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A importância dos fatores de ordem intelectual na Revolução Francesa

“O final do século XVIII foi uma época de crise para os velhos regimes da Europa e seus
sistemas económicos, e suas últimas décadas foram cheias de agitações políticas, chegando até
ao ponto de revoltas, de movimentos coloniais em busca de autonomia…” (Hobsbawm, E. J.
2008, pg.10)

Em particular a revolução francesa não foi um movimento isolado, porque muitos outros
existiram, teve, no entanto, a particularidade de ter acontecido no “país mais populoso e
poderoso da Europa” (Hobsbawm, E. J. 2008, pg.13) e ter sido considerada uma revolução
diferente por se tratar de um movimento social e radical de massas.

Este movimento revolucionário terá sido liderado não por um partido político, nem por nenhum
movimento específico, mas sim por um consenso de ideias dentro do 3º Estado, nomeadamente
pela burguesia que terá proporcionado a unidade necessária para o desenrolar dos
acontecimentos, através das ideias do liberalismo clássico transmitidas por filósofos e
economistas da altura e que lhes eram transmitidas pela maçonaria e outras associações.

Existiram, no entanto, outros fatores que se uniram aos ideais no momento do desencadear da
revolução, que foram os de ordem económica, numa França assolada pela miséria e pela fome.
A crise financeira em que se encontrava o país era devido a várias situações entre as quais: a
agricultura estava a passar por situações de secas e inundações que eram difíceis de suportar, a
concorrência dos ingleses em relação á indústria têxtil, fará com que o comércio seja
prejudicado abrindo um caminho profundo á fome, miséria, desemprego e marginalização,
degradando por completo a vida do povo.

Por outro lado existiu ainda a questão da participação de França, em duas guerras sucessivas que
iriam acabar com o que ainda restava, foram elas: a Guerra dos Sete Anos (1756-1763), contra a
Inglaterra e que a França iria perder e a Guerra da Independência (1776), em que se colocou ao
lado dos Estados Unidos e contra a Inglaterra.

Esta crise terá afetado também a nobreza francesa, que quando se apercebeu da real situação do
país, acentuou a sua exploração sobre o povo francês. Eric Hobsbawm apresenta dois exemplos
dessa exploração: 1º) a nobreza francesa começou a ocupar cargos públicos, que anteriormente
eram dedicados a pessoas da “classe média” francesa; 2º) aumentou os impostos feudais que
cobravam dos camponeses.
A situação ter-se-á tornado intolerável e o rei D. Luís XVI, governante absoluto de uma
monarquia absolutista, vendo-se completamente sem dinheiro para sustentar tanto os luxos da
corte, como o restante país, é obrigado a declarar a bancarrota.

Perante esta situação, o povo cansado da miséria e de sofrer resolve por um ponto final e retirar
o poder das mãos da monarquia e o primeiro passo foi a tomada da Bastilha, prisão política que
simbolizava a monarquia reinante.

Nesta fase o povo iria deixar-se influenciar pelos ideais do movimento iluminista, cujo o lema
“Liberdade, Igualdade, Fraternidade” viria a ser adotado como lema da própria revolução. Este
movimento defendia o pensamento racional diante da visão teocêntrica que dominava a Europa,
estes pensamentos dão-nos a conhecer que eram contra o absolutismo, o mercantilismo e a
qualquer outra prática que fosse imposta. Para eles os cidadãos deviam ter direito a igualdade
jurídica e tributária.

Esta nova filosofia permitiu mudanças políticas, económicas e sociais, tendo como base os
ideais do próprio lema da revolução e as sua ideias de cariz liberal disseminaram-se com muita
rapidez entre a população, atuando como combustível para o desenrolar dos acontecimentos.

“A tomada da Bastilha terá melhorado a autoconfiança dos radicais e do povo de Paris. Isso
refletiu-se na imprensa. O mais radical dos jornalistas foi o médico Jean-Paul Marat” (Dietrich
Schwanitz, 2006 pg. 159).

Na área política a aristocracia chegou também a revoltar-se contra o poder absoluto do rei,
acabando por o armadilhar, enquanto que o pensamento burguês se desenvolvia, ao abrigo da
“filosofia das luzes”, existindo as chamadas contracorrentes da ideologia aristocrática, que
seriam defendidas por filósofos como Boulainvillers, Montesquieu e Le Paige.

"Os factores de ordem intelectual e ideológica, o movimento das ideias do século XVIII,
contribuíram muito para a génese da revolução. Na verdade, as teorias políticas não são
apenas concebidas no silêncio de gabinetes por pensadores isolados, mas alimentam também os
movimentos de opinião."

Depois deste primeiro início do movimento, veio a criação da Assembleia Constituinte que
tendo cancelado os direitos feudais, promulgou a chamada Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão. Em 1791 entrou em vigor uma nova constituição, em que a Igreja teve
todos os seus bens confiscados e tornaria a França numa monarquia constitucional, separando
o poder em três níveis: o Legislativo, o Executivo e o Judicial.
"Toda sociedade na qual não está assegurada a garantia dos direitos nem determinada a
separação dos poderes não tem Constituição". Artigo 16 da Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão
Embora passa-se a existir uma limitação de poderes reais, o novo governo foi dominado pela
burguesia que, se subdividiu em grupos que divergiam entre si: jacobinos (média burguesia),
girondinos (alta burguesia) e os sans-cullotes. Os jacobinos, eram liderados por Robespierre,
Danton e Marat que unindo-se aos sans-cullotes, entraram em conflito com os girondinos. A
instabilidade política terá tomado conta da França e as monarquias vizinhas sentiram-se
ameaçadas com o avanço da revolução.
A Revolução Francesa significou o fim do sistema absolutista e dos privilégios da nobreza. O
povo ganhou desta forma mais autonomia e os seus direitos sociais passaram a ser
respeitados. Entretanto, a burguesia conseguiu o seu objetivo que foi o de conduzir o processo
de forma a poder garantir seu domínio social. Foi nessa época que se estabeleceram as bases
para a construção da sociedade burguesa e capitalista.

Bibliografia:
HOBSBAWM, Eric. A Era das Revoluções 1789-1848. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2014, p.
103.
HOBSBAWM, Eric. A Revolução Francesa São Paulo, Paz e Terra, 7ª Edição 2008, p. 10.
SOBOUL, A., A Revolução Francesa, São Paulo, Difel, 9º Edição, 2007.

Webgrafia:
Guerra dos Sete Anos - https://www.infopedia.pt/$guerra-dos-sete-anos
Guerra da Independência (1776) - https://www.infopedia.pt/$guerra-da-independencia-dos-eua
Eric Hobsbawm - https://farofafilosofica.com/2017/03/27/eric-hobsbawn-bibliografia-em-pdf/
Liberalismo Clássico - https://www.infoescola.com/filosofia/liberalismo/
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão http://pfdc.pgr.mpf.mp.br/atuacao-e-
conteudos-de-apoio/legislacao/direitos-humanos/declar_dir_homem_cidadao.pdf
Robespierre - https://www.ebiografia.com/robespierre/
Georges Jacques Danton - https://educacao.uol.com.br/biografias/georges-jacques-danton.htm

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