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Faculdade de Ciências

Departamento de Matemática e Informática


10 Teste de Equações Diferenciais com Derivadas Parciais
2a Chamada. Guião de Correcção

Duração: 2 horas 12.06.2013

1. a) (2 valores) Determine o tipo da equação y 2 uxx + uyy + y 2 uzz = 2uxz , (x, y, z) ∈ R3 .


b) (1 valor) Apresente a forma canónica desta equação no ponto com coordenadas (5, −2, 0).
Resolução: a) A matriz simétrica A da equação tem a forma
 
y 2 0 −1
A =  0 1 0 .
−1 0 y 2

O polinómio característico de A é
2
y −λ 0 −1

det(A − λI) = 0 1−λ 0 = (y 2 − λ)2 (1 − λ) − (1 − λ) =

−1 0 y2 − λ
(1 − λ)((y 2 − λ)2 − 1) = (1 − λ)(y 2 − λ + 1)(y 2 − λ − 1).

Os autovalores da matriz A são zeros deste polinómio: λ1 = 1, λ2 = y 2 + 1 e λ3 = y 2 − 1. É


claro que λ1 > 0 e λ2 > 0 qualquer que seja (x, y, z) ∈ R3 . Mais ainda,

λ3 = 0 ⇔ y 2 = 1, λ3 > 0 ⇔ y 2 > 1, λ3 < 0 ⇔ y 2 < 1.

Conclusão:
Se y = ±1, então, a equação tem o tipo (2, 0, 1), logo, é equação parabólica.
Se |y| < 1, então, a equação tem o tipo (2, 1, 0), logo, é equação hiperbólica.
Se |y| > 1, então, a equação tem o tipo (3, 0, 0), logo, é equação elíptica.
b) No ponto (5, −2, 0) temos |y| > 1, então, a equação tem o tipo elíptico. Pela teoria, a forma
canónica é vξξ + vηη + vζζ + F (ξ, η, ζ, v, vξ , vη , vζ ) = 0.
2. a) (2 valores) Resolva a equação yuxy + 2ux = 0 (x > 1, y > 0).
b) (3 valores) Ache a solução desta equação satisfazendo as condições iniciais
u|x=2y+1 = cos y , ux |x=2y+1 = 12.
Resolução: a) Dividindo a equação por y obtemos a sua forma canónica uxy + 2uyx = 0. Fazendo
a troca w = ux , obtemos a equação wy + 2w
y
= 0. Resolvemos esta equação:

∂w 2w ∂w ∂y C(x)
=− ⇒ = −2 ⇒ ln |w| = −2 ln |y| + ln C(x) ⇒ w= .
∂y y w y y2

Integrando a expressão ux = C(x)


y2
pela variável x, obtemos a solução geral da equação dada:

φ(x)
u(x, y) = + ψ(y). (1)
y2

1
φ′ (x)
b) Usando (1), a igualdade ux = y2
e as condições iniciais, obtemos o sistema
{
φ(2y+1)
y2
+ ψ(y) = cos y
φ′ (2y+1)
y2
= 12

Resolvemos a segunda equação do sistema em relação a φ(2y + 1), e em seguida, do resultado


obtido e da primeira equação do sistema encontremos ψ(y):

φ′ (2y + 1) = 12y 2 ⇒ 12 φ(2y + 1) = 4y 3 + C ⇒ φ(2y + 1) = 8y 3 + 2C;


3
ψ(y) = cos y − φ(2y+1)
y2
= cos y − 8y y+2C
2 = cos y − 8y − 2C
y2
.

Fazendo
( x−1 )3
a troca de variáveis 2y + 1 por x na expressão φ(2y + 1) = 8y 3 + 2C obtemos φ(x) =
8 2 + 2C = (x − 1)3 + 2C . Substituindo as expressões obtidas de φ(x) e de ψ(y) para (1)
obtemos
(x − 1)3 + 2C 2C (x − 1)3
u(x, y) = 2
+ cos y − 8y − 2 ⇒ u(x, y) = − 8y + cos y.
y y y2

3. (2 valores) Consideremos o problema das vibrações transversais pequenas de uma corda ho-
mogénea −∞ < x < ∞ com densidade linear 4 e tensão 16, se no tempo inicial a corda está
na posição de equilíbrio rectilínea e neste tempo ao segmento [1, 2] actua o impulso, tal que a
corda começa o seu movimento com velocidade inicial 8 neste segmento o 0 fora deste segmento.
Determine o tempo t∗ a partir de que o ponto x = 8 da corda começa movimento.
Resolução: O modelo matemático é problema de Cauchy para equação de onda unidimensional:
{
utt = a2 uxx , x ∈ R, t > 0
u|t=0 = φ(x), ut |t=0 = ψ(x),

onde a2 = Tρ = 164 = 4 e ψ(x) = 8χ[1,2] (x).


A solução deste problema determina-se da fórmula de D'alambert
∫ ∫
φ(x − at) + φ(x + at) 1 x+at
1 x+2t
u(x, t) = + ψ(ξ) dξ = 8χ[1,2] (x) dξ,
2 2a x−at 4 x−2t

tal que no ponto x = 4 temos


∫ 8+2t
u(8, t) = 2 χ[1,2] (ξ) dξ = 2µ ([8 − 2t, 8 + 2t] ∩ [1, 2])
8−2t

onde µ é medida de Lebesgue em R. Portanto,


t∗ = inf{t ∈ [0, ∞[ : u(8, t) ̸= 0} = inf{t ∈ [0, ∞[ : µ ([8 − 2t, 8 + 2t] ∩ [1, 2]) ̸= 0} =
= inf{t ∈ [0, ∞[: [8 − 2t, 8 + 2t] ∩ [1, 2] ̸= ∅} = inf{t ∈ [0, ∞[ : 8 − 2t < 2}.

Resolvendo a equação 8 − 2t = 2 obtemos t∗ = 3.


4. Considere-se o problema determinar as oscilações transversais de uma membrana homogénea
quadrada 0 < x < 1, 0 < y < 1, se nos todos dos seus 4 lados a membrana é xa elasticamente,
sendo que os coecientes de elasticidade, a tensão e a densidade supercial da membrana são
iguais a 3.

2
a) (0.5 valores) Escreva a denominação do modelo matemático para o problema físico dado,
na forma: o modelo matemático é problema [de Cauchy, ou misto, ou de contorno]
para equação [hiperbólica, ou parabólica, ou elíptica] (escolhendo das alterna-
tivas [...] as frases que correspondem ao modelo).
b) (2.5 valores) Apresente o modelo matemático para problema físico dado.

Resolução:a) O modelo matemático é problema misto para equação hiperbólica.


b) O modelo matemático do problema físico dado é:

 u(tt = a2 ∆u
) = − f (x,y,t)
T
,( 0 < x )
< 1, 0 < y <( 1 ) ( ∂u )
∂u
+ hu = 0, ∂u
+ hu = 0, ∂u
+ hu = 0, + hu y=1 = 0,
 ∂n x=0 ∂n x=1 ∂n y=0 ∂n
u|t=0 = φ(x, y), ut |t=0 = ψ(x, y).

onde a2 == Tρ , h = Tk onde T é tensão, ρ é densidade supercial, k é coeciente da xação


elástica nos lados do quadrado, f é densidade supercial das forças externas, φ é deslocamento
inicial e ψ é velocidade inicial dos pontos da membrana. Para concretizar a colocação vamos
usar as seguintes observações:
1. T = ρ = h = 3, logo a2 = Tρ = 1 e h = 123 = 4. Mais ainda, f ≡ 0 e φ, ψ são arbitrárias.
2. A expressão ∆u em coordenadas cartesianas de R2 é ∆u = uxx + uyy .

∂u

∂u

∂u

∂u
3. Temos ∂n x=0
= −ux |x=0 , ∂n x=1
= ux |x=1 , ∂n y=0
= −uy |y=0 e ∂n y=1
= uy |y=1 .
Então, obtemos o seguinte modelo:

 utt = uxx + uyy , 0 < x < 1, 0 < y < 1
(ux − u)|x=0 = 0, (ux + u)|x=1 = 0, (uy − u)|y=0 = 0, (ux + u)|y=1 = 0

u|t=0 = φ(x, y), ut |t=0 = ψ(x, y).

onde φ é ψ são deslocamento e velocidade inicial, respectivamente.


5. Considere-se o problema determinar a distribuição estacionária da temperatura dentro dum
cilindro homogéneo 0 ≤ r < R, 0 ≤ φ < 2π , 0 < z < h em presença no interior do cilindro das
fontes quentes distribuídas de potência z(h − z)(R2 − r2 ), se nas bases do cilindro se conserva
a temperatura nula e na superfície lateral o cilindro é termoisolado.
a) (0.5 valores) Escreva a denominação do modelo matemático para o problema físico dado,
na forma: o modelo matemático é problema [de Cauchy, ou misto, ou de contorno]
para equação [hiperbólica, ou parabólica, ou elíptica] (escolhendo das alterna-
tivas [...] as frases que correspondem ao modelo).
b) (2.5 valores) Apresente o modelo matemático para problema físico dado.
Resolução: a) O modelo matemático é problema de contorno para equação elíptica.
b) O problema dado é estacionário para o cilindro 0 ≤ r < R, 0 ≤ φ < 2π , 0 < z < h, tal que
a temperatura é u = u(r, φ, z) (onde (r, φ, z) são coordenadas cilíndricas dos pontos de R2 , e u
não depende do tempo t). O modelo matemático do problema físico dado é:

 ∆u = − f (r,z,φ)
k
, 0 ≤ r < R, 0 ≤ φ < 2π, 0 < z < h
u| = 0, u|z=h = 0
 z=0 ∂u
|u|r=0 | < ∞, ∂n r=R
= 0.

onde k é coeciente de condutividade térmica.

3
Para concretizar a colocação vamos usar as seguintes observações:
1. f (r, z, φ) = z(h − z)(R2 − r2 ).
2. f não depende de φ, e todas as outras condições não dependem de φ. Então temos a simetria
de distribuição da temperatura em relação ao eixo r = 0 do cilindro, e de facto u = u(r, z) (não
depende de φ).
3. (A expressão
) ∆u em coordenadas polares, e usando que u não depende de φ é ∆u =
1 ∂
r ∂r + uzz .
∂u
r ∂r

∂u
4. Temos ∂n r=R
= ur |r=R .
Então, obtemos o seguinte modelo:
 ) (
 1 ∂
r ∂u
r ∂r
∂r
+ uzz = − k1 z(h − z)(R2 − r2 ), 0 ≤ r < R, 0 < z < h
u|z=0 = 0, u|z=h = 0

|u|r=0 | < ∞, ur |r=R = 0.
onde k é coeciente de condutividade térmica.
6. Considera-se o problema de Sturm-Liouville:
{
X ′′ + 5X + λX = 0, 0 < x < π
X ′ (0) = 0, X(π) = 0
a) (2 valores) Resolva o problema de Sturm-Liouville dado.
b) (2 valores) Desenvolva a função f (x) ≡ − π4 em série de Fourier pelo sistema das auto-
funções do problema de Sturm-Liouville dado.
Resolução: a) Fazendo troca das variáveis µ = λ + 5 reduzimos o problema dado para o
problema {
X ′′ + µX = 0, 0 < x < π
(2)
X ′ (0) = 0, X(π) = 0
Pelas propriedades do problema de Sturm-Liouville (2) todos os autovalores são positivos.

Resolvemos a equação do problema (2). A equação característica tem raízes p = ±i µ. Então,
√ √
a solução geral é X(x) = C1 cos µx + C2 sen µx.

Usando( as condições de fronteira obtemos X ′ (0) = C2 µ = 0, logo, C2 = 0, e X(π) =
√ )
C1 cos π µ = 0.
( )2
√π(2n − 1) 2n − 1 (2n − 1)x
π µ= ⇒ µn = , n∈N ⇒ Xn (x) = cos .
2 2 2
Então, os autovalores λn e auto-funções Xn do problema dado são
( )2
2n − 1 (2n − 1)x
λn = − 5, Xn (x) = cos , n = 1, 2, . . .
2 2
∑∞
b) − π4 = n=1 cn Xn (x) onde
π
( ) ∫π( )
− π4 , Xn − π4 cos (2n−1)x dx − π4 · 2
2n−1
sen (2n−1)x
2 dx π
(−1)n (−1)n
= 1 ∫π
2(2n−1)
cn = = 0
∫π 2 0
= = .
∥Xn ∥2 (2n−1)x
cos2 2 dx 2 0
(1 + cos(2n−1)x) dx π
2
2n − 1
0

Prof. Doutor Yury Nepómnyashchikh

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