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ESTAGIO COMO REFERENCIA PARA O REDIMENSIONAMENTO DOS CURSOS DE LICENCIATURA - O CURSO DE PEDAGOGIA Alba Regina Battisti de Souza; Lourival José Martins Filho Muitos caminhos ja foram percorridos ao longo de nossa traje- toria como docentes orientadores de Estagio Supervisionado - e nesse caminhar, repleto de indagagées e aprendizados, nos inspiramos no pensamento de Freire (2005, p. 58): “A gente se faz educador, a gente se forma como educador, permanentemente, na pratica e na reflexdo sobre a pratica”. A partir desta perspectiva reflexiva e dindmica preten- demos contribuir com algumas discussdes e experiéncias sobre o papel do estagio como uma possivel referéncia para avaliar, acompanhar e até mesmo redimensionar os Cursos de Licenciatura e sua articulagao com a Educagao Basica. Na primeira parte do texto apresentamos alguns principios orien- tadores do nosso trabalho com o estagio nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental do Curso de Pedagogia, do Centro de Ciéncias Humanas e da Educacio (FAED/UDESC) e na sequéncia destacamos algumas as6es integradas de ensino, pesquisa e extensao. 115 XOES SOBEE Ee" ‘ADO RELATOS B REPLE DE ONDE PARTIMOS: ORIENTAGOES E PROPOsr7 9. ara Pimenta (1995) nao se configura numa di Jade articuladora do curso de Licenciatura, ™obj. lizadora da relagao teoria € pratica some vet efetivada Por Meio da docéncia. Nesse proceso de articulagao entre teoria e Pratica, enten demos, tal como afirma Tardif (2004) que a pratica nao é somente um lugar de aplicagao de saberes produzidos por outros, mas um epacn de produgao, de transformagao e de mobilizagao de saberes Préprios, no qual os professores sendo sujeitos destes conhecimentos, Possuem e desenvolvem saberes especificos ao seu oficio cotidiano, 6.1 O estagio P Scipling, mas como uma ativid Assim, a escola se configura como um lugar repleto de possibilida- des, no qual temos que adentrar com olhar atento e critico, mas acom- panhado de uma relacao ética e cimplice. Nele os futuros docentes se deparam com intimeras situag6es que, embora paregam fragmentadas e difusas, possuem um grande valor na formagao inicial em fungao da possibilidade de elaborarem um repertério, mesmo que inicial, de sabe- Tes inerentes ao contexto de atuacao profissional. Além de compreender e se comprometer com o projeto peda- gogico do Curso de Licenciatura ao qual esta vinculado, entendemos. ser tao necessdrio quanto, que os professores de estagio reconhecam as necessidades e expectativas das instituigdes escolares envolvidas, por meio de suas propostas pedagégicas, orientacdes curriculares e politics do sistema ao qual estado associadas. Os desafios da escola na atuali- dade também sao de responsabilidade das agéncias formadoras, ae forma um dos primeiros momentos do nosso estagio consiste eM ce laos, cumplicidade com a escola e docentes, para que, em nae Possamos identificar tematicas e ¢ 0 contexto da institui Nosso intuito nao é a: onstruir problematizagoes beta igdoe da aprendizagem das criangas. Dest fore cas, mas si nalisar, julgar ou descrever as praticas Pe num sim Nos envolver no movimento da escola, da sala d nas proce tado num olhar investigativo, crite " comprometido, P $80 formativo pau também Propositivo e G10 COMO REFERENCIA PARA REDIMENSIONAMENTO DOS CURSOS I 08 CURSOS DF LICENCIATURA Neste sentido, a nossa pratica se organiza a partir de alguns pres supostos da pesquisa-agao critica!, (KINCHELOE, 1997), pois para além da descriga0 ou compreensao de um determinado contexto, ha 9 compromisso primordial com a transformagao. Defendemos como Thiollent (2013) que a compreensao da situacao, a selec dos proble- mas, a busca de solugoes internas, a aprendizagem dos participantes e todas as caracteristicas qualitativas da pesquisa-a¢ao nao fogem ao to cientifico. O qualitativo e o didlogo nao sao anticientificos. espirit cedimento de processamento de dados Reduzir a Ciéncia a um pro quantificados corresponde a um ponto de vista criticado e ultrapas sado. E oportuna a reflexdo de Franco (2005, p. 496) sobre a pesquisa -acdo e sua concomitancia entre pesquisa e a¢ao “considerando-se até que deveria ser expressa em forma de dupla flecha, ao invés de hifen: pesquisa/a¢ao, de modo a caracterizar a concomitancia, a intercomu- nicagdo ea interfecundidade”. Quanto a relacao pedagégica, nos pautamos no didlogo e compro- misso, no qual todos se manifestam e escutam as sugestdes, orientacoes e encaminhamentos. Se pretendemos formar professores sensiveis autonénomos, destinar espa¢os para avaliagées das atividades realiza- das na universidade € nas escolas, deve ser uma pratica continua no estagio. Freire (1993) afirma que © didlogo entre professor € alunos nao os torna iguais, mas cria uma relagao democratica, denominada de rela- cao dialdgica, ou seja, nao significa destituir 0 professor de sua autori- tornar a “sala de aula” um dade e responsabilidade pedagégica, mas sim s ; lugar aberto a curiosidade e participagao- Dessa maneira, 0 respeito, a disciplina ea responsabilidade podem ser tratados de forma coletiva na qual todos possuem um papel importante na condugao das atividades € no cumprimento dos compromissos. rem nos anos inichaus do Ensino ue as interagoes pedagogicas ) reconhecimento da ssores para atual nsiderar 4! iangas. Assim, ¢ Ao formar profe Fundamental, temos que © Se do primordialmente com cri eferéncia para nossas agoes ‘onfigurando como ; : go comer Destacamos alguns principios da pesquist aga NAPE - nio se ¢ de ensino, pesquisa € extensae vinculadas 80 uma tinica orientacao metodoldgica 7 Seneca ) de infancia na sua plenitude é fundame 5 seu tempe crianga ¢ do se a Sarmento (2002) embora sua forma de ser, a, ntal, a i gir e os adultos, nao pode ser vista como um ser inac,. a partir da concep¢ao de “infancia” a a do tipo geracional reconhecida cn de e particularidade, considerand, ‘) classe social, etnia, género, religiao © espago geografco, da constituigao de diferentes infancias; enfim, mo sujeitos plurais que concebidas como produtoras de cultura. pois, come nos ensit diferencie di m déficit, sim, i construgao social e como categorl sua heterogeneidade, subjetivida pensar se bado ou en fatores com como determinantes as reconhecidas Co as criang: “atores” socials também sao jo dotadas de capacidades, de potencialidades interagem através de diferentes formas de comunicacao e expressio, que podemos denominar de “miultiplas linguagens”, por meio das quais elaboram e se apropriam de diversos conhecimentos e expe- riencias. Os professores podem obter mais éxito na comunicacao e interagao com as criangas quando se valem de brincadeiras, jogos teatrais, contacées de histérias, expressoes plasticas e corporais, dentre outras possibilidades. Para Sarmento (2002) brincar é proprio do ser humano, e, portanto nao é exclusividade da crianca, a diferenca esta na intensidade, enquanto 0 adulto separa bem o écio do trabalho, o brincar do fazer “coisas sérias”, as criangas nao fazem essa distingdo com tanta dicotomia, sendo o brincar uma das formas de interpreta" e lidar com o mundo. As criancas S Nossa perspectiva de cure iceala Sea cr titutivos e construto} “det x tes han cnc mpeg cultura propria. ne ee humanas, impregnado® oi vlaca es jPe. Segundo Forquin (1993) existe uma intima ¢ mae ; ‘agao e cultura, curriculo estabelecido, Reconhece identidades, ; » 0 ae * $ universos simbélicos e imagindrios também s¢ cons a tee ares. Dessa forma as areas de cones lo escolar passam a ser uma refer?" prendizagem. tit é Se em referéncias curricul ‘ ae que integram © curricul tocultural no Processo de aj 11g Pemereete Nee NT ENN AMENTO DOS CURSOS DE LICENCIATURA A apropriagao da cultura no ambiente escolar, cultura tanto mate rial como intelectual, Perpassa pela mediagao qualificada do fess ; Este profissional ira selecionar, organizar, sistematizar e : Hee a contetidos a serem explorados nos ambientes escolares a nee demos ser fundamental abordar os contetidos de forma problematiza- dora, criando situagées nas quais a crianga se sinta instigada a elaborar hipoteses e buscar respostas. Para Gasparin (2002, p. 35) “a problema- tizacao € 0 elemento chave na transi¢do entre a pratica e a teoria, isto 6, entre o fazer cotidiano e a cultura elaborada”. Isso implica em mobi- lizar os educandos em fungao de questées “provocadoras”, num conti- nuo processo no qual os conhecimentos se tornam “ferramentas” para compreender e resolver situagGes e problemas. Ainda segundo nosso entendimento é preciso pensar a alfabeti- zacao para além de uma gama infindavel de distorgées, arbitrariedades e interpretagdes que enfatizam a técnica em detrimento de sua fun¢ao social e cultural. Isso exige que conectemos a escrita ao mundo real de quem aprende, nao separando algo que esta social e culturalmente interligado. Como descreve Vigotsky (1991, p. 133): significado para as criangas, uma necessidade intrinseca deve ser despertada nelas ea escrita deve ser incor- porada a uma tarefa necessaria e relevante para a vida. $6 entao poderemos estar certos de que se desenvolvera nao como um habito de mao e dedos, mas como uma forma nova e complexa de linguagem. A escrita deve te de forma contextualizada, numa tituiu mais um desatio de nossa ducadores vém defen- Organizar as praticas docentes Perspectiva interdisciplinar, se cons! proposta. Hé algum tempo varios estudiosos ¢ ¢ dores dendo um curriculo mais integrado, no sentido de minimizar a exces- siva fragmentacao dos contetidos ea dispersao metodologica (ZARA. 2002; SANTOME, 1998: HERNANDEZ, 1998). Assim, temos optad lo Por projetos de docéncia elaborados em torno de an e questo problematizadoras, traduzidas em agoes ea as ee as diariamente em prol do movimento € interasae Ca Sav calares . atividades realizadas e 0S compromissos pedagogicos © 119 {G10 CURRICULAR SUPERVISIONADO RELATOS F apeLEXOES SOBRE EST 5 NOssOs compromissos na formagao de a 0 papel da escola e das ings perspectiva de incluso é abrangente e ne nos curriculos € abordagens metodolégicze continuada. Os contetidos ainda a dvindos de uma cultura e ciéncia europeia ° m ritmos e formas diferentes de aprendizagem, ainda Jhor consideradas no contexto escolar. Mesmo prol destas questdes, ainda temos muito gue avangar. Santomé (1998) alerta que ha muitas vozes ausentes nos contextos educacionais, como por exemplo, etnias minoritarias ou sem poder, mundo rural, homens e mulheres idosos, pessoas com defi- ciéncias e necessidades educativas especiais, culturas jovens e infantis, pessoas pobres e excluidas, enfim, nosso curriculo ainda esta configu: rado numa perspectiva de mundo homogéneo, idealizado. 0: ra dimensao de diversidade € a Out espeito a docentes diz f cias formadoras. No: jacuna 40 inicial e constatado uma | Jusivas na forma inc entos a legiam conhecim as criangas con precisam ser mals € mel reconhecendo movimentos em 6.2. POR ONDE ECOM QUEM TEMOS CAMINHADO... Proc i 6 sy Peeseeennes oo aneee a perspectiva da pesquisa-agio, tal como académicos do curso de ae qualificar © processo formativo dos pesquisa e extensdo. As a wee eed a integracao entre ensino, des observadas no Aer € pesquisas se baseiam em necessida- campos de estagio e em a eee nos retornos avaliativos dos compromissos pertinentes nandas 7 setores da Educacao e ampliam os Aprendem¢ , os com 7 € uma pratica gnosiold; wa Hpoeemerren cue adage Peat pecagoge Progressista desafiar a : = Bor natureza, sendo o papel do educador Seana ae do educando para, com ele, partei@” en ambi > : ; meio de agdes de pes 7 o, no ambito do estagio, entendemos que P" sidade epistémica dos ie extensdo articuladas enfatizamos a CU” na Educacao Basica a agogos em formagao - futuros professores aperfeicog . iS O espiri i 150a no proprio eeineeene cientifico se constitu, cre * : Pa Para este traball extensac lho temos c NAPE - como laboratério de ensino, pesdu's* 7 Nucl ; cleo de Apoio Pedagégico da UDESC: 9 NAPEé 120 EstAGIO COMO NFERINCIA PARA O REDIMENSIONAMENTO pon URSOS DE LICENCIATURA umespago de produgao e Socializagao de estudos e ioconsiderando as relagdes entre docenen sty praticas pedagogic: S-curriculare: educativo com criangas, adole: » adultos e idosos. Atuamos em duas linhas de Pesquisa: Formagao Docente e P; e Formagao Docente € Alfabetizagao nas quais buscamos contribuir na formagao dos professores com estudos e pesquisas na Educagao Infan- til, Ensino Fundamental e EJA considerando 0s processos de ensino e aprendizagem, ¢ o trabalho com as Diretrizes e componentes curricula res da Educagao Basica. Pesquisas em Educa tizacao e letramento, 40 docente para o trabalho alfabe '$€ a forma scentes, jovens. raticas Pedagogicas Desde 0 ano de 2011, também articulamos as ag6es do Programa Institucional de Bolsa de Iniciagao a Docéncia — Pibid com os campos de Estagio. Esta parceria tem nos permitido deduzir que os professores da Educa¢ao Basica podem contribuir efetivamente na formagao de novos docentes quando se confere a eles um reconhecimento e atribuicdes para além da supervisdo e acompanhamento pontual de estagidrios. Neste percurso, considerando a articulacao entre ensino, pesquisa eextensao diversos projetos foram realizados. Destacamos alguns, como 0 Projeto ALFA - Alfabetizacao e Formagio Docente (Prapeg)’, reali- zado em 2014, que capacitou académicos da licenciatura em Pedagogia com énfase nos matriculados no Estagio dos anos iniciais do Ensino Fundamental no trabalho com linguagem, mais especificamente com as futuras atribuigdes do educador-alfabetizador de criangas, de jovens, adultos e idosos. O projeto partiu do pressuposto que a Linguagem ¢ ao mesmo tempo instrumento de mediagao do professor em suas ativida- des pedagégicas e instrumento de mediacao do professor e do sujeito com o mundo, com os outros e consigo mesmo. Para nds professores do Estagio Supervisionado o ensino da Linguagem na con Sopomaronte crucial para o qual a formacao de professores é necessaria e urgente. Também realizamos diversas pesquisas, dentre elas a intitulada “Docéncia nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental: concepgoes — > tedricas & praticas dos professores egressos do curso de oe o FAED/UDESC”, cujo objetivo principal foi identificar e analisar em que ee . 2 4 DESC Programa de Apoio ao Ensino de Graduagao da UDI 121 RELATOS F REFLEXOES SOBRE EsthG10 CURRICULAR SUPERVISIONADO 40 inicial recebida no curso de Pedagogia do Cent da Educagio ~ FAED/UDESC influenciou ej, contribuiu para a definigao do pensar ¢ do agir pedagdgicos dos nae is do Ensino Fundamental em exercicio em Floria. dlogo com os egressos do curso de Pedagogia da itou uma andlise mais critica ¢ sentido a formag de Ciéncias Humanas ¢ sores dos anos inicia népolis ¢ Sao José. O di FAED por meio desta p squisa possib reflexiva das concep¢0 de crianga, infancia € docéncia e, sobretudo, 9 como instituigéo € professores formadores de © nosso compromi novos professores. Outro projeto - “Diversidade cultural e religiosa nos anos iniciais do Ensino Fundamental: propostas curriculares em foco” objetivou realizar pesquisas relacionadas diversidade cultural religiosa no coti- diano escolar, com énfase nos anos iniciais do Ensino Fundamental a fim de contribuir no desenvolvimento de praticas curriculares e proces- sos de formagao docente que estimulem 0 acolhimento, 0 respeito, 0 convivio e o reconhecimento dos diferentes e das diferengas. O didlogo com os académicos em Estagio Supervisionado dos anos iniciais do Ensino Fundamental deu-se na perspectiva que enquanto professo- res formadores precisamos partir de uma abordagem pedagégica que estuda, pesquisa e reflete a diversidade cultural-religiosa brasileira, vedadas quaisquer formas de proselitismos. O programa de extensao TEIA - Trabalho Integrado em Alfabe- tizacdo congregou ages que contribufram no processo de formacao docente de alfabetizadores. No programa acompanhamos com maior énfase a pratica pedagdgica de professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental das Redes Municipais de Florianépolis e Sao José. Ainda via programa TEIA realizamos em 2014, a formagao continuada de 1.834 profissionais da educagao envolvidos com alfabetiza¢a0 © letra- mento, nas cidades de Ararangua, Cricitima, Sao José, Tubarao © Rio do Sul. Merece destaque a participacio dos académicos em estagio n°* anos iniciais do Ensino Fundamental nas ages do programa TEIA. s com 5, continuames sia e escol a rel Além das agées ja realizadas, no ano de 201 uma série de projetos, como a pesquisa: “Relacao universidade olhares sobre a formagao docente”, com o propésito de analisar 122 eee PstAGI0 COMO REFERENCIA PARA 0 REDIMENSIONAMENTO I peu ) DOS CURSOS DF LICENCIATURA

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