Você está na página 1de 2

Joshua Benoliel

Nasceu em Lisboa no ano de 1873, descendente de uma família hebraica estabelecida em Cabo Verde,
possuidor de cidadania britânica, da qual nunca abdicou até á sua morte em 1932.

Foi em Portugal que passou a sua vida, desenvolvendo uma excelente carreira como repórter
fotográfico e jornalista, tornando-se numa das figuras mais marcantes do jornalismo português e
passando a ser considerado como o maior fotografo português do século XX, assim como o criador em
Portugal da reportagem fotográfica.

Será nas primeiras duas décadas do século XX que o seu trabalho se irá fazer notar, ao acompanhar a
Casa Real, que gosta do seu trabalho e o convida para fotógrafo oficial das suas viagens, fator que lhe
irá permitir a cobertura jornalística de grandes acontecimentos da sua época, como as viagens dos reis
D. Carlos e D. Manuel II ao estrangeiro. A Revolução de 1910 e as revoltas monárquicas durante a
Primeira República terão sido acontecimentos que também não escaparam à lente de Joshua Benoliel,
assim como durante a Primeira Guerra Mundial, altura em que acompanhou o exército português que
combateu na Flandres.

Trabalhou também para o jornal O Século e para a revista do mesmo jornal, a Illustração Portugueza,
tendo ainda colaborado com as revistas O Occidente (1878-1915) e Panorama (1837-1868). O seu
trabalho foi também apreciado no Brasil, através das publicações Atlantida (1915-1920) e Brasil-
Portugal (1899-1914). A 13 de dezembro de 1921, acabaria por ser condecorado com a Ordem Militar
de Sant'Iago da Espada.

As suas fotografias sempre se caracterizaram pelo intimismo e humanismo com que abordava os temas
com um estilo muito próprio, capaz de transmitir eficazmente as realidades sociais com um estilo muito
próprio. Benoliel acabaria por trazer uma série de novos conceitos, como por exemplo a mobilidade e a
operacionalidade, distintivos das fotorreportagens. Ao longo da sua vida, terá reunido um espólio de
mais de 60 mil negativos, em cerca de 30 anos de trabalho. Acredita-se inclusivamente que Benoliel
terá publicado a sua primeira reportagem em 1898, na revista “Tiro Civil”, sobre as “Regatas do
Centenário”, utilizando a técnica de placas de vidro de gelatino-brometo.

Posteriormente terá trabalhado para o jornal diário de Lisboa “Século” e para a revista ilustrada
publicada pelo mesmo jornal a Ilustração Portuguesa, de 1906 a 1918 e de 1924 até à sua morte.

A Ilustração a partir de 1906, com o aparecimento da 2ª série e sob a direção de Silva Graça viria a dar
um grande impulso ao fotojornalismo. Benoliel viria também a publicar com prefácio de Rocha Martins,
o “Arquivo Gráfico da Vida Portuguesa”, obra em fascículos e ilustrada com fotografias de 1903 a 1918.

A sua obra contém um grande valor histórico, na medida em que retrata um período muito complicado
da Sociedade Portuguesa, nomeadamente ao nível do ambiente político, que se caraterizou pela Queda
da Monarquia e pela Revolução Republicana de 1910. O seu vasto espólio permanece no Museu da
Assembleia da República e no Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa.

Sendo um homem extrovertido, culto e inteligente, gozava de um grande prestígio internacional,


possuindo as Palmas da Academia Francesa e as encomendas da ordem de Sant’Iago de Espada e do
Mérito Civil Espanhol. Estas características aliadas ao excelente domínio das técnicas da fotografia,
adquiridas ao longo de oito anos de trabalho em revistas ilustradas e à sua intuição jornalística,
tornaram única a sua obra e ajudaram a impor o profissionalismo na reportagem fotográfica.

Para além da sua atividade jornalística, Benoliel foi também bibliófilo, representando em Portugal a
livraria Maggs Brothers, de Londres, para a qual disputava, nos grandes leilões de livros as melhores
obras que iam à praça. Benoliel faleceu a 3 de fevereiro do 1932, perdendo-se assim um dos grandes
talentos do jornalismo português.

Além da sua qualidade de trabalho, que fez dele um foto-repórter excecional, destaca-se também a
grande diversidade e a quantidade do trabalho que fez. Mais do que os momentos históricos, as suas
imagens ainda hoje são relevantes.

Gérard Castello-Lopes chamou-lhe «o único génio da fotografia portuguesa». Ian Jeffrey considerou-o
«sem igual entre os pioneiros do fotojornalismo»

Natália Nobre

1500751

Você também pode gostar