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A mineração e seus impactos sobre a colonização do Brasil

Embora a colônia portuguesa na América (o Brasil) só tenha vivido um ciclo


econômico minerador no século XVIII, a busca por metais e pedras preciosas esteve presente
desde o início nas intensões colonizadoras da Coroa portuguesa. Prova disso é que na certidão
de nascimento do território colonial, a famosa Carta de Pero Vaz de Caminha, já em 1500, há
menção explícita à possibilidade da existência de ouro e prata no território encontrado pela
esquadra de Cabral.
Com efeito, o exemplo das grandes jazidas descobertas, ainda no início do século XVI,
pelos espanhóis em seus territórios coloniais americanos, especialmente as minas de prata em
Potosí, no Vice-Reino do Perú (região da atual Bolívia), levaram os colonizadores portugueses a
supor que também as encontrariam do lado de cá do continente.
Assim, várias expedições para o interior foram organizadas, desde os princípios da
colonização, para captura e escravização de indígenas e também em busca de metais e pedras
preciosas. Eram as famosas entradas e bandeiras, umas organizadas por funcionários da Coroa,
outras por particulares, aventureiros em busca de riquezas.
Mas foi somente no final do século XVII que se encontraram no interior, próximo a
Vila Rica (atual Ouro Preto), na região que viria a ser, por isso mesmo, denominada das Minas
Gerais, as primeiras grandes quantidades de ouro. Inicialmente no leito de córregos e rios, o
ouro de aluvião. Mais tarde, em minas de grande produção. Um pouco mais tarde, foi a vez do
diamante, na região do Serro, que levou à criação do Distrito Diamantino, origem da cidade
mineira de Diamantina.
Uma mudança profunda no mapa da colonização portuguesa no Brasil
O impacto da descoberta de ouro em Minas Gerais para a colonização portuguesa na
América foi gigantesco.
Em primeiro lugar, deu início ao primeiro movimento consistente de interiorização da
colonização, com o povoamento do interior do território.
Não é que não houvesse atividades econômicas voltadas ao interior do território
antes do apogeu da economia mineradora. Havia, claro, a pecuária, especialmente no sertão
nordestino e na região do Rio da Prata, no Sul. Assim como as famosas entradas e bandeiras, já
mencionadas. Mas estas eram expedições que eventualmente até implantavam fortificações e
vilas, mas nada parecido com o intenso processo de urbanização verificado a partir da
expansão da mineração.
Quanto à pecuária, embora a sulista tenha produzido importante indústria do
curtume, no caso do Nordeste, nunca deixou de ser atividade subsidiária da muito mais
lucrativa produção açucareira do litoral, para a qual fornecia, além da alimentação (carne e
leite) e dos utensílios de couro, os animais de transporte e de tração, para movimentar as
moendas dos engenhos.
Com a mineração, a promessa de enriquecimento rápido com o achamento de uma
pepita levou a uma corrida do ouro para Minas Gerais. Isso provocou também uma
intensificação inédita do processo de urbanização, com a proliferação de novas vilas e cidades,
a sediarem novas estruturas administrativas de arrecadação e de controle da Colônia (Casa dos
Contos, Casas de fundição etc.).
Isso tinha muito a ver com uma característica peculiar dos novos produtos coloniais:
o ouro e as pedras preciosas. Enquanto o açúcar era embarcado em enormes quantidades nos
navios a partir de engenhos localizados em sua maioria perto do litoral, o ouro e as pedras
preciosas não precisavam de grandes quantidades para tornar seu comércio altamente
lucrativo e podiam ser muito mais facilmente escondidos e contrabandeados do que o açúcar.
Por isso, a Coroa portuguesa determinou uma série de restrições para minimizar o
risco de contrabando e outras perdas de arrecadação. Uma delas foi a proibição de circular
com ouro em pó, muito mais fácil de esconder. Todo o ouro produzido na colônia tinha que ser
levado às Casas de Fundição para ser transformado em lingotes e, durante sua fundição, já se
retinha o quinto da Coroa.
A mineração produziu também uma exacerbação dos mecanismos de extração
econômica da colônia, com a criação de novos tributos, como o quinto, a captação e a
derrama.
O quinto era a obrigação de todo colono entregar a quinta parte de sua produção
anual à Coroa. A capitação era um imposto cobrado por cabeça de escravo dos proprietários
das minas, mas também alcançava os faiscadores (mineradores sem escravos) que o pagavam
sobre si mesmos e os estabelecimentos comerciais em geral: oficinas, lojas, hospedarias,
matadouros etc.
Já a derrama foi instituída com a intenção de reverter as quedas sucessivas da
arrecadação mineira a partir do esgotamento da produção aurífera, iniciada em meados do
século XVIII. Por meio desse tributo, odiado pelos colonos, toda vez que a arrecadação colonial
para a Coroa portuguesa não atingisse o limite mínimo fixado em 100 arrobas de ouro, ficavam
os funcionários da fazenda colonial autorizados a confiscar bens dos colonos até que se
atingisse aquele valor.
A aplicação desse confisco tributário está na origem dos movimentos
emancipacionistas do século XVIII e teve papel de destaque na Inconfidência Mineira, cujos
líderes revoltosos haviam, inclusive, programado sua eclosão para a data da aplicação da
derrama naquele ano de 1889, aproveitando o acirramento da revolta popular.
A expansão mineradora provocou também a mudança do eixo econômico da
exploração colonial do Nordeste Açucareiro para o Centro-Sul minerador, com a consequente
mudança da capital da colônia portuguesa de Salvador, na Bahia, para a cidade do Rio de
Janeiro, em 1863.
Essa mudança teve a ver com a necessidade de aproximar as estruturas da
administração colonial da região de onde, agora, provinha a maior parte da riqueza produzida
no Brasil. Assim, o escoamento dessa produção mineradora passava a ser feito pelo porto do
Rio de Janeiro, permanecendo os portos do Nordeste, especialmente os de Salvador e Recife,
voltados à exportação açucareira.
Consequentemente, também, o impacto demográfico refletiu-se sobre o tráfico
negreiro e sobre a distribuição e entrada de escravos no território colonial, que cresce
enormemente no Rio de Janeiro e se estabiliza na Bahia, a partir da metade do século XVIII.

Teste seus conhecimentos:


(Questão do ENEN 2019)
A partir da segunda metade do século XVIII, o número de escravos recém-chegados cresce no
Rio e se estabiliza na Bahia. Nenhum lugar servia tão bem à recepção de escravos quanto o Rio
de Janeiro.
FRANÇA, R. O tamanho real da escravidão. O Globo, 5 abr. 2015 (adaptado).
Na matéria, o jornalista informa uma mudança na dinâmica do tráfico atlântico que está
relacionada à seguinte atividade:
A Coleta de drogas do sertão.
B Extração de metais preciosos.
C Adoção da pecuária extensiva.
D Retirada de madeira do litoral.
E Exploração da lavoura de tabaco.

(Questão da Fuvest 2018)


A respeito dos espaços econômicos do açúcar e do ouro no Brasil colonial, é correto afirmar:
(A) A pecuária no sertão nordestino surgiu em resposta às demandas de transporte da
economia mineradora.
(B) A produção açucareira estimulou a formação de uma rede urbana mais ampla do que a
atividade aurífera.
(C) O custo relativo do frete dos metais preciosos viabilizou a interiorização da colonização
portuguesa.
(D) A mão de obra escrava indígena foi mais empregada na exploração do ouro do que na
produção de açúcar.
(E) Ambas as atividades produziram efeitos similares sobre a formação de um mercado interno
colonial

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