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IPA.

0003492
FÁBRICA DE PAPEL DA ABELHEIRA / FÁBRICA DE PAPEL DO TOJAL 5
Portugal, Lisboa, Loures, União das freguesias de Santo Antão e São Julião do Tojal

Arquitetura industrial, do séc. 19. Fábrica de papel instalada junto ao rio Trancão, a S. da Quinta da Abelheira.
Edifício principal em alvenaria de pedra e tijolo maciço, com interior de duas naves, formadas por fiada de
colunas em ferro fundido. O processo de fabrico beneficia do aproveitamento de água do rio e de água
proveniente de captações subterrâneas; dispõe de uma reserva de água a céu aberto (lagoa); utiliza energia
elétrica e vapor produzidos numa central termoelétrica.

DESCRIÇÃO
Espaço industrial em parcela de configuração irregular, composto por áreas de produção,
embalagem e armazenamento, integrando uma reserva de água (lagoa) a N., poços, tanques e
depósitos subterrâneos de armazenamento de água. O conjunto construído é formado por vários
edifícios retangulares, dispostos paralela e perpendicularmente entre si, estando envolvido
perimetralmente por área livre de circulação, a S. e a E., através da qual se acede a um pátio de
distribuição, em posição central. Este pátio, de configuração irregular, abre do lado N. para a lagoa.
O EDIFÍCIO PRINCIPAL, localizado a O., resulta de ampliações sucessivas, a partir de ocupação
inicial dos séculos 17 e 18, junto ao rio, ligada a este por canais adutores a N. e de escoamento a
S., cujos traçados se mantiveram até à atualidade. Constitui um volume composto por corpos de
diferentes cérceas, com coberturas múltiplas, de duas águas, revestidas a telha cerâmica e a chapa
metálica ondulada, possuindo lanternins de ventilação; no ângulo NO., telhado de quatro águas,
rematando em beirada. Fachada virada a O. voltada para o Rio Trancão, rasgada por catorze
janelas nos primeiro e segundo pisos e ainda cinco janelas no terceiro e último piso; todos os vãos
são em lintel curvo e emoldurados em alvenaria de tijolo, rebocada a maça, com caixilharias fixas,
em ferro; os do primeiro piso estão entaipados e, no terceiro, as janelas, sem molduras, posicionam-
se a diferentes alturas mostrando que neste piso os pavimentos possuem três níveis. A fachada
virada a N., evolui em dois e três pisos, apresentando maior altura no troço situado a O.. Ostenta
uma varanda ao nível do terceiro piso, com guardas de ferro laterais, sugerindo uma função de
descarga. Os vãos são também emoldurados a alvenaria de tijolo rebocada a massa e as
caixilharias fixas, em ferro, têm, ao centro uma folha pivotante de configuração quadrada. O
INTERIOR tem acesso pela fachada N., para uma grande nave cuja cobertura é suportada ao
centro por colunas em ferro fundido *1. A linha de colunas, que sustentam as vigas de ferro em I,
separam o local onde se localiza as máquinas de fabrico de papel; na nave mais ocidental do
edifício situam-se no seu extremo S., os tanques oitocentistas destinados à lixivia para
branqueamento do trapo. No piso superior observa-se ainda em laboração uma máquina
oitocentista de depuração da pasta de papel, cujas pás em madeira, são mecanicamente acionadas
por correias de ferro. A. E. deste edifício principal, deitando para o pátio, situa-se um CONJUNTO
DE EDIFÍCIOS contíguos, destinados aos geradores de energia elétrica, à armazenagem e
serviços, sendo parte em alvenaria de pedra e parte em betão armado. Para N., existem depósitos
de água, poços, tanques e um edifício desativado, em betão armado, de grandes janelas
envidraçadas com desenho modernista. Para S., do edifício principal, desenvolvem-se edifícios
recentes, que albergam uma máquina de fabrico de papel e, ainda outras, destinadas ao corte,
dobragem e embalagem. A SE.do conjunto fabril, junto à E.N., localizam-se duas moradias da
fábrica, construídas no séc. 19, que se encontram devolutas.
ACESSOS
Rua Dias Coelho
PROTECÇÃO
Inexistente
ENQUADRAMENTO
Rural, implantado no limite N. da várzea de Loures, na margem esquerda do rio Trancão, a S. da
Quinta da Abelheira (v. IPA.00024039). Do ponto de vista geomorfológicos situa-se na base da
encosta do Complexo Vulcânico de Lisboa, em relevo plano, sobre formação aluvionar halocénica,
correspondente ao espraiamento do Trancão, após ultrapassar um vale muito encaixado. A
povoação mais próxima é São Julião do Tojal, a SO. O Mercado Abastecedor da Região de Lisboa
situa-se a E., e a S. existem duas instalações de empresas transportadoras, de grande dimensão. A
área da fábrica é extensa e as cotas altimétricas variam entre os 10 m na área S., junto à ponte da
estrada nacional sobre o rio Trancão, e os 15m nos limites E. e N. da propriedade. A disponibilidade
de água necessária para funcionamento da fábrica é garantida por captações subterrâneas que se
situam nos terrenos mais baixos da Quinta da Abelheira, através de dois poços e cinco furos
artesianos. Na área envolvente à propriedade e com um cariz rural encontra-se na margem oposta
do rio a quinta do Outeiro (v. IPA.00034926), com rebanhos, culturas arvenses de sequeiro e olival.
As áreas de armazenagem, indústria e logística dominam a envolvente mais alargada. A
propriedade da fábrica é delimitada a N. e E. pela quinta da Abelheira. A E., fora dos limites da área
industrial, no topo de um talude natural de pendente suave estão implantadas sete moradias
construídas no séc. 20, em lotes alinhados no sentido N. - S., com acesso a partir do eixo principal
da quinta. Estas moradias eram destinadas a alojamentos de técnicos da fábrica, e encontram-se
abandonadas. A propriedade confronta a O. com o rio Trancão e a S. com a Rua Dias Coelho (EN
115-5) e com estacionamento público sob o viaduto da via de cintura da AML.
DESCRIÇÃO COMPLEMENTAR
O estabelecimento industrial utiliza energia elétrica e vapor produzidos numa central termoelétrica;
usa como matéria-prima pasta de madeira e reciclagem de papel velho. Na origem, as máquinas
eram acionadas por vapor obtido a partir de carvão e a matéria-prima utilizada era o trapo *2. A
localização da fábrica contígua ao rio Trancão reflete a necessidade de abastecimento de água e de
escoamento de produtos aquosos resultantes da laboração*3. São visíveis os canais, levadas e
condutas de abastecimento aos reservatórios da fábrica (cisternas enterradas, lagoa a céu aberto e
tanques), que recebem a água proveniente de dois poços e cinco furos artesianos situados nos
campos da Quinta da Abelheira mais próximos ao rio. Presentemente, o escoamento de águas
proveniente do processo de fabricação é integralmente direcionado, em circuito próprio, até à
Estação de Tratamento de Águas Residuais Industriais (ETARI) que se localiza a E. da lagoa,
sendo entregue ao rio, já tratada, no extremo SO. da propriedade junto à "porta de maré", através
de um circuito de tubagem que ladeia a E. e S. a área edificada da fábrica. Anteriormente à
instalação da ETARI funcionava um circuito sustentado em dois canais que ainda atravessam, em
subterrâneo, a fábrica e a área S., entre esta e a EN.. Um dos canais parte da levada que abastecia
a antiga central hidroelétrica e o outro, sob o edifício principal no seu topo NO., inicia-se em
abertura no "paredão" que serve de barreira entre a fábrica e o rio. O canal atravessa a área de
produção de papel, onde recolhia os produtos aquosos escoados das máquinas, juntava-se no
exterior da antiga fábrica ao outro canal e, a céu aberto, percorria mais alguns metros até ao rio
Trancão e válvula de maré. Atualmente o canal encontra-se totalmente fechado por laje, na
extensão em que não está sob a área fabril. Recolhe as águas pluviais e entrega-as ao rio Trancão.
A válvula de maré continua a funcionar como tamponamento à subida do Trancão sempre que os
caudais são excessivos.

CRONOLOGIA
1175 - D. Afonso Henriques doa ao Mosteiro de São Vicente de Fora, sendo Prior do convento, D.
Mendo, os salgados, ribeiras de sal e terras de tojo, correspondentes, grosso modo ao território da
freguesia de São Julião do Tojal, para o novo mosteiro ali fazer povoação até cem vizinhos, com
jurisdição própria, civil e criminal. 1218 - D. Afonso II confirma a doação anterior, cedendo ao
Mosteiro dos Cónegos de São Vicente, todas as terras do Tojal, com todas as suas águas, azenhas,
moinhos e marinhas, montados, devesas, campos, olivais, vinhas, casais e casas do lugar, que
poderia ter até 100 vizinhos, no qual ele teria toda a jurisdição civil e criminal; é prior D. Gonçalo
Mendes; 1755, após - provável instalação na Abelheira, de um moinho para fabrico de papel,
aproveitando a água do rio Trancão como força motriz; séc. 18 - séc. 19 - no local fabrica-se papel
selado e de embrulho, e, posteriormente, papel de escrever, vendidos no armazém dos frades,
situado na Rua da Betesga *4; séc. 19, início - a atividade produtiva da Abelheira para com as
invasões francesas; 1834 - após a extinção das ordens religiosas, ocorre o primeiro leilão da
propriedade da Quinta da Abelheira, incluindo o moinho de papel; na hasta pública, ninguém licitou
os utensílios do engenho, que se encontrava em abandono; 1835 - compra da propriedade, em
hasta pública, pelo negociante e político João Gualberto de Oliveira, futuro Barão e Conde do Tojal,
por 90.100$00; põe de novo o moinho do papel a trabalhar, mas com resultados insignificantes,
produzindo apenas papel de embrulho; transformação do moinho numa fábrica, mandando vir
maquinaria do estrangeiro; 1838 - a Fábrica de Papel da Abelheira concorre à Exposição da
Sociedade Promotora da Indústria Nacional; 1840 - a Fábrica de Papel da Abelheira concorre
novamente à Exposição da Sociedade Promotora da Indústria Nacional; 1841 - a Fábrica,
apetrechada com novas máquinas, produz papel de escrita e de impressão; 1851 - a Fábrica de
Papel da Abelheira alcança um prémio na Exposição de Londres; 1852 - William Smith, cônsul de
Inglaterra e cunhado do Conde do Tojal herda a propriedade da Quinta da Abelheira, incluindo a
Fábrica de Papel, introduzindo grandes melhoramentos; 1857 - a Fábrica de Papel da Abelheira
concorre à Exposição Internacional do Porto; 1862 - a Fábrica de Papel da Abelheira concorre à
Exposição de Paris; 1863 - a Fábrica de Papel da Abelheira concorre novamente à Exposição da
Sociedade Promotora da Indústria Nacional; 1864 - o administrador da fábrica é, nesta altura, Luís
Jardim; Inácio de Vilhena Barbosa, escreve um artigo no Archivo Pittoresco, em que descreve a
fábrica e o pessoal, composto por pessoal de escritório e armazém (Lisboa), um diretor técnico e
um engenheiro (ambos estrangeiros), um fiscal, dois maquinistas, um chefe de "luxador", 80
operários e 72 operárias (num total de 152); produz-se papel de escrever, de impressão, e de cores,
sendo apregoado por vendedores ambulantes; 1865 - construção do grande reservatório de água,
designado por Lagoa; 1881 - a Fábrica da Abelheira é, neste ano, propriedade de Astley Campbell,
filho do primeiro casamento de William Smith, sendo gerida por Robert French Duff, o mesmo que
responde ao Inquérito Industrial realizado neste ano; possui 150 trabalhadores, 95% dos quais
analfabetos, e tem, como principal matéria-prima, o trapo; a maior preocupação para manter a
laboração prende-se com a falta de água no Trancão durante o Estio, a ausência de
navegabilidade, a carestia do carvão que se importava de Inglaterra e das drogas, também
importadas; 1899 - Astley Campbell vende a fábrica e Quinta da Abelheira à Casa Graham (firma W.
Graham Jr. & Co), estabelecida em Lisboa desde 1809, sucedendo-se melhoramentos e
modernização; a água do Trancão passa a usar-se apenas como acionadora de turbinas;
perfuração da rocha para obtenção de água limpa; 1910, década de - o diretor geral da Casa
Graham para Portugal era Henry Daft, que altera posteriormente o nome para Henry Dartford; 1914
- novo contrato estipula novos sócios para a firma Graham & J. Graham & Co. - Henry Dartford,
Robert Readman, John Norris Marsden e Severs Hildebrand Williams; a fábrica tem 250 operários;
1925 - é concedido o alvará a Guilherme Graham Júnior & Co. para exploração da Fábrica de Papel
em São Julião do Tojal, assinado pelo Ministro do Trabalho, Francisco Alberto da Costa Cabral;
1929, 01 abril - em comemoração do 30º aniversário da aquisição, pela Casa Graham, da Fábrica
de Papel da Abelheira, realiza-se uma confraternização e a inauguração do novo refeitório; 1930,
década de - são gerentes Gilbert Maxwell Graham (gerente da Guilherme Graham) e Severs
Hildebrand Williams (gerente de Lisboa); 1932 - a casa Graham adquire novas máquinas e dota a
Fábrica de Papel da Abelheira com maquinaria avançada; 1939 - o mestre geral da fábrica da
Abelheira é J.S. Crowden e Salvador de Almeida, o chefe da secção técnica; 1952 - construção da
nova central elétrica na Fábrica de Papel da Abelheira, equipada com um diesel alternador, que
daria maior capacidade à nova maquinaria de fabrico de papel; 1953 - Inauguração da nova
máquina n.º 4, tipo Fourdrinier, construída pela firma inglesa Bertrams Ltd.; 1957 - a Grahams
Trading Company, Ltd, com sede em Glasgow é vendida à Camp Bird Ltd, uma empresa
internacional de prospeção de ouro e outros metais preciosos; fim da hegemonia económica da
Casa Graham; 1964 - novo grupo de acionistas austríacos; os Graham passam a deter apenas
7,5% do capital da Fábrica de Papel da Abelheira; 1965 - a fábrica passa a designar-se Graham
Indústria de Papel da Abelheira, SARL; no conselho de administração já não consta ninguém de
apelido Graham; 1967 - o Grupo Champalimaud controla a Graham Industria de Papel da Abelheira
e a indústria de Papel do Prado; 1973 - encerramento provisório da Fábrica de Papel da Abelheira;
1973, abril - constituição de uma nova sociedade - FAPAJAL - Fábrica de Papel do Tojal, Lda., com
base no pedido de um dos credores: a Companhia Portuguesa de Celulose; 1975 - a FAPAJAL
passa à propriedade do Estado; 1976 - a FAPAJAL é agrupada à PORTUCEL;1997 - uma dívida à
PORTUCEL força a dação dos terrenos da Quinta da Abelheira, depois vendidos a uma empresa de
urbanização; 1999 - privatização da FAPAJAL com dois acionistas: Dra. Helen de Castro e Dr. Luís
da Cunha (ex-administradores do grupo INAPA e Papelaria Fernandes).

MATERIAIS
O EDIFÍCIO PRIMITIVO tem paredes em alvenaria de pedra ordinária e tijolo maciço, rebocadas e
pintadas; estruturas de suporte das coberturas em madeira e em ferro, colunas em ferro fundido;
coberturas em telhado com revestimento de telha cerâmica e chapas metálicas; caixilharias em
ferro.
BIBLIOGRAFIA
BARBOSA, Ignacio de Vilhena - «Fabrica da Abelheira» in Archivo Pittoresco, Lisboa: Castro &
Irmão, 1864, vol. 7, pp. 324-325; CORREIA, Fernando de Oliveira - Relatório da Visita á Fábrica de
Papel da Abelheira. Lisboa: Imprensa Nacional, 1914; Graham 1809-1932. Porto: Litografia
Nacional, 1932; LEAL, Augusto Soares de Azevedo Barbosa de Pinho - Portugal Antigo e Moderno.
Lisboa: Livraria Editora de Mattos Moreira e Companhia, 1873, vol. I; Loures 10 Paisagens. Loures:
Câmara Municipal de Loures, 2012; Ministério das Obras Públicas, Comércio e Indústria, Inquérito
Industrial de 1881, Inquérito Indirecto - 3ª parte. Lisboa: Imprensa nacional, 1882, pp. 205-206;
Ministério das Obras Públicas, Comércio e Indústria, Inquérito Directo - depoimentos. Lisboa:
Imprensa nacional, 1883, p. 273; SEQUEIRA, Gustavo de Matos - A Abelheira e o Fabrico do Papel
em Portugal: história de uma propriedade e de uma fábrica. Lisboa: s.n., 1935; Tecnicelpa - «Rota
das Fábricas de Papel Antigas», in info@tecnicelpa, agosto 2012, n.º 37, pp. 15-42.
DOCUMENTAÇÃO GRÁFICA
Arquivo Histórico do IGP; CMLoures: Centro de Documentação Manuel Joaquim Afonso
DOCUMENTAÇÃO FOTOGRÁFICA
IHRU: SIPA; CMLoures: arquivo DPMOT
DOCUMENTAÇÃO ADMINISTRATIVA
DGLAB/TT: Cónegos Regulares de St.º Agostinho, Mosteiro de S. Vicente de Fora, 1606 e 1695,
livros 22 e 25
INTERVENÇÃO REALIZADA
OBSERVAÇÕES
*1- De acordo com a planta de 1905, esta sala destinava-se, no seu lado sul, às grandes prensas
cilíndricas para alisar e amaciar a pasta de trapo de modo a convertê-la em papel, bem como às
máquinas de enrolar. No lado N. da sala, situavam-se as máquinas Yankee ou seja os cilindros para
remoção da humidade da pasta e sua secagem e a máquina de fabrico de papel n.º1, tipo
Fourdrinier. Um compartimento mais pequeno servia para as máquinas de aplicação de goma ou
produto impermeabilizante. Ao centro deste edifício situavam-se pequenos compartimentos para os
recipientes em que o trapo já cortado e lavado era mexido numa solução de lixivia, junto a um
compartimento destinado aos rolos batedores. A N. desta sala, situavam-se os mecanismos de
transmissão de energia, a partir da fonte de produção, até aos vários sectores da fábrica. Na ala N.
do edifício, localizavam-se os motores. No extremo S. do edifício situavam-se duas baterias de
tanques de lixivia para branqueamento do trapo, com cinco tanques de cada lado. A N. dos tanques,
uma ala longitudinal que se estendia para N., era destinada à trituração do trapo. *2 - Antes da
industrialização existiu no local uma fábrica que produzia pelo sistema de forma. *3 - A
disponibilidade de água é factor essencial para a fabricação de papel (actualmente são necessários
1000 l de água para fabricar 1 kg de papel). De igual importância é a garantia de escoamento dos
produtos aquosos resultantes da laboração. *4 - o Mosteiro de São Vicente de Fora tinha todo o
quarteirão limitado pelo Rossio, Praça da Figueira, Rua da Betesga e Rua do Amparo.
AUTOR E DATA
Fernanda Ferreira, Madalena Neves, Frederico Pinto, Manuel Villaverde (CMLoures) 2013 (no
âmbito da parceria do IHRU / CMLoures)
1755–1834
O INÍCIO DA FÁBRICA DE PAPEL DA ABELHEIRA

O início da Fábrica de Papel da Abelheira - 1755–1834


É com o terramoto de 1755 que a Quinta da Abelheira e o fabrico de papel cruzam
destinos. Abrigando-se dos estragos da cidade e dos seus conventos, os cónegos
agostinhos mudam-se para o Tojal. O rio Trancão, junto a estas terras, permite o
funcionamento de diversos moinhos, que possibilitam os avanços das atividades
pré-industriais, entre as quais o fabrico de papel. De início, o papel é feito de
trapos de linho, à semelhança do que acontece por toda a Europa. Produzem-se
papéis pardos e de embrulho. Só mais tarde, papéis de escrever.
Contudo, no seguimento do decreto de Napoleão, em 1806, que exige o
encerramento dos portos portugueses à navegação britânica e a confiscação dos
bens dos súbditos ingleses estacionados em Portugal, o Moinho da Abelheira,
como quase todas as oficinas industriais da época, cessa a atividade. A fábrica só
volta a funcionar em 1833.

1834–1899
A EXTINÇÃO DAS ORDENS RELIGIOSAS, O CONDE DO TOJAL E
O PRIMEIRO PERÍODO DE INVESTIMENTO

A extinção das ordens religiosas, o Conde do Tojal e o primeiro


período de investimento - 1834–1899
O liberalismo chega ao poder e as alterações fazem-se sentir de imediato. A 30 de
maio de 1834, dá-se a extinção das ordens religiosas masculinas e a
nacionalização dos seus bens. Os bens do Tojal, englobando a quinta da
Abelheira, são adquiridos em hasta pública por João Gualberto de Oliveira. O
Conde do Tojal investe na propriedade e faz-lhe melhoramentos, dando lugar a
uma nova fase na Abelheira, com o abandono do fabrico de papel pelo antigo
sistema, passando a produzir-se papel de escrita e de impressão, que mostram já
uma qualidade relativamente superior. A Fábrica de Papel da Abelheira passa a
ser uma das principais fornecedoras de papel selado para o reino. Quando o
Conde morre, em 1852, a fábrica fica a cargo de William Smith, seu cunhado, que
lhe faz grandes melhoramentos. A Fábrica de Papel da Abelheira é, à data, a única
indústria papeleira do distrito de Lisboa, com mais de 100 trabalhadores.
1899-1967
OS GRAHAM E O SEGUNDO PERÍODO DE INVESTIMENTO

Os Graham e o segundo período de investimento - 1899-1967


Em 1899, Astley Campbell, herdeiro de William Smith, decide vender a quinta, que
é adquirida pela empresa Guilherme Graham Júnior & Cia, estabelecida em Lisboa
desde 1809. Esta introduz-lhe grandes melhoramentos, mandando vir do
estrangeiro as melhores e mais aperfeiçoadas máquinas, alargando os corpos do
edifício e construindo outros novos. Antes de 1929, são feitos novos
melhoramentos e chamados técnicos especializados, sendo a fábrica
completamente reconstruída e remodelada com o objetivo de elevar ainda mais a
qualidade do papel produzido. Após 1935, os grandes melhoramentos realizados e
o investimento feito em novas máquinas produzem efeitos na produção e na
projeção da fábrica no mundo industrial português. Posteriormente, a participação
societária dos Graham na Fábrica vai-se diluindo, à medida que entram novos
investidores.

1967-1973
AS CHEIAS E O ENCERRAMENTO DA FÁBRICA

As cheias e o encerramento da fábrica - 1967-1973


Na noite de 25 para 26 de Novembro de 1967, a fábrica de papel da Abelheira é
fortemente atingida por uma precipitação intensa e concentrada. As cheias não
afetam grandemente as máquinas ou a estrutura fabril, retomando a produção
passado pouco tempo, mas a fábrica passa por uma fase de decadência quando
comparada com os tempos áureos da administração dos Graham. Esta conjuntura
de problemas leva ao encerramento da fábrica em janeiro de 1973, e ao mais
conturbado período da história da Fábrica de Papel da Abelheira, colocando em
risco centenas de postos de trabalho. Em 1968, o grupo Champalimaud toma
conta da empresa, procurando criar uma grande empresa de produção e
transformação de papel, mas a fábrica acaba mesmo por encerrar, levando para o
desemprego famílias inteiras.
1973-1999
A REABERTURA, A NACIONALIZAÇÃO E A REESTRUTURAÇÃO

A reabertura, a nacionalização e a reestruturação - 1973-1999


Em abril de 1973, um dos credores comuns da Graham Indústria de Papel da
Abelheira S.A.R.L., a Companhia Portuguesa de Celulose, apresenta um
requerimento para a constituição de uma sociedade de credores cujo objeto é a
continuação da exploração da atividade da empresa. Após a conversão da maioria
dos créditos em capital da nova empresa, a sua denominação passa a ser Fapajal
– Fábrica de Papel do Tojal, Lda. Com o 25 de Abril de 1974, a instalação fabril é
nacionalizada e enquadrada numa estrutura maior, a Portucel. No entanto, apesar
de alguns avultados investimentos, o papel resultante é de má qualidade, o preço
de venda não cobre os custos, os clientes estrangeiros não pagam e a dívida
acumula- se para um valor alarmante. Apenas a produção de papéis tissue tem
boa aceitação no mercado nacional e espanhol, o que não evita que, em 1997, os
terrenos envolventes ao palácio da Quinta da Abelheira, ainda pertença da
Fapajal, sejam entregues em restituição da vultuosa divida acumulada a uma
empresa imobiliária da Portucel.

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