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Poder Judiciário da União

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS


TERRITÓRIOS

Órgão 7ª Turma Cível

Processo N. APELAÇÃO CÍVEL 0705168-40.2018.8.07.0001

REPRESENTANTE
ERASMO PEREIRA DE FARIAS
LEGAL(S)
APELANTE(S) ESPÓLIO DE SEVERINO RAMOS DE FARIAS

SEGTRACK SEGURANCA ELETRONICA E SERVICOS


APELADO(S)
INTELIGENTES LTDA - ME
Relatora Desembargadora LEILA ARLANCH

Acórdão Nº 1366915

EMENTA

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. APELAÇÃO


CÍVEL. JUSTIÇA GRATUITA. ESPÓLIO. VALOR DE BENS. INFERIOR. DÍVIDAS.
DEFERIMENTO. PEDIDO NÃO APRECIADO NA PRIMEIRA INSTÂNCIA. EFEITOS EX
TUNC. ÔNUS SUCUMBENCIAIS. PRINCÍPIO DA CAUSALIDADE. PARTE EXECUTADA.
DEFERIMENTO DA HABILITAÇÃO DE CRÉDITO APÓS O AJUIZAMENTO DA AÇÃO.
SENTENÇA MANTIDA.

1. Para a concessão do pedido de gratuidade de justiça com o intuito de beneficiar o espólio, é


necessário que se faça análise sobre o valor dos bens que compõem o inventário e não quanto as
condições econômicas dos herdeiros.

2. Não sendo o espólio capaz de arcar com as custas e despesas processuais decorrentes do trâmite
judicial, é possível aferir a necessidade da concessão da gratuidade de justiça.

3. O deferimento do benefício da justiça gratuita neste grau recursal deve ser concedido com efeitos
retroativos (“ex tunc”), quando existir opedido de gratuidade de justiça no momento oportuno e não
foi apreciado pelo d. juízo a quo.

4. Segundo o princípio da causalidade, “aquele que deu causa à propositura da demanda ou


instauração de incidente processual deve responder pelas despesas daí decorrentes”.
5. Ocorrendo o deferimento da habilitação de crédito somente após o ajuizamento da ação de execução,
não há que se falar que já havia a garantia do crédito do exequente por outro meio. Portanto,
considerando que o executado contribuiu à ação executiva e à causa superveniente para a extinção da
execução, além de oferecer resistência, devem ser por ele suportados os ônus sucumbenciais.

6. Deu-se parcial provimento ao recurso.

ACÓRDÃO

Acordam os Senhores Desembargadores do(a) 7ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito


Federal e dos Territórios, LEILA ARLANCH - Relatora, GISLENE PINHEIRO - 1º Vogal e CRUZ
MACEDO - 2º Vogal, sob a Presidência da Senhora Desembargadora LEILA ARLANCH, em proferir
a seguinte decisão: CONHECIDO. PARCIALMENTE PROVIDO. UNANIME., de acordo com a ata
do julgamento e notas taquigráficas.

Brasília (DF), 01 de Setembro de 2021

Desembargadora LEILA ARLANCH


Presidente e Relatora

RELATÓRIO

Cuida-se de ação de execução de título extrajudicial movida por SEGTRACK SEGURANÇA


ELETRÔNICA E SERVIÇOS INTELIGENTES LTDA - ME em desfavor de ESPÓLIO DE
SEVERINO RAMOS DE FARIAS.

Na inicial (ID 27050743), narra a autora que é credora do executado no valor de R$ 3.960,00,
decorrente de notas promissórias devolvidas sem o efetivo pagamento, totalizando o débito atualizado
de R$ 4.279,26.

No ID 27051071, a exequente juntou a certidão de óbito do executado, e no ID 27051130, a exequente


noticiou a procedência de seu pedido de habilitação de crédito no inventário do executado.

Por tal razão, o d. juízo a quo julgou extinto o feito, sem resolução do mérito, pela perda superveniente
do interesse de agir, nos termos do art. 485, inciso VI, do Código de Processo Civil.

Confira-se o dispositivo da sentença (ID 27051131):


“Ante o exposto, julgo extinto o processo, sem resolução do mérito, pela perda superveniente do
interesse de agir, com fulcro no artigo 485, inciso VI, do Código de Processo Civil. Ademais, defiro
pedido de desistência da penhora no rosto dos autos do inventário 0734265- 85.2018.8.07.0001,
decisão id 71186614. Oficie-se o juízo da Segunda Vara de Órfãos e Sucessões de Brasília,
informando desta sentença. Confiro à presente força de Ofício. Com fundamento no princípio da
causalidade, condeno o executado ao pagamento das custas processuais e dos honorários
advocatícios, os quais fixo em 10% sobre o valor da causa, nos termos da decisão que recebeu a
inicial. Publique-se. Registre-se. Intimem-se”.

Contra o pronunciamento judicial, a parte executada apela (ID 27051136), requerendo,


preliminarmente, a gratuidade da justiça, em razão de seu estado de insolvência.

No mérito, insurge-se quanto aos ônus sucumbenciais, sustentando que o ajuizamento da ação de
execução foi anterior ao incidente de ação de habilitação de crédito e posterior ao óbito, motivo pelo
qual inexistiu manifestação ou resistência do executado.

Aduz que é descabido o ajuizamento de ação de execução posterior ao falecimento do devedor, além de
sua desnecessidade, caso a exequente tivesse promovido o pedido de habilitação na forma da
legislação.

Requer, assim, que seja afastada a condenação do apelante ao pagamento das custas processuais e
honorários advocatícios, em razão do princípio da causalidade.

Sem preparo, ante o pedido de gratuidade de justiça.

Contrarrazões do réu (ID 27051146), pelo não provimento do recurso interposto.

É o relatório.

VOTOS

A Senhora Desembargadora LEILA ARLANCH - Relatora

Cuida-se de apelação cível interposta por ESPÓLIO DE SEVERINO RAMOS DE FARIAS contra
sentença que julgou extinta a ação de execução extrajudicial movida pela SEGTRACK
SEGURANÇA ELETRÔNICA E SERVIÇOS INTELIGENTES LTDA – ME em desfavor do de
SEVERINO RAMOS FARIAS, em razão da perda superveniente do interesse de agir, nos termos do
art. 485, inciso VI, do Código de Processo Civil.

Confira-se o dispositivo da sentença (ID 27051131):


“Ante o exposto, julgo extinto o processo, sem resolução do mérito, pela perda superveniente do
interesse de agir, com fulcro no artigo 485, inciso VI, do Código de Processo Civil. Ademais, defiro
pedido de desistência da penhora no rosto dos autos do inventário 0734265- 85.2018.8.07.0001,
decisão id 71186614. Oficie-se o juízo da Segunda Vara de Órfãos e Sucessões de Brasília,
informando desta sentença. Confiro à presente força de Ofício. Com fundamento no princípio da
causalidade, condeno o executado ao pagamento das custas processuais e dos honorários
advocatícios, os quais fixo em 10% sobre o valor da causa, nos termos da decisão que recebeu a
inicial. Publique-se. Registre-se. Intimem-se”.

Em suas razões recursais, requer o apelante, preliminarmente, a concessão da gratuidade de justiça,


em razão de seu estado de insolvência.

No mérito, pugna pela reforma dos ônus sucumbenciais, uma vez que não ofereceu resistência ao
pedido e o ajuizamento de ação executiva em desfavor de executado já falecido é descabida.

I – DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA

Antes de adentrar no Juízo de admissibilidade, faz-se necessário avaliar o pedido de concessão dos
benefícios da Justiça Gratuita efetivado nesta instância.

Nos termos do art. 98 do CPC, “a pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com
insuficiência de recursos para pagar as custas, as despesas processuais e os honorários advocatícios
tem direito à gratuidade da justiça, na forma da lei”.

Já as normas do art. 99, caput e §§ 2º, 3º e 7º do mesmo diploma legal assim dispõem:

Art. 99. O pedido de gratuidade da justiça pode ser formulado na petição inicial, na contestação, na
petição para ingresso de terceiro no processo ou em recurso.

(...)

2º - O juiz somente poderá indeferir o pedido se houver nos autos elementos que evidenciem a falta
dos pressupostos legais para a concessão de gratuidade, devendo, antes, de indeferir o pedido,
determinar à parte a comprovação do preenchimento dos referidos pressupostos.

§ 3º - Presume-se verdadeira a alegação de insuficiência deduzida exclusivamente por pessoa


natural.

(...)

§ 7º Requerida a concessão de gratuidade da justiça em recurso, o recorrente estará dispensado de


comprovar o recolhimento do preparo, incumbindo ao relator, neste caso, apreciar o requerimento e,
se indeferi-lo, fixar prazo para realização do recolhimento.
Assim, verifica-se que é relativa a presunção de pobreza emanada da declaração firmada pela parte,
sendo permitido ao juiz, mesmo sem provocação da parte adversa, denegar o benefício.

Nesse passo, no intuito de avaliar da hipossuficiência capaz de fundar a concessão da justiça gratuita
para o espólio deve ser considerado o valor dos bens a inventariar e sua liquidez, não as condições
financeiras do inventariante.

No caso em análise, afere-se nos autos eletrônicos que o acervo hereditário, ainda que estimado em
valor considerável, não tem a liquidez necessária para cumprir com as despesas processuais.

Portanto, mostra-se plausível a concessão da gratuidade do benefício, em caráter provisório, tendo em


vista que o recolhimento das custas poderá ser exigido, ao final do processo, quando houver a
liquidação do patrimônio, nos termos do art. 98, § 3º, do CPC, confira-se:

Art. 98. ...

§ 3o Vencido o beneficiário, as obrigações decorrentes de sua sucumbência ficarão sob condição


suspensiva de exigibilidade e somente poderão ser executadas se, nos 5 (cinco) anos subsequentes ao
trânsito em julgado da decisão que as certificou, o credor demonstrar que deixou de existir a situação
de insuficiência de recursos que justificou a concessão de gratuidade, extinguindo-se, passado esse
prazo, tais obrigações do beneficiário.

Nesse esteio, o deferimento pretendido não induz à isenção do pagamento das custas processuais, mas
a suspensão da sua exigibilidade, uma vez que, após a divisão do acervo patrimonial, restará cessada a
incapacidade financeira do espólio para fazer frente às custas, momento em que poderão os herdeiros
satisfazer obrigação.

A modulação dos efeitos da concessão de justiça gratuita pode ser verificada nos §§ 5º e 6º do CPC
que dispõem que:

Art. 98. ...

§ 5º A gratuidade poderá ser concedida em relação a algum ou a todos os atos processuais, ou


consistir na redução percentual de despesas processuais que o beneficiário tiver de adiantar no curso
do procedimento.

§6º Conforme o caso, o juiz poderá conceder direito ao parcelamento de despesas processuais que o
beneficiário tiver de adiantar no curso do procedimento.

Conclui-se que para a concessão do pedido de gratuidade de justiça com o intuito de beneficiar o
espólio, é necessário que se faça análise sobre o valor dos bens que compõem o inventário e não
quanto as condições econômicas dos herdeiros.

Sobre o tema, esse eg. Tribunal de Justiça possui o seguinte entendimento:


GRATUIDADE DE JUSTIÇA. ARROLAMENTO. VALOR DOS BENS A INVENTARIAR. Sendo de
responsabilidade do espólio o pagamento das custas do inventário/arrolamento, para a concessão da
gratuidade de justiça deve ser analisado o acervo hereditário e não as condições pessoais dos
herdeiros. (Acórdão n.1103136, 07048600720188070000, Relator: ESDRAS NEVES 6ª Turma Cível,
Data de Julgamento: 13/06/2018, Publicado no DJE: 27/06/2018. Pág.:Sem Página Cadastrada.)

APELAÇÃO CÍVEL. ESPÓLIO RECORRENTE. CONHECIMENTO PARCIAL. AUDIÊNCIA DE


CONCILIAÇÃO. NÃO REALIZAÇÃO. NULIDADE AUSENTE. PRELIMINAR DE CERCEAMENTO
DE DEFESA. REJEITADA. GRATUIDADE DE JUSTIÇA. ESPÓLIO. VALOR DOS BENS.
SIGNIFICATIVO. BENEFÍCIO DESCABIDO.

1. Deve o apelo ser conhecido parcialmente apenas em relação às matérias afetas ao direito da parte
indicada como recorrente, não podendo ser objeto de conhecimento alegações atinentes a direitos
relativos à empresa, por ser vedado, nos termos do artigo 18 do CPC, pleitear-se direito alheio em
nome próprio.

2. Em que pese o CPC privilegiar a autocomposição, tem-se que a ausência de realização de


audiência de conciliação não enseja nulidade no feito, visto que, havendo interesse pela transação, a
qualquer momento, inclusive em sede de execução, podem as partes promover o acordo para pôr fim
mais célere ao litígio.

3. A supressão de audiência de conciliação desacompanhada de comprovação de efetivo prejuízo,


principalmente em feito em que não se vislumbra, de plano, inclinação das partes à autocomposição,
não acarreta cerceamento de defesa, por não importar em prejuízo à defesa, tampouco se relacionar
à instrução processual.

4. Em se tratando de ação em que o espólio é parte, a gratuidade de justiça postulada em seu favor
deve ser averiguada com amparo no valor dos bens a serem objeto de inventário.

5. Descabida a concessão de gratuidade de justiça a espólio quando não comprovada sua


hipossuficiência, bem como quando se nota existência de bens da massa em valor total
significativo.

6. Recurso parcialmente conhecido. Preliminar de cerceamento de defesa rejeitada. No mérito, não


provido. (Acórdão n.1091328, 20140111691482APC, Relator: ANA CANTARINO 8ª TURMA CÍVEL,
Data de Julgamento: 19/04/2018, Publicado no DJE: 24/04/2018. Pág.: 480/486)(g.n.).

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. GRATUIDADE DE JUSTIÇA. ESPÓLIO. REQUISITOS LEGAIS.


BENEFÍCIO INDEFERIDO DE PLANO. NECESSIDADE DE INTIMAÇÃO DA PARTE PARA
COMPROVAR O PREENCHIMENTO DOS PRESSUPOSTOS PARA OBTENÇÃO DO BENEFÍCIO.
DECISÃO REFORMADA.

I. Na ação em que o espólio é parte, a gratuidade de justiça não pode ser aquilatada à luz da
capacidade financeira do inventariante ou dos herdeiros, mas do valor dos bens que compõe o
acervo hereditário.

II. De acordo com o artigo 99, § 2º, do Código de Processo Civil, se não estiver convencido do direito
ao benefício legal ou se detectar indicativos de que a hipossuficiência declarada não corresponde à
realidade dos fatos, ao juiz cabe, antes de se pronunciar a respeito, proporcionar que a parte
comprove a veracidade da sua declaração (pessoa física) ou a sua precariedade financeira (pessoa
jurídica e congêneres).

III. Recurso conhecido e parcialmente provido. (Acórdão n.1036800, 20160020462612AGI, Relator:


JAMES EDUARDO OLIVEIRA4ª TURMA CÍVEL, Data de Julgamento: 26/07/2017, Publicado no
DJE: 09/08/2017. Pág.: 422/439)(g.n.).

No caso vertente, verifica-se que, além da declaração de hipossuficiência apresentada (ID 27051137),
o inventário do caso fático tem como bem um único imóvel localizado na Asa Sul (ID 27051138, pág.
11), e bens móveis que não superam o valor das dívidas existentes.

Dessa forma, é possível aferir a necessidade da concessão da gratuidade de justiça, pois o espólio não
é capaz de arcar com as custas e despesas processuais decorrentes do trâmite judicial.

Ressalte-se a existência de pedido de gratuidade de justiça no momento oportuno, não sendo


apreciado pelo d. juízo a quo, razão pela qual o deferimento do benefício neste grau recursal deve ser
concedido com efeitos retroativos (“ex tunc”).

Nesse sentido:

DIREITO CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA.


INSTRUMENTO PARTICULAR. PREJUDICIAL DE MÉRITO. PRESCRIÇÃO QUINQUENAL. ART.
206, §5º, INCISO I, DO CC. ART. 202, ART. 240, §1º e §3º, DO CPC. EMENDA DA PETIÇÃO
INICIAL. DESNECESSÁRIA. DEMORA ATRIBUÍDA AO MECANISMO DO JUDICIÁRIO.
PRESCRIÇÃO NÃO VERIFICADA. GRATUIDADE DE JUSTIÇA. PEDIDO NÃO APRECIADO NA
ORIGEM. COMPROVAÇÃO DA INCAPACIDADE FINANCEIRA. REQUISITOS PRESENTES.
EFEITO RETROATIVO. IMPUGNAÇÃO À JUSTIÇA GRATUITA REJEITADA. PRELIMINAR DE
NÃO CONHECIMENTO DO RECURSO. REPRODUÇÃO DA CONTESTAÇÃO. PRINCÍPIO DA
DIALETICIDADE OBSERVADO. CÉDULA DE CRÉDITO COMERCIAL. AUSÊNCIA DE
ASSINATURA DO EMITENTE (DEVEDOR). IRREGULARIDADE FORMAL INSUBSISTENTE.
PROVA IDONEA. DEMONSTRATIVO DE CONTA VINCULADA. CRÉDITO DISPONIBILIZADO
AO DEVEDOR. COMPROVAÇAO DO VÍNCULO JURÍDICO. 1.De acordo com as diretrizes do
artigo 206, §5º, inciso I, do Código Civil, prescreve em 5 (cinco) anos a pretensão de cobrança de
dívidas liquidas constantes em instrumento público ou particular. 2. A teor do que dispõe a Súmula
106 do STJ e do art. 240, §3º do CPC, proposta a ação no prazo fixado para o seu exercício, a
demora na citação, por motivos inerentes ao mecanismo da Justiça, não justifica o acolhimento da
arguição de prescrição. 3. A determinação de emenda à petição inicial para inclusão do nome
empresarial da pessoa jurídica constante no polo passivo da demanda foi desnecessária, eis que as
informações constantes da peça original, como nome fantasia, CNPJ, endereço e procurador da
empresa demandada, eram suficientes para a angularização da relação processual, não podendo o
Autor, ora Apelado, ser apenado por um embaraço promovido judicialmente. 4. Evidenciado, pelo
contexto fático dos autos que o segundo réu, ora Apelante, pessoa física, não possui, neste momento,
condições financeiras que lhe permitam, sem prejuízo de sua existência digna, arcar com os encargos
processuais, o benefício da justiça gratuita deve ser concedido. 4.1 É de se ver que na espécie o d.
julgador de origem não analisou o pedido de gratuidade de justiça formulado em momento oportuno.
4.2 Cuidando-se, ainda, de pleito que fora formulado na primeira oportunidade de manifestar-se
nos autos e não apreciado oportunamente em primeira instância pelo d. Magistrado sentenciante, o
deferimento do beneplácito em grau recursal deve ser concedido com efeitos "ex tunc", conforme
entendimento desta Corte de Justiça. 5. Não procede a impugnação ao benefício da assistência
judiciária gratuita apresentado quando o impugnante não demonstra, de forma segura, as efetivas
condições econômicas do beneficiário de forma a afastar a alegada condição de necessidade 6. A
mera reprodução da defesa apresentada em primeiro grau, por si só, não implica necessariamente
violação ao Princípio da Dialeticidade, desde que, a partir da leitura das razões do recurso, seja
possível extrair quais os fundamentos da sentença estão sendo questionados e por quais motivos, o
que, claramente, restou demonstrado na hipótese dos autos. 7. A cédula de crédito comercial possui
disciplina normativa na Lei nº 6.840/80, cujo art. 5º remete à aplicabilidade das normas constantes
no Decreto-lei nº 413/69 a qual dispõe, em seu artigo 14, inciso X, que a cédula de crédito comercial
conterá como requisito lançado no contexto, a assinatura do próprio punho do emitente, ou seja, do
devedor, ou de representante com poderes especiais. 9. Na hipótese dos autos, em que pese a
irregularidade formal do instrumento particular, por não trazer consigo a assinatura do emitente,
conforme preceitua a legislação regente, certo é que a quantia contratada foi creditada na conta
vinculada de titularidade dos réus, ora Apelantes, restando, assim, demonstrados o vínculo jurídico
contratual, a regularidade e legalidade do débito perseguido, mormente diante da prova inconteste
do crédito bancário, que sequer foi questionada pelos recorrentes. 8. Prejudicial de prescrição e
preliminar rejeitadas. Recurso conhecido e parcialmente provido. Concedida a gratuidade de justiça.
(Acórdão 1326816, 07057333320208070001, Relator: GISLENE PINHEIRO, 7ª Turma Cível, data de
julgamento: 17/3/2021, publicado no DJE: 29/3/2021. Pág.: Sem Página Cadastrada.)(g.n.).

- DOS ÔNUS SUCUMBENCIAIS

Da análise dos autos, verifica-se que a empresa devedora requereu sua habilitação no crédito do
espólio no dia 29/05/2019 (ID 27051107, pág. 25), sendo deferido o pedido no dia 17 de maio de
2021, conforme consulta via PJe da Habilitação de Crédito nº 0714259-23.2019.8.07.0001 (sentença
do ID 91898288).

A presente demanda executória foi ajuizada em 02/03/2018 (ID 27050743, pág. 2), data anterior ao
requerimento de habilitação de crédito e seu deferimento.

Julgada extinta a execução, o d. juízo a quo condenou a parte executada ao pagamento das custas e
honorários advocatícios.

Segundo o princípio da causalidade, “aquele que deu causa à propositura da demanda ou instauração
de incidente processual deve responder pelas despesas daí decorrentes”[1].

No caso dos autos, o ajuizamento da ação de execução se deu em razão do inadimplemento das notas
promissórias emitidas ao executado.

Assim, ocorrendo o deferimento da habilitação de crédito no inventário somente após o ajuizamento


da ação, não há que se falar que já havia a garantia do crédito da exequente por outro meio.

Portanto, considerando que o executado contribuiu à causa superveniente para a extinção da execução,
devem ser por ele suportados os ônus sucumbenciais.

Nesse sentido, confira-se:

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. HABILITAÇÃO DE CRÉDITO. PERDA


SUPERVENIENTE DO OBJETO. BUSCA E APREENSÃO DO VEÍCULO OBJETO DO CONTRATO.
EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO. ÔNUS DE SUCUMBÊNCIA.
PRINCÍPIO DA CAUSALIDADE. ART. 85, § 10, DO NOVO CPC. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA.

1."A responsabilidade pelo pagamento de honorários e custas deve ser fixada com base na
sucumbência e no princípio da causalidade, segundo o qual a parte que deu causa à instauração do
processo deve suportar as despesas dele decorrentes"(STJ, AgRg no AREsp 38.930/PR, Rel. Ministro
RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 03/03/2015, DJe 30/03/2015).

2. Tendo em vista a extinção do processo sem resolução de mérito, haja vista a perda superveniente
do objeto, impõe-se a observância do princípio da causalidade como baliza para a fixação dos
honorários advocatícios, consoante o disposto no artigo 85, § 10, do Novo CPC.
3. Considerando-se que a pretensão deduzida na inicial somente foi satisfeita após o ajuizamento
da ação, denotando a necessidade de se invocar a tutela jurisdicional, não há que se falar em
condenação do autor ao pagamento de honorários advocatícios, após a extinção do processo por
perda superveniente do objeto, em razão da aplicação do princípio da causalidade.

4. Recurso de apelação conhecido e não provido.


(Acórdão 1035319, 20160610140109APC, Relator: SIMONE LUCINDO, 1ª TURMA CÍVEL, data de
julgamento: 5/7/2017, publicado no DJE: 16/8/2017. Pág.: 173-191)(g.n.).

Vale salientar, ainda, que descabe falar em impossibilidade de ajuizamento de ação executiva contra
pessoa falecida, quando foi procedida a retificação da autuação, após a ciência do óbito, para que no
polo passivo passasse a constar o “ESPÓLIO” do de cujus (ID 27051072).

Outrossim, ressalte-se que, embora o apelante alegue que não ofereceu resistência, verifica-se, dentre
outras, a apresentação da petição do ID 27051103, a qual demonstra sua insurgência quanto ao feito,
revelando a resistência nos autos.

Diante do exposto, DOU PARCIAL PROVIMENTO ao recurso, apenas para deferir os benefícios
da justiça gratuita ao apelante, com efeitos “ex nunc”.

Majoro os honorários advocatícios para 11% sobre o valor atualizado da causa, com fundamento no §
11 do art. 85 do CPC, suspendendo, entretanto, a sua exigência, em virtude da concessão dos
benefícios da Justiça Gratuita.

É como voto.

[1] NERY, Júnior, Nelson e Rosa Maria de Andrade Nery. Código de Processo Civil Comentado e
legislação extravagante, Nelson Nery Júnior e Rosa Maria Andrade Nery. 10ª Ed. rev., amp. e atual.,
São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007, pag. 222.

A Senhora Desembargadora GISLENE PINHEIRO - 1º Vogal


Com o relator
O Senhor Desembargador CRUZ MACEDO - 2º Vogal
Com o relator

DECISÃO

CONHECIDO. PARCIALMENTE PROVIDO. UNANIME.

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