuais ¢ espisituals semelhantes (0€ 113)."” Quanto @ tespontaneidade, 0s liricos s6 a teriam percebido em uma pequena esfera ide sua experiéncia: nas allies do espirito (ne 113). Pois, nessa época, a salma pessoal nao é ainda o princ{pio ¢ a fonte dos sentimentos gerais € englobantes, mas apenas das reagoes que o chogue com um obstéculo pioduz em tats sentimentos” (DE 111).* ‘Mas nao € licto contrapor a poesia épica a lirica arcatca em vista de ‘suas representagdes do shymés, ndos ou phrén, porque esses tetmos, ‘além de setem quase intercamblaveis em ambos os géneros, nao softeram um desenvolvimento semantico radical de Homero aos liicos arcaicos." {© rhyme's, tanto em Homero quanto nos liticos, jamais € considerado ‘um srgao fisico propriamente dito. Ele € descrito como se fosse uma Ie Ose om de epee“ ous rm” = wma ou a, um ets impulse), {ess (1988, 21-5, para oupmss como uma “objeto dos impetos emecionais fuma orinrt independent FASO “No envontarss os Limes oy alo, etcovteno tedo © camino: Go rind su i=” eye espa twos av eBecpo.o, koa EmrOREWELVOS Biv. Pdi Ay Fe) ural (OE 49-4) das cases do digs rao er alg que se expand Ai aISOK "da alma cum doze ques expan” yogic ton Ais éavtbv aay. mun”) io potiam sr expesos um Homere pong a as oe jamais am Pore consis Lone de np; gualgur aumte das capes ics ou sili send represen como aia i Ym or, a wala ina, Hamer por cxemp, ra sons um dom de Ao os, pssalseva apenas Aviso ecsionat pel amor nan-ctesponide (DE 9. A) U969, pa) e Busus (1979. 1980 T9S1). West (9NSD, 9.6) alema gus, de 40 BO slo, mula econ nos semis Ue emis PVR, No i a0 fragmento SW de Assoc, xaninateros osgnieato de ph no ms no pans haverexeplos yu vider wma madan de sentido par ‘6 + ram oe canna conten espécie de vapor ow sopro timilo (ef. ehymide) ativo nos. pulmes (pirenes) que impel o sujeito 4 agao infundindo:Ihe coragem.* Onians (1954, p.50) 0 detine como 0 “alono, a respiracdo que é onscigncia wariével, dindmica, que muda segundo as mudangas de sentimentos © Pensamentos, pensamento e sentimento sendo difkilmente separdveis” nesse perfodo.® Dentro dos phirénes, 0 ehymas (vaporisapro) interage como arexterno, podendo aumentar ou definhar. Assim, éativo durante a vida e jamais mencionado apss a morte, quando, ao abandonar 0 corpo, cessam a respiracdo ea conscincia, Nesse sentido, olyrmés pode set considerado um principio vital, constantemente assoviade ao pensar e senti © néos ndo tampouco um éigo permanente com localizacio precisa, As etimologias propostas (ndoma’ = “ou*, ou méd = “movimen- to-me em liquide’, nado") sugerem a noyio de “uma conseiéncia com movimento ou propésito detetminado” (Onians, 1954, p.82). 0 nds “do € identi ao cys, mas & como se fosse uma cortente dentro dele que o define ¢ contola, € 0 que faz a iferenca entre a consciéncia nao controladae a inteligente que tem propdsito. Nao € Intelevto puro, mas Ainamico e emocional* (Onians, 1954, ps Apayig em Homero, como 0 ndos e 0 thy, no sendo Srgl0, nd Possui localizacdo definkla, Mas, ao contrdrio desses, a psvikhé nao pareve exercer nenhuma atividade ou partcipacao na consciéncia hal tual do ser vivo, Ao deixar o corpo com 0 dys na hora da monte, €0 que resta do homem no Hades. Por estar presente no corpa vivo eno no ‘motto, alguns julgam que a psyié em Homero seja um “principio de vida" (Lovibond, 1991, p.35). E interessante notar que, em certas passagens homeéricas, a gyié também pode signiticara propria “vida” pela qual o guenreir lua (ll. 22.161) eque ele arisca perder no combate qwos2n2" Herdlito, nos fragmentos 107 © 1170K, apresenia uma pgvthé diversa da homérica por ser ativa durante o periodo de vida. Mas, 22 Bisa (1928 se) compar 0 shri fms. Ras 38 Han do sys, nae € Pini isc a equ, ans 19, cp 28 Para expos da aida emotvnichsiva do cots Lesh 1961, pay 24 Mais tank, no clo a0 cia esos de gulls Vs, stones subs aa (1 proprio 0 ronome vigil, que se Hele a pessoa viva como um o,f even 2. fumis evanes = 37 segundo Aristételes (de Anime 11.2,40Sa 19), jd em Tales o movimento seria uma fungdo da psybhé? e para Anaximenes (Aéciol 3.4) ela exercia uma forma de controle, mantendlo a coesio dos seres, A partir do século Via. C., comega a ser mais freqlente a referéncia & pgvihé como sede de emogies © consciéncia, Em Anacteonte ({1360.476), por exemplo, a pgrhé do amante & comparada a um cavalo cujas rédeas 0 menino amado detém. No contexto do pit nes (Ic7aW) afirma que, pelos ganidos do cdo surrado, revonhece a pgykhé do amigo.® No entanto, o sentide mais “antigo’ de psybhé nao cai em Aesuso, encontrando-se, inclusive, no fragmento 98DK de Heracito e na literatura posterior, onde o termo continua a ser empregado em con. textos de morte como “0 que sobrevive"* ou a “vida” que se pode perder: Vernant ¢ Detienne (in Meyerson, 1973) reproduzem 0 quadro de Snell em suas linhas gerais. Segundo eles, em Homero, 0 corpo nao seria tunificado (a ndo ser no cadaver), mas compasto de drgdos com funcbes fisico-psiquicas. Nao havia, portanto, distingo entte corpo/alma. Mas fles elaboram de forma diversa a mudanca de sentidos de sima e psyké, buscando no xamanismo e no pitagorismo, seitas dos séculos Vt ea margem da religido oficial da cidade, a formagao de “uma nova nogio de alma”2" Magos e xamas, por meio de ascese exercicios rspiratsrios, procuravam “reunir e unificar as capacidades psiquicas espalhadas por todo o individuo" com o intuito de separar do corpo a alma, “solala e centralizada”. Nessa nova concepcao, a psvthé, além de tuniffcada, era imortale divina, Be el Stott 1991, 7231, “aqui, evdente que appt etd seo tomada come 0 Prinpo de rade one poems infrryue Tals esta a cain de coneber 3 PME nocuneve de Korma no-one ~ como 2 essa ental que selcona Doss aves es 6 wos exsnpicsenconam-se veo de Sines 8.1519, na Png (530, Tr fon (0.2 mcanpids (762.291, weno ae Ls (ASSOSPUE es Merc Wes 1988 97) eSehoeM 1991 B ogo 21507, siminites (585-204, Mis2sc16016). Bal 2177, Tins yr 40.14, 11.5, 2.48007, Soon (AS 46, pda 59.109 6 Tenet 70, Beam (1975. 9.35) eroienne 1975. p48. (668, 710, 910) eddespoer 34 = eae cum conn Esses grupos religiosos (de certo modo “aberrantes") tiveram, se- ‘gundo Vernant (19 6), “um papel devisivo na origem a pessoa sua hist6ria no homem ocidental’: pois a “descoberta da interiorhlade estaria vinculada a0 dualismo somato-psicolégica, Por meio da sepa ragio e definigao da alma por oposigao ao vorpo & que ela teria conquis lado “objetividade e existéncia". Se nessa época a alma ainda nao exprimia “a singularidade dos sujeitos, pois, assoviada a0 damon, un principio divino™, ela era “aparentada ao que anima toda natureza’, esse seria, porém, um primeiro momento na “elaboracdo progressiva do ‘mundo da experineia interior face ao universo exterior” WE TAs ELE REFORSANLMNDE OUR (© homem homérico, segundo as weses de Snell (pe 43), desconhecia ‘emogSes mistas € uma verdadeira reflexo por nao ocorrerem tensses ou conifitos em um tinico “érgéo", mas somente entre seus “Sigados” dis linios. Em primeiro lugat, jd vimos que 0 néos, psvbhé ou ehvmds embora materiais © corporais, no sao “Srgaos” propriamente dios: ‘Além disso, alguns critics interessados no problema da iniciativa e da responsabilidade humana na Grécia antiga também nowaram, desde Wolff (1929, p.388), que a expressio formular “cogitava, dividido em seu coracio" * indica a capacidade do nomem homérico de experimentar tensao ou contradicao em uma sinica sede de percepeaoremocao, Em um estudo de 1952, Snell opds o hamem homérico ao trdgico, tomando como paradigmas o Agamendo da Miade (19.86 ss.) que teria responsabilizado os deuses pelos seus atos, eo Orestes de Esquilo que, cembora seguisse ordens de Apolo, arcava com as consegiiéncias de tudo jo que fizera. passagem da Mia (19.86 ss.) examinada por Snell jé era hha tempo confiontada com outra (fl. 9.119) pelos interessados na 50 rman fo. i). ssi também, Desire (1975, 50) cia Sl conc yu ek skescobeta do “mundo itor" no ponsamen arc tee uma primi expresso ma li, pois cm Homer as emotes permaneiam cme “edn aso ids relisamnt ‘Oplin, co hr cstaviam mals pesos al sini Wisk 1988p 114.202): Spuove Bag uevog xe Oo 0G, Agamendo di tr eo “pesuall or sh pobre mn” Ul 9.419: AAR él leans dpe Aevyines moron). was tines = 39 questo da responsabilidad humana em Homero. Eles apontavam para uma aparente contradigdo ou oscilagao no decorrer da narrativa: ora Agamendo assume o erro (9.119), ora ele respansabiliza ace envia pelos deuses (ft. 19.86-7, 137) Fara resolver tal dificullade, Wlamowitz-Mollendonf (1951-1932, 1117) langou a hipstese de que os verses ndo ossem do mesmo autor Gundert (1955), buscando outta sada, sugeriu tratarse de dois momentos psicol6sicos:primeito Agamendo teria assumioo feito como tum eto pessoal, avibuindo-o mais tarde & interferéncia de uma instancia superior Lesky (1961), a0 analisar a “Motivagao divina e Inumana na épica homérica", argumentou que seria um caso de *dupla motivagie (pv ss) crlticon a comparagio € as conclusdes de Snell relativas & representacdo da responsabilidade humana em Homero € Esquilo mostrando que. na Miada, mesmo quando Agamendo atribui a culpa a Zeus, ele € responsatilizado pelos seus ato: © reconhecimento dha Aré enviada pelo deus nio o exime de reparar seu erto Lesky elassificou os atos e as devisdes dos her6is homéricos conforme sé0 descritos como frutos de (1 intervengSes divinas: (2) *dupla motivagac ‘04 (S) uma escolha edecisdo prépria do hei. Conclui que, em Homero, 4s personagens nem sempre se apresentam como absolutamente past ‘as (como um “espaco aberict para a agéncia divina), mas podem agi em “colaboracao” com os deuses ou, ainda, por iniciauiva prSpta No primeizo caso (1), os deuses infundem coragem, fora, medo ou insensatez (¢e) por meio de um contato diteto (fl. 13.5-9), sob forma de “inspragio” (7. 19.189) ou, 0 que é mais fegiente, © narrador apenas diz que as divindades “enviam” ou *colocam™ algo nos coragSes/mentes das personagens Us herSis, mesmo quando agem sob influéncia Aivina, mais cedo ou mais tarde acabam por assumir a responsabilidade Pelos seus atos, por mais que se queixem ou tentem justiiear-se incu Pando aos euses. T.126, 18.1578. mesmo vale pra Agus (1652.19. 270s). Gaskin (19%. po. Listy (1961 9.12) ose gu. de. io pote das incervees vin em Ho neat, os dese “ram” 9 az (pins dos homens: 39 pas 4, na seas encore” cis cm Sts ents 60 + ran on comes conta AS agies “duplamente motivadas” (2) ~ definidas como aquelas em que os deuses motivam os homens para © que jd estavam dispostos capacitados, nao servindo-se deles como meros Insttumentos, nem ope rando sozinhos ~ sio as mais freqdentes na poesia épica (Lesky, 1961 P.28). 0 exemplo célebre de “dupla motivacda" é 0 episédio da fade (1.188 ss.) em que Aguiles, “divéfido em seus pensamentos” (didndibha merméritsen) quanto a se deve ou nao matar Agamendo, & detido por Alena, que 0 segura pelos cabelos. Trata-se de uma decisio “dupla: ‘mente motivada” porque a deusa sugere a melhor opgio.sem impéila; ela aconselha 0 heréia quem, no final, cabe decidit. Em varios momentos, 0 aedo refere-se a um esforyo conjunto dde homens e deuses para um mesmo fim como, por exemplo, a morte de Aquiles pelas maos de Apolo e Paris (i, 22.359).* Outras vezes, a dupla motivacao ndo se apresenta de forma simultanea, mas ora 0 hetsi assume a iniciativa, ora a atribui ao deus, tal como no caso de Aga- endo (1. 9.119; 19.86-7, 137) discutido anteriormente, Um terceito também pode responsabilizar personayens distintas pela mesma acgo, como Ajax: primeito (U. 9.629), diz que foi Aquiles quem colocou em seu proprio peito um chymés selvagem e, poucos versos adiante (fl. 9.636-7), que foram os deuses. So também exemplos de dupla motivacdo as passagens em que um sabet ou téenica (coma a do aedo) sao descritos ‘ra como “dons” conleridos a homens pelos deuses, ofa como artes que ‘8 homens “aprendem por si so ‘Ua es, defends por Nilson (1967, 371) e Aazon (1942, p29, enue ou sslenla que o autor e eu pice no areiavam ai ras de as imeem livin. A presen dos dens ness pssagens nao sia mas Uo du “modo de for” ov um “esgquema posi sme Lasky (1961. p28). ja também 21.29) C127). Na Eid, € spe posse as mo sii Fano a sgests os dkuses, com 0 faze Esto (152-49) © oMisen 395, ‘dis remera as pulawas de Pew ages Siem (925456: ‘tena e Hera te dem fon’ so desea, mak nme ora ia Ns io, pis prudncia€ chor”. Ya amb. «2600-1: “mas no egies al ois em a mentee um mo mo ee as 6.228 368, 9.708, 16 $48,20.192 04 (19.488, 25.260, (8.44, 22.347), Nadiad, ocd peseme de um deus 2.827 EN ov cle mesmo 4.108). Yj amb Das (1988 p14. 25,299.32) sms evanits = 44 A decisio pode darse também, na dade na oWisséia, em termos cexclusivamente humanos, sem intervencao divina (3). Nesse caso, ela € fruto de um monélogo, ou melhor, de uma deliberagto descrita em teimos de um “didlogo" em gue o sujito ("cu") se ditige ao seu préprio thymés ou hentia, v vice-versa. Os quatto exemplos mais estudados desse solléquio do herd consigo proprio sto os de Odlsseu VE 11.403, ss.), Menelau (il 17.90-105}, Agenor(l. 21.853-70),e Heitor (I. 22.98 130." Snell (1930, p.143 ss} examinou essas passayens sem encontrar nelas o carder de uma verdadeira decistio porque, a seu ver, os discursos so estereotipados € a escolha do her6i ndo envolve um “pensamento ais profundo":trata-se apenas de uma ogo entre duas altemativas baseada em uma “norma objetiva” Portanto, quando as personagens épicas nao agem compelas por uma intervencde divina, so normas de onduta moral, fatores externes também, que determinam suas escolhas, ¢ no uma razdo “pripria’. Desse modo, herbi épicos ndo Sesiam, para Snell, agentes no sentido completo: decisio e “escolha tive" teriam ocortido pela primeira vez em Esquilo ~ um momento importante no desenvolvimento do esprito de Hlomero a Plato. No entanto, es quatto discursos ndo silo estereotipados: apenas servem-se de duas ou t8s frases formulates dirgidas ao cymes no sew inicioe fim. Por exemplo, no primeiro soliléquio, disseu (fl. 11.4028., ceteado por inimigs,“Aligido, disse ele ao seu magndnimo coracdoy “ai de mim, que farei?"." 0 hersi examina duas alternativas: (1) Fugi, que Seria “um grande mal", ou (2) set preso sozinho, um mal *plor", Em Segulda, ele recorda os preceitos da aco coreta(nobre) que acabam por Aeterminar sua escotha (f 11.407-410) Hw (1957, poy etserva que ese tps se deo 920 comm ma ied, onde os Ahases estan estar po oda pare Has Zs, quando eC. 132-41), dae os Hens responsabizay os uses por seus infruinios quan, a verdad pase | asd gucthes fra destnado yyy usm em uae desu pra insenst ft Wott 1929, p90, Pode 1988, p25, 299.3) e Ly ones 1985, pA deisio A Aus Sve su pips rna, ve Helo, gue continua Iam, embora ‘eteha gue Apolo © ahandonars (ft 22294-505, x80 ovis casos regiemtemente se seoanpife, cu dpyava wand Pony formula iil 11.405-1 dyes 8° Spa ete xp Bv weodscopa Spores. e nado ques pete sun oneal?” 0) no MOS rs 96:99, 179058), 42 = ran oh conan cornea Oa 1 wor cobra ORs BehéFaro Boys 1p. bem xonoh wiv dxDizoveen ohéior. 5 BF” &proredy wen Ev, Tov BE dha pec tordueven xpoepcig. x’ BAe’ sx” Had” &dAov. Mas por que meu corardo me diz essas coisas Pois sei que os eovatdes fogem as combat, ao que quer ser valooso na lua é preciso, sobretuds petmanecer firme. Quer sejaFerida, quer fia um outte, E 0 “coragdo" (ehyinés) de Odisseu que Ihe oferece as duas possi bilidades: fugir ou lutare ser aprisionado. Quem ou o que censura o ‘lymés por pensar nisto,definindo a fuga como agi caratetstica dos covardes” (aod) a permanéncia no combate como prépria dos nobres (risen? € outra sede de pensamento/ sentimento (a phan, por exem Plo) ou 0 sueito como um todo, implicivo no verbo em primeira pessoa (sei)? No verso seguinte, ao dizet “enguanto cle revicava essas coisas na mente (phréna) ¢ no coragdo (efymen)*, 0 nagrador indica haver esse solilSquio, além do chymése da ph, uma instincia unificadora que “Tevira”, movimenta os pensamentos impelindo-os entte uma e otra sede de percepyao. © epis6dio de Agenor i. 553-70) € exemplo de como a intervencao divina ndo exime o herSi da eflexdo: embora seu dilema sela seme lhante ao de Odisseu (i. 17:90-105) e Heitor I. 22.98-130) sua deciso € duplamente motivada. Quando Agenor ve Aguiles, seu corayio dispar, ele fica sem agao, mas logo comega a pensar no que fazer 0 solil6quo € introduzio pela frase loxmular (Mligido, disse ele ao set magninimo coragéo: ‘ai de mim...") ¢ entdo duas alternativas so consideradas: 1. se luglsse com os outros, Aquiles o alcancaia; 2. se fugtsse em outra diegao, poderia esconder-se no mato, voltando para a cidade, & noite, sio e salvo. Ao perceber que, mesmo correndo para 0 bosque, Aquiles 0 avistaria eo mataria, Agenor pergunta: "Mas por que meu coragto (hymeés) me diz essas colsas?”. Ndo encontrando meio de escapar elevando em conta ofato de que Aguile, com el, era mortal e vulnerével, Agenor resolve enftenté-lo na luta diante dos. muros Sabemos que essa decisdo fol duplamente motivada apenas porque 0 44-1 01.4) 6 8" Spuave rad gpéve xa wack OS 45 seo hse do vette emo cual “ole cm movimento, “movimenta ans e vanes « 43 nartador havia dito no inicio da passagem (fl. 21.544 ss.) que Apolo infundira coragem no coragdo (kentie| de Agenor,ficando ao seu lado. Heitor (22.98.99), sem inspiragao ou qualquer auxilio divino, também depara com Aquiles diante das portas de Tidiae, ‘Afigido disse le ao seu magnanimo coregdos ‘ai de mim... Vollar para dentro das muralhas seria vergonhoso (aédéomar). Melhor (terion, “mais van tajosc") seria retornar apés ter mataclo Aquiles, ou mortergloriasamente pela cidade. Ocorre-Ihe outra possibilidade:largar as armas e rendet-se a Aquiles, prometendo entregar-the Helena e, além dos bens trios com cla, toda a rigueza de Ti6ia, Por considerar uma alternativa ndo-herbica ¢ insensata, 0 ¢hvmds 6 censurado: *Mas por que meu coracio me diz, «essas coisas?” Heitor conclui: 1. Aquiles ndo atenderia as suas sipicas ‘0 mataria se o visse sem armas; 2. melhor (eran “mais belo" seria avancaree lutar, Como Odisseu e Agenor, Heitor tem em vista a aco mais vaniajosa e mais nobre (agachén, ériston) que, na Miada, & uma sé. Menelau (17.90 ss), a0 contrério. opta por uma fuga “ustificada” Lutando a0 redor do calaver de Patroclo, ouve os gritos de Heltor que se aproxima, Eno, ‘Afligito, disse ele a0 seu magndinimo coracic ‘ai de mim..." © her6i avalia suas alternativas: 1. se abandonasse as armas € © cadaver de Patroclo, que morrew por sta causa, ele seria objeto de censiira” (némests) para quem 0 visse: 2. se, por “vergonha” (cédes- thes), lutasse sozinho contra os toianos ¢ Heitor, seria capturado. Por fim Menelau pergunta: “Mas por que meu coraedo me diz essas coisas?” 4, se um mortal Iutar contra um protegid pelos deuses, muito softe: 2. se ele fui, 0s aqueus ndo poderdo censurd-to porque Heitor guerteia inspirado pelo deus". Assim, Menelaut abandona o corpo e armas de Patroclo, partindo em busca de auxiio. Dificil € saber até que ponto tais justificativas seriam aceitas pelo Pilblico,e se o aedo nio estaria sendo irénico. Se a fuga de Menelau é Somparada de um ledo majestoso que. rechacado por ces e homens, se fasta de mau grado (ackon), satemos que, embora Heitor ena sido Fncoralado por Apolo, © deus ndo est mais presente ao seu lado. E fapesar de se repeti varias vezes na Hliada que os homens nao devem Thar contra os deuses e sua vontade, € justamente isso que as figuras hherdicas fazem." Mais tarde, quando Menelau encontra Ajax ¢ the TBH Kmivar come Hse enlema Ailes com Pals Ati Ava Ao eu fo, ow Pos. que fre cl cogs possi Apo ts ven. ‘Ah = rau. ox canes conse conta 0 suceido, esse nao hesita em atacar Heltor,¢ o faz retroceder ‘Menelau vem airs. Dodils (1988, p.29n.31) aflrma com razdo que “parece um pouco antficial negar que o que é descrito em passagens como Ml. (11.408 ss.) ou au. mada depots de se considerarem altemnativas possiveis", Que o herdi homérieo € eapaz de 5 88.) seja efeito de uma decisdo pensada, tomar uma decisdo, ¢ evidente, havendo até uma formula para express la;¥ a existéncia de uma nogdo de responsabilidade evidencia-se pela necessidade que sente de reparar seu erro." Ao contrario do que afirmava Snell (1950a, p.145-6), vé-se nesses soliléquios nem sempte as decisbes dos herdis homeéricos se limitam 2 uma escolha entre duas opcbes. E as “normas objetivas” de conduta moral que as norteiam nao as invalidam, pois, no caso de agentes racionals, “suas razdes no povlem ser radicalmente indivi- dluais", mas tém necessariamente um cardter objetivo, ist é, aplicam-se a quem quer que esteja nas mesmas circunstdncias (Gaskin, 1990, p.8) Vernant analisou a questdo da aggncia © da responsabilidade hu ‘mana na Grécia antiga em dois ensaios, ao watar da “pessoa” na religido _gtega (1975) e depois, mais especiticamente, em “Esbocos da vontade na tragédia grega” (1977). No primeiro estudo, assim como Snell e Frankel cele nega a existéncia em Homero de uma definigao ou delimita sujeito humano e Forces naturals." Carente de uma ~dimensdo interior do homem*, o herdi homério nao podetia sex responsaivel pelas acoes ula origem e resultado se encontravam fora dele e que, portanto, seriam ‘gratuilas”, ndo-pessoais, estereotipadas, ¢ “exemplares* (Vemant, seu mchora ck yue van. casa (1990.9. Dols (198, cap.) bey (1961 ecashin 1990 6, 1 eB (is dpa 0k gpovéovn Saeauro tH Nema (1973. p29). Deen (973, 47) undo Vernan, alma yue Yl rlliosesinplrom aconsrugo nyo desoepo ea Wimiag la ess ue Prolongava de ta mania na natn ass ania. Sem conor, 2 FeSO do podia x se nom separa uo mundo mis Ayrson (1973, pS, $4), um das estes de Vrman,akgava que ni ex il ila, em mesmo nos pevoues mais tos, ams “perk pase, em ung dl incu pbcom tmcn(um pis ung x ivi aan natralmen, a ago supose o agents, 9 agement 3 pessoa: o agente € de snes Eanes = 45 Para Vernant (1977, p.27, 55), “ao contratio da epopéia e da poesia lirica, onde nao se desena a categoria da aco, jf que af o homem nunca 6 encarado como agente, a tragédia apresenta individuos em situagdo de agit", o que “pela primelra vez no Ocidente” torna-se objeto de reflexdo, Mas o que Vernant (p.28) define como o “duplo carétet” do agir na tragédia ~“de um lado ¢ deliberar consigo préprio, pesaro pr6 eo contra, prever o melhor possivel a ordem dos melos e dos fing; de outro, & cantar com o desconhecido e incompreensivel” —em nada ditere dos exemplos de deliberayio ¢ agdo dos herSis épicos aqui citados. O que nao ha na pica € 0 debate, que a tragédia coloca em cena, averca das categorias de culpabilidade, das nocdes de intencao e responsabilidade que estavam sendo elaboradas nos tribunais da cidade (Quanto & categoria da vontade, Vernant (p.29) acredita que o grego lo perfouo classico dela teria uma expetigncia “incerta e indecisa’ Near ao homem homético (e até ao clissico) a nocdo de vontae & outro Jugar-comum ence 05 helenistas.” Vernant (p.37) crticou Snell (assim tomo Lesky) por atribuir aos herdts tgivos uma decisio “pessoal e livre’, e por subestimar o papel das forcas divinas que agitiam nado s6 exteinamente, mas no intetior das petsonagens, coagindo-as “até na sua pretensa escolha". A seu ver, a escolha do agente na tragédia nao & livre, mas “engendrada pela nevessidade (andngte) imposta pelos uses" abre diante dele" (Vernant, loc, cit). 1ss0 no Impecle que © sujelto assuma a responsabilidade pelos seus atos, “o comprometimento traduz indo a livre escalha do sujeita, mas o reconhecimenta dessa nevessidade Mle ordem religiosa & qual a personayem ndo pode se subtrair e que faz dela um ser.forgado interiormente, no seio de sua prépria decisio Weimant, le. cit) a deliberagdo apenas “verifica a aporia, “a tnica via que se Tele eirior 6, a quale do Sea Conseuentemnt, ee pemsamcn sr a Sage no ndividuatead ma sind "no neo a a", 9 RS ao Rum espns SEiles942voenz (1948-194, 1.2. spun agua angie coma com BehGo. Pols 198, p.29n51) no ques ancncis de uma nog Ue Yona N86 ia prs, que oes emi ne pss dining ere a abe ue Kram ile peri ie devi intervene cvina cm tbo portant da pesos e vise com abs no indian? 46 = rau oh conn conta Fara define os modos de "vontade", “decisiote “escola” entre os g1egos, Vernant 1977) investiga os signiieados de ein (hekoision titan (akosios),proainess,boestse ottests em Aristdeles (EN, 2), chegando a conclusdo de que, se havia uma forma de vontae, ela estava amarrada pelo temor que 0 dvino inspira” ¢ as devises eram “sem escolha", seguilas pela -responsabildade independentemente das intengBes* (p37, 39).* Nao haveria, na Grécia antiga, livre esclha e vontade propriamente dias; as instncias de decisio auténoma apon tadas por Les resulariam de uma projegio indevda, Na dca Nicémaco(111182-24), a agho “involunria” (aotsion se di sob coergdo (hie ow ignorancia i” 4gnoian), enquanio & ~oluntiria® (hoods) *parecetia ser aqula que fem sua erigem no prdprio agente que conece as czcunstncias particulates em que eferua sua agdo (risis)". Mas também incluem-se entie as aces “volun térias” as passions causadas pela ira (ci chymdn) ou pelo deseo (eithymiany: caso conitato, na seria possivel admitc gue os outros animais ou as ctiangas agem “Yoluntariamente™ (EW 111182427), Segundo Arist6ieles (N11 1319-22), se parece que o homem autor de suas agbese nfo poderos buscar as origens de nossas agBes Sendo em nds prdprios, conseqientemente as agoes cujasorigens esto em nds (elas proprias dependendo de n6s) so voluntrias (ick) No entanto, Veant (1977, pa0-t), nao revonhecendo 0s conceitos de hen e hon como periencenes s categoras da voneae:* nega que a agio de alguém que age Aten seja “intencional”, ou se realize necessariamente apés rflexio ¢ deisdo porque, embora seja “Yolun tétia” no sentido de uma ago nao coagida por gualguer fore externa, cla surge do ehymes ou da epchy mic {A prowiesis (¥escolha") & “Yoluntéria” (tekoiston), porém menos abrangente, pois animais ctiangas (logo, “Seresieracionais") S80 capazes de ages “voluntarias", mas nio de proansis (ew 111 187-10) {2 Segundo Vonani 1977, p39), para ns a vonuae requr a exsénca det fachisivamente hunanes ue consi uns cond uid 2. ws xB inviduo © uo indvus nguanio agente; 3. nagbes de tit © alps sa ‘sponsallasubjavaqno gir dime obj 5, ave as aes ole des de inten e da elizag dos as. 55 €1 LS para osrncas ds Homo, de hoi a, aids habia "yluntrianeni, le hom gr" “involumaamr sonst,“ do" ea slag de on somo Sins ns (Assi ms evans Precedida por uma deliberacao (prebobeuteumenon) que envolve légas € didnofa (EN 1112a14-16), a proairesis tem por objeto 0 que & posstvel e realizavel pelo sujeito, e concemne aos meios sob nosso controle ( 1111b20-30}, A deliberacae (Aoiileusis) que antecede a proairesis também diz respeito aos meios, sejam esses varios ou um $6, e tem objetos praticos. Cabe a ela averiguar as agdes realizavels: o que est em nosso poder, © que poute ser abtido por nossa agencia (EW 1112a18-09) 0 objeto da bovifeusis € mesmo da prowinssis, exceto que, a0 s escolhido’, ele fd fol por ela determinado (ex 1112b32-11 137) Consegitentemente, a prairrsis tem como objeto algo que se deseja apés a uleliberacao: € 0 desejo deliberaclo (howleweil éreksis) de algo em nosso poder; deliberamos, depois escolhemos e desejamos de acordo com a deliberagdo (EW 11159a1-15 ‘Quanto a boris “aspirayo" “"), que pode ter qualquer objeto e qu diz respeito aos fins da aco (eW 1111b20-30), para Vernant (197, Al) 0 problema consiste no fato de ser relativa a um fim “que Ihe Jmposto e que ela, a aspiracdo [bciléss), nao escolheu". Mas nao cabe A oailesis escolher, ¢ sim, “querer”. 0 que se “quer” & 0 bem, ov 0 que parece ser bom, e isto, 0 que se "quer", o homem escolhe (EW 1113415, §5).0 homem bom *aspita” ao bem porque julya corretamente (erined corthés) cada coisa, o que é, ¢ o que parece ser bom: de outro modo, a maioria pode escother mal por causa de um erro de julgamento que acarteta a “aspiracao" do mal (EN 1113425 ss.) Muitos, como diz Vernant (1977, p.4l), acreditam que a proairesis Fepresenta “0 livre poder de escolha"; para outros, é uma “verdadeira tapacidade de querer” que permanece acima dos apetives. Seguindo Gauthier & Jolif (1958-1959), Vernant recusa ambas as leituras porque a ‘proainesis nao é independente nem da parte desejante da alma (érekst), mem do intelecto (iis) (ew 1139a17-20), De fato, para uma boa scolha, sdo necessarios um principio verdadelro (l4gan alethé) ¢ um Hlesei corteto (Greksin orchcn)(ew 1139a28-27), Se podemos escolher foisas boas ou mas (o que determinard nosso cardter), $6 escolhemos 0 ue nos parece bom, o que, por sua vez, €avaliado pela opiniao (asa). Wermant (loc, cit) afirma que *S opto da proainesis ndo se da entre Oem €0 mal, entre os quais teria livre poder de escolhat © ermo empresae per Yen, € taduido por “asprar3° na ligio asi 9773 BERacknam i921, que de Ao poe “ws 48 = ran ok cones conte Faatseauerationab de decisdo, fonte verdadeira de seus atos”, porque 0 individuo, e ele assume sua panticularidad, se assume a responsabil dade de todos os aos reaizados por ele de bom grado, pemmanese muita fechado nas determinagSes de seu carter, muito estetamente preso as Aisposigdes internas que comandam a praia dos viios e vices, para livetar-seplenamente como cero de desisdo pessoal eafirmarse,enquanto ‘utd, em sua verdadeira dimensio de agente em seres racionais, seriam “livres”, no Mas que vontae e escolha, em seresraionas,seiam “I sentido de desvinculados do desejo ¢ intelecto? E possivel, como quer Vernant (p42), tal “berdade psicol6yica"? For fim, Vernant (loc. cit) recarre ao método lexicografico para refrgar seus argumentos,alegando no haver na Grécia antiga uma terminologia prSpria para a expressdo do “livre arbittio", -Vontade” & ‘agio voluntdria" ~ entre outras “caréncias caracteristicas da moral dade antiga". ‘ND PESPECTVAS DE WESTIN © trabalho de Snell, evidente sobretudo na Descoberta do espirito, fot buscar um gradual desilobramento hist6rico do mundo grego: tolomgode penametio rego. por fim oa oncrcsoaiagm 56 Sho dios ches e otras pave a Faia A it dru lean, 1977, 6). rum es thd de owes rush ‘uo cos dues ob de rst Pte, PASI, 360 AM 1445, 19 fais cvates «49 Snell parte de um ponto de vista negative, procurando, entre os Breg0s, ocdes que eles desconheciam, € histo. segue Wilamowitz Mollendor, Stenzel ¢ toda uma tradigao que chega a um “certo défcit fa alma” des antiges, aos quais faltariam “conceitos como 0 et, s ‘mento, mente, coracao, humildade, consciéncia de si (Sllistseémmuneg responsabilidade”, em suma, o que seja “interno, pessoal” (Seel, 1953 294), Tal quadro resulta em granule parte do método lexicogratico pelo qual se deduz, na _fedea de uma palavra, a auséncia do conceito: “quod non st in verbo, non est in mundo” (apul Latacz. 1984, p.30). Além dos problemas jd apontados pelos crfticos (cf. nota 50, sup), e da exis léncia em Homero de palavras que escaparam a Snell (ou que ele descartay,cabe lembrar que 08 poetas fazem recortes na linguagem, © gue nao existe nos textos homéricos poderia tet existide no vernaculo F6nico ou em outras tradigées poéticas da épaca, E a ingua da épica, nao dda época, 0 que temos na itiada © na Odisscia. Mesmo se existisse um Feglstvo exaustive do vernaculo do perfodo homético no qual néo fonstassem tais palavras-chave, seria ainda necessdrio considerar as Alistingdes de Frege: ao cunhar um termo, ndo se invenia o referente (eja fe38e objeto ou conceito), mas o seu “modo de representacdo’ Ouro problema é a “questo homérica”. Quem nao accita a tse Unitétia, mas acredita que a itiada e a Cuisscie tenham sido elaboradas Por lima muluplicidade de aedos através dos séculos, nao pode sequer HPgitar de uma “visio de mundo" ou “quadro de homem homeérico Bpetente (cl, Laracz, 1984, p.16-7). Mesmo supondo que os poemas Rnham chegado 8 forma er que os conhecemos por meio da elaboragae Pai under 1988, 9407, vst 1968, .15%, lop ones (1985 1607, 188, BE skin 120.“ poste! que un iv ou comunidate Invente ua nome Bebinncns pars un oreo eernsand on conc er? qu mpc exis Menieque so modo presen, Gertescns) dre ser omer gues invnca nessa range, co oq 4 esavaposo aa mundo” Vi, pr ence, qu, a aad casamen, dz uc os ego no tom nome FeO rte os wines (Pt 12550. evONOW yp Hi yovands Kat POG = ran ok cums cunata de um s6 poeta, componda dentro da tradigao oral com tudo 0 que iss0 acarreta, seria possivel obter dos poemas um retrato do homem ta gpocee de Homero £ © que se pretende, embora muito tenha sido dito acerca da estilizagdo da épica homeérica, o que deve ser levado em conta quando se procura extrair dos poemas uma “visio de mundo” do periods. E se o estilo, considerado por Snell e Frankel como o praduco de uma fase histérica especttica, For determinada antes pelo género e nao pela época (Réslet, 1980, p.20; Seel, 1953, p.311), a questdo do géneros poéticos assume importincta maior Talvez o estranhamento do homem modern ante o homérico se deva em grande medida a linguagem poética da Hada € da Qdisséi, cujos ‘modo metaférico de expresso" e cardier mais “sensivel” setiam tacos genéricos e/ou particulares do autor (Seel, 1983, p.304): Pevemos considerar a possibililage de que © que temos aceito como, cevidénclas da percepsio limitada do homem homérico sejam, de fato, con ‘vengGes antisticas de um poeta ou escola de poesia, que exercam tremenda influgneia enbora sejam pessoais © nio-epresentatvas: a possibilidade de que as percepgbesestticas da lirica primitiva foram excluidas da Miada, tao conscient e completamente, quanto o humor indecente. (Dover. 1957, p23) Por isso, mesmo que se possa obter um quaulro do /iomem ou mundo hhomeérico, ndo seria legitimo tomar a representacdo de um poeta (ou de lum género poético) como a finica existente ou possivel em sua época Em virtude da escassez de documentacao para esse periodo da histéria grega, os poomas homéricos, assim como os liticos, foram usados ndo apenas como cescemuhos da hist6ria cultural e intelectual, ‘mas praticamente como fontes Gnicas onde se imaginava encontrar, de forma imediata, um retrato Hel das sociedades em que seus autores viviam. & problemético buscar estabelecer, como o fez Snel (1961), uma relagio entre poesia e sociedade quando as evidénclas para ambas $40 tiradas da mesma fonce (ef. Fowler, 1987, p.7) Esse €justamente um dos problemas que Vernant, por meio de sua antropologta histérica, proc rou remediate, Em palesira sobre os seus mestres e a sua pesquisa, vernant (l Vernant & Schiavone, 1989-1991, p.20) dizia dever muito a L, Gemmety I. Meyerson, que teriam aberto o caminho para os estudos da “hist ns evans = © soda histra ohame no cient" ox ct). Masala Putin no nkiodo cule eran & Schiavone, 98-91 Ps tn dorian ca Bina prdvca (asin engano ew): 6. a relacde dos homens com set ee iat vntakt, 7 sinacncioeelmagnare ncnsnione era Bo Peividualidade dusamie a vida e o que eventualmente sob ch nea. Hofom anatisates por Snell & nk o ce rum am ants Sr es koma, aa, tors oir sas fama, ae pla) € pgm) Tren ean (57 coma a ¢ a razdo", Por que entao oe nao normative: “Para © mparativo € na t do espitito; ela nao anttopslogo o pensamento 0 descobiy, nem encama @ pensameno € 226 indo Vernant (p43), a Gree sect ane nto cientifico",observando “mutacoes Seyassosdocaminhoaopesanel face orc oes re No om eu ahaha sobre 0 efx Hest Hermes scl -mpre O mesmo as referentes a memStia e espaxo, mas especificos coms prem ta son ee snserva: a passagem do religioso a0 politico, ree es “igualitérias” ¢ seculares), © Seo bc co sas agai csr ar a ‘os de Snell Frankel, um quadro global. E eset io Vernant, sejam elas mentais ou socials, *mmutagées", como diz 0 prépti seguem 0 mesmo caminhc. 1 ARNILOG DESCUBESTA DO ESPITO” NA LAIKA CHEE ARCHCA bot Jao ¢ a abordagem de Frankel (1975)% sejam mmulto Embora a visio € ee periodo arcaico € consideravelmente Ee z = cae end a viam comparado o mi arm € sco, na Ot (132 $8) 1 panto uani 8 aso pol seg Jo os seus coment area de Panel so sambém mais suis, permaneccr us oa © Asc con valinaanas oale aa Cal peo ‘nuts Evans = 83, (fea), quase nos mesmos termos. Apontando para as diferencas e hhomem da tiada e o da Ovtisscia, Frenkel também aribui estrutura mais proxima & do ltico: 0 nov a0 timo uma vo homem da oxtsséia teria mais Iniclativa, comecando a fazer distinedo entre si ocorreria na iia, A. OM mundos épicoe lirieo.* © © mundo, o que nao “a Faria uma espécie dle wransigio entre os Lesky (1961, p.87, 46), ao contrétio, no acredita que a dliferenca entre os dois poemas seja tao grande, mostra que alguns dos elementos citados como indielos do “novo espirito" da Odisséa |é estavam pre sentes na liad. Por exemplo, a “nova atitude” relativ, ra responsatil dade humana, na Odisséia (1.52 88.) ¢ no fragmento 4W de Sélon, no seria nogio radicalmente diversa da que se encontra na iada quando se afirma que algo possa acorrer “além do destino” ow “fado" (ype \ron/ isan), Embora também suponha que o autor da iliada e da Qdisseia ‘do seja 0 mesmo, Lesky (196 1, p.37-44) adota com reservas a “teoria do desenvolvimento’ ‘Ao comparar os poemas, nota as seguintes dife- rencas: 1. 0 poeta da Miada serve-se de materiais e crencas mais antigas © populares do que o da aWisséia: 2 2. quanto as formas de influéncia divina, na Odisscta é mais freqitente a inspiragio, na siada, a interven io: 3, na Ouisscia, a tesponsabilidade € geralmente atribuida ora a0 hhomem. ora ao deus, e nao simultaneamente a ambos, como na Mada. Resta saber se tals divergéncias (além do vocabulirlo diferenciado e «da maior énfase dada a quesides morais na Ovtss¢ia), resultam de um rapido desenvolvimento social, das personalidades distintas de dois autores, ou da diversidade dos temas tratados. _FEERDVOE nu F A caracteristica apontada primeiramente por Piilfer (1929, p.137), Alesenvolvida por Frankel (1946), como uma das mais significantes do Periodo lirico, € que @ homem deixa de ser “0 que faz”, para ser “0 que 0 (6 ata (1984, 19-20, scan rina sue a Oss, cw Yefexo de um Aksenolvimeno soi” etd mais prexima lnc em sua ica agi pstecogia, 6 Inger BAS, 20350,21.817) praia: (16.780, 17.321, 1901 55, Yu tant como evi tvs uu Fel sage i 7.26 ri, ube na Maa, 3 sala po esky (1961, 37], paralismocntte. 6438) ec 54+ Pus 04 cons co Frankel (1946, p.131 aeons ntende “aquele que tem o dia sobre s He", ou "> que vive dia a dia.” Assim, no Fatos externos sof no apenas os : nos soffem alteragoes radicas, mas o préptio hon i dle natureza plastica, PrSprio homem, sendo oanetierts Moldado pelas ciccunstancias em que se encor eine © homem arcaico em seu campo de visto limita nisciéncia e a habili, lade dos deuses a 0 0 0 revirar nos humanes. Um poema de sim Amorgo (Ic1W) expressa bem esse enguanto 2eus tem em os a realizacdo (eos) de todas as coisas e as Aistribui como g AMEE OS homens ndo tém razao (nes) (ober como sng 0 em azo is) vive da a da realizar cada vob Hala sabendo a tespeio de com Zeus ssociado 29 20 tema da efemeridade fuman li lade humana, a ~exaltacao. do Presente™ (lo hie ee rum, Iitica preva erage 7%) € aPontada como um trago fundamental da # ere8a arcalca, Embora essa catateristica seja atibul el (08 625) Inicalmen attibutia por Snell como um todo: 4 lirica coral, ele parece estendé-la 20 como digno objeto poi eee eee fone se eee Pelee, As laganhas do passado jé nao se o te si © que fazer entéo dag as hists las narrativas histéricas encontradas entre os poemas elegiaco: *BIACOS € |Ambicos, consid Mo temo epoditos da mesna eps (Dore sock ane ae a (Dover, 69 Nas gt conte a a 17-40) Lay pa dade Wt conkceg nt2 © "Tandoor dina seg, lnc a homen a po ae ccean eer cnn sinoidt alta ea gen ba Ine Ppa Pee eto, cor nde palcsseal aie finde angio un pe i ee, semdo host com aga log see ant alse aman aa prdprios,cientes surgit um novo mundo nos primeires 6 imterpretada num mac além do “eu” Itico onsiderauos depoimentos pe nunhos para se reconst a vida e a personalidad fembora. empre © primelto poeta que ra, a despoja de toda grandeza Arguiloco teria si ia, ao uatar dag rcenatio, conhecendo a dura realidade do campo de linguagem da por ter sido um batalha (ne 90- 1 Austins ces ‘com o advento da lirica literéria na Grécia arcaica, os servenrthe no $6 anguilood segue ebjetivos pessoais, 08 seus ver a agho, pois € evklentemente também um fomem avo pata expressr os seus sentimentos, para proclamar a misélae inseguranca da vida humana. (0£ 91) Para Grifith (1983, p.39), nada é mais estranho & poesia arcaica do A lirica grega nao é um aque essa chamada “expressdo de sentimentos" lake a ea aca mene neo pods, pode ye ese was” no apenas um Ai poesia de Ago, mas pr Pa iu} lta 9 pelo de Wor sr espontinc de seiimente pet iv 82° igi de (ri id (1800 4 iia oth 32 i esi 0a » comocemglode que Johnson (1982, p.50), a descrigao ou deliberado acerca da realidade das palxOes internas, sua natureza e significado. Mas até essa detinigao nsatistatSria, pois se a desctigao de “dares e esperangas do individuor tem sido considerada um trago genético da lirica que figura de mod secundario na épica (Fowler, 187, p.6-7), basta folhear uma antoto, deli a ty lirica arcaica para perceber que um grande niimezo desses poemas Se uma caraterfstica,fiegdente na lira “propriamente dita” & o discurso na primeira pessoa do singular que versa sobre opinides ¢ Sentimentos de uma personagem canhecida, ou do “eu” litco, nai lito consideré-la um “desenvolvimento” do rr mento” do nove period, pois j4 teria existido na Iria pré-lterdria.” 0 fato de muitos definitem a lirica greea arcaica por exclusio ~ simplesmente como toda poesia que nao & épica nem dramitica - é um indicio das dificuldades encontradas ao se tentar estabelecertragos comuns a obras tao diversas em conteiido, watamento e modo de pe (ef. Foviler, 1987, p.105n.1) Também € improvavel que, na época em que foram composto alguns poemas marciais de Arquiloco nao tivessem uma “uncao social” compardvel a dos versos de Calino e Ticteu Frqufloco) experimentou de um mods nove profundo a nova realidad da Vida, Po isso, os seus cans de guerra jéndo servem, como em calino ¢ Tinteu, para animar os guerrero: jd no so metas arengas em verso, uma ajuda para o circ verrado dos combatentes, mas afastam-se dessa Tang seal Come nox es canis purrs ese poema (70 salle ag de toda a referéncia praca, tora-se porador dos sentimentos pessoas. (oe 96) Esse julgamento de Snell soa contraditério em vista de seu teconhe cimento de que os poetas arcaicos nao compunham, como os moderns mondlogos solitérios (ME 111). Tanto a litica prélterdria, quanto a atcaica, sempre ditigilas a1uma segunda pessoa ou a um grupo, jamais foram (ou fingiram ser) um “discurso para si" (Selbsegesprich),” Isso € algo que s6 ocorre muito mais tare over 1964, p201, inngan (1978) abr 1980 480-12] lah 1985 fs @ Hagmento TO Fh a ins UL por sal pam fastando-se do modelo da retstica cléssica que se ocupa das qui Wes de gnero, convengées, audiéncia, ocasiio de pe ee, Inter postices (Aristdteles Rh. 1.3. ~ 1358a), Snell confere um peso maior & “biografla” io autor ao interpretar os poemas. Em dett mento do estudo das tradigdes © convencdes poéticas, centrou-se ni ura do poe as sendo avaliaias segundo sua “expressividade e intensidade de emocées, parte de um projeto maior Pando continuidad Por meio da andlise de ués poetas liticos (Argu ‘Anacreonte), Snell (2E cap.4) delineta “o surgimento da individuo’ no period arcaico Entre os comentarios des poemas de Arquloco,o primeito é exemplo tuiste (mas instrutivo) dos enganos a que se esta sujeito na interpretacio dos fragmentos. Demonstra também por que € artiscado servirse deles uma hist6tia do espirito: Snel (0 84-5) leu para a elaboragéo serlamente o fragmento 25W como um “desenvolvimento” de passagens hhométicas (14.228 e Od. 4.548), cheeando o poeta lirico ao reconhe cimento de que “0s homens reagem de modo divers idéia essa que, “na Mada, nao se encontra ainda, pelo menos com tal claridade™. A publ cacao do Papire Qairrinco 2310 (Ui. 1 col. 1 40-8) em 1955 revelou que vversos pertenciam a uma sétira erdtica (Jambo), talvez com referéncia & rasta, A.seguit os Fragmentos 151-2 de Argufloco so comparados a outra passagem épica (Od, 18.136), Embora a dependéncia ou referéncia Arguiloco a Homero sea por si $6 questionavel,e 0 préprio Snell (0 8 afitme ndo haver nada de novo no wma tratado, ele julga, de forma aparentemente arbitratia, que nesses versos o poeta ltico atinge uma 58 + ean ot cone conn percepedo mais aguda de si em sua particularilade, o yt realmente novo" no munilo grego. For fim, supor que a divisio (segundo Snell, “inexistente em Ho mero’ ") entre valores Intetnos ¢ externas acorra pela primeira vez no Perfodo liieo, maniestamente no fragmento 1 14W de Arquiloco, e ainda que o f:SW represente um atayue A moralidade “tradicional” (leia-se homérica” Né 88-90), s4o problemas que discutiremos nos camencatios esses poemas (Parte 1.2.c) “Com um escudo’ ¢ (Parte 13) “Dois enerals: o grande e 0 eambai Houve, evidentemente, mudangas na Grécia ant hist6ria do Espirito" de Homero a Platao nao perfodos claramente demarcadas, com verdadeitas rupturas entie os momentos da histéria greva (Cf, Seel, 1955. Um problema nas leituras de Snell, entre out iceber a historia literdvia grea como uma sucesso cronolégica dk lesenvolveram como resultado e expresso ce uma uagdo histérica” (Pe 81), nao existindo simultaneamente como hoje. Alm das dificuldades en vidas ao se conceber cada género como produto de um novo espirito épica sendo “suplantada” pela Ivica e esta pelo drama), ha nesse contexto complicacées cronolsgicas, Nao 36 a distancia entre Hometo ¢ Anguiloco € insuficiente para tansformagoes tao drasticas, mas a pré ria anterioridade de Hometo com relagio a Hesiodo € ainda ques tionada, tualmente, os estudos de métrica indo-européia tem revelado que Formalmente, os poemas de Sald e Alceu so mais tradicionais que os de Homero e as demais estruturas jnicas.*! Se a lirica monéiica de Salo 60, porém, como se explicaa falta de registro ou meméria dos ufloco, autores de uma lirica pré-literdria “pes além dos carmina popularfa andnimos, cantigas a cocasides definidas (cangdes de trabalho, hinos poetasimiisicos de que temos noticia, Museu. conhecidos apenas por hinos ¢ po ligiosos? Fowler (19 sugere que os outros nomes se perderam porque, nessa época, n3o hat eserita. Isto, porém, ndo justifica a lacuna, pois esses permaneceran {ransmitilos pela tradigao oral outro lado, aIfrica yreya literdtia ndo & assim tio “pessoal” ( Parte | supra). Se considerarmos os poemas de Arquiloco, por exemplo, lalvez 0 papel de seus jambos no culto a Deméter seja subestimado, € alguns poemas, tidos como “pessoais” por expressarem “dores do individuo', sejam mais teligiosos ¢ tradicionais do que geralmente se supoe (c, Dover, 1964 e West, 1974 Para alguns, a lirica lterdsia se diferencia dos carmina popularia pot referirse a pessoas e situagies concretas, a um evento particular nao recortente, e por ter "pretensies artistas" E fato que o poeta litico areaico afitma com freqiéncia o orgulho que tem de sua técnica ¢ sabedoria (¢ékhne/sophia). Mas se alguns desses poemas surgicam assovialos a pessoas ¢ eventos especiicos, hd também os que se servem de situagdes e tipos convencionats (“stock characters aio mtn har sbi. Fase (1972p Hi lerinsa alica mons oral na nde (1472-4, 16180, 18.4 24.720: Dil 14D p- 110, abl 1965, 15) Ret (1980, p15 0.12.8 8 questo da amveriordae da Ui com flo 3 Gp, Ras os.) qua Problema ds ao de Homer no sco a. C, Wet (1966. p40 38) © Basket Incusvs pra come nota Savan (198), 3 ea teria sho apropriada pla poesia osu aC cas nseriges hexamers no lipfion cma“ de Nestor) nell (08 ica pri Uma das fontes da Irica arcaica. No entanto, a seu ‘impacto da épica homérica que possibilitaram o seu des nto para além do estégio “Tuncional”, Muitos comentadores supSem que os oemas de Homero no século Vita. jd eram semelhantes aos que temos hoje, alguns paralelos entre 0s litcos e a Ecomum acreditar que Aryutloco obteve seu material de to einterpretou, dando-Ihe, deliberadamente, im novo sentido ( 1987, p.8-9) muitos consideram Arquiloco o “funklador da irc (Pednkel, 1975, p. ande e primeiro confontador d Homero, que ele ataca em co polémica (Lesky, 1998, p.133 ‘Mas ¢ dificil avaliara influéncia de Homero sobre 9s liticos arcaicos, Pols no sabemos até que ponto a fliale € a Adis. conheciam assemelhavam-se aos texios que nos chegatam, We b adverte:“poderia haver mats de uma difzia de riadlas" nessa época De outro modo, se formas de lirica e épica coexistiram no periodo pré literério. uma nao teria softido 0 “impacto” da outta, Arquiloco Homero também nao seriam“Tundadores" de génetos distintos,estariam Jonge de seus primérdios (Réslet, 1980, p.2). Porque os dois pertenciam {4 mesma tradicao poética, no é possivel saber se 0 que yeralmente & considerado parédia, empréstimo, ou influéncia de Hometo em Argui loco (e em outros, particularmente nas elegtacos) néo resllta apenas do recurso de ambos ao mesmo arsenal de férmulas, express6es e "lugares ‘comuns” da tadigao jOnica que encontramos também nos poemas do cto épico, weogonias, ordculos etc.” Quanto &ideologia, veremos que. fem Arquiloco, © que se rowwla como “anti-homeético” pode ser apenas -anticherdico Os géneros nao sdo estticos. 0 jambo, por exemplo, entre outras formas, deve ter perdido pouco a pouco seus elementos tituais. A dil m grande ni s deste século (edo passado) concentrou seus esforgos em lar" do pensamento eda altura grega desde suas “origens” (isto 6, Homero) até seu ponto mais alto que, segundo a matoria, fol 0 perfodo elassico (s6eulo V a. Mas esse apogeu também ja Fol situ orescimento da fMlosofla nos séculos 1-1 a, C. ou, ainda, vinculado ac surgimento d 1 religido grega assoclada ds primitivas, em posigdo aos sistemas monotefsias.* 0 que se faz é eleger, em termos estéticos e/ou morais, uma época mais recente como parametto para as nteriores, como se a ditima fosse melhor, mais “perfita nico: "8 luz da biologia, sua ciéncia predileta, AtistGteles mantinha que aa espécle tinha sua natureza prépria, para a qual todo seu desen- olvimento era direcionado; assim, na sua Paética, 0 Edipo Ret era 0 rama ideal e Esquilo um poeta imperteito que se estorgava em busca da perfeicdo de Séfocles” (Lloyd-Jones, 1964, p.372: f. 1983, p.189). Mas 0 teatro de Esquilo tem forma e princtpios préprios, segundo os quais d conse a telagio entre consciénca, reflexdo, ¢ agdo na Grécia antiga, Snell (1950a, p.141) concluiu que o homemt homérivo ndo tinha consciéncia de suas agdes; sendlo incapaz. de uma verdadeira reflexdo e atribuindo todo impulso e sua reallzacdo a forgas externas. Se, por um lado, ele afitma que “o pensamento europeu comeca com os gregos", a épica e a religito homérica constituindo o “primeito projeto da estrutura spiritual que os gregos introduziram”, por outto, ele isola 0 homem homético como primitivo e fundamentalmente diverso do arcaico ou do classico em termos de percepedo, moral ¢ qualidades intelectuais: 0 afirmar a inexisténcia da “vonsciéncia moral” na Grécia antiga." Is ntre os gregos uma “moralidade individual” (i ajo desenvolvimento ¢ assoviado ao cristianismo, mas uma “moral. Jade & jue & a “culpa ou responsabilidade de pela moralidad penas Hometo (como em Snell), seria o mundi schone Siteichkei) cacente do “princfpio da interioridade ip der nnerlichkeit) ¢ da “eigncia da subjetividadk Subjecivicae) (Hegel, F ‘Assim também, Zucker havia concluldo, em sua tese sobre Syneiesis ~ Conscientia (1928), pela inexisténcia de uma nosao precisa de cons cigncia (Gewissen) no mundo antigo. Haveria, no petiodo sof representacdo da boa e da ma vonscidncia do sujeito acerca de seus at © que envolvia uma discussdo sobre voluntariedadefinvoluntariedade e responsabilidade do agente. Mas faltaria a Sécrates, ou a Platao, uma consciéncia moral, sendo AristSteles (EW 11 1018-11113, 1140b 24, 1150b29sg) 0 que mais se teria aproximado desse conceito desen: volvido mais tarde por estsicos v epicuristas (Zu Divergindo da tese hegeliana, Snell (1930a e b). Nestle (1953), entee outtos, apontaram para a presenca de uma cons moral em diversos momentos da hist6ria grega antiga, Mas o que Snell entende por consciéncia e por que a exclu de Hom mo na maloria di Snell parte da equivalencia sis ¢ ia, examinand ambém as formas verbais gine in e, principalmen alocucaa haut. Essas nell (1950b, p.26), nem nai hee iL) Embora constate a ocorrencia da locugdo “syneiténad heautét” em Safo ({h26LP)," Snell ndo admite haver nem nessa passagem nem em toda alitica uma consciéneia propriamente dita Isso porque, a seu sujeito na lirica pode ter um estado (Lage) como objeto da consciénci mas nfo um ato (Zr). No entanio, ele considera essa “consciéncia lirica a “reflexdo sobre o estado prdprio") como um desenvolvimento sink ficativo que prepara o caminho rumo a consciéncia da aco ps uma agdo propria do sujeto, Na tragédia, as Erinias de Orestes 1 prdp ik wgéia, a epte préprio", o que implica uma espécie de divisdo do “eu que (re)conh 10 compatvel & vor. média do sistema verbal. Mas esses rém, nessas passagens, tl “Teflexaio", como em Arist6t Em estudo sobre 0 conceito ue conscigncia (Gewissen) ent 0s, Seel (1953), ao contrdsio de Snell e Frankel, apontava pa existéncia, jd em Homero, de uma forma de consciéncia de si e da separacio do eu/mundo. A seu ver, a simples frase na primelta pessoa (Seel, 1955, p.294, 505), Quanto a "consciéncia de si", ele segue Snell julganclo haver na lo eu velo x") expressa por si essa distingdo entte o sujeito © 0 mundo mim mesmo") uma forma de vonsciéncia reflexiva na qual o “eu em clara diviséo e estratiticacao, é, ao mesmo tempo, sujelto e objeto da declaragéo". Mas, de outro modo, Seel (p.302, 312) indica pe hhométicas (0d, 3.26. 47) na quais eré encontrar essa nogio d Feflexividade em searw nascent, ¢ cita a fragmento de Sato (It261P) xpressdo da consciénvia de sl. 85 Soe 1980b,p2s)-0r. 6986 e gphueeRdeyns ria" éadhavaw ion textos drameticos e retricos do século v a. C. e mais rara no perfoda helenistico (Canctini, 1970, p.17). rrp" elation lta ekcmente uaa) om sg » Canal 97H, p01) resume «somes cm Jane Cugomens soe o bem a ser Sa 90 De spe: 49. Qe det. {46 29) 0 24, dd mnie pra ier (4 Uma “consciéncia moral" em Filon de Alexandria," na prim nome rellexivo (syneidénad heauedi) 6, pelo conteario, comum Esse trabalho de Canctini (1970) tem o mé mai i eabrangente no exame das ocorrénciasd his, r exemplo, 0 emprego de syneidénai (sem o pronome rellexivo) como a ‘éncia particular ( privada) da Dike lon (r4.15W), n ontexto de um julgamento moral acerca de agus alheias. Sao também studadas passayens em que synciléna’ + um dativo (que ndo seja 0 pronome reflexive) significa “compautilhar um saber que concerne a um outro", o que pode ou ndo envolver uma avallagao ética (Canctini, 1970, p.45-9). Dai a possibilidade fotes.serem “conspiradores' (Tucfides 1.20), ou servirem como testemunhas, pois compartitha ‘Quanto ao emprego do verbo com o ellexivo 4) discorda de que a construcdo i como afirmam Snell ¢ outros, uma “

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